Finalizada em: Abr/2021

look up at the stars

As conversas à mesa estavam fervorosas, excitadas, indo desde o último trabalho complicado do prof. Ford, que encerrou o semestre, até o cálculo impossível, porém genioso, apresentado na tese de mais um colega que os deixava para seguir a carreira em uma instituição de renome fora do país.
curvou o corpo sobre a mesa mais uma vez quando fizeram o sexto brinde, não que ela estivesse contando. Os únicos números que ela estava interessada em acompanhar eram os do relógio de pulso, que agora batiam 11:30 e a ligação que ela tanto esperava ainda não havia acontecido.
Talvez sua perna balançasse mais que o normal e ela não conseguisse acompanhar mais as risadas, nem com Paul metendo os ombros no seu para comentar sobre quaisquer coisas da política atual ou as tentativas tímidas de Smolder em puxar algum assunto que não fosse as provas, experimentos ou toda bendita ciência. Maerose deve tê-lo encorajado a uma tentativa de aproximação, mais uma vez, mesmo tendo ideia de que seria uma falha. Ela achava que não prestaria muita atenção, de qualquer maneira. Olhou novamente para o celular.
Ela se levantou para ir ao banheiro, pedindo licença aos demais. Maerose respirou fundo e a acompanhou entrar pelo corredor estreito antes de segui-la.
— Você está se fazendo de difícil de novo? — Maerose resmungou, ao fechar a porta de madeira, se aproximando da garota que ajeitava o cabelo em frente ao espelho. Ele não podia parecer o cabelo de alguém que havia dormido no máximo oito horas nos últimos três dias. — O Smolder está se esforçando, pode pelo menos responder suas perguntas?
— Eu respondi todas as perguntas — respondeu, remexendo na bolsa em busca de uma base, ou qualquer outra coisa que diminuísse as olheiras.
— Sim, respondeu, como uma bela cópia de Ex Machina. Dá para parecer um pouco mais espontânea e ao menos ser participativa nas conversas sobre a Supernova ou a Cassiopeia? Afinal, não é a sua tese?
— Eu ainda não disse qual é minha tese. — riu e deu de ombros, enfim achando um pó compacto. — E eu já te avisei antes sobre essas suas tentativas descaradas de me arrumar um namorado. Não vai rolar, Mae.
— Você sempre diz isso e nunca me diz o porquê. O Smolder é um gato, top 3 do departamento, solteiro, vai trabalhar na Nasa e tem uma tremenda admiração por você e toda essa sua bagagem de menina prodígio. Eu quero realmente entender por que, !
— Com você, tudo precisa ter um porquê. — balançou a cabeça, abrindo a torneira e deixando a água correr por suas mãos. — Não posso simplesmente não querer conhecê-lo?
Maerose olhou para a garota, semicerrando os olhos em uma expressão inteiramente desconfiada. desviou o olhar, de repente temendo que ela visse o que não devia se ela não se mantivesse impassível como de praxe. Elas não eram amigas de infância e nem nada parecido, mas o jeito como ela conseguia lê-la se não prestasse atenção às suas ações…
Ela fechou a torneira e puxou um papel para secar as mãos, ainda com os olhos de Maerose sobre si.
— Você está apaixonada, não é? — ela perguntou, de repente, e virou a cabeça rápido demais. — Ainda está apaixonada.
— Do que está falando? — respondeu depois de pelo menos um minuto, ainda secando as mãos em movimentos desordenados, nervosos.
— Estou falando das pobres almas encarnadas em forma de caras lindos e inteligentes, porque, sim, você bem sabe como é raro encontrar essas duas características juntas em um homem daquele departamento, que simplesmente se atiraram para cima de você desde que colocou os pés naquele lugar e você só soube distribuir recusas. Só existe uma explicação plausível: você está apaixonada.
abriu a boca para responder, mas Maerose levantou o dedo indicador.
— E eu não me importo com isso, mesmo. A inutilidade do amor costuma deixar sequelas quando ele bate forte de um jeito, eu entendo. Mas isso faz o que, dois anos? Que raios de resquício amoroso é esse que você não consegue se livrar? Ou pior, você nem tenta se livrar, porque eu estou aqui tentando livrá-lo de você a todo custo e estou precisando que você se ajude, porq…
cruzou os braços, respirando fundo. A boca de Maerose se mexia, mas a voz dela parecia estar a quilômetros de distância. Olhou novamente para o relógio. 11:37. O celular estava na bolsa e ela poderia estar perdendo a ligação naquele exato mesmo. Ou uma mensagem. Ela teria de parar o monólogo de Maerose para sair com o máximo de educação possível.
— Mae…
— A única explicação é se você tivesse um namorado secreto, mas isso é ridículo… — Maerose soltou uma gargalhada e ficou imóvel, esquecendo-se do que diria a seguir. — Não é? Imagina só, é absurdo.
acompanhou as risadas da amiga, um tanto engasgadas e nada naturais, mas Maerose pareceu não perceber. Ela passou a alça da bolsa no ombro e começou a se mexer para fora do banheiro.
— Ei, espera. — Maerose puxou levemente seu cotovelo ao chegarem à porta, com um olhar pedinte. — Ao menos converse com ele, e eu digo para conversar, não deixar ele falar sozinho sobre coisas que ele acha que você gosta. Tenham um papo de nerd sobre aceleradores de partículas ou o que aconteceu com o gato de Schrödinger, tanto faz, só seja simpática pelas próximas duas horas.
abriu a boca para protestar, mas Maerose foi mais rápida ao guiá-la de volta para a mesa, sentando-se à sua frente enquanto rolava os olhos para a direita, onde um Smolder se empertigou na cadeira, pensando em seu repertório limitadíssimo que não envolvesse física quântica.
bufou, olhando o relógio mais uma vez. 11:40. O telefone tocaria antes da meia noite, ela tinha certeza, mas não fazia ideia de quando exatamente. Ela varreu a mesa com os olhos, vendo alguns rostos animados e outros um tanto preocupados. Uma garota da sua turma enchia o copo a cada 5 minutos e parecia sofrer de uma dor de cotovelo severa, mas sabia que era apenas um artigo não aceito pela Science pela terceira vez consecutiva. Um cara do clube de robótica havia bebido demais e agora dava explicações sobre o funcionamento de um protótipo autoral. Maerose alternava sua conversa entre dois rapazes aleatórios que já estavam no bar antes que o departamento de Física da Universidade de Toronto tomasse conta das mesas unidas.
Ela suspirou, vendo que não tinha muita saída. Ela pensou em começar com o postulado das paralelas de Euclides e deixar que ele falasse pelos próximos vinte minutos, ou quinze, até o telefone tocar. Mas não precisou de nada disso. Assim que abriu a boca para falar, seu telefone realmente tocou, o toque alto e ensurdecedor que havia feito questão de aumentar até o último volume caso alguma situação acontecesse e ela estivesse longe o bastante para ouvir.
Ela viu o nome no visor e, se o ambiente não estivesse alcóolico o suficiente, todos dariam um jeito de reparar um pouco mais naquele sorriso. Foi tão grande e tão espontâneo que Maerose virou o rosto, cortando a fala de um dos rapazes, olhando para em confusão quando esta se levantou em um jato da mesa, dando boa noite para quem estivesse ouvindo e seguiu para a porta, tão rápido que Mae não se atreveu a ir atrás.

Finally we've met, now the lights are set
It's taken us till now
To be together in this town, yeah
A couple of years we've been making plans
Somehow you always seem to understand
So let me spend the night in wonderland with you


Ela já estava com a mão na porta antes do táxi encostar no meio-fio. Contou algumas notas e entregou-as desordenadas nas mãos do senhor de meia idade, gritando qualquer coisa sobre o troco antes de sair apressada para a rua.
Deviam faltar 5 minutos para a meia noite. As ruas ainda estavam apinhadas da população noturna da sexta-feira e isso seria um empecilho gritante caso o encontro acontecesse sob os olhos de quaisquer pessoas aleatórias, mas ela sabia para onde estava indo. Tinha pressa e seu coração disparava a cada metro que traçava no paralelepípedo, mas não corria mais. A excitação, que viraria uma bela lembrança depois, de caminhar para os braços dele sob as estrelas, modificava seu rosto, alargava seu sorriso de orelha a outra e uma aura quase perceptível rondava a garota, avisando para os demais pedestres que não existia ninguém mais feliz do que ela naquela noite.
A porta do restaurante estava fechada, mas ela reconheceu o homem de preto parado à frente dela. Ele acenou e a destrancou antes mesmo de ela ter terminado de atravessar a rua. Cumprimentou gentilmente com a cabeça, não se demorando muito no gesto e entrou no lugar semi iluminado, com as cadeiras para cima e alguns poucos garçons indo de lá para cá silenciosamente, tão silencioso que dava para ouvir as batidas da música lenta no andar de cima.
Ela andou até a escada, onde um pequeno feixe de luz adiantava a movimentação do andar superior e de quem era responsável por isso. Ela teve de se segurar para não pular de dois em dois. A expectativa de encontrá-lo sufocava a lembrança de que havia falado com ele ontem e todos os dias antes deste. Mas nada se comparava ao que ela experimentava nos braços dele, ela sabia.
A música estava mais alta quando ela finalmente abriu a porta. Toda a luminosidade vista anteriormente era provocada por velas, dezenas delas, espalhadas por toda parte, parecendo diminuir o local e tornando-o mais aconchegante. Uma porta na parede de vidro lateral dava para um espaço externo, sobre a mesma rua pela qual, agora, ele observava do alto, de costas para ela, e ela quis rir ao notar que deveria ter olhado para cima.
Ela tirou os sapatos e largou a bolsa em qualquer lugar. Andou até ele para o lado de fora, abraçando-o por trás, e mal teve tempo de proferir um mero boa noite. Ele se virou tão depressa que as mãos dela mal conseguiram contornar sua cintura, e o beijo que se sucedeu do momento súbito foi quente e desesperado.
Ela não se atreveu a imaginar o tempo que havia corrido, mas quando ele a soltou aos poucos, pareciam ter sido prematuros demais.
— Me desculpa — ele disse, ainda segurando o rosto dela. — Eu nem te deixei falar, eu só…
— Por que me deixar falar? Já falei demais hoje, e ontem, e na semana passada… — ela o interrompeu, beijando-o de novo, pegando em sua nuca como uma garantia para que ele não fugisse. Não que essa ideia passasse pela mente dele.
— Eu sei, eu sei… — Ele riu durante o beijo. — Mas eu preciso te falar uma coisa importante…
Ela se afastou um passo, juntando as sobrancelhas.
— O que pode ser mais importante do que ter você de volta em casa, Shawn? Com as férias merecidas, aliás.
— Tirar férias de verdade, … Com você. — Ele acariciou o rosto da garota com o indicador, abrindo um sorriso tímido.
O afago repentino dele a fez perder a concentração por alguns instantes, mas não eliminou todo o vinco em sua testa.
Ele riu, pegando em sua cintura e recostando-se no muro da varanda, beijando levemente seu rosto e seu pescoço.
— Estou querendo dizer que vou te levar para viajar comigo.
Ela arfou, colocando as duas mãos no peito dele.
— Viajar? Para onde?
Ele deu de ombros.
— Para onde você quiser. É só dizer.
— Mas na sua entrevista você disse que ficaria em LA, que iria se concentrar em recuperar sua inspiração para escrever mais músi… — Ela travou, vendo que ele levantava uma sobrancelha e segurava uma risada. Mas é claro.
— E de onde você acha que eu tiro inspiração? — Ele apoiou os dois cotovelos no muro, afastando-se um pouco para ter uma visão mais panorâmica da garota, que corou brevemente com aquele olhar. — Vamos, viaja comigo. Estávamos planejando isso, lembra? É ambição demais um homem desejar passar umas semanas com sua namorada incrível enquanto ela procura novas constelações?
— Não estou mais procurando. — Ela deu de ombros, arrancando um olhar confuso do rapaz. — Posso já ter encontrado uma.
Ele encarou a garota por quase um minuto inteiro antes de sorrir, acariciando seu rosto novamente, de forma divertida.
— Essa é finalmente sua tese final ou uma declaração?
— Por que não pode ser as duas coisas? — Ela se aproximou dele, ainda encostado na parede, passando os braços sobre sua nuca. — Iria combinar tanto com seu nome, mas acredito que isso arruinaria nosso disfarce.
— Esse disfarce é uma droga, tem noção de como é difícil fingir que não tá apaixonado?
— Tenho! — Ela riu, deitando a cabeça na curva do pescoço dele, suspirando. — Para onde nós vamos? — ela sussurrou.
— Literalmente, para qualquer lugar. Estando com você, isso pouco importa. Amanhã no primeiro horário parece uma boa… — Eles riram e ela beijou seu queixo. Ele puxou seu rosto para mais um beijo e distribuiu entre a boca, o nariz, a testa. — Mas não hoje. Não esta noite. Hoje eu quero apreciar você em casa, nesta cidade, depois de tanto tempo.
— Quer colocar os pés no chão, Sr. artista?
— Colocar os pés no chão ou te admirar por horas a fio, as duas coisas levam à mesma conclusão. — Ele levantou os ombros, dando um sorriso de canto, passando um dos braços pela cintura dela.
— E que conclusão seria essa?
Ele sorriu antes de puxá-la para dentro.
— Isso você vai descobrir na minha próxima música.


FIM



N/A FIXA 📌: Obrigada por ter lido :)


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