“Chamei minha amiga em um canto e perguntei para ela se era realmente verdade sobre o que eu tinha ouvido. No colégio, você acaba aprendendo que, às vezes, nem sempre tudo que ouve é verdade. E fazia muito tempo que eu estava esperando por essa oportunidade.
- Você tem certeza que ele vai estar lá?
- Já disse que sim. Mas não é como se você fosse falar com ele. Você nunca vai. – afirmou.
Revirei os olhos apenas para fingir que ela não sabia de nada. Eu não daria o braço a torcer, mas essa era a verdade. Desde o fundamental, eu era apaixonada por . E já estávamos no último ano do ensino médio. Para não ser totalmente injusta comigo mesma, eu havia tentado. Inúmeras vezes. Só que o problema era que, toda vez que eu tentava falar com ele, eu me atrapalhava. E pra ajudar, eu não sabia o que falar. Na primeira vez que tentei falar com ele, quando ainda estávamos no fundamental, decidi que tentar emprestar uma caneta seria a melhor ideia. Porém, eu era tão desajeitada que, depois de pedir a caneta pra ele, me inclinei mais um pouco e derrubei meu estojo no chão. Minhas vinte canetas coloridas caíram, chamando a atenção da classe toda. Fiquei uma semana inteira tentando me esconder dele no meio dos outros alunos. E teve uma outra vez, no primeiro ano do ensino médio, que nós estávamos em uma festa. Eu avistei de longe e ignorei o nervosismo que sentia, caminhando na direção dele. Já pensando em evitar uma catástrofe, eu nem havia pego um copo de bebida, pois tinha medo de derramar nele. Mas a natureza quis mostrar que não importava se eu tentasse evitar, uma cagada ia acontecer de qualquer maneira. Chegando perto dele, não vi que um de seus amigos estava sentado em uma espreguiçadeira com os pés esticados no meio do caminho. O resultado de tudo foi que eu acabei tropeçando no amigo dele e empurrei para dentro da piscina. Era inverno.
- Dessa vez, eu vou! Jurei pra mim mesma. E você vai me ajudar, , se eu travar, você me joga em cima dele. – disse, convicta.
deu uma gargalhada, chegando a dobrar o corpo para frente. – Acho que eu não preciso te jogar em cima dele se você travar. Do jeito que você é, é capaz de acabar caindo em cima dele.
- Pode rir, mas quem ri por último, ri melhor. – girei sobre os calcanhares, jogando o cabelo. O que eu estava tentando fazer era dar uma saída dramática. Mas se tornou mais dramática ainda quando, depois de virar, esbarrei com tudo em , que carregava sua bandeja com o lanche. Aquilo foi tão inesperado que eu simplesmente congelei. era a última pessoa que eu esperava que passasse por aquele canto do refeitório. Senti uma coisa gelada escorrer pela frente da minha camiseta e olhei, vagarosamente, para baixo. Tanto eu quanto estávamos ensopados de leite. Aquilo ia azedar logo, logo. Comecei a gaguejar e, sem coragem de olhar para , sai correndo em direção ao banheiro. Eu queria enterrar minha cabeça em um buraco e nunca mais sair.

--

- Você tem certeza que ainda vai lá? Depois de tudo que aconteceu ontem no refeitório? – estava tentando me fazer desistir desde quando estávamos no banheiro da escola, no dia anterior. Confesso que boa parte de mim queria assumir a derrota e ficar em casa, sonhando com o que poderia ter acontecido entre e eu. Mas eu estava cansada de sempre perder para o meu lado desastrado. Eu iria fazer me notar, mas seria por um bom motivo. Assim eu esperava.
Como não havia conseguido me convencer de ficar em casa, eu a convenci de ir comigo. Eu precisava de toda ajuda possível para fugir caso algo desse errado. Eu tinha ficado tão ansiosa que eu nem sabia que roupa deveria vestir pra ir a um Parque de Diversões só porque ele estaria lá.
O Parque parecia mais cheio naquele dia do que já esteve em qualquer outro dia que eu havia ido. E eu ia lá com muita frequência, levando em conta que era uma cidade pequena e havia poucas coisas para fazer. Foi um pouco difícil encontrar no meio da multidão, mas assim que chegamos perto dos brinquedos, avistamos seu grupo de amigos. Para mim, era o mais bonito dentre todos. E eu realmente não me importava se o achavam também ou não. A risada dele era um pouco alta, e eu gostava dela. Muitas pessoas do colégio diziam que era pra chamar atenção, pois ele vivia rindo, mas eu achava que fazia parte do seu charme. era único e tinha um senso de humor único. Ele era aquele tipo de pessoa que você gostaria de estar perto, aquele que iria levantar seu humor a qualquer custo.
Lembrando bem como eu era, me aconselhou a esperar pelo menos metade dos amigos de sair de perto. Seriam menos pessoas para rir do meu próximo mico. Aliás, essa era uma das coisas que me deixava intrigada; nenhum dos amigos de ter rido de mim até aquele momento. Gostava de pensar que eu era uma grande sortuda, em relação a isso apenas.
Quando restaram apenas e seu melhor amigo, Lizandro, decidi que era a hora de me aproximar. Meu coração parecia prestes a sair pela boca e minhas mãos suavam demais. O chão parecia cada vez mais distante à medida que eu ia aumentando meus passos. Respirei fundo algumas vezes e cheguei perto dele. Mas ele estava de costas para mim. Naquele momento, pensei que eu deveria ter planejado tudo nos mínimos detalhes, até mesmo como iria começar a conversa. Deveria ter dado a volta e me aproximado pela frente dele, assim ele me veria e eu não precisaria ficar enrolado pra achar uma maneira discreta de chamar sua atenção. Cutuquei o ombro de e vi, sobre a cabeça dele – o amigo dele era bem alto - quando Lizandro segurou uma risada. Nada ia me impedir de continuar ali, pensei. Inquieta demais, quando virou, fui dar um passo a mais para frente e acabei empurrando o braço dele, derrubando sua pipoca no chão. Senti minha bochecha queimar e, de repente, a ideia de ter ficado em casa pareceu maravilhosa. Eu queria chorar de frustração. ficou parado por um tempo, talvez tentando assimilar que furacão tinha passado. E quando ele olhou pro meu rosto, desviei meu olhar para trás dele, para o amigo dele. Vendo que Lizandro se partia de rir, minha vergonha aumentou mais ainda.
- , e-eu... quer... quer dizer, me de-desculpa. Ai, minha nossa! – eu não sabia o que fazer com as minhas mãos, e fiquei balançando como se fosse resolver alguma coisa. Eu queria sair correndo, mas alguma coisa me dizia que aquilo poderia piorar a situação.
- Relaxa, era só uma pipoca. – falou pela primeira vez, balançando a mão. Eu já tinha ouvida a voz dele várias vezes, mas sempre de longe. Ouvir a voz dele de perto era outra coisa. Eu sabia que naquele momento parecia hipnotizada enquanto olhava fixamente para seu rosto, só que eu não queria nem conseguia parar.
virou a cabeça para trás, para o seu amigo, e disse algo para ele que eu não consegui entender. Observei Lizandro enquanto ele se afastava, só para não olhar nos olhos de . Era uma coisa que eu queria muito, mas no momento era difícil. Voltei meus olhos para o chão e reparei que a pipoca que comia era doce. Não sei por que, mas achei que poderia ser um assunto.
- Doce, ein?!
Só pelo olhar confuso no rosto dele, já me senti ainda mais estúpida. Eu deveria apenas me virar e ir embora. Por que eu não conseguia fazer isso?
- A pipoca... – apontei para o chão – Doce.
Eu queria morrer.
- Sim. – parecia estar pensando em algo para dizer – Você gosta?
- Eu? Do que? – uma luz se acendeu no meu cérebro – Claro! Pipoca. Doce. Não. Gosto.
- Você gosta ou você não gosta? – ele ficava mais bonito ainda quando estava confuso.
- Eu não. Não gosto. – senti que ter dito daquela maneira pareceu rude da minha parte, então tentei consertar – Mas tudo bem quem gosta! Não tenho nada contra quem gosta. Por que eu teria? Certo?
A conexão entre meu cérebro e minha boca estava comprometida porque eu não conseguia filtrar o que deveria sair e o que não. Onde estava para me salvar?
- Ahn... Certo. – sorriu e eu esqueci qualquer outra coisa que estava pensando. Eu não me importava que ele estivesse se divertindo às minhas custas. Não mesmo.
- Bom, você nem deve lembrar. Quero dizer, meu nome. Você nem deve lembrar... meu nome. – fechei os olhos com força, pensando firmemente que se eu desejasse sumir isso aconteceria.
- . Estudamos juntos há anos. - É... – minha confirmação saiu em um sussurro. Mas minha vontade era de gritar “ELE LEMBRA DE MIM, ELE LEMBRA!”.
No sistema de som do Parque começou a tocar uma música animada e, no momento, minha vontade era de dançar. Quando, na minha confusa e doida mente, eu imaginaria que me conhecia da mesma forma que eu o conhecia? Para mim, era como se ele fosse o astro super famoso que sequer tem conhecimento da sua fã. Porém, decidi guardar aquela animação apenas para mim ou, então, eu faria algo completamente embaraçoso. Essa era minha especialidade.
- Então... cadê aquela sua amiga? Sempre vejo vocês duas juntas. , não é?! – ele sorriu, simpático.
Fiquei um tempo concentrada em seu sorriso, mas depois me toquei que ele havia feito uma pergunta, de certa forma. – É, sim. Uhum. , certo! Ela... não tá aqui...
Eu parecia patética... ou surda. E eu, definitivamente, precisava parar de olhar tanto para o rosto dele porque isso me distraia facilmente e eu ficava parecendo uma louca.
- Ok. O que você acha de um pouco de pipoca? – tentou esconder o tom divertido da voz, mas eu sabia que ele estava lembrando da minha trapalhada.
- Me desculpa, de novo. Eu pago! – apressei logo em dizer, não queria que ele pensasse que eu o deixaria no prejuízo. E nisso, meu cérebro demorou um segundo para perceber que ele tinha me convidado para fazer uma coisa com ele! Ele estava me chamando pra ir junto!
- An, já disse, relaxa. Sem problemas.
- Por que você é tão fofo? – a pergunta escapou dos meus lábios antes que eu pudesse me deter. Eu sentia que minha bochecha tinha atingido um tom de vermelho jamais alcançado pelo ser humano. Levei minhas mãos para cobrir meu rosto e fiquei murmurando para mim mesma “merda, merda, merda...”. soltou uma gargalhada tão alta que eu podia jurar que todo mundo que estava no Parque ouviu. Era tudo que eu precisava. Sorte que eu tinha ouvido e esperado os amigos dele saírem de perto, senão seriam mais pessoas para presenciar minha derrota. Eu já podia dar adeus pra qualquer tipo de chance que eu achava ter com .
- , para. – ele tentou puxar minhas mãos do rosto, falando ainda com vestígios de riso na voz – Anda, não foi nada demais. Se te deixa melhor, te acho uma gracinha, sabia?!
Abaixei a mão direita vagarosamente e vi que ele estava com a sobrancelha arqueada – Uma gracinha? – franzi o rosto em uma careta. Bom, “uma gracinha” era melhor que nada, ponderei.
- Talvez mais que isso. – tentou barganhar. Girei os olhos, brincando. Retirando as mãos totalmente do rosto, estirei a língua e fingi que nada daquilo me afetava mais – Você fica bem fofa com as bochechas vermelhas.
estava me tirando, definitivamente, porém ainda era de uma forma bem melhor do que a que as pessoas faziam. Ele era doce. Permiti-me sorrir com o pensamento.
- Ainda aceita aquela pipoca? Ou derrubar a minha foi uma forma de protesto contra as pipocas?
Levada pelo momento, brincando, dei um empurrão em seu ombro. Mas não calculei a força, e como não esperava, cambaleou para trás. Arregalei os olhos, assustada comigo mesma. Não era possível, eu era uma completa bagunça perto dele. Para tentar diminuir minha vergonha, voltou para o meu lado e bagunçou meus cabelos, rindo. Ele tomou a frente e começou a caminhar em direção a barraquinha de pipoca, olhando para trás, sobre os ombros, para ver se eu o seguia. Acordando do transe em que estava, não demorei muito para segui-lo. Aquela seria uma longa, longa noite.

Chegou uma determinada hora da noite em que eu não conseguia mais parar de rir. Minha mandíbula e meu abdômen doíam, mas não parecia satisfeito com apenas minhas reclamações e insistia em me fazer rir mais ainda. Em algum momento, achei que me apoiar nele para rir seria uma boa ideia. Só que acabou se tornando uma ótima ideia, e desde então eu ficava arranjando qualquer motivo para tocar nele. Qualquer um podia ver aquilo, inclusive ele. Mas se ele não estava reclamando, por que eu iria?
e eu passeávamos por entre os brinquedos, conversando sobre assuntos amenos enquanto eu esbarrava e tropeçava em uma ou outra pessoa. Porém, quando nos afastamos de uma das caixas de som do parque, ouvimos o celular de tocar. Meu coração, que tinha se acalmado um pouco, voltou a bater enlouquecido. Na hora, também pareceu não saber o que fazer: se atendia o telefone ou simplesmente seguia conversando, pois nos encaramos constrangidos. Ele levou a mão até o bolso e retirou o celular, olhando para o visor e fazendo uma careta. Por um segundo, jurei que ele corou.
- Alô - ele cumprimentou quem quer que fosse.
Eu não sabia bem se deveria manter minha atenção nele ou aquilo seria grosseiro da minha parte. Sentia um ataque de ansiedade vindo e com ele o medo de pagar algum mico. Não sabia quantos micos uma pessoa normal passava na vida, mas eu, definitivamente, já tinha ultrapassado a expectativa. Ainda mais quando estava perto de .
- Eu estou no parque, mãe.
Mãe?
Aquela pequena palavra foi capaz de me retirar dos pensamentos desastrosos que estava tendo. Passei a prestar atenção, disfarçadamente, na conversa que estava tendo.
- Eu já sei... Claro que estarei aí! – ele me encarou, por um segundo, e arregalou os olhos – Estou... com alguém aqui... Sim, mãe, uma menina... Vo-você o que? Falar com ela?
Senti meus olhos se arregalando, sem que eu mandasse. Falar com ela, no caso, era falar comigo? Eu esperava fielmente que não fosse. Eu mal tinha falado com ele, imagina falar com a mãe dele. Não.
- Sim?
Assim que virou a cabeça em minha direção, eu soube que ela era eu. Eu não estava preparada para ser ela, ainda. Sabe, aquela que conversa no telefone com a mãe do... namorado.
- Minha mãe quer falar com você. Desculpe por isso. – ele sussurrou, tampando a entrada de áudio do celular. Em seguida, esticando-o para mim. Respirei bem fundo, pegando o aparelho.
- Alô?
- Ai, minha nossa! É mesmo uma menina. – a mãe dele exclamou, rindo.
- É, sim, Dona... – me toquei de que sequer sabia o nome dela.
- Susie. – sussurrou para mim no mesmo momento em que sua mãe respondia ao telefone. – Mas não precisa me chamar de Dona, não.
- Ok. – murmurei. Enquanto eu sentia que concentrava toda sua atenção em mim, minhas bochechas foram esquentando e eu sabia que, a qualquer momento, ia começar a gaguejar.
- Então, vocês são namorados?
Engasguei, começando a tossir. Susie começou a rir e parecia prestes a arrancar o celular de mim.
- Estou brincando, querida. Aliás, nem sei seu nome.
- .
- A famosa ? Oh, é muito bom finalmente conhecê-la.
Famosa ? Acho que eu poderia me acostumar com isso.
- Acho que sou eu, sim. – ao que eu terminei de falar aquilo, fez uma careta de confusão e esticou o braço pronto para encerrar a ligação.
- Ótimo. Pena que estou prestes a sair da cidade, mas quem sabe podemos nos conhecer quando eu voltar, certo?!
- Certo?! – pânico e excitação cresciam dentro de mim. A mãe dele queria me conhecer? Era isso mesmo?
- Bom, vou logo ao motivo da ligação, porque, se conheço o filho que tenho, ele já quer desligar logo e te deixar bem longe de mim. – ela realmente conhecia o filho que tinha – Preciso que lembre ao que ele tem que estar em casa em menos de uma hora para cuidar da irmãzinha, ok? Posso contar com você?
- Claro, pode sim, Susie.
- Você é um doce, . Diga ao meu bebê que mandei um beijo pra ele. Até qualquer dia.
E, com isso, Susie finalizou a ligação. Devolvi o celular para , encarando-o de forma mais abobalhada ainda.
Dei voz aos meus pensamentos: - Você vai cuidar da sua irmãzinha?
- Ai, não acredito que ela ligou pra isso. – ele olhou bem para mim, deixando um sorriso crescer em seu rosto – É agora que você me pergunta, de novo, por que eu sou tão fofo?
Não aguentei e tive que rir junto com ele. Se antes eu tinha alguma dúvida se gostava de , agora não havia.
- Bom, eu tenho que ir... – parecia embaraçado – Será que você... que, talvez, você quer uma companhia até em casa? Mas tudo bem se você já tiver com que ir. Quer dizer, tipo a , sabe?!
Então, eu não era a única que atropava as palavras. Segurei bem firme a vontade de dar pulinhos, até porque ele poderia reconsiderar o convite.
- Eu adoraria.

Enquanto ia avisar seus amigos que estava indo embora, sequer tentei procurar por e peguei meu celular no bolso, mandando-lhe uma mensagem. Na manhã seguinte, ela lotaria meu celular com perguntas absurdas sobre como havia sido minha noite com . Quente ou não? Esse era o tipo de coisa que eu esperava de .
- Pronta para ir?
Dei um pulo de susto, jogando meu telefone no chão a uma distância considerável. começou a rir, enquanto catava o aparelho e o limpava. Tentei dar um sorriso e agradeci, completamente envergonhada com a minha falta de jeito. Várias imagens sobre o meu futuro passaram pela minha mente, naquele instante, e, infelizmente, nenhuma delas incluía . Mas, com certeza, vários gatos e um cabelo arrepiado e mal cuidado, sim.
- Não sei se fico lisonjeado que você fique toda atrapalhada perto de mim ou, então, se fico com medo. Nunca se sabe o que pode acontecer, vai que você acidentalmente me derruba em uma piscina gelada, no inverno?
A feição brincalhona dele me fez rir, mesmo me sentindo mortificada por já ter feito aquilo com ele. E era verdade, quem poderia prever o que eu seria capaz de fazer perto dele? Céus, isso era completamente constrangedor. Para ele deveria ser aterrorizante. Entre outras coisas.
- Mil perdões por aquela noite. Eu realmente não tinha a intenção e...
- , pare! – ele ria, olhando para mim vez ou outra, enquanto caminhávamos - Já foi. E aquela noite foi memorável. Acho que, na verdade, todos estavam esperando que alguém pulasse na piscina primeiro. Mesmo no inverno, você viu como aquilo ficou depois? Eu me diverti bastante.
O que me deixou aliviada foi que realmente pareceu sincero ao dizer aquilo. Com um sorriso, deixei o assunto suspenso no ar. Seguimos um tempo em silêncio, cada um preso em suas memórias. Mesmo estando super consciente de que estava ali ao meu lado, a poucos centímetros. Então, uma curiosidade perfurou meus pensamentos.
- . - chamei-o – Por que seus amigos nunca me zoaram ou fizeram qualquer outra coisa a respeito das coisas que eu fiz pra você? Quero dizer, não sou exatamente a pessoa mais controlada e o que fiz daria munição pra qualquer pessoa... Sabe, só por curiosidade, não que eu queira que isso aconteça.
Ele respirou fundo, ponderando se falaria ou não: - Porque eu nunca deixei.
- Você... nunca deixou? – surreal. O que raios ele queria dizer com isso?
- É. Só não tinha motivos para deixar que fizessem qualquer coisa que te deixasse mal. Você é uma garota especial. Notei isso em muitos momentos, inclusive aquele dia na cantina da escola, no qual eu fiquei parado, fedendo leite azedo e com cara de paisagem.
- Ai, minha nossa! Viu! Eu só faço coisas dignas de risadas. – ri, nervosamente. – Lembra daquela aula de educação física? – relembrei, agora rindo com gosto.
- Não que eu pudesse esquecer, de qualquer modo. Você queria me deixar estéril? Porque aquilo doeu como o inferno.
Ambos ríamos, seguindo reto pela rua principal da cidade. Não era muito tarde, mas a maioria das lojas já estavam fechadas, deixando a rua pouco movimentada. Eu gostava de ter a atenção de só para mim. Parecia tornar o momento mais real.
- Não, eu juro! – dobrei levemente meu corpo, gargalhando. – A bola de futebol bateu na minha cabeça e eu fiquei tão irada e assustada que mal contive minhas ações. Eu só ia devolvê-la. Não sabia que você estava tão perto de mim!
- Devido ao seu passado, eu deveria ter previsto que algo assim poderia ter acontecido.
- Seus amigos ficaram tão chocados, parecia que eu tinha acertado eles, não você. – suspirei com a lembrança. – Como que eles aguentaram sem rir de mim? Eu teria rido horrores!
- Eles sabiam que você estava fora dos limites... – a expressão de mudou consideravelmente, quando nossos olhares se encontraram. Eu podia sentir que o clima era outro.
- Eles devem pensar que sou uma doida. – murmurei, incapaz de desviar meus olhos de . Ele também deveria pensar isso.
- Bom, o que eu acho é que o que os outros pensam sobre você é problema deles, não seu. Não ligue se falarem algo de você. - encarei-o, bem no momento que piscou para mim. Ai, meu pobre coração. Então, como em um patético filme de comédia, bati em cheio em um poste de luz. Com o impacto, voltei com tudo para trás, caindo de bunda no chão. No começo, comecei a choramingar, pois sabia que havia visto tudo. Mas logo uma risada borbulhou para fora de mim e, junto com , gargalhei da situação. Pelo menos eu não tinha levado ele pro chão, enquanto caía.

Meu coração foi acelerando à medida que fomos nos aproximando da minha casa. Eu sabia que esse momento chegaria, mas não estava pronta para que a noite terminasse. Tinha sido tudo tão... mágico. me seguiu pelo caminho, cercado de grama, até a porta da minha casa e eu já esperava ansiosamente por qualquer passo a mais dele. Minhas mãos passaram a suar e minha respiração a ficar superficial. Logo, logo iria reparar e, então, eu cometeria alguma gafe horrenda. Já estava prevendo qual poderia ser: derrubá-lo dos três degraus da varanda, ou talvez prender a mão dele na porta, quando eu fosse fechá-la. Ou, pior ainda, ter aquele momento constrangedor no qual eu iria para abraça-lo e ele para me dar um aperto de mão. Oh, céus! Porém, nada disso aconteceu. Nem os micos e muito menos algum passo de .
- Bom, - ele se moveu para trás – acho que... Boa noite?
Por fora eu respondi: - Boa noite, .
Mas, por dentro, eu estava pensando “Só isso?”. Esperei por anos pra apenas ser levada em casa e ele dizer “boa noite”? Sequer pra dizer meu nome no final? Eu não sabia com quem eu estava mais decepcionada; comigo, por ter imaginado um final de noite perfeito, ou com , por não ter feito nada.
Um pouco chateada com o desfecho da noite, me virei para entrar em casa. Mas, então, senti a mão de me puxando. E, como nada na minha vida parecia ser normal, levei todo meu peso em direção a e ele teve que me segurar bem perto - para que eu não caísse, com nossos narizes se encostando. Um sorriso encheu a expressão dele.
- Sabe, eu ouvi dizer que, às vezes, é melhor pedir desculpas do que permissão.
E, antes que eu pudesse fazer qualquer pergunta ou pagar algum mico, passou uma mão por trás do meu pescoço, aproximando nossas bocas e encostando-as. No começo, ficamos apenas provando a sensação do toque um do outro. Mas aprofundou o beijo, em seguida. E eu tinha certeza de que preferia enfiar agulhas nos meus olhos do que ter voltado no tempo e desistido de ir àquele parque. Meu único problema no momento era que eu não queria me despedir de . Aquela tinha sido uma noite e tanto. Seria a história que eu contaria pros nossos netos: de como seus avós, finalmente, ficaram juntos.

XxX

Fecho meu antigo diário, de 7 anos atrás, bem na hora que ouço o barulho de algo cair. Em seguida, ouço um grito:
- Querida! - me chama - Você esqueceu os sapatos no corredor, de novo.
Ops, algumas coisas nunca irão mudar.

Fim



Nota da autora: (28/06/2015) OI, COISA LINDA DA MINHA VIDA! Primeiro, muito obrigada por ter lido! Segundo, tem uma homagem superespecial nessa história pra uma amiga minha, ela vai saber hahahah. Enfim, espero que tenha gostado, deixe seu comentário lindo (ou não) para fazer uma autora feliz (ou não²), e também pra dar uma ajudinha pro FFOBS. Não esqueça de ler as outras lindas histórias do ficstape. Beijos e até a próxima!
Outras fics:
Song Of Farewell - Outros/Finalizada (ffobs/s/songoffarewell.html)
14. Autumn Leaves - Ficstape Ed Sheeran (ficstape/14autumnleaves.html)
11. Restart - Ficstape Sam Smith(ficstape/11restart.html)
15. Make It To Me - Ficstape Sam Smith(ficstape/15makeittome.html)




comments powered by Disqus




Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa linda fic vai atualizar, acompanhe aqui.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.