Capítulo Único
Eu nunca tive uma mãe que me contasse histórias na hora de dormir e me desse um beijo de boa noite. Eu nunca tive um pai que me levasse até o colégio e pedisse para eu tomar cuidado. Eu nunca tive uma mãe que fosse às reuniões e às festinhas do meu colégio. Também nunca tive um pai que me ajudasse com os deveres que eu não conseguia fazer.
Na minha vida inteira, eu dei meu melhor, em todos os sentidos. Apenas esperava um pouco de reconhecimento de meus próprios pais. Isso nunca aconteceu. Para ser sincera, nunca entendi o que eles queriam de mim. Eu era a filha perfeita.
Como minha mãe não contava os contos de fada que toda criança quer ouvir, minha professora me contava. Eu lembro que sempre quis ser uma princesa e ter um príncipe encantado, para que vivêssemos felizes para sempre. Cresci esperando meu tal príncipe. Procurei-o em todos os rostos que eu via. Eram todos iguais.
Até que chegou o colegial. Minhas amigas diziam que eu estava louca, só por eu querer me apaixonar de verdade e que meu príncipe não existia. Acho que o que ninguém nunca entendeu, era que o príncipe que eu procurava não era aquele cara perfeito. Eu apenas procurava um cara que me fizesse rir, que me desse atenção, carinho, que me fizesse amar e ser amada e, acima de tudo, me fizesse feliz. Então, eu finalmente o encontrei.
Minha professora preferida estava corrigindo as provas de recuperação, e pediu para que eu entregasse para os alunos que as fizeram. Entreguei algumas e olhei a que continha um F bem grande, dei um sorriso de lado e caminhei até a cadeira do garoto da prova. Perguntei seu nome: . Ele deu sorriso, perguntando o meu em seguida. Desde aquele dia, o sorriso dele não saiu mais da minha cabeça.
Estávamos no meio do ano do segundo colegial e eu adquiri um apelido. Eu e minhas duas amigas, para ser franca. Todos nos chamavam de intocáveis. Eu não sei quando isso começou, mas era legal ser o que os garotos chamam de “garota impossível”. Lembro que uma semana depois de ter falado com , ele veio correndo em minha direção e perguntou o que era ser uma intocável. Qual explicação seria melhor do que simplesmente virar as costas e ignorá-lo? Exato, nenhuma.
Alguns dias depois, a senhorita Margo, a professora de química, me chamou em sua sala, dizendo que um aluno estava com problemas na matéria e queria alguém que entendesse. Eu sempre fui a melhor aluna, então ela recorreu a mim. Perguntei qual aluno e ela disse o nome dele. Talvez pudesse ser interessante. Então duas vezes por semana, nós dois nos encontrávamos na biblioteca do colégio. Ele era engraçado e me fazia rir fácil. Com o passar dos meses, ficamos mais próximos um do outro e eu comecei a perceber que talvez não seria mais uma intocável.
Ele era diferente dos outros garotos. Eu sorria sempre que pensava nele. Assim como estou fazendo agora. Bem, parecia que eu finalmente havia encontrado o príncipe que eu sempre procurei. Começamos a sair e eu tive a certeza de que era ele. Mas para completar o clichê, havia um problema, junto de toda princesa também há o dragão, e nesse caso, eram meus pais. não era o garoto que eles imaginavam que eu iria namorar.
não era bilionário, nem filhinho de papai, era apenas um garoto normal, com uma família normal, que iria entrar para a faculdade e ganhar o próprio dinheiro. Isso não era certo aos olhos da minha mãe e do meu pai. Eles disseram que ele não era bom o bastante para me namorar e que eu merecia alguém melhor. Mas o melhor para eles, nunca foi o melhor para mim. Eu nunca quis um namorado bilionário com a vida feita e que tivesse um carro de luxo para cada dia da semana. Tudo o que eu sempre quis foi .
Entramos juntos para a faculdade de Oxford. E meus pais me proibiram de namorá-lo. Tinha como isso se tornar pior? Eu continuei com ele, é claro, mas às escondidas, porque ninguém poderia saber. Eu odiava viver em um segredo. Bem, isso realmente se tornou pior. Meus pais descobriram que continuávamos juntos e me mandaram para a França, longe de . Eu acho que nunca fiquei tão mal em toda minha vida. Era como se meu coração estivesse sido arrancado de mim. E realmente foi, porque querendo ou não, ele era meu coração.
Eu tenho 21 anos e faz quatro meses desde que isso aconteceu. Eu sofria a cada dia que passava na França. Na semana passada eu estava tão mal, que decidi que iria novamente para Londres, especificamente para Bournemouth. Obviamente seria escondida. Então, ontem liguei para e pedi que ele viesse para Bournemouth, que eu havia feito reservas no nome dele no hotel que ficávamos sempre que íamos até lá.
Suspirei, sentindo a areia entre meus dedos do pé e olhei para o céu. Sempre amei essa pequena cidade. As estrelas, que eu não podia ver em Paris e Londres, eu via aqui. Um céu repleto delas. Sorri sozinha e voltei a caminhar para fora da praia. Sentei em um banco e limpei meus pés, voltando a calçar minhas botas. Quando a noite chegava em Bournemouth, o frio dominava. Olhei para frente, vendo o hotel. Eu realmente queria ver .
Atravessei a pista e logo eu estava no hall do hotel. Peguei a chave na recepção e entrei no elevador. Em alguns segundos, eu já estava em nosso andar. Abri a porta do quarto lentamente e ele estava de costa para mim, na sacada, olhando as estrelas. Sorri de imediato quando virou para me olhar. Ele estava mais lindo do que nunca.
O cabelo não estava arrumado no topete de sempre, estava bagunçado e natural, eu adorava quando ficava assim. Ele usava uma calça preta, uma blusa de mangas compridas e apenas meias nos pés. Ele sorriu depois de também me analisar e eu andei rapidamente até ele, abraçando-o. Seu cheiro era tão familiar, que me fez querer chorar.
— Senti tanto a sua falta. — sussurrei, apertando-o ainda mais.
— E você não tem ideia do quando eu senti a sua. — sorri, com o rosto na curva do seu pescoço — Você demorou.
— Andei um pouco pela praia. — desfiz nosso abraço e me sentei na cama — Eu precisava pensar.
— Sobre?
— Sobre nós, é claro. Precisamos conversar, .
— Não acho que seja uma boa hora. — suspirou — Podemos falar disso depois.
— Tá, tudo bem.
— Não quero que fique chateada. Eu só quero curtir esse momento, como se nós não tivéssemos nenhum problema. — sorri para ele e deslizei minha mão em seu rosto — Como tem sido na França?
— Nada de muito interessante. — dei de ombros — Eu passo o dia inteiro estudando.
Observei o garoto em minha frente, que mantinha um olhar triste em seu rosto. Suas feições eram fortes e me davam uma segurança que eu não sentia há um tempo. Algo familiar, que me deixava apaixonada outra vez sempre que o olhava. Fitei minhas unhas e levantei da cama andando até a sacada, onde ele estava antes. O vento frio fez meus pelos do braço se arrepiarem. De cima, eu podia ver os carros, que passavam lentamente pela rua principal, e as pessoas passeando. Elas riam e suas conversas chegavam de um modo indecifrável em meus ouvidos. Essas pessoas tinham problemas, do mesmo jeito que eu, no entanto, não se colocavam em uma jaula e jogavam a chave fora. Essas pessoas saiam para passear e esquecer, por alguns minutos, daquilo que as deixam tristes. Talvez eu devesse fazer isso.
Senti dois braços passarem em volta de minha cintura e o cheiro de invadiu minha consciência. Parecia tudo tão mais fácil assim. Era perfeito. Eu e . Para sempre.
— Vamos superar isso. — ele disse em meu ouvido — Vai ficar tudo bem. Ninguém precisa saber.
Essas palavras foram o suficiente para eu virar lentamente minha cabeça em sua direção. Seus olhos procuraram minha boca e no segundo seguinte nossos lábios se encostaram, formando um beijo, que transmitia saudade, paixão, esperança, desespero e também amor. Segurei sua nuca com minhas duas mãos e intensifiquei o beijo.
Quando separamos nossos lábios, um suspirou pesado escapou entre ambos, não era fácil explicar a o motivo de minha volta. Quanto mais eu adiasse, seria melhor. Observei a cama e percebi que era redonda, eu adorava aquele tipo de cama. Sorri maliciosamente e tirei o casaco indo em direção a ela. entendeu o recado, pois me seguiu com um sorriso bem parecido ao meu.
— Vou te fazer minha novamente esta noite. — sussurrou, colando nossos corpos e começando a distribuir beijos por toda a extensão de meus ombros e pescoço. Suas mãos seguravam firmemente minha cintura, como se eu fosse escapar a qualquer momento e ele quisesse impedir que isso acontecesse.
Nosso segundo beijo não foi nada comparado ao primeiro, esse foi mais misturado ao desejo infinito que tínhamos um do outro e em sermos um só. Seus lábios e os meus se encontravam com força e ferocidade, um pouco violento e com uma essência de tesão. Minhas mãos encontraram a barra de sua camisa — que logo foi jogada em algum canto que não me dei o trabalho de olhar — e passeei minhas unhas por seu abdômen, até chegar as suas, tão esperadas, costas, onde as cravei sem dó. Ele gostava. Chupou algumas vezes meu pescoço, ao mesmo tempo em que beijos eram distribuídos. Suspirei, ofegante, quando me jogou na cama com força e começou a passar sua mão por dentro da blusa que eu vestia. Seu toque era quente, o que contrastava com minha pele fria e, de alguma forma, isso parecia ser bom.
Ajudei-o a arrancar minha blusa e uma de suas mãos procuraram o fecho do meu sutiã, senti ele se abrir e fechei os olhos quando começou seu trabalho em meus seios. Suspirei fascinada com a saudade que sentia daquilo e desci minhas mãos até o fecho da minha calça. Entrelacei minhas pernas em que continuava tocando meus seios como se fosse a melhor coisa do mundo a ser feita. Para mim, aquilo não era o suficiente. Consegui com esforço tirar sua calça e acho que ele entendeu que aquela era minha deixa. Minhas calças foram puxadas e sua mão apertou minha coxa fortemente me fazendo arfar. Consegui ver um sorriso se formando em seus lábios e antes que ele fizesse algo a mais, puxei seu corpo, deixando nossos rostos próximos.
— Amo você — falei, sem rodeios, e o beijei.
Naquele momento, não existia França. Não existia meu pai. Não existia minha mãe. Não existia nenhuma força no mundo capaz de nos destruir. Não existia distância. Não existia proibição. Não existiam segredos. Naquele momento, tudo se resumia a ele e no quanto eu não me importava com o que diziam sobre nós. Naquele momento, existia apenas eu, completamente apaixonada por . Existia apenas eu ignorando meus pais. Existia eu desobedecendo regras por ele. Era tudo sobre .
— Eu também amo você.
E com essas palavras, nossa noite se resumiu a todos os sentimentos que conseguimos expressar por debaixo daqueles lençóis brancos. Tudo parecia perfeito. Sem problemas para nos atormentar, parecíamos ter nos esquecido deles. Eu tinha . Tudo ficaria bem.
Acordei com o sol que entrava pela sacada – que continuava aberta desde a noite passada – e olhei para o lado, me certificando de que aquilo não havia sido um sonho. dormiria lindamente, se a boca dele não estivesse aberta, fazendo com que um caminho de baba escorresse por sua bochecha. Sorri, achando isso bonitinho e me levantei da cama sem fazer barulho. Procurei por uma escova de dente e fui para o banheiro tomar um banho. Deixei a escova de dente em cima da pia e liguei o chuveiro, para a água ir logo esquentando. Me despi e prendi meu cabelo em um coque.
A água quente escorreu pelo meu corpo junto com o sabonete pelo tempo o suficiente para que eu me sentisse cheirosa. Saí do box e escovei o dente, meu cabelo soltou do coque, caindo sobre minhas costas e batendo em minha cintura. Peguei um pente qualquer e o penteei, tentando o deixar apresentável. Como o clima de Bournemouth pela manhã era um pouco quente – pelo menos para os londrinos, que eram acostumados a vestir todo o guarda-roupa –vesti um short jeans de lavagem clara e uma blusinha florida de alças. Quando voltei ao quarto, estava sentado na cama com os olhos fechados, como se ainda estivesse dormindo.
— Acho que seria uma boa você tomar um banho para despertar. — falei e ele abriu os olhos lentamente, um sorriso começava a se formar em seus lábios.
— Acho que concordo. — deu de ombros e se levantou da cama. Seu rosto amassado me fez abrir um sorriso de lado — O que faremos hoje?
Essa era uma boa pergunta.
— Depois vemos isso, vai logo para o banheiro. — ele assentiu e deu um beijo em meu rosto rapidamente.
Olhei meu celular, que tinha uma mensagem de Dakota, uma francesa que virou minha colega nesses meses, ela dizia que haviam perguntado por mim no campus da faculdade e que logo meus pais saberiam que eu não estava lá. Estremeci com a ideia de eles descobrirem. Talvez eu devesse enfrentá-los e dizer o que penso e o que irei fazer, mas passei anos demais sendo a filha perfeita que eles um dia se orgulhariam de ter, jogar tudo para o alto me parecia assustador demais. Enrolei meu cabelo na ponta do dedo e me voltei para a sacada do hotel, observando a praia cheia de banhistas e surfistas. Minha mala aberta no chão mostrava um biquíni azul claro e fui até ela para poder colocá-lo. Me sentia tão feliz que poderia começar a chorar agora mesmo.
saiu do banheiro enxugando os cabelos com a toalha e percebi que ele já estava vestido com uma bermuda e uma camiseta.
— Iremos para a praia. — falei animada e andando rapidamente até , que sorria de lado.
— Vamos logo então, minha barriga implora por comida. — colocou uma de suas mãos em minha cintura e saímos do quarto juntos.
— Não pense que eu deixarei você ficar só de biquíni andando por ai. — ri de seus ciúmes e dei um beijo em que inicialmente não retribuiu. Inicialmente, claro, já que ele não resistia.
Tirei o short e logo depois a blusa, ficando só de biquíni como todos naquela praia. balançou a cabeça e olhou feio ao seu redor, provavelmente para recriminar alguém que estivesse me olhando.
— Você é ridículo, Espinosa. — ele me deu um selinho rápido e me puxou pela mão, correndo para dentro do mar.
A água estava gelada, como se pedras de gelo estivessem flutuando, o vento forte e frio também não ajudavam em nada e senti meus dentes baterem um contra o outro. Comecei a andar mais devagar para o fundo e abracei meu próprio corpo, olhando para o céu. O sol brilhava entre as nuvens brancas, que tinham formas de animais. Um dinossauro. Um elefante. Um cachorro, não, um leão.
— Eu vejo um grande sorvete. — escutei e procurei o formato de sorvete no céu, sem sucesso.
— Aonde você vê?
— Mais adiante, do lado do hotel. — ele apontou para uma sorveteria, com um sorvete gigante na entrada. Fiz uma careta.
— Cala a boca, . — puxei seu rosto molhado para perto do meu.
Ele apenas colou nossos lábios e começamos um beijo lento e salgado. Beijar era como entrar em um mundo paralelo, esquecendo de tudo e todos. Apoiei minhas mãos em seu ombro e entrelacei minhas pernas em seu corpo, coisa que eu gostava muito de fazer. Sorri entre o beijo e pensei no quanto eu queria ficar aqui com ele. O futuro que eu imaginava desde que o conheci era que começaríamos a faculdade juntos, terminaríamos juntos, iríamos noivar, casar e ir para a lua de mel. Quando voltássemos, iríamos morar juntos, nos estabilizar, para comprarmos uma casa de verão aqui em Bournemouth, ter um filho, quem sabe dois, ou três e assim iríamos ser, de algum modo, felizes para sempre.
Quando saímos do mar, fomos à procura de nossas roupas que estavam na areia, falava algo sobre como queria voltar a surfar e que poderíamos ir mais vezes para Bournemouth.
— Seria legal você me ensinar a surfar. — disse, entrelaçando nossas mãos e logo estávamos na sorveteria. pediu sabor chiclete e chocolate, e eu me contentei com um de flocos — Sabe, eu senti muita falta disso.
— Eu também, , eu também. — me beijou pela décima vez no dia e começamos a andar pela calçada.
Passamos o dia na rua comendo bobagens, como batata frita e hambúrguer, e colocando nossa conversa em dia. me contava as novidades da faculdade e em como todo dia depois de minha partida, as pessoas o paravam para perguntar se tínhamos terminado e por isso eu havia saído da faculdade. Contei para ele o quão ruim estava sendo a França e minha tia estilista que só falava de roupas e moda. Não mencionei, é claro, que a titia havia arrumado o Sebastian, um francês bilionário, que achava que poderia me conquistar sempre que aparecia com um de seus carros novos. Sebastian era superficial e sem conteúdo algum, provavelmente o tipo de cara que minha mãe casaria sem pensar duas vezes se ainda fosse novinha.
Quando o sol foi se pondo, percebemos que deveríamos voltar logo para o hotel, já estava frio e logo pioraria. Andamos às pressas para o hotel e em cinco minutos estávamos dentro do elevador quentinho. Percebi que o quarto do hotel estava uma bagunça, mas não me importei com isso naquele momento. Precisava de um banho quente.
— Acho que preciso de um banho quente. — tirou a camiseta e pegou a toalha.
— Sabe, eu acho a mesma coisa. — dei um sorriso de lado com as sobrancelhas arqueadas, vendo-o retribuir com um sorriso malicioso. Aquele banho seria interessante.
Vestia apenas uma calcinha e uma blusa de mangas compridas de . Nós havíamos ligado o aquecedor do quarto e pedimos uma pizza do hotel para jantar. Enquanto esperávamos, arrumava o quarto e eu o observava.
— Obrigada por não me ajudar. — disse em um tom de brincadeira e eu me aninhei nos lençóis da cama.
— Estou com preguiça, você sabe. — dei de ombros e ele murmurou algo como “Sei bem”.
Mais uma noite acabava e amanhã seria dia de voltar para a França. Eu sabia que deveria contar para , mas iria destruir toda a bolha de felicidade que construímos e eu não me sentia preparada para isso. Escutei batidas na porta e foi abrir. Ótimo, era a pizza. Tudo parecia perfeito. Era como se não existisse nada no mundo que nos afastasse. e eu criamos aquela bolha de felicidade temporária e não queríamos que estourasse. Uma hora ou outra, é claro ela iria.
Talvez se eu contasse hoje que voltaria amanhã para a França. Ele ficaria bravo e discutiríamos, mas quando a manhã chegasse, ele já não estaria tão chateado.
— Tenho uma coisa para te falar. — disse, assim que ele terminou a pizza.
— Eu também tenho. — ele se levantou e foi até sua mala procurar alguma coisa.
— , eu vou voltar para a França. — ele virou rapidamente e deixou o que estava em sua mão caísse. Uma caixinha de veludo vermelha agora estava no chão e ele me olhava sério.
— Só por mais alguns meses, certo? — sua voz havia uma ponta de esperança.
— Meus pais querem que eu more lá.
— Eles estão loucos? — gritou e eu abaixei os olhos para algum canto fixo do quarto — Você não pode fazer isso, , não pode fazer isso com a gente!
— , podemos conversar sobre isso amanhã? — senti meus olhos se encherem de lágrimas e ele mexeu no cabelo, irritado.
— Claro, vamos deixar esse assunto para depois, não é isso que você sempre faz? Deixa nossos assuntos em segundo plano?
Não respondi, apenas deitei na cama e me enrolei nos lençóis, sentindo as lágrimas escorrerem silenciosamente pelo meu rosto. Ele ia me pedir em casamento. As lágrimas caíram com mais intensidade e em apenas algum momento da madrugada eu consegui dormi. ficou no sofá do quarto.
Coloquei minha calça me controlando para não voltar a chorar, me olhava desolado, eu sabia que estava fazendo ele sofrer tanto quanto eu. Por que eu não mandava meus pais para um lugar bem feio e ficava com ele? Por que eu não tinha essa coragem? Suspirei e levantei para tirar a blusa dele e colocar uma minha. entrou no banheiro. Senti meus olhos marejarem e comecei a chorar novamente. Eu não sabia que seria tão difícil dessa vez. Por que estava sendo difícil? Talvez porque ele ia me pedir em casamento.
Quando saiu do banheiro, me forcei a imaginar um futuro em que nós dois não estaríamos juntos. Um dia, eu iria descobrir que o anel de noivado que seria meu, estava agora na mão de outra garota, alguma que ele conheceu na faculdade ou em algum lugar pelo mundo. E depois eu descobriria que eles estavam casados e que ele iria ser pai de um filho, me esquecendo para sempre. Quanto a mim, meu futuro seria como meus pais planejassem, ou seja, um casamento de luxo com Sebastian, uma vida cheia de mimos, onde eu nem precisaria trabalhar, passaria o dia inteiro aturando pessoas fúteis e pensando no quanto tudo seria melhor se eu estivesse com . Mas seria tarde demais.
Segurei a mala e a puxei até a porta.
— Você deveria ficar. — a voz dele saiu rouca e eu olhei para ele que estava parado no centro do quarto.
— ...
— É sério, solta essa mala, esse não precisa ser o nosso fim. Você não tem noção do que foi aguentar esses meses sem você, era como se eu carregasse um fardo em minhas costas e meu peito doía só de pensar em você, mas eu sabia que você voltaria e isso me dava forças para continuar. Mas agora, se você for, você não vai voltar e eu não quero dizer adeus. Nós já passamos por tanta coisa, jogamos duro para chegar até aqui e você não pode desistir de nós dois.
“Eu sei que você diz que é difícil manter um segredo, mas eu juro, não vamos mais precisar viver um segredo se você ficar. Iremos enfrentar seus pais juntos, vamos conseguir superar isso, por favor, não me deixe sozinho neste hotel. Sabe, quando você foi embora, cada dia era uma segunda-feira para mim, eu me sentia sozinho e não é bom estar sozinho. Não se finja de inocente,, eu sei o que você quis dizer quando disse que viria. Você quer ficar, eu sei disso. Então fique. Podemos fazer isso certo. “
Senti uma lágrima descer por minha bochecha, quando pegou a caixinha de veludo e abriu, um anel lindo estava dentro e naquele momento tudo o que eu mais quis foi ficar. Eu deveria ficar? Ele caminhou até onde eu estava e passou seu dedo em meu rosto, secando as lágrimas.
— Apenas, me deixe mudar sua passagem.
Na minha vida inteira, eu dei meu melhor, em todos os sentidos. Apenas esperava um pouco de reconhecimento de meus próprios pais. Isso nunca aconteceu. Para ser sincera, nunca entendi o que eles queriam de mim. Eu era a filha perfeita.
Como minha mãe não contava os contos de fada que toda criança quer ouvir, minha professora me contava. Eu lembro que sempre quis ser uma princesa e ter um príncipe encantado, para que vivêssemos felizes para sempre. Cresci esperando meu tal príncipe. Procurei-o em todos os rostos que eu via. Eram todos iguais.
Até que chegou o colegial. Minhas amigas diziam que eu estava louca, só por eu querer me apaixonar de verdade e que meu príncipe não existia. Acho que o que ninguém nunca entendeu, era que o príncipe que eu procurava não era aquele cara perfeito. Eu apenas procurava um cara que me fizesse rir, que me desse atenção, carinho, que me fizesse amar e ser amada e, acima de tudo, me fizesse feliz. Então, eu finalmente o encontrei.
Minha professora preferida estava corrigindo as provas de recuperação, e pediu para que eu entregasse para os alunos que as fizeram. Entreguei algumas e olhei a que continha um F bem grande, dei um sorriso de lado e caminhei até a cadeira do garoto da prova. Perguntei seu nome: . Ele deu sorriso, perguntando o meu em seguida. Desde aquele dia, o sorriso dele não saiu mais da minha cabeça.
Estávamos no meio do ano do segundo colegial e eu adquiri um apelido. Eu e minhas duas amigas, para ser franca. Todos nos chamavam de intocáveis. Eu não sei quando isso começou, mas era legal ser o que os garotos chamam de “garota impossível”. Lembro que uma semana depois de ter falado com , ele veio correndo em minha direção e perguntou o que era ser uma intocável. Qual explicação seria melhor do que simplesmente virar as costas e ignorá-lo? Exato, nenhuma.
Alguns dias depois, a senhorita Margo, a professora de química, me chamou em sua sala, dizendo que um aluno estava com problemas na matéria e queria alguém que entendesse. Eu sempre fui a melhor aluna, então ela recorreu a mim. Perguntei qual aluno e ela disse o nome dele. Talvez pudesse ser interessante. Então duas vezes por semana, nós dois nos encontrávamos na biblioteca do colégio. Ele era engraçado e me fazia rir fácil. Com o passar dos meses, ficamos mais próximos um do outro e eu comecei a perceber que talvez não seria mais uma intocável.
Ele era diferente dos outros garotos. Eu sorria sempre que pensava nele. Assim como estou fazendo agora. Bem, parecia que eu finalmente havia encontrado o príncipe que eu sempre procurei. Começamos a sair e eu tive a certeza de que era ele. Mas para completar o clichê, havia um problema, junto de toda princesa também há o dragão, e nesse caso, eram meus pais. não era o garoto que eles imaginavam que eu iria namorar.
não era bilionário, nem filhinho de papai, era apenas um garoto normal, com uma família normal, que iria entrar para a faculdade e ganhar o próprio dinheiro. Isso não era certo aos olhos da minha mãe e do meu pai. Eles disseram que ele não era bom o bastante para me namorar e que eu merecia alguém melhor. Mas o melhor para eles, nunca foi o melhor para mim. Eu nunca quis um namorado bilionário com a vida feita e que tivesse um carro de luxo para cada dia da semana. Tudo o que eu sempre quis foi .
Entramos juntos para a faculdade de Oxford. E meus pais me proibiram de namorá-lo. Tinha como isso se tornar pior? Eu continuei com ele, é claro, mas às escondidas, porque ninguém poderia saber. Eu odiava viver em um segredo. Bem, isso realmente se tornou pior. Meus pais descobriram que continuávamos juntos e me mandaram para a França, longe de . Eu acho que nunca fiquei tão mal em toda minha vida. Era como se meu coração estivesse sido arrancado de mim. E realmente foi, porque querendo ou não, ele era meu coração.
Eu tenho 21 anos e faz quatro meses desde que isso aconteceu. Eu sofria a cada dia que passava na França. Na semana passada eu estava tão mal, que decidi que iria novamente para Londres, especificamente para Bournemouth. Obviamente seria escondida. Então, ontem liguei para e pedi que ele viesse para Bournemouth, que eu havia feito reservas no nome dele no hotel que ficávamos sempre que íamos até lá.
Suspirei, sentindo a areia entre meus dedos do pé e olhei para o céu. Sempre amei essa pequena cidade. As estrelas, que eu não podia ver em Paris e Londres, eu via aqui. Um céu repleto delas. Sorri sozinha e voltei a caminhar para fora da praia. Sentei em um banco e limpei meus pés, voltando a calçar minhas botas. Quando a noite chegava em Bournemouth, o frio dominava. Olhei para frente, vendo o hotel. Eu realmente queria ver .
Atravessei a pista e logo eu estava no hall do hotel. Peguei a chave na recepção e entrei no elevador. Em alguns segundos, eu já estava em nosso andar. Abri a porta do quarto lentamente e ele estava de costa para mim, na sacada, olhando as estrelas. Sorri de imediato quando virou para me olhar. Ele estava mais lindo do que nunca.
O cabelo não estava arrumado no topete de sempre, estava bagunçado e natural, eu adorava quando ficava assim. Ele usava uma calça preta, uma blusa de mangas compridas e apenas meias nos pés. Ele sorriu depois de também me analisar e eu andei rapidamente até ele, abraçando-o. Seu cheiro era tão familiar, que me fez querer chorar.
— Senti tanto a sua falta. — sussurrei, apertando-o ainda mais.
— E você não tem ideia do quando eu senti a sua. — sorri, com o rosto na curva do seu pescoço — Você demorou.
— Andei um pouco pela praia. — desfiz nosso abraço e me sentei na cama — Eu precisava pensar.
— Sobre?
— Sobre nós, é claro. Precisamos conversar, .
— Não acho que seja uma boa hora. — suspirou — Podemos falar disso depois.
— Tá, tudo bem.
— Não quero que fique chateada. Eu só quero curtir esse momento, como se nós não tivéssemos nenhum problema. — sorri para ele e deslizei minha mão em seu rosto — Como tem sido na França?
— Nada de muito interessante. — dei de ombros — Eu passo o dia inteiro estudando.
Observei o garoto em minha frente, que mantinha um olhar triste em seu rosto. Suas feições eram fortes e me davam uma segurança que eu não sentia há um tempo. Algo familiar, que me deixava apaixonada outra vez sempre que o olhava. Fitei minhas unhas e levantei da cama andando até a sacada, onde ele estava antes. O vento frio fez meus pelos do braço se arrepiarem. De cima, eu podia ver os carros, que passavam lentamente pela rua principal, e as pessoas passeando. Elas riam e suas conversas chegavam de um modo indecifrável em meus ouvidos. Essas pessoas tinham problemas, do mesmo jeito que eu, no entanto, não se colocavam em uma jaula e jogavam a chave fora. Essas pessoas saiam para passear e esquecer, por alguns minutos, daquilo que as deixam tristes. Talvez eu devesse fazer isso.
Senti dois braços passarem em volta de minha cintura e o cheiro de invadiu minha consciência. Parecia tudo tão mais fácil assim. Era perfeito. Eu e . Para sempre.
— Vamos superar isso. — ele disse em meu ouvido — Vai ficar tudo bem. Ninguém precisa saber.
Essas palavras foram o suficiente para eu virar lentamente minha cabeça em sua direção. Seus olhos procuraram minha boca e no segundo seguinte nossos lábios se encostaram, formando um beijo, que transmitia saudade, paixão, esperança, desespero e também amor. Segurei sua nuca com minhas duas mãos e intensifiquei o beijo.
Quando separamos nossos lábios, um suspirou pesado escapou entre ambos, não era fácil explicar a o motivo de minha volta. Quanto mais eu adiasse, seria melhor. Observei a cama e percebi que era redonda, eu adorava aquele tipo de cama. Sorri maliciosamente e tirei o casaco indo em direção a ela. entendeu o recado, pois me seguiu com um sorriso bem parecido ao meu.
— Vou te fazer minha novamente esta noite. — sussurrou, colando nossos corpos e começando a distribuir beijos por toda a extensão de meus ombros e pescoço. Suas mãos seguravam firmemente minha cintura, como se eu fosse escapar a qualquer momento e ele quisesse impedir que isso acontecesse.
Nosso segundo beijo não foi nada comparado ao primeiro, esse foi mais misturado ao desejo infinito que tínhamos um do outro e em sermos um só. Seus lábios e os meus se encontravam com força e ferocidade, um pouco violento e com uma essência de tesão. Minhas mãos encontraram a barra de sua camisa — que logo foi jogada em algum canto que não me dei o trabalho de olhar — e passeei minhas unhas por seu abdômen, até chegar as suas, tão esperadas, costas, onde as cravei sem dó. Ele gostava. Chupou algumas vezes meu pescoço, ao mesmo tempo em que beijos eram distribuídos. Suspirei, ofegante, quando me jogou na cama com força e começou a passar sua mão por dentro da blusa que eu vestia. Seu toque era quente, o que contrastava com minha pele fria e, de alguma forma, isso parecia ser bom.
Ajudei-o a arrancar minha blusa e uma de suas mãos procuraram o fecho do meu sutiã, senti ele se abrir e fechei os olhos quando começou seu trabalho em meus seios. Suspirei fascinada com a saudade que sentia daquilo e desci minhas mãos até o fecho da minha calça. Entrelacei minhas pernas em que continuava tocando meus seios como se fosse a melhor coisa do mundo a ser feita. Para mim, aquilo não era o suficiente. Consegui com esforço tirar sua calça e acho que ele entendeu que aquela era minha deixa. Minhas calças foram puxadas e sua mão apertou minha coxa fortemente me fazendo arfar. Consegui ver um sorriso se formando em seus lábios e antes que ele fizesse algo a mais, puxei seu corpo, deixando nossos rostos próximos.
— Amo você — falei, sem rodeios, e o beijei.
Naquele momento, não existia França. Não existia meu pai. Não existia minha mãe. Não existia nenhuma força no mundo capaz de nos destruir. Não existia distância. Não existia proibição. Não existiam segredos. Naquele momento, tudo se resumia a ele e no quanto eu não me importava com o que diziam sobre nós. Naquele momento, existia apenas eu, completamente apaixonada por . Existia apenas eu ignorando meus pais. Existia eu desobedecendo regras por ele. Era tudo sobre .
— Eu também amo você.
E com essas palavras, nossa noite se resumiu a todos os sentimentos que conseguimos expressar por debaixo daqueles lençóis brancos. Tudo parecia perfeito. Sem problemas para nos atormentar, parecíamos ter nos esquecido deles. Eu tinha . Tudo ficaria bem.
Acordei com o sol que entrava pela sacada – que continuava aberta desde a noite passada – e olhei para o lado, me certificando de que aquilo não havia sido um sonho. dormiria lindamente, se a boca dele não estivesse aberta, fazendo com que um caminho de baba escorresse por sua bochecha. Sorri, achando isso bonitinho e me levantei da cama sem fazer barulho. Procurei por uma escova de dente e fui para o banheiro tomar um banho. Deixei a escova de dente em cima da pia e liguei o chuveiro, para a água ir logo esquentando. Me despi e prendi meu cabelo em um coque.
A água quente escorreu pelo meu corpo junto com o sabonete pelo tempo o suficiente para que eu me sentisse cheirosa. Saí do box e escovei o dente, meu cabelo soltou do coque, caindo sobre minhas costas e batendo em minha cintura. Peguei um pente qualquer e o penteei, tentando o deixar apresentável. Como o clima de Bournemouth pela manhã era um pouco quente – pelo menos para os londrinos, que eram acostumados a vestir todo o guarda-roupa –vesti um short jeans de lavagem clara e uma blusinha florida de alças. Quando voltei ao quarto, estava sentado na cama com os olhos fechados, como se ainda estivesse dormindo.
— Acho que seria uma boa você tomar um banho para despertar. — falei e ele abriu os olhos lentamente, um sorriso começava a se formar em seus lábios.
— Acho que concordo. — deu de ombros e se levantou da cama. Seu rosto amassado me fez abrir um sorriso de lado — O que faremos hoje?
Essa era uma boa pergunta.
— Depois vemos isso, vai logo para o banheiro. — ele assentiu e deu um beijo em meu rosto rapidamente.
Olhei meu celular, que tinha uma mensagem de Dakota, uma francesa que virou minha colega nesses meses, ela dizia que haviam perguntado por mim no campus da faculdade e que logo meus pais saberiam que eu não estava lá. Estremeci com a ideia de eles descobrirem. Talvez eu devesse enfrentá-los e dizer o que penso e o que irei fazer, mas passei anos demais sendo a filha perfeita que eles um dia se orgulhariam de ter, jogar tudo para o alto me parecia assustador demais. Enrolei meu cabelo na ponta do dedo e me voltei para a sacada do hotel, observando a praia cheia de banhistas e surfistas. Minha mala aberta no chão mostrava um biquíni azul claro e fui até ela para poder colocá-lo. Me sentia tão feliz que poderia começar a chorar agora mesmo.
saiu do banheiro enxugando os cabelos com a toalha e percebi que ele já estava vestido com uma bermuda e uma camiseta.
— Iremos para a praia. — falei animada e andando rapidamente até , que sorria de lado.
— Vamos logo então, minha barriga implora por comida. — colocou uma de suas mãos em minha cintura e saímos do quarto juntos.
— Não pense que eu deixarei você ficar só de biquíni andando por ai. — ri de seus ciúmes e dei um beijo em que inicialmente não retribuiu. Inicialmente, claro, já que ele não resistia.
Tirei o short e logo depois a blusa, ficando só de biquíni como todos naquela praia. balançou a cabeça e olhou feio ao seu redor, provavelmente para recriminar alguém que estivesse me olhando.
— Você é ridículo, Espinosa. — ele me deu um selinho rápido e me puxou pela mão, correndo para dentro do mar.
A água estava gelada, como se pedras de gelo estivessem flutuando, o vento forte e frio também não ajudavam em nada e senti meus dentes baterem um contra o outro. Comecei a andar mais devagar para o fundo e abracei meu próprio corpo, olhando para o céu. O sol brilhava entre as nuvens brancas, que tinham formas de animais. Um dinossauro. Um elefante. Um cachorro, não, um leão.
— Eu vejo um grande sorvete. — escutei e procurei o formato de sorvete no céu, sem sucesso.
— Aonde você vê?
— Mais adiante, do lado do hotel. — ele apontou para uma sorveteria, com um sorvete gigante na entrada. Fiz uma careta.
— Cala a boca, . — puxei seu rosto molhado para perto do meu.
Ele apenas colou nossos lábios e começamos um beijo lento e salgado. Beijar era como entrar em um mundo paralelo, esquecendo de tudo e todos. Apoiei minhas mãos em seu ombro e entrelacei minhas pernas em seu corpo, coisa que eu gostava muito de fazer. Sorri entre o beijo e pensei no quanto eu queria ficar aqui com ele. O futuro que eu imaginava desde que o conheci era que começaríamos a faculdade juntos, terminaríamos juntos, iríamos noivar, casar e ir para a lua de mel. Quando voltássemos, iríamos morar juntos, nos estabilizar, para comprarmos uma casa de verão aqui em Bournemouth, ter um filho, quem sabe dois, ou três e assim iríamos ser, de algum modo, felizes para sempre.
Quando saímos do mar, fomos à procura de nossas roupas que estavam na areia, falava algo sobre como queria voltar a surfar e que poderíamos ir mais vezes para Bournemouth.
— Seria legal você me ensinar a surfar. — disse, entrelaçando nossas mãos e logo estávamos na sorveteria. pediu sabor chiclete e chocolate, e eu me contentei com um de flocos — Sabe, eu senti muita falta disso.
— Eu também, , eu também. — me beijou pela décima vez no dia e começamos a andar pela calçada.
Passamos o dia na rua comendo bobagens, como batata frita e hambúrguer, e colocando nossa conversa em dia. me contava as novidades da faculdade e em como todo dia depois de minha partida, as pessoas o paravam para perguntar se tínhamos terminado e por isso eu havia saído da faculdade. Contei para ele o quão ruim estava sendo a França e minha tia estilista que só falava de roupas e moda. Não mencionei, é claro, que a titia havia arrumado o Sebastian, um francês bilionário, que achava que poderia me conquistar sempre que aparecia com um de seus carros novos. Sebastian era superficial e sem conteúdo algum, provavelmente o tipo de cara que minha mãe casaria sem pensar duas vezes se ainda fosse novinha.
Quando o sol foi se pondo, percebemos que deveríamos voltar logo para o hotel, já estava frio e logo pioraria. Andamos às pressas para o hotel e em cinco minutos estávamos dentro do elevador quentinho. Percebi que o quarto do hotel estava uma bagunça, mas não me importei com isso naquele momento. Precisava de um banho quente.
— Acho que preciso de um banho quente. — tirou a camiseta e pegou a toalha.
— Sabe, eu acho a mesma coisa. — dei um sorriso de lado com as sobrancelhas arqueadas, vendo-o retribuir com um sorriso malicioso. Aquele banho seria interessante.
Vestia apenas uma calcinha e uma blusa de mangas compridas de . Nós havíamos ligado o aquecedor do quarto e pedimos uma pizza do hotel para jantar. Enquanto esperávamos, arrumava o quarto e eu o observava.
— Obrigada por não me ajudar. — disse em um tom de brincadeira e eu me aninhei nos lençóis da cama.
— Estou com preguiça, você sabe. — dei de ombros e ele murmurou algo como “Sei bem”.
Mais uma noite acabava e amanhã seria dia de voltar para a França. Eu sabia que deveria contar para , mas iria destruir toda a bolha de felicidade que construímos e eu não me sentia preparada para isso. Escutei batidas na porta e foi abrir. Ótimo, era a pizza. Tudo parecia perfeito. Era como se não existisse nada no mundo que nos afastasse. e eu criamos aquela bolha de felicidade temporária e não queríamos que estourasse. Uma hora ou outra, é claro ela iria.
Talvez se eu contasse hoje que voltaria amanhã para a França. Ele ficaria bravo e discutiríamos, mas quando a manhã chegasse, ele já não estaria tão chateado.
— Tenho uma coisa para te falar. — disse, assim que ele terminou a pizza.
— Eu também tenho. — ele se levantou e foi até sua mala procurar alguma coisa.
— , eu vou voltar para a França. — ele virou rapidamente e deixou o que estava em sua mão caísse. Uma caixinha de veludo vermelha agora estava no chão e ele me olhava sério.
— Só por mais alguns meses, certo? — sua voz havia uma ponta de esperança.
— Meus pais querem que eu more lá.
— Eles estão loucos? — gritou e eu abaixei os olhos para algum canto fixo do quarto — Você não pode fazer isso, , não pode fazer isso com a gente!
— , podemos conversar sobre isso amanhã? — senti meus olhos se encherem de lágrimas e ele mexeu no cabelo, irritado.
— Claro, vamos deixar esse assunto para depois, não é isso que você sempre faz? Deixa nossos assuntos em segundo plano?
Não respondi, apenas deitei na cama e me enrolei nos lençóis, sentindo as lágrimas escorrerem silenciosamente pelo meu rosto. Ele ia me pedir em casamento. As lágrimas caíram com mais intensidade e em apenas algum momento da madrugada eu consegui dormi. ficou no sofá do quarto.
Coloquei minha calça me controlando para não voltar a chorar, me olhava desolado, eu sabia que estava fazendo ele sofrer tanto quanto eu. Por que eu não mandava meus pais para um lugar bem feio e ficava com ele? Por que eu não tinha essa coragem? Suspirei e levantei para tirar a blusa dele e colocar uma minha. entrou no banheiro. Senti meus olhos marejarem e comecei a chorar novamente. Eu não sabia que seria tão difícil dessa vez. Por que estava sendo difícil? Talvez porque ele ia me pedir em casamento.
Quando saiu do banheiro, me forcei a imaginar um futuro em que nós dois não estaríamos juntos. Um dia, eu iria descobrir que o anel de noivado que seria meu, estava agora na mão de outra garota, alguma que ele conheceu na faculdade ou em algum lugar pelo mundo. E depois eu descobriria que eles estavam casados e que ele iria ser pai de um filho, me esquecendo para sempre. Quanto a mim, meu futuro seria como meus pais planejassem, ou seja, um casamento de luxo com Sebastian, uma vida cheia de mimos, onde eu nem precisaria trabalhar, passaria o dia inteiro aturando pessoas fúteis e pensando no quanto tudo seria melhor se eu estivesse com . Mas seria tarde demais.
Segurei a mala e a puxei até a porta.
— Você deveria ficar. — a voz dele saiu rouca e eu olhei para ele que estava parado no centro do quarto.
— ...
— É sério, solta essa mala, esse não precisa ser o nosso fim. Você não tem noção do que foi aguentar esses meses sem você, era como se eu carregasse um fardo em minhas costas e meu peito doía só de pensar em você, mas eu sabia que você voltaria e isso me dava forças para continuar. Mas agora, se você for, você não vai voltar e eu não quero dizer adeus. Nós já passamos por tanta coisa, jogamos duro para chegar até aqui e você não pode desistir de nós dois.
“Eu sei que você diz que é difícil manter um segredo, mas eu juro, não vamos mais precisar viver um segredo se você ficar. Iremos enfrentar seus pais juntos, vamos conseguir superar isso, por favor, não me deixe sozinho neste hotel. Sabe, quando você foi embora, cada dia era uma segunda-feira para mim, eu me sentia sozinho e não é bom estar sozinho. Não se finja de inocente,, eu sei o que você quis dizer quando disse que viria. Você quer ficar, eu sei disso. Então fique. Podemos fazer isso certo. “
Senti uma lágrima descer por minha bochecha, quando pegou a caixinha de veludo e abriu, um anel lindo estava dentro e naquele momento tudo o que eu mais quis foi ficar. Eu deveria ficar? Ele caminhou até onde eu estava e passou seu dedo em meu rosto, secando as lágrimas.
— Apenas, me deixe mudar sua passagem.
FIM
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