Última atualização: 28/01/2015

Prólogo

23 de outubro de 2015

Um furacão se aproxima de parte da costa oeste Norte Americana. O maior de todos os tempos, dizem os meteorologistas. Um alerta foi dado e a população do México foge das cidades costeiras, tentando salvar seus pertences mais importantes e suas vidas. Ventos a mais de 300km por hora são esperados, chuvas torrenciais, raios, trovões, ressaca no mar... Destruição! Patrícia, como foi chamado o furacão, ainda nem chegou e já está causando muita angústia e temor.

31 de outubro de 2015

Patrícia, para surpresa de todos, foi praticamente inofensivo. Rebaixado para tempestade tropical, um dos furacões mais temidos dos últimos anos, chegou quietinho. Aqui, nos Estados Unidos, mal sentimos seu efeito. Na costa oeste Mexicana levou ventos e chuvas fortes, mas nada comparado aos mais de 300km/h esperados. Não foram registradas mortes, destruição ou qualquer estrago grandioso até agora. Não sei o porquê de batizar furacões e tempestades com nomes femininos, mas isso me parece um pouco injusto. Patrícia, nem tinha dado as caras ainda e já era super temido, assustador, potencialmente destruidor! Mas, no final das contas, foi somente mais uma tempestade, fraca, se levarmos em consideração o que era esperado, foi inofensiva. Diferente dele.

25 de outubro de 2015

A forte chuva que caía lá fora, ainda efeito do suposto furacão, nem se comparava a tempestade que acontecia dentro de mim. Os fortes ventos não causaram tanta destruição quanto às palavras que foram ditas. A ressaca do mar não levou com ela tanto quanto ele levou de mim. Diferente de Patrícia -que chegou com um alerta de perigo imenso e foi embora tranquilamente, sem grandes efeitos- , chegou em minha vida de mansinho, trazendo consigo uma quietude enorme, uma segurança enorme, uma certeza enorme, e se foi causando o maior estrago, a maior dor e a maior decepção que eu jamais imaginei viver.


Capítulo 1

29 de dezembro de 2012

Buzina. Buzina. Buzina. Buzina. Gritos. Buzina. Gritos.
- , anda logo! A gente vai se atrasar, caramba! - Meu Deus do céu, alguém manda parar de gritar e buzinar! - Eu já estou indo! - apareci rapidamente na sacada pra responder - Agora, por favor, para! Os vizinhos vão reclamar da gritaria!
-Eu não estou nem aí pra vizinho reclamando, , é Nova Iorque! Você quer perder seu voo para Nova Iorque? Eu não quero! E se você...
Como essa garota fala, não é possível que não se canse. Tive que interromper o discurso dela, se não duraria até o ano novo, disso eu não duvido.
-Está bem, , está bem! Agora, eu posso terminar de me arrumar?! - nem espero por uma resposta e volto pro meu apartamento pra colocar tudo em ordem para a viagem. Como eu pude deixar tudo atrasar dessa maneira? Nem posso reclamar da , coitada, dessa vez ela está certa. Só uma pessoa que deixa tudo pra última hora, como eu, pra entender meu lado. Diferente de , que tinha tudo meticulosamente arrumado já há uma semana, eu deixei para arrumar a mala ontem, mas cheguei do trabalho e resolvi dar uma volta, essa volta durou até umas 3 da manhã e eu cheguei em casa cansada demais pra qualquer coisa que não fosse me jogar na cama e dormir. E, aqui estou eu, às 6h40 arrumando a mala, me arrumando, verificando se todas as janelas estão fechadas, deixando quantidade de água e comida suficiente para minhas gatas não morrerem nesses três dias, e me lamentando pela 636282963 vez na vida por ser tão desorganizada, e já me preparando psicologicamente pros murmúrios de .
- Pronto, cheguei! Por favor, não me mate e me desculpa! Não foi por querer - disse, não queria uma discussão com logo cedo, e certamente, ela já estava com um de seus MEGA discursos da série "Discursos para quando é irresponsável" prontinho. -Está bem - ela deu um longo suspiro - Vamos, você não tem jeito mesmo!

31 de dezembro de 2012

- , olha, é o ali! - disse assustada, olhando na direção dele e olhando pra , boquiaberta. Não é possível isso, é ele mesmo?! - ? O ?- disse olhando pra mim, igualmente surpresa. - É ele sim! E parece que ele está vindo pra cá! Meu Deus, , acho que ele me reconheceu! O que eu faço? Ele é o meu crush da vida! Eu chegava cedo à faculdade só pra ficar olhando ele naquele maldito laboratório, você sabe! - disse, com o nervosismo aumentando a cada passo que dava na nossa direção. Eu não poderia deixar transparecer todo essa loucura que está dentro de mim agora. Afinal, eu não sou mais aquela bobinha dos primeiros anos da faculdade que olhava um cara e não tinha coragem pra falar com ele, e então ficava pelos cantos à espreita, apenas observando seus passos e morrendo de amores por dentro. Ah, fala sério, a quem eu quero enganar? Se tratando de ) eu ainda sou aquela mesma idiota. E, ai meu Deus do céu, ele esta mais lindo que antes, mais forte, de barba, e parado aqui na minha frente. Acho que ele falou alguma coisa, volta para o mundo real, !
- O quê, er, oi? Desculpe estava um pouco distraída - eu estou tentando manter a compostura aqui, mas está difícil. - Sem problemas, é muita gente e muita coisa para se ver, né? - disse e sorriu. Aquele sorriso ladino maravilhoso que povoou meus sonhos por longos três anos - Então, você é , não é? Lembro-me de você da faculdade....- ele sorriu mais uma vez. Juro que se ele continuar assim eu não viverei até 2013. - Sim, . , certo? Do laboratório de biologia? - digo e tento sorrir tão lindamente quanto ele, mas tenho certeza que falhei. - Isso! Pensei que não se lembraria de mim - disse ele, e mais um sorriso foi dado. Como eu não lembraria dessa criatura maravilhosa? Sinto um cutucão no braço e vejo olhando para mim com cara de interrogação. Deus, eu esqueci completamente dela. Efeito ). - Lembro, lembro sim. Às vezes eu chegava cedo e te via nos laboratórios. Bom, essa é , minha melhor amiga. , , um velho conhecido da faculdade.
Apresentações feitas, conversa vai, conversa vem... me contou que ainda mora em Dallas e está aqui em Nova Iorque por conta de alguns trabalhos e, assim como eu e , resolveu passar a virada do ano vendo a famosa bola da Times Square. Ele estava solteiro - fato que soube quando falou que gostaria de estar com John, seu namorado, mas ele está em uma viagem, então disse que não tinha ninguém. E eu também - saber disso acendeu uma pequena faísca dentro de mim, confesso. Ainda era pouco mais de sete da noite quando nos encontramos, e, agora, conversando por umas 3 horas, pude notar que não é aquele príncipe de conto de fadas que eu imaginava nos meus devaneios na faculdade, ele é muito mais que um sorriso de lado charmoso e olhos verdes incríveis. Ele é real! Inteligente, um tanto quanto debochado, engraçado, gentil... Reparei todas essas qualidades em poucas horas de conversa, claro que ele tem seus defeitos, como ele mesmo disse "cheio de defeitos", mas eu não costumava me enganar com as pessoas. era um bom rapaz, disso eu tinha certeza. A meia-noite se aproximava, nós três conversávamos animadamente e eu já não estava mais tão afetada pelo efeito ). A cada novo assunto, eu via o quão normal ele era, mesmo sendo tão encantador, ele era um cara normal. E, a cada minuto, aquela euforia por estar na frente do cara mais lindo da faculdade, era trocada pela calmaria de uma conversa como se fôssemos velhos conhecidos. Confesso que deixei um pouco minha amiga de lado, mas ela me entenderia. Quando de repente, faltando menos de 20 minutos pra virar o ano, diz que precisa urgente ir ao banheiro. Não entendi e logo tentei convencê-la a esperar mais um pouquinho, afinal, já estava quase na hora. Mas, ela me olhou daquele jeito que só nos duas entenderíamos e pronto, entendi o plano dela. Naquele exato momento Ed Sheeran sobe ao palco para o último show antes da virada. Nada de banheiro, queria me deixar "sozinha" com , sozinhos no meio daquele mundo de gente, enquanto Ed deus do mundo Sheeran, cantava.
- Não sei por que nós não éramos amigos na faculdade, que perda de tempo! Foi um prazer tão grande te encontrar aqui hoje, . - disse sorrindo daquele jeito tão maravilhoso, e, SOS, eu quase derreti, mesmo com todo frio do inverno nova-iorquino. - Verdade, eu também adorei te encontrar. Mas tudo acontece por alguma razão, mesmo sem a gente entender... - disse, também sorrindo. - Vamos, a gente precisa tirar uma foto da nossa primeira vez na virada da Times Square - disse ele, animadamente enquanto me puxava para um abraço e, coincidentemente ou não, ao fundo Ed Sheeran cantava lindos trechos que, combinados com esse momento, me fizeram sentir borboletas baterem asas no meu estômago, e tudo de mais clichê que se possa imaginar pra descrever esse momento.

It is the only thing that makes us feel alive
We keep this love in a photograph We made these memories for ourselves


Ryan Secrest sobe ao palco e anuncia que vai começar a contagem regressiva. Cadê a ? Ela realmente sumiu!

60, 59...

- , to começando a ficar preocupada com a . - disse, será onde essa garota se enfiou?

48, 47...

- Relaxa, vai que ela encontrou alguém, como aconteceu com a gente? Daqui a pouco ela aparece. Não fica preocupada, curte a contagem! - disse , tentando me acalmar. E, quer saber, vai que ela encontrou alguém mesmo... é cheia de amigos aqui em Nova Iorque. Não vou me preocupar.
31,30...
- , te encontrar foi o melhor presente de ano novo que eu poderia ter ganhado - disse, olhando intensamente para mim e, não sei se foi impressão minha, ou suas bochechas coraram um pouco nesse momento -não viaja, , deve ser o frio-. Mas as minhas, definitivamente, estavam coradas. E não era o frio.

23, 24...
- Não tem como discordar de você, - disse sorrindo, sem conseguir desgrudar meus olhos dos seus.
18, 17...

- , eu não sou muito ligado em tradições, mas esse ano eu quero ser diferente... Você é? - disse, me olhando de um jeito diferente, talvez com um brilho de divertimento no olhar, e eu não entendi nada. - Como assim, tradições? Depende, tipo Natal e...- digo, mas ele logo me interrompe. -Não, tipo beijar alguém na virada pra trazer boa sorte no ano seguinte. - sinceramente, não sei se assimilei bem as palavras de . Ele quer me beijar, é isso mesmo?

11,10...

- Eu posso te beijar, ?- Como se lesse meus pensamentos, ou percebesse a dúvida estampada em meu rosto, me pergunta diretamente, já aproximando seu rosto do meu.

9,8...

CALMA, ! CALMA, ! CALMA, !

7,6...

- Pode...- digo num sussurro, e tenho certeza que ele só ouviu porque estava a centímetros de distância de mim.

5,4...

olha nos meus olhos e sorri, aquele sorriso que eu amo. Minha atenção fica dividida entre seus lindos olhos verdes, que agora têm um brilho diferente, mas dessa vez não sei identificar o que é, e sua boca.

Where our eyes are never closing Hearts were never broken And time's forever frozen still

3,2...

Então ele diminui qualquer distância entre nós dois e cola sua boca na minha, é como se o tempo tivesse parado nesse exato momento. Sinto sorrir no meio do beijo e sorrio também.

1!

Holding me close until our eyes meet You won't ever be alone Wait for me to come home Loving can heal, loving can mend your soul...

E esse foi nosso primeiro beijo.


Capítulo 2

12 de maio de 2013

- Não se preocupe, , eles vão amar você. Pode ter certeza! - disse, tentando tranquilizá-lo. finalmente iria conhecer meus pais, mamãe marcou esse almoço de domingo há três semanas, e, desde então está inquieto, coitado. - Vai dar tudo certo, confia em mim.
- Então, senhor ), quais são suas intenções com a minha menina?- ouvi papai perguntando e pude ver as mãos do meu namorado tremer. Mamãe e eu estávamos mais afastadas, rindo da situação. Não consegui ouvir a resposta de . Infelizmente.
- Ele parece tão nervoso, o que aconteceu, ? - pergunta minha mãe, ainda rindo, enquanto preparávamos o almoço.
- me contou que uma vez foi expulso da casa de uma namoradinha de escola e, desde então, ficou meio traumatizado - Enquanto ajudava mamãe com a comida, contava sobre nós dois.
Desde que começamos a namorar de verdade, em fevereiro, ainda não tinha tido a oportunidade de falar direito com ela sobre nós. Mas ela, assim como todos a minha volta, notavam o quanto ele me faz bem, o quanto que ele estava me fazendo feliz.
- Ele me parece um bom rapaz, filha. E é lindo! Você tirou a sorte grande.
Eu sei, mamãe. Eu sei.

02 de novembro de 2015

A tempestade já havia partido, todos voltaram à vida normal. Menos eu. Eu ainda não conseguia entender como tudo pode terminar assim. Nós nos amávamos tanto. Eu amo tanto o . Meu . Agora eu estou aqui, sentada no chão, vestindo sua velha camisa xadrez, olhando nossas fotos e perguntando em qual momento tudo mudou. Quando foi que nós nos perdemos?

9 de julho de 2013

Era uma noite fria, apesar de estarmos no verão. estava em Nova Iorque e eu sozinha em casa com as minhas gatas, Bella e Olivia. Já era pouco mais de 11 da noite quando alguém toca a campainha. As gatas, que estavam dormindo comigo no sofá, acordam assustadas e correm para a cozinha enquanto eu me levanto pra ver quem era. Para minha grata surpresa, era ele.
- Não aguentei de saudades, tive que vir logo te ver.- disse enquanto assistíamos televisão - Desculpa ter vindo essa hora - ele continuou. fazia carinho na minha mão e eu não conseguia parar de olhar pra ele, eu senti tantas saudades! Às vezes eu tenho medo de tudo isso, de como eu estou dependente dele, mas acho que isso é estar apaixonada, não é?
- , eu te amo. - disse e eu senti meu coração descompassar - Eu sei que a gente namora há pouco tempo, e eu não quero te assustar. Mas eu te amo, amo mesmo. Esses dias longe de você foram dias vazios. - disse olhando nos meus olhos, e logo me abraçou.
Eu sentia como se meu coração fosse sair do meu peito! Nós namoramos há poucos meses, mas não existem fórmulas e receitas para o amor. Eu amo o , com toda a certeza, como nunca amei ninguém até hoje.
- Você não me assustou, relaxa. E eu também te amo, . - disse, me aconchegando em seu abraço e pude sentir como seu coração batia forte.

09 de novembro de 2015

- Amiga, você precisa superar isso! Seguir em frente - diz , tentando me animar. - Eu sei,, mas esta doendo tanto. - eu disse, tentando segurar o choro - Você me conhece desde sempre, sabe que eu nunca passei por nada parecido antes.
- , você precisa colocar sua cabeça no lugar! Ele não te merece - diz - quem faz o que ele fez... Amiga, não vale a pena ficar assim - minha amiga continua tentando me consolar enquanto fazia cafuné em meus cabelos. No fundo eu sei que ela está certa, mas eu simplesmente não sei como sair dessa.
- , eu sei de tudo isso. Você esta certa, mas - digo e solto um longo suspiro, tentando controlar a enorme vontade de chorar. - Mas eu não sei como seguir em frente, eu - não consigo mais conter o choro. - eu não entendo como tudo pode acabar assim. Nós íamos ficar noivos - digo em meio às lágrimas - ele dizia que me amava, . Será que foi tudo uma grande mentira? Será que eu fiz alguma coisa errada?- pergunto e meu choro aumenta.
- , olha pra mim - diz , erguendo minha cabeça pra que eu pudesse olhar pra ela - foi real pra você, não foi? Você se entregou por inteiro, certo?- ela pergunta e eu apenas assenti - Então, isso que você tem que lembrar. Você fez de tudo, tudo, pra dar certo. E ele já estava estranho há algum tempo, lembra? Não se culpa por nada.

23 de setembro de 2015

- Oi, amor! Que horas você vai passar aqui? - pergunto pra , que está do outro lado da linha.
- Oi, . Desculpa, mas não vai dar, tenho uma reunião agora à tarde e não sei que horas vai acabar - diz , e consigo ouvir vozes ao fundo - preciso ir, depois nos falamos. - Está bem, boa reunião. Eu te amo, não es...- nem pude terminar de falar, a ligação já havia sido encerrada.

17 de agosto de 2014

- Ela é só uma antiga amiga. Não tem que sentir ciúmes - diz ele enquanto andamos para dentro do restaurante.
- Aham. Tudo bem.- respondo. Não quero discutir com ele por causa de suas "velhas amigas". Não mais uma vez.
- , é sério. Não fica chateada. Você confia em mim? - pergunta, olhando nos meus olhos.
- Confio, você sabe que sim. Mas é tão difícil quando...- então ele me interrompe. Com um beijo. Assim, do nada, na frente de todos.
- Pode parando com a bobeira, ta? Eu te amo, . E eu só quero você. - ele diz e me beija novamente.
- Eu também te amo, . - digo, e não consigo conter o sorriso.
Assim que chegamos, reparo que uma banda está tocando músicas num estilo acústico, meio Boyce Avenue, uma das minhas bandas favoritas. Escolhemos uma mesa mais ao fundo do restaurante, o garçom chega e recolhe nossos pedidos. Depois de alguns minutos, a banda começa a tocar Photograph, do Ed Sheeran, uma das músicas que tocou no dia em que reencontrei . Sorrio com a lembrança.
- Vem, vamos dançar! - diz , já se levantando de sua cadeira.
- Dançar? O que? - digo rindo - não tem ninguém dançando. E eu não sei dançar!
- , a gente tem que dançar! Não importa se ninguém está dançando, é a nossa música!
- diz empolgado e eu fico surpresa por ele lembrar.
- Você lembra? - não consigo esconder o sorriso por ele também lembrar.
- Claro, amor. Eu me lembro de tudo com você, cada detalhe. - diz, e me estende a mão, como um verdadeiro cavalheiro. Não tenho como negar esse pedido. Não sou de dançar, nunca fui, mas por ele...


Capítulo 3

21 de novembro de 2016

As árvores do Central Park já começavam a perder suas folhas, grande parte do chão estava coberto por elas. Apesar de estar sol, uma fria brisa dava sinais de que o inverno estava próximo. Era uma linda tarde em Nova Iorque, o outono chegou e coloriu a cidade em tons de vermelho e laranja. Enquanto o mundo estava cheio de cores, dentro de mim estava tudo preto e branco. Caminhando pelo parque eu só conseguia pensar nela, ela tinha razão.
Estávamos sentados em um banco, abraçados, enquanto observávamos as pessoas ao nosso redor. dizia que observar as pessoas era uma das melhores formas de entender o mundo.
- Esse lugar é muito lindo, não é?- pergunto, olhando pra ela. - É...- ela solta um suspiro e ergue a cabeça com olhar de contemplação- é um dos meus lugares favoritos no mundo - diz sorrindo. - É um dos meus também - digo e olho em seus olhos – E, estar aqui com uma das minhas pessoas favoritas, é muito importante - ela sorri. - Espero que você sempre se lembre de mim quando vier aqui.

Meses se passaram desde que eu deixei Dallas e vim pra Nova Iorque. Meses que eu deixei e o relacionamento mais real que já tive, e vim pra cá por um salário melhor e uma chefe bonita. Eu não posso deixar as coisas como estão, a culpa e o arrependimento me consomem a cada dia. Eu preciso fazer alguma coisa, tentar mudar isso.
Antes que eu possa perder a coragem, pego meu celular e disco os números que ainda lembro-me de cor.

***


- Alô? - o celular de toca e ela atende logo no primeiro toque.
- ? Sou eu. - Essa voz... Por meses sentiu falta de ouvi-la. Ela sente seu coração falhar uma batida.
- Oi - Ela está sem reação, mas tenta, sem êxito, fazer com que sua voz soe naturalmente.
- , desculpe incomodar, mas eu realmente preciso conversar com você. Você está ocupada? - do outro lado da linha, também nervoso, tenta controlar os pensamentos e o coração.
-Não, tudo bem, pode falar. - Ela diz num sussurro, já tentando preparar seu psicológico pra qualquer coisa, sem saber mais o que esperar dele.
- , eu, é, eu quero te pedir desculpas. Desculpas por tudo. Eu sei que agi mal, e sei que devo ter te magoado, mas eu realmente sinto muito. - fala tudo de maneira afobada, como se não pudesse mais guardar tudo pra si- Você pode, por favor, me perdoar?
A cabeça de está dando voltas e voltas. Ela não estava esperando uma ligação de com um pedido, aparentemente verdadeiro, de desculpas. Não mais.
-Tudo bem, , já passou. Esta tudo certo. - ela diz, mas tem dúvidas se ela está dizendo isso apenas da boca pra fora, então pergunta novamente.
-, de verdade? Você me perdoa mesmo? Eu não estou mais aguentando lidar com esse peso que eu sinto dentro de mim toda vez que me lembro de você. - ele fala, parecendo realmente sincero e só consegue pensar que esse peso deve ser a consciência dele avisando do erro, e ela nem sequer acreditava que ele ainda tinha uma consciência.
- De verdade. Eu sempre fui verdadeira contigo, não? Pode acreditar, eu te perdoo. - sabia que não era fácil perdoar alguém, mas enquanto falava aquelas palavras, ela notava que realmente havia perdoado , sem ser nada forçado, dolorido, apenas passou... O tempo se encarregou disso.
- , que bom! Você não sabe como é bom ouvir isso - ele diz e sabia que ele estava sorrindo do outro lado da linha, aquele sorriso...- Eu estou aqui em Nova Iorque, - ele continua - no Central Park, e tudo aqui me faz lembrar você. Você estava certa, . Você sempre esteve certa.
Antes que pudesse pensar em uma resposta, continuou falando
- Que bom que está tudo bem então. Eu to indo pra Dallas semana que vem, a gente poderia se encontrar e conversar, você não acha? Você ainda está em Dallas, certo? Talvez a gente pudesse se acertar e...
não conseguia acreditar que estava realmente propondo que eles conversassem e "se acertassem". Antes que ele continuasse, ela o interrompeu.
- Não, . Espera aí, rapidinho. Deixa-me ver se entendi bem ou... Deve estar acontecendo algum engano aqui. Você está propondo que a gente se encontre e "se acerte"? É isso mesmo? - Como ele pode imaginar que depois de meses, é só ligar, pedir desculpas e pronto? Pensa .
-Bom, sim. Eu pensei que... A gente se dava tão bem. A gente se amava, . Eu ainda te amo - Diz , mas, novamente, não deixa ele concluir sua fala.
- , pelo amor de Deus! Em que mundo você vive? Você acha que pode me ligar depois de um ano, UMA MERDA DE ANO, , dizer meia dúzia de palavras bonitas e resolver tudo?
- , não é bem assim, eu...
- Cala a boca, , eu estou falando. E não, não é assim! Você tem noção de como eu fiquei quando você foi embora? Você foi embora e não teve a decência de me dar uma explicação! Porra, você tem noção de como acabou comigo? Eu te dei tudo, . Tudo de mim! Eu mudei por você, e para você, e o que eu ganhei em troca? Meses chorando enquanto você estava com sua nova chefinha gostosona em Nova Iorque? Agora me pede pra voltar? Não, obrigada! - Assim que atendeu a ligação e viu que era , pensou que evitaria ao máximo um conflito, mas ao ouvir as palavras de , ela não conseguiu se segurar.
- Co...Como? Você sabia sobre ela?- pergunta, surpreso por saber sobre o caso dele com Violet, sua antiga chefe.
- Sim, sabia. Mas isso não vem ao caso agora.
- , me escuta, por favor. Eu estou arrependido. Eu sei que eu errei, mas falando com você agora, eu sei que a mesma que eu amei e que eu ainda amo ainda está aí.
- Cara, você está se escutando falar? Ama? Você tem que coragem de dizer que me ama? Você foi embora! Você dizia que me amava e foi embora! E eu não sou mais a mesma que você deixou pra trás há um ano. Eu mudei, muito, e mudei por sua causa. Se eu fosse aquela de quando nós nos conhecemos, eu não estaria aqui hoje. Se eu fosse aquela , provavelmente eu teria me atirado na frente do primeiro carro que estivesse passando na rua, ou me jogado do último andar do prédio, mas não, hoje eu sou muito mais forte, e, ironicamente, eu tenho que te agradecer por isso.
Uma vez, há muito tempo, ouvira de uma velha senhora, que era vizinha de seus pais, que falar sobre seus medos, traumas, dores, aflições... traz cura, traz liberdade.
- Eu só preciso saber se você ainda me ama - disse - porque eu ainda te amo.
-Ama? Cara... Você foi embora. Estava tudo bem, e você simplesmente foi embora, sem nem olhar pra traz. A gente tava bem! Você foi à minha casa, nós almoçamos juntos, nós transamos! Porra, nós transamos como qualquer casal apaixonado, você me fez sua e... Mas que merda, , que porra de amor é esse que você diz?
- Olha, me desculpe - continuou a falar- Eu não queria ser grosseira com você, eu não sou assim, você sabe, e isso não mudou. Mas, , não dá pra simplesmente apagar esse último ano.
- Você ainda me ama?- Ele a interrompe - Por favor, me diz honestamente. Você ainda me ama? Ainda há, mesmo que mínima, alguma chance pra nós?
- Muita coisa aconteceu, ... Não é fácil.
- , por favor, só me responde.
-Não, . Eu não te amo mais. E agora que passou, eu jamais arriscaria me entregar novamente a você e passar por tudo de novo. - A cada palavra dita, sentia como se pudesse finalmente respirar, depois de muito tempo embaixo d'água. E, em contra partida, sentia como se estivesse afundando.
- Me desculpe, de novo. Eu entendo, . Desculpe-me.
-Está tudo bem, passou. Eu espero que você seja muito feliz, . Que você encontre alguém que te ame, e que você possa amar de volta, plenamente. Mas eu também espero que você se lembre de mim, e que alguma coisa te faça lembrar que você deveria ter ficado... Para que você não deixe alguém para traz novamente.
Enquanto pra essa ligação repentina havia sido libertadora, pra estava sendo dolorosa. Era doloroso ouvir tudo aquilo, mesmo que ele já estivesse esperando ouvir. A pequena parte de seu coração que ainda tinha esperanças de voltar com , havia crescido absurdamente com o simples "alô" do outro lado da linha. A voz de , como ele amava... E junto com a lembrança da voz, veio outra lembrança, que puxou outra, e outra... Os domingos que eles passavam sem fazer nada, simplesmente juntos; a forma como fazia cafuné em seus cabelos; o delicioso cheiro de sabonete quando ela saía do banho; a forma como ela se entregava quando faziam amor... Nesse momento não conseguia entender como pode ir embora.
-Eu sinto muito, . Eu sei que você deve estar cansada de ouvir isso, mas eu realmente sinto. Eu, eu não sei o que me deu. Eu não sei como eu pude te deixar. Você é tudo o que eu sempre quis em uma garota.
- Você também foi tudo o que eu sempre quis, . Mas não assim. Você me deu tudo, e nada ao mesmo tempo. - disse e soltou um longo suspiro - Olha, me desculpe, mas agora eu preciso ir. Foi ótimo falar com você, eu me sinto bem mais leve agora. Boa sorte com a vida, nós nos falamos qualquer hora.
-Boa sorte pra você também, . Obrigado por me escutar.
-A gente precisava disso, foi bom poder falar. Agora eu realmente preciso ir. Tchau.
-Tchau.

10 de Outubro de 2015

- Oi, amor, cheguei! A porta estava aberta e eu estou entrando! , cadê você?- disse , já na porta do quarto de .
A garota estava no banho, e por isso não ouviu a campainha. Também não o ouviu chamar por ela, porque, como de costume, ela estava tomando banho e ouvindo música num volume muito alto.
- ! Meu Deus, que susto! - disse ao sair do banheiro e dar de cara com o namorado sentado em sua cama - quer me matar de susto?
-Olha, te olhando agora só com essa toalha, eu bem que queria te matar, mas de prazer - disse, com aquele típico sorrisinho safado se aproximando de e a abraçando.
-, sai fora, a gente já está atrasado - disse tentando disfarçar o tremor na voz e os arrepios na pele enquanto ele beijava seu pescoço - Para, , é sério - ela disse rindo - Mais tarde - disse olhando pro namorado e pode ver seus olhos brilharem de desejo.
- Eu vou cobrar!

- Prontinho, já é "mais tarde" e eu to me segurando o dia inteiro, An. Você com esse vestidinho... Não vai me deixar na mão, né? Literalmente - disse rindo, enquanto se jogava na cama de .
- Meu amorzinho, eu estou cansada e suja da rua! Preciso de um banho, não conte comigo pra nada agora - disse caminhando em direção ao banheiro somente de roupas íntimas, na porta do banheiro parou por um momento, soltou o fecho do sutiã e o jogou no ar - A não ser que, bom, talvez você queira me acompanhar...- disse já de dentro banheiro.
- Você está tentando me provocar? Conseguiu! - disse rindo e correu em direção à namorada.
- , você vai se molhar todo! Sai daqui- disse rindo enquanto entrava com roupa e tudo dentro do box.
- Desde que eu te deixe toda molhadinha também, não me importo - disse juntando seu corpo ao corpo nu da namorada.
- Ai meu Deus! Que piadinha terrível, não sei por que namoro com você - disse a garota tentando disfarçar o fogo que agora crescia dentro dela, mesmo estando embaixo d'água.
- Eu sei, é porque você me ama. E eu também te amo - disse calando a boca da namorada com um beijo que começou calmo e foi se tornando rápido e sôfrego.
Aos poucos as únicas peças de roupa que os separavam, as de , foram tiradas com certa dificuldade, já que estavam ensopadas, e atiradas ao chão. Beijos distribuídos por toda a parte, corpos colados... Gemidos de desejo e promessas de amor podiam ser ouvidas naquele momento.
-, eu preciso de você. Agora.
***

Naquela noite e se amaram pela última vez. Ela não sabia, mas essa era como uma despedida. Nem ele sabia, na verdade. Ele havia recebido a proposta sobre Nova Iorque há poucos dias, e estava pensando sobre o assunto. Até que naquela mesma semana, ele se decidiu. Pessoas são pessoas, e às vezes mudam de ideia. Mas nunca pensou que ele mudaria de ideia em relação a ela.
O mau de , e de românticos assumidos, como ela, é nunca pensar que as coisas têm um fim. Quando ela encontrou na Times Square, e foi dito o primeiro "oi", ela nunca pensou que esse "oi" um dia poderia se tornar um "adeus". E quando eles se beijaram pela primeira vez, ao som de Ed Sheeran, ela não pensou que haveria um último beijo.
perdeu , mas ela encontrou a si mesma. E, de alguma forma, isso foi tudo.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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