12. How I'm Feeling Now

Última atualização: Fanfic Finalizada.

Capítulo Único

Chamaria de devaneio, fantasia, imaginação, ilusão, utopia e outros significados que podem ser dados a palavra sonho, no sentido figurativo. No entanto, a verdade é que essa palavra nos persegue desde novos: “Qual é o seu sonho?” ou aquela pergunta bem característica: “O que você quer ser quando crescer?”

Sempre respondi que gostaria de ser médico, não importava o que acontecesse, sonhava em ser médico. Possuía um prazer inexplicável ao cuidar de quem se machucava, por mais que fosse algo leve. Cortes, ou machucados ou apenas um “Não estou me sentindo bem”, qualquer pessoa que falasse isso pra mim, me encontrava pronto para cuidar dela.

E foi assim que te conheci. Quando te atropelei com a minha bicicleta, na calçada de casa, em um sábado de verão na Califórnia. Você caiu no chão, ralou o joelho, foi bem feio. Éramos novos.

“Deixa que eu te ajudo”, me lembro que essas foram as minhas primeiras palavras para você. Não me apresentei, não disse Olá, nem nada.

— Olha — falei ao apontar para o seu machucado, já coberto por um band-aid do Homem Aranha, e levantei meu rosto para olhar o seu, coberto por lágrimas em suas bochechas rosadas —, tá tudo bem. Você vai ficar bem.

Você apenas concordou com a cabeça, e fiquei algum tempo sem saber o que dizer, eu era uma criança extrovertida, conversava com todos, tinha assunto pra dar e vender, mas ali, naquele momento, me sentia estranho sem saber o que falar.

— Quer um biscoito? Minha mãe quem fez.

E foi a partir desse momento que nos tornamos inseparáveis, até, bem, até um belo dia. Todavia, esse dia foi especial na minha vida, pois me apaixonei por você mesmo não sabendo ao certo o que era amor. O que era amor de verdade.

Passamos os anos seguintes grudados, você havia acabado de se mudar para o subúrbio de Los Angeles, apenas com a sua mãe e avó, implorei para que a sua mãe te colocasse na escola na qual eu estudava, e tudo ficou mais fácil. Fazíamos a maioria das aulas juntos, e não demorou para que você fosse aceita no time de vôlei e meu orgulho por você só transbordava.

Sobre me sentir orgulhoso, era algo que sempre dizia a você. Todos os dias, quase. E o outro negócio? A respeito dos meus sentimentos? Não conseguia nem pensar em falar com você. Não tinha coragem.

Os anos foram passando e chegamos ao último ano do ensino médio, uma época importante de desafios, escolhas e despedidas, principalmente despedidas. O desejo de estudar Medicina só crescia em meu peito, e não via a hora de poder me aplicar para uma das melhores faculdades dos Estados Unidos.

Contudo, dois meses antes dos resultados chegarem, tudo começou a dar errado. Você chegou no meu quarto, tendo em vista que a entrada era livre na minha casa, e terminava de jogar algo no Playstation. Você estava com o sorriso mais lindo que já havia visto.

— O que houve? — indaguei com um sorriso nos lábios, não tinha como não sorrir com você sorrindo.

— Paul finalmente me pediu em namoro!

Não fazia ideia de como uma simples frase poderia doer tanto, meu peito literalmente doeu, como se o oxigênio não tivesse caminho até os meus pulmões, e me virei de costas, ouvindo você continuar a falar, e comecei a sentir lágrimas brotarem em meus olhos. Que merda estava acontecendo?

— SARAH, NÓS TEMOS QUE IR. É ANIVERSÁRIO DA MEGAN!

— Falo com você depois.

Você simplesmente me abraçou por trás, depositou um beijo na minha bochecha, e fechei os olhos fortemente com isso, as lágrimas escorreram e assim que você deixou o meu quarto pude respirar novamente, e permiti que o choro chegasse. Doía. Doía como quando quebrei o braço pela primeira vez. Quando mordi a língua e sangrou. Da mesma forma que quando meu cachorro Peggy morreu. Doeu. Doeu por muito tempo.



Exatos dois meses depois, os dias estavam mais frios em Los Angeles, o que não era muito comum, mas que diferença fazia? Todos os dias pareciam frios depois daquele fatídico dia. Terminava de comer meu cereal com leite morno e ouvi o carteiro bater na porta, de supetão me levantei e senti. Senti que aquele era o dia.

— Oi, garoto! — ele sorriu ao me ver e me entregou as cartas.

Apenas concordei com a cabeça e segurei algo mais pesado, passei todas as cartas enquanto voltava para a mesa do café da manhã e a última chamou a minha atenção pois o remetente era Harvard. Engoli seco, senti as minhas mãos trêmulas e com medo de abrir. Era meu sonho. Era meu desejo.

Deixei que todas as outras cartas caíssem no chão, enquanto abria o conteúdo daquela que me interessava. O logo da Harvard assim como a sua carta de aceitação residiam em minhas mãos. Eu estava lá. Havia sido aceito. Em uma das melhores universidades do mundo pra cursar Medicina.

Como eu estava me sentindo? Não sabia explicar.

Pensei em como te contaria, em como falaria que iria morar do outro lado do país por anos, e provavelmente nunca mais te veria pessoalmente. Sabia que em mim iria doer, e muito, mas em você? Agora você tinha o Paul. E ele era a pessoa mais importante da sua vida no momento.

Por diversas noites me encontrei em meu quarto ensaiando o diálogo que teria com você, sempre o adiando para o dia seguinte, até que uma bela noite de céu limpo, onde dava para ver as estrelas, você apareceu de repente no meu quarto e tive a coragem de te contar tudo. Parcialmente tudo.

Falei sobre a faculdade. Em como estava feliz com isso. E você sempre soube que aquele era o meu maior sonho e dizia que deveria enfrentar qualquer coisa para conseguir realizá-lo, mesmo que isso significasse que ficássemos longe. Você ficaria em Los Angeles, cursaria Moda, o que sempre sonhou.

Nossa despedida foi triste. Você chegou atrasada na rodoviária e eu estava quase entrando no ônibus quando você apareceu correndo, ofegante e descabelada. Um sorriso brotou em meu rosto, ao mesmo tempo, um sentimento horrível de perda.

Logo depois, ativei o modo egoísta em minha vida. Não tinha essa personalidade, mas precisava focar 100% em uma faculdade da área da saúde, queria que meus pacientes tivessem o melhor médico, iria atendê-los em um dia ruim, com certeza um dos piores dias das suas vidas, e estaria ali para ajudá-los da melhor forma possível.

Os anos seguintes foram difíceis, o curso era pesado e de extrema responsabilidade. Sempre levei os estudos muito a sério e na faculdade ainda mais. Passava praticamente todo o tempo, quando não estava em sala de aula, na biblioteca estudando e tentando me preparar melhor para as provas.

Raramente conseguia ir pra casa nos feriados, apenas em datas importantes como o Natal. E de todos que fui para Los Angeles, em nenhum deles, consegui te encontrar. Você nunca estava. E isso me distanciava cada vez mais.

Fiz amigos. Saí com garotas. Beijei garotas. Dormi com garotas. Contudo, nenhuma delas era quem eu queria beijar. Era quem eu queria conversar, olhar, tocar, sentir o cheiro, estar junto. E nunca tive a oportunidade de te contar isso. Como realmente me sentia em relação a você.

E você sempre me perguntava, quando estávamos no ensino médio, era uma das únicas pessoas que me perguntava com frequência: “Como você está se sentindo?”

Hoje é com certeza um dos dias mais tristes da minha vida. Muito mais do que o dia em que você me disse que estava namorando o Paul, muito mais do que quando nós nos despedimos na porta do ônibus, muito mais de quando eu te mandava mensagens e você dizia que depois nos falaríamos e você teria que sair com o Paul.

Estou sentado próximo ao seu jazido. Falando todas essas coisas e tentando me convencer que, depois de colocar tudo isso pra fora, vou me sentir melhor. Que meus dias vão melhorar.

Um brinde a isso, certo?

Não sei o que aconteceu, apenas recebi um telefonema da minha mãe e peguei o primeiro avião de Boston para Los Angeles, o primeiro. Com a tempestade de neve, demorei pra chegar mais do que o normal, e perdi o enterro, perdi a oportunidade de me despedir de você para sempre.

As lágrimas brotam em meus olhos a cada segundo, mais e mais. Minhas vias respiratórias estão bloqueadas por conta do nariz entupido, e do choro contínuo há horas. Eu te amo e sempre vou te amar.

Mas como estou me sentindo? Tento me dizer que os meus melhores dias estão por vir.





Fim



Nota da autora: Sem nota.



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