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Prólogo

A verdade é que uma hora a gente é obrigado a entender e se render diante dos fatos, admitindo que quando chegar a hora devemos parar de insistir.

Mas ninguém nos avisa que parar de insistir em alguém - principalmente na pessoa que amamos - não é apenas olhar para ela e dizer que não quer ver ela nunca mais, não é bloquear e fingir que não existe, não é isso que dói. O que dói é admitir pra si, admitir que vocês passaram por coisas demais juntos; que superaram coisas demais juntos; que foram felizes demais juntos e que se amaram demais, juntos, para deixar que mágoas e dores os impeçam de continuarem juntos.

Quando a gente entende tudo isso fica mais fácil; fica mais fácil dar uma nova chance para seu coração; fica mais fácil entender que o coração dessa pessoa precisa da oportunidade de amar pessoas novas; fica mais fácil de ver o ponto exato onde vocês erraram, o ponto exato onde essa pessoa continua sendo o seu ponto fraco - e você o dela. Fica mais fácil de aceitar que, se esse for o caso, depois que dói, que ensina e você aprende, você absorve uma força para saber que talvez um dia vocês podem dar certo de verdade, assim como podem dar certo de verdade com outras pessoas.


Capítulo 1

Florença - Itália.
Dias atuais




Florença… de todas as cidades românticas na Toscana e do mundo, é a mais famosa. Também é a minha cidade preferida da Itália ou de qualquer outro lugar.
Desde a Idade Média, Florença ostenta um panorama romântico que inspira amor em todos os pontos que você olhe. E além de tudo isso a cidade tem algo mágico, descongela os corações que estão fadados ao fracasso, e no lugar do gelo traz uma esperança renovada no amor.
Essa coisa mágica também aconteceu comigo, aconteceu quando eu abaixei a guarda e comecei a conversar com outra pessoa que estava tão cansada do amor quanto eu.
, para mim, não tentou fingir ser quem não era para me agradar, aliás, eu duvido que ela fosse fingir ser algo para agradar alguém. E na realidade nós nos divertimos muito um com o outro enquanto nos conhecíamos ainda mais, sempre deixando claro que não estamos criando expectativas um com o outro.
me ensinou inúmeras coisas, mas a maior delas foi que a melhor tática para se apaixonar é justamente não criar expectativas…

Hoje completa seis meses.
Seis meses.
Seis meses sem conversar com a minha . Sinceramente, não achei que conseguiria passar um único dia sem falar com ela, muito menos seis meses, porra. Eu ignorei todas as ligações e mensagens dela até que enfim ela parou de tentar... parece que foram mil anos, e cada dia, cada hora é mais dolorosa do que a outra.
Quando ela entrou no avião naquela noite, eu juro que ainda esperei ouvir seus passos voltando e sua voz falando meu nome. Não aconteceu, claro que não aconteceu, e não deveria acontecer. Ela foi seguir o sonho dela, e eu fiquei.
Eu me lembro que no primeiro dia terminei de beber a garrafa de vodka que estava na geladeira e destruí a garrafa na parede. Na manhã seguinte eu queria ter qualquer outro lugar do mundo para ir, mas não existia.
Mas nada se comparou com os meses seguintes, quando insistiu que eu tirasse uma folga.
O terceiro mês foi quando eu comecei a enlouquecer. Pequenas lembranças de em momentos aleatórios me tiravam o ar e quebravam meu coração em pequenos pedaços, mas isso ainda não foi o pior.
O quarto mês foi ainda pior, se existir algo pior do que o pior cenário, com certeza era eu. Os sonhos que eu tinha causavam uma dor pior do que pedaços de madeira embaixo da minha unha.

- … - as imagens começavam a mudar e a face raivosa de chamava minha atenção. - Eu vou te abandonar da mesma forma que a sua mãe.
- Tess…
- Vou te abandonar da mesma forma que sua mãe...

Quando eu acordava, demorava mais um pouco do que o normal para colocar os pensamentos em ordem e perceber que era só um pesadelo, que todas as palavras de ódio não existiram. Mas quando os sonhos se tornavam mais nocivos, quando o rosto da minha mãe se tornava o rosto de , quando as palavras da minha mãe viravam as palavras de … era nesse momento em que tudo piorava…
O quinto mês continuou da mesma forma solitária que os outros dois. Eu ignorava todas as tentativas de em manter contato - e no fundo não entendia o motivo -. Comecei a ignorar e impedir que aparecesse de qualquer forma. Eu pensei que fosse ficar feliz em ficar sozinho, mas… comecei a sentir saudade da minha , uma saudade que me sufocava, que me matava aos poucos. Em alguns momentos eu esquecia que ela não estava aqui e me pegava olhando para o lado para falar com ela, falando sozinho, sorrindo de alguma piada silenciosa nossa…
No quinto mês eu comecei a esperar que ela voltasse ou que fosse só um sonho. Eu perdi as contas de quantas vezes quis telefonar para ela, de quantas vezes fiquei vendo nossas fotos, de quantas vezes pensei em pegar o primeiro avião e ir atrás dela. O que era um erro. Não posso atrapalhar a vida dela, não posso ir atrás. Agora eu estava mais fudido do que o normal, pois tinha certeza que nosso relacionamento havia terminado, mas eu deveria saber que não ia durar. Não tinha jeito. Era impossível nós dois ficarmos juntos, não quando ela desempenhava um trabalho solidário do outro lado do mundo.
No sexto mês eu surtei todos os dias, bebia meia garrafa de uísque por dia e dormia no meio desse caos que eu mesmo implantei. Na realidade, eu não entendo em qual ponto eu me permitir virar essa pessoa. No sexto mês eu sentia que a qualquer momento alguém ia invadir minha casa e me encher de porrada, principalmente se descobrisse que eu menti sobre viajar.
Naquele dia, quando eu acordei, havia uma luz vermelha piscando no telefone, indicando que mais uma vez eu havia perdido a ligação dela. Porém dessa vez não foi intencional, e eu queria tanto atender, queria tanto ouvir a voz dela, o sotaque latino que me enlouquecia, tirar inúmeras fotos dela distraída, fazer inúmeros arranjos de flores para ela. Será que eu iria ouvir a voz dela de novo?
Então sucumbi à saudade e liguei, o celular chamou apenas duas vezes antes de eu ouvir a voz suave dela chamando meu nome.

- ? Por favor fale comigo, já faz meses…

Foi mais doloroso do que eu estava esperando. Foi quando o aperto surgiu no meu peito, em um lembrete constante do que eu havia me tornado, do que eu havia feito, e provavelmente do que tinha perdido por ser tão infantil. O sexto mês foi quando eu completei todos os passos de como virar uma pessoa tóxica e idiota, foi quando eu joguei o telefone na parede e o destruí sem dó. Foi no sexto mês que eu desejei desesperadamente que ela voltasse e me rasgasse de toda merda que minha vida voltou a ser depois que ela se foi. O sexto mês foi de longe mais doloroso, mais doentio, mais lamentável e mais tóxico. Eu fui abandonado tantas vezes que o trauma voltava cada vez mais forte. Eu simplesmente
não sentia fome. Eu não sentia nada nem se eu quisesse, apenas sentia saudade de tudo sobre aquela garota. Foi no sexto mês que eu chorei a primeira vez, chorei como um louco, chorei como uma cachoeira e me senti aliviado. Naquela noite, dançou até meus sonhos e não me deixou em paz, disse que me amava, me abraçou, me beijou… mas tudo ficava doloroso quando eu acordava e caía em mim que era apenas um sonho. O sexto mês trouxe o aperto em meu peito ainda maior, e eu consegui enfim ver as coisas com clareza.
Por que estou desse jeito? Por que estou tentando acabar com a minha vida?
Ah, por que eu sou um caso perdido!


- Você esperou que eu não fosse descobrir a merda em que você se enfiou? - entrou em meu apartamento enquanto eu tomava meu acalentador copo de Whisky sentado no sofá. Junto com ele, algumas lembranças voltaram à tona da mesma forma que voltavam sempre que eu fraquejo.
Infelizmente tudo aquilo não voltaria nunca mais.
- Não sabe bater mais, não? - Ele balançou a cabeça e se jogou no sofá ao meu lado.
- Já que você não retorna as minhas ligações e agora deu para mentir, resolvi que iria curtir a fossa com você.
- Então sugiro que você vá embora! Prefiro me resumir à minha própria insignificância sozinho.

Considerei o olhar preocupado de em meu rosto e concluí que meu semblante deveria estar pior do que eu imaginei; e tive a certeza quando levantei e me olhei no espelho. O meu olhar estava cansado, demonstrando o sofrimento incomum que eu sentia, quase inumano, da forma poética que eu era acostumado a ler. Suspirei tomando mais um gole do líquido âmbar que havia em seu copo e inclinei a cabeça para o lado, olhando fixamente a lua nova que aparecia preguiçosa no céu.

- … por todos esses meses eu tentei te dar o que você não podia dar a si mesmo, e sinto que falhei. - Minhas mãos apertaram o copo ainda mais. percebeu os nós dos meus dedos brancos e bufou.
- E o que seria isso?
- Fé, , fé! Eu não entendo a dificuldade que você tem de entender que é melhor do que pensa que é. Eu não entendo o motivo de você se punir tanto… você não precisa sempre se punir. Eu não te acho a pior pessoa do mundo, um coração partido também não deveria te transformar...

Você só entende a dor de um coração partido quando sofre. O pior no meio disso tudo é que quando eu a conheci já estava quebrado, mas eu estava conseguindo juntar todos os pedacinhos e colar. Mas apareceu, me fez tão bem, e entre nossas conversas eu olhava o brilho dos olhos dela, a curva que a boca dela faz quando fica curiosa, o jeito que sorria com todas as partes do rosto. No meio de nossas conversas, eu soltava de brincadeira “não me ilude”, ou um “não me magoa”, mas guardava em mim todo o fundo de verdade e de medo que eu sentia, e ria e falava que jamais faria isso. Mas aconteceu, e mesmo sofrendo eu sei que a culpa não foi dela, ou minha, ou nossa. É isso que mais me magoa.
O baque da almofada chamou minha atenção de volta a realidade, ainda aguardava por uma reposta, sem eu ter prestado muita atenção na pergunta.

- Você me ouviu? - Balancei a cabeça negando. – Porra, ! Então vá atrás dela...
- Não posso… - Fechei os olhos reprimindo o ardor das lágrimas e engoli em seco. - Eu não posso, não posso aparecer depois de tanto tempo e bagunçar a vida de , não posso fazer com que ela mude todo o caminho que sempre sonhou... Nossas vidas não se completam, eu sempre soube disso e vou viver para sempre lutando contra a vontade de largar tudo e ir atrás do meu grande amor. Vou me desgastar a vida toda até ficar os ossos e fragmentos, mas me recuso a fazer largar um sonho por um amor, essa não seria a minha escolha. - Fiz uma pausa para tomar o restante do líquido em meu corpo e continuei evitando os olhos de meu amigo. - E entendo se você achar que eu virei uma pessoa tóxica demais para...
- … - a voz bruta de chamou minha atenção.

Ele era sempre assim quando precisava que eu prestasse atenção em suas palavras, quando precisava que eu parasse de me resumir a pó, quando precisava me tirar da merda que eu sempre me colocava.

- Eu disse a você antes, mas acho que vou precisar repetir: não vou deixá-lo, principalmente quando você faz questão de se martirizar em um assunto que não teve culpa e se vitimizar em seu apartamento com seus livros de romance e um corpo de whisky… - Soltei uma risada nasalada ao entender a situação deplorável em que estava. - Mas presta atenção, seu sortudo miserável: poucas pessoas têm sorte de achar um amor recíproco, você achou o seu…
- E do que adiantou? - Bati o copo na mesa e ouvi o barulho do vidro trincando. - Não adiantou de nada ser amado, para depois ter meu coração partido e ser deixado… - Desviei os olhos para o retrato de no canto da sala e respirei fundo, tentando me acalmar.
- Agora sim você está falando como um romancista do século passado… - Soltei uma gargalhada verdadeira e voltei a me sentar abandonando a bebida.
- Você tem algo em mente? - Perguntei torcendo que dessa vez a resposta fosse diferente.
- Talvez, mas antes você precisa tomar um banho...


Dois anos antes.
Florença - Itália.

O céu estava bonito naquele dia, o vento estava forte e batia em meu rosto, trazendo o cheiro das flores ao meu redor. A primavera estava bastante ensolarada desta vez, com pouca possibilidade de chuva e uma temperatura agradável, a paisagem cheia de cores com as variedades incríveis de flores nos jardins. A grande vantagem da primavera, em minha opinião, era o fato dos dias serem mais longos e o pôr do sol ser a noite.
- Pensando em mim, meu bem? - A voz de chamou minha atenção de volta a realidade. - Senti sua falta!
- E quem mais seria a dona de todos os meus pensamentos?
O dia ficou ainda mais brilhante com o sorriso dela, e eu não pude deixar de sorrir ainda mais. Aproveitei a nossa aproximação e lhe coloquei a coroa de rosas que passei a tarde trabalhando e minha recompensa foi ainda melhor quando encontrei os olhos emocionados de minha amada e seu sorriso alegre em resposta.
Eu era um romântico à moda antiga, mesmo que meu histórico de merda fosse grande, mas Florença e me inspiravam de todas as formas a querer ser o príncipe que ela merecia, da mesma forma que inspirou a história de meu tataravô. Ele nasceu aqui na cidade e era como eu, fã de uma boa leitura e florista, mas tudo mudou quando ele conheceu a minha tataravó e decidiu fazer sua própria história. Eles resolveram se casar um ano depois e foi aí que a vida do meu tataravô mudou, ele começou a vender flores na praça e foi nessa Praça que se casaram meses depois. Ele ganhou um bom dinheiro com as flores e depois de constituir a casa, construiu também uma linda floricultura, que até hoje é passada de geração a geração.
Minha tataravó morreu cinquenta e cinco anos depois, bem velhinha e feliz. Quando meu tataravô enfim descansou, todo mundo disse que foi de saudades do seu grande amor. Eu não acreditava nessa história até conhecer o brilho do meu sol particular: .

- Você anda muito pensativo. Está pensando em escrever um novo romance? - Balancei a cabeça e comecei a enrolar os cachos macios dela em meus dedos. Esse era um dos momentos preferidos do meu dia: estar deitado em meu jardim com .
- Estava pensando em meu tataravô… acha que a história dele daria um bom romance? - sorriu e me envolveu em seus braços, me dando um selinho demorado.
- Acho que nossa história daria um melhor, não acha? - Beijei seus lábios mais uma vez e sorri assentindo. - Quero ser a primeira pessoa a ler nosso romance pelos seus olhos…


Capítulo 2

Dias atuais.
Florença - Itália.



O prédio da floricultura ficava no centro de Florença, e hoje ocupa um lugar de destaque bem abrangente na região. Florença era uma das cidades com um ritmo mais pesado e difícil para o trabalho com flores. A rotina era cansativa, mas isso me dava folga para não pensar em nada que não fosse o trabalho.
O cultivo do Giglio Rosso, como é chamado na Itália, é difícil e complexo. A flor simboliza uma tradição, o poder econômico, o brasão cultural e artístico da cidade, é símbolo de poder e soberania, assim como de pureza de corpo e alma. O cultivo de Lírio ou Íris, é maçante e frequente. Ela nasce com muitas variações de cores, e eu optei por trabalhar com as mais incomuns: violeta claro, violeta escuro e íris azul com veias brancas.
Fazia exatos seis meses que eu não aparecia no Jardim para colher as flores e poder levar para a floricultura, e eu me culpava fielmente por ter deixado sozinho no meio de todo o caos que a cidade estava; e isso foi algo que dificultou muito a vida dos empregados e parceiros da empresa. E eu confesso que estava com saudade de poder estar de volta à minha vida.

- Eu não acredito que finalmente você saiu de casa… - Não me surpreendi ao encontrar no meio do jardim me encarando com os mesmos olhos analíticos de sempre. - Aceita um café? - Os olhos de estavam vermelhos, o que denunciava que ele também não havia dormido muito bem.
- Eu não acredito que demorei tanto para vir aqui… os negócios estão uma merda...
- Mas pensa pelo lado bom, eu posso dizer que a culpa é sua. - Não consegui reprimir uma risada calorosa em resposta.
- Algum motivo específico para sua falta de sono durante a noite? - balançou os ombros e continuou a bebericar seu café, sem dar muita importância para me ajudar com as flores.
- Você ainda está se auto depreciando ou podemos sair como pessoas normais hoje? - O problema dessa pergunta era que eu não sabia até que ponto iria conseguir responder sem mentir ou me arrepender, mas eu precisava seguir a minha vida.
- Podemos sair como pessoas normais, .
-
O olhar que me lançou foi o bastante para eu me arrepender de ter aceitado; eu conhecia bem aquele olhar.
Na parte leste de Florença existe uma área completamente restrita a pessoas de porte fraco, era ali que se localizava a boate Le Fruit Interdit. O lugar era realmente um pecado de todas as formas possível. Depois que eu conheci , parei de ir por não nutrir mais interesse algum, mas os poucos que conseguem experimentar do fruto proibido sabem e entendem que o inferno não é tão ruim.
- Estou com saudades de Cams... - falou entendendo o meu olhar inexpressivo. - Uma das melhores garotas que transei na vida.
- É e eu garanto que ela sabe que você fica de quatro por ela. - riu e balançou a cabeça negando.
- Faz quanto tempo que não vamos lá? Quer dizer, que você não vai lá? Três anos? – Assenti. - Você topa ir hoje? - Uma pequena parte de meu interior ficou enojada com a possibilidade de ter outra mulher que não fosse , mas eu fiz questão de ignorar.
Seis meses... já faz seis meses…
- Podemos ir por volta das dez da noite. É o melhor horário...

Pela primeira vez em muito tempo senti um sorriso verdadeiro aparecer em meus lábios. Virei meu rosto para e ele exibia um sorriso presunçoso no rosto, se posicionando de maneira satisfeita.
Era real então, eu finalmente iria retornar ao Le Fruit Interdit, como o velho cliente VIP da lista. Eu não podia esperar.

Já passava das oito e quarenta da noite quando eu resolvi parar de ignorar as ligações de e me levantei da cama para me arrumar depressa. O grande ponto fraco de sair a noite era o mau humor para ficar apresentável em público, e isso estava pior a cada dia. Isso era o que também mais me deixava puto em meu trabalho. Um florista renomado sempre deveria ficar bem apresentado, o que era bastante desnecessário; o que deveria estar apresentável eram as minhas flores, e nisso eu era perfeito. Era um saco viver em uma sociedade que queria comandar cada passo que você dava, principalmente depois que eu passei meses me comportando como um fudido sem alma.
Fazia um considerável tempo que eu não dava as caras na boate, mas não posso negar que meu momento nela era algo que eu me recordava com prazer por um único nome: . Eu conheci a stripper desde o primeiro dia que entrei na boate e só parei de me relacionar com ela quando conheci . Ao contrário do que muitos conhecidos acham, meu passado era conturbado, problemático. A época que eu passei com foi leve, feliz e me fez amadurecer bastante. Porém, eu não me arrependo de nada.
Por um breve momento me senti perto de desistir e ficar em casa, principalmente quando encarei a foto dela no canto da sala, mas estava a quilômetros de distância, do outro lado do mundo, seguindo a vida que ela quis, que eu apoiei. E eu precisava fazer o mesmo. Mas as lembranças dela sempre dançavam ao meu encontro e me levavam para lugares que eu gostava de visitar.

Perto das dez horas da noite foi quando eu ouvi esmurrar a porta antes de entrar como se estivesse em casa.
Maldita hora que eu dei uma chave a ele.
Minha fisionomia não era das melhores, mas pelo menos eu estava aceitável usando uma calça jeans e camisa preta que deixavam o castanho de meus olhos ainda mais opacos.
por outro lado estava tão alegre que não conseguia parar quieto, o sorriso não parava de aparecer em seu rosto, acompanhado de piadinhas sobre nosso passado. Ele era sempre assim quando tinha certeza que a noite iria lhe render bons motivos para comemorar.
Eu não sabia que sentia tanta saudade da época em que eu era um bicho noturno até estar parado do lado de fora da boate. Antes que pudesse entrar, endireitei minha postura para andar com mais firmeza. Eu conhecia bem todas as pessoas daquela área, e não era lá grandes coisas.

- Mais cheia do que eu me lembrava… - Murmurei baixo e me dirigi com até o bar.
- As vezes sinto falta da época que você não bebida tanto...

Dei uma espiada pelo canto do olho e o ignorei, bebendo um gole do copo recém adquirido.
O ar do salão exalava putaria, as cores banhavam cada parte do local, as mesas eram estendidas até se perderem de vista e davam lugar para pessoas de todos os jeitos, gêneros e etnias. sorriu satisfeito ao encarar várias garotas que lhe lançavam olhares de desejo e ergueu ainda mais o queixo, caminhando firmemente para uma mesa. Sua atenção era totalmente de Cams, só ele não percebia o que estava escrito em seu rosto.
Era um pouco estranho estar ali depois de tanto tempo, como se eu não me encaixasse depois de tantos anos.

- O bom filho à casa retorna… - Eu conhecia bem aquela voz e não precisei me virar para encontrar o sorriso caloroso de para Cams. - Resolveram nos deliciar com a presença de vocês? Que honra! Você está péssimo, !

soltou uma risadinha baixa e envolveu a cintura dela em um aperto forte. O caso deles era antigo e estranhamente forte, mas ver a troca de olhares de ambos fez meu estômago embrulhar. Eu não queria estar perto de demonstrações públicas de afeto, então apenas balancei a cabeça e segui andando para me sentar.

- Conheço bem esse olhar… - Cams estalou a língua no céu da boca e continuou. - Coração partido, acertei?
- É tão óbvio assim?
- A casa está cheia hoje. - aumentou o tom de voz disposto a mudar o assunto. - Algo especial?

A música alta com uma batida viciante não me deixou ouvir a resposta - na realidade eu fiz questão de me desligar do assunto. O grande destaque estava no palco e coberto com uma cortina vermelha. Aquele palco foi cenário das melhores danças sensuais que eu um dia vá ver em outro lugar…
Meu coração bateu um pouco mais forte ao observar os cabelos negros e cacheados um pouco mais a frente. Por um momento, meu corpo inteiro se arrepiou com a ideia de estar aqui e nem mesmo o local pode impedir as lembranças dolorosas de me puxarem para longe...


Estávamos sentados na grama do meu jardim. Já passava das cinco e alguma coisa da tarde, mas, para ser sincero, o horário nunca fazia diferença, não quando ela estava ao meu lado. Os olhos de estavam vidrados no céu, e os meus vidrados no jeito em que ela admirava o pôr do sol, e dizia tão sincera e cada vez mais apaixonante o quanto amava os tons pastéis do céu nessa época do ano.
se aconchegou do meu lado e cada vez que isso acontecia meu coração esquecia de como bater. Nossos corpos se esbarrando traziam uma carga elétrica absurda e eu gostava disso. De início, minhas mãos iam para seu cabelo em uma caricia já conhecida, mas no segundo seguinte eu mudei a direção de minha mão para o seu pescoço, puxando-a para perto e fiz o que meu peito ansiou por todos os dias até agora: selei nossos lábios.
Eu me lembro da época em que eu observava o girassol girando para encontrar a luz do céu, e sempre me perguntei qual era a sensação. Essa era a sensação, beijar era como sentir que tinha o Sol só para mim, e agora eu entendia toda a paixão que ela tem pelo céu, toda paixão que o girassol tem pelo Sol, entendo porque é a mesma coisa que sinto por ela.
Enquanto ainda tinha os braços ao redor de , encontrei o sorriso dela ainda maior e tive a certeza que ela estava feliz por estar comigo.


- Colecionando memórias, ?

Levantei meus olhos e encontrei os olhos azuis de , ela não precisou de um convite para se sentar ao meu lado; e eu não acredito que precise. e eu nos divertimos muito nos quartos dessas boates.
Balancei minha cabeça e empurrei meu copo em sua direção, ela negou com a cabeça e voltou a sorrir.

- Estou surpresa de te reencontrar, já faz tantos anos… O que aconteceu?
- Não acho que você queira passar a noite toda escutando um conhecido se lamuriar, vejo que nem meus amigos quiseram… - A risada de me trouxe ainda mais de volta a realidade.
- Foi justamente que me chamou… acho que qualquer outra da boate poderia ter ouvido os gritos dele com Cams pelo corredor. - Era bem a cara de um pouco de vergonha alheia para animar. - E então?
- Eu conheci uma pessoa, e eu achei… - Antes de poder continuar virei o restante do líquido em meu copo e senti meu rosto queimar. – Sabe, Alex, por um breve momento eu achei sinceramente que tinha chegado a hora de ser feliz, de ser feliz com ela. Você me conhece o suficiente para saber como eu sou, mas finalmente eu acreditei... - abriu um enorme sorriso em compaixão, pegou o outro copo livre e encheu os dois, virando junto comigo.
- Você ainda não entendeu as regras do amor, ? Você ainda não entendeu que se tratando disso não existe hora, motivo ou tempo?

Conhaques, whiskys e tequila eram os pedidos mais frequentes da minha mesa, era uma agradável companhia e me conhecia a tempo suficiente para me deixar em casa. Eu tomei um susto ao observar o relógio e perceber que quase uma hora e meia - de bebidas e conversas jogadas fora - se passou; inclusive no meio das conversas não posso negar que em determinados momentos uma tensão sexual conhecida pairava pelo ar. era uma mulher maravilhosa e bastante expressiva, mas nada que saísse da nossa mesmice. A essa altura eu estava sentindo o sangue queimar dentro de minhas veias, seja por conta da quantidade de álcool ingerida ou dos olhares a minha frente.
levantou e estendeu as mãos com um sorriso malicioso nos lábios.

- Aceita uma cortesia de uma amiga? - A voz dela era sensual e ficava ainda mais erguendo a sobrancelha para analisar cada traço de meu rosto. - Não vou negar e dizer que não estava dividido, e sei que se eu estivesse sóbrio a resposta seria outra.
- Como nos velhos tempos, bella signorina! - Ela sorriu ainda mais e mordeu o lábio inferior me puxando da cadeira. Os azuis dela brilhavam ainda mais nas luzes de neons.

O escuro do quarto estava sendo dissipado por uma lâmpada de cor azul que deixava o local com ainda mais cheiro de erotismo e sexo. À medida que ia entrando, fui acompanhando com o olhar e percebendo com mais nitidez que, ao contrário do que esperei, o show aqui dentro ia ser ainda maior. No centro do quarto existia uma barra enorme dourada de pole dance. sorriu maliciosa e me empurrou de costas para a cama em frente a barra, erguendo os olhos e soltando um beijo para a minha direção.

- Sabe como a gente cura coração partido? - Balancei a cabeça e fiquei quieto, ignorando a dor leve que apareceu em meu peito. Não. Era. A. Hora. - Com um puta sexo gostoso!

Uma batida mais forte tomou conta do quarto e eu assobiei duas vezes em sinal de aprovação, olhando com ainda mais precisão quando o corpo dela se mexia. Eu não ousava tirar os olhos do corpo dela, nem dos passos ritmados com a música, e queria de todas as formas que a minha atenção fosse unicamente dela, não queria que se sentisse usada.
As mãos dela se direcionaram aos botões de seu vestido, começando uma tortura de brincadeira no “abre e não abre” e eu pude ver o quanto ela estava se divertindo, e me divertindo. Por algumas vezes seus dentes mordiam os lábios carnudos, mostrando com uma veracidade o quanto ela poderia ser hábil com a boca. Esse pensamento me endureceu e eu queria mais do que tudo que ela retirasse a porra do vestido.
Assim que desatou o botão, seu corpo impecável ficou a mostra e a música foi acelerando aos poucos, enquanto ela acompanhava a batida com os pés e balançava os quadris em um ritmo envolvente. Ela deu três passos para trás e virou o corpo de lado, observou mais atentamente o mastro em sua frente e eu senti que prendi a respiração pela ansiedade evidente no próximo passo dela, principalmente ao perceber que ela brincava com a pele morena de sua coxa e não consegui controlar a fisgada que começou em minha virilha. Eu estava excitado e desesperado para descobrir até onde iria com as provocações, e a conhecendo bem eu adoraria o final...
Apertei mais meu copo nas mãos e virei o líquido de uma só vez. A bebida deixou meus pensamentos embaralhados por mero segundos e foi o suficiente para me desfocar da mulher a minha frente, mas só por alguns segundos. Quando voltei a prestar atenção, me provocava acariciando seu corpo e se aproximando da barra de pole dance. Ela jogou a cabeça para trás, encostou sua mão na barra e deu um giro completo ao redor do ferro deixando seu corpo suspenso pelo ar. A junção da lingerie preta e roxa ficava excitante no corpo monumental que ela possuía, e eu queria fodê-la naquele instante. Fazia tanto tempo que eu não a via que acabei esquecendo de como ela era linda e encantadora, de era tudo que eu precisava no momento.
Ela deu mais um giro e deitou no chão, abrindo totalmente as pernas e se encaixando entre a barra. virou o rosto em minha direção e soltou um sorriso maldoso ao se arrastar para encostar e esfregar vagina na barra de ferro. A boca dela se abriu em perfeita excitação e soltou um gemido por cima das batidas da música.

- Puta que pariu, !

Mesmo com toda a minha atenção tomada pela dança extremamente sensual dela, eu me praguejava internamente por não conseguir parar de pensar em , no corpo dela, na forma que ela dançava, que ela sorria… isso era um inferno e eu me sentia culpado. E ao que parecia, percebeu, pois no minuto seguinte se levantou com um sorriso libidinoso e lambeu o ferro com os olhos fechados, mordendo ainda mais os lábios logo depois. Foi em uma dessas que ela deu dois giros de uma vez, se arrastando pelo ar e desceu o corpo pela barra, arrastando a vagina, no intuito de deixar clara a mensagem subliminar por trás daquela dança erótica.
Eu queria foder com ela a noite toda. E não tinha dúvidas que considerava o bastão de ferro um enorme pênis que no momento ela usa para brincar e se divertir. Eu contemplava também a bunda dela enquanto descia mais e mais, me fazendo imaginar a quantidade de tapas que eu queria destruir por toda a pele.
Com mais algumas reboladas e rodopios no bastão, abandonou seu brinquedo para se focar em outro ainda mais divertido.
Eu.
Endireitei minha postura na cadeira e sorri malicioso ao perceber o corpo dela se aproximando lentamente, e não precisei reprimir o olhar para seu corpo, pois ela me olhava exibindo uma sensualidade selvagem. se aproximou lentamente e parou a minha frente, os peitos redondos e arrebitados saltando em minha cara, a curvatura da vagina realçada pelas coxas grossas, tudo extremamente convidativo. Eu tomei o sorriso dela como um aval para me aproximar e levar minhas mãos à cintura dela e a trazer mais para perto de meu corpo. Aqui na boate não era típico beijar os lábios das strippers, mas, porra, como eu queria beijar os seus. aproximou nossos rostos e levou os lábios ainda mais perto de minha boca.

- Toque em mim, . - Disse com a voz arrastada. - Hoje a noite você é meu!

Ela foi sentando em meu colo e no momento em que eu senti o atrito entre sua vagina e o meu pau joguei a cabeça para trás com o prazer momentâneo. começou a se movimentar sobre meu pau duro e mordeu meu lábio, puxando-o ainda mais para si. Ela aproximou os lábios do meu pescoço e mordiscou a pele sensível, passando a língua pelo local mordido. Cada vez que ela mexia o quadril, minha excitação aumentava e ela sorria ainda mais aproximando o rosto do meu. Eu encarava os lábios vermelhos, sorrindo de desejo e os olhos penetrantes… Não, os olhos de não eram cinzas…
Minha cabeça ficou nublada, minha visão embaçou e a pontada de dor foi angustiante.

- Se concentre no movimento de meu corpo, … - Os lábios de sussurram próximos de meu ouvido, me trazendo de volta.
- Eu sinto muito estar tão fudido…

Surpreendentemente os lábios de se chocaram com os meus e a língua dela adentrou em minha boca começando uma briga intensa de poder. O fogo que nascia dentro do meu corpo era inexplicável.
Direcionei meus beijos pelo pescoço e busto dela, chupando toda a pele sensível e apertando cada vez mais sua cintura, como se a cada segundo eu pudesse ficar ainda mais próximo a ela. Meus dedos apertaram em torno dos seios dela e um suspiro sôfrego saiu de seus lábios, mas voltou ao comando direcionando as unhas para a minha nuca e arranhando até minha coluna, os arranhões provocados cessaram quando seus dedos chegaram ao cós da minha calça e um arrepio desceu a minha espinha.
Eu não aguentava mais esperar.

- Vê se não acaba com a minha graça rápido demais, acho que você tá há muito tempo… - Silenciei com um selinho rápido e sorri um pouco mais maldoso.
- O único som que eu quero que saia da sua boca são os gemidos altos que você vai dar chamando meu nome e pedindo mais…

A risada de encheu o local de vida e me sem dar chance de pensar os dedos dela estavam em meu cinto, desafivelando-o e jogando-o do outro lado do quarto. Ela desabotoou a calça e a abaixou junto com a cueca, dando um sorriso safado ao encontrar meu pau duro em sua frente.

- Do jeito que eu gosto...

A primeira sugada em meu pau foi o bastante para me deixar sem ar, depois ela soprou a glande provocando os calafrios em meu corpo. me abocanhou e sugou a cabeça ainda mais forte, segurando a sucção por mais tempo que o normal. Eu estava entregue, totalmente entregue. Senti meus olhos revirando e ficando totalmente fora de foco quando ela mordeu delicadamente a região.

- Porra… Mais rápido, linda. - Eu estava reprimindo meu orgasmo com tanta força que sentia meu pau latejar. Puxei e choquei meu corpo contra o seu, caindo em cima da cama logo em seguida. - Paciência não é algo que eu tenho!

Beijei seus lábios uma última vez e desci os beijos por seu corpo, passando a ponta da língua sobre a pele dela chegando até sua virilha. Passei a ponta da língua na região molhada e macia e o gemido baixo dela me instigou a continuar. Fiz o mesmo que ela e assoprei a pele sensível, sugando com força e mexendo a língua por toda a região, me concentrando em uma especificamente: o clitóris.
Mas ela não é a .

Balancei a cabeça em uma tentativa frustrada de ignorar aquela voz e me concentrei em sua entrada, começando a penetrá-la cada vez mais fundo com a minha língua. Meu pau latejava com a ideia de estar tão quente, tão molhada e tão aberta para mim. Sem esperar mais tempo do que o necessário, peguei a camisinha no criado mudo, a coloquei e fiquei por cima dela, segurando meu pau e pressionando a cabeça com força até estar totalmente dentro. O quarto foi preenchido com os gemidos altos e palavras incoerentes que saíam de meus lábios e dos dela. elevou o quadril para aumentar ainda mais o contato e continuei a estocar com força e precisão, cada vez mais fundo, sentindo as paredes dela me apertarem ainda mais com a velocidade.

- Com mais força, , do jeito que você sabe que eu gosto.
- Quero você por cima rebolando no meu pau.

O pedido não precisou ser repetido, apertou mais a perna ao meu redor e sentou em mim, começando a cavalgar com força, fazendo os peitos balançarem em minha cara e atraírem minha atenção.
O barulho de nossos corpos e dos gemidos era excitante demais e tudo isso misturado a força que me apertava e me arranhava era enlouquecedor. Eu a observei fechar os olhos e jogar a cabeça, suspirando fundo quando eu rebolei um pouco mais forte ainda dentro dela.

- Por que você não fica de quatro pra mim, linda? Deixa eu te comer de quatro, sei que você vai gostar.
- E você aguenta tudo isso? - Eu gostava da forma que me deixava louco, sempre gostei.

Observei se levantar e buscar um maço de cigarro em seus bolsos, colocando um em seus lábios e acendendo-o, tragando-o com força e voltando para a cama, me estendendo o cigarro logo depois. Ela virou de costas e empinou a bunda e eu só precisei de poucos segundos para colocar meu pau na entrada de sua vagina. Mordi a ponta do cigarro com os lábios e comecei a fodê-la por trás, entrelaçando cabelos dela em minhas mãos e puxando a bunda dela ainda mais em minha direção. O barulho das minhas bolas batendo em sua bunda, se misturando com os gemidos de me deixava louco. Soltei a fumaça do cigarro algumas vezes e me concentrei em não gozar, não ainda. Senti as paredes de me apertando ainda mais e sorri mais maliciosamente. Levei minha mão até seu clitóris e o belisquei, começando a estimulá-lo com força, ouvindo as palavras sujas deixarem sua boca.
Sentir o gozo quente e gostoso de em meu pau foi o suficiente para meu líquido jorrar com força para dentro dela, e posso dizer que foi dos orgasmos mais intensos de minha vida.
Apaguei o cigarro no cinzeiro e caí de lado na cama, puxando o corpo dela para mais perto. Observei os peitos dela subindo e descendo e ensopados de suor, conseguindo sentir a adrenalina dela diminuindo aos poucos. virou o rosto em minha direção e sorriu, acendendo um cigarro novamente.

- Eu falei que coração partido se cola com um sexo gostoso, … não sei porque demorou tanto… - Eu tinha certeza que meu coração não estava colado, mas o prazer que me proporcionou valia a pena de todas as formas.
- Então espero que esteja pronta para mais uma, linda. - O jeito que me olhou antes de levantar para ir ao banheiro ascendeu algo dentro de meu peito, algo que eu queria descobrir.


Capítulo 3

Florença - Itália
Meses depois




Poucas pessoas têm o privilégio de encontrar o amor, e graças a Deus meu melhor amigo foi um maldito sortudo duas vezes.
O dia em que meu amigo mais galinha me ensinou o que era amor, eu achei que o mundo tinha parado de girar. era o amigo, ele era o tipo que ia em todas as festas, bebia todas as bebidas, era o primeiro a chegar e o último a sair, colecionava momentos, lembranças e merdas. se escondia atrás de todo trauma do abandono de sua mãe e nutria um pavor sobre o verbo amar. Depois de todas as festas, de todos os copos, todas as bocas, todos os corpos, no dia seguinte ele me ligava de manhã, me acordava e me tirava da cama para trabalhar e a gente passava o dia todo tentando manter o outro acordado.
nunca se importou muito com opiniões de terceiros, sobre como vivia a vida ou com quem ele se envolvia. Mas isso mudou, e mudou muito. O nome da mudança foi , eu posso dizer que percebi que ele a amava antes dele entender que poderia ser amado, mas eu sabia. Não foi apenas porque o comportamento dele mudou perto dela, ou como se tornou bem óbvio quando estávamos de ressaca e parecia ser a última garrafa de água do mundo. Nunca acreditei em uma palavra dos livros de romance que lia, mas comecei a acreditar quando eu vi de perto acontecer com meu amigo.
E também acompanhei o inferno de perto durante seis meses, meses em que ele regrediu a todos os erros do passado. Acompanhei todos os traumas dele voltando e afogando-o, mas nada se comparava ao que eu estava vendo agora. Aquele brilho bonito e encorajador estava de volta no olhar dele, e eu comecei a entender o motivo quando vi aparecer mais cedo toda cheia de sorriso e se sentou ao lado dele.

- Você está afim dela… - Eu acuso na maior cara de pau quando sai da mesa com Cams. - Tipo, afim de verdade! Eu achei que vocês fossem apenas um caso aleatório nos rolês da boate. - sorri pra mim daquele jeito que sorri quando ainda tá meio bêbado da noitada anterior e meio alerta demais para uma quinta a tarde.
- Eu posso tentar negar? - Isso é tudo que ele diz.
- Não, mas eu estou feliz por você, só nunca achei que fosse o seu tipo... - Agora as sobrancelhas dele estavam franzidas e ele me olha como se eu fosse um preconceituoso fudido antes de me responder.
- Você me conhece. Eu gosto de beber e de ser a última pessoa a ir embora da festa, não gosto de compromissos, fora as minhas obrigações, gosto de passar o dia pensando que deveria ter exagerado menos de noite, mas também gosto de ler um bom livro quieto e escrever… é boa companhia para tudo isso.
- Ela te ensinou muito, sim? - Dou uma pausa e meu coração se aperta ao me lembrar de .
- Eu conheço esse olhar … não importa o quanto eu goste de e quanto esses últimos meses tenha sido maravilhosos, eu sei que nunca vou esquecer o amor que senti por , sei também que foi escolha própria não ir atrás dela e invés disso cair no vício. Mas imagine só se eu fosse atrás dela e ela mudasse por mim… se ela mudasse todo o planejamento da vida que sempre quis, que merda de pessoa eu teria sido por ter amado alguém e ter mudado esse alguém por mim. Imagina se eu trato como aquelas pessoas que arrancam a flor mais bonita de um jardim, tipo aquelas que pegam um pássaro e põem dentro de uma gaiola, o tipo de pessoa que não entende a diferença entre amor e posse. - Ele dá uma pausa e eu não preciso olhar para saber que seus olhos estão marejados. - Eu seria o maior egoísta do mundo se eu tentasse ficar com alguém que eu talvez nunca pudesse fazer feliz só porque eu a amava e amava como me sentia bem comigo em estar com ela.

O sorriso de era distante e triste, era um daqueles sorriso que eu sempre via ele dando quando encarava um Lírio, quando observava o pôr do Sol, quando limpava um livro ou ouvia uma música em especial, era um sorriso de saudade, um sorriso de alguém que amou e ama.

- me ensinou muitas coisas, principalmente me ensinou que às vezes a melhor coisa que você faz quando está amando alguém é não deixar que ela mude por amor...
- Aqui, lindo…

interrompe nossa conversa com um sorriso e entrega o sorvete que pediu e ao observar a forma preocupada que ela o encara, o jeito que ela pergunta baixinho no ouvido dele se ele está bem eu entendo várias coisas.
Primeiro eu entendo que sempre fui apaixonado por Camila, entendo que ter ela ao meu lado agora vale a pena tudo que passamos juntos. Graças a eu entendo o que é amor. Segundo, entendo que chegou a hora de para de insistir, entendo que sabe de toda a história de e aceita os termos do coração dele, entendo que existem várias formas de amar alguém e, acima de tudo isso, entendo que com o passar dos anos tudo fica mais fácil. Fica mais fácil dar uma nova chance para seu coração; fica mais fácil entender que o coração precisa da oportunidade de amar pessoas novas; fica mais fácil de ver o ponto exato onde eles erraram, o ponto exato onde a tal pessoa continua sendo o seu ponto fraco - e você o dela. E quando me olha em silêncio sei que ele compreende o que eu estou pensando. Eu vejo uma lágrima discreta descer por seus olhos e cair em cima do cordão que deu de presente onde dizia: maior que nós dois. Eu o observo olhar o cordão e sorrir ao encarar o pôr do Sol, abraçando um pouco mais forte. Eu observo o jeito que a menina olha para o cordão e sorri, também se aconchegando ainda mais nos braços dele, mas algo rapidamente capta toda minha atenção.
Eu esperei tempo demais para voltar a ver aqueles olhos cinzas que antes davam lugar a uma alegria duradoura e agora, ali do outro lado da rua, observava a cena com uma tristeza que não tinha nada a ver com a ressaca.


Epílogo

Florença
Trinta anos depois.


.

Passei a mão pela capa grossa do livro à minha frente e ainda não conseguia acreditar. Era surreal. Era avassalador. Era desesperador.
Eu nunca vou esquecer da sensação de concluir um livro. Eu nunca vou esquecer daquela quinta-feira chuvosa, foi uma madrugada tão bonita e única. Eu nunca vou me esquecer do nervosismo que senti ao mostrar a história para . Nunca vou me esquecer do sorriso acalentador que ela deu quando disse: agora a sua história, a história de e a nossa história está eternizada. E agora estava em outra cidade, autografando livros e mais livros. Autografando os meus livros. Tampei a caneta e organizei os últimos dois livros restantes. Depois do dia inteiro sentado, tudo que eu mais queria era o aconchego do meu lar e de minha esposa.

- Chegou uma pessoa que eu estava esperando. Pode assinar mais um? - perguntou em meu ouvido e eu sorri balançando a cabeça e me sentando.

Ao contrário do que eu esperei, a risada que eu ouvi em minha frente não era de , e eu conhecia bem aquela risada, mesmo após anos. Então levantei minha cabeça e meu coração parou por um segundo. A pessoa parada à minha frente foi responsável por fazer meu mundo mudar de todas as formas, foi a responsável por parte desse livro em minhas mãos. A pessoa em minha frente foi o meu primeiro amor. Ela sorriu ainda mais e pegou um livro de dentro da bolsa, levantando em mãos e passando os dedos delicados pela capa, não era uma cópia normal, foi a primeira cópia que eu fiz.

- Tem tempo pra uma velha amiga? - O som da sua voz ainda era exatamente como eu me lembrava, os olhos cinzas ainda brilham da mesma forma.

Eu me sentei de novo, só para ter certeza de que não cairia. Ela olhou para e agradeceu em um sussurro baixo e eu não precisei ver os olhos de para saber que ela também estava feliz. Eu tinha sorte.
Peguei a caneta de volta, com as mãos um pouco trêmulas.

- Uma vez você me disse que queria ser a primeira pessoa a ler… - pousou a mão em meus ombros e eu balancei a cabeça concordando.
- Por isso você pediu o primeiro exemplar meses atrás… - Olhei novamente para a minha frente e sorri ainda mais. - E como eu posso dedicar?
- Uma dedicatória sincera para o seu primeiro amor? – Ela sugeriu e atrás de mim eu escutei a risada suave de concordando.

Em meu peito só existia a sensação de paz. Com um sorriso doce e cheio de significado, eu imediatamente me levantei e a abracei, depois de trinta anos.


Fim



Nota da autora: UAU!! Eu tô a meia hora sentada olhando o arquivo e tentando fazer uma nota a altura, sem que eu fique muito emocionada… Quando comecei a escrever "Chains" eu tinha em mente uma coisa um pouco diferente, mas como sempre os meus personagens ganham vida própria e escrevem as próprias histórias… e eu não pude ficar mais feliz com o desenvolver. Foi muito gostoso escrever, ler e fazer parte desse mundo novo (é sempre muito gostoso). Eu espero que vocês gostem e se divirtam tanto quanto eu, espero mesmo que sintam a mesma alegria e emoção que eu tive quando li. Obrigada por quem chegou até aqui e muito obrigada por ler, nada disso seria possível sem vocês. Aguardo os comentários.
Com amor e carinho, Analua.



Outras Fanfics:
» Between Secrets: [Restritas, Originais, Em andamento]
» The Take [Baseado na música de Tory Lanez - Restritas, Shortfic]

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