Ultima atualização: 14/04/2018

Capitulo Único

Prólogo 28 de junho

As curvas já não eram tão aparentes. O corpo já não era totalmente durinho. Os seios já não de destacavam como antes e as estrias eram aparentes no bumbum. Suas olheiras não saiam por nada e o cansaço estava aparente em seus olhos. Não saia há tempos. O único caminho que percorria era o da cafeteria até o trabalho do trabalho pra casa. Não via sentido em mais nada, já tinha pensado em milhões de possibilidades. Mas nada parecia resolver. Desde que tinha perdido o bebê e seu marido ido embora ela se sentia sozinha. E consequentemente estava. Sua ultima opção seria procurar um médico, mas seu esgotamento emocional parecia ter superado sua expectativa de vida. Por isso fechou os olhos nas poltronas de couro até ouvir seu nome ser chamado.
) , o Doutor Harding disse que já pode entrar.
Sabia que não existia por que tal decepção com psicólogos. Mas não gostaria de precisar frequentar algum. Tinha uma ideia fixada na mente de que sua mãe havia ido embora graças a um deles, quando isso não passava de uma lenda em sua cabeça.
Entrou no consultório e observou as paredes nude do lugar, alguns quadros de frases motivacionais na parede e o divã. O médico em que havia recebido indicações de sua colega de trabalho estava sentado com a cabeça baixa e demorou alguns segundos até perceber sua presença ali. Mas quando percebeu levantou-se rápido demais.
— Mil perdões, estava checando sua ficha, seu nome é , certo? Sou Harding.
— Satisfação, Doutor.
— Sente-se, . O que te trouxe aqui?
— A psicologia?
Repreendeu a si mesma, e viu que ele havia sorrido.
— Temos alguém da defensiva. Vamos começar novamente, me diga o que te trouxe até o estado atual.
— O deplorável que está minha aparência?
— Quem lhe disse que sua aparência está deplorável?
— Eu tenho espelho, Doutor.
— Pois eu acho que seu estado psicológico é que está escasso, se você melhorar sua forma de pensar vai perceber a mulher maravilhosa que você é. Me conte detalhadamente quando tudo começou.
Ela suspirou e fechou os olhos, estava contando minha vida trágica para um psicólogo bonitão. Isso não parecia ser uma boa ideia.
— Foi dia 23 de Dezembro do ano passado.
Percebeu que ele anotava algo e colocou o caderno de lado. Escorando a mão no queixo e lhe escutando.
Flashback: 23 de dezembro, 2017 O dia não parecia ter amanhecido da forma certa. Melanie não havia se mexido na barriga e me acordando como usualmente. tinha precisado de sair pra resolver negócios da Interprises Costa e eu estava sentindo uma cólica fora do normal. Rolei da cama caminhando até o banheiro fazendo minhas necessidades matinais e senti a cólica cada vez mais forte. Deveria ser o início de alguma contração. A médica tinha dito que ao alcançar os oito meses eu sentiria algumas delas. E como eu iniciava os oito meses hoje, seria apenas algum efeito.


15:34
não atendia o telefone. a não estava na cidade e eu não sabia exatamente o que fazer. A dor não parava e estava tornando-se insuportável.
Sua chamada está sendo encaminhada para caixa postal, deixe seu recado após o sinal.
Bip
Chamada finalizada, era a vigésima vez que eu ligava pra ele e eu fechei os olhos ao sentir uma pontada forte e algo escorrendo entre minhas pernas.
Não podia ser.
Era sangue.
Não podia ser.
O barulho do portão de garagem se fez evidente e eu tentei chamar mais alto, mas ele não escutava então ao vê-lo entrar apenas choraminguei palavras desconexas em meio a dor e vi me olhar assustado. E no segundo seguinte me pegar no colo, eu desfaleci em seus braços.

25 de Dezembro, 2017

Depois do momento insolente só abri os olhos e encarei a sala branca e um médico parado em minha frente.
— Senhora , finalmente.
— O que aconteceu comigo?
— A senhora está bem agora.
— Meu bebê está bem? Onde está meu marido? O que diabos aconteceu?
— Você sofreu um aborto, senhora. Seu marido saiu noite passada para comprar um cigarro e espairecer. Eu sinto muito.
Eu não acreditava naquilo.
Não podia ser verdade.
Fim do flashback.
— Ele nunca mais voltou?
— Nunca.
— Teve notícias dele?
— Está na França. Irônico não? Foi comprar um cigarro.
— Eu entendo sua dor, . Mas quando foi que você esqueceu de si mesma? Quando foi que deixou de amar a si própria.
— No momento em que eu não me achava bonita ao me encarar nos espelhos. A partir do momento em que eu parecia pedir socorro pra única pessoa que eu tinha. Eu mesma.
Parte 1
Por mais que detestasse admitir, ter desabafado havia aumentado suas perspectivas e pretendia voltar até lá. Contudo, sabia de sua insegurança em aproximar-se do lugar novamente. Ele tinha feito-a falar coisas que nunca tinha dito á ninguém. Tampouco a Iana, no fundo se arrependia de ter deixado a amiga de lado e sabia que estava errada, mas não tinha coragem o suficiente para voltar atrás. Então apenas relevava e continuava relevando a vida sem amizades ou sequer pessoas perto de si. Claramente em uma cidade daquelas todos já sabiam do que havia acontecido, mas ninguém teria tentado ajudar. Ou talvez ela não tivesse dado abertura para tal fato e agora tinha deixado Doutor entrar em sua mente contrariando todas as coisas que tinha decidido acreditar até aquela fase da vida. Observou-se no espelho pensando que podia fazer algo para mudar aquilo. Mas não queria mascarar o que sentia. Tinha perdido os contratos antigos e desde então trabalhava em uma agência de modelos na área interna. Preferia esconder-se de todo aquele mundo, afinal, ela não era mais uma delas.
Sentou-se em sua cama e lembrou-se das palavras de Lauren antes de suspendê-la por um tempo, a patroa queria lhe dar um tempo de descanso, um tempo pra si mesma e ela começava a assumir que meses depois do ocorrido precisava de aprender a se amar. Precisava voltar a ser ela mesma, mesmo que isso demorasse um tempo e ela precisasse de ajuda.
Jogou água no rosto e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e pegando a primeira roupa que viu no guarda roupa, tinha marcado uma segunda consulta com Doutor . Encarou a roupa pela última vez no espelho e percebeu que havia uma foto de um ensaio antigo da Stilish e notou suas curvas na foto. Era a capa de uma revista que mantinha a seguinte frase.
conta como faz pra manter o corpo perfeito e a relação com o CEO Costa.”
Riu fraco mentalizando no quanto tudo aquilo era uma fantasia, por mais que no inicio amasse as manchetes, o mundo perfeito e todas as outras coisas. Percebeu com tempo que tudo era uma fantasia real. No fundo culpava-se por ter perdido o tão sonhado filho, sabia bem o que tinha causado tudo aquilo. Sabia bem que tudo não passava de uma luta pelo corpo perfeito imposto pelas revistas e pelo mundo da moda, sabia que a bulimia havia aparecido depois de ver tantos corpos perfeitos e se empenhado para alcançá-los, no entanto havia causado danos que ela não gostava, danos que haviam acabado com seu casamento, mesmo sabendo que havia se tornado uma fantasia com o tempo, mas que talvez pudesse ter recuperado se não tivesse tantos problemas.
Talvez se não tivesse tido tanto foco na carreira de modelo.
Talvez se não tivesse deixado sua bulimia tomar conta de si.
Talvez se tivesse dado mais do que ele queria.
Eram tantas possíveis possibilidades, mas atualmente havia perdido tudo pra tristeza. Diziam que depressão era excesso de passado e ela era comprovadamente aquela teoria, sabia que tinha desencadeado aquela bendita doença por ter pensado demais no que havia acontecido, por se remoer pelos fatos que antecederam os últimos meses. Por culpar-se demais pelo fim de todas as coisas boas que tinha na vida. E o pior de tudo, é que não tinha a mínima ideia de como sair do poço que ela havia se afundado.
27 de julho, 16:22
As paredes do consultório pareciam mais escuras naquele dia, estava no divã há quase uma hora e ela simplesmente não conseguia responder a pergunta que lhe foi feita.
?
— Sim?
— Você não me respondeu.
— Não consigo.
— Digamos que você pudesse desabafar e colocar todo sentimento que ficou guardado em relação ao seu ex marido, o que diria?
— Não sei o que diria, não acho que exista alguma coisa que eu deveria falar.
— Posso lhe perguntar algo?
— Acho que sim.
— O casamento de vocês, como era?
Ela suspirou e passou a mão no rosto. Eram essas perguntas que fariam ela relembrar tudo que havia acontecido e não sabia se gostava disso.
— É necessário?
— Eu quero te ajudar e para que isso aconteça preciso saber do inicio.
— Nos conhecemos quando eu desfilei para Vogue, ele e mais alguns CEO haviam sido convidados para prestigiarem a entrada VIP.
— Quem se aproximou primeiro?
— Está tentando parecer meu amigo ou meu psicólogo?
, estou tentando lhe ajudar.
— Minha empresária me apresentou á ele, disse que ele era um ótimo partido e seria bom pra minha divulgação.
— Prossiga.
— Nós começamos a frequentar alguns eventos juntos e depois disso foi tudo muito rápido. Saímos em dois encontros antes dele me pedir em namoro.
— Ainda era pela sua divulgação?
Ela respirou fundo e parou pra pensar, confessava que havia se esquecido disso, dos termos, da divulgação e da imagem que ambos precisavam transmitir.
— Eu acho que não.
— Por quê?
— O que?
— Porque você acha?
— Pelo fato de eu não ter certeza.
— E porquê não tem certeza?
Aquilo parecia ser pressão demais. Perguntar o por quê de algo que nem ela sabia responder, não tinha motivos pra isso, na verdade não sabia responder quando é que havia deixado de ser por divulgação, quando tinha se tornado amor? Se é que havia tornado-se amor. Lembrava-se de como era quando finalmente havia se casado com , pareciam uma maquina de fazer sexo. Não que fosse ruim, de longe. Mas não queria só sexo, precisava de mais. De amor, de carinho e de alguém que a acolhesse e livrasse-a do universo perfeito da moda e por isso acabou entrando no mundo da fantasia do casamento perfeito, até perceber que quando engravidou, tudo mudou. O corpo mudou, o contrato com a Vogue foi desfeito, a disposição não era mais a mesma e consequentemente, assumindo pela primeira vez. Ela não era mais quem queria, ele estava apaixonado pela ideia de estar com uma das modelos preferidas do mundo da fama. Não por . Percebeu que lhe encarava analisando alguns pontos e via que ela estava em uma conversa com a própria mente. Ela havia percebido após meses que seu relacionamento não passava de uma idealização de casal ideal para a mídia. Havia se casado rápido demais, já que aparentemente tudo parecia ideal, tudo sob mil maravilhas. Até que precisou perder tudo pra entender que não era bem assim.
Não soube o porquê, mas sorriu.
Parecia ter tirado um peso de si, o peso de achar que ela havia sido o pivô da separação, perceber que estava o tempo todo numa idealização de relacionamento perfeito, quando na verdade, era algo podre que havia feito com que tudo acabasse.
— Porquê você se culpa pelo fim do seu casamento?
— Não existem motivos pra isso, Doutor. Eu não sou culpada.
— Você não é culpada por nenhum dos seus fantasmas, . Só precisa entender isso.
— Não sei se é tão simples.
— Para isso eu estou aqui.
Parte II

Sabia que nunca tinha tido coragem de realizar o pedido de divórcio. Nunca soube como enfrentar tudo isso, sabia que no fundo precisava de alguém para auxiliá-la e para isso se viu na porta do apartamento de Iana. Desistiu pelo menos cinco vezes antes de pressionar a campainha e quis sair correndo quando a amiga abriu a porta e a encarou como se fosse um ser não humano.
?
— Se não mudaram meu nome, sou eu mesma.
— Não acredito.
— Não vai me convidar pra entrar? — Viu a amiga bater a mão nos olhos e respirar fundo.
— É claro, entre e fique a vontade.
Observou o lugar e nada havia mudado, recordava-se das seções sem culpa de lanche ali e do quanto se divertia. Aquele lugar transmitia lembranças boas á ela. Pela primeira vez o passado não á fez mal. E aquilo era surpreendentemente aliviante.
— Eu sei que é estranho e que não devia vir sem avisar, mas é que..
— Não é estranho e devia ter vindo sim!
— Eu vou pedir o divórcio do .
— Por Deus, não pediu divórcio daquele embuste até hoje? — Encarou a amiga dessa vez como se ela fosse algum ser de Marte.
— O que diabos é embuste?
— Linguagem dos jovens.
Não pôde evitar de rir fraco, Iana era mestre nisso em animá-la.
— Eu sei que soa estranho, mas é que eu não queria ir sozinha até lá.
— Até o cartório?
— Até lugar algum, acho que preciso de alguém comigo de volta. Mas se você não quiser, vou entender perfeitamente.
— Mas é claro que eu quero mulher, venha aqui e me dê um abraço.
Hesitou alguns segundos, suspirou ao menos três vezes e abriu os braços minimamente para abraçar a amiga. E recebeu de volta um abraço calorento. Ela sabia que amizade tinha feito sida para isso. Para uma ser a base da outra e pretendia não perder a base nunca mais.
28 de agosto, 17:34

Tinha acabado de sair da sétima consulta e orgulhava-se de dizer que tudo parecia estar melhorando. Viu a porta do consultório abrir novamente e questionou se havia esquecido algo lá dentro. Mas viu pedir para que ela se aproximasse.
— Eu sei que corro um risco gigante de que você não aceite, mas eu queria te ver qualquer dia desses.
Ele a via em todas as consultas. Pelo amor á Odin, o que significava vê-la? Sua expressão provavelmente o fez reformular a frase.
— Queria vê-la fora daqui, tomar um café..
— Quer sair comigo, Doutor?
— Sim, mas sem ser como Doutor.
— Isso não quebraria suas regras?
— Você aceita, ?
— Qualquer dia, sim.
— Agora?
— Minha amiga me espera lá fora.
— Amanhã?
— Amanhã.
O que tinha acontecido ali não estava claro em sua mente, mas ela tinha certeza de uma coisa. Havia acendido algo dentro de si, uma faísca de auto estima, de vontade de mudar algumas coisas. Estava chegando á hora de mudar. Depois de mais de dois meses de tratamento, dez consultas, precisava de mostrar resultados externos.
— O médico bonitão me chamou pra sair.
— É o que mulher? — Iana gritou.
— Fala baixo.
— O que foi que você disse?
me chamou para um café.
— Você precisa de uma…
— Sessão shopping, eu sei.
— Eu não ouvi isso.
— O que criatura?
— Depois de longos meses você vai ao shopping.
— Repita isso de novo e eu repenso sobre isso.
— Não ouse, você sabe que precisa disso e já para o carro.
Estava começando a viver novamente.
E tudo graças a tudo que lhe fez voltar a ter amor pela vida. Pela sua vida.
Dia seguinte, 10:33
Não recordava-se da última vez que tinha visto o cabelo com aquele brilho, com as ondas que tanto amava. Não recordava-se da pele tão bem preparada pela maquiagem destacando os olhos, a calça jeans e a sapatilha. Sem todos aqueles saltos gigantes, a camiseta preta com o quimono preto de lã caindo em seus braços. Estava se achando bonita especialmente naquele dia. E não não dizia pela aparência externa. Sentia-se bonita por dento e isso era essêncial
Parte III, narração por .
Nunca duvidei que fosse linda, talvez por saber que em meio a tantos fantasmas, traumas e dores existia algo surpreendente dentro dela. E eu havia acertado. Observei a mulher em minha frente sentada naquela mesa de cafeteria e todo o resto parecia ser invisível diante do brilho dos olhos dela. Em meio á alguns assuntos aleatórios precisei parar para admirá-la e fui descoberto. Ela riu de algo e parecia ser de mim, mas não podia parar pra descobrir o que era. Eu estava alucinado demais pelo sorriso dela. Eu não havia amado ninguém desde a morte de Clary, não havia visto graça em ninguém. Até ver e parecia que até as pequenas coisas que ela considerava defeitos me chamavam atenção.
— Estou ficando assustada pelo seu olhar, .
— Não precisa. — Ri de lado e continuei captando os pequenos detalhes.
— Estava me analisando? Achei que não estivessemos em consulta.
— Dessa vez minha análise era pessoal.
— E o que concluiu?
— Que você é linda. — A vi ruborizar e sorrir abaixar o rosto, quem era bonita com vergonha. Por Deus. — E que esse é o primeiro lugar de muitos que eu quero te levar.
— Talvez eu também queira isso.
— Eu sou seu psiquiatra, . Não pode esconder suas coisas de mim.
— Eu sei bem que não e sou grata por me ter trago pra vida de novo.
— Por sair hoje?
— Pelos meses de tratamento, mas por hoje também.
— Não precisa agradecer.
— Sempre serei eternamente grata, e um dia ainda vou ter a forma certa de agradecê-lo.
— Talvez não me dispensar no primeiro encontro seja um bom início.
— Nunca pensei em te dispensar.
— Então já achou a forma certa de me agradecer, esse será o primeiro de muitos.




Fim?...



Nota da autora:.





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