Capítulo Único
Fazia quase dois minutos que o aparelho estava bipando. já estava no local combinado, apreensiva. Fazia quase seis anos que ela não saía para uma missão, mas quando recebeu uma visita surpresa semana passada informando os planos da Corporação de Treinamento para Heróis (CTH), a ex-agente não cogitou em virar as costas para a oferta.
Derrubar um por um, daqueles que se intitulavam Organização, era o pouco de redenção que ela ainda poderia ter nessa vida. Os detalhes da missão ainda seriam passados no trajeto, mas não tinha dúvidas de que daria tudo de si para fazer os inimigos caírem.
Não tardando muito mais, um jato preto, de última tecnologia se aproximou do telhado do edifício. Eles não tinham tempo para paradas mais delicadas. Com o veículo ainda no ar, a ex-agente se agarrou a uma das barras da porta enquanto a escada da entrada ainda estava baixando.
Uma vez dentro, a mulher não pôde evitar franzir o cenho. Com exceção dela e do piloto, o lugar estava vazio.
- Princesa , é bom te ver de novo.
- Cadê o resto do time, ?
- Nós somos o time. – o colega informou, pressionando o botão de controle automático depois de digitar as coordenadas na tela.
- O quê?
- Não precisamos de mais ninguém. – revelou, deixando o posto de piloto e caminhando até um dos armários da nave - Você tem o poder defensivo perfeito e eu sou mais rápido que qualquer criatura nessas terras. A dupla perfeita para uma missão importante bem sucedida.
- Aliás, qual é a nossa missão?
- Recuperar um chip. – esclareceu, arremessando um traje para a parceira.
Aquele uniforme era conhecido dela. nunca imaginou que o vestiria novamente.
- E o que ele esconde?
- O foco não é o que ele esconde, e sim o que ele faz. Explicando desde o começo: como havia comentado semana passada, a Organização tem agido estranhamente em todos os continentes do globo. Agentes especiais de todas as bases têm sumido e aparecido sem vida dias depois. A suspeita é de que estão fazendo testes com código genético para tentar reproduzir dons como os nossos em massa, para criar um exército poderoso e imbatível. Estou falando muito rápido?
prontamente negou enquanto começava a vestir o traje por cima das próprias roupas.
- Estamos na cola dos caras faz meses. Descobrimos uma abertura subterrânea que pode corresponder a um dos laboratórios deles, mas o lugar é tão bem protegido que nunca conseguimos, de fato, explorar tudo que escondem lá.
- Mais um motivo para suspeitar do lugar. Não colocariam tantas barreiras se o que guardam não tivesse importância.
assentiu com a cabeça.
- Tentamos várias vezes. Quando achávamos que finalmente estávamos no fim, aparecia outro obstáculo. Porém, nossas falhas não foram em vão. Mapeamos cada ponto daquela região com as possíveis armadilhas e ameaças encontradas. Prepare-se, Princesa . Se as suposições dos superiores estiverem certas, encontraremos a máquina que a Organização montou para fazer os testes e o chip que ativa o equipamento.
- Certo. Quais são exatamente as armadilhas que vocês já viram?
O olhar do agente ficou vago, perdido em um canto qualquer do piso.
- Tudo o que você pode imaginar: drones atiradores, homens comuns, bombas, plantas venenosas e soníferas e por fim, mas não menos importante: superdotados.
suspirou, passando as mãos nos cabelos.
- Tem certeza que nós dois damos conta?
Não era como se ela fosse ter uma crise existencial no meio do caminho para uma missão, no entanto era impossível não pensar que talvez fosse muito trabalho e muitos riscos para duas pessoas.
- Cabe a nós, o time B, pegar o chip e sair o quanto antes de lá, intactos. Evitar confrontos e só.
- Então, tem o time A... – ela arqueou as sobrancelhas.
- Eles estão encarregados de eliminar quem surgir pelo caminho, destruir a máquina e explodir o laboratório. Somos a equipe de apoio, mas não se engane achando que ficamos com a parte fácil. Depois que a gente chega lá, é muito fácil nossos planos saírem do controle.
- Tudo bem. Entendi. Pegar o chip acima de tudo. Vocês ao menos já viram a peça? Se for como a de um computador, vamos demorar a achar.
- Irene disse que saberíamos qual é assim que colocássemos o olho.
cerrou os olhos, sem acreditar.
- Então, tá. – deu os ombros.
- Seja bem-vinda de volta ao melhor estilo dos heróis.
abriu um sorriso largo, verdadeiramente empolgado. A ex-agente, por outro lado, sentiu o estômago revirar e não tinha nada a ver com enjoo pelo movimento acelerado do jato. O parceiro estava a incluindo como se fizesse parte de tudo aquilo. Aparentemente, ele havia se esquecido da parte em que cada um seguiria seu rumo outra vez, assim que aquela missão se desse por encerrada. Os heróis retornariam à Base e ela para a vida comum de civil.
Do banco de copiloto, se pegou pensando demais. Parecia que quem nascia com poderes sempre acabava arrastado para aquela vida de novo. Diferente do que insistia em ressaltar, ela não era como eles. Havia um fardo que carregava nas costas que não permitiria que fosse considerada uma heroína tão cedo.
Próximos do destino final, avisou que fariam um pouso estratégico para evitar atenções desnecessárias, tendo que cumprir boa parte do caminho à pé ainda. Já nas tubulações subterrâneas, achou que passaria mal a qualquer momento, com uma falsa sensação de claustrofobia atacando. A ausência de luz ou qualquer orifício para permitir a passagem e troca de gases deixava-a um pouco tonta.
Até aquele ponto, o único impedimento que apareceu da lista que o parceiro mencionou mais cedo foram as plantas soníferas. Ainda assim, não as considerou como ameaças reais. O cheiro adocicado forte e enjoativo denunciava facilmente os males da vegetação. A mulher atribuiu os créditos ao time A pela tranquilidade com que estavam conseguindo realizar o trajeto. Eles devem ter limpado o caminho quando fizeram reconhecimento do local.
Com um mapa digital em mãos e a atualização em tempo real da localização da outra equipe, o homem ia liderando atentamente. Apesar de mira não ser o forte de nenhum dos dois, cada um carregava uma pistola com dardos tranquilizantes e outra com balas reais na cintura.
Os únicos ruídos distinguíveis eram os passos deles. Vez ou outra, olhava para trás, certificando-se de que não entrariam em nenhuma emboscada.
- Estranho... – parou de se mover, fazendo a colega se aproximar, curiosa.
- O que foi?
- O time A está logo a diante, mas pararam de se mover tem um tempo.
- Acha que alcançaram o laboratório?
- Não. Pelos cálculos do mapa, ainda faltaria um pedaço para percorrer. Devem estar enfrentando outro obstáculo. Vamos dobrar a nossa atenção a partir de agora, .
- Pode deixar.
- Lembre-se: não se exponha à riscos desnecessários. O inimigo é impiedoso e somos o tipo de alvo que eles mais odeiam e procuram: agentes da CTH com poderes.
- Sim, Senhor-Líder. – ela revirou os olhos.
- Senti um deboche nas suas palavras, mas vou deixar passar dessa vez.
- Tanto faz. Agora, anda. Devemos apertar os passos para ajudar a outra equipe?
- Dependendo do que estão enfrentando, vamos apenas passar reto.
- Sério mesmo?
- Sei que fomos criados pelo lema “Ninguém fica para trás”, mas não temos tempo a perder dessa vez. Com a posse do chip, a máquina fica inutilizada já. Precisamos levar a relíquia intacta para que os cientistas possam estudar e fazer relatório detalhados do que a Organização tem feito. Qualquer minuto conta para ficarmos um passo a frente nessa guerra.
- Posso pelo menos saber quem é o outro time?
parou de caminhar por um instante, encarando-a com seriedade.
- Tem certeza que não sabe?
Os joelhos dela ameaçaram a fraquejar.
Um reencontro naquelas condições não estava previsto.
- Ele não seria suicida o suficiente para seguir na linha de frente. Sozinho. Seria?
O homem riu.
- Esqueci que esteve afastada nos últimos anos. não está mais sozinho, . Depois que você foi embora e Austin... – o ar ficou pesado, limpou a garganta com pressa – Depois que a equipe de vocês foi desmembrada... – corrigiu-se – continuou fazendo missões, solo, mas também virou instrutor da Corporação e hoje lidera uma equipe de novatos.
- É a cara dele mandar nos outros. – rolou os olhos – O quão novos são esses novatos exatamente? – quis saber – Para assumirem uma missão desse nível...
- Relaxa. A nova geração vai nos superar rapidinho, pode confiar.
Apesar do voto de confiança do homem, a situação do quarteto que estava mais à frente não era favorável. Embates não dependiam só do nível das habilidades de cada um, como também da combinação de poderes do inimigo.
O mais novo deles tentava avançar a todo custo, criando dezenas de clones para pularem em direção da oponente. Entretanto, na mesma velocidade que eles eram criados, raios cortavam o céu e atravessavam o teto para derrubá-los.
As crateras criadas no metal acima da cabeça deles denunciavam a quantidade alta de ataques sofridos.
- Pare com isso, James. Não está funcionando e você está se pondo à exaustão desperdiçando energia desse jeito.
- Quais são os planos, professor?
se calou, dando brecha para a portadora do dom de criar raios gargalhar em provocação.
- Você também percebeu que vocês estão sem saída, não é? – disparou – Então é isso que é ser um herói? – ela mordeu os lábios, fitando as unhas afiadas com diversão – Fazer papel de babaquinhas e chorar? – outra risada – Vocês já foram melhores, CTH.
Os dedos dele apertaram ainda mais o corpo da arma. Ninguém da equipe havia habilidades compatíveis com a usuária de raios. Ainda que forçasse todos a atacarem simultaneamente, a mulher ainda poderia aniquilá-los com vários choques potentes. precisou se segurar para evitar um suspiro frustrado.
Mais uma vez, eles tinham nadado muito para morrer na praia.
Porra, como aquilo era frustrante.
Disparou duas balas, que em condições normais teriam atingido o regiões vitais do inimigo, contudo era surreal o controle da outra sobre os dons. Era como se a natureza estivesse a favor dela.
Inferno.
, apesar de não emitir sons, acabou evidenciando a própria ansiedade com os disparos repentinos e as emoções transparentes. Ele precisava se recompor, pois além da adversária, estava sendo assistindo pelos mais jovens, paralisados, aguardando por um comando.
- Prontos para se renderem, perdedores? O Mestre vai adorar os presentinhos que vou levar.
- Quem é ele? – vociferou – Quem é o covarde que até hoje não ousou mostrar as caras?
- Calado! – o tom ameaçador dela soou insano – Esse desrespeito de baratas imundas do tipo de vocês não será tolerado! – berrou, perdendo o controle – Antes de chegar nele, deviam pelo menos tentar fazer cócegas em mim. – achou graça na pretensão do líder – Vejamos... Um garoto-clone franguinho, um escultor de gelo e uma falsa bruxa sendo liderados por um palhaço que nem dom possui. Vocês estão fodidos.
entrou na frente do time, servindo de escudo para o que viesse, com a rifle apontada para a mulher. Savannah quis chorar. Os poderes da equipe haviam sido anulados com facilidade, mas muito diferente dos garotos, o ponto fraco dela havia sido descoberto tão no início da batalha que não tivera chance de mostrar as habilidades.
James era capaz de criar cópias de si mesmo. Luke manipulava o gelo. Ela, Savannah, conseguia nocautear os oponentes com dores de cabeça infernais. Todavia, para fazer efeito, precisava estar olhando nos olhos do alvo. A portadora de raios fez uma leitura ágil deles sem maiores dificuldades.
- Estão calados. Presumo que aceitando a derrota. Pois bem, morram pagando o preço por não me entreterem o suficiente!
Dito, Nebula começou a fazer gestos com as mãos, puxando o máximo de elementos naturais do ar para fazer o ataque final. Quatro raios poderosos cortaram o pouco que ainda restava das estruturas dos dutos que pairavam sobre a cabeça deles, mirando cada um dos integrantes da CTH.
O ataque foi tão rápido e potente que só teve tempo de se mexer para salvar os dois garotos que estavam mais atrás. A proteção de e de Savannah ficou por conta de , que mesmo não verbalizando, sentiu a força dos raios. Um ataque certeiro daquele acarretaria na morte instantânea de qualquer um de lá.
Um piscar de olhos poderia ser o responsável pela morte ou sobrevivência de alguém. prendeu a respiração. Aquela era uma responsabilidade que ela estava assumindo para si.
- Desculpem, nos atrasamos para a festa. – anunciou a chegada deles, posicionando-se entre os garotos mais novos.
- Mais baratas. – a oponente concluiu, enojada – Espero que tenham truques mais interessantes para me mostrar, heróis.
- Só não se arrependa depois. – retrucou, destemida, avançando sem pestanejar até parar diante de Savannah e , usando dos poderes para materializar um cetro entre os dedos – Espero que não se importe, não sou a maior fã de pistolas. – sorriu irônica, recolhendo a arma no colete.
- Que fofinha, gosta de brincar de fazer mágicas e pirimpimpins. – caçoou – Sua morte não vai ser menos dolorosa, idiota. Comece a rezar...
Três raios sequenciais iluminaram e cortaram o lugar, pairando sobre a cabeça de , mas essa permaneceu intacta. Um campo de energia envolveu todos do time.
- Só isso?
Nebula contraiu o maxilar, sentindo-se pessoalmente afrontada.
- Você pelo menos tem truques melhores do que a sua outra amiguinha. – indicou Savannah pelo queixo – Pena que não vão te salvar.
Os ataques seguintes foram tão fortes que, com exceção das mulheres que se enfrentavam, os presentes se encolheram instintivamente. Os campos de energia de continuaram cumprindo suas funções.
- Nem um arranhão? Mas como...
- Gostou da minha mágica? – riu, arteira – Vocês podem seguir em frente, pessoal. Eu cuido dessa aí.
Recuperado do choque inicial de ver a ex-colega de time parada logo em frente e dos ataques que sofreram, precisou aceitar que aquela não era a melhor hora para conversarem e lavarem roupa suja. Contrariando todas as vontades e ciente das tarefas designadas para cada grupo, aproximou-se de apenas para compartilhar:
- O chip está no colar dela.
A informação quase saiu inaudível, mas ao ver que os olhos da mulher foram automaticamente para o pescoço da oponente, compreendeu que a informação fora entregue com sucesso.
- tem razão. Vocês precisam seguir em frente. Nós assumimos daqui.
- Não. – foi firme em sua afirmação – Você vai com eles, . Sua velocidade será útil para desvendar esse labirinto e sacar os caminhos livres.
- Para de querer ficar com a parte legal toda para você, Princesa . Minha missão ainda é a mesma que a sua.
A dupla trocou olhares sérios.
- Sabe que temos chances reais de completar a missão por inteira, mas você ficando aqui comigo vai reduzir a probabilidade, .
Encararam-se mais uma vez.
- Que lindos, acho que vou chorar. – Nebula zombou – Vou contribuir para essa cena patética com fogos de artifício.
Outros raios caíram sobre a eles, ainda sem causar nenhum dano.
- Vão. Eu sei onde está o chip. – sibilou a última parte, para que o outro fizesse leitura labial.
se deu por derrotado.
- Estarei de volta antes que possa dizer “pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico“. – ofereceu uma piscadela – Anda, pessoal, sei qual é o caminho.
Antes que pudessem acelerar mais, um raio quase atingiu de frente, não se concretizando apenas pelos reflexos rápidos dele.
- Por que a pressa, Rapidinho? Ainda não acabei com vocês.
- Sua luta é comigo, Pikachu.
Os garotos mais novos precisaram seguir o ímpeto de rir em meio ao cenário caótico.
Imponente, fez poucos gestos com os dedos e uma capa protetora apareceu, envolvendo todos os aliados.
- Estão todos seguros. – explicou – Enquanto estiver de pé, a proteção de vocês estará ativada. Agora, corram.
Sozinhas, as mulheres se fitaram com intensidade.
- Vamos ver quanto tempo mais dura essa sua pose de forte, heroína.
- Até você descarregar por completo provavelmente.
Apesar do mesmo empenho e nível de determinação, as oponentes almejavam objetivos muito diferentes. precisava ganhar tempo e arranjar uma maneira de cortar os ataques de médio e longo alcance da outra para ter chances de alcançar o maldito chip. Reconhecia que era boa em exalar confiança na postura e nas palavras, mas se a vilã fosse mais perspicaz, teria notado que as barreiras não estavam parando os ataques vindos do céu.
A mágica estava em criar outra camada tão rapidamente quanto a anterior sumia e assim sucessivamente, para parecer que a proteção não tinha nem saído do lugar. se questionou internamente sobre quanto tempo ainda conseguiria esconder aquilo.
Nebula, por outro lado, só queria apaga-la definitivamente. Seu Mestre ficaria feliz com o achado, entretanto sua prioridade era frear os outros heróis.
Os membros da CTH não sabiam, mas depois da usuária de raios, o laboratório estava livre e desprotegido. A tropa inteira da Organização estava dividida em outras regiões, cumprindo outras buscas. Nebula estava sozinha e se não quisesse sofrer retaliações mais tarde, precisaria correr.
Ao mesmo tempo em que elas duelavam equilibradamente, o outro grupo avançava com facilidade pelos corredores subterrâneos, com servindo de guia, aparecendo e desaparecendo na velocidade da luz, desbravando os túneis para certificar quais haviam uma saída.
- Pikachu... – James ainda custava a acreditar no que ouvira em meio ao campo de batalha, segurando o riso.
- Seja quem for, eu idolatro essa mulher. – Luke compartilhava dos mesmos pensamentos do colega de time, entre as passadas largas da corrida e arfadas.
sorriu. nem havia voltado definitivamente e já estava fazendo escola. Ao contrário dele, tinha um semblante fechado. Não ter conversado com a ex-agente não o impedia de sentir aquele misto de emoções.
Saudades, surpresa, preocupação, sobretudo ressentimento, mágoa e rancor.
Havia dois caminhos pelos quais poderia optar: conversar pacificamente e ser transparente nos próprios sentimentos mais tarde, ou usar as máscaras que tinha criado para fazê-la sentir a mesma frustração que ele acumulou com o passar dos anos. Pelo desequilíbrio na balança, não havia dúvidas de que ele escolheria a segunda opção.
Antes de simplesmente colocarem o laboratório inimigo a baixo, os heróis se espalharam procurando por documentos ou materiais genéticos que pudessem ser úteis nos estudos para decifrar os planos da Organização. Simultaneamente à tarefa de reconhecimento, os integrantes instalavam os dispositivos dos explosivos em cantos estratégicos. A intenção deles era transformar tudo em pó, para que os inimigos não ousassem tentar reaproveitar algo.
Nesse meio tempo, a barreira proposta por desapareceu.
Tal fato serviu como um balde de água fria para que acordassem.
- Princesa ... – sussurrou.
Aquele não era um bom sinal e o portador da velocidade se sentia diretamente responsável por tudo que viesse a acontecer com a ex-agente. Afinal, foi ele quem a procurou e deu a ideia para que fizesse parte da missão.
- Depressa com o restante dos explosivos. – os apressou, igualmente apreensivo.
- Daqui vocês não saem.
O timbre familiar obrigou todos a pararem o que faziam para olhar a entrada. Nebula os alcançara e o pior: não estava na cola dela e nem dera sinal.
- Onde está ?
- A amiguinha de vocês? – Nebula riu com o fôlego que não tinha, escancarando o desequilíbrio – Literalmente enterrada a sete palmos do chão, soterrada por pedras. – relatou com deleite.
- Mentirosa.
- Sou má, não mentirosa. – apoiou-se contra as próprias pernas, sentindo dor – Ela conseguiu causar alguns arranhões, mas no final fui eu quem venci!
A gargalhada estridente não intimidou ninguém.
Nebula não era mais uma ameaça. A mulher estava descabelada, com algumas feridas pelo rosto e braços, mal se sustentando em pé. Os olhos treinados de foram para o colo dela, conferindo se deveriam brigar ainda, e apesar da corrente estar intacta no pescoço, o pingente que guardava o chip desapareceu.
Ela nem deve ter notado.
Sem mais motivos que os segurassem de destruir o lugar, Savannah tomou a liberdade de nocautear a usuária de raios antes de colocar os pés para fora do laboratório. Uma vez todos no corredor, pressionou o botão decisivo. A intensidade destrutiva do acessório foi tão grande, que afetou diretamente as estruturas improvisadas, acarretando em instabilidade e tremores nos corredores, além de uma grande nuvem de poeira.
O quinteto disparou a correr, refazendo o caminho de trás para frente. teria que estar em algum trecho os esperando. De fato, eles estavam certos na suposição, mas a forma como viram a colega chocou.
se debatia, quase inconsciente. Estava soterrada por pedregulhos, da metade do corpo até os pés. As mãos trêmulas insistiam inutilmente em empurrar os destroços para se desvencilhar, sendo que uma delas guardava o pingente com o chip. Mesmo com as tentativas, o sangue que escorria da testa, passando entre o olho e o nariz a tirava toda a estabilidade, reduzindo ainda mais a força que já não tinha.
Aquele era um dos lembretes do por que havia deixado a vida de agente especial para trás: ela não conseguia ver sangue. Não mais depois do acidente que causara e culminara no encerramento da própria carreira dentro da CTH.
Ao notar que não estava mais só, tentou gritar:
- Me ajudem! Me tirem daqui!
No entanto, o pedido saiu falho e quebrado.
Todos se desesperaram.
Luke foi o primeiro a se recuperar do susto com a cena, correndo para mover os destroços. Com cinco cópias de si, James seguiu como sua sombra. Enquanto os homens trabalhavam em conjunto para mover as pedras, Savannah checava as pulsações da mulher para prestar os primeiros atendimentos.
- Está tubem bem agora. – tentava conversar com a mulher para mantê-la desperta – Eu sou Savannah e vou cuidar de você, mas fica comigo, por favor. Não dorme.
- O chip... O chip... – balbuciou, exprimindo dor ao mover os braços de mal jeito.
A mais nova não compreendeu e cogitou que a outra pudesse estar começando a delirar. Nervosa, deixou para se juntar aos demais com a remoção.
- Depressa! – berrou – Não sei mais quanto tempo ela vai ficar consciente.
- Está difícil, caso não tenha percebido! – Luke rebateu, entredentes, com o sangue circulando mais rápido no rosto, devido à força que estava depositando junto do professor e do companheiro de time para removerem uma das maiores peças.
Enquanto puxavam de um lado, Savannah se moveu para o lado contrário, empurrando, com cuidado para não pisar na agente. Faltando pouco para ficar livre, se jogou ao chão.
- Princesa , estamos quase lá... – chamou com carinho – Olha para mim, foca na minha beleza...
Como resposta, os lábios de de moveram formando uma linha fina, que se supor, era um sorriso, ou uma tentativa. As mãos machucadas se abriram e ela finalmente conseguiu mostrar o chip.
- Nós sabíamos que você ia conseguir. – sorriu largamente, coletando o item em um pacote e guardando no bolso de dentro do colete.
Com o objetivo cumprido, a agente não viu sentido em continuar forçando a cabeça. Pouco a pouco, sentiu a figura do parceiro de time se distanciar.
- ... – o sorriso que sustentava desapareceu de imediato – ... – deu batidinhas leves no rosto – , fala comigo, caralho... – o tom que ia se sobressaltando chamou a atenção dos outros.
Perdendo a calma, começou um trabalho diferente, focado em puxar o corpo dela para fora, ao invés de ficarem apenas nas pedras.
A equipe de suava e ofegava com os últimos esforços. Ninguém estava saindo inteiro da missão. Antes de entrarem nos túneis e de e surgirem, o quarteto havia lidado com soldados inimigos e drones atiradores no meio da mata. Os corpos reclamavam de dor. O dia seguinte seria ainda pior para os músculos. Percebendo a exaustão e o nível de urgência que a parceira necessitava, se levantou com a desmaiada no colo:
- Vocês vieram com outro jato. – a fala havia saído mais como afirmação do que uma pergunta – Conseguem voltar por ele?
Todos assentiram com a cabeça.
O time A ficaria bem com a separação. precisava correr, mas não queria forçar os outros a entrarem em um ritmo acelerado, sem necessidade.
- Vocês continuam seguindo com pelo próprio fluxo. Nós vamos indo na frente. A gente se encontra na Base. - dito, saiu com em direção ao próprio veículo que haviam trazido.
Rígido, tentando não transparecer a preocupação diante da situação da ex-colega de time, engoliu seco e prendeu a respiração, antes de pedir para que a equipe se juntasse para fazer os últimos registros da missão.
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De braços cruzados, do lado de fora, assistia os cientistas trabalhando para desvendar a tecnologia do chip junto das fotos e dos relatórios que o time realizou. A demora estava o corroendo. No entanto, era compreensível. Se fosse um negócio para amadores, o governo nunca teria encarregado a tarefa para a equipe de inteligência deles.
Os dedos grossos que batucavam sobre o próprio antebraço revelavam a impaciência. Fazia quase um dia desde que retornaram da ilha. permanecia sedada por remédios e ninguém contou mais nada. O sentimento era quase o mesmo de o amordaçarem e amarrarem em um quarto branco, enquanto o lado de fora pegava fogo.
Ele só queria notícias. Era pedir demais?
Tudo tão calmo na Base, enquanto o interior dele transbordava.
Respirou e inspirou.
Passos apressados o deixaram em alerta.
- Professor, ela acordou! – James se aproximou eufórico – Ela acordou e está bem doidona.
Dado o recado, o recém-chegado sumiu pelo ar, como fumaça, deixando claro que aquele era apenas um clone.
Não foram necessárias mais palavras. pôs-se a correr para o lado oposto do prédio. Havia dado ordens expressas para ser notificado, caso viesse despertar. Só não imaginou que seria tão rápido dado à situação em que se encontrava nos braços de .
Em um dos cantos extremos da torre da CTH, no andar mais alto, enfrentava problemas. Acordara em um quarto desconhecido. A falta de luz atravessando as cortinas mostrava que já era noite. Em seus braços havia meia dúzia de tubos interligados às maquinas, incluindo uma que contabilizava sua frequência cardíaca.
Apesar de se sentir um pouco melhor, o corpo pareceu virar gelatina quando o cérebro associou o ambiente com um hospital. Sangue, áreas medicinais e qualquer coisa que trouxesse uma áurea mórbida era o suficiente para ativar os gatilhos que tentava a todo custo esquecer.
Sentiu pânico.
Abominava aquele espaço, que apesar de improvisado, era praticamente um hospital.
Ela precisava ir embora.
A primeira tentativa de movimento forçado fez o corpo formigar. Então, as lembranças da missão começaram a voltar. arrancou os tubos do braço com violência, ignorando a vermelhidão instantânea na pele os possíveis machucados que se formariam depois. Ela não queria nada daquelas coisas perto ou dentro de si.
Novamente, o corpo reclamou. Parecia que um trem havia passado por cima e ainda dado ré. Mais gritantes que as dores nos braços, somente as pontadas na coluna. Ela não conseguia se mover decentemente. Independente de quantas vezes mandasse no corpo, ele não respondia de volta. Ao fazer um esforço além para deixar a cama, o arrependimento veio quase que instantâneo.
- Eu preciso sair daqui... – murmurava para si, sozinha, ainda desnorteada.
Não bastasse o corpo dormente, as mãos começaram a tremer pela ausência de controle sobre os próprios movimentos. O choro ia subindo pela garganta.
- Eu quero sair daqui. – balbuciou outra vez, como se o processo de verbalizar tornasse as ações mais simples.
Se as pernas não a obedeciam, ela os forçaria por conta própria. Respirou e inspirou rápido, contendo os soluços e gemidos de dor. Primeiro, precisou desencostar o tronco da cama levemente inclinada. A fisgada que sentiu na espinha a fez perder todos os sentidos por um instante.
viu tudo ficar branco e precisou parar.
As primeiras lágrimas apareceram.
acreditou que poderia morrer pela dor a qualquer instante. Inclinou-se, urrando pelos espasmos que estavam se espalhando por todas as células musculares. Os cabelos na nuca começavam a ficar úmidos pelo suor. Ela não poderia ceder. Não pararia. Finalmente, sentada, levou as duas palmas para a coxa direita, a fim de empurrar a perna para fora do colchão.
Sucesso.
Todavia, sem muito equilíbrio, uma das mãos esbarrou contra o poste metálico que guardava o saco de soro, levando-o ao chão, causando ruídos que atraíram a atenção de quem estava do lado de fora do quarto.
Duas pessoas surgiram na porta, sem cerimônias.
- Hey, o que pensa que está fazendo? – Savannah disse brava, aproximando-se.
- Fica longe de mim. – esbravejou – Eu quero sair daqui! – esperneou, focada em mover a outra perna para fora.
Savannah riu de deboche. A recém-acordada estava muito mal da cabeça se acreditava que iria para algum lugar naquele estado.
Deplorável.
Era assim que se sentia sem uma resposta decente dos membros do corpo e diante da situação, sentia-se livre para mandar qualquer resquício de sanidade para o espaço. Aos poucos, seu choro foi se tornando audível.
- Eu não sinto minhas pernas. – reclamou em meio aos soluços.
Quando Savannah fez menção de chegar mais perto para coloca-la de volta na cama, um campo de energia a envolveu, impedindo qualquer tentativa de avanço.
- Savannah! – James alarmou, correndo os olhos da parceira de time para a agente mais velha.
Foi naquele momento que notou que os braços de sangravam um pouco por conta das guias arrancadas sem jeito. O cardiograma não exibia mais os sinais vitais. Estavam em uma situação chata. Se algo fugisse da normalidade, eles não saberiam, pois as máquinas estavam desconectadas.
Perigoso.
- , me solta daqui! – Savannah protestou, como quem conversava com uma criança mal-criada. – Vai voltar para essa cama, sim. Por bem ou por mal!
Então, a agente a encarou:
- Quero ver você tent...
Aquela foi a deixa para Savannah.
sentiu uma forte tontura começar, bagunçando seus sentidos, fazendo a visão embaçar.
- Ela está domada agora. Coloque-a de volta, James.
Assustado com o que estava acontecendo, o Copiador cercou pelo outro lado, pronto para puxá-la de volta ao leito.
- Dor. – anunciou, comprimindo a cabeça entre as mãos, numa tentativa de fazer parar – O que estão fazendo comigo... – gemeu, pendendo para frente, sem conseguir abrir os olhos.
Uma vez que Savannah conseguia estabelecer um contato visual, o controle da mente do oponente estava em suas mãos.
Pareciam que milhares de pregos finos perfuravam o cérebro. Com isso, tinha certeza de que conheceu o inferno. Não bastasse o corpo queimando, agora era a cabeça que entrava em combustão. Mal conseguia formular uma ideia sensata. Contudo, no momento que o toque suave de James entrou em contato com sua pele descoberta do braço, um feixe da realidade se fez presente, dando-a a chance de ativar os próprios poderes.
Uma parede se fez existir entre eles e rapidamente, o elemento empurrou o mais novo para trás, arremessando-o com violência contra a parede do quarto, para em seguida, adquirir o formato de uma jaula.
Agora, James, assim como Savannah, estava aprisionado. Essa última muito surpresa.
- Até assim você consegue usar seus poderes? Sinto muito por isso, mas foi você que pediu.
Savannah subiu a frequência das ondas mentais.
foi sentindo as pálpebras se fecharem contra sua vontade. A cabeça começava a pesar uma tonelada e o cenário envolto de si estava se movendo, girando.
Ela havia perdido.
Antes que o corpo de beijasse o chão, Savannah foi ágil o bastante para ampará-lo.
- Porra, porra... – James puxava os cabelos enquanto via Savannah recolhendo o poste e posicionando o saco de soro em seu devido lugar outra vez.
- O que foi? – Savannah ficou impaciente com o choramingo. A agitação daquela noite havia a deixado com os nervos a flor da pele.
“Pode ir dormir, Luke, o que pode acontecer de tão ruim no quarto de uma agente sedada?”, eles disseram quando dispensaram o terceiro membro da equipe para alternar os turnos.
Tudo por causa de um pedido de .
Savannah bufou.
Se não fosse a vida de heroína, seria com certeza os homens que a cercavam que a levariam à perdição.
- Sabe o que acabamos de fazer? – James questionava em um tom baixo, rezando para que os clones voltassem com ajuda o quanto antes – Acabamos de apagar . Uma agente de elite.
- Parabéns? – Savannah debochou.
- Para, porra! Assim como Luke, você e eu formamos uma equipe. e ela formaram uma, um dia. Acha que ele vai ficar puto?
- E você queria que eu fizesse o quê? – com a voz ficando mais fina, temendo em seu íntimo pelas considerações que o garoto acabara de levantar – Você foi enquadrado como um perdedor e ela estava descontrolada.
Muitas histórias circulavam pelos corredores sobre a geração anterior. Vez ou outra, eles presenciavam os mais velhos relatando experiências tão brilhantes e chocantes, que eles, como novatos, mal conseguiam distinguir a mentira do real, de tão extraordinárias.
- O que aconteceu aqui?
Das pessoas a quem James recorreu, o primeiro a chegar foi justamente o professor. O estado de e a cama desfeita explicavam um pouco da batalha que travaram há pouco.
- Então, eu precisei usar meus poderes, ou não sairíamos do lugar. – Savannah terminava de relatar.
- Como não sabíamos quanto tempo mais vocês iam levar para chegar, foi isso. – James defendeu as escolhas da amiga.
Após um breve silêncio no quarto, foi o primeiro a se posicionar:
- Muito bem, Savannah, você fez o certo. – admirou a conhecida dormindo na cama – Poderia ter sido pior se ela tivesse pisado no chão ou saído daqui. é imprudente e poderia ter se metido em mais problemas. Vocês podem ir descansar. Assumiremos daqui.
A dupla concordou com a cabeça, saindo em passos curtos e rápidos.
- Ah! Antes: podem falar se perceberam algo de diferente no comportamento dela?
- Parecia bem abatida. – James tomou a iniciativa – Chorou e reclamou que não sentia as pernas.
O professor e a diretora da CTH trocaram olhares breves.
- Sim, ela estava empurrando as pernas para sair da cama.
- Tudo bem. – o homem suspirou – Bom trabalho. – elogiou uma última vez, antes de conseguirem deixar o cômodo por completo.
Assim que as duas autoridades sobraram com uma desacordada, Irene avisou:
- Iremos medicá-la para que não haja risco de ocorrer uma nova crise. Realizaremos uma nova bateria de exames quando for possível. Os primeiros testes não acusaram nada e como não tivemos a oportunidade de conversar com a própria , não podemos dar um diagnóstico certeiro.
escutou tudo em sua pose séria usual.
- Acha mesmo que ela pode ter perdido o movimento das pernas? – fez a pergunta que todos estavam temendo.
- Não podemos afirmar. A princípio, pode ser o choque inicial pela luta. Ninguém sabe o que houve entre as duas quando vocês se separaram. Pode ser os medicamentos, visto que eles tinham uma função sedativa. Tudo vai depender de como ela vai reagir nas próximas horas. Por ora, você pode ficar tranquilo, . – acalmou-o, dirigindo-se para a porta – Você vem?
- Irei ficar um pouco mais.
Assim, a superior os deixou a sós.
ficou mais um tempo observando a mulher adormecida. Ela estava de volta, mas de um jeito errado. Ele não conseguiu a proteger. Quase a perdeu. E mais uma vez, quase não foi capaz de chegar a tempo.
Soltou o ar que nem havia reparado que prendeu, pesaroso.
estava abatida e pálida.
Quando se viram pela primeira vez na missão, odiou vê-la agindo tão naturalmente, ignorando-o como se fosse bosta. Eles não se viam a mais de meia década e ela nem se abalou. O homem também odiou o amigo, , por trazê-la de volta sem conversarem antes. Ele estava decidido a não pegar leve com ela. Entretanto, as vontades estavam bagunçadas agora, com susto pelo estado de , obrigando-o a repensar se valia a pena sustentar um teatro infundado para parecer mais forte.
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Haviam a feito passar por outras dezenas de exames e radiografias. estava cansada, sem vontade nenhuma de conversar com ninguém. Depois que acordou, fizeram várias perguntas, tanto com relação à missão, quanto ao que estava sentindo. O controle sobre as pernas ainda não estava recuperado totalmente, mas lhe garantiram que havia solução.
A reabilitação poderia ser lenta, mas ela voltaria a ser a mesma de antes.
Enquanto divagava, reparava em como a CTH havia mudado, expandido. Não reconhecia quase nenhum dos rostos. A ex-agente supôs que talvez os colegas da mesma geração tivessem sido transferidos para outras Bases, ou simplesmente se aposentado, assim como ela, até dias atrás.
- Bem que eles disseram que estaria aqui, Princesa .
A mulher rolou os olhos.
Só existia uma pessoa em todo esse universo que a chamava assim.
- Quer me parar de chamar por esse apelido idiota, ? Não vivemos em uma monarquia. Não critiquei antes, porque estávamos no meio de uma missão, mas agora nada me impede... Cala a boca!
Eles se lembravam bem do por que do apelido.
Na primeira semana como calouros, e foram postos no mesmo grupo para as primeiras triagens e nivelamento das habilidades. Com um querendo mostrar mais serviço que o outro, um atrito nasceu e disso cresceu uma rivalidade natural e saudável entre a dupla. era um dos poucos que não pegava mais leve com ela por ser mulher e isso era munição suficiente para ela revidar com tudo.
Em uma das brigas, ela foi tão agressiva que acabou arrancando esse apelido dele, mais como uma zombaria pela falta de delicadeza do que o próprio título significava literalmente.
- Você merece, o conquistou com todos os méritos. – brincou, sentando-se no espaço livre ao lado dela na arquibancada.
De lá, era possível eles assistirem os novos calouros treinando, sob a supervisão de .
- Como está se sentindo? Irene me informou da oferta que te fizeram. O que achou?
- Para as duas perguntas a resposta é a mesma: péssima. – respondeu, com os olhos faiscando rapidamente para as muletas apoiadas no outro lado.
- Por quê?
- Já parou para pensar que pode ter sido um erro me oferecer essa missão? Eu não pertenço mais à Corporação. Agora, toda ferrada, eles querem que eu fique? – soltou um riso forçado – Para quê? – exasperou – Minha utilidade terminou.
- Não fale essas coisas de si mesma. – inclinou o tronco para frente, para apoiar os antebraços nas próprias pernas – Você fez história aqui dentro. Não é porque saiu, que nunca fez parte, . E eles querem que fique, pelo menos até melhorar, porque se sentem culpados e querem se redimir um pouco. É por nossa causa que está assim. Não tem nada a ver com utilidade.
Quando desviou o olhar do horizonte para fitar a amiga, percebeu o olhar perdido dela sobre as costas de . se perguntou se ela estava tentando ao menos disfarçar.
- Ele também gostaria que ficasse.
- Ele não quer falar comigo. – rebateu, chorosa.
- Ele te disse isso? – o dono da super velocidade franziu o cenho.
- Não, mas não preciso ser nenhuma gênia para reparar também, . – cruzou os braços sobre o peito – Fiquei três dias presa em uma cama, sem poder fugir para nenhum lugar. Se ele não apareceu nem quando eu não tinha escapatórias para um interrogatório, o que te faz pensar que quer falar comigo de bom agrado?
soltou um riso nasalado enquanto balançava a cabeça, achando muito engraçado. Tinha um amigo idiota por não ter visitado a mulher em nenhum momento em que estava desperta, mas de noite só faltava acampar do lado da cama dela, por zelo.
era um imbecil.
E seu amigo.
não conseguia compreender por que o outro estava se fazendo de indiferente.
- Vejamos, não é bem assim. Você estava drogada, . Não parecia o momento mais apropriado para discutirem coisas importantes.
- Para de defender ele!
- Sabe que não estou!
bufou.
- Vocês são bem adultos para ficarem nesse lenga-lenga, não acha?
Antes que pudesse dar uma resposta desaforada ao amigo, a discussão foi interrompida por Savannah, que se aproximava um pouco acanhada. Era o primeiro contato dela com a ex-agente depois do episódio no quarto. A mais nova temia que estivesse marcada como um alvo fácil depois de ter usado os poderes contra a outra.
- Com... Licença. – precisou forçar a voz para não gaguejar – Já teve o tempo para pensar, . Irene precisa de uma resposta para preparar instalações confortáveis, caso decida ficar. Qual a sua resposta?
quis rir da aprendiz do , pela forma robótica que as palavras escaparam. Ela parecia estar repetindo literalmente o recado que pediram para repassar.
- Deculpa se eu soei rude. – Savannah prontamente ergueu as mãos para espantar um possível mal entendido – Mas é que Irene quer uma resposta para a proposta.
- Aceita, Princesa . Fica! – incentivou – Pode ser um novo recomeço para vocês, uma nova chance para o Time 3.
- Isso nunca vai acontecer. – fechou a cara por um segundo e se voltou em direção à garota – Pode avisá-la que eu fico. – vibrou tão alto que atraiu a atenção dos que estavam treinando, deixando todo mundo sem entender o que acontecia – Mas só até consegui voltar a andar.
A última parte não interessava mais.
Antes que ela pudesse sair da CTH com os próprios pés, a faria mudar de ideia. Ou talvez, fizesse a fazer mudar de ideia. Eram muitas opções para o mesmo inevitável final.
De onde estava, dentro do campo de treinamento, cronometrava os recordes de cada aluno, quando ouviu um berro desmedido muito familiar. Virou-se brevemente, a tempo de encontrar e acompanhados de Savannah. Os dedos apertaram com mais força a prancheta que tinha em mãos.
De fato, ele não havia notado que eles haviam chegado e acompanhavam o treinamento. nem sabia se queria que ficassem o assistindo e medindo.
A carranca foi impossível de segurar quando se deu conta de que a dupla estava muito próxima e cenas como aquelas se tornariam frequentes, caso resolvesse ficar. A proposta feita pela superior não era segredo. Irene havia os consultado pessoalmente para saber o que achavam. e se enfrentavam à beça quando eram mais jovens, mas o primeiro nunca foi de ficar na companhia de uma a mesma pessoa por muito tempo. Como o portador da super velocidade gostava de declarar: ele não era de ninguém em específico, era do mundo.
Enquanto criava as próprias neuras, começava a sentir um incômodo por estar sendo encarada em excesso. Mesmo depois de ter dado a resposta, percebeu que Savannah estava estacada no nível de cima da arquibancada, mirando-a como se fosse um ser de outro planeta.
- Alguma coisa te incomoda?
- Na verdade, tem uma coisa que meus amigos e eu não conseguimos entender até agora sobre você.
- E o que é?
Ainda que estivesse fora da conversa, sentiu um pouco de medo do que poderia vir.
- Você é uma celebridade, . Todo mundo só fala de você nos últimos dias. – nessa parte, se obrigou a arquear as sobrancelhas – Mas se era tão boa assim, o que aconteceu que te fez sair?
encarou a mais nova com um olhar de dor.
foi quem precisou prender a respiração agora.
- Por que escolheu sair? – Savannah insistiu por uma resposta.
- Pelo mesmo motivo que a minha equipe nunca voltará a ser a mesma. – deu uma pausa, mirando as costas largas do ex-companheiro mais à frente – Eu matei meu outro colega de time.
Derrubar um por um, daqueles que se intitulavam Organização, era o pouco de redenção que ela ainda poderia ter nessa vida. Os detalhes da missão ainda seriam passados no trajeto, mas não tinha dúvidas de que daria tudo de si para fazer os inimigos caírem.
Não tardando muito mais, um jato preto, de última tecnologia se aproximou do telhado do edifício. Eles não tinham tempo para paradas mais delicadas. Com o veículo ainda no ar, a ex-agente se agarrou a uma das barras da porta enquanto a escada da entrada ainda estava baixando.
Uma vez dentro, a mulher não pôde evitar franzir o cenho. Com exceção dela e do piloto, o lugar estava vazio.
- Princesa , é bom te ver de novo.
- Cadê o resto do time, ?
- Nós somos o time. – o colega informou, pressionando o botão de controle automático depois de digitar as coordenadas na tela.
- O quê?
- Não precisamos de mais ninguém. – revelou, deixando o posto de piloto e caminhando até um dos armários da nave - Você tem o poder defensivo perfeito e eu sou mais rápido que qualquer criatura nessas terras. A dupla perfeita para uma missão importante bem sucedida.
- Aliás, qual é a nossa missão?
- Recuperar um chip. – esclareceu, arremessando um traje para a parceira.
Aquele uniforme era conhecido dela. nunca imaginou que o vestiria novamente.
- E o que ele esconde?
- O foco não é o que ele esconde, e sim o que ele faz. Explicando desde o começo: como havia comentado semana passada, a Organização tem agido estranhamente em todos os continentes do globo. Agentes especiais de todas as bases têm sumido e aparecido sem vida dias depois. A suspeita é de que estão fazendo testes com código genético para tentar reproduzir dons como os nossos em massa, para criar um exército poderoso e imbatível. Estou falando muito rápido?
prontamente negou enquanto começava a vestir o traje por cima das próprias roupas.
- Estamos na cola dos caras faz meses. Descobrimos uma abertura subterrânea que pode corresponder a um dos laboratórios deles, mas o lugar é tão bem protegido que nunca conseguimos, de fato, explorar tudo que escondem lá.
- Mais um motivo para suspeitar do lugar. Não colocariam tantas barreiras se o que guardam não tivesse importância.
assentiu com a cabeça.
- Tentamos várias vezes. Quando achávamos que finalmente estávamos no fim, aparecia outro obstáculo. Porém, nossas falhas não foram em vão. Mapeamos cada ponto daquela região com as possíveis armadilhas e ameaças encontradas. Prepare-se, Princesa . Se as suposições dos superiores estiverem certas, encontraremos a máquina que a Organização montou para fazer os testes e o chip que ativa o equipamento.
- Certo. Quais são exatamente as armadilhas que vocês já viram?
O olhar do agente ficou vago, perdido em um canto qualquer do piso.
- Tudo o que você pode imaginar: drones atiradores, homens comuns, bombas, plantas venenosas e soníferas e por fim, mas não menos importante: superdotados.
suspirou, passando as mãos nos cabelos.
- Tem certeza que nós dois damos conta?
Não era como se ela fosse ter uma crise existencial no meio do caminho para uma missão, no entanto era impossível não pensar que talvez fosse muito trabalho e muitos riscos para duas pessoas.
- Cabe a nós, o time B, pegar o chip e sair o quanto antes de lá, intactos. Evitar confrontos e só.
- Então, tem o time A... – ela arqueou as sobrancelhas.
- Eles estão encarregados de eliminar quem surgir pelo caminho, destruir a máquina e explodir o laboratório. Somos a equipe de apoio, mas não se engane achando que ficamos com a parte fácil. Depois que a gente chega lá, é muito fácil nossos planos saírem do controle.
- Tudo bem. Entendi. Pegar o chip acima de tudo. Vocês ao menos já viram a peça? Se for como a de um computador, vamos demorar a achar.
- Irene disse que saberíamos qual é assim que colocássemos o olho.
cerrou os olhos, sem acreditar.
- Então, tá. – deu os ombros.
- Seja bem-vinda de volta ao melhor estilo dos heróis.
abriu um sorriso largo, verdadeiramente empolgado. A ex-agente, por outro lado, sentiu o estômago revirar e não tinha nada a ver com enjoo pelo movimento acelerado do jato. O parceiro estava a incluindo como se fizesse parte de tudo aquilo. Aparentemente, ele havia se esquecido da parte em que cada um seguiria seu rumo outra vez, assim que aquela missão se desse por encerrada. Os heróis retornariam à Base e ela para a vida comum de civil.
Do banco de copiloto, se pegou pensando demais. Parecia que quem nascia com poderes sempre acabava arrastado para aquela vida de novo. Diferente do que insistia em ressaltar, ela não era como eles. Havia um fardo que carregava nas costas que não permitiria que fosse considerada uma heroína tão cedo.
Próximos do destino final, avisou que fariam um pouso estratégico para evitar atenções desnecessárias, tendo que cumprir boa parte do caminho à pé ainda. Já nas tubulações subterrâneas, achou que passaria mal a qualquer momento, com uma falsa sensação de claustrofobia atacando. A ausência de luz ou qualquer orifício para permitir a passagem e troca de gases deixava-a um pouco tonta.
Até aquele ponto, o único impedimento que apareceu da lista que o parceiro mencionou mais cedo foram as plantas soníferas. Ainda assim, não as considerou como ameaças reais. O cheiro adocicado forte e enjoativo denunciava facilmente os males da vegetação. A mulher atribuiu os créditos ao time A pela tranquilidade com que estavam conseguindo realizar o trajeto. Eles devem ter limpado o caminho quando fizeram reconhecimento do local.
Com um mapa digital em mãos e a atualização em tempo real da localização da outra equipe, o homem ia liderando atentamente. Apesar de mira não ser o forte de nenhum dos dois, cada um carregava uma pistola com dardos tranquilizantes e outra com balas reais na cintura.
Os únicos ruídos distinguíveis eram os passos deles. Vez ou outra, olhava para trás, certificando-se de que não entrariam em nenhuma emboscada.
- Estranho... – parou de se mover, fazendo a colega se aproximar, curiosa.
- O que foi?
- O time A está logo a diante, mas pararam de se mover tem um tempo.
- Acha que alcançaram o laboratório?
- Não. Pelos cálculos do mapa, ainda faltaria um pedaço para percorrer. Devem estar enfrentando outro obstáculo. Vamos dobrar a nossa atenção a partir de agora, .
- Pode deixar.
- Lembre-se: não se exponha à riscos desnecessários. O inimigo é impiedoso e somos o tipo de alvo que eles mais odeiam e procuram: agentes da CTH com poderes.
- Sim, Senhor-Líder. – ela revirou os olhos.
- Senti um deboche nas suas palavras, mas vou deixar passar dessa vez.
- Tanto faz. Agora, anda. Devemos apertar os passos para ajudar a outra equipe?
- Dependendo do que estão enfrentando, vamos apenas passar reto.
- Sério mesmo?
- Sei que fomos criados pelo lema “Ninguém fica para trás”, mas não temos tempo a perder dessa vez. Com a posse do chip, a máquina fica inutilizada já. Precisamos levar a relíquia intacta para que os cientistas possam estudar e fazer relatório detalhados do que a Organização tem feito. Qualquer minuto conta para ficarmos um passo a frente nessa guerra.
- Posso pelo menos saber quem é o outro time?
parou de caminhar por um instante, encarando-a com seriedade.
- Tem certeza que não sabe?
Os joelhos dela ameaçaram a fraquejar.
Um reencontro naquelas condições não estava previsto.
- Ele não seria suicida o suficiente para seguir na linha de frente. Sozinho. Seria?
O homem riu.
- Esqueci que esteve afastada nos últimos anos. não está mais sozinho, . Depois que você foi embora e Austin... – o ar ficou pesado, limpou a garganta com pressa – Depois que a equipe de vocês foi desmembrada... – corrigiu-se – continuou fazendo missões, solo, mas também virou instrutor da Corporação e hoje lidera uma equipe de novatos.
- É a cara dele mandar nos outros. – rolou os olhos – O quão novos são esses novatos exatamente? – quis saber – Para assumirem uma missão desse nível...
- Relaxa. A nova geração vai nos superar rapidinho, pode confiar.
Apesar do voto de confiança do homem, a situação do quarteto que estava mais à frente não era favorável. Embates não dependiam só do nível das habilidades de cada um, como também da combinação de poderes do inimigo.
O mais novo deles tentava avançar a todo custo, criando dezenas de clones para pularem em direção da oponente. Entretanto, na mesma velocidade que eles eram criados, raios cortavam o céu e atravessavam o teto para derrubá-los.
As crateras criadas no metal acima da cabeça deles denunciavam a quantidade alta de ataques sofridos.
- Pare com isso, James. Não está funcionando e você está se pondo à exaustão desperdiçando energia desse jeito.
- Quais são os planos, professor?
se calou, dando brecha para a portadora do dom de criar raios gargalhar em provocação.
- Você também percebeu que vocês estão sem saída, não é? – disparou – Então é isso que é ser um herói? – ela mordeu os lábios, fitando as unhas afiadas com diversão – Fazer papel de babaquinhas e chorar? – outra risada – Vocês já foram melhores, CTH.
Os dedos dele apertaram ainda mais o corpo da arma. Ninguém da equipe havia habilidades compatíveis com a usuária de raios. Ainda que forçasse todos a atacarem simultaneamente, a mulher ainda poderia aniquilá-los com vários choques potentes. precisou se segurar para evitar um suspiro frustrado.
Mais uma vez, eles tinham nadado muito para morrer na praia.
Porra, como aquilo era frustrante.
Disparou duas balas, que em condições normais teriam atingido o regiões vitais do inimigo, contudo era surreal o controle da outra sobre os dons. Era como se a natureza estivesse a favor dela.
Inferno.
, apesar de não emitir sons, acabou evidenciando a própria ansiedade com os disparos repentinos e as emoções transparentes. Ele precisava se recompor, pois além da adversária, estava sendo assistindo pelos mais jovens, paralisados, aguardando por um comando.
- Prontos para se renderem, perdedores? O Mestre vai adorar os presentinhos que vou levar.
- Quem é ele? – vociferou – Quem é o covarde que até hoje não ousou mostrar as caras?
- Calado! – o tom ameaçador dela soou insano – Esse desrespeito de baratas imundas do tipo de vocês não será tolerado! – berrou, perdendo o controle – Antes de chegar nele, deviam pelo menos tentar fazer cócegas em mim. – achou graça na pretensão do líder – Vejamos... Um garoto-clone franguinho, um escultor de gelo e uma falsa bruxa sendo liderados por um palhaço que nem dom possui. Vocês estão fodidos.
entrou na frente do time, servindo de escudo para o que viesse, com a rifle apontada para a mulher. Savannah quis chorar. Os poderes da equipe haviam sido anulados com facilidade, mas muito diferente dos garotos, o ponto fraco dela havia sido descoberto tão no início da batalha que não tivera chance de mostrar as habilidades.
James era capaz de criar cópias de si mesmo. Luke manipulava o gelo. Ela, Savannah, conseguia nocautear os oponentes com dores de cabeça infernais. Todavia, para fazer efeito, precisava estar olhando nos olhos do alvo. A portadora de raios fez uma leitura ágil deles sem maiores dificuldades.
- Estão calados. Presumo que aceitando a derrota. Pois bem, morram pagando o preço por não me entreterem o suficiente!
Dito, Nebula começou a fazer gestos com as mãos, puxando o máximo de elementos naturais do ar para fazer o ataque final. Quatro raios poderosos cortaram o pouco que ainda restava das estruturas dos dutos que pairavam sobre a cabeça deles, mirando cada um dos integrantes da CTH.
O ataque foi tão rápido e potente que só teve tempo de se mexer para salvar os dois garotos que estavam mais atrás. A proteção de e de Savannah ficou por conta de , que mesmo não verbalizando, sentiu a força dos raios. Um ataque certeiro daquele acarretaria na morte instantânea de qualquer um de lá.
Um piscar de olhos poderia ser o responsável pela morte ou sobrevivência de alguém. prendeu a respiração. Aquela era uma responsabilidade que ela estava assumindo para si.
- Desculpem, nos atrasamos para a festa. – anunciou a chegada deles, posicionando-se entre os garotos mais novos.
- Mais baratas. – a oponente concluiu, enojada – Espero que tenham truques mais interessantes para me mostrar, heróis.
- Só não se arrependa depois. – retrucou, destemida, avançando sem pestanejar até parar diante de Savannah e , usando dos poderes para materializar um cetro entre os dedos – Espero que não se importe, não sou a maior fã de pistolas. – sorriu irônica, recolhendo a arma no colete.
- Que fofinha, gosta de brincar de fazer mágicas e pirimpimpins. – caçoou – Sua morte não vai ser menos dolorosa, idiota. Comece a rezar...
Três raios sequenciais iluminaram e cortaram o lugar, pairando sobre a cabeça de , mas essa permaneceu intacta. Um campo de energia envolveu todos do time.
- Só isso?
Nebula contraiu o maxilar, sentindo-se pessoalmente afrontada.
- Você pelo menos tem truques melhores do que a sua outra amiguinha. – indicou Savannah pelo queixo – Pena que não vão te salvar.
Os ataques seguintes foram tão fortes que, com exceção das mulheres que se enfrentavam, os presentes se encolheram instintivamente. Os campos de energia de continuaram cumprindo suas funções.
- Nem um arranhão? Mas como...
- Gostou da minha mágica? – riu, arteira – Vocês podem seguir em frente, pessoal. Eu cuido dessa aí.
Recuperado do choque inicial de ver a ex-colega de time parada logo em frente e dos ataques que sofreram, precisou aceitar que aquela não era a melhor hora para conversarem e lavarem roupa suja. Contrariando todas as vontades e ciente das tarefas designadas para cada grupo, aproximou-se de apenas para compartilhar:
- O chip está no colar dela.
A informação quase saiu inaudível, mas ao ver que os olhos da mulher foram automaticamente para o pescoço da oponente, compreendeu que a informação fora entregue com sucesso.
- tem razão. Vocês precisam seguir em frente. Nós assumimos daqui.
- Não. – foi firme em sua afirmação – Você vai com eles, . Sua velocidade será útil para desvendar esse labirinto e sacar os caminhos livres.
- Para de querer ficar com a parte legal toda para você, Princesa . Minha missão ainda é a mesma que a sua.
A dupla trocou olhares sérios.
- Sabe que temos chances reais de completar a missão por inteira, mas você ficando aqui comigo vai reduzir a probabilidade, .
Encararam-se mais uma vez.
- Que lindos, acho que vou chorar. – Nebula zombou – Vou contribuir para essa cena patética com fogos de artifício.
Outros raios caíram sobre a eles, ainda sem causar nenhum dano.
- Vão. Eu sei onde está o chip. – sibilou a última parte, para que o outro fizesse leitura labial.
se deu por derrotado.
- Estarei de volta antes que possa dizer “pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico“. – ofereceu uma piscadela – Anda, pessoal, sei qual é o caminho.
Antes que pudessem acelerar mais, um raio quase atingiu de frente, não se concretizando apenas pelos reflexos rápidos dele.
- Por que a pressa, Rapidinho? Ainda não acabei com vocês.
- Sua luta é comigo, Pikachu.
Os garotos mais novos precisaram seguir o ímpeto de rir em meio ao cenário caótico.
Imponente, fez poucos gestos com os dedos e uma capa protetora apareceu, envolvendo todos os aliados.
- Estão todos seguros. – explicou – Enquanto estiver de pé, a proteção de vocês estará ativada. Agora, corram.
Sozinhas, as mulheres se fitaram com intensidade.
- Vamos ver quanto tempo mais dura essa sua pose de forte, heroína.
- Até você descarregar por completo provavelmente.
Apesar do mesmo empenho e nível de determinação, as oponentes almejavam objetivos muito diferentes. precisava ganhar tempo e arranjar uma maneira de cortar os ataques de médio e longo alcance da outra para ter chances de alcançar o maldito chip. Reconhecia que era boa em exalar confiança na postura e nas palavras, mas se a vilã fosse mais perspicaz, teria notado que as barreiras não estavam parando os ataques vindos do céu.
A mágica estava em criar outra camada tão rapidamente quanto a anterior sumia e assim sucessivamente, para parecer que a proteção não tinha nem saído do lugar. se questionou internamente sobre quanto tempo ainda conseguiria esconder aquilo.
Nebula, por outro lado, só queria apaga-la definitivamente. Seu Mestre ficaria feliz com o achado, entretanto sua prioridade era frear os outros heróis.
Os membros da CTH não sabiam, mas depois da usuária de raios, o laboratório estava livre e desprotegido. A tropa inteira da Organização estava dividida em outras regiões, cumprindo outras buscas. Nebula estava sozinha e se não quisesse sofrer retaliações mais tarde, precisaria correr.
Ao mesmo tempo em que elas duelavam equilibradamente, o outro grupo avançava com facilidade pelos corredores subterrâneos, com servindo de guia, aparecendo e desaparecendo na velocidade da luz, desbravando os túneis para certificar quais haviam uma saída.
- Pikachu... – James ainda custava a acreditar no que ouvira em meio ao campo de batalha, segurando o riso.
- Seja quem for, eu idolatro essa mulher. – Luke compartilhava dos mesmos pensamentos do colega de time, entre as passadas largas da corrida e arfadas.
sorriu. nem havia voltado definitivamente e já estava fazendo escola. Ao contrário dele, tinha um semblante fechado. Não ter conversado com a ex-agente não o impedia de sentir aquele misto de emoções.
Saudades, surpresa, preocupação, sobretudo ressentimento, mágoa e rancor.
Havia dois caminhos pelos quais poderia optar: conversar pacificamente e ser transparente nos próprios sentimentos mais tarde, ou usar as máscaras que tinha criado para fazê-la sentir a mesma frustração que ele acumulou com o passar dos anos. Pelo desequilíbrio na balança, não havia dúvidas de que ele escolheria a segunda opção.
Antes de simplesmente colocarem o laboratório inimigo a baixo, os heróis se espalharam procurando por documentos ou materiais genéticos que pudessem ser úteis nos estudos para decifrar os planos da Organização. Simultaneamente à tarefa de reconhecimento, os integrantes instalavam os dispositivos dos explosivos em cantos estratégicos. A intenção deles era transformar tudo em pó, para que os inimigos não ousassem tentar reaproveitar algo.
Nesse meio tempo, a barreira proposta por desapareceu.
Tal fato serviu como um balde de água fria para que acordassem.
- Princesa ... – sussurrou.
Aquele não era um bom sinal e o portador da velocidade se sentia diretamente responsável por tudo que viesse a acontecer com a ex-agente. Afinal, foi ele quem a procurou e deu a ideia para que fizesse parte da missão.
- Depressa com o restante dos explosivos. – os apressou, igualmente apreensivo.
- Daqui vocês não saem.
O timbre familiar obrigou todos a pararem o que faziam para olhar a entrada. Nebula os alcançara e o pior: não estava na cola dela e nem dera sinal.
- Onde está ?
- A amiguinha de vocês? – Nebula riu com o fôlego que não tinha, escancarando o desequilíbrio – Literalmente enterrada a sete palmos do chão, soterrada por pedras. – relatou com deleite.
- Mentirosa.
- Sou má, não mentirosa. – apoiou-se contra as próprias pernas, sentindo dor – Ela conseguiu causar alguns arranhões, mas no final fui eu quem venci!
A gargalhada estridente não intimidou ninguém.
Nebula não era mais uma ameaça. A mulher estava descabelada, com algumas feridas pelo rosto e braços, mal se sustentando em pé. Os olhos treinados de foram para o colo dela, conferindo se deveriam brigar ainda, e apesar da corrente estar intacta no pescoço, o pingente que guardava o chip desapareceu.
Ela nem deve ter notado.
Sem mais motivos que os segurassem de destruir o lugar, Savannah tomou a liberdade de nocautear a usuária de raios antes de colocar os pés para fora do laboratório. Uma vez todos no corredor, pressionou o botão decisivo. A intensidade destrutiva do acessório foi tão grande, que afetou diretamente as estruturas improvisadas, acarretando em instabilidade e tremores nos corredores, além de uma grande nuvem de poeira.
O quinteto disparou a correr, refazendo o caminho de trás para frente. teria que estar em algum trecho os esperando. De fato, eles estavam certos na suposição, mas a forma como viram a colega chocou.
se debatia, quase inconsciente. Estava soterrada por pedregulhos, da metade do corpo até os pés. As mãos trêmulas insistiam inutilmente em empurrar os destroços para se desvencilhar, sendo que uma delas guardava o pingente com o chip. Mesmo com as tentativas, o sangue que escorria da testa, passando entre o olho e o nariz a tirava toda a estabilidade, reduzindo ainda mais a força que já não tinha.
Aquele era um dos lembretes do por que havia deixado a vida de agente especial para trás: ela não conseguia ver sangue. Não mais depois do acidente que causara e culminara no encerramento da própria carreira dentro da CTH.
Ao notar que não estava mais só, tentou gritar:
- Me ajudem! Me tirem daqui!
No entanto, o pedido saiu falho e quebrado.
Todos se desesperaram.
Luke foi o primeiro a se recuperar do susto com a cena, correndo para mover os destroços. Com cinco cópias de si, James seguiu como sua sombra. Enquanto os homens trabalhavam em conjunto para mover as pedras, Savannah checava as pulsações da mulher para prestar os primeiros atendimentos.
- Está tubem bem agora. – tentava conversar com a mulher para mantê-la desperta – Eu sou Savannah e vou cuidar de você, mas fica comigo, por favor. Não dorme.
- O chip... O chip... – balbuciou, exprimindo dor ao mover os braços de mal jeito.
A mais nova não compreendeu e cogitou que a outra pudesse estar começando a delirar. Nervosa, deixou para se juntar aos demais com a remoção.
- Depressa! – berrou – Não sei mais quanto tempo ela vai ficar consciente.
- Está difícil, caso não tenha percebido! – Luke rebateu, entredentes, com o sangue circulando mais rápido no rosto, devido à força que estava depositando junto do professor e do companheiro de time para removerem uma das maiores peças.
Enquanto puxavam de um lado, Savannah se moveu para o lado contrário, empurrando, com cuidado para não pisar na agente. Faltando pouco para ficar livre, se jogou ao chão.
- Princesa , estamos quase lá... – chamou com carinho – Olha para mim, foca na minha beleza...
Como resposta, os lábios de de moveram formando uma linha fina, que se supor, era um sorriso, ou uma tentativa. As mãos machucadas se abriram e ela finalmente conseguiu mostrar o chip.
- Nós sabíamos que você ia conseguir. – sorriu largamente, coletando o item em um pacote e guardando no bolso de dentro do colete.
Com o objetivo cumprido, a agente não viu sentido em continuar forçando a cabeça. Pouco a pouco, sentiu a figura do parceiro de time se distanciar.
- ... – o sorriso que sustentava desapareceu de imediato – ... – deu batidinhas leves no rosto – , fala comigo, caralho... – o tom que ia se sobressaltando chamou a atenção dos outros.
Perdendo a calma, começou um trabalho diferente, focado em puxar o corpo dela para fora, ao invés de ficarem apenas nas pedras.
A equipe de suava e ofegava com os últimos esforços. Ninguém estava saindo inteiro da missão. Antes de entrarem nos túneis e de e surgirem, o quarteto havia lidado com soldados inimigos e drones atiradores no meio da mata. Os corpos reclamavam de dor. O dia seguinte seria ainda pior para os músculos. Percebendo a exaustão e o nível de urgência que a parceira necessitava, se levantou com a desmaiada no colo:
- Vocês vieram com outro jato. – a fala havia saído mais como afirmação do que uma pergunta – Conseguem voltar por ele?
Todos assentiram com a cabeça.
O time A ficaria bem com a separação. precisava correr, mas não queria forçar os outros a entrarem em um ritmo acelerado, sem necessidade.
- Vocês continuam seguindo com pelo próprio fluxo. Nós vamos indo na frente. A gente se encontra na Base. - dito, saiu com em direção ao próprio veículo que haviam trazido.
Rígido, tentando não transparecer a preocupação diante da situação da ex-colega de time, engoliu seco e prendeu a respiração, antes de pedir para que a equipe se juntasse para fazer os últimos registros da missão.
De braços cruzados, do lado de fora, assistia os cientistas trabalhando para desvendar a tecnologia do chip junto das fotos e dos relatórios que o time realizou. A demora estava o corroendo. No entanto, era compreensível. Se fosse um negócio para amadores, o governo nunca teria encarregado a tarefa para a equipe de inteligência deles.
Os dedos grossos que batucavam sobre o próprio antebraço revelavam a impaciência. Fazia quase um dia desde que retornaram da ilha. permanecia sedada por remédios e ninguém contou mais nada. O sentimento era quase o mesmo de o amordaçarem e amarrarem em um quarto branco, enquanto o lado de fora pegava fogo.
Ele só queria notícias. Era pedir demais?
Tudo tão calmo na Base, enquanto o interior dele transbordava.
Respirou e inspirou.
Passos apressados o deixaram em alerta.
- Professor, ela acordou! – James se aproximou eufórico – Ela acordou e está bem doidona.
Dado o recado, o recém-chegado sumiu pelo ar, como fumaça, deixando claro que aquele era apenas um clone.
Não foram necessárias mais palavras. pôs-se a correr para o lado oposto do prédio. Havia dado ordens expressas para ser notificado, caso viesse despertar. Só não imaginou que seria tão rápido dado à situação em que se encontrava nos braços de .
Em um dos cantos extremos da torre da CTH, no andar mais alto, enfrentava problemas. Acordara em um quarto desconhecido. A falta de luz atravessando as cortinas mostrava que já era noite. Em seus braços havia meia dúzia de tubos interligados às maquinas, incluindo uma que contabilizava sua frequência cardíaca.
Apesar de se sentir um pouco melhor, o corpo pareceu virar gelatina quando o cérebro associou o ambiente com um hospital. Sangue, áreas medicinais e qualquer coisa que trouxesse uma áurea mórbida era o suficiente para ativar os gatilhos que tentava a todo custo esquecer.
Sentiu pânico.
Abominava aquele espaço, que apesar de improvisado, era praticamente um hospital.
Ela precisava ir embora.
A primeira tentativa de movimento forçado fez o corpo formigar. Então, as lembranças da missão começaram a voltar. arrancou os tubos do braço com violência, ignorando a vermelhidão instantânea na pele os possíveis machucados que se formariam depois. Ela não queria nada daquelas coisas perto ou dentro de si.
Novamente, o corpo reclamou. Parecia que um trem havia passado por cima e ainda dado ré. Mais gritantes que as dores nos braços, somente as pontadas na coluna. Ela não conseguia se mover decentemente. Independente de quantas vezes mandasse no corpo, ele não respondia de volta. Ao fazer um esforço além para deixar a cama, o arrependimento veio quase que instantâneo.
- Eu preciso sair daqui... – murmurava para si, sozinha, ainda desnorteada.
Não bastasse o corpo dormente, as mãos começaram a tremer pela ausência de controle sobre os próprios movimentos. O choro ia subindo pela garganta.
- Eu quero sair daqui. – balbuciou outra vez, como se o processo de verbalizar tornasse as ações mais simples.
Se as pernas não a obedeciam, ela os forçaria por conta própria. Respirou e inspirou rápido, contendo os soluços e gemidos de dor. Primeiro, precisou desencostar o tronco da cama levemente inclinada. A fisgada que sentiu na espinha a fez perder todos os sentidos por um instante.
viu tudo ficar branco e precisou parar.
As primeiras lágrimas apareceram.
acreditou que poderia morrer pela dor a qualquer instante. Inclinou-se, urrando pelos espasmos que estavam se espalhando por todas as células musculares. Os cabelos na nuca começavam a ficar úmidos pelo suor. Ela não poderia ceder. Não pararia. Finalmente, sentada, levou as duas palmas para a coxa direita, a fim de empurrar a perna para fora do colchão.
Sucesso.
Todavia, sem muito equilíbrio, uma das mãos esbarrou contra o poste metálico que guardava o saco de soro, levando-o ao chão, causando ruídos que atraíram a atenção de quem estava do lado de fora do quarto.
Duas pessoas surgiram na porta, sem cerimônias.
- Hey, o que pensa que está fazendo? – Savannah disse brava, aproximando-se.
- Fica longe de mim. – esbravejou – Eu quero sair daqui! – esperneou, focada em mover a outra perna para fora.
Savannah riu de deboche. A recém-acordada estava muito mal da cabeça se acreditava que iria para algum lugar naquele estado.
Deplorável.
Era assim que se sentia sem uma resposta decente dos membros do corpo e diante da situação, sentia-se livre para mandar qualquer resquício de sanidade para o espaço. Aos poucos, seu choro foi se tornando audível.
- Eu não sinto minhas pernas. – reclamou em meio aos soluços.
Quando Savannah fez menção de chegar mais perto para coloca-la de volta na cama, um campo de energia a envolveu, impedindo qualquer tentativa de avanço.
- Savannah! – James alarmou, correndo os olhos da parceira de time para a agente mais velha.
Foi naquele momento que notou que os braços de sangravam um pouco por conta das guias arrancadas sem jeito. O cardiograma não exibia mais os sinais vitais. Estavam em uma situação chata. Se algo fugisse da normalidade, eles não saberiam, pois as máquinas estavam desconectadas.
Perigoso.
- , me solta daqui! – Savannah protestou, como quem conversava com uma criança mal-criada. – Vai voltar para essa cama, sim. Por bem ou por mal!
Então, a agente a encarou:
- Quero ver você tent...
Aquela foi a deixa para Savannah.
sentiu uma forte tontura começar, bagunçando seus sentidos, fazendo a visão embaçar.
- Ela está domada agora. Coloque-a de volta, James.
Assustado com o que estava acontecendo, o Copiador cercou pelo outro lado, pronto para puxá-la de volta ao leito.
- Dor. – anunciou, comprimindo a cabeça entre as mãos, numa tentativa de fazer parar – O que estão fazendo comigo... – gemeu, pendendo para frente, sem conseguir abrir os olhos.
Uma vez que Savannah conseguia estabelecer um contato visual, o controle da mente do oponente estava em suas mãos.
Pareciam que milhares de pregos finos perfuravam o cérebro. Com isso, tinha certeza de que conheceu o inferno. Não bastasse o corpo queimando, agora era a cabeça que entrava em combustão. Mal conseguia formular uma ideia sensata. Contudo, no momento que o toque suave de James entrou em contato com sua pele descoberta do braço, um feixe da realidade se fez presente, dando-a a chance de ativar os próprios poderes.
Uma parede se fez existir entre eles e rapidamente, o elemento empurrou o mais novo para trás, arremessando-o com violência contra a parede do quarto, para em seguida, adquirir o formato de uma jaula.
Agora, James, assim como Savannah, estava aprisionado. Essa última muito surpresa.
- Até assim você consegue usar seus poderes? Sinto muito por isso, mas foi você que pediu.
Savannah subiu a frequência das ondas mentais.
foi sentindo as pálpebras se fecharem contra sua vontade. A cabeça começava a pesar uma tonelada e o cenário envolto de si estava se movendo, girando.
Ela havia perdido.
Antes que o corpo de beijasse o chão, Savannah foi ágil o bastante para ampará-lo.
- Porra, porra... – James puxava os cabelos enquanto via Savannah recolhendo o poste e posicionando o saco de soro em seu devido lugar outra vez.
- O que foi? – Savannah ficou impaciente com o choramingo. A agitação daquela noite havia a deixado com os nervos a flor da pele.
“Pode ir dormir, Luke, o que pode acontecer de tão ruim no quarto de uma agente sedada?”, eles disseram quando dispensaram o terceiro membro da equipe para alternar os turnos.
Tudo por causa de um pedido de .
Savannah bufou.
Se não fosse a vida de heroína, seria com certeza os homens que a cercavam que a levariam à perdição.
- Sabe o que acabamos de fazer? – James questionava em um tom baixo, rezando para que os clones voltassem com ajuda o quanto antes – Acabamos de apagar . Uma agente de elite.
- Parabéns? – Savannah debochou.
- Para, porra! Assim como Luke, você e eu formamos uma equipe. e ela formaram uma, um dia. Acha que ele vai ficar puto?
- E você queria que eu fizesse o quê? – com a voz ficando mais fina, temendo em seu íntimo pelas considerações que o garoto acabara de levantar – Você foi enquadrado como um perdedor e ela estava descontrolada.
Muitas histórias circulavam pelos corredores sobre a geração anterior. Vez ou outra, eles presenciavam os mais velhos relatando experiências tão brilhantes e chocantes, que eles, como novatos, mal conseguiam distinguir a mentira do real, de tão extraordinárias.
- O que aconteceu aqui?
Das pessoas a quem James recorreu, o primeiro a chegar foi justamente o professor. O estado de e a cama desfeita explicavam um pouco da batalha que travaram há pouco.
- Então, eu precisei usar meus poderes, ou não sairíamos do lugar. – Savannah terminava de relatar.
- Como não sabíamos quanto tempo mais vocês iam levar para chegar, foi isso. – James defendeu as escolhas da amiga.
Após um breve silêncio no quarto, foi o primeiro a se posicionar:
- Muito bem, Savannah, você fez o certo. – admirou a conhecida dormindo na cama – Poderia ter sido pior se ela tivesse pisado no chão ou saído daqui. é imprudente e poderia ter se metido em mais problemas. Vocês podem ir descansar. Assumiremos daqui.
A dupla concordou com a cabeça, saindo em passos curtos e rápidos.
- Ah! Antes: podem falar se perceberam algo de diferente no comportamento dela?
- Parecia bem abatida. – James tomou a iniciativa – Chorou e reclamou que não sentia as pernas.
O professor e a diretora da CTH trocaram olhares breves.
- Sim, ela estava empurrando as pernas para sair da cama.
- Tudo bem. – o homem suspirou – Bom trabalho. – elogiou uma última vez, antes de conseguirem deixar o cômodo por completo.
Assim que as duas autoridades sobraram com uma desacordada, Irene avisou:
- Iremos medicá-la para que não haja risco de ocorrer uma nova crise. Realizaremos uma nova bateria de exames quando for possível. Os primeiros testes não acusaram nada e como não tivemos a oportunidade de conversar com a própria , não podemos dar um diagnóstico certeiro.
escutou tudo em sua pose séria usual.
- Acha mesmo que ela pode ter perdido o movimento das pernas? – fez a pergunta que todos estavam temendo.
- Não podemos afirmar. A princípio, pode ser o choque inicial pela luta. Ninguém sabe o que houve entre as duas quando vocês se separaram. Pode ser os medicamentos, visto que eles tinham uma função sedativa. Tudo vai depender de como ela vai reagir nas próximas horas. Por ora, você pode ficar tranquilo, . – acalmou-o, dirigindo-se para a porta – Você vem?
- Irei ficar um pouco mais.
Assim, a superior os deixou a sós.
ficou mais um tempo observando a mulher adormecida. Ela estava de volta, mas de um jeito errado. Ele não conseguiu a proteger. Quase a perdeu. E mais uma vez, quase não foi capaz de chegar a tempo.
Soltou o ar que nem havia reparado que prendeu, pesaroso.
estava abatida e pálida.
Quando se viram pela primeira vez na missão, odiou vê-la agindo tão naturalmente, ignorando-o como se fosse bosta. Eles não se viam a mais de meia década e ela nem se abalou. O homem também odiou o amigo, , por trazê-la de volta sem conversarem antes. Ele estava decidido a não pegar leve com ela. Entretanto, as vontades estavam bagunçadas agora, com susto pelo estado de , obrigando-o a repensar se valia a pena sustentar um teatro infundado para parecer mais forte.
Haviam a feito passar por outras dezenas de exames e radiografias. estava cansada, sem vontade nenhuma de conversar com ninguém. Depois que acordou, fizeram várias perguntas, tanto com relação à missão, quanto ao que estava sentindo. O controle sobre as pernas ainda não estava recuperado totalmente, mas lhe garantiram que havia solução.
A reabilitação poderia ser lenta, mas ela voltaria a ser a mesma de antes.
Enquanto divagava, reparava em como a CTH havia mudado, expandido. Não reconhecia quase nenhum dos rostos. A ex-agente supôs que talvez os colegas da mesma geração tivessem sido transferidos para outras Bases, ou simplesmente se aposentado, assim como ela, até dias atrás.
- Bem que eles disseram que estaria aqui, Princesa .
A mulher rolou os olhos.
Só existia uma pessoa em todo esse universo que a chamava assim.
- Quer me parar de chamar por esse apelido idiota, ? Não vivemos em uma monarquia. Não critiquei antes, porque estávamos no meio de uma missão, mas agora nada me impede... Cala a boca!
Eles se lembravam bem do por que do apelido.
Na primeira semana como calouros, e foram postos no mesmo grupo para as primeiras triagens e nivelamento das habilidades. Com um querendo mostrar mais serviço que o outro, um atrito nasceu e disso cresceu uma rivalidade natural e saudável entre a dupla. era um dos poucos que não pegava mais leve com ela por ser mulher e isso era munição suficiente para ela revidar com tudo.
Em uma das brigas, ela foi tão agressiva que acabou arrancando esse apelido dele, mais como uma zombaria pela falta de delicadeza do que o próprio título significava literalmente.
- Você merece, o conquistou com todos os méritos. – brincou, sentando-se no espaço livre ao lado dela na arquibancada.
De lá, era possível eles assistirem os novos calouros treinando, sob a supervisão de .
- Como está se sentindo? Irene me informou da oferta que te fizeram. O que achou?
- Para as duas perguntas a resposta é a mesma: péssima. – respondeu, com os olhos faiscando rapidamente para as muletas apoiadas no outro lado.
- Por quê?
- Já parou para pensar que pode ter sido um erro me oferecer essa missão? Eu não pertenço mais à Corporação. Agora, toda ferrada, eles querem que eu fique? – soltou um riso forçado – Para quê? – exasperou – Minha utilidade terminou.
- Não fale essas coisas de si mesma. – inclinou o tronco para frente, para apoiar os antebraços nas próprias pernas – Você fez história aqui dentro. Não é porque saiu, que nunca fez parte, . E eles querem que fique, pelo menos até melhorar, porque se sentem culpados e querem se redimir um pouco. É por nossa causa que está assim. Não tem nada a ver com utilidade.
Quando desviou o olhar do horizonte para fitar a amiga, percebeu o olhar perdido dela sobre as costas de . se perguntou se ela estava tentando ao menos disfarçar.
- Ele também gostaria que ficasse.
- Ele não quer falar comigo. – rebateu, chorosa.
- Ele te disse isso? – o dono da super velocidade franziu o cenho.
- Não, mas não preciso ser nenhuma gênia para reparar também, . – cruzou os braços sobre o peito – Fiquei três dias presa em uma cama, sem poder fugir para nenhum lugar. Se ele não apareceu nem quando eu não tinha escapatórias para um interrogatório, o que te faz pensar que quer falar comigo de bom agrado?
soltou um riso nasalado enquanto balançava a cabeça, achando muito engraçado. Tinha um amigo idiota por não ter visitado a mulher em nenhum momento em que estava desperta, mas de noite só faltava acampar do lado da cama dela, por zelo.
era um imbecil.
E seu amigo.
não conseguia compreender por que o outro estava se fazendo de indiferente.
- Vejamos, não é bem assim. Você estava drogada, . Não parecia o momento mais apropriado para discutirem coisas importantes.
- Para de defender ele!
- Sabe que não estou!
bufou.
- Vocês são bem adultos para ficarem nesse lenga-lenga, não acha?
Antes que pudesse dar uma resposta desaforada ao amigo, a discussão foi interrompida por Savannah, que se aproximava um pouco acanhada. Era o primeiro contato dela com a ex-agente depois do episódio no quarto. A mais nova temia que estivesse marcada como um alvo fácil depois de ter usado os poderes contra a outra.
- Com... Licença. – precisou forçar a voz para não gaguejar – Já teve o tempo para pensar, . Irene precisa de uma resposta para preparar instalações confortáveis, caso decida ficar. Qual a sua resposta?
quis rir da aprendiz do , pela forma robótica que as palavras escaparam. Ela parecia estar repetindo literalmente o recado que pediram para repassar.
- Deculpa se eu soei rude. – Savannah prontamente ergueu as mãos para espantar um possível mal entendido – Mas é que Irene quer uma resposta para a proposta.
- Aceita, Princesa . Fica! – incentivou – Pode ser um novo recomeço para vocês, uma nova chance para o Time 3.
- Isso nunca vai acontecer. – fechou a cara por um segundo e se voltou em direção à garota – Pode avisá-la que eu fico. – vibrou tão alto que atraiu a atenção dos que estavam treinando, deixando todo mundo sem entender o que acontecia – Mas só até consegui voltar a andar.
A última parte não interessava mais.
Antes que ela pudesse sair da CTH com os próprios pés, a faria mudar de ideia. Ou talvez, fizesse a fazer mudar de ideia. Eram muitas opções para o mesmo inevitável final.
De onde estava, dentro do campo de treinamento, cronometrava os recordes de cada aluno, quando ouviu um berro desmedido muito familiar. Virou-se brevemente, a tempo de encontrar e acompanhados de Savannah. Os dedos apertaram com mais força a prancheta que tinha em mãos.
De fato, ele não havia notado que eles haviam chegado e acompanhavam o treinamento. nem sabia se queria que ficassem o assistindo e medindo.
A carranca foi impossível de segurar quando se deu conta de que a dupla estava muito próxima e cenas como aquelas se tornariam frequentes, caso resolvesse ficar. A proposta feita pela superior não era segredo. Irene havia os consultado pessoalmente para saber o que achavam. e se enfrentavam à beça quando eram mais jovens, mas o primeiro nunca foi de ficar na companhia de uma a mesma pessoa por muito tempo. Como o portador da super velocidade gostava de declarar: ele não era de ninguém em específico, era do mundo.
Enquanto criava as próprias neuras, começava a sentir um incômodo por estar sendo encarada em excesso. Mesmo depois de ter dado a resposta, percebeu que Savannah estava estacada no nível de cima da arquibancada, mirando-a como se fosse um ser de outro planeta.
- Alguma coisa te incomoda?
- Na verdade, tem uma coisa que meus amigos e eu não conseguimos entender até agora sobre você.
- E o que é?
Ainda que estivesse fora da conversa, sentiu um pouco de medo do que poderia vir.
- Você é uma celebridade, . Todo mundo só fala de você nos últimos dias. – nessa parte, se obrigou a arquear as sobrancelhas – Mas se era tão boa assim, o que aconteceu que te fez sair?
encarou a mais nova com um olhar de dor.
foi quem precisou prender a respiração agora.
- Por que escolheu sair? – Savannah insistiu por uma resposta.
- Pelo mesmo motivo que a minha equipe nunca voltará a ser a mesma. – deu uma pausa, mirando as costas largas do ex-companheiro mais à frente – Eu matei meu outro colega de time.
Fim
Nota da autora: Eu sempre quis escrever algo nessa temática, meio X-Men, meio clube das Winx? Hahaha Fica uma amostrinha do que planejei para uma futura long <3 Enquanto nos falta tempo, a gente vai lançando de shortfic em shortfic até ter a história toda! Hahahaha
Para quem quer saber como vai ser o retorno da nossa principal à Base, a continuação se encontra em 08. Enemies [Ficstape: I Met You When I Was 18 - Lauv]. A gente se vê lá?
Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para quem quer saber como vai ser o retorno da nossa principal à Base, a continuação se encontra em 08. Enemies [Ficstape: I Met You When I Was 18 - Lauv]. A gente se vê lá?
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