Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Meus dedos alisavam o papel dobrado. Eu o abri tantas vezes que estava amassado, mas não me importava com aquilo, já que a integridade da mensagem escrita era danificada cada vez que eu voltava a reler seu conteúdo.
As lágrimas borraram uma boa parte das palavras, minha sorte era ter uma boa memória e saber de cor cada uma delas, assim eu nunca as perderia de verdade.
No entanto, a tinta da caneta se desgastava cada vez mais, enterrando a faca cravada em meu peito ao deixar evidente o passar do tempo.
Horas. Dias. Meses.
E logo seriam anos.
Era difícil aceitar e eu sabia que precisava daquilo para seguir em frente, mas a verdade era que eu não queria seguir em frente. Doía demais.
Meus lábios tremeram e as lágrimas escorreram pelo meu rosto antes mesmo que eu abrisse a carta para encarar a caligrafia fina e um tanto desajeitada, mas que eu havia aprendido a amar incondicionalmente.
Não contive o suspiro dolorido que ecoou de meus lábios, sem me importar se poderia ser ouvida.
Tudo o que me importava havia partido por aquela linha de trem.
Meu coração se apertou quando as lembranças vieram.
Eu me lembrava de como era abraçá-lo, mas não a textura de sua pele.
Eu me lembrava de afundar o rosto na curva de seu pescoço, mas não de seu cheiro.
Lembrava de seus lábios tomando os meus em profundo desespero, mas não do gosto de sua boca.
Sua voz havia me chamado uma última vez e eu não sabia mais como ela soava.
Como eu pude deixá-lo partir daquela forma?
Por que não bati o pé e insisti que ficasse comigo?
Por que não fui mais egoísta?
Se eu tivesse sido, ele ainda estaria aqui.

— Vamos lá, é só uma foto! Juro que escrevo uma nota de rodapé que faça jus a você. — O princípio de um sorriso quis se abrir em meus lábios ao ouvir aquela promessa.
Eu odiava tirar fotos. Ainda mais para algo bobo como aparecer no jornal da escola, porém a forma como me encarava era muito persuasiva.
Tinha certeza de que ele conseguiria qualquer coisa que quisesse com aquele olhar.
— Eu não sei por que uma foto minha faz tanta diferença pra você, . Mas tudo bem. — Me permiti ser vencida.
— Vamos lá, , não finja que não sabe. Você é a garota mais popular dessa escola. Quem não quer uma foto sua no jornal? — Riu, sem se dar conta de que eu já tinha concordado.
— Sarah Lawson é a garota mais popular da escola — o corrigi, com um olhar significativo.
— Ah… é? — Ele ficou um pouco sem jeito, algo que me fez rir.
— Não finja que não sabe — imitei seu jeito de falar, estreitando meus olhos.
— Tudo bem, eu vou ser sincero. A foto era só uma desculpa pra falar com você.
— Não parou para pensar que me chamar para sair poderia ser mais efetivo? — Arqueei uma sobrancelha, tentando disfarçar a forma como meu coração disparou ao ouvir as palavras dele.
Eu já havia reparado em antes. Ele era exatamente o meu tipo de pessoa e eu não tinha problemas com baixa estima, mas não imaginava que também reparava em mim.
— Sinceramente? Eu pensei em quebrar o gelo com alguma coisa primeiro. — Mais uma vez, ele estava meio sem jeito, mas eu só conseguia me focar em seu sorriso.
— E conseguiu — afirmei, tentando não parecer tão ansiosa ao esperar pelo convite de .
— Consegui? Isso quer dizer que você topa? — Passou a mão pelos cabelos, nervoso, e eu achei aquilo realmente adorável.
— A foto ou o encontro? — questionei, com uma expressão ladina que arrancou mais um sorriso dele.
— Os dois. — umedeceu os lábios.
— Conseguiu.


Um soluço baixo escapou de meus lábios e eu mordi a boca, desdobrando o papel e o trazendo até meu peito, como se assim eu pudesse abraçar o próprio .
A única coisa que eu queria era acordar e me dar conta de que tudo não passou de um trágico pesadelo. Ou pelo menos que ele voltasse, me pegasse no colo e repetisse que tudo ia ficar bem.
Mas não ia.
jamais voltaria.
A guerra o havia levado e tomado sua vida.

“Meu amor,

Eu não sei se de lá vou poder te escrever, mas se isso for possível, saiba que o farei todos os dias. Você vai até enjoar de ver essa minha letra feia e desajeitada.
Pode ter certeza de que eu pensarei em você todos os dias da minha vida, do mesmo jeito que sempre foi.
Eu sou louco por você, . Sempre foi você.
Mas se, por acaso, eu não voltar, pegue esse trem e siga em frente. Pode ter certeza de que estarei sempre com você e cuidando de você.
Amo você por toda a eternidade.

Seu ”.


Era isso. Ele era o meu e sempre seria.
— Eu te amo por toda a eternidade, .
Eu não podia mais adiar. Por mais que doesse, seguir em frente era preciso e era chegada a hora de arrancar o curativo.
O apito do trem anunciou que era a hora do embarque.
Suspirei alto, tornei a guardar o bilhete com cuidado e apertei a mala entre meus dedos antes de seguir em sua direção.
Meu destino era o oposto ao de , mas eu sabia que sempre estaríamos juntos.



FIM



Nota da autora: Fazia tempo que eu não escrevia uma oneshot sofrida.
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Beijos e até a próxima.
Ste.



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