Finalizada em: 07/03/2021

Capítulo Único

O som dos latidos de Miles despertou-me de um sono que até o momento era só um cochilo. Levantei o mais rápido possível da minha cama e segui para a porta do quarto.
Mal tive tempo de abrir quando Miles pulou em cima de mim e me esmagou, seguindo logo depois para outro cômodo, mas a sua agitação se concentrou na porta da frente: onde alguém batia com delicadeza.
— Pra me acordar você precisa de mais que simples batidas — eu disse para , assim que abri a porta e a encontrei mexendo no celular.
— Digamos que só estou executando ordens e me descabelar de tanto te chamar não é uma delas — disse, sem tirar os olhos do celular e entrando na minha casa logo depois. — O que tem para o almoço? — Ela perguntou, enquanto brincava com Miles no sofá.
— Digamos que eu acordei agora. — Eu fiz uma careta e segui para a cozinha.
— Você não tem vergonha na cara mesmo, perde o primeiro turno e eu ainda tenho que vir te buscar.
— Reclama com Roberto, . — Eu fiz um biquinho na direção dela e ela revirou os olhos.
— E nem almoço tem — resmungou.
Me servi com um copo gigante de água e ao passo em que bebia, me permiti viajar um pouco, até que meus olhos focaram no relógio do microondas e quase infartei: eram quase 13h. Eu tinha que me encontrar com um cliente às 15h.
, por que não me disse que estou super atrasado?
— Porque é mais legal ver a sua cara de desesperado tentando se arrumar a tempo. E vai começar em 3, 2, 1…
Eu coloquei o copo na pia e saí correndo para o meu quarto, enquanto escutava a risada de .
— Se demorar mais do que 20 minutos, vai perder a carona — ela gritou da sala. — Não esqueça de passar desodorante.
Eu conseguiria me arrumar em bem menos tempo quando o assunto era estar super atrasado, mas nunca estava de brincadeira quando o assunto era sua carona. Trabalhamos juntos num escritório de advocacia desde quando nos formamos, 2 anos antes, na mesma turma. Ela dizia que eu era um pé no saco dela, que não sobreviveria um dia sozinho e, bem, eu concordava em partes.
— Seu tempo está acabando, Danny Jones — ela gritou, assim que eu apareci na sala.
— Ei! Não me chama assim — eu disse, pegando o tênis que estava jogado e calçando.
— Claro que chamo, você é tão lerdo quanto. Mas, pensando bem, o Jones é bonito demais pra ser comparado contigo.
— Não precisa esculachar também.
— Sem tempo pro teu chilique, vamos!
— Ok ok.
Saí do meu apartamento com logo atrás. Miles estava entretido demais com seu almoço para lembrar de mim. O carro dela estava estacionado na vaga que seria minha. O meu carro estava na oficina há um século e eu poderia apostar que ainda demoraria outro século. Entramos e ela ligou o som, colocando algum sertanejo sofrência, já que, segundo ela, a solteirice não estava legal. Mudei de estação quando pegamos o primeiro engarrafamento e estava prestando mais atenção em xingar os outros do que na letra da música. Chegamos ao escritório um pouco antes do meu horário com o tal cliente e eu ainda tinha esperanças de conseguir ir à cafeteria da frente comer algo, já que estava de jejum.
— Júlio, você sabe onde está o Roberto? — Perguntei, quando cheguei perto de sua mesa. Ele estava digitando com muita pressa no computador.
— Sala de reuniões com o senhor Rodrigues.
— Rodrigues, o meu cliente?
— Suposto cliente. Acho que ele encaminhou para outra pessoa — Júlio disse, olhando brevemente na minha direção.
O escritório não era muito grande, então pude ter a visão quase que completa da saída da sala de reuniões estando ali. Para quem ele poderia repassar aquele caso? já estava lotada, fora que tinha assumido outra função recentemente, Júlio estava ali me passando a informação, Joel também estava na sua mesa e Ana conversava entretida no celular. Quando eu estava prestes a perguntar mais uma vez a Júlio, a porta se abriu, revelando o Roberto, o senhor Rodrigues e uma mulher que eu nunca tinha visto por ali. Ela era bonita de uma maneira absurdamente exagerada e eu por um momento esqueci de respirar. Notei que o senhor Rodrigues se despedia do Roberto e da mulher ao passo que esses últimos estavam vindo na minha direção. Tentei disfarçar, mas já era tarde demais.
, fico feliz em ver que você conseguiu chegar ao escritório hoje — Roberto disse de maneira tranquila, como se não estivesse falando do meu atraso de um turno inteirinho.
— Digamos que eu tive um imprevisto, mas depois eu posso conversar com o senhor sobre isso, sim? — Eu disse mais vermelho que um tomate. Ele tinha que falar aquilo na frente daquela mulher super gata que estava me encarando como se eu fosse um idiota?
— A propósito, passei o seu cliente para a , ela não chega atrasada. — Ele apontou para a mulher ao seu lado.
— Mas, senhor, eu já estava com tudo acertado para o caso — tentei argumentar.
— Você passa por ela agora, quem sabe assim você aprende um pouco sobre compromisso.
— Mas o meu horário com ele era às 15h. Só cheguei alguns minutos depois e...
, por que ainda está tentando? — Ele disse, ao passo em que mexia em alguns papéis na minha mesa. — Pensando bem, estou lhe fazendo um favor. Olha esse tanto de trabalho acumulado.
Me controlei para não gritar coisas feias na cara dele ali mesmo e esperei que ele fosse embora, coisa que aconteceu no momento seguinte. A tal , que era novata, estava em uma mesa próxima a Ana, que como sempre não calava a boca e as coisas se seguiram assim por mais algumas semanas, até que em uma sexta-feira convidou todos para sair. Eu recusei umas dez vezes, ficaria para adiantar mais um trabalho, já que o Roberto não estava me dando trégua, mas tinha um outro motivo também: a novata iria e eu não estava nem um pouco a fim de ficar no mesmo lugar que ela e ter que ser legal com a ladra de clientes. Escutei as chaves de fazendo barulho ao passo em que ela se aproximava e respirei fundo.
— Olha se não é o cara que mais rala nesse setor — ela disse quando chegou perto o suficiente. — Como o expediente já está acabando, eu queria te informar que estarei te esperando no estacionamento.
— Pra quê? — Respondi sem tirar os olhos do computador.
— Eu já te disse, vamos sair.
— Não sei do que você está falando. — Comecei a digitar e tentei me concentrar nisso, mas puxou todos os fios e desligou tudo.
— Caralho, , eu estava quase terminando. — Eu olhei incrédulo na sua direção.
— Estou morrendo de fome e você vem com esse papo sem fundamento — ela gritou e o pessoal começou a olhar na nossa direção.
— Fala baixo, sua doida.
— Eu estou cansada de você só me tratar mal, — ela continuou. — Eu vou à sua casa e você não me oferece nem um miojo e agora você não quer sair comigo.
, para! A gente pode ir outro dia.
— Outro dia não serve. Eu quero hoje.
— Eu não vou, . Estou cansado.
— Estarei esperando. Se você não aparecer… — Ela fez uma pausa dramática ao falar e encenou uma faca com o dedo.
Em todos esses anos, eu nunca esperei até que uma ameaça de se concretizasse e, bem, não seria naquele dia que isso iria acontecer. No horário combinado, eu a encontrei no estacionamento e fomos para um restaurante ali perto. Era o restaurante que sempre íamos e eu já sabia tudo que iria acontecer nas horas seguintes, mas eu não contava com uma sóbria demais. Normalmente, depois do jantar, ela tomava uma sequência de copos extremamente grandes de alguma bebida da vez e invadia o palco, mas naquele dia não estava acontecendo nada daquilo.
— O que você tá olhando, ? — Ela perguntou, enquanto cortava a carne no seu prato.
— Estou tentando achar o que está errado — eu respondi ainda compenetrado.
Todos do escritório estavam ali e por mais que eu gostasse de quase todos, a novata interagindo com todos eles me impedia de ser o cara que eu sempre era; o que não calava a boca.
— Deve ser o fato de que você parece que comeu e não gostou, o que seria uma blasfêmia a esse filé de primeira — disse, depois de um momento em que eu estive em completa reflexão. — Come logo isso aí, babaca.
Depois de algumas investidas de para que eu interagisse com todos, tive a impressão de que me encarava e então a encarei de volta, deixando-a da cor de um tomate. Joel foi o primeiro a se despedir, depois que negamos deixa-lo cantar com a banda que tocava; aquele papel era da e ela nem estava querendo, qual é, Joel? Júlio e Ana foram embora juntos depois que ela deixou vinho cair na sua roupa, o que me deixou com a leve impressão de que aquilo tinha sido arquitetado. Ana sempre acompanhava a em suas bebidas e a minha amiga não estava tomando vinho.
— Então parece que sobrou a gente — disse, olhando para mim.
— Tem razão — eu disse simplesmente.
— O que acham de pedir algumas caipirinhas agora? — disse.
— Por que você quer ficar doidona logo agora? — Eu perguntei desconfiado.
— Agora? Do que está falando, ? — disse o mais inocente que conseguia.
— Você nem tomou sua cerveja direito.
— Porque eu estava comendo, algo contra? Eu tenho que me embebedar ao invés de comer? , eu acho que você está um pouco "lelé da cuca'' — finalizou a sua fala e fez os tais pedidos.
A noite seguiu o mais desconfortável possível e então eu saquei o que a minha amiga estava tentando fazer: um "duo" entre e eu, só que ela não sabia se controlar com caipirinha e então, depois da primeira, vieram outras quinhentas. O que aconteceu tinha sido realmente o que eu previa: a embriagada demais para dirigir.
— Aceita uma carona para casa? — Perguntei a , depois que pagamos a conta. A minha amiga cochilava em seu ombro.
— Não seria uma má ideia. Eu posso te ajudar com a , se quiser — ela ofereceu.
— Sobre a , está tudo tranquilo. Estou acostumado com essa doida — eu respondi verdadeiramente simpático pela primeira vez na noite. — Vamos!
Segui as instruções de até a sua casa sem dizer nenhuma palavra. Dirigia mais concentrado no trânsito do que tudo e gostaria de ter continuado assim, até que ela cortou o silêncio.
— Eu sinto muito pelo seu cliente, disse, olhando para mim. Sua voz realmente passava arrependimento, mas era algo um pouco distante para aquele momento, já que eu entendia não ser a culpa dela.
— Está tudo bem. Eu sempre chego atrasado mesmo — eu disse, fazendo uma careta e sorrindo.
— Nas últimas semanas, você tem sido exemplar — ela me lembrou. Nas últimas semanas, até minha gravata estava certinha.
— Digamos que não teria conseguido se não fosse por você. Você realmente colocou o Roberto na minha cola.
Parei na frente de um prédio depois de infinitos minutos conversando coisas banais com . Ela não era de todo ruim, mas eu ainda não me sentia à vontade o suficiente para me deixar levar pela atmosfera excitante que ela exalava. se despediu, mas não moveu um músculo, o que me fez ficar sem entender por um minuto o que estava acontecendo, mas, no momento seguinte, o que veio a acontecer me deixou quase sem reação. veio na minha direção como se fosse me beijar e o tal beijo só não aconteceu, porque eu esquivei. Não sei ao certo o motivo, mas beijá-la não era certo.
, me desculpe, eu só pensei que… — tentava se explicar, mas eu estava travado demais para dizer algo. Não era como se eu não fosse maduro o suficiente para agir, eu só não sabia como tinha rejeitado uma mulher daquela, era algo como uma defesa que me impedia por algum motivo de continuar com aquilo. Sem uma resposta da minha parte, saiu do carro e eu segui para a casa de , que estava no banco de trás dormindo. Eu queria tanto que ela estivesse acordada para me dar um sermão e me fazer voltar e beijar aquela mulher. Entrei no apartamento da minha amiga depois de fazer um tour na sua bolsa para encontrar a chave. Como uma pessoa poderia guardar tanta coisa numa bolsa hipoteticamente pequena? Assim que entramos, a levei para o chuveiro e não aguentei quando ela despertou embaixo da água. A minha risada a fez rir depois de um momento e eu pude relaxar um pouco daquela tensão. me salvava até quando estava bêbada. Já um pouco consciente e ainda alterada, ela me fez ajudá-la a colocar um pijama super fofo de Harry Potter e era naqueles tipos de situação que eu me dava conta do quanto que gostava dela, a amiga mais sem noção e mais extraordinária que eu tinha. dormiu assim que eu a coloquei na cama e a cobri com o edredom e depois disso eu tomei alguns cuidados para quando ela acordasse no dia seguinte: água e remédio a postos, porque ela sempre acordava com muita dor de cabeça. Quando eu estava prestes a sair, escutei sua voz quase num sussurro me chamar. Seus olhos estavam abertos e parecia vulnerável de uma maneira que eu nunca tinha visto.
— Pode falar, . — Eu cheguei mais perto para que ela não se esforçasse tanto.
— Fica comigo — ela disse, olhando nos meus olhos.
— Sempre — eu disse de imediato.
Sem pensar duas vezes, eu sorri e a abracei. Eu não negaria nada a , por mais que vivêssemos implicando um com o outro. Deitei ao seu lado como se fosse a coisa mais normal do mundo, o que parecia realmente ser; eu sentia como se fosse algo natural. Ela me abraçou no momento seguinte e depois de alguns minutos, notei que a sua respiração tinha suavizado. Mesmo depois de tantos acontecimentos e em uma só noite, era meio difícil de acreditar no tanto de emoção ao mesmo tempo num só coração, mas estar ali com era como um refúgio: um abrigo.


FIM



Nota da autora: Olá, que bom você chegou até aqui. Espero que tenha gostado da história, pois eu amei. Estou pensando em uma continuação, então fica à vontade para me contar o que achou dessa parte 1 e o que você espera que aconteça na parte 2.

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