Finalizada em: 04/12/2017

Instinct

Ela não estava tendo um bom dia. Finalmente tinha conseguido uma faculdade que ia lhe dar uma bolsa integral de estudos, baseada em todo seu esforço até então, na Coréia. Quando finalmente chegou, estava deslumbrada com aquele mundo avançado, porém logo sentiu um baque de realidade: como não coreana, teria que se esforçar três vezes mais para alguém achar que a tese de mestrado dela era digna de um olhar.
Ok, não podia generalizar. Porém, até aquele momento, tudo que recebera foram comentários tortos de seus colegas de mestrado e até de professores orientadores. Alguns a incentivavam a se esforçar e provar que tinha o necessário para estar lá, porém outros somente a olhavam de baixo para cima com desdém.
Ela teria que enfrentar um bocado de situações complicadas por lá.
Portanto, naquele dia, caminhava pela faculdade com o papel de seu itinerário em mãos, penando para descobrir onde diabos era a ala que precisava ir, já que nenhuma boa alma estava disposta a ajudá-la.
E, como se não bastasse, um cara desavisado deu um encontrão com ela, derrubando todos os livros e papéis da moça no chão.
- Ei! Você não olha por onde anda, não?! – perguntou irritada, já se abaixando para recolher tudo.
Ele se abaixou mais por educação, pois queria xingá-la e ir embora depois daquela.
- E você nunca aprendeu boas maneiras, hein? – O moço suspirou de volta, claramente tão irritado quanto ela. - Só podia ser uma estrangeira, aposto que nem sabe falar...
- Coreano? Sei sim. – E mudou de idioma, pois nem percebera que estava falando inglês antes. Estava tão distraída e incomodada que se esquecera de utilizar o idioma padrão do lugar. – Só achei que alguém que nem você não valia o esforço.
- Toma suas coisas. Espero que a gente nunca mais se encontre. – respondeu secamente, estendendo as coisas bruscamente para a moça. Ela praticamente arrancou os livros e papéis das mãos dele e virou de costas imediatamente.
Assim, cada um foi para seu lado, esperando nunca mais ter que olhar na cara do outro.

- Professor, o senhor não sabe como eu fico feliz por isso... – suspirou enquanto seguia o homem pelos corredores da faculdade.
Já fazia por volta de três meses desde aquele dia horrível em que aquele cara grosso esbarrara nela e derrubara tudo no chão. Após a crise existencial da moça, ela respirou fundo, levantou a cabeça e prometeu que mostraria a todos o que ela era capaz.
Aquele professor começou a ajudá-la quando percebeu que ela estava tendo problemas por ser estrangeira. Conseguira pegar um de seus “alunos extras” – nome que o professor dera para todos aqueles que eram de cursos diferentes, porém cursavam a matéria dele por pura curiosidade – para dar o suporte a que ele não poderia por estar ocupado.
- Não precisa agradecer, . – O homem respondeu, ajeitando os óculos no rosto. Caminhavam rapidamente, pois ele tinha uma aula se aproximando em seu relógio. Seu objetivo era somente apresentar os dois e deixá-los conversando enquanto seguia para a outra sala. – Esse aluno é bem dedicado. Está cursando Música, porém faz várias matérias que vão além do curso dele. Além disso, é muito simpático e sempre disposto a ajudar os outros. Ah, aqui! Chegamos!
Dizendo isso, o homem abriu a porta da sala.
E, logo que entraram, deu de cara com o moço bruto que tinha encontrado no que gostava de chamar de “o pior dia da minha vida”.
A reação de ao vê-la também não foi das melhores.
- , ... Vocês vão ser algo como aluno-tutor e aluna-tutelada. – O professor comentou rapidamente enquanto os dois ainda se observavam boquiabertos.
- Calma... Ela é a aluna que precisa de ajuda?! – perguntou imediatamente, apontando para de uma maneira completamente desrespeitosa, chocando até o professor.
- Não vai achando que eu gostei disso também, seu grosso! – A moça respondeu balançando a cabeça e olhando para o professor, que agora estava chocado com os modos dela também. – Olha, eu posso aceitar ajuda de todo mundo, menos dele!
- E quem disse que eu ofereceria minha ajuda para você?! – cruzou os braços, observando-a com um par de sobrancelhas franzidas.
- Basta, vocês dois! – O professor disse de maneira nervosa, tirando os óculos do rosto. Os dois só passaram a observá-lo como duas crianças que tinham acabado de levar bronca enquanto o homem limpava as lentes com a camisa. – Não sei o que aconteceu entre vocês dois, mas ele é seu tutor e ela é a sua tutelada. Tratem de ser cordiais um com o outro, pois eu não tenho tempo para isso! , você precisa de ajuda para se encaixar e realizar bem a sua pesquisa. , você pode ajudá-la com isso e a pesquisa dela é muito importante para nós, podendo dar um bom nome para a nossa faculdade em termos internacionais. Então aprendam a brincar juntos.
Dizendo isso, o homem se virou e foi embora.
Deixando os dois sozinhos na enorme sala vazia.
Ele não tinha noção do perigo.
- Duvido que a sua pesquisa seja tão importante assim. – cruzou os braços, olhando-a com desdém.
- E eu duvido que você seja a pessoa inteligente e simpática que ele comentou comigo. – soltou uma risada de escárnio no fim da frase. – O professor deveria estar louco quando falou uma coisa dessas.
Apesar de não gostarem nem um pouco daquela situação, os dois teriam que se contentar com o fato que praticamente sambava na frente deles: eram tutor e tutelada e, portanto, teriam que aprender a conviver.
Aquilo seria pior que um parto.

- Eu quero morrer. Não vejo a graça em nada disso. – suspirou enquanto empanava os pedaços de lombo na farinha de rosca.
- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA...! – E claro, como era de se esperar, estava sentada em uma cadeira, escachando-se de rir.
- Você quer falar pra asna da sua irmã que rir da desgraça dos outros é feio? – perguntou para , enquanto o primo fritava alguns pedaços de bacon com um toque de whisky.
Algo que eles inventaram no momento e esperavam que desse certo. Ou teriam que comer miojo.
- Como que eu fui acabar com uma irmã tão sádica, né...? – suspirou, fazendo com que a prima começasse a rir. – Ô ! A situação da é ruim, vai! Deixa pra rir quando ela estiver dormindo!
só ficou olhando para ele. Logo que olhou para , ambos ficaram em silêncio durante alguns segundos e começaram a rir juntos.
- Eu estou rodeada de pessoas cruéis... – suspirou, passando a mão na testa e fingindo começar a chorar.
- Ah, vai! De todas as pessoas da faculdade, o seu tutor tinha que ser aquele grosso que você encontrou naquele dia e não quer ver nem pintado de ouro! – E ria cada vez mais. – Você não pode negar que a ironia em tudo isso é engraçada!
- Eu sei que é! Mas, no momento, quero curtir minha raiva da situação, me deixa! – E a própria começou a rir, ouvindo a campainha tocar logo em seguida. – Pode deixar que eu vou atender. , vem terminar de empanar o lombo!
, e moravam juntos. era meio-irmão de , morando junto com a moça durante algum tempo nos EUA. Porém, logo que os dois cresceram, resolveram se mudar para a Coréia a fim de realizar a faculdade. Quando terminou o próprio curso, eles que deram a idéia para que ela também se mudasse para lá a fim de realizar o mestrado. Assim, logo que a moça conseguiu a bolsa, a casa já estava garantida.
Assim, como os amigos que passavam lá para importuná-los quase todos os dias, como era o caso de .
Exatamente a pessoa que estava à porta, com um sorriso gigante nos lábios e uma sacola com uma quantidade considerável de Soju.
- Oiê! – Ele acenou alegremente quando a moça abriu a porta. E era impossível não sorrir ao encontrá-lo. imediatamente levantou a sacola. – Eu trouxe bebidas!
- Percebi! – E o abraçou, convidando-o para entrar. – Tem o meu Soju de pêssego?
- Claro! – tirou uma garrafa com uma tampa cor de rosa de dentro da sacola. – Acho bom você beber tudo que eu trouxe, porque só você toma isso.
- Você é um amor, ! – A moça deu alguns pulinhos até ele e um beijo estalado na bochecha de , fazendo-o corar levemente e dar um sorriso um tanto envergonhado e convencido ao mesmo tempo. – Bom, vamos lá pra cozinha! Estamos terminando o jantar e a tá rindo da ironia que é a minha vida.
- Ironia? – Ele franziu as sobrancelhas, acompanhando-a no curto caminho até a cozinha. Como era uma casa em conceito aberto, logo que alcançaram a sala já conseguiam ver e conversando. – Por que ironia? O que aconteceu dessa vez?
- Gosto do fato de que você já aprendeu que minha vida é uma loucura tão grande que tem que usar o complemento “dessa vez”. – comentou, fazendo-o dar uma risada um tanto escandalosa. – Tão cruel quanto a rindo da minha cara!
- Ah, ! – E a própria se manifestou quando notou qual era o assunto e que o amigo estava lá. – Venha cá, sente-se, abra uma garrafa de Soju e vá petiscando alguns giozas, porque o assunto é ótimo! Só escuta a história!
- A maldade não tem fim, né...? – suspirou, voltando a ajudar com o lombo empanado. O primo somente sorriu para ela.
- Você sabe que uma das maiores belezas da nossa vida é te zoar. – Ele comentou ainda com o sorriso doce nos lábios. só conseguia rir.
- Ah, relaxa, ! Eu te entendo! – O amigo comentou, pegando um guioza com o hashi que estendeu para ele. – Sobrevivi a esses dois sem você durante quatro anos.
- Pois é, meu querido. Ela já sobreviveu a mais de vinte. – comentou, apoiando na bancada à frente de e fazendo-o rir. – Agora que temos vocês dois nas nossas mãos, o que acham que irá acontecer?
- Só vai ficar pior. – comentou amargamente e todos caíram em gargalhadas, inclusive a moça.
Apesar de tudo que tinha acontecido no dia, agora ela conseguia ver a graça de ser tutelada por aquele moço grosso que tinha encontrado na faculdade. Nem dissera o nome dele aos amigos, simplesmente porque fizera questão de não se lembrar.
Tinha chegado até ali por conta própria. Então, não precisaria da ajuda de alguém agora, principalmente da dele. conseguia se virar muito bem e terminaria a sua tese de mestrado por mérito próprio, não importava a dificuldade.
Aquilo era uma promessa.

Naquela manhã dourada, as salas de aula estavam silenciosas enquanto os alunos conversavam pelos corredores e jardins da faculdade, gastando um pouco de tempo antes de terem que começar o dia.
caminhava com seu livro em mãos, os óculos escorregando pelo nariz até ele ter que empurrá-los de volta para o lugar novamente. Estava muito ocupado compondo uma de suas quinhentas mil músicas e queria um lugar mais silencioso para que pudesse ouvir as melodias dentro da sua mente.
Sendo assim, nada melhor do que ir para a sala de aula da manhã – justamente a aula de Algoritmos que ele resolvera cursar por puro interesse por Computação. Era o único lugar que ele tinha certeza que poderia terminar de colocar todas as notas e batidas no lugar.
Quando abriu a porta da sala, entretanto, demorou alguns segundos para notar que não estava sozinho.
Sentada no extremo oposto da sala, em uma das primeiras carteiras, grudada à janela, estava , com um monte de papéis e livros abertos, os próprios óculos escorregando pelo nariz enquanto a moça tentava ajeitar a cascata de cabelos que escorregava por seus ombros.
já estava pronto para rolar os olhos e fazer algum comentário maldoso quando levantou um livro à frente do rosto e ele pôde ler o título Edmund Husserl – O Pai da Fenomenologia.
Ele ainda estava um tanto chocado de ver uma aluna que estava desenvolvendo um mestrado em Computação lendo um livro de Filosofia, quando ela abaixou o livro e finalmente notou a presença dele na sala.
- Ah. Que bom. Meu dia tinha que começar bem, não? – perguntou mais para si mesma do que qualquer outra coisa, rolando os olhos e apoiando o livro em uma das mesas próximas.
Estava usando três carteiras ao mesmo tempo para fazer sua pesquisa. E uma delas era para apoiar os pés quando precisava se esticar.
- Ah, sim. Porque eu estou radiante de alegria por te encontrar aqui tão cedo. – finalmente rolou os olhos e foi para uma carteira no extremo oposto de onde ela estava sentada. – Por acaso não sabe que a biblioteca serve pra fazer isso que você tá fazendo?
- Se eu soubesse onde é a biblioteca. – Ela comentou de maneira amarga e voltou a escrever em suas quinhentas folhas bagunçadas. Ele só a encarou durante alguns segundos.
- Ninguém te mostrou onde é? – perguntou e negou com a cabeça. Ele ergueu uma sobrancelha. – E você não perguntou?
- Claro que sim. Mas sempre me falam “ah, a gente mostra pra você mais tarde”! – Ela respondeu com a voz mais insuportável que conseguiu fazer. – Então eu pesquiso onde consigo. Nesse momento, a sala de aula é o lugar mais silencioso da faculdade e consigo produzir bastante.
Ele nem sabia o que responder. Apoiou o próprio livro sobre a mesa e puxou suas folhas de papel de dentro da mochila, apontando o lápis silenciosamente para voltar a escrever sua música.
- O pode te apresentar a biblioteca mais tarde, .
Os dois literalmente deram saltos em suas cadeiras ao ouvir aquela voz misteriosa surgindo da frente da sala. Papéis e lápis voaram para todos os lados. O professor, de braços cruzados e com um sorrisinho satisfeito estampado nos lábios, tinha a visão perfeita de dois pastéis, de olhos arregalados, boquiabertos e respirações entrecortadas com o susto repentino.
- Aish, Professor! Não faz isso comigo! – levou a mão ao coração, que estava mais agitado que uma escola de samba desfilando na Sapucaí.
- Quase morri... – praticamente choramingou em seu cantinho, de olhos fechados e com a cabeça abaixada.
- Faço sim e vocês dois mereciam ter morrido. – O senhor comentou com um suspiro ao fim da frase. – Nunca vi duas pessoas mais orgulhosas e cabeça dura que vocês dois. Você vai apresentar a biblioteca para ela hoje depois da aula e você vai quietinha de bom grado. Entendido?
Os dois nem tiveram oportunidade de responder, pois os outros alunos começaram a entrar na sala de aula no segundo seguinte. Simplesmente bufaram e voltaram a focar em seus papéis – recolhendo toda aquela bagunça que tinham feito por conta do susto.

A biblioteca era um dos lugares favoritos de , ele não podia negar. Ficar rodeado de livros era certamente calmante e ajudava com a escrita de músicas.
Se ele gostasse pelo menos um pouquinho de , apresentaria aquele lugar com prazer.
Mas não gostava.
Então estava odiando ter que levá-la até lá.
- Olha, você já me mostrou o caminho. Seu martírio chegou ao fim. – suspirou logo que alcançaram o balcão principal do local. – Pode ir embora.
- Eu até queria... – Ele rolou os olhos, enfiando as mãos nos bolsos. – Mas você vai ficar perdida aqui se eu não te ajudar.
- Consigo me virar muito bem sozinha. Não preciso de você segurando minha mãozinha e me orientando por aí. – A moça comentou de maneira amarga, já retirando alguns livros da própria bolsa e ajeitando os óculos no rosto, preparada para procurar uma mesa.
- Percebi. Você é uma mulher independente que não precisa da ajuda de ninguém. – suspirou como se só a mera idéia daquilo já o cansasse.
O que a fez lançar um olhar emburrado por cima dos óculos.
- Algum problema? Ou você é machista de carteirinha?
foi tão direta que ele nem sabia o que responder.
Só ficou lá. Encarando-a. Com a boca aberta feito um peixe.
- Vou pegar a segunda opção como verdadeira e deixá-lo aqui com todo o seu machismo e a sua mente fechada. Tenha um bom dia. – E ela deu um pequeno sorriso, acenando para ele. – Até nunca mais, homem das cavernas!
Dizendo isso, começou a caminhar placidamente até as mesas que já tinha identificado. Enquanto ainda a encarava, sem palavras.
- Ei! Espera aí! – E teve que correr atrás dela. Não podia deixá-la ir embora daquela maneira depois de todas aquelas acusações sem fundamento. – Eu não sou machista nem aqui nem na Noruega!
- Precisa ter muita segurança pra falar isso. A Noruega é um dos países mais avançados do mundo. – respondeu sem prestar muita atenção. Estava mais interessada em achar uma mesa com espaço para continuar desenvolvendo sua tese.
- Eu só disse aquilo, porque é a típica ladainha que as mulheres usam para ser grossas com todo mundo! – lutava para se justificar. – “Sou independente, curta e grossa, uma mulher moderna”!
Quando ele terminou a frase na voz mais insuportável que conseguiu, enquanto agitava as mãozinhas ao lado do corpo, imediatamente parou e ficou encarando-o. finalmente percebera como estava agindo estupidamente e começou a questionar a si mesmo o motivo de estar se esforçando tanto para se justificar a ela.
Ele tinha certeza que não valia aquele esforço todo.
- Touché. Essa eu não posso negar. Já vi muita mulher assim... – A moça suspirou e rolou os olhos. – Mas eu só sou grossa com você, porque o senhor foi grosso comigo antes!
- Eu?! – E agora ele estava mais indignado que nunca. – Eu fui grosso com você?! Por favor, esclareça-me sobre isso!
- Ah, então eu tenho que te lembrar daquele dia que você deu um encontrão em mim e nem pediu desculpas?! – se virou novamente, com as mãos na cintura. Ele queria brigar? Então iriam brigar.
- Quem foi a grossa que já mandou um “você não olha por onde anda”?! – O próprio colocou as mãos na cintura, completamente incrédulo com aquela situação.
- Você que continuou andando e nem me ofereceu ajuda! – E ela não conseguia acreditar na pessoa que estava parada à sua frente. – Nem um pedido de desculpas! Como pessoas educadas fazem quando esbarram nas outras!
- Você que esbarrou em mim, sua doida!
- O quê?! – Agora ela estava furiosa. – Eu esbarrei em você?! Por um acaso você bebeu antes de vir pra cá?!
- Não mais que você, pra falar esse monte de absurdo! – já estava mais vermelho que pasta de pimenta.
Mal perceberam os seguranças da biblioteca se aproximando. Quando foram notar o que acontecia em volta, tiveram seus braços agarrados e foram compulsoriamente retirados da biblioteca.
Foi a primeira vez que foram expulsos de uma biblioteca. Com xingamentos no meio da calçada, os dois prometeram nunca mais olhar pra cara do outro.

A promessa até teria se concretizado. Quando e enfiavam algo na cabeça, não havia Buda que os fizesse mudar de idéia. Passaram semanas se evitando, trocando somente alguns comentários secos e maldosos – pois a maior diversão para ambos era encher o saco do outro – e estavam muito contentes com aquela relação de tutor e tutelada.
Ele não a ajudava mais que o necessário e ela não precisava vê-lo mais que o suficiente. Era o melhor dos dois mundos.
- Agora diz uma coisa, galera... – estava feliz, apesar de se encontrar próxima ao fogão nas últimas duas horas. – Esse amigo de vocês não vai chegar nunca, não?
Era sexta-feira, todo mundo estava feliz e resolveram beber e fazer a maior quantidade de churrasco coreano para comemorar a chegada do fim de semana. Como sempre, ficou encarregado de trazer as bebidas e, como resolveram convidar um amigo deles que ainda não conhecia, esse ser resolveu dividir a incumbência de – ou o amigo ficaria facilmente pobre, por conta do tanto que bebiam.
- Ele ficou preso em uma aula na faculdade. Filosofia, acho... – comentou, checando as mensagens no celular. – Isso, Filosofia! Acabou de passar no mercado pra comprar as bebidas e já está vindo pra cá!
- Só ele fica numa aula de Filosofia até as oito horas da noite numa sexta-feira, né! – comentou com uma risada um tanto má no fim da frase.
- Mas Filosofia é legal. Deve ser uma aula boa... – respondeu, checando um dos vinte acompanhamentos que faziam para o churrasco.
Sim. Vinte.
- Um homem tem prioridades, ! – comentou, fingindo estar irritado como se estivesse fazendo o discurso da libertação da Coréia do Sul. Agitava seus hashis de cozinha de um lado para o outro. – Comida é uma delas! Nada nesse mundo pode se impor à comida, ! Nada! Prioridades!
- Se eu começar a fazer uma lista do que se impõe... – apontou para o primo, suspirando.
- Ele vai continuar com o discurso de “NADA NESSE MUNDO, ”! – respondeu imediatamente, imitando o irmão, que somente começou a rir enquanto cozinhava.
E ainda teriam continuado a conversa se a campainha não tivesse tocado.
- Ah, deve ser ele! Eu vou atender! – comentou prontamente e saiu correndo até a porta a fim de receber o amigo.
continuou preparando os acompanhamentos, ouvindo duas vozes animadas conversando na sala. Ouvia os passos se aproximando, as sacolas chacoalhando com o tilintar das garrafas dentro, enquanto ela mesma tirava uma das panelas do fogo para descansá-la sobre a bancada.
- Oi, gente! Trouxe o resto das bebidas!
e cumprimentaram alegremente o amigo. teria feito o mesmo se não reconhecesse aquela voz muito bem.
Virou-se imediatamente e colocou a panela sobre a bancada com um baque. Todos ficaram em silêncio e puseram-se a encará-la.
- Você só pode estar de brincadeira comigo! – Ela praticamente berrou ao ver a expressão de choque de pairando no meio da sala.
- Ah, não! Você não! – Ele respondeu, apontando para ela sem conseguir acreditar.
- Espera aí! – fez o favor de controlar o escândalo por alguns segundos. – Vocês são os famigerados “tutor e tutelada” da faculdade?!
- O que você acha?! – colocou uma mão na cintura, apontando para com a outra. – Eu tenho que aturar essa mulher todo dia!
Imediatamente, , e caíram nas gargalhadas. Simplesmente não conseguiam ficar sem rir. Aquilo era demais para eles.
- Ah, não! Você não vai achando que vai ter que me aturar durante a sexta-feira também! – deu a volta pela bancada, aproximando-se dele enquanto limpava as mãos no pano de prato. – A casa é minha, o churrasco é meu e eu digo rua!
- Rua?! É assim que você fala comigo agora?! – Ele estava indignado, sem nem saber direito o que falar.
Só sabia que tinha vontade de mordê-la. De uma maneira não muito simpática.
- Reitero: a casa é minha e eu falo do jeito que eu quiser. – E a moça apontou para a porta de entrada. – Rua! Você não vai comer sequer um pedaço de kimchi nesse apartamento!
- Até onde eu sei, o lugar não é seu, é dividido com eles! – cruzou os braços e estufou o peito, estacando na frente dela. – Um terço quer que eu saia, dois terços querem que eu fique e, da última vez que eu chequei, dois terços são mais fortes que um.
fechou a cara. Ele era bom de argumentação, a lógica dele era perfeita. Ela se virou para os amigos, emburrada.
- Apesar de eu não fazer parte da casa... – comentou com um sorrisinho um tanto maléfico no rosto. – Também quero que ele fique. São três quartos agora, não?
Assim, ele, e começaram a rir mais ainda.

- Se você chegar perto da minha carne, eu juro que te taco dessa janela. – ameaçou, lançando um olhar de morte a .
- Vai por mim. Pretendo ficar a pelo menos três metros de distância de você. – Ele deu um pequeno sorriso sem humor e, assim, cada um foi para um extremo oposto da sala.
Teriam conseguido ficar sem se falar pelo resto da vida. Se não fossem os amigos em comum.

Uma coisa que era óbvia para todo mundo menos para as pessoas realmente interessadas no assunto era o abismo que tinha por . Toda vez que estava perto dela, não conseguia parar de observar a moça e morder os lábios de maneira inconsciente.
Gostava muito dela. Mas a própria moça parecia nunca ter percebido isso. E, se percebera, resolvera provocar um pouco.
era da opinião que não percebera nada. Já não acreditava nem um pouco na inocência da prima, acreditando piamente que havia uma provocação disfarçada de inocência rolando entre os dois.
Além de que ela também acreditava que o próprio estava ciente daquilo e curtia provocar de volta.
Obviamente, aquilo foi mais um motivo de discordância entre e e, quando começaram a discutir, cada um foi para um canto da sala e resolveu ignorar o outro pelo resto da noite.
Isso tudo só porque começara a contar sobre quando encontrara um de seus ídolos favoritos no shopping, coincidentemente na Starbucks, e simplesmente surtou na frente dele, conseguindo uma foto na maior alegria. Enquanto a moça contava o causo e mostrava a foto no celular, e conseguiam perceber claramente o quanto estava se mordendo de ciúmes, fazendo todo tipo de comentário sem noção sobre o cara.
Até que deu um pequeno sorrisinho quando comentou pela décima quinta vez que o tal do ídolo não era tudo isso. Foi aí que soube que a prima tinha plena consciência das próprias atitudes.
A discussão teria durado, teria ido embora e todo mundo teria ido dormir razoavelmente se não fossem dois simples elementos que haviam naquela noite: álcool e karaokê.
Uma combinação um tanto perigosa, para falar a verdade.
- Parem de se comportar que nem duas crianças e levem essas coisas pra cozinha! – praticamente empilhou todos os utensílios usados para o churrasco em cima de e . – Eu tenho que cuidar desses dois inconsequentes antes que eles quebrem alguma coisa tentando ligar o karaokê. , LARGA ISSO!
Com isso, saiu correndo atrás do próprio irmão antes que ele fizesse alguma asneira muito grande com a televisão.
Sim, a televisão.
e somente trocaram olhares e foram para a cozinha em silêncio após suspirarem. Ainda tiveram problemas para deixar as coisas na pia, pois cismaram de colocar ao mesmo tempo e, óbvio, nenhum dos dois queria abrir mão de colocar as coisas depois do outro.
apoiou aquele monte de tralha em cima da bancada e rolou os olhos.
- Pelo amor do Universo, eu não sei o que fiz pra merecer isso... – A moça suspirou para si mesma, tentando permanecer calma.
- Não vai achando que é só com você. Eu não tô te aguentando por bom grado. – deu um sorriso seco de volta e ficou carregando as coisas, aguardando. – Pode deixar antes. Eu ainda sou um cavalheiro, pelo menos.
- Ah, tá! Só se for em Nárnia! – respondeu com uma risada de escárnio no fim da frase, porém aproveitou o momento para deixar as coisas dentro da pia. Não queria mais ter que carregar aquilo lá, porém não queria dar o braço a torcer a ele.
- É que você me irrita. – Dizendo isso, ele deu um sorrisinho sem humor, deixando as coisas ao lado da pilha de louça suja de .
Ela abriu a boca para responder e levantou um dedo, com a outra mão fixa na cintura e já pronta para passar a noite toda discutindo. Ele se virou de frente para ela, cruzando os braços e já pensando em todos os argumentos que usaria para simplesmente acabar com ela.
Até ouvirem uma música dramática vindo da sala.
- Bem lá no céu, uma lua existe... Vivendo só, no seu mundo triste...
Os dois não conseguiram ficar sem franzir as sobrancelhas. Era a voz de .
- O seu olhar sobre a Terra lançou! E veio procurando por amor... - E agora, foi a vez da voz de cantar dramaticamente.
Os dois tiveram que parar de discutir para encarar os amigos no karaokê.
- Que língua é essa...? – perguntou meio boquiaberto. Já até tinha esquecido o motivo pelo qual estava discutindo com .
- É português, tonto. O país de origem meu e da . – A moça respondeu, ainda embasbacada com aquela cena bizarra.
Os dois se olharam brevemente e foram até , que estava sentada em uma poltrona, sozinha, assistindo a tudo como se fosse um show.
- ... O que diabos está acontecendo? – teve que perguntar para a prima.
- E desde quando esses dois sabem falar português? – O próprio estava chocado demais para procurar respostas lógicas.
- O aprendeu comigo, assim como o . Falamos algumas coisas de vez em quando. – E olhou para os dois abaixados ao lado dela. – O resolveu cantar algo dramático e o falou que queria me fazer uma serenata pra “abrir o coração”.
Os três que conversaram praticamente ignoraram o “mostra como eu amo você” escandaloso de e nos pobres microfones que eram utilizados sem dó nem piedade. Porém, não puderam mais ignorar o que estava acontecendo quando se ajoelhou na frente de e apontou para eles com a maior expressão de sofrimento do mundo.
- Se a lenda dessa paixão faz sorrir ou faz chorar! O coração é quem sabe!
- Gente... – comentou baixinho enquanto os dois sofriam mais do que o recomendado para aquela música. – O que Soju não faz com duas pessoas.
teve que dar uma risadinha do comentário. Levantou-se discretamente do chão e foi para um lugar um pouco mais distante da sala, sendo seguido por . Assim, poderiam observar aquela cena de camarote.
- Se cada um faz a sua história, a nossa pode ser feliz também... – E agora sofria sem ter um alvo específico para tanto.
Mas estava parado diretamente na frente de , segurando a mão dela antes de cantar.
- Se o coração diz que sim à paixão, como pode o outro dizer não? – Ele cantou no seu melhor português. – Luz que banha a noite e faz o sol adormecer... Mostra como eu amo você!
Nesse momento, as bochechas de ficaram vermelhas e ela começou a sorrir como uma adolescente que se apaixonava pela primeira vez. e começaram a sofrer novamente com a parte da “lenda da paixão”, gritando mais que o necessário e provavelmente acordando o quarteirão todo com aquela cantoria bêbada.
Apesar de saber que ele gostava dela, nunca pensara que era algo sério. Era como se seu subconsciente tivesse noção daquilo, mas a sua mente sóbria e lógica negasse aqueles fatos. Jamais iria imaginar que alguém tão legal como realmente fosse se apaixonar por ela e, pelo visto, era real. Era a primeira vez que percebia aquilo em um nível consciente.
O que a fez morder os lábios enquanto observava aquela cantoria terrível.
ficou surpreso com a reação dela. somente começou a sorrir.
- Eu te falei que ela sabia e que provocava ele de volta? – A moça comentou cruzando os braços e com um ar completamente orgulhoso.
Ele olhou para ela, pronto para dar alguma resposta torta ou algo do tipo. Porém, após alguns segundos tentando decidir o que falar, simplesmente suspirou e sorriu.
- Ok. Você ganhou dessa vez, .
E foi a vez dela de ficar chocada, o que o fez sorrir triunfantemente.

- Se a lenda dessa paixão faz sorrir ou faz chorar? O coração é quem sabe! Se a lua toca no mar, ela pode nos tocar! Pra dizer que o amor não se acabe!


Unconscious

A relação de e até que melhorou um pouco após o churrasco.
Simplesmente porque foram pegos no meio do furacão que foi o início de namoro de e .
acabou dormindo no sofá da sala, babando em qualquer canto, logo que a noite estava para se transformar em dia. Assim, e resolveram procurar por e , para ter certeza que os dois também não estavam mortos em qualquer lugar que nem .
E encontraram os dois se pegando na varanda.
Passaram praticamente duas semanas impedindo de comer vivo.
Portanto, acabaram aprendendo a conviver no mesmo ambiente sem se xingar a cada cinco minutos.
Conseguiam ficar dez minutos sem um comentário ácido. O maior recorde daquela época foi de dezoito minutos.
Até os dois surtarem e saírem se xingando como se não tivessem feito aquilo durante um mês.
Mas, apesar de tudo, tiveram um momento muito importante que serviu para mudar todo aquele ódio aparente que tinham pelo outro. Parecia que o Universo estava insistindo para que os dois se gostassem – nem que fosse um pouquinho.
Saindo de uma aula e andando despreocupadamente para outra, tinha as mãos nos bolsos da calça e assoviava uma de suas criações, tentando pensar em como desenvolver aquele pedaço da música.
Parou no meio do caminho quando viu uma pessoa com o rosto enterrado em um grosso livro de Filosofia e que, provavelmente, ia causar acidentes andando daquela maneira.
Teria falado alguma coisa, se a pessoa em questão não fosse .
Estava para dar de ombros e simplesmente ir embora para deixá-la se ferrar sozinha, quando algo chamou sua atenção. Um grupo de valentões perturbava alguns garotos estudiosos nitidamente mais fracos – um pessoal mais novo, que provavelmente achava que a faculdade funcionava da mesma maneira que a escola.
O próprio já considerava ir até lá para acabar com aquilo, até tomar um susto com uma manifestação.
- Ei! – Ele ouviu a voz de gritando nitidamente, brava de uma maneira que ele nunca tinha visto. – É sério? Vocês estão se comportando que nem um bando de moleques idiotas de escola?!
- A conversa não chegou em você, cala a boca! – Um dos caras respondeu e já ficou indignado. Nem em todas as brigas que tivera com ele a mandara calar a boca. Simplesmente porque não tinha o direito.
- Você acha que tá falando com quem, hein? – E fechou o livro, colocando as mãos na cintura. – Larguem de ser adolescentes idiotas e deixem os garotos em paz! É gente que nem eles que constroem o nosso futuro, não que nem vocês!
- Olha aqui, mulher! Cala a boca antes que a gente meta a mão em você!
- E você acha que eu tenho medinho de qualquer um que me ameaça? – A moça estava furiosa. Assim como , pois aquilo era um desrespeito muito maior do que as simples discussões dos dois. – Tenta encostar em mim pra você ver! Te mando pra casa dentro de dez caixas de fósforo, moleque!
- Mas você...! – E um dos caras resolveu se aproximar, estalando os dedos.
imediatamente observou – e ficou impressionado. Ao invés de demonstrar medo, ela se colocou entre os garotos estudiosos e os valentões, levantou a cabeça e cruzou os braços, lançando um olhar para eles que era puro fogo.
- Quer me bater? Então bate. Mas saiba que a repercussão disso vai ser pior que o inferno na sua vida. – Ela comentou sem medo algum na voz. Não existia em seu tom nada além de coragem.
Os valentões já iam se manifestar, porém se aproximou, parou ao lado dela e também cruzou os braços, erguendo levemente a cabeça.
- Se ela manda vocês pra casa em dez caixas de fósforo, eu mando em vinte. Isso não é jeito de se falar com ninguém. – E ele semicerrou os olhos, lançando o olhar mais irritado que pôde aos caras à sua frente. – Sumam. Antes que a gente se irrite.
Os valentões até consideraram discutir, porém estavam com um pouco de medo dos dois. Não queriam admitir, mas receber ameaças de veteranos como eles era um tanto... Assustador.
Logo que o grupo foi embora, os garotos estudiosos agradeceram e foram conversar em seu cantinho, em paz. Sendo assim, somente quando ficaram a sós é que trocaram olhares pela primeira vez naquele dia.
E havia algo de diferente nos olhos tanto de quanto de .
Era como se enxergassem tudo de uma maneira completamente diferente.
Mas nenhum dos dois notou aquilo em um plano consciente. Pelo menos não naquele momento.
- Fiquei impressionado com a sua coragem, . – finalmente comentou, sendo que ela esperava algum complemento grosso. Mas, assustou-se ao ver um pequeno sorriso no canto dos lábios dele. – Até que você não é tão ruim assim.
descruzou os braços e colocou as mãos nos bolsos da calça, assim como ele.
- Você também não, ... – A moça comentou com uma risadinha ao fim da frase. – Até que dá pro gasto.
Os dois trocaram olhares sérios durante alguns segundos.
E, em seguida, começaram a rir juntos. Pela primeira vez.

Aquele evento marcou a primeira vez que e realmente tentaram ser amigos. A partir daquele dia, começaram a almoçar juntos e trocar algumas ideias. não era tão grossa quanto ele imaginava e não era tão arrogante – apesar de que ela sempre mantinha a opinião de que ele era um pouco nariz em pé em várias situações.
- Aposto que logo vocês começam a namorar! – prenunciou no meio de um churrasco regado a cerveja que fizeram em uma das sextas-feiras que tinham livres.
e somente torceram os narizes e negaram até a morte, chegando a jogar almofadas em .
Mas o primo de não estava tão errado assim.
Ela estava na faculdade, ainda tarde da noite, terminando uma parte da própria pesquisa na biblioteca. Nunca ficou tão feliz ao fechar seu livro de Filosofia e encarar o teto, respirando fundo algumas vezes e fechando os olhos em seguida. Conseguia ainda ver trezentas mil letrinhas dançando a Macarena na sua frente e, sinceramente, só queria espairecer.
ouviu o próprio celular vibrar sobre a mesa e o pegou com preguiça, antes que alguém batesse nela por conta do barulho.

: Acabei a minha aula. Vc ainda tá por aqui, né? [10:32pm]
: Claro que tô. Estarei aqui pra sempre. [10:32pm]
: Na biblioteca? [10:32pm]
: Posso passar aí e a gente vai comer alguma coisa [10:33pm]
: ... [10:33pm]
: Eu nunca imaginei que te diria isso um dia... [10:33pm]
: Mas eu te amo. [10:33pm]
: HAHAHA eu sei [10:33pm]
: O que comida não faz, né? [10:34pm]
: Então tô passando aí, vc tá pronta? [10:34pm]
: Só vou pegar meus livros [10:34pm]
: Te encontro na frente da biblioteca [10:34pm]
: Ok [10:35pm]

Ela nem esperou para ver o “ok” de : juntou todas as coisas o mais rápido possível e já foi para a porta da biblioteca a fim de aguardá-lo. Esperou durante alguns minutos até ouvir os passos dele se aproximando pela Universidade quase deserta. E, ao encontrá-lo, já sorriu e deu um aceno.
- Como foi sua aula? – perguntou quando a distância entre eles já era curta.
- Foi ótima, mas sou suspeito para falar. – Ele deu de ombros enquanto ela ria. – E a sua pesquisa, como anda?
- Andando. – suspirou. – Até o fim do ano fica pronta, então não estou preocupada.
- Que bom. – E sorriu sinceramente. – Agora, em relação à comida, estava pensando em buscar em algum lugar e comermos na sua casa, daí podemos levar pro , pra e pro também. O que você acha?
- Ótima idéia! Só não sei onde vamos comprar comida a essa hora da noite.
- Pode deixar que eu sei. – piscou para ela e começou a andar. – Vamos?
somente sorriu de volta e começou a caminhar ao lado dele, ambos conversando sobre seus novos achados em música e Filosofia.
Tudo corria bem. Após comprarem a comida, estavam na metade do caminho para a casa de quando ela recebeu uma ligação. E, ao desligar o celular, estava com a expressão mais vazia possível.
- O que foi? Tá tudo bem? – E claro, já achou que algo de ruim tinha acontecido.
- Depende do que você define como “bem”. – Ela respondeu erguendo uma sobrancelha enquanto guardava o celular no bolso. – O foi dormir na casa de uns amigos, então a acabou de me ligar para me pedir pra não voltar pra casa e dar uma noite a sós entre ela e o .
Imediatamente, ficou com a mesma expressão de vazio que ela.
- Exatamente. – comentou sorrindo, feliz que ele tinha captado o sentimento.
- Bom... Podemos ir pro meu apartamento então. Eu te empresto uma blusa e você dorme lá. – Ele suspirou, coçando a cabeça. Não sabia como iria reagir com aquilo e nem ele mesmo sabia como se sentir, já que se odiavam nos meses anteriores e agora eram amigos.
- Ok, pode ser... – E ela mesma suspirou. Não era uma situação ideal, mas era a melhor que tinha no momento. – Faremos sorteio pela cama?
- Eu sou um cavalheiro, você pode dormir na cama. – comentou rindo e ela imediatamente abriu a boca para falar algo, porém ele a cortou no mesmo segundo. – E nem me venha com papo feminista, você vai dormir na cama, eu no sofá e ponto final!
olhou para ele séria durante alguns momentos e começou a rir.
- Na verdade, eu ia falar que não sou feita de açúcar, mas não me importo de ficar com a cama. – Ela respondeu despreocupadamente, dando de ombros em seguida. – Mas tudo bem.
olhou para ela durante alguns segundos e começou a rir, corando levemente com a própria estupidez.

- Eu não ia falar nada, mas essa sua cobertura é muito legal. – comentou enquanto observavam as estrelas e dividiam aquele jantar enorme para cinco pessoas.
- Ah, é uma cobertura de um prédio de cinco andares, né. Não é nada de mais... – respondeu, porém tinha um pequeno sorriso estampado nos lábios. – Mesmo assim, gosto de observar as estrelas em noites claras como essa.
- Eu observaria todo dia. – Ela assegurou, piscando para ele. – Sei algumas coisas de Astronomia, então certeza teria um telescópio para aprender um pouco mais.
- Hmmm, aproveitando que você falou disso... – E descansou os hashis sobre o prato, assim como ela, parando a primeira rodada de comida da noite. – Estava pra te perguntar há muito tempo... O que uma pesquisadora de Ciência da Computação estava fazendo lendo um livro sobre Fenomenologia?
- Hã? Ah, o meu livro do Husserl? – Ela perguntou de volta, começando a rir. – Você quer saber o motivo de todo o meu interesse por Filosofia?
- Exatamente. Tentei arranjar alguma explicação, mas não consigo entender como Filosofia se aplica na Ciência da Computação! – E a maneira como ele explicava só a fazia rir cada vez mais.
- Ok, vamos lá... Já faz um tempo que a gente se conhece e é uma vergonha você não saber sobre o que é a minha pesquisa. – sorriu placidamente e começou a explicação, como se estivesse falando com uma criança curiosa. – Na Computação, estudamos as Inteligências Artificiais. Quando comecei a dar uma olhada em todas as pesquisas que tínhamos, percebi que é muito difícil saber quando que a inteligência começa e quando a programação termina. É uma linha muito tênue. Como podemos definir que uma máquina é consciente? Qual a origem da consciência de uma máquina? Depois que adquirirem consciência, serão classificadas como máquinas, meros objetos, ou passarão a ter direitos, como seres humanos? São muitas perguntas para responder. Nós pesquisamos e pesquisamos, em uma corrida pra criar a Inteligência Artificial mais avançada que pudermos, porém não pensamos no que irá acontecer depois. A partir disso, eu decidi pesquisar um pouco mais sobre consciência, início de personalidade e afins para, futuramente, ser mais fácil de definir quando uma máquina ainda é máquina e quando é uma Inteligência Artificial. Estou usando algumas pesquisas do Alan Turing como base, mas é impossível ficar completamente distanciada da Filosofia em um assunto como esse.
simplesmente não conseguia desgrudar os olhos de . Quando mais ela falava, mais mudava na opinião dele. Tudo que ele pensara dela desde o início estava errado. Tudo. Ela era muito mais do que ele imaginara, ela brilhava sozinha. Em qualquer lugar que fosse, iria brilhar como o sol e se destacar. Agora entendia a inveja que alguns sentiam dela e a maneira como os outros a idolatravam. Ela por si só era a criatura mais complexa, cabeça dura e fascinante que ele conhecera. Não dependia de ninguém, era completamente independente, porém gostava de conviver com as pessoas que amava. Fingia ser uma pessoa completamente pacata e comum, porém sempre surgia um momento em que ela iria brilhar.
era incrível.
E ele não conseguiu ficar sem beijá-la.
Quando ela terminou de falar, se aproximou de , segurou o rosto da moça e a beijou imediatamente. Ela não pôde negar que se assustou com a reação e até considerou empurrá-lo para longe – até fazê-lo cair do prédio, provavelmente – porém conseguiu controlar seus sentimentos. Alguns segundos com os lábios de colados nos próprios lábios fez com que percebesse sentimentos que nunca percebera que existiam, levando uma mão tentativamente ao rosto dele.
Ao tocar o rosto de , teve a impressão de que aquilo realmente era o correto a se fazer.
Quando se separaram, passaram alguns segundos com as testas encostadas, ainda pensando no que havia acabado de acontecer e como procederiam dali para frente.
- Eu vou matar o . – comentou repentinamente, fazendo rir imediatamente.
- O desgraçado tinha razão. – Ele respondeu, fazendo-a rir.
Não tinha como negar: eles acabariam namorando. Foi tudo uma questão de tempo.


Conciousness

Mas é claro que o relacionamento dos dois não foi um típico romance de comédia romântica. Tanto quanto tinham como maior pecado o orgulho. Juntar aquelas duas personalidades, extremamente fortes e orgulhosas, foi uma receita para o caos.
Tudo começou com “como contar aos nossos amigos que estamos juntos”.
- Ok. Tá preparada? – Ele perguntou antes de entrarem no apartamento dela.
- Nope. Nós seremos zoados até a morte. – Ela respondeu enquanto abria a porta, fazendo-o rir.
- Eu sei. – E nisso, os dois entraram.
Conviveram normalmente – afinal, não mudaram muita coisa no próprio relacionamento quando começaram a namorar – sendo que nem , ou perceberam algo.
Porém, tudo mudou quando foi pegar algo em um armário alto e deu um sorriso carinhoso, levantando-se para ajudá-la.
Estranhando a atitude, passou a observar tudo com atenção, cutucando para que ela se juntasse aos expectadores assim que parou logo atrás de . imediatamente cutucou e os três ficaram assistindo àquela estranha cena com o maior interesse do mundo.
- Precisa de ajuda? – perguntou com seu sorriso divertido nos lábios.
- Não. Consigo pegar sozinha. – respondeu da sua maneira orgulhosa de sempre, fazendo-o segurar ainda mais o sorriso.
- Consegue nada. Eu pego. – Ele comentou, mas ela colocou as mãos na cintura, claramente incomodada enquanto tentava ficar na ponta dos pés.
- Consigo sim, você quer me dar espaço? – Ela disse, tentando empurrá-lo com o cotovelo.
Porém somente começou a rir e colocou uma mão na cintura dela, a fim de que parasse de empurrá-lo. Nesse momento, , e ficaram boquiabertos, trocando olhares indignados. Quando voltaram a observar, estava praticamente envolvendo nos próprios braços para pegar o que ela tanto queria do armário alto. Assim que pegou, deixou nas mãos de com um sorriso convencido nos lábios.
- E você tá se achando o máximo por fazer isso, né...? – comentou com uma risada, apesar de julgar o comportamento do namorado. somente deu de ombros, como se dissesse “fazer o quê”.
- PARA TUDO! – E teve que se manifestar no meio de tudo aquilo, chamando a atenção de e . Os dois se viraram para encontrar os amigos encarando-os, como se estivessem assistindo a um filme.
- Vocês estão namorando?! – perguntou imediatamente, já sorrindo.
- Sim. – e admitiram juntos, sem hesitar, achando que seria mais fácil daquela maneira. Algo como arrancar um curativo de um machucado.
- EU SABIA! – até se levantou da própria cadeira, começando o próprio discurso de “eu sou um ser onisciente, eu sei de tudo”.
- Ah, esse é o melhor dia da minha vida! – já dava altas risadas.
- Mas vocês dois são sensacionais mesmo! – completou, dando gargalhadas maléficas. – E estão nas nossas mãos agora!
e somente suspiraram. Eles seriam zoados pelo resto da eternidade.

O orgulho deles não parou por aí. De início, todos adoraram que os dois estavam juntos. Porém, com o passar do tempo, queria esganá-los – pois não sabia como os dois ainda não tinham se matado.
Vira e mexe e discutiam por causa do próprio orgulho. E não eram discussões bobinhas – apesar dos motivos normalmente se apresentarem como coisas bem bobas.
- Ok! Já que você não consegue lidar com isso que nem um homem, então continue se comportando que nem uma criança! – falava alto, sem ao menos se importar com o escândalo.
- Eu não sei me comportar que nem homem?! Aquele cara lá tava se engraçando com você na festa! – achava que estava coberto de razão e falava no mesmo tom que ela.
- E eu disse que tenho namorado! Resolvido, não?! Ou você não consegue lidar com o fato de que tem um cara dando em cima da sua namorada e ela nega todo e qualquer ser humano que chega perto porque ela gosta você?! – Ela respondeu, já completamente vermelha de nervoso.
- Não tá resolvido não! Eu não quero nenhum outro homem dando em cima de você!
- Ah, então vai colocar uma plaquinha de que eu sou sua propriedade, é?!
- Ok. O que eu perdi? – chegou correndo, literalmente carregando um balde de pipoca, e se sentou no chão entre e para que ambos pudessem pegar a pipoca também.
- Ela acabou de falar que é propriedade dele. – respondeu, pegando uma boa quantidade de pipocas e sem desgrudar os olhos da discussão.
- Uh, então a coisa tá ficando séria. – E o sorriso no rosto de não podia estar mais errado.
- Não começa com essa! Não acho que você é minha propriedade! – rolou os olhos. – Você sempre vem com essas besteiras!
- E você sempre vem com as suas!
- Você devia saber lidar, se está namorando comigo!
- E você devia saber lidar com o fato de que tem uma namorada linda, inteligente e gostosa e os caras vão sim dar em cima dela! – estava mais do que nervosa. , e somente trocaram olhares pasmos, começando a rir silenciosamente em seguida.
- Se você acha que isso não vai dar certo, é melhor terminarmos então! – E resolveu ser drástico, no ápice de seu nervosismo.
- Tá bom, então! – Ela colocou as mãos na cintura, com um ar desafiador.
- Tá bom! – E ele fez o mesmo.
- Tá! – deu as costas, sem nem saber para onde estava indo.
- Tá! – fez o mesmo e deixou o apartamento.
O silêncio reinou na casa.
Cinco minutos depois, estava de volta, conversando calmamente com e, após uma rápida conversa, os dois estavam comendo pizza e assistindo filme, com ela aninhada nos braços dele no sofá da sala.
Toda vez que brigavam, era a mesma coisa. Todo mundo sabia que eles não iam terminar, pois mais que falassem que iam.
Mas essa não era a única situação em que o orgulho dos dois entrava no caminho.
- Nossa, como ele tá lindo hoje. – comentou repentinamente com , enquanto as duas esperavam e trazer seus cafés e doces, guardando uma cobiçada mesa do lado de fora do estabelecimento.
- Oi? – tirou a atenção do celular, já que mandava todos os pedidos para , a fim que os dois trouxessem tudo certo.
- O . Ele tá maravilhoso hoje. E gostoso. Olha os braços dele nessa regata, meu Deus. – E apoiou a cabeça na mão, sem desgrudar os olhos do namorado.
- Você tá elogiando o ? – perguntou com um sorrisinho divertido nos lábios.
- É raro, mas acontece. – deu de ombros, suspirando.
Mas percebeu que não havia somente admiração de desejo nos olhos da amiga. o admirava em todos os aspectos, observando-o com carinho. Ela estava completamente apaixonada por e conseguia ver aquilo nos olhos da amiga. Queria que soubesse daquilo também – pois, se conhecia bem , ela jamais falaria aquelas coisas para o namorado.
- Fala pra ele. Acho que o vai gostar. – E claro, resolveu dar a idéia.
- Deus me livre. Se eu falar isso pra ele, nunca mais terei paz na vida! – Dizendo isso, começou a olhar o cardápio pela décima vez naquele dia.
Assim que os dois chegaram à mesa, entretanto, resolveu não deixar barato.
- ... Sabe que você tá maravilhoso hoje? – perguntou, fazendo o namorado corar levemente enquanto dava um sorriso orgulhoso.
- Jura, ? Obrigado!
- Poxa, ... – E olhou para a namorada. – Você nunca fala essas coisas pra mim. Aposto que só pensa sacanagem, mas não me fala nada, né?
não sabia se fuzilava com os olhos ou se encarava aquele sorriso safado na cara de com um olhar pasmo.
- Tá vendo? Ele fica insuportável sem eu nem ter falado nada! – apontou para o próprio namorado, fazendo rir imediatamente.
- O quê?! Ela disse alguma coisa?! – estava muito interessado naquele assunto.
- Ela comentou que você fica muito gostoso de regata! – teve que jogar lenha na fogueira.
queria se enfiar embaixo da mesa enquanto tinha a expressão mais orgulhosa do planeta no rosto. Durante uma semana, tudo que ele usou foram regatas. se arrependeu amargamente do próprio comentário.
Porém, o jogo virou no Halloween.
- Filme de terror? Por que você quer assistir um filme de terror? – simplesmente não conseguia ver sentido naquilo.
- Porque é Halloween, seu tonto. – rolou os olhos, voltando da cozinha dele com um balde de pipocas e garrafas de Soju. – Eu sei que vamos nas noites de terror do parque de diversões com a , o e o , mas filmes de terror são clássicos!
Dizendo isso, pulou no sofá ao lado de , deixando a comida sobre a mesa de centro enquanto ele procurava o filme que ela tinha escolhido.
- Sexta-Feira 13? De 1985? É isso que você escolheu para hoje? – Ele perguntou meio desacreditado. somente riu.
- Esse filme é sensacional, . Você não pode negar! – Ela defenderia aquele filme até a morte se fosse preciso. – Pode por quando quiser!
deu play no filme e passou um dos braços pelos ombros de , como sempre faziam quando iam assistir a algo juntos. Já estavam na metade quando a moça sentiu o braço dele se mexendo bruscamente.
Ao olhar para , percebeu que os olhos dele estavam arregalados.
- ... Você tá com medo? – perguntou tentativamente, sendo que recebeu um olhar de indignação dele.
- Eu?! Claro que não! Esse filme é bobo e todo mundo sabe o final! – Ele respondeu rolando os olhos, porém, durante os próximos quinze minutos, ela sentiu o corpo todo do namorado ficando tenso, enquanto ele se mexia desconfortavelmente.
E pausou o filme.
- Você tá com medo.
- Não estou!
- Tá sim! Dá pra ver na sua cara que...!
Porém, no mesmo momento, a luz acabou. A única fonte de luz que tinham era da lua e das estrelas entrando pela porta da varanda.
O silêncio foi absoluto.
- Será que caiu o fusível...? – A moça suspirou e se levantou, começando a procurar pelo celular para usar de lanterna.
Porém, logo sentiu a mão de envolvendo a sua.
- O que foi? – E ela estava confusa.
- Não sai andando assim! Eu posso te perder nesse escuro!
- , é a sua casa, a gente não vai se perder... – E começou a rir. – Você tá com medo.
- Ok. E se um Jason maluco sair com um facão do nada e correr atrás da gente? O que vamos fazer, hein? – Ele perguntou de volta, praticamente admitindo o próprio medo.
- É a sua casa, não um acampamento mal assombrado! – largou a mão dele e ligou a lanterna do celular, apontando para . – Por que haveria um Jason...?
Nesse momento, ela começou a encarar algo atrás dele. congelou no lugar, sem conseguir se mover. apontou para o que quer que fosse que estivesse encarando e abriu a boca.
começou a gritar e correu até ela, desembestado, quebrando tudo no caminho.
Abraçou de uma maneira bruta, fazendo com que ambos perdessem o equilíbrio. Acabaram no chão, com em cima de e a moça morrendo de rir.
Quando ele percebeu que foi tudo uma brincadeira, encarou-a sem conseguir acreditar.
- Você não fez isso comigo... – comentou de maneira ameaçadora, mas ela somente continuou a rir.
- Não sabia que você, com toda essa pose, seria medroso desse jeito! – respondeu e, antes que pudesse brigar com ela, a moça o abraçou e beijou o topo da cabeça do namorado. – Não se preocupe, eu estou aqui pra te proteger!
E ele suspirou, arrependendo-se de ter aceitado assistir a um filme de terror no Halloween.



21st Century Girl

- Sério. Às vezes eu não aguento vocês dois... – suspirou, enquanto preparava o café da manhã. - Nunca vi casal mais cabeça dura que vocês.
- Acontece. – sorriu enquanto esperava seu café esfriar um pouco. – Acho que é por isso que eu gosto tanto da . Ela me desafia e não fica acatando com tudo que eu falo, tem opinião própria e luta pelos próprios ideais... Claro, às vezes irrita, mas ela não se diminui perto de mim, sabe? Não fica que nem uma ovelhinha me seguindo, ela anda junto comigo, ao meu lado. É diferente de todas as relações que eu já tive.
- Sim, vocês estão no mesmo patamar... E olha que você é um cara com opiniões bem fortes. – comentou de volta, sentando-se à mesa para comer o próprio lanche. – Agora que estamos a sós, esclareça-me uma coisa, ... Quem de vocês é o dominante?
- Quê? – E ele foi pego de surpresa.
- Dominante. Vocês dois tem personalidades bem dominantes, então só fico imaginando como funciona o relacionamento. Queria saber quem é o dominante em tudo, não só no sexo. – Ela deu de ombros, mas os olhos brilhavam de curiosidade.
- Ah, entendi... – deu uma pequena risadinha em seguida. – Acho que nós dois fazemos concessões aqui e ali, dependendo da situação. Tentamos nos equilibrar e não mandar muito um no outro. É um exercício.
- Caramba... Então vocês são mais ajustados do que eu pensei! – Ela comentou rindo, fazendo-o rir também.
Em seguida, checou o próprio relógio e se levantou.
- Agora preciso ir, . A defesa da tese da começa em meia hora e quero estar lá.
somente sorriu. Os dois, apesar de tudo, eram perfeitos um para o outro.
- Ela vai ficar muito feliz de tê-lo lá para apoiá-la.
- Assim espero. Tchau!

praticamente correu até a Universidade, chegando rapidamente ao auditório na qual faria a defesa.
Não conseguiram conversar antes da apresentação. Ele se sentou em um lugar discreto, para não distraí-la, porém viu quando sorriu ao olhar na direção dele. Ela tinha uma postura séria e profissional, apresentando toda a tese de maneira clara enquanto passava os slides. Havia várias coisas técnicas de Ciências da Computação que ele não conseguia entender, porém muitas coisas de Filosofia que eles até chegaram a comentar entre si.
comprovou o que ele pensara no dia que a beijara a primeira vez: ela brilhava como o sol. Toda a sua inteligência, capacidade, esforço e trabalho pesado estava refletido naquele dia. Tudo que ela fez e pensara era explicado da melhor maneira para a banca e os outros espectadores.
O professor deles estava certo quando disse que ela era um bom aditivo para a Universidade. Aquela pesquisa poderia se tornar referência no campo dela e teria o nome da Universidade como suporte.
Às vezes, pensava se eles realmente eram tão iguais assim, conforme conversara com anteriormente. Simplesmente porque era excepcional, uma mulher forte e independente – muito diferente das mulheres dos séculos passados. Ela trazia inovações, pois era uma moça diferente de todo o resto do mundo.
Ele queria encontrá-la enquanto a banca dava a nota, porém somente ficou na sala para o veredicto. andava de um lado para o outro, mal conseguindo conter a inquietação.
Até, repentinamente, encontrar o rosto de parado à porta da sala.
- E aí, ? Como foi? – Ele perguntou cheio de expectativas enquanto se aproximava.
- Terminei minha tese com nota 10, proposta de publicação de artigos, oferta para ficar aqui na Universidade e uma proposta para começar minha pesquisa de doutorado nessa área! – Ela respondeu abrindo o maior sorriso do mundo e dando pulos de alegria.
- Não acredito! – E a agarrou imediatamente, girando-a no ar. – Estou tão orgulhoso de você! Parabéns, ! Você merece tudo!
- Nem eu acredito, ! – Pelo tom de voz dela, ele sabia que estava a ponto de chorar.
Mas não podia julgá-la... Também estava quase chorando.

- Então quer dizer que agora você vai morar definitivamente aqui na Coréia? – Ele perguntou enquanto brincava com os cabelos de .
Já era de noite, ambos tinham jantado em comemoração e agora estavam de pijama na cobertura do apartamento de , observando as estrelas. Ele estava sentado no chão enquanto estava deitada, descansando a cabeça sobre as pernas dele.
- Exato. Não tem mais como se livrar de mim agora. – Ela comentou casualmente, fazendo-o rir. – Estou tão feliz. Tudo deu certo.
- Claro que deu certo. Você é uma mulher excepcional, não tinha como não dar certo. – Ele respondeu como se fosse óbvio, agora a fazendo dar uma breve risada.
ficou observando o rosto do namorado durante um tempo, enquanto ele ainda brincava distraidamente com os cabelos dela e observava os corpos celestes.
Até aquele ponto, nenhum dos dois tinha dito a fatídica frase “eu te amo” e ambos sabiam o motivo. Acreditavam que admitir o amor por outra pessoa, de maneira tão direta e sem rodeios, era desistir de todo o orgulho que tinham. Quem falasse primeiro era o que se importava menos com o próprio orgulho, o que faria qualquer coisa pelo outro. Entendiam aquela frase como uma fraqueza.
Porém, naquele momento, via tudo de uma maneira diferente. Ela amava e queria que ele soubesse. Queria dizer isso a ele e queria ver a reação dele. Começou a compreender que dizer “eu te amo” não era uma fraqueza, mas sim uma maneira de mostrar seu coração ao outro – sim, deixava a pessoa vulnerável, porém não de uma maneira ruim. Se o outro também a amasse, não teria perigo em estar vulnerável. Não estaria desistindo de seu orgulho... Estaria simplesmente caminhando ao lado dele – não à frente e nem atrás. Seriam companheiros, amigos e amantes.
- ... – o chamou repentinamente, fazendo-o olhar para ela. – Eu te amo.
Ele ficou alguns segundos em choque, processando o que ela tinha acabado de falar. Em seguida, começou a sorrir.
- Não acredito que você me venceu nessa também. – Ele comentou rindo, fazendo-a franzir as sobrancelhas. – Eu queria ter dito antes. Estava me preparando desde hoje de manhã. Não é justo.
Com isso, ela começou a rir, tendo que se sentar e respirar fundo para parar. Quando finalmente conseguiu, olhou para com um pequeno sorriso nos lábios. Assim, ele pousou uma das mãos no rosto de , olhando-a diretamente nos olhos.
- Eu também te amo, .
Agora tinham certeza que estavam no mesmo patamar.


Fim.



Nota da autora: E aí, gente? Gostaram desse casal pouco orgulhoso querendo se matar a cada segundo?
Eu curti. Dei muita risada escrevendo isso daqui.
Principalmente a parte que eles cantam “A Lenda” no karaokê e sinto a necessidade de explicar o motivo desse momento! Enquanto eu escrevia, os seres do karaokê são o Jin e o Jimin. Eu e minha prima temos apelidos próprios para cada um do BTS e os dois são os que mais sofrem e fazem drama pra cantar. Então, o apelido deles é “Jinvidências” (porque imagino MUITO esse homem cantando Evidências com todo o coração) e “A Lenda” (porque a música é até no tom do Jimin, ficaria perfeito).
Mas vamos lá. O objetivo da fic (minhas fics sempre tem objetivo, é incrível) era mostrar uma mulher maravilhosa e durona, junto com um cara igual! Pra mim, a 21st Century Girl é aquela garota desse século que sabe lidar com tudo, ser independente, amar os amigos e ter suas próprias asas para voar e ir longe. Orgulhosa, sim, mas não estúpida.
Então, moral da história: sejam assim e sejam garotas apaixonantes. Abram suas asas e não tenham medo de voar!
Até a próxima!
XX
PS: Segue meu grupo no facebook pra que vocês fiquem de olho nos meus próximos projetos! Tem espaço pra todo mundo e espero vê-las lá.
Disclaimer: Essa história é protegida pela Lei de Direitos Autorais e o Marco Civil da Internet. Postar em outro lugar sem a minha permissão é crime.
Não gosto de falar essas coisas, mas como já tive problemas antes, acho bom deixar avisado. Nem tudo que tá na internet é do mundo, minha gente. Quer postar em outro site? Fala comigo! Eu não mordo! Hahaha a gente vê de me dar o crédito e linkar para o original aqui no FFObs! Só me mandar um e-mail ou pedir aí nos comentários!




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