12. Bilhetes

Última atualização:18/04/2021

Capítulo Único

Terminei de esquentar o leite na chama que estava quase se apagando. Naquele período de inverno a cabana ficava muito úmida, o que dificultava ainda mais a prática de cozinhar algo decente na lareira. Depois de alguns minutos observando a panela, reparei que finalmente estava esquentando; a fumaça saía e dava lugar ao cheiro do leite com canela que eu sempre colocava no meio, por lembrar o jeito que minha mãe fazia. Me servi com calma e sentei a mesa perto da janela. Eu ainda pensava na noite que estive com em meus braços e ela se entregou para mim e, então, o seu pai a casou com o Conde. Aquilo era demais para mim, a mulher que eu amava estava casada com outro e eu não podia fazer nada, nem um dote decente eu pude oferecer. Àquela sensação de impotência me atormentava pelo menos uma vez ao dia e eu me assistia definhar todas as noites na cama em que a tive pela última vez. Senti uma lágrima rolar pelo meu rosto e a limpei rapidamente. Eu não poderia ser fraco a esse ponto. Depois de vários dias eu ainda sentia como se estivesse quebrado. Levantei da cadeira e fui em direção a uma caixinha que ficava em cima de um pequeno armário ao lado da cama. Eu guardava todos os bilhetes trocados com , até mesmo o último deles, em que ela me mandava ficar longe. Olhei para a cama com o lençol claro e macio, ele não era tão bom quando me lembrava que a única mulher que um dia eu amei estava fora de alcance. Eu sabia que as coisas não poderiam ser como antes e que como uma mulher casada ela não poderia ficar próxima de outros homens. Fazia meses que eu não tinha notícias dela e, num impulso errôneo, segui floresta a fora, em direção a Vila; eu tinha que saber como ela estava. A cada passo que eu dava para longe da minha cabana eu me pegava dentro de alguma memória com . Aquela floresta tinha sido o nosso refúgio e o nosso lar. Andei por alguns minutos até chegar a Vila e notei que tudo estava igual ao dia anterior, quando eu tive o mesmo surto e fui direto para a casa que ela estava morando com o então marido. Fiquei atrás de uma carroça que estava parada em frente à tal casa e senti meu coração bater acelerado. O sino da igreja tocou e eu me assustei; eram 9h. Observei o andar de cima como em todos os dias e ela saiu. Estava com os cabelos arrumados e um vestido sedoso e bonito. Sentou-se em uma cadeira de madeira que estava por ali e começou a costurar algo. Não parecia ela ali, não parecia a mesma mulher destemida que se me desafiava e dizia me amar ardentemente, não parecia a mesma mulher que se entregou a mim algumas semanas antes. — O que pensa que está fazendo aqui? — uma voz masculina me despertou do transe. Eu me virei devagar e dei de cara com o pai de . — Eu estava de passagem. — tentei soar o mais natural possível. O homem bem arrumado e já de idade me encarou com um sorrisinho zombeteiro. — Não percebe que já a perdeu? Ela está casada com o conde. — ele disse. — Você me enganou. Eu estava juntando o ouro para lhe dar a quantia pelo dote e você não cumpriu com a sua palavra. — Rosnei em sua direção. — Eu não deixaria a minha se casar com um… simples lenhador. Ela merece coisa melhor , e você sabe disso. — se apoiou na bengala e continuou. — Agora me escute: já está feito. Ela se casou e você tem que ficar fora da vida dela. — Você não entende. Eu a amo com toda a minha vida. Faria qualquer coisa para a ver sorrir. Eu a faria feliz. — senti o meu corpo trêmulo com a simples declaração em em voz alta. — Meu jovem, se tanto a ama, deixa-a ir. Ela está seguindo em frente, você sabe que não pode dar o que ela precisa. — ele disse como se pudesse penetrar a minha alma com suas palavras. — ? — uma voz baixa e suave nos interrompeu e o homem à minha frente arregalou os olhos. — , o que está fazendo aqui fora? Não pode sair sem permissão. — ele bravejou para a mulher ao meu lado. Eu não pude deixar de notar um sorriso triste desenhar o seu rosto e então percorri o meu olhar pelo seu corpo e senti como se estivesse sendo apunhalado no coração. A mulher parecia ainda mais diferente ali parada ao meu lado e um volume que eu sabia bem o que significava estava presente ali; sua barriga estava crescida e ela apoiava as mãos em sinal de proteção. Senti meus olhos queimarem com as lágrimas que se formavam e a cena que se passava se tornou um completo borrão. Um tiro à queima roupa não me afetaria tanto e então uma outra cicatriz foi feita em minha pele por tudo que eu não fiz. Ao passo que o seu pai brigava com ela e a mesma tentava falar comigo. Eu sai em disparado sem rumo e rezava que os meus pés me levassem para bem longe dali.




Fim!



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