Finalizada em: 25/03/2018

Parte I - A Cadeira

Eu tinha um segredo.
Sujo e suculento.
Um segredo de aproximadamente um e oitenta de altura que não se importava de colaborar com meus fetiches. Um que trabalhava no final do meu corredor e estava dando seu melhor para me provocar.
Era quase um teste de resistência saído de um reality show, ou pelo menos eu gostava de fingir que sim. Se eu tivesse força o suficiente para não cruzar aqueles vinte e seis passos que nos separavam e investigar com minha boca o que tinha embaixo de sua braguilha eu ganhava uma taça extra de vinho no jantar. E garoto, eu estava ficando boa em beber vinho a esta altura.
No começo, quase três meses atrás, escapadinhas dentro do prédio era nosso tipo preferido de hora extra. Aquele tipo de sexo apressado contra a parede, tremendo de ansiedade, fodendo com os olhos na maçaneta da porta, gozando em um suspiro abafado. Foram tempos ótimos, até o que eu mais temia acontecer: estava começando a ser condescendente comigo.
A realização se deu em um caso no qual Mark insistiu que trabalhássemos juntos. Apesar de adorar a forma como me apalpava por debaixo da mesa sem desmontar a expressão austera de seu rosto como se aquilo fosse mais um passeio no parque pra ele, eu podia ver um brilho admirado em seus olhos conforme eu trabalhava mais afundo no caso, um brilho que antes nunca esteve ali. Então, depois de tantos anos trabalhando juntos e ter meu trabalho, caligrafia e postura minimamente massacrados por ser crivo pessoal, do nada, eu era o exemplo vivo da perfeição para quem perguntasse ao homem.
Cogitei a possibilidade de ter engolido um cadeado quando aquele caroço incômodo ficou travado no meio da minha garganta ao perceber os olhos de Ariana Eisenberg estreitarem perigosamente ao pegá-lo sorrindo para mim logo depois de ter soltado um elogio por ter conseguido a antecipação de tutela do caso, coisa que o Doutor de três meses atrás não teria ao menos se dado ao trabalho de piscar antes de vomitar um sonoro e arrogante ‘não fez mais que sua obrigação’.
Se Ariana Fofoqueira Eisenberg tinha percebido a nada sutil mudança de comportamento no homem então não faltaria muito para todo o complexo perceber. E perceber era um passo para supor. E a última coisa que eu precisava era de alguém em qualquer lugar perto de supor que eu estava tentando foder meu caminho para o topo, não quando eu estava ralando minha bunda para fazer meu nome sem patrocínio de qualquer tipo.
No mesmo dia, ao final do expediente, quando todos deixaram a sala de reuniões e ele ameaçou se levantar para trancar a porta nós tivemos uma conversa muito calorosa sobre limites profissionais. Notei nos olhos do homem que ele havia ficado indignado com minha proposta de nos atermos somente ao quarto, longe do julgamento das outras pessoas. se apegou como uma criança a ideia de que eu tinha vergonha de ter algo com ele, mesmo eu deixando claro que não era verdade, que só estava prezando por minha imagem profissional.
por fim acabou aceitando meus termos. Entretanto, eu deveria saber melhor que um homem com o ego ferido tende a querer retaliar. Poderia ter previsto, sem surpresa alguma, os sutis furos que começaram a se tornar frequentes em nossos encontros, as ligações bêbadas de madrugada aqui e acolá, as pequenas pistas que ele queria deixar no ar que talvez eu não fosse mais a única em sua vida.
Mas a piada estava nele, uma vez que meu sentimentos estavam longe de serem machucados. A parte boa de não ser uma romântica era estar livre da pretensão de ter a casa com cerquinha branca e filhos saindo pelo ladrão. Ele podia tentar o quanto quisesse, mas eu estava imunizada contra o ciúmes.
Ou talvez isso fosse apenas algo que eu tentava me convencer com fervor.

Era uma quarta-feira, meio da tarde, pausa para o café. Mark, Anthony e estavam encostados no balcão da copa com suas pequenas xícaras em mãos enquanto cochichavam e riam entre eles. Pensei seriamente em dar meia volta e fingir que nunca havia tido vontade de tomar café, contudo Mark acenou sorridente em minha direção avisando que eu havia sido flagrada. Como nos últimos dois dias apenas colocou os olhos em minha direção e sorriu educado sem mostrar os dentes, não podendo parecer menos empolgado. Retribui os cumprimentos e tentei pegar o meu café o mais rápido possível para poder sair, mas aparentemente Mark Finnigan queria fazer da minha vida uma miséria, então sua pequena conversa foi apenas o princípio naquela tarde.
— Doutora , a senhorita fez falta ontem no nosso happy hour. — apesar de seu tom alegre eu podia sentir uma alfinetada disfarçada, principalmente por perceber que ele escondia um sorriso atrás da xícara que bebia.
— Nem todos nós podemos nos dar ao luxo de beber em dias de semana. — dei ombros tentando cortar logo o assunto — E eu também não vejo como eu poderia ter feito falta de qualquer maneira, vocês só sentam em um canto e ficam fazendo relatórios sobre as mulheres no bar. Desagradável, no seu melhor. — lhe ofereci uma piscadinha antes de me voltar a procura do açúcar no armário.
Finnigan gargalhou em resposta.
— Um copo de whisky no final do dia não faz mal a ninguém. E ontem, finalmente, um de nós tirou a cara dos relatórios. aqui conseguiu a atenção de uma moça e estava prestes a nos contar como foi. — dessa vez não teve nenhum traço de alegria ou simpatia capaz de esconder a alfinetada. Até mesmo o silêncio que se seguiu parecia ser capaz de medir a menor das minhas reações.
Forcei-me a fingir que o estranho formigar doloroso em meu peito não estava me afetando, que eu não queria simplesmente virar e gritar qualquer coisa sem sentido e jogar algo em alguém. Talvez eu devesse processar quem me vendeu a ideia de que eu era incapaz de sentir ciúmes?
Respirei fundo e misturei o açúcar a minha bebida, virando-me com meu melhor sorriso antes de dar um pequeno gole na esperança que o calor acalmasse o pequeno demônio verde habitando meu corpo. O que não aconteceu, ele esperneou birrento dentro de mim querendo arranhar seu caminho para a liberdade.
— Sério? Uau. Então eu vou caindo fora, não quero interromper nenhuma narrativa deslumbrante de conquista amadora.
— Amadora? Você quis dizer conquista profissional. A mulher estava tirando a roupa dele com os olhos a um passo de distância. Você tinha que ver,. — foi a vez de Anthony colaborar, fazendo-me engasgar com o refluxo de ódio que senti.
— Legal. Legal, legal, legal. — balbuciei incapaz de colocar coerência dentro do meu cérebro anuviado — Então vamos todos tomar nota e aprender como se faz, não é mesmo? — finalmente lancei um olhar cheio de falso interesse para que apenas jogou os ombros para cima como quem diz que não tem culpa.
— Não foi nada demais. — disse enfim com sua voz profunda e rouca, minhas sobrancelhas se ergueram em clara descrença. Óbvio que aquele atormentador de calcinhas tinha conseguido estourar o termômetro de libido da mulher apenas recitando o alfabeto e agora queria se fazer de santo. — Sério, nós apenas conversamos um pouco e eu a acompanhei até o táxi. Nenhuma grande emoção ou dica de conquista.
— Qual é, Doutor . Derrame os feijões¹, nos divirta com os pequenos detalhes. — pedi venenosa, mesmo no fundo estando com medo de sua resposta.
entretanto forçou seus olhos para o chão e então deu um sorriso antes que em outra hora teria me feito trançar as pernas pelo belo conjunto que formava, mas que agora estava me causando um princípio de crise de ansiedade. Seus olhos e recheados de coisas não ditas se fixaram em mim quase maldosos antes de falar:
— Sinto muito, mas vou ter que invocar a Quinta². — deu-se ao trabalho de piscar antes de sorver o café em sua mão despreocupado. — Não quero ser uma mancha na reputação profissional dela sem querer.
E eu, desnorteada com meus sentimentos conflitantes, apenas acenei sem ter mais o que dizer. Com um sorriso me despedi dos homens no recinto e dei qualquer desculpa para sair logo dali. Meu café já estava frio quando cheguei em minha sala e o larguei sobre a mesa, pronta para bater minha cabeça contra ela do mesmo jeito.
Mas de tudo pelo menos estava grata de saber desde o começo onde estava me enfiando. era um conquistador arrogante e nenhum sexo surpreendente de torcer os dedinhos do pé e capaz me mandar para o céu e fazer volta a terra me iludiria ao ponto de achar que ele mudaria por minha causa. Homens como ele terminam a vida sendo sugar daddy de uma aspirante a atriz de vinte e dois anos. Mulheres como eu casam com o trabalho e tem um cachorro chamado Chester para suprir o vazio existencial e ter algo para fazer barulho quando chegar em casa.
Suspirei tentando afastar isso da minha cabeça, afinal havia sido eu a pessoa que tinha proposto que ficássemos as escuras, que não tivéssemos qualquer tipo de relacionamento. Era de se esperar que após algum tempo ele fosse se cansar de qualquer maneira e quanto mais cedo eu aceitasse isso melhor.

O céu já estava escuro quando minha ultima cliente finalmente saiu. Meu estômago roncava avisando que a probabilidade de já ter passado de sete horas da noite era grande. Havia sido um dia longo, estressante e cansativo e mais do que nunca eu merecia um banho longo e uma taça de vinho gelado e frutado como recompensa por ter me mantido longe.
Estava finalizando um email quase pronta para ir embora quando três batidas curtas soaram do outro lado da porta. Meu coração acelerou contra minha vontade já imaginando quem poderia ser. Limpei a garganta antes de dar a ordem para quem quer que fosse entrar, tentando manter minha pose quando entrou com sua típica expressão sóbria no rosto e fechou a porta atrás de si.
— Ocupada?
— Um pouco, por que?
— Estava pensando em jantarmos no El Ideas. — disse sentando-se na poltrona a minha frente.
Não pude evitar a careta que se formou em minha face. Um leve enjôo passou em meu estômago impressionado com a coragem em fingir que nada tinha acontecido mais cedo.
— Desculpe, você e quem no El Ideas? — a pergunta saiu um pouco mais peçonhenta do que o pretendido o que arrancou um sorriso dele.
— Eu e você, . — falou enquanto se levantava indo para o meu lado da mesa. De modo automático meus braços se cruzaram abaixo dos seios, como se dessa maneira eu pudesse levantar uma barreira contra ele. — Vamos, já passou de sete e meia e eu sei que você não comeu nada ainda.
O loiro deu um de seus sorrisos enigmáticos e o terrível diabinho que morava dentro de mim corou e suspirou, tentado a desistir de ser ridiculamente orgulhoso e particularmente mimado e eu quase o segui. Mas ceder era apenas um atalho para fingir que nada havia acontecido e tudo ficaria bem entre nós.
Não ficaria.
Ele era um jogador e eu era simplesmente péssima no jogo.
— Obrigada, mas não. — foi tudo que falei antes de me voltar para a tela do computador outra vez dedicando minha atenção ao e-mail não terminado que piscava ali.
— Você está brava comigo por mais cedo?
— Deveria, por acaso? — resmunguei sem tirar os olhos do que escrevia.
— Não, claro que não. Você que insistiu para não termos nada, então seria um pouco fora de ponto ficar brava comigo se eu saísse com outra mulher.
Oh, você não fez isso, … Você não falou isso.
ainda estava parado do meu lado na mesa quando empurrei minha cadeira para trás e lhe dei o olhar mais rancoroso que tinha no arsenal. Ainda teve a audácia de tomar espaço quando fechei minhas mãos em punho e me ergui enfurecida em sua direção decerto lendo em minha mente meus planos que envolviam seu pau e um grampeador de folhas.
eu sugiro fortemente que se você vá mudar o sentido das coisas que eu digo pra você, pelo menos tenha a gentileza de fazê-lo longe de mim. — dei um passo em sua direção dessa vez esticando o indicador na altura de seu nariz — O que eu disse pra você, muito claramente, em mais de uma versão, talvez até em outras línguas é que eu não queria nós fossemos públicos, porque eu ainda não estava pronta para o julgamento de outras pessoas. Eu não sei se o que está acontecendo é má interpretação ou apenas má fé, mas caso você esteja tendo dificuldade de entender: nós terminamos aqui. — respirei fundo na tentativa de controlar minha voz que ameaçava aumentar e parei para observar o loiro apertar os lábios desgostoso.
— Eu não vou permitir você manipulando o que eu disse para usar contra mim. Você acha que isso é um jogo? Pois bem , você está jogando sozinho. Vá para o bar, use suas cantadas e acompanhe quantas quiser até o táxi, mas não ache que eu vou ficar te esperando.
Virei-me sem lhe dar a chance de réplica, alcancei minha bolsa e casaco deixando o e-mail aberto na tela ainda sem enviar.
Mal terminei de contornar a mesa e ele já havia me abraçado por trás, apertando todo seu corpo contra minhas costas e os lábios contra meu pescoço. Meu corpo respondeu com força ao seu cheiro tão perto de mim em todos os lugares certos, mas o monstrinho dentro de mim ainda não havia terminado de mostrar suas garras, então meu cotovelo se jogou com força contra suas costelas ao mesmo tempo em que eu pisava com força em seu pé. me soltou em um uivo alto.
— Se situa, . Eu estou irada com você, não me toca.
— Caralho, , precisava bater tão forte? — resmungou, esfregando onde havia o atingido.
— Precisava, babaca.
— Desculpa. — soltou com sua melhor cara de cão que caiu do caminhão da mudança — Me perdoa, de verdade. Não aconteceu nada ontem. Ou nas noites anteriores. Eu só…
— Você só o quê?
— Eu segui uns conselhos errados, foi isso. A intenção era só te deixar com ciúmes e fazer você pensar que eu… — as palavras morreram em sua boca conforme ele ia percebendo o quão absurdo soava.
— Fazer eu pensar o que, ? Que você é uma porra de um adolescente preso no corpo de um homem de trinta e cinco anos? Porque esse é a única explicação que eu vejo. Você é um bebezão mesmo. Seja homem, converse e trabalhe seus malditos problemas, não sente e espere eu me sentir ameaçada e fazer seu trabalho por você.
cortou nossa distância em um passo, sua mão possessiva em minha nuca ameaçando meu cabelo enquanto a outra segurava gentilmente minha cintura sem tentar me imprensar contra ele, sabendo que eu poderia o agredir uma outra vez.
— Sinto muito, muito mesmo. Eu fui infantil, concordo, mas em minha defesa eu nunca havia estado em uma posição como essa de ser o segredinho de alguém. Não tenho problemas com as pessoas saberem com quem eu durmo ou deixo de dormir. Nossa dinâmica é toda diferente, você tem gostos diferentes e eu talvez tenha ficado assustado com a ideia de que você vá se cansar de mim logo. — apertou os olhos pouco antes de se aproximar e esfregar o nariz contra meu maxilar para sussurrar. — Eu disse que você ia me devorar, doutora.
Seu discurso já batido de homem arrependido conseguiu bagunçar algo em mim, fazer um leve carinho no Monstrinho e acordar a adormecida e derretida Ridícula, o lado de mim que era presidente do fã clube de e coincidentemente a guardiã do código que liberava acesso a minha bocetä. Desnecessário dizer que Ridícula era totalmente partidária e imparcial e que com ela desperta era óbvio que minha batalha estava prestes a ser perdida.
se afastou um pouco para perceber meu desconcerto e ofereceu um sorriso charmoso aproximando sua boca novamente perto de meu ouvido pronto para me fazer mudar de ideia sobre a raiva que sentia.
— Fui um garoto mal, Doutora , e eu acho que mereço ser punido por isso.
Nisso você está malditamente certo, . Mas não nesse estado de espírito, muito menos quando qualquer punição seria um prêmio para ele.
— Nem ser punido você está merecendo no momento, garotinho. — sussurrei em resposta o empurrando pelo peito até que nossos olhos pudessem se encontrar. passou a língua lentamente por seus lábios e eu senti minha própria boca secar pela visão erótica. Aquele homem era uma droga de um vírus no meu sistema.
— Por favor, doutora. Eu vou fazer você se sentir tão bem.
Você sabe que quer isso, Ridícula sussurrou no canto do meu cérebro bancando o advogado do diabo, você até merece isso… Dê uma lição a ele e ainda tire proveito disso, seja má.
Ao que parece Ridícula também era o lado sensato que eu queria ouvir naquele momento e Deus sabia o quanto eu queria um pouco de controle em minhas mãos depois daquilo.
Estiquei-me na ponta dos pés para alcançar seus lábios e o beijar com força suficiente para fazê-lo ofegar. Suas mãos foram rápidas para correrem por baixo da minha blusa pegando em cada pedaço de pele que pudesse alcançar e eu mal pude conter o ronronar que reverberou em minha garganta quando elas alcançaram meus seios e os massagearam por cima do sutiã de renda que os cobria.
— Eu quero sua boca em mim, agora. — rosnei a ordem entre dentes com uma urgência tangível e ela foi cumprida de imediato com seus lábios tracejando cada centímetro de meu pescoço e clavícula fazendo eletricidade correr por todo meu corpo se concentrando entre minhas pernas.
Sem querer perder tempo eu mesma fui erguendo minha saia, enrolando-a acima da cintura o que chamou a atenção do homem que sem vergonha alguma foi esfregando os dedos por minha barriga e virilha, contornando meu quadril e segurando minha bunda como se quisesse me marcar. Sua língua deixou um rastro onde a blusa expunha meus seios e então ele se afastou apenas o suficiente para se ajoelhar em minha frente e beijar logo abaixo do meu umbigo e mordiscar lentamente, fazendo meu clitóris latejar de inveja.
Sabendo que ele me faria perder a coordenação motora assim que tocasse meu sexo achei melhor me sentar na poltrona confortável que era destinada aos meus clientes, escorregando minha bunda até o limite, pronta para senti-lo da melhor forma. não me decepcionou ao depositar beijos na parte de dentro das minhas coxas, vez ou outra esfregando os dentes nela, construindo aquela áurea de antecipação, me colocando a beira da sensação sufocante que só um orgasmo causador de danos cerebrais poderia me libertar.
Delicadamente ele deslizou a calcinha já úmida por minhas pernas e então as ergueu até os braços da poltrona, uma de cada lado, mantendo-me aberta e exposta ao ar frio do escritório, a seu olhar crítico e admirado. O loiro deu uma risadinha antes de deslizar a mão por minha barriga até meu seio, enfiando a mão por baixo da blusa o fazendo sair de seu confinamento. Abaixou a cabeça até o nariz tocar o topo da minha bocetä e então me beijou no melhor lugar possível.
Sua língua dançou da entrada até o topo e os dentes rasparam delicadamente em meu clitóris sensível e eu já despida de pudores rebolei contra seu rosto sorridente. Por poucos segundos tirou a boca de mim, apenas para me observar enquanto penetrava dois dedos e os curvava como se fizesse um sinal chamando alguém com eles, o que fazia acertar um lugar completamente certo dentro de mim e me obrigava a morder meus gemidos com toda a força possível.
— Eu sou viciado no seu gosto, doutora. Você tem o sabor do paraíso.
Meus dentes já afundados em meus lábios não puderam conter o gemido rouco que escapou com aquelas palavras. Muito menos quando aquela língua venenosa vibrou sobre o ponto entumecido e torturado em mim e fez minha pernas sofrerem com tremores involuntários. Os olhos presos em minhas reações eram apenas mais um afrodisíaco para a mistura e combinados com os movimentos de seus dedos em meu interior eu quase pude sentir vergonha ao enfiar meus dedos em seus cabelos e o forçar contra minha bocetä sendo lançada para o orgasmo mais cruel e violento que eu poderia ter experimentado em tão pouco tempo.
Minha cabeça tinha afundado contra o encosto da poltrona e ainda me chupava como se eu não estivesse zonza e com as pernas moles ainda. Fui obrigada a puxá-lo pelos cabelos fazendo-o parar com a carícia. Ele apenas deu um sorriso sacana antes de se curvar sobre mim e beijar minha boca com propriedade, me deixando ainda mais atordoada. Entretanto bastou o som de seu zíper descendo para me despertar da névoa pós orgasmo. O empurrei com força suficiente para derrubá-lo sentado em frente aos meus pés.
Apesar dos joelhos trêmulos forcei-me a ficar de pé e desenrolar a saia, ajeitando-a em meu corpo. Foi preciso cada fibra do meu ser para arrumar a bagunça de meu cabelo com os dedos, pegar minha bolsa e olhar aqueles rosto lindo contorcido em confusão.
… — começou desconcertado.
— Você está de castigo por tempo indeterminado, garotinho. Nem pense que você vai tocar uma punheta assim que eu virar as costas. Na-ah! — sacudi o dedo em sua direção, estreitando os olhos para ele — Esse pau é meu e só eu estou autorizada a fazê-lo gozar. Você entendeu?
arregalou os olhos ultrajado e desesperado ao mesmo tempo, uma risada sem vida saiu por seus lábios entreabertos.
— Você está falando sério?
— Você mesmo disse que merecia uma punição, aí está ela. E eu ainda fui bondosa com você, querido. Deixei que me tocasse, que tivesse a honra de me dar prazer. Agora seja bonzinho e arrume essa bagunça, sim?! — já tinha virado as costas rumo a porta quando tornei a me virar para sua imagem caída no chão. — Não se esqueça a quem esse pau pertence, . E nem que a dona dele vai ficar muito irritada se você desobedecê-la e se masturbar sem permissão.
… — gemeu em frustração, porém eu já estava longe o suficiente para ouvir o resto, apenas fechei a porta e fui rindo até o elevador. Por enquanto a lição estava dada.
Naquela noite, depois do jantar, mesmo sem ser merecedora, tomei minha taça extra dentro da banheira. Um pouco de vinho foi derramado na água enquanto meus dedos faziam o mesmo caminho que a boca do homem havia feito poucas horas atrás, minha imaginação cuidando do cenário que o faria estar ali me beijando embaixo da água quente. Pois era assim toda vez, como se seu toque uma vez na noite não fosse o suficiente, sempre parecia menos do que realmente era em minha memória.
Eu poderia negar até a morte, mas a verdade é que até um cego conseguia ver o quanto eu estava viciada naquele homem.


Parte II – O Vestido

Quando Mark me abordou sobre sua festa de aniversário ele a descreveu como um jantar e umas bebidas somente para os íntimos. Não que eu me considerasse íntima do homem, mas éramos amigos então tomei sua palavra como verdadeira.
Erro de principiante. E, infelizmente, não meu único naquela noite.
The Piano Bar soa como o nome de um bar de jazz, com meia luz e cheiro de bourbon e charuto caro, no qual você usa um vestido bonito para beber com os amigos enquanto sente seu íntimo e próprio momento de Gatsby. Eu apenas deveria ter dado um Google antes.
Havia comprado meu vestido na semana anterior. Veludo longo e bordô solto ao meu redor e marcado apenas na cintura, decote modesto e alças finas que iam até o meio das minhas costas deixando-as expostas. Era simples, sem nenhum detalhe em especial, mas ainda assim, quando pisei naquele bar vestida com ele eu soube que estava overdressed³.
Não tocava jazz, não tinha um piano ou ao menos cheirava como whisky e charutos. Era rock dos anos 80, cerveja e batata frita, lotado de pessoas de jeans e vestidos embalados a vácuo.
Somente os íntimos era código para fechar um bar somente para ele e seus amigos.
Sorri amarelo para a mulher cuidando da chapelaria ao entregar meu casaco. Ela me retribuiu com o claro sorrisinho de quem sabia que eu me sentiria deslocada a noite inteira por estar vestida como uma personagem de Gossip Girl.
— Olhe só quem apareceu!
Mark foi o primeiro rosto conhecido que achei no meio da multidão. Ele sorria animado sobre do mezanino, sacudindo o braço acima da cabeça para chamar minha atenção para si. A mesa em que ele se encontrava estava lotada com alguns de nossos colegas de trabalho e pessoas que eu não conhecia.
— Feliz aniversário. — tentei soar animada sob a pressão dos olhares de todos na mesa sobre mim conforme eu subia a escadinha para alcançá-lo.
Mark riu levantando e me puxando para um abraço apertado o qual me vi obrigada a retribuir.
, a senhorita está deslumbrante. Como sempre! Porém um pouco mais. — disse me afastando um pouco para poder me olhar melhor. Seu flerte era falso e eu não tinha qualquer interesse nele, entretanto não podia deixar de corar quando ele soltava seus elogios bobos. — Venha, sente-se conosco. Tem alguém que quero te apresentar.

O único lugar vago era ao lado da ponta da mesa, o qual um homem negro com o sorriso mais perfeito que já vi sentava. Já ao meu lado esquerdo a personificação de tudo que eu queria evitar no momento bebia um copo quase congelado de chope e conversava animadamente com o resto da mesa.
, esse é Andrew Snyder, um grande amigo meu e…
— O responsável por colocar o Atirador de South Side atrás das grades. — interrompi a apresentação que Mark fazia ligeiramente boquiaberta ao reconhecer o nome do homem. — É um prazer conhecê-lo Delegado Snyder.
— O prazer é meu, senhorita . Mark falou muito bem de você.
— Imagino o que deve ter falado. — lancei um olhar perverso para meu chefe que apenas deu ombros antes de se afastar para seu lugar na mesa.

Mal vi as horas passarem de tão empolgada que fiquei na conversa com Snyder e Naomi, a mulher a minha frente. Ambos eram engraçados, diretos e pareciam apreciar o fato de que eu poderia tagarelar por horas sobre qualquer porcaria aleatória. Conversamos sobre nossos empregos, sobre uma série que todos descobrimos gostar e até mesmo discutimos sobre os lugares que eu poderia ter ido com meu vestido chamativo em que ele seria só mais um na multidão. Andrew, vez ou outra, tocava minha mão sobre a mesa ou meu braço enquanto falava, o sorriso hipnótico sempre preso em seu rosto. Não era preciso um mestrado para sobre que o homem estava usando suas melhores cartas de flerte.
Tudo estava indo bem demais até eu perceber a morena ao lado de Naomi, que estava logo a frente de e soltava risinhos esporádicos para qualquer coisa que o loiro falava, levantou-se com um charme desnecessário e sumiu para algum lugar do bar. Não foram necessários dois minutos para logo levantar-se e pedir licença e seguir pelo mesmo caminho como se juntasse as migalhas de pão que ela deixou pelo caminho.
Ignorei ferrenhamente o lado dentro de mim que queria me obrigar a levantar e revirar cada centímetro daquele buraco do inferno atrás dele e esconder seu corpo dentro de um freezer caso o encontrasse enroscado ao redor da mulher.
— Você quer ir dançar?
Foi Naomi quem fez a pergunta. Voltei-me imediatamente para a mulher que me observava curiosa. Sacudi a cabeça envergonhada por ter sido pega no flagra, mas os dois apenas se apegaram na ideia de que eu querer dançar. Naomi deu uma risadinha e cutucou o homem ao seu lado balançando as sobrancelhas.
— A garota quer dançar, delegado.
Andrew riu para a morena enquanto eu iniciava um coral depor favor não dentro da minha própria cabeça, o que foi falho, pois no segundo seguinte ele já havia afastado sua cadeira e esticado a mão cordialmente em minha direção. Tomei-a, ainda mais sem graça que antes, e o segui até o andar de baixo onde as pessoas dançavam ao som da banda que tocava.
Como sorte e destino não são coisas que trabalham comigo era salvo dizer que a música agitada que nos proporcionaria uma dança ridícula e desengonçada foi prontamente trocada por Back At One do Brian Mcknight no momento em que pisamos na pista.
Minha eu adolescente sonhou por longos quatro anos em dançar com aquele cara perfeito do time de basquete da escola no baile de formatura, eu quase podia sentir meu aparelho ortodôntico machucando minha boca outra vez só de ouvir os primeiros acordes da música. Tantas memórias.
Snyder fez um gesto com a cabeça pedindo permissão para poder se aproximar e tomarmos a posição para dançar, acenei positivo enroscando minha mão na lapela de sua camisa. Eu era péssima dançando, mas o cara parecia uma escultura perfumada, então uma dança lenta não faria mal a ninguém.
Os dedos do homem afundaram no tecido macio e liso logo abaixo da minha cintura me trazendo mais para perto enquanto dançávamos no meio de mais uma dúzia de casais igualmente desengonçados. E eu esperei ansiosa pelo momento em que minha boca secaria de vontade de beijá-lo, os arrepios desceriam por meu corpo e eu teria que trançar as pernas para não me roçar no monumento a minha frente com tantas testemunhas ao redor, mas nada aconteceu. Absolutamente nada.
Qual a porra do problema comigo?
— Eu esperava pelo menos ter a chance de te chamar pra um encontro antes de fazer isso. — Andrew sussurrou rouco perto de meu ouvido para se fazer ouvir sobre a música.
— Isso o quê? — perguntei confusa, mas nenhuma resposta veio a não ser os lábios cheios e macios sobre os meus.
Meus olhos se arregalaram em surpresa e nenhum típico formigamento me acertou. Pelo contrário, uma leve náusea se instalou em meu estômago e a sensação de traição esmagou meu peito, muito embora eu não estivesse traindo ninguém. Sem saber como escapar de minha própria consciência sendo uma bastarda afastei-me de Snyder com delicadeza.
— Isso… Uau… — gaguejei sem saber mais o que dizer, só queria sair dali o mais rápido possível — Só uau.
Andrew sorriu e tentou abaixar o rosto em minha direção novamente, mas ao nosso lado alguém pigarreou para chamar nossa atenção e a cor se esvaiu do meu rosto ao ver os olhos de tão perto de mim.
seu carro está bloqueando minha saída. — grunhiu como se estivesse segurando uma legião de demônios dentro de si, os olhos vidrados em minha boca amassada.
— Impossível, eu…
— Só tira logo o maldito carro da frente do meu, .
Foi o olhar homicida que fez eu me mover e pedir desculpas para Andrew antes de seguir até a chapelaria e ao caixa antes de poder sair para mover meu carro.
Mal chegamos ao estacionamento escuro do lado de fora e ele segurou meu braço com firmeza me puxando para si.
— Como você tem coragem, ? Como você… O delegado! A porra do delegado, ! — ele cuspiu enfurecido, os olhos inundados de ódio que eu podia enxergar no escuro. Minhas costas foram apertadas contra o primeiro carro que apareceu e por um breve segundo eu me preparei para revidar qualquer coisa que ele fosse fazer, mas o ódio deu lugar a uma evidente mágoa em seu rosto. — Você acha que ter um relacionamento comigo vai ser um estigma na sua vida profissional, mas beijar a porra do delegado na frente de todos os advogados do complexo é ok na sua lista de prioridades.
— Não é bem assim, . — tentei pôr panos quentes para acalmar a ferida no ego, mas ele estava irredutível.
— Eu não posso te elogiar na frente dos outros ! Eu não posso falar bom trabalho porque você acha que todo mundo vai descobrir que eu deixo você me amarrar na porra na tua cama. — ele berrou sem qualquer vergonha para quem estivesse no estacionamento escutar como se eu tivesse propositalmente feito aquilo para magoá-lo.
— Corta essa, . — rolei os olhos soltando o braço de seu aperto e para então encará-lo com preguiça. — Todo esse drama e ainda assim você deu sua sumidinha com a morena. Padrões duplos?
— Aquilo foi diferente, eu não fiz nada com ela.
— Conta outra.
avançou sobre mim apertando meu corpo ainda mais contra o carro e contra ele mesmo, seu hálito de bebida espalhando por meu rosto conforme ele respirava fundo.
— Você é minha, . Minha!
Raiva. Eu só senti uma selvagem e cegante raiva quando fechei meu punho e o acertei no meio do estômago e o empurrei para longe. Homem nenhum iria mijar o poste em mim.
— Escuta aqui seu projeto de psicopata, eu não sou sua porra nenhuma! Eu não sou de ninguém a não ser de mim mesma, então mantenha o seu neandertal interior dentro da casinha ou eu vou te acertar outra vez, você me entendeu?
ameaçou dar um passo em minha direção, o que só fez eu estufar ainda mais meu peito de ódio e sibilar em sua direção com dedo esticado:
— Eu juro por Deus que se você tocar em mim agora você vai se arrepender pro resto da sua vida de merda, .
Sua boca se abriu e fechou um par de vezes terminando por bufar em vez de falar antes de dar as costas puxando os próprios cabelos.
— Eu só queria que você olhasse pra si mesma, no meu lugar, e sentisse tudo que eu sinto,. — resmungou ainda de costas para mim parado no escuro. Desgrudei-me do carro tomando um passo para escutá-lo melhor. — Eu queria poder falar as coisas que você diz pra mim e tentar fazer toda essa bobagem se encaixar na porra da sua cabeça, como eu tento todo dia. — virou-se, os olhos tão intensos que podiam me atingir como ondas, suspirou cansado e passou a mão nervosa sobre os cabelos bagunçando-os. — Se eu gosto de você e você de mim nós deveríamos estar juntos e não preocupados com o que os outros vão pensar. Fodam-se eles!
Encurtou nossa distância em um passo, as mãos fechadas em punho ao lado do corpo obrigando-se a cumprir minha nada sutil orientação.
— Você imagina a tortura que é ter que te ver todos os dias a centímetros de mim e não poder te tocar? Minhas mãos chegam a tremer de me segurar longe de você. — ri sem qualquer resquício de humor na voz. — Sei que muitas vezes eu sou um merda, meu temperamento é horrível, eu digo as coisas no impulso e me arrependo no segundo que elas estão fora da minha boca. Mas eu estou tentando melhorar, porque eu sei o quanto isso te irrita. Você é a única mulher na minha cabeça… Eu faria tudo por você, . Me perdoe por ser tão .
Pisquei longamente sem saber ao certo o que responder.
— Você está bêbado? — soltei a primeira coisa que me veio a cabeça.
!
— Está ou não?
jogou a cabeça para trás desistindo. Quando tornou a me olhar um sorriso idiota estava preso em seu rosto.
— É claro que eu estou bêbado, . Em que mundo eu abriria meu coração sóbrio? — deu ombros.
Apesar de todas as reviravoltas da noite não me contive de rir da situação. Aquilo era muito nós. Dei um passo para frente quase colando meu nariz em seu queixo, estiquei minha mão até sua bochecha fria, acariciando-o.
— Por que a gente tem que ser assim, ? — a pergunta foi retórica, mas ambos respondemos com um suspiro baixo. — Vem, vamos te levar pra casa. — ele abriu a boca, mas antes que pudesse falar algo me apressei em puxá-lo pelo pulso — É, seu carro não está preso pelo meu, que surpresa.

Duas quadras e a chuva começou a cair para nos seguir pelos próximos vinte minutos de percurso até a casa do loiro, seu barulho era a única coisa que nos mantinha de estarmos em completo silêncio.
Em algum ponto desistiu de olhar meu perfil insistentemente e direcionou toda sua curiosidade para o lado de fora da janela. Já estávamos na frente da sua casa quando percebi que ele tinha a testa colada no vidro e respirava profundo demais para estar acordado.
Dei a volta no carro para abrir sua porta com cuidado e sacudi-lo. Um sorriso bobo brotou em seus lábios ao me ver abaixada ao seu lado, sem dizer nada soltou seu cinto e esticou-se para fora do carro, logo seguindo para a entrada da sua casa.
Era ali que eu teria dito ‘serviço feito’, sentado no banco do motorista e ido para minha própria casa sentar naquele maldito sofá para pensar o que fazer da minha vida. Contudo minhas pernas pareciam pensar diferente, ao menos me deram o tempo de checar duas vezes minha janela, apenas seguiram pelo hall de entrada. A mim restou fechar a porta atrás de mim e usar a embriaguez do homem como desculpa por meus atos, mesmo sabendo que ele estava mais do que bem.
Talvez fosse a culpa dando as cara logo após a raiva passar. Eu precisava dar uma última explicação, pois no fundo eu sabia que boa parte dos nossos problemas eram culpa da minha insegurança e ao mesmo tempo que eu não queria trazer qualquer luz sobre meus sentimentos para ele, também não queria que ele pensasse que era só um passatempo com data de expiração marcada.
já havia sumido para o banheiro quando alcancei o quarto. Em outras circunstâncias só teria ficado nua e o seguido sem precisar de convite, mas não parecia ser a ação correta a ser tomada ali, então contentei-me em sentar na cama milimetricamente arrumada e esperar.
Cinco minutos depois ele saiu distraído do banheiro enfumaçado, a toalha enrolada ao redor dos quadris, o peito esculpido molhado que fazia minha boca aguar.
… — falei sem saber direito por onde começar. Uma careta cruzou o rosto bonito do homem e ele esfregou a barba negando com a cabeça.
— Não, . Não vamos mais brigar, por favor. Eu não quero dormir brigado com você. — suspirou cansado se sentando do meu lado me olhando como uma criança.

Várias palavras cruzaram minha mente naquele momento, mas de repente era como se nenhuma fosse boa o suficiente para expressar o que eu estava sentindo. O que ele merecia ouvir.
Algo no fundo da minha cabeça disse que às vezes um ato vale mais que um discurso e me conhecendo bem eu sei que seria capaz de discursar por dias se tivesse a chance. Entretanto, contra minha própria ação previsível, tudo que fiz foi acariciar a barba do homem com o polegar e depositar meus lábios suavemente contra os seus.
O arrepio. O formigamento. A forma como a eletricidade entre nós fazia toda minha carne arder de necessidade.
A sensação de puro e completo pertencimento.
Eu podia negar para mim mesma o quanto quisesse, mas meu coração batendo freneticamente dentro do meu peito me contava em segredo que era , e somente , quem eu queria. E um ridículo esfregar breve de lábios podia provar isso.
— Sinto muito por colocar essa barreira entre nós. Minha intenção não é te magoar ou fazer achar que eu penso pouco de você. — sussurrei, afastando-me o suficiente para poder olhar em seus olhos — Eu não queria beijar Andrew. — rolou os olhos desgostoso com a afirmação. — Não queria e não fiz! Ele quem me beijou e… Eu deixei porque fiquei com ciúmes de você ter saído com aquela mulher.
— Eu não fiz nada, . Eu nem toquei nela. Ela saiu pra algum lugar e eu fui no bar pegar mais uma bebida. Juro pra você não aconteceu nada entre… — enfiei o dedo sobre sua boca o calando, o tom levemente desesperado para que eu acreditasse o fazia parecer ainda mais verdadeiro.
— Acredito em você, alphabet boy. Só queria pedir desculpas pelo que aconteceu. — pisquei pesarosa para ele, realmente sentia muito que eu fosse tão desnecessariamente complicada. A lembrança de sua quase declaração brilhou em minha mente, talvez ele enfim merecesse ter uma luz sobre meus sentimentos. — Você é o único homem na minha cabeça, …Me desculpe por ser tão .
— Jamais. — riu baixinho, esticou a mão para ajeitar meu cabelo atrás da orelha e um olhar admirado iluminou seu rosto bonito. — Você ser tão é o que me faz ser tão apaixonado por você, mulher.

Era como borboletas estivessem nadando em champagne dentro de mim. Isso era o mais próximo de uma precisão sobre como eu estava me sentindo após aquelas palavras deixarem a boca de .
Apaixonado.
Por alguns segundos eu apenas me deixei aproveitar o borbulhar dentro de mim, desfrutando do olhar quente sobre mim, despretensioso e honesto. Ele era apaixonado por mim. E eu não deveria estar muito longe dali também.
Desta vez o beijei de verdade quando o puxei pela nuca para mim. Suas mãos amassaram o veludo entre os dedos, marcando o vestido em minha cintura. Sua língua vasculhando cada centímetro de minha boca do jeito que eu gostava. Mordiscando meus lábios e os chupando logo em seguida.
Começamos suaves, toques leves e mãos no cabelo. Mas foi ele me derrubar de costas na cama e sentar sobre meus quadris que meus olhos se abriram pra encontrar aquele sorriso sacana pronto para virar o jogo.
— Hoje eu sou o chefe, amor.
Gargalhei de seu atrevimento e mesmo que algo parecesse errado na cena, deixei ele pensar que seria o chefe. Pelo menos por hoje.
Sua boca desceu quente em meu pescoço e sugou a pele delicada com vigor, provavelmente deixando uma marca. Retaliei enfiando as unhas em sua nuca e ganhei um olhar feio do homem que não durou mais que dois segundos, logo sua atenção se voltou para a linha do decote quase em seu nariz. O rastro de saliva até o meio do meu peito me fez arrepiar, ainda mais quando ele engatinhava para baixo do meu corpo enquanto levantava meu vestido no caminho.
— Eu adoro você de vermelho, sabia? E de vestido. — suspirou descobrindo minha barriga, plantando um beijo logo acima do meu umbigo. — Gosto como você parece um ser superior com e sem roupa.
— E como você prefere?
— Geralmente sem. Mas hoje seria uma pena desperdiçar esse conjunto.
— E se eu contar que comprei esse vestido justamente para você tirá-lo?
O loiro ajeitou-se sobre os cotovelos e levantou a cabeça para me olhar direito enquanto eu mantinha minha pose mais inocente possível. Uma risadinha e uma lambida abaixo do meu umbigo foram sua resposta.
— Mentirosa.
— Talvez. Mas não custa nada tirá-lo só para ver.
— Ou talvez eu devesse deixá-lo onde está, só de castigo. E suas mãos na cabeceira da cama.
Foi o brilho malvado em seus olhos que fez meus joelhos se juntarem e aquela coceira dentro de mim começar. mal havia me tocado e o fundo da minha calcinha já dava sinais de desistência. Ao menos lutou quando o loiro abriu minhas pernas com delicadeza e depositou seus lábios sobre ele, pronto para me dar uma lição.
O gemido soou alto e desesperado no segundo em que fugiu de mim. Minhas mãos não levaram o pedido de a sério, seus cabelos pareciam tão melhores que a cabeceira e foram justamente lá se agarrar. levantou a cabeça com um sorriso preso nos lábios. Elas deveriam ter levado a sério.
— Oh , você é uma garota má, não é? — pirraçou engatinhando novamente sobre mim. Mordiscou meu queixo enquanto eu me dava o trabalho de correr os dedos por seu peito nu. Então ele segurou minhas mãos levando-as acima da minha cabeça entrelaçando-as na cabeceira de sua cama. — Você tira as mãos daqui e ganha umas palmadas.
— Não soa como uma ameaça para mim. — dei ombros, mas ainda mantendo as mãos no lugar.
O olhar que ele me lançou chegava a ser obsceno e estava recheado de desafios que eu adoraria cumprir. Lambi meus lábios antes de devolver o sorriso que estava em seu rosto.
— É mais uma promessa do que uma ameaça. — riu antes de escorregar mais para baixo encaixando-se entre minhas pernas. — Aposto que consigo te fazer entalhar meu nome na madeira só com a minha boca aqui. — foi tudo que falou antes de empurrar minha calcinha para o lado de chupar meu clitóris com vigor.
Minhas unhas fincaram na madeira arrancando um som abafado da mesma quando a arranhei. Sim , você pode tudo com sua boca na minha bocetä.
Sinto em dizer que eu não durei cinco minutos. Sua língua em mim, dedos me tocando e arranhando, as mordidinhas nos pequenos lábios e o sugar constante simplesmente me levaram embora com uma onda. Entretanto, mesmo após os espasmos passarem, continuou ali, sua boca trabalhando em mim, seus dedos me torturando a carne sensibilizada após um orgasmo libertador.
tirou a boca de mim e sentou-se sobre os calcanhares sem tirar os dedos de dentro da minha bocetä. Seus olhos estavam inflamados sobre mim, enquanto tudo que eu podia fazer era respirar com dificuldade e levantar os quadris enquanto ele me golpeava no lugar certo, esfregando o ponto em que quase me fez perder a cabeça.
O fato era que o homem não tinha muito trabalho em me fazer gozar. Era encostar em mim me olhando daquele jeito e eu era pura poeira estelar me desfazendo com seu toque. Pela segunda vez me contorci contra seus dedos e gemi seu nome, mas ele não parou. Tentei escapar de seu toque e ele colocou o braço sobre meus quadris, me mantendo no lugar.
— Vamos ver o quanto você aguenta antes de implorar pra eu te foder.
Não muito, . Não muito.
Sua boca voltou ao tormento e eu só pude afundar minha cabeça contra o travesseiro fofo e arranhar a madeira ainda mais fundo.
Então era sua língua dentro de mim e seus dedos circulando meu clitóris em círculos rápidos e fortes, ambos no mesmo ritmo perverso fazendo meu coração descompassar e minha respiração ficar ainda mais difícil.
Um solavanco e eu perdi tudo. Em um grito rouco e desesperado me desfiz sentindo tudo dentro de mim vibrar elétrico e sem controle. Tive a impressão de molhar tudo com a força do orgasmo que senti e no meio disso tudo ainda não tinha parado. Sua mão livre estava em meu seio apertando-o sem qualquer delicadeza, atormentando-me ainda mais.
E eu estava amando.
— Por favor. — murmurei ainda mole.
— Por favor o quê? — sorriu inocente depois de lamber os lábios longamente, fazendo-se de desentendido.
— Por favor… Me fode.
Esfregou o queixo pensativo por um segundo. Seus dedos correram pelo próprio cabelo enquanto ele voltava a sentar-se sobre os calcanhares. A visão de seu peito nu já me enchia a boca d'água e as entradas em seus quadris escondidos pelo nó da toalha fazia a excitação em mim reacender como se nunca tivesse ido embora. Algo dentro de mim dizia em voz alta, sem tentar esconder, que eu nunca teria o suficiente daquele homem.
Quase como uma dança lenta foi se despindo em minha frente, sem pressa de mover sua única peça, os olhos pregados nos meus. Até mesmo o jeito desajeitado como jogou a toalha para longe parecia erótico o suficiente para me fazer gemer.
Sem qualquer aviso ele me puxou pelas coxas e abriu minhas pernas ao mesmo tempo, tudo que senti foi minha bunda bater contra suas coxas antes dele me penetrar com força arrancando um grito do fundo da minha garganta. Minhas mãos voaram seus ombros fincando as unhas em sua pele na tentativa de aliviar a pressão insuportavelmente deliciosa dentro de mim me preenchendo por completo.
— Mãos no colchão, .
Obediência nunca foi meu forte, mas seu tom austero e sexy me obrigaram a colar as palmas das mãos contra a colcha da cama. O modo como ele surrava tudo dentro de mim com violência saindo quase completamente antes de entrar tão fundo em mim que suas bolas batiam em minha bunda também ajudava a não me deixar pensar.
Foder com era sempre bom, o homem sabia como me tratar do jeito que eu queria, mas foder depois de uma briga com ele era muito melhor.
Eu estava suada, dolorida e com todos os músculos do meu corpo implorando para apertarem o homem dentro de mim, quase como se eu já não tivesse tido uma pequena tortura momentos atrás. Só que esse era o problema comigo, eu era gulosa e gananciosa e queria todo em uma só mordida.
— Mais. — grunhi em meu último fio de voz concentrando-me em manter as mãos sobre a cama e não arranhando seu peito com tudo que tinha.
Só soltou uma risadinha sem abrir a boca e em seguida eu fui tomada pela absoluta certeza de que poderia morrer de um orgasmo.
Suas mãos apertaram firmes e cruéis em meu pescoço e um soluço saiu de mim enquanto ar era cortado de mim. Seu quadril martelou contra mim em uma frequência diferente, mais rápida e entrecortada, sua pelvis raspava nada suavemente contra meu clitoris inchado e torturado mandando choques por todo meu corpo. apoiou um pouco mais de seu peso sobre mim e apertou mais minha garganta e eu esqueci tudo ao redor de mim.
— Goza pra mim, . Goza no meu pau.
Puro deleite e galáxias a minha frente, fontes de leite e mel, o próprio paraíso abriu suas portas e eu fui lançada longe dentro dele. Possivelmente eu gritei. E molhei sua cama com um esguicho* no processo. Contudo eu estava longe demais para me importar.
Quando meu coração voltou a bater normal eu percebi saindo de dentro de mim deixando um vazio dolorido para trás. Ele terminou sobre meu vestido manchando o veludo logo acima da minha barriga.
Ao menos consegui fazer uma careta, estava acabada ali, fiquei largada no lugar tentando recobrar meus sentido antes de tentar falar qualquer coisa. , ao contrário de mim, parecia perfeitamente bem. Puxou-me para seu braços depois de se jogar na cama e então nossa cena saiu, não tinha mais nenhuma dominação ou submissão no colchão, só e deitados lado a lado tentando ler a alma um do outro.
Foi ele quem me beijou. Olhos fechados e mão na bochecha, lento e doce. Quase como se quisesse falar algo com aquilo. Algo que eu queria saber, mas não entendia.
— Eu amo você.
Fui eu que falei em um sussurro ridículo apertando os olhos de vergonha logo em seguida. Havia sido levada pelo beijo, tentada a decifrar o que ele queria dizer. Já havia dito eu te amo diversas vezes em diversas ocasiões para muitas pessoas, não era do tipo que tem problemas com as três palavras. Já por outro lado parecia ter. Ou pelo menos era o que seus olhos arregalados e congelados pareciam dizer.
Sua boca abriu e fechou diversas vezes sem qualquer palavra passar por elas e eu me senti ainda mais sem graça.
— Você não precisa dizer nada, . Eu só… Eu não queria falar assim, me desculpe.
— Não peça desculpa. Eu só estou… surpreso.
— Porque eu soltei um eu te amo depois de gozar? — tentei fazer piada, mesmo tendo plena consciência de que deveria estar da cor de um pimentão. — Quem nunca, não é mesmo?
Ele deu uma risadinha e me beijou sem dizer mais nada, seu nariz roçou suavemente contra o meu depois que largou meus lábios. Um suspiro e ele olhou dentro dos meus olhos miticamente antes de falar:
— Eu vou fazer a gente dar certo, amor. Você vai ver.
As borboletas idiotas voltaram a voar dentro de mim, desta vez com ainda mais vontade. Eu não tinha ideia dos planos de e pouco podia me importar naquele momento, não quando os braços do homem que eu amava me seguravam contra ele e seus lábios estavam sobre os meus.


Parte III – O Adeus

— A menos que você tenha perdido as mãos ou morrido, atende essa droga de telefone ou retorne rápido. Você está super atrasado , temos uma reunião em cinco minutos, apareça logo! — segurei o impulso de jogar o celular após encerrar a ligação embora eu quisesse quebrar tudo a minha volta.
Eram dez horas da segunda-feira e eu havia ido de flutuando em uma nuvem para borbulhando de raiva em três ligações não atendidas.
Meu final de semana com havia sido sensacional. Após o incidente do eu amo você foi como se a parede entre nós tivesse caído. Café na cama e banho juntos, sair pra jantar e assistir um filme da Jennifer Aniston no sofá de sua casa foi nossa versão de brincar de casinha e eu havia amado.
Isso até ele sumir completamente nas primeiras horas da manhã de segunda-feira.
Ouvi ele se movimentar no banheiro e na cozinha, mas me recusei a abrir os olhos antes do despertador tocar. Eu deveria, entretanto. A última lembrança dele mais cedo era de me beijar todo perfumado e sumir pela porta. Desde então o homem estava completamente fora do radar. Não atendia nenhuma ligação, respondia mensagens ou ligava de volta para falar que estava tudo bem.
Eu já havia criado milhões de cenários em minha cabeça, um em especial onde ele me deixava em sua cama para voltar para sua família mexicana na qual ele era pai de três crianças e era casado com a Salma Hayek. A pequena lembrança dos olhos castanhos dela foi o suficiente para me fazer discar o ramal de Alissa rapidamente.
— Alguma notícia, Alissa?
— Nenhuma por enquanto, mas seu cliente já está aqui, Doutora . Posso mandá-lo para sala de reuniões? — Alissa sussurrou contra o telefone provavelmente tentando se manter baixa na frente do cliente que nada sabia de nossos dramas naquela manhã. Sem saída confirmei antes de desligar.
Agarrei minhas pastas e papéis e tentei ligar uma última vez antes de sair para a reunião, dessa vez a ligação caiu direto na caixa postal.
— Vou matar você, . E não do jeito bom.

Já era por volta de meio dia quando eu e meu cliente entramos em um consenso e enquanto parte de mim estava tranquila que tudo tinha corrido bem a outra estava quase passando mal sem ter notícias de . E justamente essa parte quase morreu quando viu Mark parado em frente a porta da sala de reuniões com o olhar mais inexpressivo de todos direcionado a mim.
Oh não. Salma Hayek, sua cretina!
— O que foi? — perguntei tentando manter a compostura que ainda me restava — Alguma notícia de ?
— Na verdade sim, mas nada boa . — meus joelhos amoleceram quando suas palavras penetraram meus ouvidos e a cor deve ter escapado de meu rosto, pois Mark deu um passo para frente segurando meu braço na intenção de me amparar, seu olhar finalmente ganhando expressão — Não ruim desse tipo, , pelo amor de Deus. Só acabei de saber que o não trabalha mais aqui.
— Como assim?
— Ele me ligou agora pedindo pra dar todos os casos em aberto dele para você, porque ele está trabalhando para Sidley Austin. — ele havia largado meu braço e a preocupação já havia escorregado de seu rosto. Agora ele só estava puto. — Muito obrigada, .
— Mas eu não…
— Você não ficou igual o Grilo Falante no ouvido dele que ninguém aqui podia saber de vocês? Que você tem alguma insegurança com seu trabalho? — seu tom acusatório me acertou como uma faca afiada. E apesar de querer me isentar de qualquer culpa aquilo realmente parecia algo que eu mesma tinha causado.
— Ele não falou nada disso pra mim durante o final de semana, Mark. Eu não sabia que ele ia pedir demissão ou que até já tinha outro emprego.
— É claro que ele já tinha outro emprego, o cara recebe propostas a cada ida ao tribunal. — Mark rolou os olhos e me puxou junto com ele pelo ombro para seguirmos nosso caminho até a recepção. — Vá buscar sua bolsa, vamos almoçar e você vai me contar essa história toda. Aliás, isso tudo não foi por causa do Andrew, foi? — sussurrou cúmplice, os olhos apertados para mim.
— Não, Sr. Ciuminho. — resmunguei irritada — E aliás… Golpe baixo, Mark.
O homem não respondeu em voz alta, o sorrisinho convencido em seu rosto respondia por ele. Rolei os olhos para sua petulância e fui buscar minha bolsa apesar de não sentir um pingo de fome no momento.
Antes de sair da minha sala fiz uma última tentativa de contato mandando uma mensagem: “O que quer que esteja acontecendo, por favor, fale comigo. Vamos resolver isso.”.
Pelo resto do dia meu celular ficou sobre a mesa sem receber qualquer resposta de e eu esperava, de verdade, que aquela dorzinha pungente em meu peito fosse o princípio de um ataque cardíaco e não um sinal evidente do meu coração se partindo.

Seis e vinte e cinco da tarde e eu ainda estava terminando de organizar minhas coisas em minha sala sem pressa. Não estava com tanta vontade de voltar para minha casa tão cedo e encarar meu sofá manchado de cera que não tinha mais concerto e lembrar que todas as vezes que meu celular tocou durante o dia não havia por causa de .
Eu me sentia patética e óbvia ao mesmo tempo. Patética por ter sido a primeira a dizer eu te amo. Óbvia porque, bem, esse era o tipo de cara que eu atraio de qualquer jeito, o que sabe fugir como ninguém. O tipo que arruma um emprego do outro lado da cidade e nem te dá notícias.
O telefone tocou sobre a mesa, o ramal de Alissa iluminado no teclado. Limpei minha garganta dolorida antes de atender.
— Pronto.
, — sussurrou tão baixo que eu mal podia ouvi-la. — Doutor está na sala dele com Mark. Entrou com uma caixa plástica enorme, acho que está recolhendo os pertences.
Alissa era o tipo de pessoa prática que junta um mais um mais rápido do que a velocidade da luz e te ajuda sem ao menos você pedir. Ela desligou antes que eu falasse qualquer coisa e eu deixei tudo em meu computador aberto e sai da sala como um raio.
A porta de estava fechada quando bati na mesma, mas não esperei uma resposta para entrar. Mark estava com os braços cruzados sobre o peito, em seu rosto uma expressão confusa, um misto de desagrado com admiração. por sua vez estava ocupado demais organizando os livros de sua prateleira dentro da caixa para notar quem havia entrado.
— Doutor Finnigan o senhor pode nos dar licença um minuto? — pedi educadamente segurando meu último punhado de calma entre os dedos.
— Na verdade… — ele começou, mas meu olhar severo sobre ele o fez parar.
— Sai, Mark. — grunhi entredentes.
Meu chefe fez uma careta antes de levantar as mãos e sair sem dizer mais nada.
Apesar de minhas mãos estarem suadas e tremendo tentei manter minha pose. As borboletas em meu estômago tinham virado vespas e estavam o ferroando em todos os lugares, embrulhando-o. Nem ao menos sabia o que falar. Todas os roteiros em minha cabeça terminavam como eu parecendo a esposa traída e histérica que joga qualquer objeto cortante a mão em direção ao marido.
Esperei por quase dois minutos ele dizer alguma coisa. Qualquer coisa. Mas ele continuou a juntar suas coisas calmamente sem me dar atenção.
— Eu estou tentando manter a calma aqui, , juro que estou. E ajudaria muito se você pelo menos olhasse para mim e dissesse que merda está acontecendo. — soltei sem deixar a insegurança e a raiva me levarem naquele coquetel perigoso.
Ele congelou no meio de colocar um porta retrato encaixado entre os livros. Um breve instante antes de levantar a cabeça e me encarar com aquela droga de olhos . Sorriu sem mostrar os dentes e voltou a empacotar suas coisas.
— Recebi uma proposta e estou trabalhando com Sidley Austin agora.
Meu queixo caiu com seu tom simplório, como se não fosse nada demais largar o escritório no qual advogou por anos.
— Fiquei sabendo. — retruquei azeda. — Por Mark, alias. Porque você não podia atender a merda da minha ligação.
Nada. Nem uma mexidinha no ombro para mostrar que eu tinha atingido algum nervo, por menor que ele fosse. Continuou organizando suas canetas dentro de um porta-caneta e encaixando-o dentro da sua caixa. Não me aguentei mais, dei a volta na mesa e segurei seu pulso obrigando-o a me encarar.
— O que está acontecendo ? — saiu como uma súplica de mim — É por causa daquilo que eu falei? Eu retiro! — e lá se ia toda minha atuação de não ser a esposa traída e histérica, eu estava no meio de um colapso nervoso — , eu não amo você.
O loiro suspirou resignado e me olhou, um sorriso no canto da boca se fazendo presente, e me deu um beijo tentando salvar minha dignidade de dizer mais alguma estúpida.
— Não é por causa do que você falou,. Talvez em parte, mas não do jeito que você está pensando. Eu tinha planejado te contar de um jeito diferente, mas infelizmente Mark ficou chateado porque não queria que eu saísse…
, sua vida toda é aqui, você é praticamente o rosto da Marbles & Finnigan’s. Por que sair agora?
— Porque eu disse que ia fazer a gente dar certo. Porque eu não aguento mais ver você dividida entre seu emprego e nosso relacionamento. — deu ombros e voltou a jogar suas coisas dentro da caixa, terminando sua mesa. — Dizem que amar é fazer sacrifícios e… Eu amo você, .
Meu corpo e mente estavam em extremos ligados no modo histérico ainda. Lágrimas inundaram meus olhos e deixei meu corpo cair sobre sua cadeira chique. Tudo estava embaralhado e confuso. Ao mesmo tempo em que queria ficar furiosa com seu sumiço, a sua explicação derretia até o último bloco de gelo dentro de mim.
— Droga, isso não é justo. — resmunguei esfregando os olhos.
ajoelhou a minha frente preocupado porém rindo. Seu polegar varreu uma das lágrimas que conseguiu escapar e plantou um beijo em minha bochecha.
— Eu sei, desculpe. Queria ter feito isso durante o jantar, de preferência sem ter deixado você nervosa durante o dia todo, mas eu estive tão ocupado. Vou compensar, juro. Estou repensando nossa política de zero açoite… — balançou as sobrancelhas sugestivamente e me fez gargalhar engasgada com meu choro.
— Não isso! — ri empurrando seu ombro — Mas adorei a ideia. Quis dizer que não é justo que você seja a pessoa da relação que falou as três palavras sem estar na cama depois de gozar.
— Se você me der uma segunda chance eu posso falar lá também, nenhum problema pra mim. Só preciso de um favor antes.
— O quê?
— Preciso que você retire que havia retirado que você me ama.
— Considere retirado. Eu amo você, . — sorri para o homem e ganhei um beijo como recompensa, porém não me deixou ir além quando tentei puxá-lo contra mim. Ficou em pé limpando a garganta com uma tosse.
— Mark com certeza está do outro lado da porta com mais gente esperando para me dar tchau. — falou apologético juntando sua caixa e então se curvando para me dar um beijo na testa. — Vamos , nosso primeiro jantar como um casal oficial nos aguarda.

Eu não precisei falar nada, só o segui pela porta que do outro lado realmente tinha um punhado de pessoas e enquanto segurava uma caixa enorme cheia das suas coisas com um braço, o outro estava enrolado em minha cintura. Pela primeira vez eu não senti como se várias aranhas andassem sobre mim, desconfortável com algum possível olhar de reprovação, nossos colegas nos olhavam admirados e até mesmo com carinho.
E então eu me senti boba por um breve segundo por ter colocado tantos empecilhos em nosso caminho. Eu realmente amava um homem. Um cheio de defeitos, manias e um habito irritante de tentar seguir os conselhos idiotas do melhor amigo. Mas era um homem disposto a fazer sacrifícios por mim.
Resignei-me a encostar a cabeça em seu ombro em nosso caminho para sua casa, o som do carro ligado tocando alguma canção do começo dos anos 2000. Eu, Ridícula e Monstrinho estávamos na mesma estação de tranquilidade e leveza naquele momento, afogados em uma doce notícia:
amava .
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Glossário
¹ Do inglês spill the beans, significa ‘abrir o bico’.
² Invocar seu direito a quinta emenda dos EUA, nesse caso ele alega o famoso direito de se manter calado e assim evitar uma possível autoincriminação.
³ Overdressed: quando você veste roupas formais ou para alguma ocasião especial em um ambiente informal.
* De squirt, popular ‘ejaculação feminina’.


Fim.



Nota da autora: Eu só comprei esse vestido pra você tirar, bebê!!!!
Ok, tirando isso do caminho, aí estão meus filhos novamente. Queria pedir desculpas por eventuais decepções, é isso gente, eu sou péssima com continuações (assim como eu sou em responder mensagens e atender o telefone).
Você encontra mais das minhas histórias (péssimas, indico!) aqui! Você também me encontra no twitter no @weirdokiddos.
Essa história é dedicada as minhas famosas melhores amigas, obrigada por lerem e avisarem quando eu sou péssima com continuidade de cenas. Eu amo vocês, meninas!
E vocês já sabem nosso esquema: se gostou não esquece de comentar e indicar pras amigas e se não gostou indica também, porque amigas que odeiam fics juntas permanecem juntas!





Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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