FFOBS - 13. My Song, por Ray Amaral

Postada em: 07/01/2017

Capítulo Único


Me olhei pela milésima vez no grande espelho do meu quarto e a figura ali refletida não me agradava em nada. Eu havia perdido a minha essência e deixado para trás todos os meus sonhos por culpa de meu pai, um homem extremamente ambicioso. Adele, minha irmã do meio, veio até mim colocando o colar de diamantes que um dia pertenceu a minha mãe e então me deu um beijo na bochecha. Novamente olhei para meu reflexo, repetindo em minha mente como um mantra que tudo ia dar certo no fim das contas. Então Alicia, minha irmã mais nova, se aproximou. Nossos olhares se encontraram através do espelho e pude perceber que ela estava tão triste quanto eu.
- Você não precisa fazer isso, sabe disso. – ela disse como se fosse fácil desistir de um casamento horas antes de entrar na igreja.
- Alicia, não coloque minhocas na cabeça de , foi ela quem quis casar com Gregory. – Alicia revirou os olhos com a fala repreensiva de Adele.
Ela era uma das poucas pessoas a favor da minha união com Greg.
- Você é tão egoísta, Adele, só pensa nos benefícios que esse casamento trará para nós. Papai praticamente obrigou a casar com Gregory. – Alicia cuspiu palavras que me atingiram como facas afiadas e ela tinha a total razão.
- Ela não teria aceitado se não gostasse dele, não é, ? – a do meio lançou um olhar fulminante para Alicia, que deu um passo à frente fazendo Adele cair sentada na cama. Rapidamente me levantei, me colocando entre minhas irmãs.
Uma confusão era tudo o que eu menos precisava naquele momento.
- Meninas, essa não é a hora de questionar minhas escolhas, ok? – gritei, deixando as duas garotas assustadas com a minha atitude. Elas se encararam mais uma vez antes de pousarem o olhar em mim.
- Mas, ... – Alicia tentou questionar.
- Me deixem sozinha um pouco, é só isso que eu peço – pedi, abrindo a porta sinalizando que elas deveriam sair.
Alicia e Adele saíram a contragosto, resmungando entre si. Então fechei a porta atrás de mim e evitei chorar para não borrar a maquiagem. Olhei em volta procurando pelo meu celular, achando-o em cima do criado mudo, então digitei uma mensagem para minha melhor amiga, .

De : Eu acho que não consigo.

Então esperei por uma resposta, que chegou segundos depois.

De : Eu disse pra você desistir enquanto é tempo, , você não ama o Greg.
De : Você sabe que eu só aceitei por causa das minhas irmãs, e bom, há um contrato...


Bufei impaciente, precisava de ao meu lado naquele momento, mas ela havia jurado que não iria ver eu me afundar naquele momento e eu sabia que ela estava certa. A verdade era que meu casamento com Gregory era o resultado de um acordo sórdido entre nossos pais, acordo esse do qual eu só soube quando um dia cheguei em casa e encontrei meu pai, Gregory e o pai dele no escritório.

Flashback on
Cheguei em casa percebendo dois carros estacionados no jardim, logo reconheci sendo do pai de Gregory, já que sempre o via quando ia ao hospital falar com meu pai. Ao entrar, Norah estava na porta, pronta para segurar minhas coisas como fazia todos os dias, então ela sorriu ternamente para mim e eu retribui. Ela era como uma mãe para mim e minhas irmãs.
- Doutor Norman pediu para que você o encontrasse no escritório assim que chegasse – ela disse dando de ombros, enquanto eu questionei com o olhar.
- Richard está com ele? – perguntei e ela concordou.
- Menino Gregory também, me pareceram contentes, talvez seu pai tenha alguma coisa boa pra te contar. – ela piscou um olho para mim e eu sorri.
Acenei para Norah que seguiu rapidamente para o andar de cima e eu fui em direção ao escritório de papai e logo pude ouvir risadas vindas de lá. Dei duas batidas na porta, colocando metade do corpo para fora e papai fez sinal para que eu entrasse.
- Minha princesinha – ele disse me abraçando forte sob o olhar atento de Richard e Gregory.
Os cumprimentei com um aceno de cabeça.
- Não vi você na escola hoje, Greg, está tudo bem? – perguntei e ele confirmou rapidamente.
- Está sim, obrigado por perguntar, só precisei ir resolver algumas questões com meu pai... – ele respondeu olhando de Richard para meu pai e pude perceber um certo nervosismo em seu olhar.
- Minha querida , é sempre um prazer encontrá-la – Richard estendeu a mão para mim.
- Idem – falei seca recebendo um olhar feio de papai. Mas havia algo naquele homem que não me descia, então não fazia nenhuma questão de ser simpática. – Pai, eu tenho tanta coisa pra estudar, será que posso ir pro meu quarto agora?
Papai ficou com a expressão séria de repente, então eu gelei. Havia algo de muito errado naquele encontro.
- Filha... – ele segurou minhas mãos e olhou para Richard, como se procurasse palavras certas para falar o que quer que fosse necessário.
Gregory ficou com o corpo ereto e mantinha o olhar fixo em mim. Aquilo estava me assustando, então ouvi Richard se pronunciar.
- O que você acha de casar com Gregory? – arregalei os olhos e gargalhei. Ele só poderia estar louco.
- É uma pegadinha, né? – eles se entreolharam sérios, então pude perceber que não havia brincadeira nenhuma ali.
- – Greg sussurrou meu nome, mas logo seu pai fez sinal para que ele se calasse.
- Felizmente não, minha cara – Richard riu com escárnio, estava se divertindo com a situação.
- Pai, fala alguma coisa! Que palhaçada é essa de casamento? – esbravejei sem paciência nenhuma para aquela conversa.
- , calma. Apenas me escute, está bem? – papai sentou em sua cadeira de couro e sinalizou para que eu sentasse na outra a sua frente. – Filha, olha só...
- Seja direto, odeio enrolação e você sabe – lancei um olhar feio para meu pai, pois estava perdendo o pouco da paciência que eu tinha.
- Você vai casar com Gregory – ele despejou de uma vez as palavras em cima de mim e eu tive que assimilar o que ele tinha acabado de dizer. Pisquei algumas vezes só pra ter a certeza de que eu realmente estava ali, no escritório de papai, ouvindo ele dizer que eu e Greg iríamos casar.
- É o que? – comecei a rir descontroladamente, mas de nervoso. Vi Richard revirar os olhos entediado, então ele abriu a boca nojenta para dizer algo.
- Eu e Norman temos um acordo agora, onde inclui o seu casamento com meu filho, um acordo onde todos saem ganhando, é claro. – ele disse como se um casamento entre duas pessoas que não se amam fosse simples.
- Espera aí, vocês dois estão dizendo que eu e Greg temos que casar por causa de um acordo ridículo entre vocês dois? – Richard assentiu com a maior cara de pau e Greg parecia se divertir com a situação.
- Ridículo não, você e suas irmãs vão sair ganhando muito com isso, ou vai me dizer que vocês não gostam da vida de luxo que levam? – Richard perguntou com a voz carregada de luxúria e aquilo me fez ter vontade de vomitar na cara enrugada dele.
- Pai, que tipo de acordo é esse? – ignorei completamente a fala de Richard e me virei para meu pai que parecia perdido.
- , eu devia uma quantia exorbitante para Richard, você sabe, eu precisava manter nosso padrão de vida – ele passou a mão na cabeça, evitando cruzar o olhar com o meu.
- Porque você não nos contou sobre a dívida? Nós poderíamos ter ido morar na casa que a vovó deixou e levar uma vida simples, tenho certeza que Alicia e Adele entenderiam – falei sentindo a minha voz falhar. Eu estava decepcionada.
- Eu sempre dei o melhor a vocês, fui pai e mãe, você não pode me julgar por querer manter a vida boa de vocês, ! – ele elevou um pouco a voz impaciente.
- Eu não me importo com dinheiro e com vida boa, pai. Eu só quero ter a minha liberdade e a minha paz e tenho certeza que minhas irmãs também, então não ache que esse casamento seja a nossa salvação, ele só significa um grande sacrifício pra mim! – gritei o mais alto que pude e vi o olhar de Gregory para o pai, pareciam assustados.
- Sacrifício pela família, ! – meu pai gritou de volta.
- Creio que a menina ainda não tenha entendido bem o nosso acordo, permita-me explicar... – Richard nos interrompeu, pegando um papel sobre a mesa de meu pai.
- Eu não vou casar com Gregory! – fui firme ao expor a minha negativa aquele acordo idiota, então andei até onde Greg estava, ainda calado e apontei meu dedo em direção a ele. – Nós sempre fomos amigos, me diga que você discorda disso...
Ele sustentou o olhar firme e eu vi um sorriso brotar no canto de sua boca.
- Acordo é acordo, – ele disse simplesmente, levantando a mão indicando que não poderia fazer nada.
- Você é igualzinho ao seu pai, um cara sem escrúpulos!
- ! – meu pai gritou chamando a atenção de todos nós, então andei até a mesa dele batendo forte com as duas mãos.
- Eu prefiro morrer a ter que casar forçada – falei entre dentes, mas ele riu como se eu tivesse acabado de contar uma piada engraçada.
- Morrer não é uma opção, querida – ele resmungou.
- Se me permite, – Richard chegou perto de mim balançando o tal papel que havia tirado de cima da mesa de meu pai, e então olhou fixamente para mim. – Eu perdoei a dívida de seu pai em nome da nossa grande amizade, mas decidimos unir o útil ao agradável.
Eu ainda estava sem entender onde aquele casamento se encaixava no contrato.
- Então? – rolei os olhos impaciente. Minha única vontade era sair correndo dali.
- Minha mãe, a avó de Gregory, deixou um grande legado, uma herança milionária, o que inclui propriedades, milhões no banco e o hospital no qual seu pai trabalha, mas somente o primeiro neto a se casar poderá desfrutar, então... – ele respondeu.
- Mas o primo de Greg está noivo, não está? – ele assentiu e sorriu como se tivesse um grande trunfo em mãos. E na verdade, ele tinha.
- Está, minha cara . Mas o casamento de Bryan é para daqui um ano, e como eu tenho certeza que aquele idiota não tem a capacidade de administrar uma fortuna tão grande como essa, Gregory irá se casar primeiro do que ele e você poderá desfrutar desse benefício também – o olhei incrédula. Como poderia ser tão baixo daquela maneira?
- , o contrato já está assinado. Richard perdoará a minha dívida e me dará o cargo de diretor do hospital. Em troca, você casará com Gregory e ambos irão para a faculdade de medicina e não precisarão se preocupar com mais nada, já que o hospital pertencerá ao seu futuro marido. – meu pai explicou e eu consegui entender melhor o tal acordo.
- E se eu não aceitar? – minha voz saiu embargada por conta das lágrimas que eu estava lutando para não caírem.
- Eu tiro essa casa, o cargo no hospital e todos os bens que pertencem ao seu pai, e aí, minha querida, você e suas irmãs irão sofrer as consequências. - a voz de Richard saiu num tom sombrio que me fez arrepiar dos pés à cabeça, então apenas assenti em silêncio.
Fugir também não era uma opção.


Flashback off

O celular em minhas mãos sinalizou que mais uma mensagem havia acabado de chegar, o que fez com que eu despertasse dos meus pensamentos.

De : Eu já disse o que penso e sinto muito por isso, você será infeliz, mas por outro lado entendo seu sacrifício. Mas não me peça pra estar aí, não quero ver seu sofrimento quando subir naquele altar.

Senti uma lágrima rolar ao ler aquelas palavras.

De : Boa sorte, eu te amo.

Deixei o celular em cima da cama e caminhei até o espelho para fazer os últimos ajustes, sequei meu rosto para que não borrasse a maquiagem e passei a mão pelo meu vestido simples, porém bonito, que Becky Astrid – uma grande estilista renomada e amiga da família de Gregory - havia desenhado para mim. Ouvi batidas na porta e fui abrir, revelando Alicia e Adele apreensivas do lado de fora.
- Você está atrasada, irmãzinha – Adele disse entrando no quarto e logo pegando o buquê que eu havia deixado em cima da cama.
- – Alicia me olhou séria – Desiste desse casamento, por favor!
O tom de súplica na voz da minha irmã mais nova cortou meu coração, mas não tinha mais volta. Eu não iria deixar minha família na rua e sem dinheiro, então iria adiante com aquele acordo, mesmo sabendo que ao subir naquele altar e dizer sim, estarei assinando a minha prisão eterna.
- Luke está esperando por nós lá embaixo com papai, Gregory está um pouco impaciente na igreja, então por favor, se apresse – Adele me entregou o buquê e então dei uma última olhada no espelho.
Então decidi que, mesmo casando contra minha vontade, eu não deixaria me abater.

Flashback on

Saí correndo do escritório do meu pai, não queria ouvir mais nada relacionado ao acordo, só queria um tempo sozinha e pensar. Subi as escadas e pude ouvir a voz de Norah me chamar, porém eu não estava em estado de falar com ninguém, então entrei no meu quarto e tranquei a porta. Comecei a chorar pensando no que havia acabado de acontecer e me recusei a crer que meu próprio pai estava colocando minha felicidade em jogo por causa de dinheiro. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para , meu namorado, pois eu precisava muito vê-lo naquele momento.

De : Onde você está?

Ouvi Norah me chamar do lado de fora, mas não respondi.
- , abre a porta, filha – ela chamou novamente e então resolvi abrir. Talvez ela me entendesse e me ajudasse de alguma forma.
- Ah, Norah! – a abracei assim que abri e deixei as lágrimas rolarem livremente, molhando toda a roupa dela.
- O que houve? – ela me perguntou assustada, enquanto fechava a porta e passava a chave.
- Norah, meu pai acabou com a minha vida, eu... – tentei explicar, mas eu não conseguia fazer o choro cessar, então ela passou a mão pela minha cabeça e esperou eu me acalmar. Ficamos alguns segundos em silêncio até que eu tomei fôlego para falar. - Você sabia que meu pai estava endividado? – perguntei e ela ponderou antes de responder.
- Talvez – respondeu.
- Sabia ou não?
- Ouvi algumas coisas por aí, mas não achei que seria certo comentar com você e suas irmãs, você sabe que discrição é o que me mantém aqui – eu assenti.
- Norah... – abaixei o olhar e me segurei para não começar a chorar novamente. – Meu pai estava devendo uma quantia alta para Richard Collins, e então eles fizeram um acordo.
Ela me olhou com uma expressão preocupada.
- Algo me diz que não é um bom acordo... – ela sussurrou.
- Richard perdoou a dívida e garantiu o cargo de diretor do hospital a meu pai, desde que eu me case com Gregory – ela arregalou os olhos incrédula ao que acabara de ouvir.
- Ele não pode te obrigar a um casamento forçado, filha, você não aceitou, não é?
- Norah, eu não tenho escolha. O contrato está assinado e se meu pai não cumprir com a parte dele, Richard vai tirar tudo o que é nosso – Norah me olhou com pena, e me abraçou.
- Ah, minha menina, se sua mãe estivesse aqui ela não iria permitir uma coisa dessas... – a olhei, suplicando com o olhar para que me falasse mais sobre minha mãe.
- Você sabe onde ela está? – perguntei e ela negou.
- Ela ama muito vocês, tenho certeza disso e vocês devem ter também – Norah disse e eu entendi que ela não queria mais tocar no assunto.
Minha mãe havia ido embora quando eu tinha apenas quatro anos, Adele e Alicia três. E, segundo meu pai, ela estava farta da vida que levava com ele e conheceu um homem por quem se apaixonou e foi embora, nos deixando para trás. Norah era a única que sabia os detalhes, mas ela nunca falava sobre o assunto e quando insistíamos muito, ela apenas dizia que minha mãe nos amava e que um dia iríamos saber de toda a verdade.
- Eu preciso falar com – peguei o celular e vi que havia uma mensagem dele.

De : Em casa, pq?

- Você vai contar a verdade? – Norah perguntou e eu neguei.
- Não posso e essa é a pior parte, como vou explicar a ele que eu vou casar com Gregory?
Seria difícil contar ao meu namorado que em poucos meses eu casaria com outro homem sem mencionar o fato do tal acordo e eu tinha certeza que ele não olharia mais na minha cara depois disso.
- É tão injusto o que o senhor Norman está fazendo com você, minha menina – ela afagou meus cabelos e eu respirei fundo.
Mandei mais uma mensagem para .

De : Preciso ver você.

De repente papai bateu na porta chamando por mim, mas eu não queria falar com ele de jeito nenhum. Supliquei para Norah dizer que eu estava com dor de cabeça e que poderíamos conversar depois, então ela foi até a porta encará-lo.
- não está se sentindo bem, senhor, estou cuidando dela. Precisa de algo? – ouvi ela perguntar, sem deixar que papai entrasse no quarto.
- está proibida de sair de casa sem a minha ordem, do colégio para casa e só. Você estará encarregada de cuidar disso e eu espero que a minha ordem seja cumprida, Norah, está bem? – eu quis gritar naquele momento e despejar toda a minha raiva em cima daquele homem que dizia ser meu pai, mas isso só iria piorar as coisas. Não que eu fosse cumprir com as ordens dele, mas iria fazer isso sem alarde para não prejudicar Norah.
- Está bem, senhor, eu cuidarei disso. – ouvi a porta ser fechada novamente, então voltei a sentar na cama para encarar Norah.
- Você precisa me ajudar a sair esta noite para ver , sei que papai estará de plantão, então... – ela assentiu.
- Eu tenho um plano perfeito!


Flashback off

Luke estacionou o carro em frente à igreja onde seria a cerimônia e eu respirei fundo, papai ao meu lado estava sério e não havia dado uma palavra no caminho até aqui. Vi Adele, Alicia e Norah me esperando na entrada da igreja, então vieram até mim quando viram papai descer do carro.
- Espero que você tenha desistido no caminho até aqui – Alicia estava esperançosa, mas eu sabia que iria decepcioná-la, pois eu estava disposta a dizer o sim para Gregory.
- Não seja tonta e ande, vá avisar que nossa irmã já vai entrar – Adele lançou um olhar fulminante para Alicia, que a ignorou.
- Está tudo bem, vá e avise que a noiva está pronta. – falei pegando sua mão e depositando um beijo carinhoso.
- Você está pronta, querida? – ouvi papai dizer do lado de fora e eu confirmei.
- Vamos – Norah me ajudou a sair do carro enquanto Adele segurava o meu véu.
Quando já estávamos posicionados na entrada da igreja, Adele e Norah entraram e logo pude ouvir a marcha nupcial começar e então a grande porta se abriu.
- Se vai fazer isso, faça do jeito certo. Sorria, você não está indo pra um velório – papai sussurrou perto de mim e eu rolei os olhos discretamente.
- Mas eu estou – ele me olhou furioso. –, velório da minha dignidade que morreu por eu estar prestes a entrar na família Collins.
Ele ficou em silêncio. Apertou meu braço entre o seu e eu respirei fundo. Coloquei no rosto o sorriso mais falso e então começamos a fazer o caminho até o altar lentamente. De longe, pude ver Gregory sorrindo e então tive vontade de esganá-lo. Aquele garoto havia se tornado repugnante para mim. Um pouco atrás pude ver Richard acompanhado de sua esposa Lauren e seu filho caçula, Steve. Adele mantinha um sorriso enorme no rosto enquanto Alicia estava séria, olhando para os próprios pés. Reconheci alguns rostos pelo caminho, a maioria como sendo da família Collins, já que a família de papai se resumia em dois irmãos com suas respectivas famílias e vovô. Alguns amigos riquinhos e idiotas de Gregory da escola que me olhavam com um certo desprezo e então senti falta de Ryan e , meus melhores amigos.
O som da marcha nupcial cessou quando cheguei ao altar, e papai me entregou a Gregory, que beijou minha mão e sorriu. Sem encará-lo, dei um passo à frente e então ouvi o padre dizer:
- Estamos aqui reunidos, irmãos e irmãs, para celebrar a união de Gregory Harris Collins e diante de Deus... – ouvi alguém fungar atrás de nós. Olhei para o lado rapidamente desejando ver no lugar de Greg e ter a plena certeza de que aquilo não passava de um cruel pesadelo. Fechei os olhos e abri novamente constatando que tudo estava igual.

Flashback on
Luke, nosso motorista e filho de Norah, havia aceitado participar do plano da mãe para que eu pudesse encontrar naquela noite. Então, com muita cautela conseguiu tirar o segurança da porta de casa e distraí-lo até que eu saísse e entrasse no carro. E mesmo que a casa de fosse próxima a minha, Luke fez questão de me acompanhar para que eu não fosse vista e corresse o risco de ser dedurada ao meu pai.
Ao chegar em frente a propriedade dos Carter, notei que estava parado em frente ao portão principal, com a mão nos bolsos e fitando o nada. Sorriu ao me ver acenando do lado do carona.
- Cuide bem dela, rapaz, e não saiam por aí, é perigoso – Luke recomendou a , que concordou.
- Obrigada por me ajudar – falei sincera e ele sorriu.
Saí do carro acompanhando até a entrada da casa, onde fomos recebidos calorosamente por Bill.
- Ei, amigão, que saudade! – o labrador deitou no chão de barriga para cima ao me ver, então acariciei sua barriga carinhosamente e sorriu.
- Bill, acho que teremos um grande problema se você não quiser dividir a atenção de comigo, cara – se abaixou e acariciou Bill da mesma forma, e logo a atenção do cachorro foi atraída por outra pessoa.
- , que surpresa! – Shelby, a irmã mais nova de , apareceu na sala de estar acompanhada de Caroline, a mãe deles. A abracei, fazendo o mesmo com a mais velha.
- não avisou que você vinha jantar conosco, eu poderia ter feito a sua comida favorita – a família de Caroline era sempre muito simpática, o que fazia com que eu me sentisse aconchegada sempre que chegava por lá.
- Eu avisei em cima da hora que vinha, mas não se preocupe, sabe que eu amo tudo o que você faz – falei sincera.
- Então, eu aviso quando estiver pronto, tudo bem?
- Tudo bem, mãe, vamos subir.
- E eu vou terminar de fazer o dever de casa – Shelby disse já subindo as escadas. – , a Alicia está bem?
- Sim – respondi.
- Ah, é que ela tem se isolado de nós no colégio e só anda com Jim, mas deve ser só impressão – ela disse e eu achei estranho, afinal, Alicia era sempre comunicativa, mas acabei deixando pra lá.
- De qualquer modo, vou dar um toque nela – Shelby concordou e sumiu no andar de cima.
- Vamos?
- Vamos.
Subimos as escadas até o quarto de , então ele me levou até a pequena varanda que dava para o jardim da casa. A noite estava linda e a lua era a única iluminação por ali.
- O que houve pra você estar assim, tão triste?
- Só briguei com meu pai.
Ele me olhou preocupado.
- De novo, ? Espero não ter sido por minha causa. – ele disse triste.
- Não... Mas não quero falar disso, está bem? Só quero aproveitar sua companhia. – falei me esticando para beijar seus lábios quentes.
- Acho que sei uma forma maravilhosa de aproveitar – ele sussurrou de forma sexy, subindo a minha blusa e passando os dedos de leve pelas minhas costas.
- , estamos visíveis aqui! – brinquei com seus lábios dando mordidas leves.
- Então vem...
Ele me puxou de volta para dentro do quarto e me empurrou de leve, me fazendo cair de costas na cama enquanto desabotoava meu jeans e se livrava de sua camisa. distribuiu beijos pelo meu corpo até chegar em minhas coxas, passando o dedo pela calcinha fina me fazendo arrepiar. Então ele puxou a pequena peça até tirá-la por completo e passou a língua fazendo movimentos circulares em meu clitóris enquanto introduzia o dedo, me fazendo gemer e implorar por mais. Quando eu já estava no ápice da loucura e implorando para tê-lo dentro de mim, tirou a calça e a cueca revelando seu pênis ereto, pronto para me satisfazer. Então abriu a gaveta do criado mudo e tirou uma camisinha, rasgando o pacote rapidamente e colocando em seu pênis. Ele chupou meus mamilos enrijecidos e minha pele se arrepiou. Senti seu pênis duro roçar em minha vagina e soltei um gemido implorando para que ele me penetrasse, então ele o fez, começando com um movimento devagar e torturante, porém delicioso e então alternou para estocadas mais fortes até cair ao meu lado ofegante e me beijar calorosamente, me fazendo sentir a menina mais amada do mundo.

Flashback off

Não sei ao certo quanto tempo o padre falou sem que eu conseguisse prestar atenção, e só despertei dos meus pensamentos quando senti Greg me cutucar. Então, percebi que todos estavam me olhando fixamente.
- , é de livre e espontânea vontade que você aceita Gregory Harris Collins como seu legítimo esposo? – o padre repetiu a pergunta, e Greg me olhou apreensivo. Olhei para meu pai que não escondia a tensão em seu rosto e Alicia fez um sinal discreto para que eu respondesse não. Richard estava sério, pronto para fazer um estrago caso eu desistisse, então voltei meu olhar para Gregory que parecia implorar por uma resposta.
- Sim, eu aceito! – respondi sem pestanejar, então ouvi murmúrios ecoarem por toda a igreja e meu pai respirou aliviado.
- Se houver alguém nesta igreja que é contra esta união, que fale agora ou cale-se para sempre. – a voz do padre ecoou e um silêncio assustador se instalou por ali. Havia sim, algumas pessoas que eram contra esse casamento, mas pra minha infelicidade, nenhuma delas se atreveria a falar. Então respirei fundo, já me conformando com aquela situação, porém uma voz vinda da entrada da igreja fez com que todos ali presentes olhassem para trás horrorizados.
- Eu sou contra essa união! – era Bryan, primo de Gregory. Por um momento o ar sumiu dos meus pulmões, mas algo dentro de mim gritava de felicidade. Eu não sabia ao certo o que levou Bryan a agir daquela forma e uma parte de mim estava preocupada, mas a outra, extremamente eufórica.
- O quê? – Gregory levantou, sustentando um olhar assustado com Richard, como se estivesse buscando por respostas.
Vi Bryan caminhar rapidamente em nossa direção com a expressão séria sob o olhar atento de todos os convidados. Richard já estava ao nosso lado quando viu o sobrinho ficar frente a frente comigo e então fez sinal para que ele não se aproximasse.
- Saia daqui ou eu...
- Você o quê, tio? – Bryan interrompeu a fala de Richard, que lançou um olhar fulminante para ele e Greg ameaçou avançar no primo, mas logo foi puxado por Lauren.
- Você não tem o direito de invadir meu casamento assim, seu merdinha, eu nem o convidei! – Greg esbravejou e o padre o olhou feio.
- Ordem, os senhores estão em um local sagrado! – ele disse tentando conter os ânimos.
- , você não precisa se casar, eu já sei de tudo, desista dessa loucura! – Bryan suplicou, então vi Alicia, Adele e papai se juntarem a nós.
O burburinho dentro da igreja aumentava a cada segundo, todos curiosos para entenderem o que estava acontecendo ali.
- Bryan – sussurrei. Estava receosa com os rumos que aquela conversa poderiam tomar, afinal de contas havia muita coisa em jogo. – Está tudo bem, eu aceitei isso.
- Gregory e se amam, você não vê que está atrapalhando a cerimônia, seu fedelho? É nítido o quanto você parece com seu pai, aquele idiota bisbilhoteiro! – Bryan avançou em direção de Richard, mas logo foi contido por um dos convidados que supus ser da família Collins.
- Lave essa sua boca imunda pra falar do meu pai, seu interesseiro!
O padre desceu do altar para se juntar a nós.
- Filhos, por favor, seja lá o que estiver acontecendo aqui, vamos resolver lá na sacristia! – ele se pronunciou, sob a negação de Richard e Greg.
- Continue a cerimônia, senhor padre, este jovem está exaltado. Peço que o levem para fora! – Richard pediu, mas Bryan não moveu um músculo sequer.
- Vamos para a sacristia, ou você quer que eu fale seus podres aqui na frente de todo mundo, Richard? – o cara enrugado congelou, e então se deu por vencido. Papai, que não estava entendendo nada, segurou em meu braço e me puxou em direção a sacristia.
- Meus queridos, é só um mal-entendido, peço a compreensão de todos e que permaneçam aqui, pois logo iremos retomar com a cerimônia – ouvi de longe Richard dizer, então Gregory, Bryan e Lauren os seguiram até a sacristia.
- Diga o que você quer para ir embora, Bryan, é dinheiro? Um cargo no meu hospital ou uma das propriedades de sua avó? – Richard elevou o tom da voz a fim de intimidar o sobrinho, mas Bryan permaneceu firme.
- Quero que você vá pro inferno, seu chantagista, como você foi capaz de obrigar a se casar com seu filho?
- Você está louco? – Greg se fez de desentendido e eu tive vontade de voar no pescoço dele, então resolvi me pronunciar, afinal de contas era de mim que estavam falando.
- Bryan, o que realmente te trouxe aqui? – perguntei, já sem paciência para aquele circo todo.
Bryan Collins era a minha última esperança de sair daquele casamento forçado.
- Eu descobri todo o plano, , a dívida de seu pai e o contrato. Richard armou tudo pra herança da vovó ir parar nas mãos dele. E eu sinto muito que você tenha sido vítima desse canalha. – eu agradeci em silêncio.
- Isso é verdade? – Lauren perguntou incrédula.
- Cale a boca e não se meta nesse assunto! – Richard gritou fazendo com que a mulher ficasse cabisbaixa.
- Cala a boca você, em primeiro lugar! – todos me olharam horrorizados. – Nunca te ensinaram como tratar uma mulher, não?
Dei um passo à frente sendo imediatamente segurada por meu pai, mas desviei e fiquei cara a cara com Richard. – E em segundo lugar, você é um homem asqueroso e eu deveria ter sido mais firme quanto a esse acordo.
- E deixar seu pai perder suas propriedades e o emprego? – ele riu vitorioso.
- Tenho certeza que iríamos sobreviver, morar na casa de meu avô, que é um homem simples e decente e, além do mais, o seu hospital não é o único. – papai arregalou os olhos, como se fosse me repreender por maus modos, mas eu não iria me deixar abater. – Mas eu fui fraca e aceitei abdicar da minha felicidade pra manter a de minhas irmãs e meu pai.
- Você acha mesmo que iria ter algum futuro com aquele pobretão do ? – Gregory riu com desdém e só então pude notar sua presença ali, atrás de Richard.
- Eu amo o , sentimento esse que você nunca vai sentir se continuar assim – fui firme nas palavras.
- Filha, vamos acabar logo com isso, case com Gregory e nós não teremos que perder nada, você vai pra universidade e suas irmãs também assim que saírem do colégio. Sim? – papai estava nervoso e ainda vendo todo o meu sofrimento, só pensava no que era melhor pra ele.
- Chega de me dizer o que fazer, pai! Chega de manipular nossas vidas, chega! Eu não vou casar com Gregory, entendeu? – esbravejei e papai me olhou atônito, e Lauren parecia que ia desmaiar a qualquer momento.
- Você não precisa fazer isso, . Não mesmo! Pra sua informação, Richard, vovó já está sabendo de tudo, ou você acha que não iríamos descobrir que você a trancou num hospício alegando que ela estava louca?
- Hospício? – perguntei horrorizada.
- É, . Richard subornou o psiquiatra pra colocar vovó no hospício e armar todo esse plano. Vovó sempre quis que a herança dela ficasse comigo, em agradecimento a meu pai, que foi um bom filho. E ela sabia também que eu me casaria com Sophie porque nos amamos de verdade, mas ela não poderia imaginar que Richard armaria tudo nos mínimos detalhes para colocar as mãos em tudo. – pude notar a tristeza no olhar de Bryan diante de tanta maldade por parte do tio.
- Fiz o que deveria fazer, você é um fedelho, não cuidaria da herança de mamãe melhor do que Gregory. – Richard mantinha sua pose superior, o que me fez sentir ainda mais raiva.
- Gregory é só mais um boneco na sua mão, tio, sabemos que você iria cuidar de tudo. Mas eu não quero mais prolongar essa conversa, eu só vim aqui livrar das garras de vocês, ela não merece isso. – Bryan encarou os próprios pés, e então continuou a falar – E, Richard, a herança não iria ser sua de qualquer forma.
Greg e o pai se entreolharam, e Bryan riu vitorioso. – Eu adiantei meu casamento com Sophie no civil a pedido de vovó, já que você não pensou em oficializar o casamento de e Greg no papel, pra que ela não tivesse direito a um centavo da fortuna caso viesse a separar. Você falhou!
Eu não sei dizer o que estava sentindo, mas talvez fosse uma mistura de felicidade com confusão e a minha única vontade naquele momento era gritar aos quatro ventos que eu estava livre.
- É, parece que você venceu, meu querido sobrinho, mas ainda temos uma questão, não é, ? Uma quebra de contrato, o que significa que eu posso cobrar a dívida de seu pai. – ele gargalhou e eu assenti. Papai teria que arcar com as consequências, mesmo que fossem tão duras.
- O dinheiro que você usou pra emprestar ao Norman foi desviado do hospital, portanto a dívida dele é com a vovó – então Bryan olhou diretamente para meu pai – E ela pretende conversar com o senhor a respeito, assim que ela estiver em condições.
Eu estava livre daquele contrato ridículo, de Richard e de Gregory. E Bryan era o meu anjo da guarda.
- Bryan, eu... – papai tentou falar algo, mas começou a chorar e então o abracei, mesmo estando triste com suas atitudes.
- Norman, nunca mais coloque em risco a felicidade de suas filhas por ambição. poderia ter sido muito infeliz, mas por sorte um anjo me contou o que estava acontecendo e eu pude salvá-la. E não se preocupe com seu cargo no hospital – ele se virou para Richard novamente – E quanto a você, teremos muito o que conversar ainda.
Richard bufou e a expressão de Gregory era de decepção. De longe, aquele era o dia mais feliz da minha vida.
Então saí da sacristia atônita com todas as informações despejadas por Bryan. Passei por Alícia, Adele e Norah, que conversavam entre si e pararam quando notaram minha presença por ali.
- ! – ouvir a voz de Adele me chamar, então olhei para trás e só então me dei conta que estava parada no meio da igreja com todos os convidados me olhando.
- Filha, podemos prosseguir com o casamento? – o padre perguntou e então as vozes cessaram, esperando por uma resposta positiva.
- Não, senhor padre, desculpe pela confusão, mas o casamento está cancelado. Agradeço a todos pela compreensão! – um coro de “ohh” ecoou pela igreja e eu sorri aliviada.
- Eu posso saber o que está acontecendo? – Adele parecia horrorizada.
- Venham comigo!
As três me seguiram sob o olhar curioso das pessoas que ainda estavam acomodadas em seus lugares. Quando passei pelo grupinho de amigos de Gregory, ouvi a metida da Tess dizer:
- Vai ver que descobriram que essa daí queria dar o golpe, já que o papai está quase falindo – ela me olhou com desdém e todos riram, mas eu não iria levar nenhum desaforo pra casa.
- Fofa, nem com amarração Gregory iria querer você! – rebati.
- Levou na cara, Tess, ui – um dos amiguinhos zombou.
Peguei o buquê das mãos de Norah e entreguei nas mãos de Tess, que soltava faíscas de raiva.
- Faço questão de te dar meu buquê, quem sabe assim Greg não note você, não é? E agora vê se me erra, garota! – então virei as costas para aqueles idiotas e tratei de sair imediatamente dali, estava sufocando dentro daquele vestido.
Ao sair notei dois rostos bem conhecidos conversando na frente da igreja, então estreitei os olhos para ter a certeza de que eu não estava enganada. E não estava. e me encararam ao notar minha presença ali, então correu até mim, com um sorriso estampado no rosto.
- Me diga que deu tudo certo, por favor?! – eu não estava entendendo do que ela estava falando, e ao perceber minha confusão, falou: - Fui eu quem procurou Bryan. Me desculpa, eu sei que eu não deveria ter me metido tanto nessa história, mas eu não poderia deixar você cometer essa loucura, e então eu...
- Obrigada! – falei cobrindo com um abraço apertado e deixei lágrimas de felicidade rolarem pelo meu rosto. Ela sorriu.
- Você não está brava?
- Por você me livrar de Gregory e do cara enrugada? Jamais!
- Eu realmente estou curiosa pra saber tudo o que aconteceu lá dentro, mas as pessoas estão começando a sair da igreja e logo Gregory e Richard irão sair, então proponho irmos pra casa – Alicia disse batendo palminhas animadas e eu joguei um beijo no ar para ela.
- Peçam para Luke levá-las, ok? Vou esperar doutor Norman sair com o avô de vocês e então pegamos um táxi e encontramos vocês em casa – Norah disse dando um beijo em minha bochecha e acenando para as outras e então desapareceu entre a multidão.
- ...
- Ele já sabe de toda a verdade, e por incrível que pareça, nos encontramos por acaso hoje, ele veio ver você pela última vez, vai lá. – me encorajou a ir falar com , mas eu estava receosa, pois o nosso último encontro não havia sido dos melhores.
Andei rapidamente em direção a onde ele estava e o vi sorrir fraco. Estava lindo vestido em um terno preto e os cabelos levemente bagunçados.
- Oi – falei e ele encarou os pés.
- Oi, .
- Como você está?
- Estou bem. – ele respondeu agora olhando fixamente para mim. – Olha, eu não quero prolongar esse papo e imagino que você tenha muito a conversar com elas, então eu só quero te dizer que me contou tudo e eu sinto muito, mas fico feliz que tenha dado tudo certo, você não merece ser infeliz.
Eu fechei os olhos e suspirei, talvez ele não estivesse disposto a recomeçar e eu nem tinha o direito de pedir isso.
- Obrigada, . Espero que agora você entenda que eu não troquei você pelo Gregory, eu só fiz aquilo pela minha família... – ele assentiu.
- Claro. Mas eu queria que tivesse confiado em mim, talvez juntos pudéssemos ter encontrado uma solução. Eu sofri, sabe?
Meu coração estava em pedaços ao ouvi-lo falar naquele tom de voz triste.
- Me desculpa por isso, eu não queria te envolver nessa confusão, mas parece que te fiz sofrer muito mais – sussurrei, sentindo um nó na garganta.
- Está tudo bem, de verdade. Então, eu preciso ir nessa, volto pra Londres ainda hoje, universidade e tudo mais – concordei e ele me deu um beijo na bochecha.
- , eu amo você – falei chorosa e ele não me encarou.
- Adeus, .

Xxx

- E então Bryan disse que o dinheiro que Richard emprestou a papai era desviado do hospital, e agora a dívida dele é com a avó, que ainda é dona do hospital, até pertencer de fato a Bryan. – Alicia, Adele e Norah ouviam com atenção tudo o que eu falava sobre o acontecimento de mais cedo na igreja.
- Como pode colocar a própria mãe num hospício só pra tramar pelas costas dela? – Alicia estava indignada, assim como eu e Norah. Mas Adele não parecia muito feliz com o fato de eu estar livre.
- Voltamos ao ponto de partida: papai ainda está endividado e com riscos de perder tudo. Qual a vantagem? – Alicia rolou os olhos em reprovação.
- Por Deus, Adele, você só pensa em si mesma? – Norah ralhou.
- Adele, eu iria sacrificar a minha felicidade por vocês, mas se a vida tá me dando uma oportunidade, eu não vou desperdiçar – Alicia concordou em silêncio e eu segurei a mão das duas com carinho. – Eu faço tudo por vocês, mas tá na hora de eu pensar um pouquinho só em mim, tá bem?
Elas assentiram e eu vi lágrimas brotarem dos olhos de Adele.
- Desculpa. Eu só tenho medo do que pode acontecer – ela me abraçou e eu afaguei seus cabelos.
- Nada de ruim vai acontecer, eu prometo. Vou conversar com Bryan e acho que ele pode me ajudar.
- Tudo bem.
- , você precisa descansar, querida, o dia foi cansativo. – Norah levantou. Adele e Alicia fizeram o mesmo.
- Se precisar de qualquer coisa é só chamar, irmãzinha – Adele me deu um beijo na bochecha e Alicia acenou de longe sorrindo.
Vi a porta ser fechada e então joguei meu corpo na cama, me sentindo exausta, não só fisicamente, mas também mentalmente.
Pensei em como teria sido se Bryan não tivesse descoberto através de sobre o plano mirabolante de Richard, em como eu estaria neste momento, casada com um cara que eu não amo, tendo que suportar dia após dia viver sem a companhia de e ter deixado pra trás todos os planos de um futuro a dois. E mesmo que a verdade tenha vindo à tona, se foi sem nem ao menos me dar a oportunidade de uma conversa digna. O que tinha acontecido com a minha vida? Era a única pergunta que martelava na minha cabeça e eu não tinha respostas. Mas de uma coisa eu tinha certeza: iria aprender a recomeçar.

Flashback on

e eu chegamos na escola juntos e logo que avistei Gregory sentado com sua turma no pátio, senti um frio na barriga. Quis desviar para sumir da vista dele, com medo de que ele pudesse contar do casamento antes de mim. A verdade era que na noite anterior eu não tinha tido coragem de contar a , pois eu não poderia sequer mencionar o fato de existir um contrato. Então avistei do lado contrário com Ryan e agradeci mentalmente indo até lá com ao meu lado.
- E aí, casal? – Ryan cumprimentou.
Apenas acenei com a cabeça e arqueou a sobrancelha.
- Tá tudo bem, ? – ela perguntou. Minha melhor amiga me conhecia melhor do que ninguém.
- Hum, sim – respondi tentando agir o mais natural possível. - Acho bom irmos pra sala, faltam dois minutos pra aula da Corine começar e eu não quero me atrasar.
- Aquela chata está de olho em mim – Ryan resmungou e eu ri.
- Não é como se você fosse um aluno exemplar, não é mesmo? – Ryan lançou um olhar feio para que deu de ombros.
- Chega desse papinho, vamos logo! – passou o braço pelo meu ombro e Ryan fez com o mesmo com .
Logo estávamos caminhando lado a lado para o interior do colégio, olhei em volta para ver se Greg estava por perto, mas não estava. Ao chegar ne entrada da sala, senti uma mão pousar em meu braço e ao virar para trás me deparei com Gregory. Ele tinha um sorriso irônico no rosto e olhou de mim para .
- Fala, cara! – o cumprimentou com um toque de mãos. Senti minhas pernas vacilarem e meu coração acelerar, mas sorri e sustentei um olhar piedoso para ele.
- Eu te dei um prazo, , e me parece que você não cumpriu.
- Greg, aqui não.
me olhou confuso.
- Do que você está falando? – ele perguntou diretamente para Gregory.
- Você quer que eu conte? – Gregory encarava com uma expressão vitoriosa e eu engoli em seco.
Eu não queria que soubesse dessa forma, mas eu também não tinha conseguido juntar toda a coragem para contar e o prazo que Gregory e Richard haviam me dado havia vencido.
- Gregory, eu preciso conversar com , mas sem você, tudo bem?
- Do que vocês estão falando?
e Ryan entraram na conversa e eu temi que Gregory despejasse tudo de uma vez. Eu não havia contado à sobre o casamento e o tal do contrato. Na verdade, nem tinha decidido se contaria tudo nos mínimos detalhes, Richard havia pedido sigilo total.
- , o está acontecendo? – perguntou.
- Vocês vão saber. – fechei os olhos respirando fundo – Greg...
- Espero que você não esteja planejando nada para... – ele me olhou com uma certa fúria.
- Não!
- Mas que droga de conversa é essa? Estou perdendo a paciência. , quer falar de uma vez? – explodiu.
Corine passou por nós lançando um olhar mortal, ela odiava ver alunos circulando fora da sala no horário de sua aula.
- Posso saber o que vocês ainda estão fazendo aqui fora, Ryan? – ele corou.
- Pergunte a Gregory, ele que está atrapalhando a nossa entrada! – ele respondeu sem paciência e entrou na sala em seguida.
- Ótimo. É uma ótima oportunidade pra anunciar uma novidade! – Greg sorriu e fez o mesmo que Ryan. Então e Corine também entraram na sala e me olhou buscando por respostas.
- O que significa isso?
- , eu queria ter contado antes, mas é complicado... Eu... Droga! – choraminguei. Não conseguia encontrar as palavras certas para contar, então foi aí que Corine apareceu na porta da sala nos olhando feio e nos mandando entrar.
- Professora, peço licença para fazer um comunicado a todos os meus amigos, sim?
- Espero que não seja alguma besteira, senhor Gregory, se não mando você e quem mais estiver atrapalhando minha aula para a diretoria. – ameaçou nos encarando por cima dos óculos.
- Gregory, por favor... – implorei em vão.
- Meus caros amigos, é com muito prazer que venho anunciar que irei me casar em alguns meses! – Gregory disse orgulhoso e todos começaram a falar ao mesmo tempo.
- Mas o que você tem a ver com isso? – perguntou confuso.
- Tão novo, senhor Collins? – Corine torceu o nariz. – Quem é a felizarda?
- !


Xxx

Três semanas depois do fatídico dia em que Bryan acabou com os planos de Richard, as coisas estavam voltando ao seu normal. Meu pai havia resolvido sua situação com a avó de Bryan e recuperado seu cargo no hospital. Mas ainda estava chateado comigo por descobrir que eu não iria cursar medicina como ele sempre quis e que, em vez de passar a vida em Bournemouth estudando e trabalhando no grande hospital, eu iria para Paris cursar moda.
Adele e Alicia iriam para o último ano do colégio e só Adele seguiria a carreira de papai, o que lhe deixou muito orgulhoso.
foi aceita em uma universidade em Nova York e seu pai, uma transferência para uma filial da empresa onde trabalha em NY, o que facilitou a mudança de toda a família para lá. Ryan iria começar um mochilão pela Europa com seus pais e quando voltar, começará a cursar filosofia aqui mesmo, em Bournemouth.
Bryan assumiu a diretoria do hospital, assim como todos os bens que lhe pertenciam por direito, e passou também a cuidar de sua avó. Richard, que ficou mal visto na cidade depois de tudo o que aprontou com a sua família, foi embora sem dizer pra onde, deixando Lauren, Greg e Spencer para trás. E eu? Bom, estou no saguão do aeroporto, prestes a embarcar para Paris.
- Vou sentir sua falta, irmãzinha! – Alicia me abraçou.
- E eu a sua.
Papai estava relutante em aceitar a minha mudança, mas no fundo ele sabia que eu estava feliz. Então ele se juntou a nós, dando um beijo no topo da minha cabeça.
- Eu estou orgulho por você seguir seu caminho e ter lutado pela sua felicidade. – ele disse sincero e eu agradeci. Não havia sido fácil estar ali, prestes a embarcar em um avião para Paris para estudar moda em uma das melhores universidades.
- Boas garotas não fazem história – pisquei um olho para ele que me olhou sem entender.
- É só uma música, paizinho. Mas faz muito sentido e é por isso que eu sou sempre má! – rolei os olhos rindo de Adele.
- Lutem pelo que vocês acreditam, sempre. E cuidem uma da outra e também de papai, certo? Eu venho assim que for possível e podem me ligar pra que precisarem. Eu amo vocês!
Percebi que Norah nos observava um pouco de longe, com um lencinho em mãos. Fui até ela, que começou a chorar ao me olhar.
- Ei.
A abracei.
- Você vai fazer tanta falta, minha menina.
- Eu sei. E eu vou sentir muita saudade de casa, mas eu estou indo realizar um sonho e vai valer a pena, você vai ver! – ela me olhou ternamente, concordando em silêncio.
- Cuida bem deles, tá bem? – meu pai e minhas irmãs se aproximaram de nós, dando um abraço em grupo.
Ouvi a última chamada para embarque imediato. Então, antes que eu pudesse entrar na sala de embarque, Norah sussurrou em meu ouvido:
- Amo você.
Então entrei na sala de embarque e acenei para eles através do vidro.

Alguns minutos depois, eu já estava acomodada em minha poltrona enquanto alguns passageiros ainda entravam no avião e guardavam suas bagagens. Dei uma última olhada no celular para conferir as últimas mensagens.

De : Boa viagem e boa sorte lá em Paris. Eu amo você.

De Ryan: A Europa é incrível, queria que você e estivessem aqui, mas sinto que um dia vamos fazer isso juntos. Boa sorte em Paris, pequena. Love u ;)

Sorri. Eu tinha os melhores amigos do mundo, que, mesmo estando longe, eu poderia contar para qualquer coisa. Então desliguei o aparelho jogando dentro da bolsa e me acomodei na minha poltrona.
Fechei os olhos e me permiti esquecer todos os momentos ruins que eu passei desde durante três meses sendo assombrada pela ideia de um falso casamento. Me permiti esquecer que eu havia perdido o grande amor da minha vida e que dali em diante eu só queria focar no que viria pela frente. Um novo país, novos amigos, um novo ar, uma nova vida.
Um recomeço.

Epílogo

Estar de volta a Bournemouth depois de dois anos longe era muito nostálgico. Eu havia conseguido uma folga no estágio e estava de férias da universidade, então decidi que queria voltar para casa e ver como as coisas estavam por ali. Era uma manhã de domingo e eu estava sozinha em casa. Papai estava no hospital, Alicia havia ido à praia com Jim e Adele ido fazer compras no shopping. Norah estava de folga, pois sua filha havia dado à luz, então papai a liberou para passar alguns dias em Bradford para cuidar delas. Preparei uma vitamina e um sanduíche para comer e então peguei alguns artigos que trouxe comigo para revisar e me sentei no sofá.
Liguei a tv para não me sentir tão só e sorri ao ver que estava passando cartas para Julieta, meu filme favorito. Acabei deixando os artigos para depois e prestei atenção só na tv, quando dei por mim já estava chorando. Bufei por ser tão sensível e idiota, então ouvi meu celular apitar. Era uma mensagem de um número desconhecido e então estranhei.
Venha até a frente de sua casa.
Congelei ao ler aquelas palavras, será que era algum maníaco que estava me perseguindo e sabia que eu estava sozinha em casa? Rapidamente corri até a cozinha para pegar uma vassoura e me certifiquei que a porta dos fundos estava trancada. Andei até a porta principal e ouvi o celular apitar novamente.
Não tenha medo.
E se eu chamasse a polícia? E se ele fosse algum louco? Psicopata? Droga! Fiz o mínimo de barulho possível e então abri uma fresta da cortina da janela da sala e quase caí dura quando percebi de quem de tratava. Depois de tanto tempo, o que ele estava fazendo ali na minha porta?
Respirei fundo, ajeitei o cabelo e então abri a porta.
- Você quase me matou do coração! – ele sorriu.
estava tão lindo, exatamente como da última vez que o vi, exceto pela barba por fazer que ele não tinha na época.
- Será que é muito tarde pra pedir desculpas por ter sido um idiota incompreensível?
Eu sorri.
- Nunca é tarde pra quem está disposto a recomeçar, .
Ele me encarou da mesma forma de quando éramos namorados e fazíamos planos de ficar juntos para sempre. Mas o destino foi cruel e nos fez seguir caminhos diferentes, sem ao menos algum tipo de contato. Mas agora a vida havia dado um jeito de nos unir novamente e eu não iria. E então, bem ali, cara a cara com o homem da minha vida, eu tive a plena certeza de que agora não faltava mais nada pra eu ser feliz.


Fim.



Nota da autora: São exatamente 01:58 da manhã e eu estou aqui escrevendo essa nota porque acabei de revisar a fic pra entrega e estou com o prazo vencido, pq né hahahaha Só queria agradecer a você que leu até aqui e gostou. Quase não consegui escrever, mas no fim deu tudo certo. Ah, queria agradecer também a minha amiga Andy que ouviu minha ideia e me ajudou a definir algumas coisas na minha estória, obrigada por me dar incentivo sempre! E claro, agradecer a todos as envolvidas nesse ficstape e também a você leitora que faz tudo isso acontecer.
Beijos da Ray ;)



Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus