Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

No sistema judiciário criminal, o povo é representado por dois grupos distintos porém igualmente importantes: a polícia, que investiga os crimes, e os promotores de justiça que processam os autores. Estas são as suas histórias.

Episódio do dia: Prosecutor and baby Blue (Promotora e a bebê Blue)

Apartamento dos
Avenida Lexington, 659
Sexta, 04 de setembro


♪ Make it last forever
Come on baby won't you hold on to me, hold on to me
You and I together
Come on baby won't you hold on to me, hold on to me
Blue ♫


entrou no quarto decorado pelo marido , pouco mais de um mês antes, para a pequena , e tirou a bebezinha do berço. Os olhos expressivos dela pareceram examinar o rosto daquela que tinha aprendido a chamar de mom (mãe), apenas alguns dias antes, enquanto sua mãozinha gorducha agarrava a camisa que a mulher vestia.
A Sra. sabia que a menininha se sentia segura em seus braços, assim como ela mesma se sentia em paz e indestrutível quando aquele pingo de gente se agarrava a ela. Era como se as duas juntas pudessem tudo e ela queria que aquele momento durasse para sempre.
“Ah, Deus, faça isso durar para sempre!” Suplicou, em pensamento.
largou a blusa de , se aconchegando ao corpo dela. Deitou a cabecinha em seu ombro, fechando os olhos. Tinha um cheirinho de talco bom, que suspeitava que já tivesse se espalhado por todo o quarto, e que ficaria lá se...
Ela se recusava a pensar nisso agora.
“Faça durar para sempre, meu Deus! Eu preciso tanto dela!” Pediu, dessa vez em voz alta.
“E ela de você, . E eu tenho certeza de que o juízo vai perceber isso.” afirmou, se aproximando e beijando a testa da esposa. levantou a cabeça, sorrindo para ele, e dad (papai) devolveu o sorriso. Podia entender a esposa, depois dos quase seis meses de convívio com . Ela era mesmo encantadora!
“A assistente social chegou, Sra. .” A jovem que ajudava o casal a cuidar de avisou, parada na porta do quarto.
e o marido se entreolharam, enquanto se agarrava ainda mais a ela, parecendo adivinhar que aquilo poderia não durar para sempre.

Hospital Mount Sinai
Queens
Segunda, 13 de fevereiro


“Foi um morador de rua quem a trouxe.” Um médico informou aos detetives Amanda Rollins e Nick Amaro. “Ela está bem. Nenhum sinal de violência.”
“Alguma identificação?” Amaro perguntou.
“Infelizmente, nenhuma.”
“Apenas mais um bebê indefeso, abandonado à própria sorte.” Resmungou o detetive que, sendo pai, não podia entender como alguém deixaria uma menina com meses de idade sozinha, para enfrentar o frio e todos os perigos de um lugar como Nova York.
“Talvez ela não tenha sido abandonada.” Comentou o médico, cujo crachá trazia o nome Thomas Maddock. “Apesar de não ter nenhum ferimento, e nenhum problema de saúde, quem a encontrou afirma que ela estava enrolada em uma manta cheia de sangue. Talvez tenha acontecido algo com os pais.”
“Vamos precisar dessa manta.” A parceira de Nick observou.
“O cara ainda tá aqui.” O Dr. Maddock apontou para um dos sofás do hall do hospital, onde um morador de rua cochilava. “Ele a embrulhou em um casaco, mas talvez tenha guardado a manta.”
“Precisaremos do DNA dela também.” Rollins acrescentou, antes de andar na direção do herói do dia.

♪ ♫ ♪ ♫


“Havia sangue demais! Eu não podia deixá-la naquela sujeira!” O homem falou, quando indagado sobre a manta que possivelmente carregava vestígios de um crime. “E eu joguei logo fora, pra nenhum dos meus meninos ter contato com aquilo. Eu posso não ter estudo, moço, mas eu sei que sangue é perigoso.”
“Tudo bem, Sr. Holder. Nós estendemos.” Amanda falou, antes que Nick dissesse alguma coisa rude, afinal o homem tinha ajudado bastante, levando a criança para um hospital. “Mas o senhor viu alguma coisa? Alguma movimentação? Ou... já tinha visto esse bebê antes, talvez?”
“Eu não quero problema, não, dona. Eu fui ali pro estacionamento abandonado pra proteger minha família do frio e... eu sempre vou pra lá, sabe? Eu prefiro não ver nada, não ouvir nada, não saber de nada, não.” Respondeu, sacudindo a cabeça, nervoso. “Não era nem preu tá aqui mais, não. Eu só queria ter certeza de que a menina tava bem e acabei dormindo. Eu não me encosto num sofá desses há anos!” Comentou, rindo.
“Mas, se o senhor sabe de alguma coisa, tem que nos contar, Sr. Holder, ou será obstrução da justiça.” Amaro falou, enfático e um pouco irritado. Precisavam de pistas e não de um bate papo descontraído sobre o conforto da recepção do Mount Sinai. “Não é uma opção! Se preferir falar na delegacia...”
“Não, não!” O homem ficou ainda mais nervoso com aquela possibilidade, mas os detetives não se preocuparam em saber por que ele teria tanto medo de ser conduzido. O que importava era que desse qualquer outra informação que tivesse. “Eu não sei muita coisa. Eu juro! Eu só vi essa garotinha algumas vezes com uma jovem e um cara, que brigavam muito e... que, com certeza, tavam sempre chapados. Eu não sei se eles eram os pais e só sei que o nome ou apelido do sujeito era Hat.”

Sede da Unidade de Vítimas Especiais da Polícia de Nova York
Segunda, 13 de fevereiro


“Hat? Eu não preciso nem dizer que isso não ajuda muito, né?” Ainda mais mal humorado do que Nick, o detetive Tutuola reclamou.
“Mas a mãe nós já sabemos quem é.” Informou Olívia Benson, desligando o telefone. “O DNA da criança bate com o de Elise Blue. Presa anteriormente por tráfico, foi absolvida por insuficiência de provas.”
“Provavelmente vai voltar pra trás das grades.” Comentou Amaro, vestindo o paletó que havia pendurado na cadeia. “E eu vou gostar muito de ajudar a mandá-la pra lá.”
“Eu mesma vou com a Amanda ao endereço que temos dela no sistema.” Benson decretou, levantando-se e olhando para a colega, que assentiu. “Você talvez esteja se envolvendo demais.”
Amaro fez uma careta, revirando os olhos. Realmente, não tinha muito estômago para lidar com pais que não cuidavam decentemente de seus filhos. Um caso tornava-se facilmente pessoal quando envolvia crianças.
Não era assim para Olívia, Amanda ou para a Promotora de Justiça , que trabalhava nos casos da Unidades de Vítimas Especiais. Apesar de serem mulheres e consideradas, por isso, mais sensíveis, as três não tinham filhos e já estavam acostumadas com casos bárbaros envolvendo menores. Estes eram, afinal de contas, os casos da alçada daquela unidade, junto com os crimes sexuais.
Contudo, ele, Nick Amaro, tinha certeza de que jamais se acostumaria com aquilo e imaginava, inclusive, que, em algum momento, um daqueles casos ainda se tornaria pessoal para uma delas também.

♪ ♫ ♪ ♫


“Eu só me lembro de ter acordado sem ela.” Disse Elise à detetive Benson. Ambas eram observadas, por meio de um vidro oculto, por Amanda, Amaro, Tutuola e pela Promotora , que havia sido chamada, logo que a garota fora localizada.
“E não chamou a polícia?” Olívia mostrou não estar engolindo a história.
“É claro que não! Eu já fui presa! Não é segredo que não morro de amores por vocês, policiais, certo?” Debochou, corajosa.
“E o que fez, quando percebeu que sua filha não estava em seu quarto?”
“Eu bati na porta de alguns vizinhos, mas ninguém se lembrava de ter visto nada.”
“Então, você afirma que chegou, ontem à noite, com a sua filha, ao apartamento em que vivem, que dormiu e, quando acordou, hoje pela manhã, a menina, de apenas onze meses de idade, tinha simplesmente desaparecido?”
“Sim! Eu não machucaria a ! Você não pode achar que eu machucaria minha filha.”
“A sua filha não está machucada, Srta. Blue, mas ela foi encontrada em um estacionamento abandonado, no meio da madrugada.”
“E eu não sei o que aconteceu! Eu já disse que não sei!” Gritou.
“Ela poderia ter sido levada por Hat?”
“Não.” Ela respondeu, distraída. “Quer dizer... o que vocês sabem sobre Hat?”
“Hat é o pai de sua filha, Srta. Blue?”
“Não. Eu o conheci há pouco tempo. Nós estávamos namorando, mas... Ele pode, sim, ter levado a .” Afirmou, mudando de ideia de repente. “Ele era... ele é perigoso.”
“Perigoso como?”
“Ele me batia, me ameaçava. Eu queria terminar tudo e ele não aceitava. Ele ameaçava fazer várias coisas comigo. Ele ameaçava a .”

♪ ♫ ♪ ♫


“A história dela está mal contada, mas ainda não temos um caso sólido contra ela. A menina pode mesmo ter sido sequestrada pelo namorado violento.” Comentou .
“Um dos vizinhos, Sr. Nigel Thompson, afirma que a viu chegar, por volta das três da manhã, sem a filha.” Amanda informou.
“Alguma câmera na redondeza que possa confirmar essa versão?”
“Se não me engano, tem uma loja de conveniência do outro lado da rua.”
“Eu vou requerer as gravações.” Tutuola se prontificou.
“Tragam o tal Hat até aqui também. Quem sabe ele não tem uma boa versão da história pra contar?”

♪ ♫ ♪ ♫


“Srta. Blue, esse é o Dr. Stone. Ele é defensor e está aqui para cuidar do seu caso.” A Dra. informou, sentando-se em uma cadeira em frente à de Elise, enquanto o defensor público ocupava outra, ao lado da garota.
“Eu não preciso de um advogado. Eu já disse que não fiz nada com a minha filha! Aliás, eu quero vê-la. Onde ela tá?”
“Sua filha está sob os cuidados da assistência social, Srta. Blue.” Afirmou .
“Como a senhorita já sabe, tem o direito de permanecer calada. Tudo o que dizer poderá ser usado contra você.” O advogado lembrou. “Se quiser, podemos conversar a sós, antes...”
“Não. Eu não fiz nada com a . Eu já disse!”
“Esse é o menor dos seus problemas, no momento, Srta. Blue. Paul Hattaway, também conhecido como Hat...” A promotora disse, colocando duas fotografias sobre a mesa, para que Elise olhasse. Ela viu do que se tratava e engoliu seco. “...era procurado pela Narcóticos há meses, e foi encontrado essa manhã, em um beco, desse jeito: morto.”
“Eu não sei de nada. Eu não o via desde... anteontem, eu acho.”
“É apenas uma coincidência que sua filha tenha sido encontrada enrolada em uma manta cheia de sangue, então, Srta. Blue? Seria coincidência também que esse sangue tivesse o DNA do Sr. Hattaway?” Blefou.
“Eu saí de casa com presa e peguei uma manta qualquer. Provavelmente, Hat tinha se cortado...”
“Se você afirma não ter nada a ver com a morte de Hat, talvez possa colaborar conosco, então, Elise. Sabe de alguém que possa ter assassinado seu namorado?”
“Você mesma disse: ele era traficante! Inimigos eram o que ele mais tinha!”
“Imagino, mas, se não tivermos nenhum nome, nossa melhor pista ainda será aquela manta.” A promotora cruzou os braços, encarando-a.
“Talvez... Paul Harvey. Eles foram sócios, mas, nos últimos tempos estavam disputando território.” Deu de ombros.
“Você ainda está detida.” Disse , se levantando e caminhando até a porta. “Ainda não encontramos nenhuma explicação para a aparição misteriosa da sua filha em um estacionamento abandonado, enquanto você supostamente dormia.”

♪ ♫ ♪ ♫


“Paul Harvey tinha um álibi, assim como Noah Klein e Sam Cabot.” afirmou, voltando à sala de interrogatório, onde Elise a aguardava novamente, com o defensor público. “Mas sabe o que foi mais interessante, Elise? Mais de uma pessoa com quem os detetives conversaram afirmou ter visto você com Hat, na madrugada em que ele morreu. Ambas disseram que vocês estavam sob efeito de drogas e brigando, e que sua filha estava com vocês.”
“A gente se viu naquela noite, claro. Talvez eu tenha dito que não, mas a gente se via toda noite. Óbvio! Depois, eu fui pra casa. Ele disse que ia pra dele...”
“Dr. Stone, oriente sua cliente, por favor. Eu posso oferecer um bom acordo, se ela confessar. Talvez ela ainda saia em condicional a tempo de recomeçar, ter outros filhos...”
“Eu não vou fazer acordo algum e ser presa por matar aquele merda!” Ela ficou nervosa e deu praticamente um salto da cadeira, começando a andar de um lado para o outro, enquanto o advogado tentava avisar que talvez fosse melhor ela não dizer mais nada. “Ele era violento, ok? Ele me batia, dizia que ia me matar. Ele queria bater na também. Eu... só a protegi, e qualquer júri vai concordar com isso. Foi... é...”
“Legítima defesa.” Completou o Dr. Stone, construindo seus argumentos de defesa.
“Dr. Stone.” A promotora deu um meio sorriso. “Talvez o fato de termos um namorado violento como vítima sirva como atenuante, mas o argumento de legítima defesa certamente não vai servir. Foram por volta de trinta facadas... a maioria pelas costas. Algumas nos ombros e nos braços, que indicam, segundo laudo pericial, que o Sr. Hattaway tentou se virar e se defender, em vão, depois dos primeiros golpes.”
“Eu livrei o mundo de um cara que não valia nada, ok?”
“Sendo asism, boa sorte com o Grande Júri.” Falou , com ironia, levantando-se. “Você vai ser denunciada por homicídio e pelo abandono da , e, quando for condenada pelas duas coisas, você vai perder o poder familiar. Mas, enquanto isso, você ainda tem alguns direitos. Eu vou pedir que a assistente social entre, para que você a veja e a amamente, se for o caso.”
“Eu não quero ver essa criatura. Ela só ferrou com a minha vida! Como pode ser mais difícil a gente se livrar de uma droga de bebê do que de um homem de quase dois metros, hein?” Falou, se mostrando sem máscaras, afinal. Parecia ter nojo da própria filha e suas palavras deixaram com verdadeira ânsia de vômito a promotora e o seu próprio defensor.

♪ ♫ ♪ ♫


E, se não poderia entender como alguém falava assim da própria filha, ainda mais perplexa ela ficou ao sair da sala e ver Blue nos braços da assistente social.
A menina era linda e sorria para todos, simpática e parecendo muito feliz, alheia a tudo que estava acontecendo à sua volta. Era o retrato da inocência que já não enxergava havia muito tempo, trabalhando em casos como os que apareciam naquela unidade diariamente. O caso de Elise era dos mais leves, se comparado a outros com que ela havia lidado.
Então por que ela ficou tão mal, depois de ver a menina e de saber que uma joia rara daquela era tida pela própria mãe como algo do qual se livrar?

Apartamento dos
Avenida Lexington, 659
Quinta, 16 de fevereiro


♪ Sometimes these walls seem to cave in on me
When I look in your eyes, I feel alive
Some days we say words that don't mean a thing
But when you holding me tight, I feel alive ♫


“Você tem tido dias difíceis, né, amor?” perguntou, fazendo massagem nas costas da esposa.
“Muito!” Suspirou, contente pelo carinho. “Às vezes, eu sou tão durona nesse trabalho e em outros casos... Não sei, , mas parece que o mundo está desabando bem em cima dos meus ombros e que eu não vou aguentar!”
“E o que aconteceu exatamente?”
“Lembra daquele bebê que foi achado num estacionamento? Que tava com uma manta cheia de sangue, mas não tinha ferimentos?” Ela indagou, virando-se para ele na cama, e ele assentiu. “A gente achou a mãe e ela tinha matado o namorado, provavelmente na frente da garotinha ou... pegou a menina logo depois, ensopada de sangue. Até aí, não é nenhum caso pior do que qualquer outro que eu já peguei. Na verdade, eu já vi absurdos bem maiores, você sabe. A questão foi quando eu olhei nos olhos daquela menininha, tão pequena, tão frágil, que a mãe não quis nem ver e percebi que eu não podia fazer nada de concreto por ela. Eu me senti tão impotente!”
“Você tá fazendo a sua parte, .”
“Eu sei, mas...” Bufou.
“Tá tudo bem, meu amor?” Ele ficou realmente preocupado.
“Na verdade, não, . Talvez você ache estranho, mas eu senti uma conexão tão profunda com aquela menina, mesmo em poucos minutos, que parece que eu já a conhecia e que eu preciso fazer alguma coisa a mais dessa vez... que eu preciso garantir que ela vai ficar bem.”
“Vem cá.” Ele pediu, puxando-a para seus braços. “Você vai se sentir melhor quando condenar a mãe dela e souber que ela vai ser criada por um parente mais responsável. E você não deve se cobrar tanto! Tem dias que são piores que os outros... dias em que a gente se sente mais vulnerável.”
“Sabe, ? Eu não sei se você tem ou não razão, mas o seu abraço já me deixou bem melhor.” Sorriu, se aninhando ao peito dele.

Grande Júri
Segunda, 27 de fevereiro


“O povo contra Elise Blue. Acusações de Homicídio Qualificado e abandono de incapaz. Como se declara?” O juiz indagou.
“Inocente, Meretíssimo. Sou inocente.” Respondeu, fingida. Iria alegar a legítima defesa e que tinha deixado a menina no estacionamento em que fora encontrado por ter ficado perturbada demais, ainda que tivesse admitido que fora bom se livrar do namorado e que gostaria de ter se livrado da filha também, em conversa com a promotora.
“Fiança?”
“Sua excelência, a Srta. Blue é acusada de um crime violento, é provável que haja risco de fuga.” falou.
“Minha cliente sequer tem dinheiro para ir muito longe, excelência.” O defensor retrucou.
“Ainda assim, com seu histórico, entendo que existe, sim, risco de fuga, Dr. Stone. A fiança é de duzentos mil dólares.”
“Que absurdo!” Gritou Elise, fazendo caretas. “Como eu poderia ter esse dinheiro?” Mas o juiz bateu seu martelo e um guarda se aproximou da garota, a fim de levá-la para a carceragem.
“Espere, policial.” pediu, se aproximando. “O serviço social trouxe até aqui, para que você pudesse vê-la, e precisamos saber se há algum parente que deseje pedir a guarda da menina. Se isso for feito de uma vez, ela não precisará permanecer em um lar substituto até o seu julgamento.” Falou, se dirigindo à acusada.
“Eu não tenho ninguém, Dra! Ninguém pra pedir guarda, seja agora ou depois do julgamento!” Riu, debochada. “E por que ia querer ver esse criatura? Por Deus! Se tem tanto interesse assim, por que não fica com ela pra você?” Questionou, bastante irritada, antes de espontaneamente tomar a direção em que o agente do Estado a levaria.
não podia acreditar naquilo! Ela sempre se considerara alguém sem instinto maternal, mas aquela garota era realmente cruel com o ser que colocara no mundo!
Saiu da sala e foi orientar a assistente social, que tinha trazido a pobre bebê por solicitação sua, e o pequeno anjo parecia estar dormindo nos braços da mulher até que ela se aproximou.
levantou a cabeça do ombro de quem a tinha no colo e encarou a Sra. , abrindo um lindo sorriso. Estendeu os bracinhos gorduchos na direção dela, como se a conhecesse, e olhou para a assistente social, constrangida. Pensou em ignorar o gesto e apenas informar à mulher de que seria necessário arrumar um lar substituto, mas os olhares e sorrisos, tanto da adulta quanto da criança, fizeram-na baixar completamente a guarda e pegar no colo. Não era algo que costumasse fazer, mesmo quando via uma ou outra criança que estava aos cuidados do serviço social, mas tudo naquele caso mexia com ela de um modo inexplicável.
se abraçou a ela e a sensação que a dominou foi algo como uma paz imensa, misturada com uma alegria intensa daquelas que mostram que a gente está vivo de verdade, e não só sobrevivendo dia após dia. Ela se perdeu naquela sensação a ponto de não ouvir nada à sua volta e de se esquecer momentaneamente do que tinha para comunicar.
“Dra. ?” Ouviu uma voz em tom insistente e foi como se despertasse de um transe.
“Oh... sim?” Respondeu, respirando fundo.
“A mãe não quis vê-la?”
“N-não. Não quis.” Disse, devolvendo à outra mulher, apesar do choramingo da pequena.
“Ela gostou de você.” Riu. “E quanto à guarda? Os pais dela ou...”
“Ela disse não ter parente algum. Será necessário conseguir um lar substituto.”
“É uma pena.” Suspirou. “Ou talvez, não. É uma graça de criança e talvez, depois do julgamento, possamos encontrar uma ótima família para adotá-la. Quem sabe que tipo de parentes teria uma garota como essa, não é?”
assentiu e se despediu da representante do serviço social, que se afastou com , entrando em um elevador.
Mas não sem antes dar uma última olhada para aqueles olhos expressivos que faziam-na desejar fortemente, como há muito tempo tinha desistido de fazer, que o mundo fosse um lugar ao menos um pouco melhor.

Apartamento dos
Avenida Lexington, 659
Segunda, 27 de fevereiro


?” perguntou, fechando a porta, colocando as chaves sobre a mesa de centro e jogando a jaqueta sobre o sofá.
A casa cheirava a tempero e a mesa de jantar estava arrumada, o que era incomum para uma segunda-feira. Normalmente, ele e faziam um lanche, sentados no sofá, ambos cansados demais para providenciar mais do que isso. Tinham uma cozinheira, que preparava pratos para vários dias, mas ela só ia às quartas e estava certo de que tudo que havia preparado na semana anterior já tinha sido consumido.
“Hey!” Ela gritou, de dentro do quarto.
“Vamos ter visitas?” Ele indagou.
“Não. Somos só nós.” Ela respondendo, aparecendo e dando-lhe um beijo rápido nos lábios. Ele levantou as sobrancelhas, desconfiado, mas não disse nada. “Toma um banho. Dá tempo. Ainda faltam uns toques finais.” Sorriu e ele fez o que ela pedira.
“Você tá inquieta.” Comentou à mesa, enquanto experimentava a sobremesa. “Já falou sobre vários assuntos, sem parar em nenhum, como se... O que houve, ? Você parece estar fazendo rodeios pra me contar algo.” Ela mordeu os lábios, se incriminando, mas demorou alguns segundos para acabar com a curiosidade dele.
, é... Tem algo que eu quero te dizer, sim, mas eu não sei nem por onde começar.”
“Pelo começo?” Falou, de forma simpática. Ela parecia tensa o suficiente e não queria pressioná-la, apesar de estar ficando preocupado.
“Está bem.” Assentiu, tomando um gole de água. “Hoje eu acusei formalmente aquela mulher que matou o namorado. Aquela da bebezinha?” Ele fez um gesto, indicando que se lembrava e que ela deveria prosseguir. “Ela sequer quis ver a filha, ! E você nem imagina! Ela chama aquele anjinho de criatura!”
“Eu já ouvi coisas piores...” Ele falou, mas quase se arrependeu por interromper. “Mas não é sobre o jeito dela de se referir à própria filha que você quer falar, é claro.”
“Ela me disse que, se eu me importava tanto, que então ficasse com ela pra mim e, na hora, eu só pude pensar na frieza com que ela tratava um assunto como esse. Mas depois... , eu passei o dia todo pensando e eu quero isso. Na verdade, eu preciso disso.”
“O que?” Ele riu, nervoso. “Como assim? Do que você tá falando, ?”
“De adoção. Eu to falando de adoção.” Confirmou o óbvio. “ não tem qualquer parente que possa ficar com sua guarda e vai precisar de uma boa família, e eu...”
“E você não queria filhos. Me disse isso tantas vezes que eu mesmo me convenci de não tê-los.”
“Às vezes, a gente simplesmente diz coisas tolas! Os nossos trabalhos não podem nos atrapalhar tanto assim. Nós temos dinheiro suficiente pra ter ajuda...”
“Mas esse não era o único motivo, .”
“O principal motivo pra eu não querer ter filhos era o fato de achar injusto e egoísta colocar uma criança nesse mundo cheio de coisas horríveis em que a gente vive, e eu ainda acho isso. Mas a aqui! Ela já foi jogada nesse mundo e eu nunca quis tanto uma coisa quanto eu quero cuidar dela, garantir que ela vai conhecer as coisas bonitas desse mundo e que ela vai saber lidar com as mais feias.”
“Você realmente pensou bem sobre isso, meu amor?” Ele inquiriu, segurando a mão dela sobre a mesa.
“Eu acho que a única coisa da qual eu tenho tanta certeza quanto tenho disso é que eu te amo demais e quero você do meu lado pra sempre.” Sorriu, olhando os dedos dos dois entrelaçados.
“E é onde eu sempre vou estar.” Garantiu, beijando os nós dos dedos dela. “O que é preciso fazer pra termos a ?”

Central Park
25 de julho


“Sua filha é uma graça.” Disse uma mulher com um menino no colo, que devia ter mais ou menos a mesma idade de . sorriu, agradeceu e elogiou também o garotinho loiro de olhos verdes, que, por sua vez, estava encantado com um cachorro labrador que brincava com uma menina mais velha.
se aproximou, trazendo o lanche que tinha ido comprar, e pediu licença, caminhando com o marido mais para dentro do parque, onde estenderam um cobertor e se acomodaram para aproveitar o sol daquela tarde, comer donuts e observar, preguiçosamente, engatinhando em meio a vários brinquedinhos de borracha.
“Qualquer hora, ela vai estar andando.” Comentou . “Preparado para correr atrás dela?”
“Eu malho o bastante, eu acho.” Ele brincou. “E ela faz todo o cansaço valer a pena, principalmente quando eu vejo a alegria dele se refletindo na sua. Não existe nada mais bonito que os sorrisos das mulheres da minha vida.” Afirmou, beijando o ombro dela, delicadamente.
“Nós somos uma linda família, não somos?” Suspirou. “Ela não nasceu de mim, mas, por mais insano que isso pareça, eu sinto como se ela sempre tivesse sido minha.”
“Foi amor à primeira vista, . E eu sinceramente não posso achar insano. Aconteceu comigo também, quando eu conheci você! Foi como se eu tivesse começado a viver de verdade.” Ela sorriu e beijos os lábios dele, e seu sorriso se tornou ainda mais iluminado, quando olhou para e viu que ela os observava, parecendo encantada.
era filha dela, de verdade. Não importava o sangue, a genética, quanto o coração estava tão repleto de amor e ela podia sentir que a menina também passara a vê-la como mãe com uma facilidade que muitos poderiam julgar assustadora. Mas ela não via a hora de sua casa deixar de ser apenas um lar substituto e de o sobrenome Blue dar finalmente lugar ao .

Presídio de Rikers Island
26 de agosto

tremia e não sabia como conseguia se manter sobre as próprias pernas, caminhando em direção à sala reservada para que se encontrasse com Elise Blue. Desde o começo da manhã, quando fora informada de que a garota queria falar com ela, estava sentindo um forte aperto no peito, temendo aquela conversa. lhe dissera para não ficar nervosa, pois provavelmente Elise tinha resolvido fazer um acordo com a Promotoria, confessando seus crimes, em troca de uma pena menor, mas ela sentia, em seu coração de mãe que havia mais.
“Pois bem, Elise. Estou aqui, como solicitou. O que era tão urgente?”
“Falta menos de um mês, não é? Pra audiência de adoção definitiva?” Indagou e assentiu. “Então, doutora... eu andei pensando melhor e acho que não vou entregar a pra senhora e o seu marido.”
“Como?” quase engasgou. “Mas você não pode fazer isso! Ela já tá comigo há meses! Nós nos afeiçoamos a ela. Ela se acostumou com a gente!” Estava achando difícil até mesmo respirar, mas conseguiu não chorar, de algum modo. Era uma promotora, afinal, e todos a conheciam ali como uma autoridade.
“Eu posso, sim. Não tenho obrigação nenhuma de assinar qualquer papel ou dar qualquer testemunho.”
“Mas você vai perder o poder familiar. Ela vai ser adotada, de qualquer modo! Ou você acha que tem alguma chance de ser absolvida dos dois crimes?” Riu, irônica. Talvez debochar não ajudasse muito, mas não foi possível se conter diante do olhar indiferente de Elise.
“Meu advogado já me disse que minhas chances são nulas, mas...” Ela deu de ombros e examinou as unhas, de forma provocadora. “Eu tenho uma prima que poderia adotar a menina.”
“Você nem sequer falou dessa prima! Por que isso agora?”
“Porque você parece interessada demais em algo que era meu e eu não estou ganhando nada, entregando isso a você.” Ela cruzou os braços e , que estava de pé desde a ameaça velada, sentiu-se tão mal que precisou sentar-se novamente.
“Então você está querendo algo em troca, para não dar a preferência a uma parente na adoção da sua filha?” Indagou, devagar e com a voz baixa.
“Gosto da inteligência da doutora!” Ironizou. “Uma boa grana, pra eu aplicar e viver decentemente, quando sair daqui.”
“Você não pode vender a sua filha. Isso é loucura! Além de ser mais um crime...”
“Um representante do serviço social vem aqui amanhã. É a doutora quem sabe.” Afirmou, levantando-se e encerrando aquela reunião.
era uma Promotora de Justiça. Ela colocava pessoas atrás das grades por violarem as leis. Não poderia comprar uma criança!
Mas ela se questionava se, por outro lado, poderia passar o resto da vida sem .

Residência dos
Quarta, 26 de agosto

“Eu nunca deixaria você fazer isso, !” segurou as mãos da esposa nas suas e olhos nos olhos dela, tentando fazer com que ela escutasse a voz da razão. “Você não vai dar um dólar sequer nas mãos daquela mulher.”
“Eu não posso perder a minha filha, . Eu não posso!” Ela chorava descontroladamente, mas não cederia a suas lágrimas. Não para permitir que ela cometesse um ato criminoso, se arriscando a receber uma pena no final.
“Você não vai perder. A tá aqui com a gente há meses. As assistentes sociais tem feito visitas constantes e estão vendo como ela está bem. Estão vendo como a gente ama a , que ela é tratada como uma princesa, que ela nos adora.”
“Mas ela tem essa prima...”
, desculpa, mas a gente vai ter que arriscar. Se você der dinheiro pra conseguir adotar a , você vai acabar indo presa! Vai ser ainda pior!” abraçou o marido, chorando muito e foram dias e dias de apreensão, de pesadelos no meio da noite, de lágrimas que pareciam não ter fim. A promotora tirou inclusive licença no trabalho, o que somente estava previsto para depois da adoção definitiva.
Vivia grudada em seu pequeno anjinho, implorando que alguma força superior existisse de fato no comando do Universo, e que fizesse com que aqueles momentos durassem para sempre.

Vara da Infância
Sexta, 11 de setembro

“Então, Srta. Elise Blue, a senhorita afirma que não quer mais dar para adoção, ao casal e , a sua filha ?” a juíza perguntou.
“Isso mesmo, Excelência.” Elise concordou, levantando-se.
“Mas eu fui informada de que a senhorita já não tem mais o poder familiar, por ter sido condenada na esfera penal. Com isso, Srta. Blue, o poder sobre sua filha seria do pai dela.”
“Ela não tem, não senhora.”
“E ainda assim, a sua opinião é de que ela não deve ser adotada pelos ?” apertou forte a mão de e ele deslizou o polegar pelas costas da mão dela, tentando lhe passar confiança, mesmo que também estivesse praticamente segurando a respiração.
“Eu tenho uma prima! Prima é parente, certo?” Ela falou, aumentando os temores do casal, que tinha esperanças de que ela tivesse desistido dessa bobagem, ao perceber que não cairiam em seu golpe.
“Prima é parente, mas a adoção não é necessariamente preferencial aos parentes. Ocorre que a menina permaneceu sob a guarda dos em razão de pedido feito pela Dra. e endossado pela senhorita, o que dá à família uma boa chance de ter a preferência. Existe algum motivo específico para que a senhorita não deseje a adoção por eles?”
“É...” Elise parou por alguns segundos e concluiu que, mesmo que insistisse em não concordar com a adoção, não haveria mais chance de arrancar algum dinheiro de . “Não... nenhuma razão em especial.” Deu de ombros. “Só achei que um parente seria melhor.”
“Nesse caso, como todos os relatórios da assistência social são favoráveis à adoção, eu não vejo qualquer razão para prolongarmos essa audiência. Blue passa, neste ato, a se chamar , tendo como pais e . A Srta. Blue poderá vir a visitar a criança, quando deixar a prisão, caso todos assim concordem.” Determinou, batendo seu martelo, e o casal levantou em pulo.
duvidava de que Elise fosse querer algum dia ver e, mesmo que quisesse, até lá a menininha estaria preparada para lidar com pessoas amargas como sua mãe biológica. Neste momento, ela não queria pensar nisso, mas apenas ir para casa e pegar a filha no colo, enchendo a menina de beijos.
Jogou-se nos braços do marido, que a apertou contra si, enfiando a cabeça em seu pescoço e se permitindo chorar, pela primeira vez desde que toda aquela história com tivera início. Ele, afinal, também era humano e as lágrimas dele, assim como as de naquele momento, era fruto de uma intensa sensação de contentamento.

Residência dos
Sábado, 12 de setembro


♪ Each day I feel so blessed to be looking at you
Cause when you open your eyes, I feel alive
My heart beats so damn quick when you say my name
When I'm holding you tight, I'm so alive
Now let's live it up ♫


A casa estava enfeitada com bolas de todas as cores e havia música tocando. Bebida e comida eram servidas por garçons e os amigos de e conversavam, contavam histórias e riam. Não era uma típica festa de crianças, pois a única menor de dezoito anos ali era , mas eles estavam comemorando, como não poderiam deixar de fazer.
, no entanto, não deixava de paparicar a menina, todo o tempo, de andar com ela entre os convidados, e tentar fazer com que ela falasse mom (mamãe), ainda que não tenha tido muito êxito na tarefa, naquele dia. O olhar, o sorriso e qualquer sonzinho que fosse balbuciado por sua filha a fazia sentir viva, forte, invencível.
Era finalmente hora de curtirem, sem preocupações, aquela ligação tão forte que tinha se formado entre elas e que, sim, agora ela tinha certeza de que duraria para sempre.


Fim



Nota da autora: Sem nota.


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