Fanfic finalizada

Capítulo I

— Você prometeu que não iria nos deixar sem notícias, Lila!

A repreendi enquanto caminhava pelas ruas de São Francisco após deixar alguns pertences de Lila no correio, já que após sua formatura ela estudaria em uma das grandes faculdades daquela cidade. Havia extensos quilômetros de distância entre Brenehal e São Francisco; ela buscou um dos pontos mais distantes para se aventurar, no entanto devido os últimos eventos, Lila fora obrigada a se mudar e seus antigos planos foram por água abaixo.

— Estou seguindo as orientações do advogado de Henny. — Ela pareceu suspirar do outro lado da linha. — Eu sinto falta de vocês, , todos os dias.

— Martin tem aparecido com mais frequência no bar, o velho criou uma espécie de apreço pelo seu namorado, Lila. — Parei num cruzamento enquanto aguardava o sinal abrir para os pedestres.

— Eu queria estar lá para ver isso, Martin se destaca demais naquele ambiente. — A forma como ela falou o nome de Martin partiu o meu coração.

Lila e Martin, oposições naturais, mas perfeitos um para o outro. Ele trazia um brilho de felicidade nos orbes geralmente tristes de Lila, Martin arrancava os melhores sorrisos da minha irmãzinha postiça. Da forma dele, Martin encorajava e dava esperanças a Lila enquanto ela o inspirava a ser mais destemido, ela o defendia como uma leoa que protege seus filhotes. Lila trazia a parte mais espontânea e corajosa de Martin enquanto ele fazia Lila se expressar sem receio, mostrando mais de suas partes frágeis e sentimentais. A garota que adotamos como parte da família havia crescido tanto! Todos os horrores e problemas que ela enfrentava não conseguiram apagar o brilho dela. Imaginava que eles teriam se separado com uma promessa de se reencontrarem no futuro.

— Estamos cuidando dele por você, meu amor. — Lhe respondi afetuosamente enquanto atravessava a rua.

— Obrigada. — Houve uma pausa maior enquanto eu imaginava que Lila deveria estar segurando suas lágrimas, já que ela costumava adotar a postura inabalável. — Eu amo vocês, eu tenho que ir.

— Nos vemos em breve. — Comentei com brincadeira buscando quebrar o clima muito sentimental , tentando deixá-la mais confortável.

— Assim eu desejo, mande lembranças a todos. — Ela se despediu com um riso contido, mas que valeu todo o trabalho daquele dia.

— Se cuida pestinha. — A respondi antes de finalizar a ligação.

Eu nunca fui muito fã dos ventos nas grandes cidades, para o meu infortúnio, Brenehal era uma cidade em que os ventos do oceano não eram pouca coisa! Arrependida de não ter colocado uma jaqueta, adentrei o primeiro lugar que vi; o que não acabou sendo uma boa ideia já que era uma loja de vestidos de noivas. Rindo comigo mesma diante de tamanha falta de sorte, comecei a andar pela loja fingindo como se realmente estivesse noiva.

— É uma pena, senhor , eu realmente acreditei que vocês dois formavam um belo casal.

Fora inevitável não prestar atenção no que ocorria naquela loja, o referido como senhor era um homem que chamava atenção por ser um homem naquela loja de noivas, mas ele sozinho chamaria atenção em qualquer ambiente em que estivesse; desviei meus olhos ao ser pega observando-o por tempo demais.

— Não se preocupe, Maggie, bem boa sorte com seu novo casamento. — Ele se despediu da vendedora num tom educado.

Sr. era um homem provavelmente na casa dos seus 30 anos, sua camiseta que emoldurava seus músculos deixava expostas as tatuagens em seus antebraços, reconheceria um motoqueiro à quilômetros de distância e, bem, fez meu radar apitar. Como uma boa filha de Henzel, o cabeça dura, não me envolvia com homens metidos a bad boys e muito menos motoqueiros. Eu poderia ser uma amiga, mas nunca cruzava a linha; eu já havia visto inúmeros corações se partirem devido a esses homens. No entanto , ou fosse lá o nome do homem que havia devolvido um vestido de noiva, me interessou à primeira vista. Como a falta de sorte me perseguia, a mesma vendedora que havia feito a devolução do vestido, fora a que se aproximou de mim.

— Para quando é o grande dia, querida? — Maggie indagou com o tom característico de uma vendedora.

— Que situação incomum o noivo devolver o vestido. — A respondi fugindo da pergunta que não possuía de fato uma resposta.

— Verdade, querida, e Lindsey eram um casal apaixonado. É uma pena que ela tenha fugido um dia antes do casamento com o melhor amigo dele. — Maggie me respondeu em um tom de profundo desagrado, compadecendo-se de .

— Chocante! — Deixei um silvo de surpresa escapar enquanto procurava absorver as informações obtidas.

— Sim, ninguém esperava que isso fosse acontecer, já que aparentemente Lindsey nunca demonstrou não amar o . Foi uma surpresa para todos os organizadores e convidados. — Maggie prosseguiu a despejar informações enquanto passava seus olhos pelo meu corpo antes de seguir determinada a uma arara repleta de vestidos. — Vista isso querida, tenho certeza que ficara deslumbrante nele.

Peguei o vestido meio incerta, de fato ele era lindo, mas realmente sem nenhuma utilidade. Abri um sorriso de desculpas antes de encarar a pobre vendedora.

— Eu agradeço a ajuda, mas eu não vou me casar, sequer tenho um noivo. — Acabei rindo sem jeito enquanto entregava o vestido nos braços dela. — Eu só queria fugir dos ventos da costa, não sou a maior entusiasta.

A vendedora estava sem palavras, eu não sabia se era por conta do choque ou minhas desculpas rasas e sem sentido. Ao sair da loja, acabei pegando um táxi, a estadia na cidade estava sendo peculiar.


Capítulo II

Ajudar meu pai com o bar era o mesmo que montar uma rede de contatos nesse ramo, o bar do meu velho era quase uma parada obrigatória. Em seus dias vindouros Henzel era uma lenda entre os motoqueiros, como um nômade que não se prendia a lugares ou pessoas…Meu pai era viciado em aventuras e adrenalina. Um clichê foi o romance que ele teve com a minha mãe, ela era igual ou até mesmo mais louca por aventuras que ele, eles enxergaram um no outro a si mesmos, quase como um reflexo em ambições e desejos. O coroa a amou até seu último dia, e ainda a ama. Seu olhar perdido enquanto ouve seus discos de vinis, ou quando vê casais em seu bar, memórias de suas próprias experiências são refletidas em seus orbes cansados.
Eu era quem realmente gerenciava aquele estabelecimento, meu irmão ficava na oficina durante o dia, consertando carros e motos. Meu gêmeo era um paquerador nato, em nossa cidade havia mulheres que iam ao nosso bar apenas para vê-lo; eu não poderia negar que o espírito de conquista estava no sangue. Ser mais reservada não significava que não me divertia tanto quanto ele, apreciava a discrição.
Como uma boa cidade grande, São Francisco possuía um bar direcionado ao público que eu me enquadrava e apreciava. Motos de todos os modelos e versões, estavam enfileiradas no estacionamento em frente ao estabelecimento enquanto seus donos se divertiam dentro do local. Meu olhar vasculhou o balcão encontrando meu velho amigo flertando enquanto preparava as bebidas, Ferrys era uma versão mais bronzeada de Alexis. Rindo, sentei-me em uma das banquetas no balcão, o clima dentro do bar era agradável, rock dos anos 80 tocava em um volume não muito alto ao ponto de impedir das pessoas conversarem, e não muito baixo ao ponto de não envolver quem estivesse disposto a dançá-las.


— A que devo a honra de sua presença, garota? — O tom grave de Geon soou quase como um ronronar.

— Sua esposa sabe que anda flertando com as clientes dessa maneira? — Rebati a pergunta tirando uma risada de Geon, o qual era irmão mais velho de Ferrys.

— Ela não liga quando é com você, nas palavras de Sara, você , chutaria minhas bolas se eu passasse dos limites. — Ele piscou deixando um copo de whisky em minha frente.

— Você deveria levar Sara mais a sério, seu modo paquerador vai te custar caro, meu amigo. — Ergui o copo em agradecimento antes de virar o seu conteúdo de uma vez.

— Alexis está com você ? — Ele me perguntou enchendo novamente o meu copo.

— Não, ficou em Brenehal. — Saudei Ferrys com um aceno enquanto respondia Geon.

— Um tanto incomum. — Geon riu se afastando para servir outro cliente.


— De fato. — Concordei em um sussurro já que ele havia se afastado.


Meus olhos esquadrinharam cada face naquele lugar, havia muitos rostos familiares e outros um tanto peculiares. Haviam pessoas que destoavam naquele mar de motoqueiros, e outras que pareciam a anos que não se viam. Eu gostava de ficar em meu canto antes de escolher um alvo, os minutos que precediam a caçada eram os mais emocionantes. Mãos calejadas, uma fileira de copos de shots a sua frente, um semblante misterioso e um olhar perdido…Eu conhecia aquela figura silenciosa, afogando suas tristezas naquela noite.


— É o Thommy, ele está bebendo antes mesmo de abrirmos o bar. — A voz de Ferrys me pegou de surpresa, o grito de surpresa quase escapou da minha boca.

— Bastardo! Não faça mais isso! — Bati nele algumas vezes mesmo que ele estivesse do outro lado do balcão, rindo, Ferrys tentava segurar minhas mãos.

— Hey, estava apenas tentando te ajudar. — Ferrys se justificou com um sorriso inocente.

— Você e Alexis ainda vão acabar me dando um ataque cardíaco com essa mania de chegar de fininho! — Me sentei novamente na banqueta enquanto indicava a ele meu copo.

— Admita: você não vive sem nós! — Ferrys retrucou com um sorriso presunçoso.

— Cala a boca! — Revirei os olhos contendo uma risada. — Esbarrei com ele mais cedo, ouvi a trágica história quando ele teve de devolver o vestido de noiva.

— É realmente impressionante como você e seu irmão sempre acabam sabendo de tudo; a propósito, o que a senhorita estava fazendo numa loja de noivas? — Ferrys me questionou com seu olhar repleto de curiosidade.

— É um dom. — Evitei a pergunta dele vendo-o me olhar de forma sugestiva.

— Quem é o pobre coitado? — Ferrys me indagou de forma enfática, deixando ainda mais em evidência sua curiosidade.

— Eu não tenho um noivo, sequer estou em um relacionamento. — Comentei com um sorriso enquanto meu olhar permanecia fixo no homem que havia esbarrado naquela loja de vestidos de noiva.

— Você sempre prefere os danificados… — Ferrys comentou com pesar.

— E você ainda vai acabar em um hospital por conta desse flerte sem medida; acho que esqueceu qual é o público que frequenta esse estabelecimento. — O lembrei no mesmo tom antes de me dirigir até .

Eu sabia que era um belo desastre procurar aquele homem, uma das minhas maiores falhas era não conseguir resistir ao impulso de tentar consolar aqueles que possuíam o coração partido. Mesmo que fosse por uma noite, eu seria tudo o que eles lembrariam, e, assim eu seguiria mantendo meus princípios sem feri-los.


— Um coma alcoólico não seria a mais agradável maneira de morrer. — Me pronunciei me sentando ao lado dele.

— Eu não estou em meu humor mais agradável. — me deu uma rápida olhadela antes de erguer a garrafa para servir-se.

— Não o deixarei fazer essa burrada. — Rolei os olhos antes de tomar a garrafa das mãos dele tomando a bebida diretamente do gargalo.

— Mas o que você pensa que está fazendo ? — Ele exaltou-se elevando sua voz enquanto me desaprovava com seus olhos tempestuosos.

— Salvando sua vida. — E em questão de segundos ele apagou.

Capítulo III

Geon e Ferrys o levaram para os fundos do bar, lá havia um quartinho. Quando os pais dos dois irritava a esposa tinha que dormir por ali, a tradição se estendeu aos dois filhos, principalmente a Geon já que ele possuía Sara como esposa e ele não era o marido mais sensato! Meus olhos eram atraídos para aquela figura adormecida, eu imaginava que não era fácil estar sob a pele daquele sujeito; ser trocado pelo melhor amigo e ter que desfazer tudo o que haviam planejado…Aquele homem estava próximo demais do abismo, eu conhecia homens assim o tempo todo mas eu não saberia dizer o que ele tinha de diferente que me levara a tomar uma atitude tão atípica. Ferrys estava certo sobre a minha pretensão em escolher apenas os danificados, mas já havia um longo tempo desde meu último relacionamento.

Por favor, fica. — Palavras ditas de forma tão frágil antes que eu atingisse a maçaneta da porta.

Eu não era a maior fã daquela cidade, meus planos era encontrar alguém e me divertir por uma noite já que partiria logo que o sol nascesse; no entanto ali eu estava: diante de um bêbado, que tivera seu coração esmigalhado, traído e abandonado…

" você está tão ferrada garota! "


Com um suspiro resignado, frustrado, me desloquei até . Ele não fazia ideia do meu nome, nem passava pela mente dele que eu sabia quem ele era, eu estava me metendo em uma enrascada por livre e espontânea vontade!

— Tudo bem. — O respondi me sentando no colchão, uma das mãos dele alcançou a minha. — Permanecerei até que adormeça.

— Me conte algo feliz, ou ao menos que me distraia dessa cômica e embaraçosa situação na qual me encontro. — até tentou sorrir, porém lágrimas brotaram no canto de seus olhos.

— Não é errado se sentir dessa maneira, chorar é o ato mais nobre que você poderia estar realizando por si mesmo. — Minha outra mão segui para os fios de cabelo dele, acariciando como uma criança que precisa de colo. — Se você guardar tudo para si, em algum momento irá colapsar.

— Para uma estranha, até que está bem informada. — Ele tentou em vão fazer uma piada sobre si mesmo.

— Tenho ouvidos em todo canto! — Pisquei um olho de forma cômica trazendo um sorriso fraco, porém animado naqueles lábios rosados.

— Seu nome é, minha cara estranha? — Ele me indagou mais desperto.

— Se nos encontrarmos novamente quem sabe! — Dei de ombros sorrindo tranquilamente.

— Me conte algo, para que possamos ficar equilibrados ao menos. — tentou me convencer de alguma forma.

— Eu sei a letra completa de The house of the Rising Sun. — O respondi de modo zombeteiro.

— Seu coração foi arruinado como o meu. — Havia sido uma afirmação e não uma pergunta por parte de .

— Quem sabe?! — O respondi de modo dúbio enquanto me levantava.

— Você não vai ficar? — Ele me perguntou com um olhar tentador.

— Eu não sou a mulher que você está desesperado para amar, e parece que te dei uma dose de ânimo. — O respondi antes de tocar a maçaneta a girando. — Nos vemos por aí, motoqueiro.

Me despedi sem olhar para trás, em minha mente eu o levava comigo. São Francisco não parecia tão ruim assim, o destino poderia ser inesperadamente amigável às vezes, inusitado talvez, mas eu sentia que aquela não seria a última vez que eu o veria. Coloquei meu capacete, subi em minha moto, um modelo antigo que eu amava pilotar, havia me despedido de meus velhos amigos antes de sair pelas ruas de São Francisco…estava indo para casa!

Epílogo

A cerveja estava gelada, tal como o meu coração. Naquela noite não havia alguém que me interessasse; meus pensamentos ainda retornavam à figura triste de .

" Esqueça-o ! Ele estava bêbado, não a menor chance de vocês se encontrarem outra vez!"


Enquanto me repreendia, distraída, não notei uma figura se sentar ao meu lado. Mesma cidade, mesmo bar, porém tempos diferentes; o agradável perfume me fez levantar os olhos da garrafa em minha frente encontrando um par de olhos que me perseguia desde que os havia deixado para trás.

— Olá, minha cara estranha. — me saudou com um sorriso de diversão e flerte em seus lábios tentadores.

— Não é que nos encontramos novamente! — Entrei em seu jogo, me virando para ele enquanto o analisava da cabeça aos pés.

— Eu estive procurando-a por todo canto. — Ele também me olhou lentamente de cima a baixo. — Você é uma figura difícil de se encontrar.

— O que seria de um bom mistério sem uma dose de dificuldade? — Lhe respondi com uma piscadela antes de levar a bebida aos meus lábios.

— Você prometeu me dizer seu nome. — Ele chegou mais perto, havia vitalidade em seu olhar com um toque de algo extremamente quente.

— Eu prometo muitas coisas por aí, você terá de refrescar a minha memória. — O provoquei notando o sorriso nos lábios de alargar.

— Em troca desse desafio eu quero ouvi-la cantar, meu pequeno rouxinol. — Ele me estendeu uma mão em um convite cheio de promessas feitas por seu olhar felino.

— É muito cedo, motoqueiro, eu sou uma boa competidora. — Me levantei deixando algumas notas debaixo da minha garrafa antes de aceitar sua mão.

— Eu não me importo… — sorriu me guiando para sua moto.

Como um casal, nossas motos se completavam. Eu acabei rindo, ele me olhou sem entender; mostrei a ele que riu em seguida. Com o som de motores ronronando pelas ruas de São Francisco, promessas feitas aos sussurros e um desejo absurdo de ficar o amanhã parecia distante e quase intocável…


Fim?



Nota da autora: Quero agradecer a cada uma que chegou até o final dessa história; foi com muito carinho que 13.Used to this nasceu. A história de Brix e Thomas veio de modo espontâneo e agradável, impossível não amá-los!
Para quem estiver curioso sobre a história da Lila poderá se informar e conhecer um pouco mais sobre a irmã postiça de Brix.
Alexis não apareceu, o gêmeo que é um irmão super protetor com Brix e Lila, embora mantenha a pose de despreocupado, sentimentos complexos são quase sua companhia diária.



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