Última atualização: 25/10/2018

Capítulo Único

Eu desci a escada, animada. Horas e horas presa dentro do colégio não me remetiam a nada mais que profundo tédio, e eu achava a pior das punições ter que viver em um colégio interno.
Isso é o que costuma acontecer com dois tipos de adolescentes: os que têm pais super protetores, que se limitam a pensar que viver na escola é uma forma de te preparar para o mundo; e aqueles que são o descarte da sociedade quando os pais desistem de impor uma criação baseada na deles. Eu estava mais para a primeira parte, enquanto meu namorado era a segunda.
Meus pais não eram totalmente sensacionalistas, mas, realmente, tinham a ilusão de que um colégio interno seria muito melhor que o colégio normal perto da minha casa. E, no momento, eu só devia agradecê-los, pois, neste conflito de realidades, conheci .
era um ano mais velho, conhecido por sua rebeldia e seu hobby por não seguir regras.
Ele havia saído da escola, no começo deste ano, finalmente, formado, o que levava nosso romance colegial a algo mais sério, no momento. Eu estava a meses de me formar, porém havia aprendido com ele a ter paciência para aguentar as formalidades dessa vida acadêmica.
Confesso que tive mudanças significativas desde o nosso início de namoro para cá, o que justificava o ódio dos meus amigos e familiares a . Antes, uma garota com fantasias restritas. Hoje, a namorada de um bad boy. Eu não devia julgá-los. Que achassem o que for de mim! Que pensassem o que quisessem dele! Não eram eles que vivenciavam nossa paixão e, enquanto vissem apenas com seus olhos de preconceito, eu continuaria sendo a falsa puritana, e , o maior “desvirginador”.
— Você vai mesmo correr com ele? — minha melhor amiga me questionou pela terceira vez.
Eu já estava irritada com sua petulância e ainda mais com sua falta de apoio. Ela era a pessoa número um, no mundo, no quesito “odiar meu namorado”. Porém, como já dito, a lista era imensa e incluía desde ela até minha própria mãe.
Era uma gota no oceano da turbulência que era o namoro de e eu.
— Eu não deveria nem ter te contado — respondi a ela com um pouco de grosseria.
Por sorte, o último sinal tocou e, então, eu estava livre daquele inferno chamado colégio.
Não demorei a avistar fazendo fumaça com seu cigarro e sendo reprovado pelos pais que buscavam seus filhos. Justo aqueles que haviam vivido a juventude na geração da marijuana.
Por mais que a pinta “bad boy” lhe trouxesse uma imagem de geração perdida, meu namorado era um cara muito inteligente, que prezava pelo seu futuro, como qualquer pessoa normal. Seus sonhos apenas costumavam ser diferentes dos da realidade tradicional, mas ele sempre teria meu apoio para o que quer que fosse, assim como eu sabia que podia contar com o dele.
Ele agarrou minha cintura com firmeza quando finamente o alcancei. Minhas mãos foram ao seu pescoço, e nosso beijo era o melhor; dava-me sensação de completude, de que eu não precisava de mais nada que não fosse ele e nosso mundo particular.
— Oi. — Ele ainda me olhava nos olhos. Seus olhares eram profundos e, dali, eu conseguia ler qualquer sentimento. Era isso que as pessoas ao redor jamais conseguiriam entender: não importava o que fosse, ou fizesse, eu sabia que ele, afinal de contas, era meu, assim como eu era dele. — Animado, meu campeão?
— No momento, estou me concentrando apenas em como você fica maravilhosa com uniforme. — Ele abriu a porta do carro para que eu e meu sorriso bobo entrássemos. — E, claro, em como vou adorar tirá-lo assim que chegarmos em casa.
— Eu gostaria que isso acontecesse o quanto antes, por favor! — resolvi provocar.
Ele acelerou o carro e repousou sua mão sobre minha perna, alisando-a da virilha ao joelho, e eu me arrepiava sem querer. Meu sorriso bobo transformara o dele no mais malicioso possível.
Nesse final de semana, eu não iria para casa. estava me levando a uma cidade onde estaria disputando com outros caras quem era o mais veloz. Seu maior hobby era a velocidade. Ele e eu ficaríamos juntos de sexta até a manhã de segunda. Era como se eu tivesse meu paraíso na terra, apesar de tudo.
Ignorei incontáveis ligações de meus pais, num carro em que dividia apenas com meu namorado, alguns cigarros e poucas peças de roupas. Não era como se precisássemos de tantas delas. E, quando chegamos à casa alugada de , onde ficaríamos nesses dias, não pude deixar de contemplar tudo aquilo como um presente. Eu poderia encenar até grande parte do futuro que havia planejado com meu amor; incluso nossa paz e uns pés de plantas.
— Eu adoro te ver com esse sorriso bobo de sonhadora... — ele disse no meu ouvido.
Desci do carro, observando tudo mais atentamente, sua mão segurando a minha a todo o tempo.
— Eu nem tenho mais tempo de sonhar quando você torna tudo tão real — confessei, ainda deslumbrada. Eu não conseguia acreditar que esse cara era aquele que as pessoas só formavam más opiniões. Na minha cabeça, eram pessoas completamente diferentes. Estávamos prestes a comemorar um ano de namoro e já era a maior mudança que havia ocorrido na minha vida.
— Como será quando a gente decidir se casar? — Sua voz rompeu o silêncio.
— Uma igreja pequenina... — externei meus pensamentos. A ele, eu sabia que não tinha o que temer. — Não são tantos que estariam dispostos a ver a consumação do nosso erro. — Brinquei. sorriu, e era irreal como nossas conversas mais felizes acabavam por se tornar um pouco melancólicas. — Eu não sei o que fizemos para que não conseguíssemos agradar ninguém.
— Não sei o que eu fiz para agradar você, meu amor.
E, de fato, jamais seria meu “tipo”. Longe de mim um garoto problema, mas, como é dito, os opostos se atraem e, no nosso caso, nos atraímos, deitamos e rolamos.
— Meus pais adoram crianças. Talvez eu te engravide para que as coisas se facilitem. — Suas mãos ávidas foram rapidamente de um abraço a uma apalpada no meu bumbum. Sua ousadia era o que me levava à loucura.

— Vamos lá, ! Duvido que nunca tenha aprontado nada aqui antes! — Prendi meu cabelo em um coque, assim como vi em tantos filmes eróticos que me serviram de inspiração para ensaiar este momento.
— Eu jamais pude imaginar que estaria transando com o cara mais encrenqueiro do colégio.
Ele me invadiu com dois dedos, me umedecendo, antes de se pôr dentro de mim.
Dali, eu sabia que só precisava de uma coisa para o resto da vida:

Ele.

Adentrei a casa, já em seu colo. Suas mãos, grosseiramente, me lançaram sobre o sofá, enquanto ele tratava de se desfazer da minha calça e das sandálias. Nua em toda a parte de baixo, tratei logo de me desfazer da sua roupa, mantendo-o apenas sob as boxers. Aproveitei sua distração com a camisinha para tirar uma foto do cara mais gostoso que havia passado pela minha vida. Seu corpo era gostoso, suas ideias eram gostosas, sua energia era gostosa. Viver com ele era um tesão em todos os sentidos.
E eu era masoquista. Gostava da dor da negação. Aquilo de termos um romance escondido, de todas as maneiras, me excitava. A ideia de desafiar a autoridade do colégio, dos meus pais e a negatividade dos meus amigos eram os pontos altos de me fazerem levar aquilo a diante.
— O que você diria se eu te pedisse em casamento neste exato momento? — acabei dizendo.
— Diria que você parece mais maluca que nunca. — Ele estava sobre mim. — Que eu te amo mais que consigo transparecer. Que eu deveria agradecer a cada dia por te ter ao meu lado... Mas, principalmente, que sim. É um pedido real?
— Não sei. — E nem conseguia pensar muito bem com dentro de mim. Mas acontece que aquilo realmente acabou me afetando. E foi com a certeza de que era aquele cara que eu queria para o resto da vida que acabei dormindo.

— Olha, eu não sei se ela vai deixar, e isso não será uma intriga, se eu puder evitar, indo embora. — Pude ouvir sussurrar pela janela.
Sentei-me na cama, silenciosamente, tomando cuidado para não chamar sua atenção.
— Você só me leva daqui se me prometer uma suruba com a Angelina e o Brad Pitt! — sussurrei um pouco fraco.
Ele se virou de uma vez, o telefone ainda em mãos, e seus olhos sobre minha renda do sutiã, o que me fazia sentir a garota mais desejada que já existiu. As sensações que ele trazia à tona eram indescritíveis. Cruzei meus braços sob o peito e apertei meus olhos, tentando transmitir uma marra que não era minha.
Ele só riu.
— É, pode ser que a gente vá. — Ele sorria para mim quando desligou.
— Brad se excita com Victoria's Secret... Será? — Fingi pensar alto.
deitou-se sobre meu colo.
estava me atualizando sobre a corrida...
Eu adorava seu sorriso moleque. Era uma pena que ele só vinha nos piores momentos.
— O que aconteceu? — Decidi nem enrolar.
estará lá.
A dita cuja era ex de . O idiota ria porque sabia do meu ciúme. , para ajudar, fazia questão de me provocar.
Acontecia, sim, entre nós aquela competição e, mesmo eu sabendo que era comigo que estava, era terrível ver que ela e sua rebeldia tinham muito mais a ver com ele que eu.
Baixei meus olhos, o ego meio mexido. Odiava me sentir insuficiente, mas, às vezes, era difícil demais competir com a senhorita motorista, fumacinha dos seios gigantes. Eu queria ser mais. Queria ser como ela. Queria ser mais ainda dele.
— Eu gostaria de correr também! — vociferei uma ideia. Era meio maluco, eu sei. A garota era uma corredora profissional, e eu ainda tinha uma carteira de motorista provisória, mas, se tivesse algo que pudesse me tornar maior que ela, eu toparia, sem nem pensar.
— Você tem falado muito disso... — Ele olhava em meus olhos. — Correr. É realmente uma vontade sua?
— Você costuma me despertar umas vontades estranhas. — Nós rimos.
Nem preciso falar que fiz de tudo para convencê-lo a apostar com seu carro e, naquela noite, fiz questão de me vestir um pouco mais ousada. ”Sexy”, meu namorado dizia o tempo todo. Eu preferia acreditar que estava poderosa. Mas tremia sem querer.
não havia dado as caras quando e eu chegamos. Ensaiei tanto, da casa até o campo onde era a corrida, que nada parecia mais certo que minha vitória naquela noite. Eu era Ayrton Senna de calcinhas, na minha cabeça.
Haviam outras mulheres que iriam correr, e eu adorava cada uma delas. Minha rivalidade era exclusiva à garota que chegou com um decotado vestido de couro; esbanjava vulgaridade e me causava náuseas. Olhou uma a uma cada garota que correria naquela noite. Era unânime que ninguém gostava de , e eu, realmente, não entendia o que vira nela a ponto de passarem pouco mais de um ano juntos.
— Onde estão os rivais à altura? — fingiu perguntar a si.
Um ego inflado por ela mesma, já que a única admiração que recebia era a masculina devido à sua decadência. Argh! Como eu a odiava!
— Posso pisar nessas suas botas de piranha, assim que você encontrar o caminho da chegada, depois de eu te fazer comer poeira — desafiei. Nem eu sabia de onde vinha toda aquela marra.
Todos me olharam surpresos, e naquele momento, e eu era o centro das atenções por um instante. Ninguém sabia que eu correria, até o momento em que, finalmente, me fiz ouvir.
O olhar de em minha direção foi devolvido com a mesma intensidade. Seus olhos desviaram dos meus até , e senti a raiva tomar conta de mim. Aquela garota fazia meu ódio saltitar sobre minha cabeça.
— Posso saber qual seria o prêmio? — Ela ainda o olhava, e me senti segurada por ele e por quando tratei de avançar sobre aquela bruxa. — Não, não, não preciso de algo material. É só eu ter que derrotar para valer a pena. Derrotar outra vez, eu diria?
— Derrotar outra vez? Que eu saiba, é o seu prêmio que não tem um segundo de descanso na minha prateleira! — cuspi as palavras. riu, mordendo o lábio em seguida. Meu homem gostava dessa disputa. Cafajeste.
Peguei, então, a moto de . usaria a sua para uma corrida mais tarde, então não podia arriscar prejudicar seu veículo. Coloquei o capacete, focada apenas em vencer. Não valia um prêmio físico, realmente, mas o orgulho era maior que qualquer coisa que eu pudesse vir a usar como decoração.
Eu perdia para a cada corrida, mas ele era muito mais experiente que qualquer garota com as quais estava competindo, por isso não foi difícil me manter na liderança no começo da corrida. As meninas davam espaço para que a disputa entre e eu fosse ainda mais acirrada.
A cada volta, eu via o sorriso de . Era um sorriso orgulhoso. Ele havia formado cada parte daquela menina que, agora, corria sem medo em cima de uma moto. Ele havia explorado meus medos, revolucionado minhas liberdades, me dado uma luz e uma direção a seguir. Era meu bad boy, meu bad man, meu tudo.
Que houvessem mil pessoas dizendo não; que ele só me levava ao mau caminho, me afastava das minhas antigas crenças e sonhos! Elas só serviam para me mostrar o quão mal amadas eram e quanta sorte eu tinha em tê-lo ali para mim.
E foi na última volta que decidi deixar tudo para lá. Acelerei na direção dele, algumas palavras engasgadas na garganta.
Pude ouvir alguns resmungos da garota, ao cruzar a imaginária linha de chegada, mas nem dei bola. Era o sorriso bobo dele que me valia alguma coisa.
Seus olhares descrentes e sua boca torta. Sua camisa larga e seu jeans baixo.
O meu prêmio estava ali comigo há mais de um ano. Não havia nada que pudesse premiar a certeza de que eu estava completa. O “ele e eu” era apenas nosso. Eu não tinha que provar nada a ninguém!





Fim



Nota da autora: (26/06/17) Clique aqui para seguir à página da autora
Segue a fanfic baseada em Bad Decisions da Ariana. E grata ao site por nos proporcionar momentos como esse!








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