Finalizada em: 27/06/2020

Capítulo Único

O vento gélido soprado pelo lago fazia as pessoas transitando por aquela parte da cidade apertarem os casacos contra seus corpos, subirem os cachecóis até o nariz e apressar o passo.
Era o que estava fazendo até adentrar o Mac's Bar, onde seus frequentadores estavam bem aquecidos graças ao sistema de calefação. A mulher focou em uma banqueta alta que estava em linha reta ao seu corpo e dirigiu-se até lá, sem conseguir prestar atenção em mais nada ao seu redor.
— Um Boulevardier, por favor. — Ela solicitou ao bartender. Esperava que a mistura entre uísque, vermute e Campari ajudasse a aquecer não apenas as partes de seu corpo que ainda estavam geladas, mas também sua alma. Assim que a bebida foi servida, agradeceu e apenas ficou encarando o copo a sua frente com um olhar vago. Parecia estar perdida em mil pensamentos.
Alguns minutos depois, quando o movimento já não era frenético, o bartender se voltou para os clientes que ocupavam as banquetas altas no balcão do bar para verificar se precisavam de algo mais. Notou que o líquido no copo da mulher que havia servido há um tempo considerável ainda não havia diminuído, e percebeu que ao lado dela encontrava-se um sujeito na mesma situação. Sua face abrigava uma carranca, mas o olhar não transmitia nenhum tipo de emoção, era vazio.
— Parece que vocês tiveram um dia péssimo. — O barman se aproximou e somente naquele momento ambos perceberam que estavam na presença um do outro, lado a lado. — Uma pequena cortesia da casa. — Ele sorriu e posicionou um pote de amendoim na bancada entre o meio dos dois. Tanto quanto o outro homem deixaram um pequeno sorriso escapar dos lábios e agradeceram baixinho.
A mulher moveu a mão em direção a tigela no mesmo tempo em que o homem tomou a mesma ação, fazendo as peles se encostarem. Como se tivesse levado um choque, ela retirou sua mão rapidamente e sorriu envergonhada. Ele repetiu os mesmos gestos e acrescentou: — Você primeiro.
— Eu até ia dizer que não, mas quando se trata de comida... — Riu baixinho e serviu um pouco num guardanapo, deixando-o livre para se servir também. mastigou alguns grãos e finalmente tocou em sua bebida. Observou o indivíduo ao seu lado por alguns segundos e reuniu coragem para finalmente se pronunciar. — Dia ruim? — Seu tom de voz foi o mais leve possível, embora não tivesse conseguido evitar o pequeno bico que se formou em seus lábios. Era adepta de colocar os sentimentos para fora, mas naquele dia ela deixou o trabalho tão atordoada que quis escapar de suas emoções e pensamentos pelo menos durante algumas horas, por isso o Mac’s foi seu destino e não seu apartamento, como de costume.
— Você nem imagina o quão... — Ele riu nasalado e deu um gole em sua cerveja. — Digamos que eu fiz o suficiente para ficar três dias de molho em casa, mas sem receber.
— Você bateu em alguém? — Ela arqueou uma das sobrancelhas ao finalizar a pergunta e dessa vez o homem riu brandamente.
— Confesso que vontade não faltou, mas não cheguei a esse ponto. Foi uma briga acalorada, com muitos elogios, se é que me entende. — Agora foi a vez de rir dos comentários dele. — E você? — Ele devolveu o questionamento.
— Eu trabalhei por meses a fio em um projeto que exigiu muito de mim, tanto psicologicamente quanto fisicamente já que eu abdiquei de muitas horas de sono e até mesmo de refeições. E outra pessoa levou todo o crédito pelo meu trabalho. — Ao finalizar seu pequeno desabafo ela tinha lágrimas nos cantos dos olhos. Raiva, tristeza, injustiça e frustração se misturavam dentro de seu peito e ela não sabia qual sentimento tinha o maior domínio.
— Puta merda! Já vivi situações em que pessoas levaram o crédito por algo que eu fiz, mas eram coisas bem menores que um projeto inteiro. Imagino como você está se sentindo... Sinto muito. — Eles se conheciam a menos de cinco minutos, mas ela pode detectar sinceridade em sua voz.
— Tudo isso é uma grande merda, mas obrigada pelo apoio.
— Você quer que eu lhe ensine a discutir acaloradamente? Quem sabe você consiga uma folga não remunerada também.
Pela primeira vez naquele dia, sentiu-se verdadeiramente alegre e deixou isso transparecer através de uma gostosa gargalhada.
— Te agradeço, mas acho que vou passar. Quem sabe procurar um outro emprego!?!?
— É uma ideia, talvez eu te copie.
— Sigam-me os bons! — Brincando, ela ergueu seu drink em um brinde e foi surpreendida quando o homem encostou a garrafa dele em seu copo, acompanhando o brinde.
— A empregos melhores com menos gente filha da puta! — Ele exclamou. Cada um deu um gole em sua bebida e começou a rir do nada.
— O que foi? — Questionou encarando-a com uma careta engraçada.
— Nós já desabafamos e brindamos, mas eu não sei nem o seu nome. — E ela voltou a rir, contagiando-o. Talvez fosse o drink forte de estômago quase vazio, talvez fosse seu corpo finalmente relaxando, talvez fosse a companhia estranhamente boa que havia sem querer arrumado. Ou talvez fosse o conjunto disso tudo. Ela não se importou muito em procurar explicações, apenas aproveitou.
, prazer. — Ele esticou a mão para cumprimentá-la.
Buckley, mas por favor, me chame de . — Ela novamente sentiu uma corrente elétrica passar por seu corpo ao tocar a mão dele, mas se limitou a sorrir.

Após a apresentação oficial, eles decidiram que queriam estender a noite da maneira mais confortável possível e para isso escolheram uma mesa vazia no fundo do bar.
— Eu preciso comer ou vou entrar em coma alcoólico logo, logo e você vai ter que passar seus dias de folga me cuidando. — Ela declarou, um pouco alterada. — Você é a pessoa mais exagerada que eu já conheci. — riu. — Batata frita?
— Com hambúrguer? — Se o olhar no início da noite era vago, agora ela fazia sua melhor imitação do gato de botas.
— Então você não é uma daquelas que come salada no primeiro encontro apenas por fingimento?
— Com comida eu não brinco. — declarou séria. — Mas espera, isso é um encontro? — Questionou em tom zombeteiro.
— Ahm... — Ele havia corado e procurava as palavras certas para responder a mulher. — Eu quis dizer no geral...
— Estou te zoando, . — Ela mostrou a língua para ele. — Vamos fazer nosso pedido.

Dentro do Uber que a levaria até seu apartamento, refletia sobre o plot twist de seu dia. Havia levado uma das rasteiras mais feias em seu trabalho, mas aquilo a fez refletir sobre sua carreira. Talvez fosse a hora de deixar a zona de conforto e procurar um novo desafio em um lugar que lhe desse o valor que ela sabia que merecia. Além disso, havia ganhado amendoins de graça e de quebra também ganhou uma ótima companhia com quem desabafou, xingou, riu, comeu e bebeu, pelo menos por uma noite. Seu celular vibrou e ela retirou o aparelho da bolsa para constatar que havia recebido uma nova mensagem, tendo a certeza de quem era o remetente.
“Cura e paciência são amantes...” sorriu e digitou a resposta, enviando logo em seguida.
“Não coloque a culpa em seu coração apenas para calá-los...”
Algo lhe dizia que aquela companhia ainda se repetiria por muitas e muitas vezes dali para frente.





FIM.



Nota da autora: Será uma amizade? Será um romance? Será uma amizade que vai desencadear um romance igual aconteceu com meu OTP Maddie e Chimney (Howard) em 9-1-1? Fica a critério da imaginação de vocês, pelo menos por enquanto.
Thay, obrigada por opinando e dando ideias enquanto eu escrevia. Naty, obrigada por me acompanhar em mais uma história!
E você, querida leitora, se chegou até aqui não custa deixar um comentário, hein? 😊 Aliás, façam isso em todas as fanfics que lerem!

Outras fanfics:
02. Can’t Keep My Hands Off You03. Daylight10. Superstar11. Doin Dirt Around Here Taça do AmorTurma de 2003Turma de 2003: Após o Reencontro



Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.


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