Última atualização: 15/04/2018

Tarde Demais

E mais uma vez eu estava atrasado, parado debaixo de uma forte chuva em frente ao ponto de ônibus onde tudo começou, em minhas mãos estava a carta que ela havia deixado escondida dentro da minha farda militar. Justo no dia da minha folga, justo naquele dia eu não havia tocado em meus pertences de serviço, meu coração se corroeu sentindo todos os arrependimentos passados e presentes, me fazendo lembrar cada vez que eu havia me atrasado para algum encontro ou comemoração que ela promovia entre nós.

Desci meu olhar para a carta e dando alguns passos para me abrigar da chuva, ergui o frágil papel que se mantinha inteiro apesar de alguns respingos da chuva.

. — sussurrei seu nome ao desdobrar a folha, vendo sua letra — Oi,

Comecei a ler todas aquelas palavras que mais pareciam adagas sendo cravadas em meu coração.

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Cinco anos atrás...

Aquela era a minha primeira folga no 37º Batalhão das Forças Especiais, ser um soldado não era fácil, mas eu estava dando o meu melhor a cada dia para não envergonhar minha família que era totalmente completa por militares, meu sonho era chegar a ser capitão para honrar a memória do meu pai. Entrei no ônibus seguindo para casa e me sentei em uma solitária cadeira ao fundo, meu corpo ainda demonstrava sinais de cansaço devido ao número de treinamentos que meu superior me deu em comemoração à minha primeira folga.

Algumas paradas depois ela entrou no ônibus, seu semblante estava tão apagado e seu olhar caído, parecia que o dia não estava tão bom hoje. Não era a primeira vez que aquela garota pegava aquele mesmo ônibus comigo, e em todas as vezes eu não conseguia deixar de olhá-la e observá-la, sempre com o mesmo jeans surrado, all star e uma blusa xadrez escondendo a regata preta desbotada. Os mais variados livros de medicina nos braços e uma mochila entreaberta que mostrava parte do seu jaleco dentro, certamente uma dedicada estudante de medicina, pois durante todo o seu trajeto entre as paradas ela se atentava a cada página que lia, enquanto passava o marca texto entre as linhas.

Diferente de todas as outras vezes, esta ela sem perceber devido ao cansaço, que o ônibus estava vazio, se dirigiu para onde eu estava assentado e pedindo licença, se sentou ao meu lado. O inseparável fone no ouvido estava presente, assim como a playlist de ost de doramas que ela procurava deliberadamente, então ao guardar o celular na bolsa abriu um livro e começou mais um momento de estudos.

Porém, em poucos minutos ela acabou adormecendo, fiquei por um tempo observando sua cabeça ir e voltar com o balançar do ônibus, até que de forma espontânea e automática minha mão tocou sua face, a guiando até meu ombro para que ficasse um pouco mais confortável. Admito que não era normal eu fazer algo do tipo, principalmente com uma garota desconhecida, não só pela minha criação em uma família de militares, mas também por minha timidez em ter coragem de me aproximar de uma garota. Entretanto, com ela estava sendo diferente, a cada movimento que eu fazia para mantê-la ainda mais confortável, meu sentimento em querer protegê-la só aumentava.

— Senhorita?! Senhorita?! — disse num tom baixo a acordando.
— Hum?! — resmungou ela se esforçando para abrir os olhos.
— Chegamos ao ponto final do ônibus. — expliquei.
— O que?! — ela se levantou prontamente, porém seu corpo bambeou um pouco, no impulso eu a amparei com minhas mãos.
— Está tudo bem? — perguntei me preocupando.
— Oh, acho que levantei bruscamente. — sussurrou, sua voz era doce e suave — Mas estou bem, obrigado por me acordar.
— Você estava dormindo tão tranquilamente que não consegui te acordar antes. — expliquei me sentindo meio culpado por ela não ter decido em sua parada.
— Está tudo bem, você já está sendo gentil demais comigo. — ela sorriu com doçura — Até me emprestou seu ombro.
— Oh, você reparou?! — estava surpreso.
— Sim, muito macio por sinal. — ela me pareceu um pouco tímida após aquela afirmação — Acho que tenho que voltar, preciso pegar outro ônibus.
— Se quiser, posso ir caminhando com você, assim não corre o risco de dormir novamente. — me ofereci espontaneamente.
— Você sabe para onde eu irei?! — ela fez uma cara confusa — Você não é um psicopata assassino né?
— Não. — ri de imediato — Sou um simples soldado das Forças Especiais Sul Coreana.
— Um militar. — observou ela — Prazer soldado, pode me chamar de .
— Prazer civil, pode me chamar de soldado Kim, ou só se quiser.
— Bem, já que você é um homem da lei, acho que posso aceitar seu convite para a caminhada. — disse ela ao se virar para sairmos do ônibus.
— Me sentirei honrado por poder guiá-la em segurança. — assegurei a seguindo para a saída.

Nós seguimos pela avenida principal até chegarmos a Universidade de Yosen, onde ela cursava medicina e morava nos dormitórios dos alunos. passava tranquilidade e serenidade em seu modo de falar e andar, parecia uma pessoa tranquila e muito organizada, percebi quando deixou cair uma folha com seu cronograma de estudos, porém um pouco desastrada, pois sempre que tentava abrir sua mochila com cautela, algo se jogava de dentro.

Aqueles poucos minutos de caminhada me renderam uma boa conversa sobre seu curso de medicina e como conseguiu a bolsa de estudos sendo uma estrangeira, descobri que ela sempre teve vontade de estudar na Coreia e morar aqui, o que me fez sentir um pouco orgulhoso do meu país.

— Mais uma vez, obrigado por hoje. — disse ela assim que paramos em frente ao prédio do seu dormitório.
— É o meu dever proteger os civis, estando ou não de farda. — disse tranquilamente.
— Ainda assim… Komawo. — desta vez ela foi um pouco mais informal em seu agradecimento — Posso fazer um outro pedido especial?!
— Claro. — assenti.
— Bem, eu sempre vivo me perdendo pelas estações do metrô, então… — ela começou a passar seu celular de uma mão para outra.
— Já entendi. — eu peguei seu celular de forma respeitosa e anotei meu número — Sempre que se sentir perdida me ligue.

Ela sorriu de leve assentido e pegando seu celular, entrou no prédio. Naquele momento meu coração já estava acelerado e minha mente soltado fogos de artifício imaginários, ela havia pegado meu número e agora eu estava ansioso para ouvir sua voz ao telefone.

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Três anos atrás...

As coisas estavam acontecendo de forma tão inacreditáveis na minha vida, que estava com medo de ser somente um sonho. Naqueles dois anos que se passaram eu e havíamos nos aproximado ainda mais, mesmo com meus defeitos e falta de pontualidade em diversos momentos devido ao meu trabalho como militar, de amigos nos tornamos namorados e agora com a sua formatura da universidade, eu já estava planejando o pedido de casamento.

— Você está muito silencioso hoje. — comentou ela.
— Estou pensando. — respondi.
— Tenho medo de quando pensa assim, sempre que tenta me surpreender nunca consegue.
— Desta vez é algo necessário. — expliquei.
— Hum… O que é necessário senhor primeiro sargento? — ela colocou as mãos na cintura me olhando com um sorriso leve no rosto.
— Agora que você se formou, precisa de estabilidade para ganhar a autorização para exercer medicina na Coreia. — comecei de forma objetiva — Então, estava pensando que…
— Que?!
— Não existe nada mais estável que um casamento com um militar sul coreano. — disse sem rodeios retirando a caixinha com o anel de noivado do bolso da jaqueta.

Havia passado todo a primavera no alojamento da fronteira planejando aquele momento, não gostava de surpresas e isso eu já havia comprovado algumas vezes, mas ela era uma garota romântica e achava fofo as cartas que eu lhe escrevia em meus dias fora, servindo em outros países.

— Isso é jeito de fazer um pedido de casamento?! — ela me olhou estática.
— Quando a noiva se trata de alguém tão sistemática como você. — ri baixo.
— Seu bobo. — ela deu um tapa no meu ombro — Deixe-me pensar… Como seria o casamento de uma médica e um militar?
— Você gosta de doramas, tenho certeza que já viu Descendants of the Sun. — sugeri.
— Não dá pra comparar você e o Big Boss. — brincou soltando uma risada maligna.
— Yahhh, não gostei. — cruzei os braços.
— Não precisa ter ciúmes… — ela segurou em minha mão sorrindo — Você é o meu Big Boss.

Sim, eu era, mas até quando alguém como eu iria merecer um amor como o dela?

- x -

Um ano atrás...

Eu estava correndo em meio a neve que cobria todo o chão da cidade, uma nevasca estava próxima e ainda não havia chegado em casa, aquele dia era importante para nós e eu novamente estava atrasado. Não queria que pensasse novamente que eu não me importava com o nosso casamento, porém mais do que nunca queria que ela se sentisse amada e segura comigo, mesmo em alguns momentos estando longe.

Olhei novamente no relógio que estava no meu pulso, já marcava onze e meia da noite, que espécie de marido era eu que nem conseguia chegar a tempo para o jantar de aniversário da própria esposa? Eu me sentia frustrado por estar longe dela em momentos festivos devido às operações do meu esquadrão, ser um dos melhores não era fácil e meu treinamento para me tornar o capitão era ainda mais intenso.

Aos poucos estava sentindo que meu lado militar estava sugando cada segundo do meu tempo livre com a mulher que eu amava, o que me deixava um pouco mais aliviado era o carinho e amor de , sua paciência comigo e meus horários desregulados pareciam não ter fim. Porém até quando?

?! — disse ao adentrar o apartamento onde morávamos.

Fechei a porta e dei alguns passos pela sala, voltando meu olhar para a cozinha, lá estava ela debruçada a mesa com um prato de espaguete a sua frente, deu um suspiro frustrado por mais uma vez estragar nossa noite. Deixei a mochila ao lado do sofá e me aproximei dela, de forma cuidadosa e suave a peguei no colo e levei para nosso quarto, suavemente encaixei seu corpo entre as cobertas e lhe dei um breve beijo na testa.

— Fica aqui. — sussurrou ela assim que me movi para me afastar — Quero dormir em seus braços pelo menos, pedido especial.

Assenti silenciosamente me deitando ao seu lado, a envolvendo em meus braços de forma confortável para ela.

— Me desculpe, novamente. — sussurrei frustrado por dentro.
— O que importa é que está aqui. — sussurrou de volta — Eu te amo!
— Saranghaeyo. — comecei a acariciar seus cabelos de leve, eu gostava de observá-la enquanto dormia.

Mesmo me perdoando mais uma vez, mesmo com todo o seu amor, eu me sentia culpado por não conseguir cumprir minhas promessas a ela, por sempre chegar tarde demais em todos os momentos preciosos de nossa vida juntos. Eu não conseguia compreender desde quando isso começou a acontecer, parecia que quanto mais responsabilidades eu conseguia em minha função militar, mais isso me afastava dela.

- x -

Atualmente...

— Eu te amo… Mas não posso competir com as Forças Especiais. — disse ao ler as suas palavras finais.

Eu amassei a carta em minhas mão e dei alguns passos para trás voltando a chuva, meu coração estava tão amargurado que não conseguia e nem queria imaginar que eu a havia perdido.

"Assim, novamente eu estou atrasado
Dessa vez, novamente é tarde demais
Eu sempre estou atrasado e sinto a sua falta
Meu coração está muito atrasado, sem chance"
- Too Late / Super Junior

Ausência: Faça da sua ausência o bastante para que alguém sinta sua falta, mas não prolongue-a demais para que esse alguém não aprenda a viver com ela.” - by: Pâms



The End!



Nota da autora:
Espero que tenham gostado, mesmo sendo lágrimas e dramas kkkkk... Eu dividi essa história em quatro partes, as próximas estarão no ficstape de Descendants of the Sun, aguardo vocês lendo as continuações!!!*-* Espero que tenham gostado, críticas construtivas, sugestões e elogios são bem vindos.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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*links e outras fics vocês encontram na minha página da autora!!


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