Finalizada em: 19/01/2018

Capítulo Único

May I have your attention please?
Bullying
é a prática de atos violentos, intencionais e repetidos, contra uma pessoa indefesa, que podem causar danos físicos e psicológicos às vítimas. O termo surgiu a partir do inglês bully, palavra que significa tirano, brigão ou valentão, na tradução para o português.

As pessoas agredidas pelo bullying apresentam alguns sintomas, como:

• distúrbio do sono
• problemas de estômago
• transtornos alimentares
• irritabilidade
• depressão
• transtornos de ansiedade
• dor de cabeça
• falta de apetite
• pensamentos destrutivos, como desejo de morrer, entre outros.

Em muitos casos as vítimas recorrem a tratamentos psicológicos, como terapias para amenizar as marcas deixadas pela agressão.
Se você estiver lendo isso, provavelmente deve saber um pouco sobre do que estou falando. Sei que não é uma coisa fácil de lidar e, sem o apoio de ninguém é ainda mais difícil se livrar de tudo o que te atormentou uma vez na vida.
Eu sei disso, pois estou vivenciando esse momento. Sei disso, pois eu apenas fui mais um que não conseguiu escapar deste destino (triste) que a vida sempre traz ara alguns. Mas eu sei que vou sair dessa. Sei muito bem disso.
E eu espero que eu consiga.
De verdade.
E por favor, caso você esteja passando por esse momento também, saiba que não está sozinho.
Em hipótese alguma.

Fique bem,
De seu amigo, Jason.


12 de outubro de 2012
Hoje é mais um daqueles dias onde você não sabe onde se encaixa.
Já parou para pensar em como é estar em um lugar e sentir que não pertence ao recinto? Que todas as pessoas ao seu redor não estão nem aí para você e são muito melhores e bem resolvidas? Às vezes isso me irrita, mas não posso fazer nada. É a minha vida e eu tenho que aprender a lidar com tudo isso.
Algumas pessoas dizem que isso é normal, que vai passar, mas e se nunca passar? E se por ventura acontecer de isso virar rotina? As pessoas saem, socializam, beijam na boca, namoram e se divertem. E eu? O esquisito, nerd, mal entendido, sem graça... Onde me encaixo nesse patamar?
Adolescência sempre é encarada como um sinônimo de aventura, mistério, descobertas, algo bom que todos no mundo já passaram ou vão passar por isso, porém, nem sempre é como todos dizem ou esperam ser.
Eu juro por Deus que tentei mudar. Só Ele sabe como eu tentei mudar para que pudesse tentar me encaixar. Tentei ser outra pessoa para que pudesse agradar todos a minha volta e ganhar algum lugar perto de uma pessoa. Ser querido por alguém. Mas infelizmente não deu.
Eles me devastaram como um furacão devasta os lugares por onde passa. E eu tive que me reerguer com a ajuda de terceiros.
Não é feio pedir ajuda aos outros.
Feio é tentar mudar seus hábitos por pessoas que não valem a pena.
E eu estava pronto.
Eu precisava daquilo mais do que nunca.
E se você precisar também, peça ajuda.
Ajuda nunca é demais, muito pelo contrário é sempre bem-vinda.


De seu amigo, Jason.

20 de outubro de 2012
Terapia não é lá uma das coisas mais legais igual à maioria das pessoas falam. Eu me senti deslocado. Ainda me sinto, mas o que posso fazer? Eu aceitei tudo isso, não aceitei? Tenho que ir em frente.
O bom é que eu não estou sozinho. Tem alguns jovens também e alguns passam pelo mesmo problema que eu. Eu não sabia e nem imaginava que mais pessoas passavam por esse mesmo problema. Em minha cabeça eu era o errado, entende? O mundo era diferente para mim, ou eu era diferente para o mundo e não merecia estar inserido no meio de todo mundo daquela forma. Ok, você deve ter me chamado de pessimista, mas sou mesmo. Parece que deixei de viver boa parte da minha vida me preocupando demais e dando ouvidos ao que não precisava.
Sabe, eu ainda não gosto da ideia de terapia. Ainda me parece uma coisa estranha e minha vontade é de levantar e ir embora para casa, me trancar em meu quarto e só sair de lá quando completar 30 anos. Talvez minha vida pudesse mudar quando chegasse essa idade, certo? Até lá todas as coisas já teriam melhorado e eu finalmente poderia sair por aí sem ser julgado por ninguém.
Bom, nem tudo é como nós queremos.
E felizmente (ou infelizmente) temos que seguir e enfrentar os monstros que aparecem em nossas vidas.
E eu estou tentando.
De coração...
Eu espero que funcione para alguma coisa.

De seu amigo, Jason.


27 de outubro de 2012
Eu estou parcialmente feliz pelo ano na escola estar chegando ao fim. Alguns palhaços (ou garotos. Chame como preferir) de onde eu estudo descobriram que estou fazendo terapia. Alguns pegaram no meu pé e pararam, mas outros não conseguem ver que isso já esta chato.
Isso é motivo para eu me sentir envergonhado?
Algumas pessoas ficam rindo de mim quando passo, outras me olham como se eu fosse o autor de um assassinato, alguns me olham com um tom de pena. Isso é normal? É normal te tratarem dessa forma apenas por você estar tentando ficar bem?
Eu precisava de um lugar para me esconder de tudo aquilo. O banheiro era uma ótima ideia.
Era ali meu lugar secreto. O banheiro nunca foi tão bom como naquele dia.
Eu chorei. Chorei bastante e não consegui conter tudo o que estava guardado em mim.
Porque as coisas tem que ser tão difícil assim?
Minha cabeça doía de uma forma descomunal e o ar faltava em meus pulmões para que eu pudesse reerguer a cabeça e voltar para a realidade.
Todos deveriam ter medo da sociedade: ela estraga as pessoas de uma maneira que só percebe quem é afetado. É triste ter que conviver com tudo isso sem poder se expressar. Sem ter a palavra para que tudo isso chegue até o fim.
Bom, eu ainda estou vivo, certo? Talvez isso seja um sinal.
Talvez algo bom ainda esteja por vir enquanto me mantenho firme em tudo.
Só espero que esse dia não demore.
Não sei quanto tempo mais eu aguento forçando um sorriso que não é meu.

De seu amigo, Jason.


5 de novembro de 2012
Hoje não fui à terapia. Não saí do meu quarto para nada. Minha cama hoje está mais confortável do que o normal e não vou querer sair dela tão cedo. Meus pais andam preocupados comigo desde a última vez que eu surtei.
Estávamos voltando da viagem da casa da vovó quando de repente tudo ao meu redor começou a rodar. O barulho da música me incomodava num nível que eu não conseguiria explicar. Todas as janelas estavam fechadas e eu me senti como se estivesse preso dentro de uma caixa.
Eu gritei com mamãe e com papai.
Gritei para que parassem com esse carro logo, mas não havia nenhum lugar para que eles pudessem parar. E eu estava sufocado.
Eu não conseguia ficar quieto. Minhas mãos balançavam incessantemente no ar como uma maneira de pedir ajuda. As veias saltavam de meu pescoço por conta dos meus gritos na esperança de que o carro pudesse parar e eu sair de dentro daquela pseudo-caixa.
Assim que o carro parou, no mesmo momento abri a porta e fiz questão de saltar e correr para um lugar seguro, me ajoelhando no chão e escondendo minha cabeça entre meus joelhos, buscando o ar que eu não encontrava dentro do veículo. Mamãe veio até mim e colocou as mãos sobre minhas costas, mas instantaneamente eu me encolhi ainda mais, ficando ali por um bom tempo até me entregar ao choro.
Algumas pessoas de minha família disseram que eu estou louco ou que é apenas um drama.
Mas ninguém sabe como é se sentir desse jeito.
Ninguém pode opinar sem saber como é horrível cada sensação que essa angústia nos proporciona.
Mas tudo bem, eu aguento.
Sempre aguentei.
E sempre vou aguentar.

De seu amigo, Jason.


14 de novembro de 2012
Fiz uma amizade com uma garota. O nome dela é Eva. Acho que estou gostando dela. Uma pena para ela.
Combinamos de sair para tomar um milkshake e comer algumas batatas fritas. Todos os encontros que tive na vida foram uma bosta e estou nervoso com medo de estragar algo com alguém que eu acho que posso ter alguma coisa.
Eva é um ano mais velha do que eu e também faz parte dos frequentadores da terapia. Ela é bastante linda. Parece que os anjos a esculpiram de tão bonita que ela é. Seu cabelo curto é escuro como grãos de café e seus olhos são um pouco puxados, o que faz com que ela ganhe ainda mais charme. Ela sempre brinca que seus óculos são de fundo de garrafa justamente por serem redondos, mas sinceramente? Não dá para imaginá-la com outra armação além daquela. E seu cheiro? Ah... Seu cheiro é como se todas as melhores fragrâncias de flores existentes no mundo estivessem sempre acompanhadas dela. Seu sorriso é praticamente a oitava maravilha do mundo e sua risada poderia ser o meu despertador para que assim que eu acordasse me sentisse melhor em começar o dia.
É talvez eu esteja apaixonado por ela. Mas não vou deixar que isso estrague nossa amizade.Ou vou. Não sei ainda.
Nosso dia foi melhor do que eu esperava, na verdade foi até o oposto do que eu estava esperando. Com ela eu me senti totalmente à vontade. Bem. Feliz. Confiante. Pela primeira vez perto de alguém eu me senti como se nada do mundo me afetasse. E aquilo foi ótimo.
Ela me contou o porquê de estar na terapia: o motivo era o divórcio de seus pais e seu último namorado. Pelo o que ela havia me contado ele era bastante arrogante e tratava todos os problemas que ela tinha como se fossem coisas fúteis. Meus pais nunca se separam, mas devo imaginar como as coisas devem ser pesadas para os filhos nesse momento da vida. Além de ser insensível, seu namorado era bastante arrogante e dizia que tudo aquilo que ela estava sentindo era puro drama.
Eu sabia o que ela estava sentindo e queria poder ajudá-la, mas naquele momento a única coisa que eu podia era a abraçar. E foi o que eu fiz.
Ficamos assim por bastante tempo. Apenas aproveitando o silencio e o corpo de cada um e pela primeira vez eu senti que algo estava dando certo em minha vida. É estranho como uma pessoa pode te fazer se sentir melhor e esquecer-se de todos os problemas...

De seu amigo, Jason.


01 de dezembro de 2012
Já faz um tempo que eu não escrevo e de antemão peço desculpas. Tudo está sendo muito corrido por conta dos projetos de final de ano. Tomei coragem e finalmente chamei Eva para ir ao baile de formatura junto comigo... E ELA ACEITOU!
Nunca estive tão feliz em toda minha vida por causa disso. Esqueça tudo o que eu disse sobre não gostar de terapia, pois tudo agora está se encaixando como deveria ser. Não vou dizer que tudo está 100% bom, pois não está, mas aos poucos estou conseguindo me moldar novamente.
Mamãe e papai estão orgulhosos de mim e eu posso perceber isso no jeito como eles estão me apoiando com Eva. Futuramente espero que ela seja minha namorada. Ainda não pensei muito bem em como pedir ela em namoro, porque da maneira como ela me deixa feliz, eu quero fazer algo que a deixe feliz também.
Ainda acho estranho como essa terapia está dando certo. Na próxima semana vamos fazer uma pequena confraternização e estou pensando em fazer alguns biscoitos personalizados para cada um. Ao todo temos: Eu, Eva, Isaac, Violet, Christopher, Lucas e nossa terapeuta Dr. Mônica.
Espero que todos gostem de biscoito de canela, pois essa é minha especialidade. Talvez eu leve algo a mais, como uma torta de cereja que minha mãe faz que fica uma delícia. Todos na vida deveriam comer uma vez na vida a torta de cereja dela, parece que é um pedaço do paraíso indo em direção ao seu estômago.
Acho que ouvi alguma coisa sobre meus pais dizendo sobre comprar um cachorro e eu espero muito que eu ganhe um cachorro de natal. É o meu sonho ter um cachorro, daqueles que ficam enormes e adoram ficar deitados em cima de você. Provavelmente eu ficaria deitado na neve o dia inteiro com esse cachorro gigante do meu lado e nem me estressaria com o resto do mundo.
Fico feliz de estar melhorando.
E eu espero que se alguém estiver mal, também esteja na mesma situação que eu.

De seu amigo, Jason.


12 de dezembro de 2012
EU CONSEGUI! Ela aceitou o meu pedido de namoro! Oficialmente estou namorando com Eva e estou me sentindo mais vivo do que nunca! O pedido todo foi bem articulado com a ajuda de minha mãe e de meu pai. Foram várias rosas espalhadas pelo lugar, velas, uma mesa com um jantar que eu mesmo havia preparado e uma música ambiente para que pudéssemos aproveitar tudo da maneira como deveria ser. A coisa mais simples do mundo que me tornou bastante feliz e não só a mim, mas ela também!
Todos na terapia adoraram o biscoito personalizado e alguns até ficaram com pena de comer, mas no final todos nós acabamos por comer tudo o que havíamos trago. Havia bastante comida para poucas pessoas, mas quem é o ser humano que vai recusar um banquete desses, não é mesmo?
Por um lado estou triste pela terapia ter que dar uma pausa, já que com os preparativos de fim ano Dr. Mônica entrará de férias e algumas pessoas viajarão, mas por outro lado estou muito feliz, pois me sinto outra pessoa. Uma pessoa melhor do que a do inicio e só tenho que agradecer por tudo isso ter acontecido em minha vida.
Eu, desacreditado de tudo, nunca acreditei que um dia eu poderia ficar assim, ou melhor, que em pouco tempo eu conseguiria me sentir melhor do que um dia eu já me senti em minha vida. É estranho como a vida pode reservar várias coisas boas para nós em questão de tempo, não é mesmo? E sou muito grato a isso. Sei que no fundo no fundo eu não deixei de acreditar que o destino estaria reservando algo bom para mim.
Você deveria pensar assim também.
Nada acontece por acaso.
Tudo vai melhorar.

De seu amigo, Jason.



25 de dezembro de 2012
FINALMENTE É NATAL!
Se tiver uma coisa que eu amo na vida é natal. Casa enfeitada, família reunida, muita comida e presentes. Dessa vez a família agora aumentou graças ao meu namoro com Eva. Seus pais e ela vieram passar o natal conosco e foi bastante legal.
Sabem o mais interessante disso tudo? EU GANHEI UM CACHORRO! Seu nome é Max, é clichê, mas é a cara dele. Max ainda é um filhotinho, mas quando crescer vai se tornar um cachorro bastante grande e isso é muito irado! Mamãe fez tanta torta de cereja que provavelmente vou acabar ficando com dor de barriga de tanto comer, mas isso não tem problema. Algumas coisas realmente valem a pena.
Ah, e você que está lendo isso agora, espero que esteja feliz assim como eu. Sei que não posso falar muita coisa, mas de uns tempos para cá as coisas acabaram se tornando melhor para mim então, quem sabe não pode acontecer isso com você? Quer um conselho de amigo? Nunca desanime. Em hipótese alguma.
Mesmo se as coisas estiverem indo de mal a pior não se deixe abater. Seja forte. Aguente. Tudo o que há de bom está por vir.
Primeiro vem à tempestade e depois a bonança. Essa é a ordem.
Do fundo do meu coração, quero que você esteja se sentindo bem assim como eu estou me sentindo. Que um dia você se sinta realizado e que esse momento não demore a chegar.
Eu não sei se vamos nos ver de novo, mas deixo aqui meu recado sincero: Seja quem você é e não tenha medo do que os outros vão achar.
Você é ótimo do jeito que é.
Você é lindo do jeito que é.
E se alguém lhe disser o contrário, meu amigo... Mostre que ele está errado e não se dê por vencido.
Este é o meu recado e espero que você siga.

FELIZ NATAL!
De seu amigo, Jason.


Com a carta meio amarelada em suas mãos e os olhos marejados por conta de estar emocionada com as palavras que havia lido, Debbie levantou-se de onde estava e correu em direção ao seu pai, o abraçando com vontade e escondendo seu rosto em seu peitoral.
- Obrigada por ter me mostrado esse papel. – Murmurou a garota contra o corpo do mais velho.
- Então você achou a carta que eu deixei separada? Hum... Sabia que a curiosidade matou o gato? – O mais velho cutucou a cintura da mais nova, fazendo com que a mesma começasse a rir. – Se sente melhor?
- Me sinto. Bastante. Eu... Não sabia dessa história toda e agora eu sei bem o que devo fazer. – Debbie passou a mão pelos cabelos e sorriu mostrando os dentes. – Você colocou perto de mim de propósito, certo? Porque sabe que sou curiosa ao nível que abrir os presentes antes de dar meia noite. – A garota estreitou os olhos e cruzou os braços.
- Olha... Foi tudo ideia da sua mãe – Jason levantou os ombros e bagunçou os cabelos da garota a sua frente. – Se quer reclamar, reclame com ela. Mas que você foi curiosa, foi sim.
- Ouvi alguém falar de mãe e espero que seja coisa boa. – Eva abraçou o marido por trás, dando um beijo em sua bochecha e logo em seguida abraçou a filha – Ela já leu as cartinhas? – O mais velho balançou a cabeça com concordância e ela sorriu – Agora minha princesa se sente melhor? – Eva encarou a filha esperando sua resposta.
- Vocês dois tinham combinado tudo???? – Debbie arregalou os olhos, mas gargalhou em seguida, abraçando os dois ao mesmo tempo. – Eu amo vocês, de verdade! E sou muito grata por ser filha de vocês dois.
Enquanto os três se abraçavam num momento íntimo, Max correu até eles, pulando e se juntando no meio do abraço. Ambos riram da graça do cachorro, que agora grande quase derrubou todos os três no chão da cozinha.
- Eu espero que vocês estejam com fome, pois acabei de fazer uma torta de cereja no capricho. – Jason foi até a cozinha e desenformou a torta, cortando um pedaço para cada um, e sentando-se perto da lareira, onde a mesma estava enfeitada com pisca-pisca já que era natal e a data que ele mais gostava de comemorar com sua família.
Debbie, diante daquilo todo aquele relato pessoal de seu pai, sentou-se juntos de seus pais e Max e teve a total certeza de que dessa vez iria mudar sua vida. E que essa mudança seria para que ela se tornasse melhor. Melhor para si mesma.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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