12. Am I Wrong

Finalizada em: 14/12/2017

Capítulo Único


Metal contra as nuvens.
Foi a primeira coisa em que pensou no momento em que viu a névoa acinzentada, a qual avisava nitidamente que a chuva logo chegaria. Na realidade, tudo estava mais para uma tempestade do que para uma chuva qualquer.
Caos. A chuva gera o caos.
A menina riu dentro de si, já prevendo que daqui a cinco minutos veria todos -homens, mulheres e crianças- correndo para qualquer canto em que havia uma chance de abrigo ou mesmo embaixo de seus guarda-chuvas, fugindo da água como se fossem de açúcar ou algo do tipo.
O negrume do céu compunha sua própria obscuridade e, nos tons da sua contrariedade e tristeza, continuava sentada naquela pequena mesa de madeira sob a tenda de um bar qualquer.
Sorriu.

*


Suas pernas, doídas de permanecer em uma posição deplorável, imploravam por descanso. Já havia um tempo que estava dando uma faxina no banheiro. A luva de borracha que se encontrava na mão direita da mulher possuía um rasgo significativo, fazendo com que o sabão dos azulejos invadisse a pele, a incomodando profundamente. Questionava-se o motivo de está-las usando, uma vez que suas unhas já não possuíam esmalte algum.
Levantou-se, em uma tentativa falha de aliviar o cansaço, certificando-se de que havia limpado tudo: espelho, pia, boxe do chuveiro, vaso sanitário, seu porta-maquiagem e inclusive os pincéis, para então poder retirar duas luvas de limpeza. Riu sozinha ao lembrar a fala boba de Daniela que dizia lavar todos os banheiros de sua casa, pois achava aquilo terapêutico, além de um baita exercício.
fazia por pura necessidade, a universitária não tinha menor condição pagar alguém que realizasse aquilo para ela, afinal, seu dinheiro era escasso: valor do aluguel, alimentação mais uns trocados. Dava aulas de inglês todos os dias da semana, era dai que vinha seu sustento, mas às vezes quando as coisas apertavam, dava algumas aulas particulares para grandes executivos, que precisavam de uma mãozinha na língua, já tinha até nome na cidade, contudo não queira viver daquilo.
Inglês sempre foi uma coisa muito natural para a menina, mas o sonho dela mesmo era ser veterinária. Sua casa era toda decorada com as mais inimagináveis coisas voltadas a isso. Que fique entre nós, mas tinha uma fascinação com ovelhas.
Havia várias pecinhas em sua casa de carneirinhos e representantes falsos de sua lá, até mesmo de pelúcia escondidos em seu guarda-roupa.
Mas a vida não é um sonho. No final do ensino médio, a garota possuía certeza de que o queria fazer era farmácia. Então, lá foi ela: prestou vestibular e passou de primeira na federal, dando de cara com seu grande equívoco. Às vezes, a garota ficava um pouco triste em relação a isso, mas é como dizem por aí: Being blue is better than be over it.
Ela sabia que podia ir para uma instituição privada, com toda certeza, seu pai pagaria o curso se ela o pedisse, contudo a menina se recusava a voltar para debaixo de sua proteção. já era grande o suficiente para lidar com as escolhas de sua vida sozinha.
Ia deixar a vida leva-la para onde ela quisesse, como naquela música do JotaQuest, seguindo a direção de uma estrela qualquer, mas naquele fim de tarde ela sabia muito bem para onde e com que estava indo.

*



Da imensa varanda de seu apartamento, que lhe custara tanto e hoje era só mais um na vasta lista de imóveis que lhe pertenciam ao redor de um imenso Brasil, o homem via o céu nitidamente em seu contraste com o azul do mar.
Naquela hora da tarde,dezenas de cadeiras de plástico ainda se acumulavam os montes na orla da praia.
Abaixou-se com cuidado e retirou da mesa seu macho de cigarros, um péssimo hábito, admitia. Pôs uma unidade do veneno em sua boca a fazendo de apoio para poder acender o cigarro com seu velho isqueiro azul, amigo há muitos anos, os dois guardam uma lista quase infinita de histórias para contar, igualmente tristes.
Não vi a hora de que, isso ia acabar lhe matando. Era um preço alto a se pagar. Será que valia mesmo apena? O empresário nem se importava mais, a aquela altura da história, com o estresse e tristezas fluindo em suas veias juntamente ao seu sangue, tudo era válido para ter um tempo, mínimo que fossede relaxamento.
Deliciando-se a cada tragada, observava as pessoas que estavam quase à sua frente.
Ah, o comportamento masculino, tão previsível.
A cada mulher que passava correndo, entretida demais com a música alta que berrava em seus fones caríssimos ou até mesmo em seus pensamentos mais diversos, os olhos de cada individuo do sexo masculino a acompanhava, os de sua frente olhavam os seios, que às vezes nem eram assim tão fartos e os atrás da mulher olhavam, sem vergonha alguma, sua região traseira.
Obviamente, não faria algo de muita diferença que os seres abaixo dele.
Anatomicamente, Harold não era diferente de nenhum daqueles homens – talvez, até fosse, mas não era algo de extremo significado -, porém olhando com uma visão mais materialista, Harold era sim diferente. Ah, e como era.
Harold tinha uma coisa que o homem sempre cobiçara desde quando o mesmo o inventou.
Harold tinha dinheiro. Mais do que era seu por direito.
Poderia então, existir coisa melhor do que isso em mundo tão capitalista quanto esse que vivemos?
Mas é claro que sim.
Alguns diriam saúde, outros já dirão felicidade e também existe o tipo nojento que acham que é sim o dinheiro.
Com tudo, existe o tipo formidável de gente que diz que é o amor. Em qualquer de suas mais belas formas.
Harold não era o tipo de cara que se expressa muito bem, sempre fora assim desde criança, até o momento em que apareceu em sua vida.
Seu celular dá um estado, aqueles mesmo de notificação, e ele tem a certeza de que era mais uma mensagem dela.

“Onde você tá? O mundo está prestes a desabar em água, !”
“Eu tô chegando, amor”
“Eu sei que você ainda nem saiu de casa... Você chega em quanto tempo?”
“Cinco Minutos”

Chamou imediatamente um uber, chegando no local combinado em cerca de dez minutos, o dobro do que havia prometido a menina, mas lá no fundo sabia que não chegaria dentro do tempo limite que havia lhe dito.
Em pouco tempo viu sua garota, a fiel estudante agronomia que sempre tinha alguma piada para contar.

A outra
Do outro lado da rua, estava .
Olhando aquele jovem casal sem ao menos suspeitar que o nome da mulher que o noivo andara lhe traindo era o mesmo que ela possuía.
Bem mais jovem que ela e, aparentemente, mais feliz.
Ela sabia que não estava louca. Sempre soube. Não era ela a errada ali. Rodeia a aliança em seus dedos de modo furioso. Pede ao garçom uma taça de vinho e no mesmo instante em que ele retorna com um pedido ela a toma rapidamente, desejando ao homem um bom dia.
Atravessou a rua, parou em frente a e rui.
- Eu não estava errada, estava? – Disse, tirando sua aliança do dedo e a deixando sob a mesa em que os dois se encontravam.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.



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