13. Take A Breath

Finalizado em: 23/12/2019

Capítulo Único


Lembro perfeitamente o dia em que eu conheci . Foi no meu primeiro dia na escola, eu tinha 7 anos e ele 9. Lembro da ansiedade de estar em um local em que não conhecia ninguém, e de me sentir insegura e sozinha. E também de receber uma bolada bem dolorida no rosto.
Adivinhem quem havia chutado a bola?
Sim. .
ficou desesperado. No primeiro momento achei que seu desespero era por medo de advertência, mas depois descobri que era apenas preocupação. era a pessoa mais preocupada com o bem-estar do outro que eu já havia conhecido.
Naquele dia, quando eu saí da enfermaria, ele estava lá, sentado de frente pra porta, e, assim que me olhou, se levantou. Ele se apresentou e pediu inúmeras desculpas. Éramos crianças e claro que eu perdoei. Nesse dia descobri que ele tinha uma irmã da minha idade e que era da minha classe: Julianne.
Logo, fiquei amiga de Julianne, mas, mais que amiga dela, eu virei melhor amiga de . Era muito mais divertido brincar de videogame com ele do que de boneca com Julianne.
Um dia estávamos na casa da árvore que ficava em seu quintal, fazia um ano que ele havia me dado uma bolada e eu lembrava ainda perfeitamente de suas palavras:
, eu prometo sempre te proteger. Eu prometo sempre estar ao seu lado. Como se você fosse minha irmãzinha. Você sempre será minha irmãzinha.”
Essa frase virou uma confusão em nossa vida. Por isso eu estou aqui. Sentada em uma linda cadeira. Numa linda mesa com uma decoração impecável, assistindo meu melhor amigo ficar noivo de uma bruxa peituda.
Tudo bem. Michelle era uma mulher extremamente atraente em um corpo curvilíneo que deixava qualquer mulher do playboy no chão. Não que eu me sentisse o “patinho feio”, mas certamente aqueles peitos chamavam muita atenção por onde passava. E o pior (ou talvez melhor) era saber que era tudo natural.
Michelle não era a pessoa mais querida. Não comigo. Julianne dizia que era ciúmes. Talvez ela estivesse razão.
— Não acredito que vocês não vão se casar. — minha mãe dizia em um sussurro tristonho. Sim, nossas famílias tinham certeza que seríamos o caso de melhores amigos que se apaixonam e se casam. Mas, infelizmente para todos, isso não iria acontecer.
— Se comporte, mãe. — sussurro de volta. Ela me olha com a cara emburrada, parecendo uma adolescente, não uma senhora de 51 anos.
Alex, pai de , termina sua fala, que pelo jeito estava emocionante, e todos aplaudem. Meu melhor amigo pega a taça, levantando, e todos repetem seu gesto, brindando. fala algo no ouvido de Michelle, que ri, e eu viro a minha taça com o excelente Champanhe.
A festa deveria estar excelente, pois todos dançavam sem parar, inclusive meus pais. Já eu, estava há algum tempo sentada no bar tomando diversas taças de champanhe que pagariam meu salário de um mês.
— Como assim não está na pista de dança? — a voz do meu melhor amigo vinha de trás. Virei a banqueta giratória de frente, vendo seu sorriso encantador.
— Finalmente o noivo do ano teve um tempo para essa mera mortal aqui. — ele ficou sério e se aproximou.
— Eu tive que cumprimentar várias pessoas. — sua feição era de preocupação.
— Eu sei, , só estava brincando. — rio e bebo mais. me analisa, como ele sempre fazia quando achava que havia algo de errado comigo.
— Você está de mal humor, o que aconteceu? — ele se aproxima mais e tenta pegar minha mão
— Hoje é seu noivado e você quer saber o porquê de eu estar de mal humor? — digo, incrédula, ignorando a parte feliz e egoísta dentro de mim dizendo que ele se importava comigo.
— Claro, eu me preocupo com você. — ele fala como se fosse uma ofensa minha fala.
— Você não tem que se preocupar comigo hoje — coloco a mão em seu peito —, é seu noivado, você tem que aproveitar.
— Não tem dia para eu não me preocupar com você, Anne.
— Tem — tiro a mão do seu peito —, hoje. — desço da bancada, logo voltando a me apoiar na mesma e sentindo uma tontura causada pela bebida.
— Você está bem? — diz, me segurando pela cintura.
— Só levemente alcoolizada — sorrio, e julgo dizer que era um típico sorriso de bêbado.
— Você comeu? — pergunta, sério. Fiquei com vontade de socá-lo por ser tão gentil e paciente comigo. Ele poderia ser menos .
— Mas é claro, até parece que não me conhece — ele ri. — Vou no banheiro e tudo vai ficar bem.
— Vou pedir para trazerem algo para você comer — não o impedi, eu realmente amava comer.
cuidadosamente largou meu corpo, segurando-se que eu não iria cair. Ele deveria ser menos perfeito, seria melhor para meus sentimentos.
Sim, eu era apaixonada pelo meu melhor amigo.
A primeira vez que percebi foi com 16 anos, ele já tinha 18 anos e estava se formando no ensino médio. Depois de alguns meses ele foi para a Harvard University. Na época não havia a tecnologia que existia hoje em dia, então nos falávamos menos, e o sentimento se esfriou. Apesar de não ser muito longe de Nova York, quase 5 horas de carro, e nos vermos pelo menos dois finais de semana por mês.
Dois anos depois eu comecei a estudar artes visuais em Pratt Institute, aqui mesmo em Nova York. Assim que ele se formou em Harvard, ele voltou a morar em NY, assumindo a empresa de seguro de saúde do pai.
Na época eu namorava um colega de classe e o detestava, dizia que ele era boêmio demais. Eu ria e dizia que ele era igual, ele detestava e ficava emburrado, até eu aparecer em seu apartamento com pizza e ele esquecer o mau humor. Isso durou sete meses até que eu descobri que o boêmio na verdade estava me traindo. Lembro de correr até seu apartamento e chorar em seu colo. E, como sempre, ele me acolheu.
Nesses anos eu o assisti namorar diversas vezes, relacionamentos que não passavam de seis meses. Até ele conhecer a nova economista da empresa, Michelle. Ele era bonita, inteligente, ruiva e sexy. Não tinha como não se apaixonar. Eles namoraram por um ano e agora estão noivos, prontíssimos para subir no altar.
Já meus relacionamentos eram superficiais. Depois do cara da universidade, namorei com mais dois, mas nenhum deu certo. Lavei meu rosto no momento que Michelle chegava no banheiro com alguma amiga que eu não sabia o nome.
! — ela diz numa falsa surpresa. — Não vi você durante o jantar.
— Não sou o centro da atenção hoje, Michelle. — digo cruzando os braços e dando um sorriso claramente falso.
Nossos encontros sempre eram assim, uma sendo mais falsa que a outra. Todos já sabiam.
— Tem razão. Eu e que somos. — seu sorriso presunçoso me deu raiva e, antes que eu pudesse demonstrar essa raiva, decido sair.
— Claro — segurei para não revirar os olhos. —, se me dão licença. Saio resmungando e, assim que a porta do banheiro se fecha, eu encontro os olhos de sobre mim e ele logo vem caminhando apressadamente.
— Melhorou? — fala assim que se aproxima.
— Sim. — olho para trás, não queria que Michelle me pegasse conversando com ele e isso virasse uma briga de egos no dia do noivado de . Eu o amava demais para isso. — Desculpa, , eu preciso realmente ir — ele franze o cenho.
— Como assim?
— Eu não estou muito bem hoje. — não era de fato uma mentira.
— Isso eu percebi, eu quero saber o porquê de não estar bem?
— Só — parei para pensar — coisas.
— Por favor, , não teste a minha capacidade de te conhecer. São 20 anos, eu sou bem capaz de saber que tem alguma coisa errada e que você está escondendo de mim.
— Bem, — coloco a mão em seu ombro — eu te amo, eu não quero estragar sua festa com meu mau humor. Então eu preciso ir.
, — ele me olha, colocando sua mão em minha cintura me aproximando dele — e eu prefiro você ao meu lado com seu mal humor, do que ficar sem você — suspiro.
— Vai por mim, vai ser melhor assim — me aproximo, o abraçando. — Eu te amo, , e eu só desejo sua felicidade — me afasto, mas ele não larga minha cintura. Me olha nos olhos.
— Eu também de amo, . E você sempre será minha felicidade — sorrio para ele e beijo seu rosto. parecia relutante em me deixar sair de seus braços, mas ele não me impede de ir. Saio praticamente correndo daquela festa. Assim que me vejo na parte externa, sinto uma lágrima solitária rolar por minha face.

(...)

Fazia quatro dias que eu estava evitando . E ele estava ficando louco, segundo Julianne, que me ligou alguns minutos atrás.
— Por que você está evitando meu irmão? Não importa. — ela não espera eu falar nada. — Atende ele, liga pra ele, dá um sinal de vida, porque eu não aguento mais ele me ligando a todo momento querendo saber sobre você, saber se você está bem e saber o que ele fez de errado. Querem se matar, se matem, mas me deixem longe da confusão de vocês. Adeus.
Julianne era sempre assim, direta. Mas eu não fiz o que ela falou, apenas voltei para a obra de arte na minha frente. Eu era restauradora de obras.
Depois de um tempo, olho para o relógio e já eram sete horas da noite.
Pego minhas coisas e saio da sala. O museu já havia fechado há uma hora, então ele estava praticamente vazio, se não fosse por alguns funcionários. Enquanto me encaminho para saída, cumprimento algumas pessoas e por fim o porteiro, que é o funcionário mais antigo do local.
Assim que o vento do lado de fora chicoteia meus cabelos, percebo um carro todo preto e um homem encostado nele com a feição bem séria. Era . Demorou para ele aparecer aqui ou no meu apartamento.
Sem muita saída, me encaminho até ele. Assim que paro em sua frente ele não fala nada, apenas aponta pro carro, e eu entro. Ele dá a volta no carro e entra no lado do motorista, dando partida. Assim que passamos reto da rua que levaria para meu apartamento, que era perto do meu trabalho, eu olho para ele.
— Vamos para meu apartamento — diz, como se tivesse lido a pergunta que eu não fiz. Não digo nada, mas a vontade que eu tive era de xingar ele e dizer que ele não podia decidir as coisas. Mas eu sabia que não fazia setindo, pois eu havia decidido que não nos falaríamos.
estacionou o carro na garagem e logo saímos dele. Fomos até o elevador, onde ele coloca sua senha e logo estamos em movimento, parando no último andar. As portas se abrem e estamos no seu apartamento. Saímos dele e jogo minha mochila no chão. Já ele é mais delicado e coloca delicadamente sua pasta em cima do sofá.
— O que você está fazendo? — diz, se virando para mim.
— Não sei. Eu estava indo embora, até você aparecer — fui irônica, não conseguia por muito tempo segurar minha língua. suspirou, irritado.
— Não seja irônica, você não é mais adolescente — reclama e eu cruzo os braços.
— Se você não gosta do meu jeito, tem quem gosta — viro-me de costa, pegando minha mochila no chão.
— Você sabe que eu não quis dizer isso — sua voz demonstrava frustração, mas eu não me importei, coloquei minha mochila.
— Eu estou indo embora — aviso, me virando, e sua expressão não era mais de irritação, mas de... desespero?
— Não, . Por favor. — ele dá um passo pra frente, parecia com medo de chegar perto de mim. — Eu só quero entender o que está acontecendo, o que eu fiz? Por que você não quer mais falar comigo? — ele fica bem perto de mim e meu coração acelera da forma que acelerava somente com ele.
— Não precisamos nos falar todo dia, . — tento soar firme, mas minha voz me trai, pois era mentira. Sempre nos falamos todos os dias, desde que a tecnologia permitiu esse contato. Somente quando brigávamos é que isso não ocorria.
— Você sabe que precisamos. — ele coloca as duas mãos nos meus braços delicadamente. — Eu preciso sempre de você em minha vida.
— Você vai se casar, , você tem que ficar com sua esposa.
— Você é minha melhor amiga.
— Não vamos poder nos falar todo dia quando você se casar. — ele passa as mãos sobre meus braços, fazendo meu corpo se arrepiar. Ele fazia de propósito, pois sabia que era sensível.
— Por que não? — parecia uma criança quando alguém tira seu brinquedo favorito.
— Porque sua esposa não vai gostar. — ele revira os olhos. — E ela não gosta de mim.
— Ela não gosta de você porque tem ciúmes. Pois sabe da importância que você tem para mim. — ele me puxa delicadamente para ficar mais perto dele. — Eu não posso ficar sem você, . Quem vai animar meus dias chatos no escritório? — nos abraçamos. Eu o amava, não importava com quem ele se casaria, eu sempre o amarei.

(...)

A boate estava cheia e eu dançava desde a hora que cheguei acompanhada de Julianne.
— Meu irmão quer perder a noiva — Julianne fala, olhando para um ponto atrás de nós. Eu, como reflexo, olho para o mesmo ponto, vendo com os olhos fixos aonde estávamos, enquanto Michelle estava ao seu lado de braços cruzados, parecendo emburrada. Olho para a minha amiga e ela sorri maliciosamente. — Ele não consegue nem disfarçar. — ela me olha — Vem. Vamos brincar — ela me puxa, e eu fico sem entender enquanto ela me arrasta até onde estava com a noiva e mais algumas pessoas que conhecia de vista — Oi, irmãozinho. Oi, cunhadinha — eu desconfiava que minha amiga estava bêbada e parecia que não seria uma boa ideia ter ido com ela ali.
, como bom cavaleiro que sempre foi, levantou, cumprimentou a irmã e logo veio me cumprimentar com um abraço.
— Você está muito bonita, . — sussurra em meus ouvidos, me fazendo arrepiar.
Olho para ele e sorrio. Cumprimento rapidamente Michelle e me sento ao lado de Julianne, que estava com um brilho estranho nos olhos.
— Acho que devemos ir embora, Ju. — sussurro e ela me olha, parecendo não aprovar meu convite.
— Agora que as coisas vão ficar animadas. — ela sorri maliciosamente.
— O que você está aprontando? — olho, desconfiada.
— Eu nada, mas o destino sim. — seu sorriso se intensifica. Claramente estava bêbada;
— Que tanto vocês cochicham? — meu melhor amigo pergunta.
estava me contando que estava afim de um cara que ela estava dançando antes. — Ju mente com uma naturalidade que eu engasgo com minha bebida, fazendo com que eu tossisse descontroladamente.
— É mesmo, ? — olha para mim e eu estou pronta pra responder que a irmã dele estava louca quando a mesma me corta.
— Claro, ele é realmente quente. E eles tem até um encontro amanhã. — olho indignada para minha amiga.
— Isso é realmente ótimo. — a voz de estava séria e não parecia estar realmente ótima. Minha amiga sorri maliciosamente para mim e levanta a sobrancelhas como se me sinalizasse algo. Então eu entendi, ela queria provocar seu irmão. Olhei para , que olhava sério para mim enquanto bebia seu whisky, já sua noiva estava absorta em seu celular.
— Acho que vai ser divertido. — sorrio de uma forma maliciosa para meu melhor amigo, que levanta a sobrancelha.

(...)

estava irritadíssimo. Na terça-feira em que me encontrei com Julianne, ela falou o quão insuportável ele estava no jantar da noite passada com as suas famílias.
— Só você consegue controlar esse modo dele insuportável. — ela me olha, suplicante.
— E eu sou baba de homem barbudo? — tomo meu café. Ele que lidasse com o mal humor dele sozinho.
— Claro que não. — fala mansamente. Eu sabia que ela estava tentando me persuadir. — Mas ele te ouve.
— Se ele quisesse minha ajuda, ele tinha falado que não estava bem. Mas ele não falou nada. — digo o óbvio e ela suspira.
— Mais um motivo pra se preocupar. — seus olhos suplicantes finalmente me convencem.
— Vou mandar uma mensagem pra ele. — pego meu celular e abro a nossa conversa. A última vez que nos falamos tinha sido ontem, às 19 horas.

“Algum compromisso pra essa noite?”

Dois minutos depois ele respondeu.

“Não tenho nada, por quê? Está afim de fazer alguma coisa?”

Ele estava formal demais.

“Estou afim de ir ao velho Pub”

Digo, esperando-o responder gracejando sobre o fato de eu pedir sempre a mesma bebida: gim-tônica.

“Vou estar lá as 19:30”

Curto e grosso. Ok, ele não estava bem.

“Combinado”

Após sua visualização, não respondeu nada, nem um emoji. Suspirei e levantei o olhar para minha amiga.

(...)

No momento em que caminhava pelas ruas movimentadas de Nova York, meus olhos se cruzavam com os de , que estava chegando perto da porta do nosso Pub favorito desde o momento que podíamos beber legalmente.
Ele forçou um sorriso e eu percebi que ele estava camuflando algo que o incomodava. Sempre fomos assim, conseguíamos perceber o que cada um sentia apenas com um olhar. Eu julgava que ninguém me conhecia melhor do que ele. Nem a minha mãe.
parou, esperando que eu me aproximasse. Assim que eu o fiz, ele me abraçou brevemente, beijando minha cabeça.
Entramos, cumprimentando alguns funcionários que conhecíamos há anos, e sentamos na mesa mais afastada.
— Eu realmente preciso beber. — constatou assim que sentamos em nossos lugares. Ele mal terminou de falar e Phillip, um jovem garçom que ainda estava na faculdade, vem a nossa mesa anotar nosso pedido.
— Vão querer o mesmo de sempre? — pergunta gentilmente.
— Eu preciso de whisky, Phillip. — fala, rejeitando a cerveja que sempre pedia.
— Eu vou querer o mesmo. — falo, esperando ele trazer meu gim-tônica. Olho para , que me olhava atentamente, como se estivesse me analisando. — O que você tem que está tão tenso e estressado? — sou direta.
— Eu não estou .— fala, me oferecendo um sorriso cínico, pois sabia que eu podia perceber seu humor a quilômetros de distância.
— Não seja ridículo. — reviro os olhos. — Sua irmã está infernizando minha vida o dia todo sobre como você está de mau humor. E, no momento que eu olhei pra você, eu já percebi que tinha algo errado. Além disso, você pediu whisky, e você só pede quando você está se sentindo no inferno. — ele sorriu mais ainda. O garçom chegou com nosso pedido e tomou sua bebida.
— E ela disse pra nos encontrarmos e você descobrir o que está acontecendo comigo. Por isso que você me convidou. — havia algo mais em seu tom de voz. Ele estava ofendido?
— Se está insinuando que eu não queria está aqui com você e vim só porque Ju pediu, você não me conhece. — ele sorri, mas o sorriso não chega aos seus olhos. Ele aproxima seu corpo sobre a mesa.
— Talvez você preferisse estar aqui com aquele cara da balada. — arregalei os olhos com suas palavras. Ele voltou pra sua posição normal, levando o copo à boca.
— Você é meu melhor amigo. — digo, como se isso justificasse o fato de eu querer estar com ele ali hoje.
— E ele o cara que você quer transar. — eu estava indignada com suas palavras julgadoras.
— Você está sendo infantil. — seus olhos atentos me observavam. Eu odiava quando ele fazia isso. — Não é porque eu quero transar com ele, que eu deixaria de sair com meu melhor amigo. — não existia realmente um ele, mas suas insinuações me deixaram irritada. — Eu prezo por nossa amizade, mas, se é pra você me tratar assim, prefiro ligar pra ele e transar — ele não sorria mais.
— Desculpa, estou sendo escroto e descontando em você esses dois dias de merda — levanto a sobrancelha, esperando-o continuar. — E eu não vou mais agir assim — assenti.
— Acho bom, ou eu vou embora. — ele assente. — O que está deixando assim?
— Muitas coisas. — ele é vago. Se tem uma coisa que me irrita nele, é isso.
— Posso ajudar? — ele sorri.
— Não. Ninguém pode.
— Você não vai mesmo me dizer o que está acontecendo? — peço, fazendo a cara fofa que eu usava quando eu queria algo dele.
— Estou com problemas no trabalho. — diz, suspirando.
— Só isso? — claro que eu não acreditei nisso, sempre tinha problemas no trabalho.
— Eu briguei com Michelle. — revira os olhos. — Algumas vezes, na verdade.
— Por que? — eu era curiosa.
— Descontei nela minha frustração — concordei, sabia que ele não iria dizer muitas coisas.
Bebemos mais alguns copos.
— Vamos lá pro meu apartamento. — falo assim que passamos pela porta do Pub. — Comprei um vinho maravilhoso. Não é nenhum daqueles que você tem e que eu precisaria vender meu rim para comprar, mas ele é gostoso — ele sorriu, colocando seus braços ao redor do meu ombro.
— Você sabe, o importante é ter álcool.

(...)

— Eu adoro seu apartamento. — ele se joga no sofá, tirando seu sapato social. Eu apenas rio, indo até a cozinha.
— Até parece. Meu apartamento cabe na sua sala. — falo alto para que ele possa me ouvir. Pego a taças e o vinho, indo até a sala.
— Aqui tem cara de casa. — ele diz assim que me vê.
— Se você passar mais tempo no seu apartamento, talvez lá também tenha cara de casa. — coloco as coisas na mesa de centro.
— É solitário. — me ajoelho no tapete felpudo que ainda estava pagando, logo pegando o abridor e posicionando para que eu pudesse abrir.
— O que você vê como solidão muitos veem como liberdade. — puxo a rolha.
— Posso ter minha liberdade de diferentes formas. — coloco vinho nas duas taças.
— Transar com qualquer uma não é liberdade. — entrego um taça pra ele, vendo ele rir.
— Eu não transo mais com qualquer uma. — ele beberica o vinho — Somente Michelle agora.
— Sorte a sua. — sussurro, mas sei que ele ouviu pela sua expressão. — Você tem uma pessoa pra transar quando quiser, e ela quiser, é claro. Quem é solteiro não tem esse privilégio. — ele ri, tomando mais vinho.
— Não seja boba. Você sabe que pode transar com qualquer homem que quiser. Somente sendo um louco pra te rejeitar. — ele fala, fitando o teto.
— Talvez quem eu queira transar não possa. — observo sua expressão mudar de divertida para estranha, e ele fita meus olhos.
— Por que exatamente? — talvez a bebida esteja me fazendo falar mais do que devia. Mas que se foda!
— Talvez ele seja comprometido. — falo, sorrindo de lado e bebendo mais vinho. Ele observa minhas ações atentamente. Ele estava tentando entender o que eu queria dizer com isso.
— Talvez? — ele se desencosta do encosto do sofá, ficando mais próximo de mim. Eu ri, jogando meus cabelos pra trás. Eu realmente estava alcoolizada e nervosa agora.
— Ele é. — ele me avalia.
— E ele te quer? — sua pergunta me fez rir ainda mais.
— Mas é claro que não. — ele volta a se encostar no sofá.
— Então não estamos falando do cara da boate. — eu ri mais ainda, o fazendo franzir o cenho.
— Não existe cara da boate. — me olha, pedindo que eu explique. — Sua irmã inventou tudo.
— Por que isso?
— Pra te deixar com ciúmes — lambi os lábios automaticamente e seus olhos foram para eles.
— E por que eu sentiria ciúmes? — ri.
— Você sempre tem ciúmes de mim. — sorri ainda mais por ver seu sorriso de lado.
— Mas é claro que não. — ele se estica para pegar mais vinho.
— Mas é claro que sim. Eu não posso namorar alguém que você coloca defeito. — sorrio, vendo ele colocar o vinho em minha taça.
— Fazer o que se você só escolhe cara errado? — me entrega a taça, tendo um sorriso debochado em seus lábios.
— E que caras seriam certos? — pego a taça e ele volta pra sua posição. — Como você?
— Quem sabe. — ele sorri, levantando a taça.
— Eu já namorei caras como você.
— Mas nunca comigo. — ele diz sério e isso me afeta. Arregalo os olhos, mas deixo o frio na barriga de lado, lembrando quem ele era.
— Você sempre teve muitas garotas pra notar esse mera mortal. — estico as pernas, chutando a sua levemente.
— Eu largava qualquer uma pra ficar com você. — sorri, lembrando que era verdade, usufrui muitas vezes desse fato quando estava com ciúmes. Jogo meu corpo pra trás, relaxando ele sobre o tapete macio. — Acho que sempre notei você. — ele pega meus pés, que ainda o chutavam levemente.
— Você não sabia ficar longe de mim. — suspiro e fecho os olhos quando ele começa a massagear meus pés.
— Eu não sei ficar longe de você. — ele me corrige, intensificando a massagem. — Eu faço qualquer coisa por você, . — ele fala depois de alguns minutos em silêncio e eu abro os olhos, olhando seus olhos sobre mim enquanto ele ainda massageava meus pés e observava minhas reações. — E você tinha razão, eu estava com ciúmes de você com esse cara que nunca existiu. — ele ri sem humor, sacudindo a cabeça. — E talvez esse ciúme é que tenha feito essa semana estar sendo uma merda — ele confessa e eu sorrio pra ele, o apoiando, afinal eu também sempre senti ciúmes dele. — Eu sei que a qualquer momento você irá aparecer com um cara que lhe fará se sentir completa e você se casará com ele, mas eu acho que não estou preparado pra isso.
— Eu também não estava preparada pra perder meu melhor amigo, mas você está preste a se casar. — ele suspira e fecha os olhos, parando de massagear meus pés.
— Eu sei, eu sou egoísta. — ele se encosta no sofá e eu volto a me sentar, ainda no tapete. — Não deixa meu ciúme interferir em suas escolhas, eu com certeza não irei aprovar nenhum homem. — ele ri sem humor e eu me levanto, sentando ao seu lado
— Talvez você goste de alguém. — falo, bem-humorada.
— Você não entende, , eu nunca irei gostar de nenhum. — ele suspira, frustrado, e me olha. — Eu não suporto imaginar um cara que pode estar com você da forma que eu nunca pude. — arregalo os olhos com sua confissão.
... — ele me interrompe.
— Não quero que o que eu falei atrapalhe nossa amizade. Eu nem devia dizer isso. — ele levanta rapidamente. — Melhor eu ir.
— Não. — eu o interrompo enquanto ele se abaixava pra pegar o seu sapato. — Você não pode falar isso e fugir, sem saber o que eu tenho pra te dizer.
. — ele se aproxima, levando sua mãe até meu rosto. — Eu sei que nunca vamos ter nada. Eu prometi cuidar de você como minha irmãzinha, lembra?
— Eu não quero ser sua irmã. — fecho os olhos, aliviada por finalmente poder dizer isso em voz alta para ele. — Eu nunca quis ser sua irmã.
... — o interrompo.
— Não, deixa eu falar. — suspiro, pensando rapidamente a melhor forma de me declarar. — Eu sempre fui apaixonada por você . Não desde sempre, mas com 16 anos eu sabia que estava, mas achei que era passageiro. Você foi pra faculdade e o sentimento esfriou. Mas então você voltou e esse sentimento foi aumentando cada vez mais. Mas eu não podia estragar nossa amizade, então eu nunca disse nada sobre isso. Além do mais, eu nunca achei que meus sentimentos podiam ser correspondidos por você. — ele suspira.
— Eu demorei pra perceber que eu te amava além de uma amizade, mas eu tenho certeza que eu te amo. — ele se aproxima. — Porra! — pragueja. — Eu nunca amei ninguém da forma que eu te amo, . Eu faria qualquer coisa pra te ver feliz.
— Você me deixa feliz — ele coloca a mão em meu rosto, mas o corpo mais distante possível do meu.
— Eu não sei se isso vai dar certo. — ele me olha, cauteloso.
— Não importa. Só estou cansada de viver guardando esse sentimento — coloco minha mão sobre a dele.
— Talvez devemos ir devagar. — ele fala em um tom baixo, quase como quem não quisesse realmente isso.
— Não temos tempo de ir devagar, . — me aproximo vagamente dele.
— Eu não quero ser o cara que partirá seu coração. Eu prometi te proteger. — diz em tom de frustração.
— Você não precisa ser esse cara, é só você me amar e ser sincero comigo. — meu corpo finalmente está o mais perto possível dele, de forma que consigo olhar seus olhos. — Além disso, pessoas mudam e promessas são quebradas. — sua outra mão é pousada em minha cintura. — Então — levo meus lábios perto dos deles e sussurro: —, só respira fundo.
Finalmente nossos lábios se encontram, depois de tantos anos sonhando com esse momento e se conformando com o fato de nunca poder sentir o sabor e a maciez deles sobre os meus. Sua mão, antes em minha cintura, aperta meu corpo no seu, fazendo eu arfar em seus lábios. Já sua outra mão, antes em minha face, está embolada em meus cabelos, fazendo arrepios por todo meu corpo.
Eu o amava, e saber que esse sentimento era correspondido era inacreditável. Sabia que ainda teríamos algumas coisas para enfrentar daqui pra frente, mas eu tinha fé que conseguiríamos passar por isso. Era só respirarmos fundo.

Worlds are spinning around
There's no time for slowing down
So won't you take a breath
Just take a breath
People change and promises are broken
Clouds can move and skies will be wide open
Don't forget to take a breath


Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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