13. Love You Different

Finalizada em: 06/12/2021

Capítulo Único

O mês de março era o favorito de , ela amava aquele fim de verão, a agitação da cidade pós carnaval, o início das aulas e, principalmente, por ser o mês do seu aniversário. Mas, naquela manhã de segunda-feira, não estava nos seus melhores dias, ela havia acordado atrasada, perdido o ônibus e, consequentemente, a primeira aula na faculdade. Ah, e como se isso tudo não fosse o suficiente, no primeiro horário da tarde sairia o resultado do sorteio para conseguir uma vaga no alojamento da faculdade. Isso era, sem dúvida, a coisa que ela mais almejava no momento. A distância do bairro em que morava até a faculdade era, acima de tudo, a parte mais exaustiva do seu dia. Quando precisava ir até a faculdade para assistir uma ou duas aulas, ela sabia que era o dia em que passaria mais tempo dentro do transporte público do que na própria faculdade.
— Amiga, que cara é essa? — Laura olhou assustada para a amiga.
conseguiu chegar apenas dez minutos atrasada na segunda aula, isso porque teve que correr do ponto de ônibus até o prédio em que estava tendo a aula de Comunicação Organizacional.
— Não é um bom dia.
se recostou na cadeira, tentando prestar atenção na aula, mesmo que seus pensamentos estivessem longe demais. O cabelo desarrumado caía em seu rosto, o que a fez prender com um lápis o coque mal feito. Naquela manhã, até a franja que insistia em cair em seus olhos a irritava.
— Hoje sai o resultado do alojamento, preciso conseguir uma vaga. — Ela enfatizou a frase, só de pensar em passar quase uma hora e meia dentro de transporte público todo dia a deixava ainda mais desanimada.
— Tenho certeza que dessa vez você consegue. — Laura tentou animar a amiga, mas o nervosismo era evidente no rosto de . Era a terceira vez que tentava uma vaga, a pior parte é que o sorteio só era feito uma vez por semestre, sempre no início das aulas.
estava no terceiro semestre, precisava pensar numa alternativa caso não desse certo dessa vez. Ela jurou para si mesma que essa seria a última vez tentando, mas torcia mais para que conseguisse.
O fim daquela aula chegou mais rápido do que as duas imaginaram. Três horinhas com o pior professor do curso era uma tortura psicológica que não parecia ter fim, mas quando acabou elas caminharam em direção ao Restaurante Universitário. Dessa vez, conseguiu arrastar a companhia de Laura, não dando muita atenção para as coisas que a amiga falava sobre a qualidade duvidosa da comida no local.
— Que horas é a sua próxima aula? — olhou no relógio do pulso enquanto as duas ainda estavam na fila.
— Só as duas, tenho um tempo de sobra. — E a sua?
— Já ‘tô livre hoje. — Laura sorriu, animada.
— Saiba que estou morrendo de inveja. Aliás, você está aqui só pra almoçar comigo, então?
— Isso mesmo, você já teve um dia ruim demais pra almoçar sozinha.
Após o almoço, resolveu passar o tempo na biblioteca. Além de ser um lugar silencioso, ela aproveitou para colocar em dia a história que estava escrevendo. Não demorou muito para achar uma mesa mais afastada, pegar o caderno de histórias que sempre carregava na mochila e reler a última parte do conto natalino que estava escrevendo. era uma amante de histórias de romance, músicas da Taylor Swift e trufas de paçoca. Mas o que ninguém sabia sobre a estudante de Relações Públicas, é que ela também gostava de ser uma escritora nas horas vagas. As várias histórias escritas em seu computador não deixavam mentir que ela levava jeito para a coisa, por mais que nunca tivera coragem de mostrar uma linha sequer para os amigos ou, até mesmo, para seus pais.
Quando começava uma história nova, era como se tudo ao seu redor não existisse mais. Focava na personalidade dos seus personagens, no enredo da história e tudo que uma história necessitava que, às vezes, até esquecia do que estava acontecendo ao seu redor principalmente quando resolvia escrever fora do seu quarto como era naquele momento. No entanto, seus pensamentos foram interrompidos quando o seu celular vibrou em cima da mesa. Era o e-mail referente a vaga de alojamento.

Prezado (a) aluno (a) , Comunicamos que infelizmente as vagas para o alojamento desse semestre já foram preenchidas. Você poderá conferir a lista com os contemplados através do site, onde também estará disponível o edital para o próximo chamamento a partir do próximo semestre.


Por um segundo, o peito de se encheu de esperança, mas quando abriu o e-mail que recebeu, sua alegria foi toda por água abaixo. Nem mesmo terminou de ler toda a mensagem que tinha recebido, ela precisava o mais rápido possível conseguir um lugar para morar que fosse perto da faculdade, e nada melhor que o grupo de amigos para recorrer.

Helô: Galera, não foi dessa vez que consegui o alojamento.
Preciso de um lugar pra ficar com preço acessível.
Thiago: Poxa, . Talvez no mural na frente da recepção você consiga alguma coisa.
Gabi: O meu primo tem uma vaga no ap dele.
Vou te mandar o número no pvd.
: Aceito qualquer coisa, Gabizinha <3.



O desespero de era tão grande que ela estava disposta até mesmo a aceitar morar com o primo de Gabriela. Nunca tinha morado com outro menino antes, mas a convivência com os amigos a fazia ter uma ideia das coisas que possivelmente aconteceriam. Ela torcia apenas para que fosse um ambiente suportável e limpo, de resto ela conseguiria ignorar caso necessário. Gabriela passou as informações necessárias e o telefone de seu primo , explicando o local que ele morava e o horário que estaria em casa. quase perdera o horário da aula da tarde tamanha ansiedade. Tinha ficado triste por não ter conseguido nenhuma vaga no alojamento, mas dessa vez tinha uma segunda opção, e ela precisava muito que ele aceitasse dividir o apartamento com ela. Caso contrário, trancar o próximo semestre da faculdade começava a se tornar uma opção.
Naquela tarde, sabia que voltaria mais tarde para a casa, sabia também que seria obrigada a gastar uma grana com Uber e assim, com muita sorte, ela chegaria antes da janta em casa. Desde que essa questão estivesse resolvida, ela não se importava de gastar um pouco das suas economias. Quando olhou mais uma vez em seu celular se o endereço estava correndo, o aparelho vibrou com uma nova mensagem de Gabi.

Gabi: amiga, acabei esquecendo de falar
mas meu primo não é a pessoa mais sociável do mundo.
Ele é gente boa, mesmo sendo um pouco ranzinza.



Aquela mensagem definitivamente deixou em estado de alerta, mas não a intimidou. Se não desse certo com , ela estava disposta a procurar em outro lugar, mas jamais desistiria. Morar perto da faculdade se tornara uma missão e ela seria cumprida.
deu sorte ao chegar no prédio indicado, um dos vizinhos estava fazendo a mudança, deixando o portão aberto para que ela pudesse passar também. Quando parou em frente ao número 25, não esperou para apertar a campainha. esperou mais alguns minutos, mas não havia nenhum vestígio de que tinha alguém em casa. Apertou mais duas vezes e nada. Realmente, aquele não estava sendo um dia bom para .
— O que você quer na porta da minha casa?
Uma voz grave chamou a atenção de , mas não foi só a voz que chamou sua atenção. era bem diferente do que imaginava, além de alto, forte e dono de uma boca irresistível, apesar da cara fechada, ela não conseguiu disfarçar o olhar pelos braços bem definidos que a regata permitia mostrar.
— O gato comeu sua língua? — Ele continuou parado na porta da casa, sem fazer qualquer menção de que abriria a porta.
— Ah, oi. Você deve ser o , certo? — Ela esperou uma confirmação, mas não recebeu nenhuma. — Então, Gabriela me deu seu endereço, disse que você tinha uma vaga no seu ap e, digamos, que eu preciso muito de um lugar para morar perto da faculdade.
— E porque eu te ajudaria? — Ele enrugou a testa.
— Acho que sua prima não me daria o seu endereço se você não pudesse me ajudar, não é mesmo?
— Na verdade, ela faria isso sim. Sinto muito, a vaga já foi ocupada. — Ele deu as costas, sem esperar por uma resposta.
— Já foi ocupada mesmo ou isso é só uma desculpa para eu ir embora? — não moveu um músculo sequer, impedindo de abrir a porta.
— Um pouco dos dois. — Ele sorriu, sarcástico. — Com licença, eu preciso entrar na minha casa.
— Olha, eu não estaria aqui se realmente não precisasse da sua ajuda.
— Eu já disse, não posso te ajudar. Sinto muito, linda.
— Você pode sim, só não quer. — Ela revirou os olhos, irritada com toda aquela situação. — Tudo bem, eu tentei.
odiava quando sua prima o colocava naquele tipo de situação. Ele não queria dividir o apartamento, mesmo que precisasse para conseguir dividir os gastos. Pelo menos, de todas as pessoas que Gabriela tinha mandado para conversar com ele, não era nem um pouco maluca, e também não ofereceu nenhuma droga como pagamento. Sim, isso já tinha acontecido.
— Qual o seu nome mesmo? — estava parado na porta ainda.
. — Ela respondeu, emburrada. — Por quê?
— Tudo bem. Gabriela já tinha me avisado sobre você, acho que não pode ser tão ruim. ficou tão surpresa com a resposta que recebeu que não conseguiu mover um músculo sequer da onde estava. abriu a porta de casa, sem perceber que não estava sendo acompanhado.
— Você não vem? — Ele voltou para a porta, chamando a atenção de . Ela balançou a cabeça concordando, sem conseguir esconder um sorriso de satisfação.
— Então… — Ela entrou no apartamento, e o local era maior do que ela imaginava.
— Só um momento. — sumiu pelo apartamento, deixando sozinha na sala. Ela observou o ambiente, mas não conseguiu achar nada de diferente. Haviam algumas roupas dobradas em cima do sofá, não tinha louça na pia da cozinha e uma estante de livros perfeitamente arrumada na sala. No geral, era bem organizado. O apartamento também parecia ter sido limpado recentemente, era possível sentir o cheiro de desinfetante.
— Gabriela te falou alguma coisa? — Ele voltou com um caderno em mãos.
— Não. — Ela mentiu, não queria comentar sobre a mensagem com medo de que voltasse atrás na sua decisão.
— Se vamos fazer isso, é melhor não começar mentindo. — Ele abriu um sorriso ao ver o rosto da garota esquentar.
— Ela talvez tenha comentado algo sobre você não ser sociável, mas eu realmente não me importo.
— Ela sempre fala isso. — Ele deu de ombros. — Tudo bem, só existem três regras nesse apartamento e se tudo der certo, nem manteremos contato.
— Manda ver.
— Não aceito animais, nunca deixe louça na pia e jamais, em hipótese alguma, entre no meu quarto.
— Nem um mísero bichinho? — sabia que tinha feito sua melhor cara de gato do Shrek, mas era tão sensível quanto uma pedra e, por isso, apenas revirou os olhos em resposta.
— Quando pretende se mudar? — não queria se envolver na vida de , mas já que eles iriam conviver debaixo do mesmo teto, fazia sentido ele ter acesso a algumas informações.
— Amanhã? Sério, gasto muito tempo dentro de ônibus só para ir para a faculdade. Rio de Janeiro é lindo, mas nada funcional quando você mora no outro lado da cidade.
— Você e a Gabi são colegas?
— Só em algumas aulas, mas temos o mesmo grupo de amigos. — já começava a se sentir totalmente em casa atirando-se no sofá. — E você faz o que?
— Curso Letras, faço estágio à tarde e gasto muito tempo na academia. Como eu disse, quase não vamos nos ver. — não gostava de falar de si mesmo, tampouco gostava quando as pessoas o enchiam de pergunta, era por isso que ele também não fazia muitos questionamentos. Na maior parte das respostas que era obrigado a dar, acabava mentindo sobre algo para conseguir encerrar o assunto. No entanto, ficou ainda mais entusiasmada quando ele disse o curso que estudava, como uma amante da literatura e de romances clichês, talvez essa fosse a chance de ter uma opinião crítica sobre uma de suas histórias. Se tivesse coragem para mostrá-los.
— Eu preciso ir, já está tarde. Amanhã eu faço a mudança, tudo bem?
— Sempre é tempo de desistir.
— Para o seu azar, eu não vou. Tchau, . — Ela sorriu, implicando com o garoto.
— Sem apelidos. — A cara fechada dele apenas a fez rir mais.
esperou o carro do aplicativo chegar para finalmente poder relaxar. Mandou uma mensagem de agradecimento para Gabi e avisou sua mãe que já estava a caminho de casa. O dia tinha começado de uma maneira desastrosa, mas o fato de ter terminado totalmente diferente impediu que o seu mal humor continuasse. Agora, ela estava aliviada e feliz por ter encontrado um lugar para morar, isso era óbvio que faria um desfalque no seu orçamento, mas ela sabia que valeria a pena. Quanto a , ela não sabia ainda qual a história por trás de toda aquela marra de durão, sabia que somente a convivência com o garoto a faria conhecê-lo melhor, caso fosse possível, já que ele mal falava sobre a sua vida.
No fim do dia, deitou a cabeça do travesseiro aliviada por tudo ter ocorrido bem.

[...]


— Jura que não está enlouquecendo minha amiga? — Gabriela perguntou ao primo. Por acaso, e para o azar de , eles tinham se encontrado no mercado.
— Juro. Ela é um pouco tagarela, mas acho que está desistindo já que eu, normalmente, não dou continuidade ao assunto.
— Sério, ela tá sendo bem corajosa de morar com você. Nem eu aguentaria.
— É por isso que eu falo pra você não ficar dando meu número para as pessoas. — Ele disse, irritado. As brigas entre os dois eram sempre as mesmas.
, você sabe que precisa superar esse seu medo de pessoas.
— O que? Não é medo de nenhum, Gabriela. — suspirou, cansado daquele assunto. — Eu preciso ir, tchau.
O cesto de compras foi deixado de lado. Ele não se importaria de passar em outro mercado mais tarde, mas sabia que precisava o quanto antes sair daquele ambiente. Gabriela conseguia ser mais irritante do que lembrava, mesmo que ela não tivesse culpa. Normalmente, ele não costumava falar nada com ninguém, não era obrigação das pessoas saberem o motivo de se manter tão fechado ao mundo ao seu redor.
Quando chegou em casa naquela noite, já estava preparando o jantar, mas ele nem ao menos a cumprimentou. Ao longo daquele mês, já tinha se acostumado com a maneira que lidava com as situações, também sabia quando ele tinha tido um dia bom e outros nem tanto. Pelo silêncio do garoto, ela sabia que aquele não era um dos seus melhores dias. Resolveu tomar um banho rápido antes de sentar para jantar, sabia que tentar um diálogo com naquele momento não daria em nada. voltou para a cozinha alguns minutos depois, mas o ambiente estava vazio, as panelas intactas e a televisão da sala estava desligada. Quando olhou para a porta do quarto de , a mesma estava fechada, preferiu então jantar sozinha.
A relação entre e não tinha evoluído em nada, ele mais fazia perguntas do que respondia, mas no geral ela não podia reclamar. Desde o início sabia que as coisas seriam assim, ele mesmo já tinha avisado, mas sempre achava que conseguia contornar a situação. Entretanto, às vezes, ficar dentro daquele apartamento era tão sufocante que ela chegava a se questionar se havia feito a escolha certa. É óbvio que morar perto da faculdade melhorou em noventa e nove por cento na sua rotina, mas quando o seu parceiro de apartamento claramente enfrentava alguns problemas e você não podia ajudar, era desolador. Assim que terminou de jantar, deixou a cozinha limpa e separou um prato para o garoto, ela normalmente não fazia aquele tipo de coisa, mas um gesto de gentileza não cairia nada mal. Deixou um bilhete na geladeira caso ele saísse do quarto.
Ainda era cedo quando voltou para o seu quarto, a tela do computador brilhava com o documento em aberto. Devido às provas finais da faculdade, ela quase não tinha tempo para colocar suas histórias em dia, como não tinha mais nada para fazer e o sono não tinha dado nem sinal de vida, resolveu reler o último conto em andamento. Antes que esquecesse, abriu o site da Amazon, ela tinha releu mais uma vez o edital e abriu a página de inscrição do Concurso Cultural Prêmio Kindle de Literatura. não sabia exatamente o porquê, mas queria tanto ter coragem para colocar seus dados ali e estar oficialmente concorrendo ao prêmio. Ela tinha uma história de romance interessante, sabia todos os processos para a diagramação, conhecia muito bem seu potencial de escrita, mas nunca tiveram uma opinião. Ao mesmo tempo que amava escrever, sentia vergonha de mostrar sua escrita para o mundo, sentia que se mostrasse para outra pessoa, não conseguiria lidar com as críticas, o que poderia fazer com que ela desistisse de vez do universo literário.
? — Ela se assustou quando ouviu seu nome. Sabia que era , mas estranhou o fato de ter sido chamada pelo apelido.
— Oi, tudo bem? — Ela abriu a porta, encontrando com o amigo no corredor.
— O que acha da gente sair? — arregalou os olhos.
— O quê? — A surpresa era evidente em sua voz. nunca a convidou para nada, nem para ir na padaria, e agora ele estava parado na sua frente a convidando para sair.
— Encontrei com a minha prima no mercado. Acho que ela tem razão sobre eu não ser sociável, então pensei que poderíamos sair. O que acha?
realmente tinha certa dificuldade de socialização, mas não concordava exatamente com aquela ideia. Ela imaginou que ele tivesse feito um enorme esforço para bater na sua porta, o que era de se considerar vindo de . Além do mais, era sexta-feira, não custaria nada sair para se divertir.
— Eu posso escolher o lugar?
— Tenho certeza que vou me arrepender disso, mas pode.
— Oba! — Ela bateu palmas. — Me espera na sala que eu vou me arrumar, em dez minutos eu tô pronta.
Meia hora depois, os dois pararam em frente ao Big Ben Pub, o local sempre tinha banda ao vivo e uma lista variada de músicas para quem quisesse arriscar e soltar a voz.
sabia que era o local ideal para perder a vergonha, e como isso ela já não tinha há muito tempo, não perdeu a oportunidade de levar em um dos seus lugares favoritos.
— Tem certeza…
— Não questione, , apenas se divirta. — Ela segurou a mão do garoto, mesmo sentindo calafrios ao fazer isso. Como estava acostumada com os caras sempre tão confiantes na sua faculdade, era até engraçado ver logo o seu parceiro de apartamento tímido, mas no fundo, ela achava isso fofo.
— Já estou me arrependendo. — Ele disse baixo o suficiente para não escutar.
Não era surpresa pra ninguém que fosse chamar atenção, ele não era exatamente o tipo de homem que consegue passar despercebido pelos lugares, sua altura era apenas um dos motivos que deixava isso bastante evidente. Naquela noite, ele não fez questão alguma de esconder todo o seu charme, mesmo que o propósito não fosse aquele. A camiseta de banda, a calça jeans de lavagem clara e o tênis branco o destacava entre tantas pessoas, até o cabelo despenteado e o sorriso que normalmente ele lançava para a deixava, de certa forma, desconcertada.
— Toma, você só precisa de uma dose de coragem. — Ela entregou um shot de tequila, se ele não se soltasse nem que fosse um pouco com tequila. Bom, então o caso era sério mesmo.
A noite transcorreu melhor do que os dois imaginavam, já tinha se soltado mais, até conversava com alguns amigos de que eles tinham encontrado no bar. Enquanto ela tentava controlar os copos de caipirinha que tinha pedido, sabia que não podia perder totalmente o controle. Digamos que, quando ingeria álcool demais, ela era do tipo que gostava de beijar na boca, e não era muito seletiva quando essa vontade aparecia.
— Eu preciso beijar. — gritou no meio da multidão, Laura estava ao seu lado e gargalhou.
— O seu roommate é uma ótima opção. — Ela apontou para o garoto que estava numa roda de amigos bebendo cerveja. Ele tava alterado o suficiente para estar rindo daquele jeito.
— Não, definitivamente não é. — sabia que seria complicado demais conviver debaixo do mesmo teto com ele, caso aquilo acontecesse. Mas sim, ele era uma ótima opção, só que não pro seu bico.
— Me ajuda, . — disse meio manhosa. — Eu quero beijar! Escolhe alguém legal pra mim.
— Essa é a pior ideia da história, .
— Não é nada. — ela cruzou os braços.
— É sim. Aqui só tem babaca que provavelmente se aproveitaria de você bêbada.
— A lista de babacas inclui você? — ela não conseguiu manter aquilo para si mesma e ele deu risada.
— É claro que sim. — ele revirou os olhos.
— Então… Eu posso beijar você.
estava certa que beijaria pelo menos uma pessoa naquela noite, mas conseguiu manter o autocontrole, que ele nem sabia da onde que tinha tirado. se arrependeria no dia seguinte e a culpa o consumiria, no fim das contas, as coisas ficariam muito estranhas entre eles.
— Não hoje, linda. É melhor a gente ir embora. — Ele puxou a garota pelos ombros, em direção a saída. não sabia lidar com aquela sensação de vergonha e de rejeição, ela sabia que era péssima flertando, mas arriscou tudo que já aprendera com os seus romances naquele flerte meia boca, a pior parte é que o resultado não havia chegado nem perto do esperado.

[...]


estava de férias atirada no sofá da sala, depois daquela noite mal sucedida, ela e não tinham tocado no assunto. Apesar de estar bêbada, algumas coisas não tinham saído da sua cabeça, e o fora que levou de foi um deles. Essa, pelo menos, poderia ter sido uma das que ela não lembrara no dia seguinte, mas o universo nem sempre estava ao seu favor. No entanto, desde aquela noite, a amizade deles parecia ter se fortalecido, ele estava mais comunicativo e passou a sair ao fim de semana com . Naquela tarde, o frio atípico do Rio de Janeiro fez se enrolar num cobertor na sala e ficar com o notebook no colo. O período de inscrição do concurso que ela sonhava em particiar ainda estava vigente, aquele era mais um daqueles dias que se tortura abrindo e fechando o site da inscrição.
— Ei, quer assistir um filme? — entrou suado em casa. Não, ele não deixava de ir à academia nem mesmo no inverno.
— Hum, pode ser. Escolhe qualquer filme aí, vou tomar um banho. — Ela saiu rapidamente da sala, deixando suas coisas em cima do sofá.
preparou um lanche rápido e sentou-se no sofá, enquanto aguardava a amiga tomar um banho para depois poder tomar o seu. Porém, o computador aberto de chamou sua atenção. Ele sabia que feio e, principalmente, errado bisbilhotar as coisas dos outros, mas a página que estava na tela era justamente do conto natalino que a amiga estava escrevendo. A história falava sobre uma jovem que estava voltando para a casa no natal, porém a sua relação familiar não era a das melhores. De início, parece que tudo está perdido na vida da personagem principal, mas ao reencontrar um velho amigo na cidade, ele é capaz de mostrar as coisas boas que essa época pode proporcionar. estava fascinado com a história, mas quando a porta do banheiro abriu, percebeu o erro que tinha cometido.
— O que você está fazendo? — Ela disse, assustada.
— Eu sei que é errado, mas não consegui resistir. — não percebeu que a amiga estava furiosa. — Eu não sabia que você era escritora.
— Ninguém sabe. — Ela tirou o notebook da mão dele sem nenhuma gentileza. Estava com vergonha e com raiva por ele ter invadido sua privacidade.
— Por que nunca me contou?
— O que? — Ela virou-se, ainda mais irritada. — Talvez porque você nunca tenha contado nada da sua vida pra mim, por que eu contaria algo da minha pra você?

— Olha, não ‘tô mais afim de assistir filme. Ah, e também acho que você não precisa mais de mim pra sair. Já tem seu próprio grupo de amigos agora. — bateu a porta do quarto com força, deixou o notebook na mesa e afundou o rosto no travesseiro. Estava com tanta vergonha e medo dos julgamentos que não quis ouvir o que tinha a dizer. Sim, seu lado racional dizia que aquela não era a melhor forma de agir, mas o lado sentimental dizia que ela tinha feito a coisa certa. No fundo, sabia que não, mas não daria o braço a torcer.
não conseguiu falar mais com naquela semana, sempre que tentava ela dava uma desculpa ou passava o dia inteiro fora de casa. No fim de semana, ela também não apareceu no apartamento, o que foi ainda mais estranho. Como sua preocupação aumentava à medida que a noite ia chegando, ele resolveu ligar para a amiga. O celular chamou até cair na caixa postal, o que só o deixava ainda mais preocupado.
chegou em casa já de madrugada, estava adormecido no sofá com a televisão ligada, ele não costumava fazer isso muitas vezes, mas achou engraçado encontrá-lo daquele jeito.
, vai deitar na cama. — Ela sacudiu-o no sofá. — , você dormiu no sofá.
— O que? — Ele resmungou sem abrir os olhos. — ?
— Matheuzinho, vai dormir no quarto. — Ela disse, controlando sua vontade de fazer um carinho no rosto só rapaz. Antes que ela pudesse se afastar, ele a puxou para um abraço.
— Eu fiquei preocupado, que bom que voltou pra casa. — Eles ficaram alguns minutos abraçados sem falar uma palavra, mas era o suficiente para entender que também sentira falta de casa. — A gente precisa conversar.
— Amanhã, tudo bem? Vai descansar agora.
— Amanhã. Não tente fugir de novo.
deu um beijo no rosto de , deixando-a sozinha no meio da sala.
Em seus quartos, não foi segredo nenhum que eles mal conseguiram pregar o olho durante a noite. O que fazia com que o dia seguinte demorasse ainda mais para chegar, mas quando amanheceu, foi a primeira a tomar um banho e preparar o café. Logo depois, saiu de seu quarto também de banho tomado. Talvez fosse uma forma deles começarem a criar coragem para ter aquela conversa.
— Bom dia. — entregou uma caneca de café.
— Bom dia. — sentou na mesa com a caneca em mãos, preparou dois sanduíches, um pra ele e outro para . — Eu pensei bastante sobre o que você me falou.
— Eu não deveria ter dito aquilo, eu tava com tanta raiva que só queria te atingir de alguma forma. Foi tão rude da minha parte.
— Eu sei, não também não deveria ter lido sua história, só que… — Ele fez uma pausa, pensando se deveria tocar naquele assunto também. — , eu fiquei tão surpreso, porque não é algo que você deveria esconder e, sim, se orgulhar. E se ainda está em dúvida sobre o concurso, acho que deveria se inscrever.
— Eu nunca mostrei pra ninguém, nem meus pais sabem. Não sei se tenho alguma chance.
— Tenho certeza que sim. — Ele sorriu, vendo-a relaxar na cadeira. — Eu tenho outra coisa pra falar também, acho que é tão importante quanto a primeira. Quando eu era mais novo, tinha muita dificuldade pra sair entre amigos. Às vezes os dias eram bons, mas quando eles eram ruins, eu não tinha nem vontade de sair de casa. Quando você é novo, se acaba não saindo com os seus amigos, você perde o vínculo com eles. Depois que eu percebi que mais perdia o vínculo do que conseguia manter, eu parei de tentar criar laços de amizade. Eu demorei pra entender qual era o meu problema, mas procurei ajuda profissional para entender o que acontecia comigo. O médico disse que eu tenho transtorno bipolar, mas já tô medicado há alguns anos. No geral, é por isso que não falo da minha vida pessoal e nem queria dividir o apartamento, mas aí você apareceu.
, eu não sabia. Sinto muito pelo o que eu falei.
— Tá tudo bem, de verdade. Você tinha razão quando eu cobrei que contasse sobre a sua vida, mas na verdade eu nem estava fazendo isso.
— Fico feliz que conseguimos nos entender, por mais ranzinza que você seja, eu não queria ficar sem sua amizade. — Ela disse, colocando a xícara de café na pia.
— Só amizade, é? Não foi o que pareceu na noite do karaokê.
— Quão vergonha foi aquela noite? — Talvez, se colocasse a culpa na bebida, a vergonha em seu rosto diminuiria.
— Nem um pouco. Mas acho que ainda tem algo que precisamos resolver.
— O que exatamente? — Se levasse um fora do de novo, seria capaz de cavar um buraco naquela cozinha mesmo.
— Isso.
segurou firme a cintura de , colocando ainda mais seus corpos. Não demorou para que ele a beijasse. podia jurar que tinha ido ao céu, aquele era o tipo de beijo que ela esperava há muito tempo na sua vida.
— É óbvio que eu nunca arranjaria um cara pra você beijar naquela noite, porque eu era a pessoa que mais queria fazer isso. Ainda quero, na verdade. — Ele disse um pouco ofegante, o que fez sorrir ainda mais.
— Acho que devemos voltar para onde paramos então. — Dessa vez, foi quem o puxou pela nuca, retomando o beijo calmo que ela sabia que ficaria viciada.

I will love you different
Just the way you are
And I will love you different
That's what you been looking for





Fim



Nota da autora: Oi, eu gostaria de agradecer primeiro a Tris, por ter me dado esse plot lindo, e também a Lala por toda a paciência comigo. Vocês são demais <3
Eu espero que vocês tenham gostado, eu particularmente gostei bastante deles e confesso que me deixou com gostinho de quero mais. Quem sabe num futuro, né?! hahaha


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