Finalizada em: 19/06/2021

INÍCIO

Quase todas as noites, após um dia de trabalho maçante na gravadora, batia ponto no pub para fazer uma refeição rápida antes de ir para casa. O programa era solitário e silencioso, tendo como trilha a playlist aleatória que o estabelecimento insistia em repetir durante suas aproximadamente dez horas de funcionamento. Quando o silêncio começava a martelar e se tornar ensurdecedor, a diretora de artes buscava o celular para um alívio rápido.
Um vídeo viral. Uma reportagem de tragédia internacional. Um post inspirador. Era isso que ela precisava para manter a mente ocupada e longe dos problemas da gravadora e dos assuntos que envolviam . A cabeça dela girava somente em torno desses três núcleos ultimamente.
não era triste.
No entanto, não era a mulher mais feliz do mundo.
O namorado estava cumprindo a agenda de shows nos Estados Unidos. Depois ainda faria duas paradas no Brasil até poder retornar e ser dela mais uma vez. estava em um loop de apresentações há meses. Aquele era o trabalho dele. Ela não podia acompanhá-lo. Ingressara na TwoVerse Records como coordenadora de artes júnior ainda na faculdade e, por forças do universo, estavam a nomeando como diretora, porque o antecessor do cargo precisou sair em cima da hora. Tinha a própria carreira para alavancar. não sabia dizer como era um relacionamento perfeito, não era certo criar expectativas, mas sabia que a relação que estavam sustentando não era o que queria.
Enquanto cutucava a porção de peixe e batatas dentro da cestinha com o dedo, tendo o olhar desfocado na decoração meio rústica do lugar, o celular vibrou de dentro do bolso do casaco longo.
ligava.
Quando pensava sobre o relacionamento que não queria, se referia àquilo. Ela deveria estar muito feliz por estar recebendo uma ligação do homem que amava. Entretanto, não estava.
— Hey, diretora e dona da TwoVerse Records. — O cumprimento do outro lado da linha veio rouco e em tom de brincadeira, arrancando um pequeno sorriso da mulher. Independente da dureza dos pensamentos, um pouco da aura dele penetrando na alma dela era o suficiente para a fazer se desmanchar aos poucos.
— Hey, solista incrível, gostoso, bem-sucedido, rico, dono do mundo todo e gostoso de novo — devolveu a brincadeira, limpando a garganta, torcendo para que ele não tivesse percebido a voz levemente trêmula e forçada — Como estão as coisas aí?
— Muito bem! A energia dos fãs é surreal. Nunca achei que um dia ia ter tanta gente se identificando com o som que eu faço. É sério, amor, você deveria ver! Tem gente que passa a noite em frente ao hotel apenas esperando por um oi meu da janela. Queria você aqui, experimentando todas essas sensações comigo.
A linha ficou em silêncio por um instante e suspiros simultâneos se fizeram ser ouvidos. Para , era uma maravilha, quase uma dádiva, acompanhar o homem que amava crescer e compartilhar um pedacinho de talento que possuía com o resto do planeta. Ambos cresceram juntos na gravadora. No entanto, repetir a afirmação dele e confirmar que ela também queria estar ali era difícil. Seria mentira. Ela queria estar com ele. De preferência, no mesmo solo da rainha. Pular de um canto para o outro não era a vida que imaginou.
— Podemos conversar melhor quando você voltar, o que acha? Não estou podendo falar muito — mentiu.
O visor da tela do celular, que estava colado no ouvido dela, exibia que a ligação começara há pouco tempo, mas não estava disposta a conversar. Não com um oceano de distância entre eles, sentada sozinha em uma mesa no meio de um pub, rodeada por casais e preenchida por risinhos e demonstrações de afeto. mordia internamente a carne da bochecha com um olhar que, apesar de se esforçar para permanecer inexpressivo, transmitia tristeza e uma parcela de inveja.
Ela demorava e resistia muito até engatar, de fato, em relacionamentos por isso: lidar com outro ser humano, que também sentia, tinha as próprias metas e sonhos era, no mínimo, complicado. Apesar da idade precisar ser contada com todos os dedos das mãos quase três vezes, sentia-se confusa em como prosseguir. Respeitar o estilo de vida que escolheu seguir, não ser invasiva, mas reivindicar um pouco de dedicação dele, de carinho, conforto... A linha entre seguir todas essas vontades e virar uma namorada possessiva às vezes parecia muito fina, quase invisível. não suportaria se tornar o tipo de gente que mais a trouxe cicatrizes na vida. Por isso, ficava perdida. Quando se é criança, você ainda pode coçar os olhos e chorar para a “tia” do maternal ajudar, puxar a barra da calça dos pais pedindo por uma luz, contudo para quem pedimos socorro quando nos tornamos adultos?
Deitado na cama do hotel, ficou sem reação ao notar o tom desmotivado da mulher. As emoções ficavam embaralhadas quando se tratava de , mas o músico ainda acreditava conseguir lê-la ainda que fosse por telefone. Fazia tempo que eles não se viam pessoalmente. Era puxado para os dois. A oportunidade que estava recebendo no momento era do tipo das estrelas cadentes: uma em milhões de chances, uma em dezenas de anos... Enfim, um raio que não cairia sobre o mesmo telhado outra vez.
— Você deve estar trabalhando muito. Como sempre. Deve estar morta na cama — jogou uma mentira com um sorriso forçado, mesmo sabendo que ela não poderia ver. , de fato, trabalhava muito. Aquela parte era real. Entretanto, não naquele minuto. poderia ser ruim com números, contudo ainda estava consciente o suficiente para calcular a diferença de fusos entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Oito horas de diferença, com os ingleses na dianteira. — Tudo bem. Eu estou com saudades. Me liga quando puder? — o tom quase saiu em súplica.
— Pode deixar — a voz dela saiu fanha.
— Eu amo você, . Pode me ligar em qualquer momento.
— Também te amo, .
Ligação encerrada.
Deitado do lado contrário da cama, com as pernas estiradas no ar, apoiadas contra a cabeceira, pensava. Quando uma relação está estremecida, os sentimentos um pouco vacilantes, era preciso buscar no passado pelas coisas que os fizeram estar onde estavam agora. Disso, se recordava bem. Ele se lembrava de que quando conheceu , ele sentiu que ela era perfeita. Perfeita para ele.


ANTES...

O contrato recém-assinado com a TwoVerse Records ainda parecia irreal, mesmo tendo uma cópia na gaveta para admirar todas as vezes que sentia estar alucinando e outra quase enquadrada no corredor do pequeno estúdio que alugava. A sensação de ser uma pegadinha cruel daqueles canais de humor duvidosos continuava perpetuando, principalmente quando era seu primeiro dia na gravadora e, aparentemente, não havia ninguém para recebê-lo ou instruí-lo, apesar das dezenas de pessoas que cruzaram ou trocaram um breve olhar consigo na bancada de recepção.
— Eu sinto muito. Não fui avisada sobre nada de uma reunião marcada para . Os donos nem ao menos estão no prédio, senhor. Sinto muito.
Um soco no estômago. O aspirante à artista perdeu o pouco do rumo que ainda carregava. O pior é que ele sentia a verdade no rosto da atendente. E agora? Como o fraco que era quando mais novo, sentiu as pernas bambearem já na primeira pedra do caminho. O que faria? Felizmente, o destino parecia ter piedade de si em alguns momentos, jogando anjos pela trilha. Esses com risadas de amortecer até os mais duros dos ouvidos com tanto mel.
Aquela risada era um escândalo.
fora desperto pelos sons e se obrigou a virar. Custava a acreditar que aquela criatura era a única responsável por toda a alegria que preenchia aquele saguão e a melodia que balançava o coração. Pelo canto dos olhos, o visitante enxergou a mesma secretária que o atendia gesticular para que a mulher se aproximasse.
— Os chefes estão aí? — a mulher por trás do balcão disparou a perguntar, assim que a recém-chegada alcançou uma distância suficiente para ouvi-la.
— Acha que eu teria coragem de rir dessa maneira se estivessem por perto? — a mulher, que a mente nublada de insistia em apelidar de anjo, devolveu com outra pergunta.
— Sim!
Mais uma gargalhada que o fez sentir algo crescer no interior.
— Riria mesmo. — Entrelaçou as mãos diante do corpo — Precisam de alguma coisa?
— Não. — A secretária balançou a cabeça, dessa vez voltando-se para . — Como havia te informado anteriormente: deve ter acontecido algum engano, senhor. Sinto muito! Pode tentar contatar os donos da empresa, se assim preferir, mas não posso autorizar a sua subida.
— O que houve?
Ela era espontânea e um quê de fofoqueira demais para passar direto daquela situação.
— Ele disse que tem uma reunião marcada com os chefes, mas eles não estão. Alguém lá em cima está aguardando algum , ? — O pouco caso com o nome que ainda seria um marco em muitos portais de notícia fez o aspirante da música ter o orgulho afetado.
— Não estou sabendo, mulher. Mas podemos descobrir! Pode deixá-lo comigo, eu assumo a responsabilidade daqui em diante.
A recepcionista deu os ombros.
No elevador do incrível edifício corporativo de trinta e três andares, ficou acanhado e nem percebeu que prendia a respiração, até ela mencionar:
— Você precisa respirar, se quiser chegar com vida ao nosso andar — brincou. — Não fomos apresentados diretamente. Sou , atualmente uma mera e humilde estagiária na TwoVerse. Qual é a sua história?
— Obrigado.
A mente de colapsou.
Ele só precisava continuar a conversa que nem ao menos precisou se esforçar para iniciar, mas os neurônios estavam tão compenetrados em arranjar uma maneira bonita de agradecer que no final não conseguiu fazer nenhuma das coisas.
soltou um riso que escondeu com a mão tampando a boca.
— Você é engraçado. Não sei o motivo pelo qual me agradece.
— Por ter me ajudado lá embaixo.
— Opa! Calma! Eu não sei o que está acontecendo. E se ninguém do andar souber, não poderemos fazer mais nada. — Percebeu o novato ficar tenso. — Relaxa! É comum não sabermos de nada, a gravadora funciona até que bem nessa bagunça. — Riu novamente e Romeu indagou internamente se ela não cansava disso, de rir, ou se era apenas boba. — Ainda quero saber: o que faz na empresa, ? — repetiu o nome que ouviu na recepção. — O que quer com os chefes?
— Eu quero uma carreira, óbvio. Foram eles que marcaram um encontro comigo.
— Os chefes? — A testa dela formou ruguinhas ao ser franzida. — Fez uma avaliação? Mandou um teste?
— Eu assinei um contrato! — Perdeu um pouco da paciência.
— Ah, é? — não pareceu surpresa e, outra vez, aquilo mexeu com o ego do homem. Ele não estava ali para ser um grande famoso e poder tocar para o mundo todo? Então, por que o tratavam com descaso? seria um nome importante, os funcionários da gravadora deveriam estar melhor preparados. — Não estou sabendo de nada e olha que eu sou boa em descobrir coisas novas. — Deu uma piscadela. — Chegamos!
Conforme avançavam pela grande sala que dispunha de várias mesas de trabalho espalhadas, notava que todos que passavam por eles faziam questão de cumprimentar . Demorou um instante e a ficha caiu. Era notável que naquele mundo do escritório, era a celebridade. Uma estrela. Um astro brilhante o suficiente para cegar e o deixar desnorteado por todos os instantes que passassem juntos. O homem quase se sentiu um espectador do concurso de Miss Simpatia.
— Prontinho! Chegamos à mulher das informações. Pode explicar e se acertar com ela, senhor. Espero que dê tudo certo para você. Boa sorte!
Tão rápida quanto chegou para oferecer uma luz, desapareceu. ainda levou alguns segundos encarando o caminho que a estagiária percorreu antes de se lembrar da outra mulher diante de si.




Tudo certo.
Depois do primeiro dia de tragédias e comédias, tudo pareceu ficar mais fácil. tinha um crachá agora e acesso livre para transitar pelas instalações da TwoVerse Records. Ele era oficialmente o mais novo contratado e apoiado da gravadora.
Enquanto era assistido por uma equipe na preparação da sessão de fotos, avistou , a estagiária do primeiro dia, entrar no campo de visão. Ele não se esqueceu dela.
— Aquela ali foi a primeira com quem tive contato na empresa. Acho que se não fosse por isso, poderia não estar aqui — exagerou. Não era assim. Hoje, era fácil resolver maus entendidos. Um telefonema, um e-mail e ele teria outra oportunidade de colocar os pés na gravadora. A questão é que estava envolvido demais e só queria demonstrar a gratidão.
— Quem? — O também estagiário, que revisava os mínimos detalhes das roupas de marca que faziam parceria com a empresa, olhou para os lados, puxando a fita métrica que tinha em volta do pescoço. — ?
— Essa mesma.
— O que é que não tem dedo dela nesse lugar.
não o conhecia bem, porém arriscaria um teor de desgosto na fala do colega.
— Qual é a função dela aqui?
— Ajuda na criação e produção de conceito dos artistas da gravadora.
— Engraçado, não me lembro dela na reunião que fizeram para definir o meu primeiro lançamento.
— Aqui somos divididos em vários grupos de contratos e estagiários. Os artistas que chegam são distribuídos aleatoriamente — desenhou aspas no ar, fazendo o astro arquear as sobrancelhas — para todos, a fim de que possamos ter experiências diferentes.
— Por que as aspas? — Imitou os dedos em gancho.
tem um perfil traçado. Ela só trabalha com artistas femininas na maior parte, principalmente aquelas com tempo de casa.
— Ela não é só uma estagiária também? Do jeito que fala, parece que ela é chefe.
vive dando um palpite aqui e ali. Quase todos gostam dela. Os chefes, pelo menos, gostam. Apesar de ela negar veemente, é uma das favoritas deles. A menina de ouro, se duvidar. Ela certamente tem um lugar na empresa. Só não sabemos se é humildade ou tudo uma falsa modéstia.
— Isso é bom, não é? — ajeitou a gola da camisa, sozinho, ignorando aquele julgamento para cima do caráter de . — No fim, é a avaliação deles que importa.
— Sim. — O estagiário parecia inconformado. — Atirando para todos os lados, até eu acertaria em alguma coisa e receberia congratulações.
— Então, por que não o faz?
Silêncio.
O fotógrafo fez um sinal para que se encaminhasse para frente da tela verde assim que ajustaram a última caixa de luz. Uma batida contra a calça por força do hábito, uma conferida ali e ele foi para a posição marcada com um xis no chão por uma fita preta, não sem antes lançar uma última fala:
— Deve ser difícil, companheiro... Ver uma mulher mais firme e decidida do que você ganhar espaço na empresa justamente porque ela faz as coisas em vez de ficar só falando e choramingando feito um bebê chorão.
Firme. Decidida. Esforçada. Aquelas eram algumas características em mulheres que o atraíam e para a sorte, ou não, de : ela tinha todas.




Aquele encontro ao acaso dentro do elevador não poderia ser considerado sorte, visto que em algum momento eles teriam que se cruzar outra vez.
— Olha só quem está aqui! — ela disparou com o usual humor, apertando o botão do painel com o andar desejado. — Parabéns! Fico feliz que tenha dado tudo certo no final.
— Obrigado! — retribuiu contente, imitando a ação dela, sorrindo também. Afinal, parecia se recordar dele da mesma maneira dele com ela.
Silêncio.
— Errrr... Você que está aqui há mais tempo que eu, não saberia onde tem uma cafeteria?
Que ela entendesse que era um convite para uma bebida. Que ela entendesse que era um convite para uma bebida. Que ela entendesse que era um convite para uma bebida.
Ele tinha um estranho jeito de flertar.
— Errr... O que existe aqui na frente serve? É só atravessar a rua! — Ela não havia entendido que era um convite para uma bebida — Podemos ir juntos um dia, se quiser.
vibrou.
Ela havia entendido que era um convite.
Ou talvez não. Poderia só ser gentileza, afinal estava lidando com a Miss Simpatia edição TwoVerse.


AGORA...

Você tem duas chamadas não atendidas. ligou.
Apesar de ter prometido, não retornou mais para o namorado.
Sua mensagem será entregue a Romeu assim que possível.
Mesmo tendo dito que estaria disponível em qualquer momento, não foi atendida quando precisou. E nem era um horário absurdo.
Entre encontros e desencontros, o tempo livre deles com o passar dos dias foi se tornando escasso. Semanas de estresse na gravadora eram comuns, principalmente em temporadas de comebacks. se reconhecia como pavio-curto, tornava-se irritadiça, sensível e insuportável o suficiente para não se aguentar. Eram nesses momentos que ela queria ficar longe de todos. Um carinho nos cabelos não era de todo mal, mas continuava em viagem. A mente insegura a fazia questionar algumas vezes se a amava tanto quando amava a música. Ela era competição suficiente para aquela bomba de endorfina e adrenalina que os shows o proporcionavam? A relação deles estava fria como o iceberg que levou o Titanic.
Todavia, não era só ela que estava descontente.
Em outro continente, o solista que liderava as paradas de rádio nas Américas era preenchido cada vez mais por um veneno de sentimento ruim. Raiva. estava colocando o trabalho acima dele. Não o atendia nas ligações, quando o fazia era algum estagiário passando recado. Aquela desculpa de falta de tempo não colaria com ele. era chefe agora, ela não precisava seguir as regras. Ela era quem ditava.
O que não parecia passar pela cabeça do músico é que era justamente por ser líder que a diretora se obrigava a trabalhar mais para fazer justiça ao cargo e dar o exemplo.
Pensamentos em excesso, neuras, cegam, causam estranhamento, criam apatia. Dizem que é nos tempos difíceis que conseguimos ver o futuro de uma relação. Isso assustava tremendamente, a ponto de desencadear uma crise.
Passava um pouco da meia noite no país da rainha quando resolveu iniciar uma chamada de vídeo para o único homem possível naquele instante. Parecendo sentir que ela precisava de apoio, conseguiu atender. Naquele dia, a inquietação no coração levantada pelas dúvidas constantes a respeito da relação impediu que a diretora fizesse a usual visita ao pub próximo da casa. Ela passara os momentos reservados para o jantar na cama, chorando copiosamente.
— Hey! — disse prontamente, assim que a visão da câmera de ambos foi compartilhada nas telas. Mesmo com o cenário escuro e com os lençóis cobrindo parcialmente o rosto dela, o homem percebeu que algo estava errado. Não comentou. Era um combinado deles. O outro deveria se sentir confortável o suficiente para falar por si só, ou não falar.
Não havia espaço para questionamentos.
Deitada na cama, abraçada ao travesseiro com capa de cetim, sentiu os olhos lacrimejarem com a figura do namorado em vestes frescas. Porra, ela o amava. Era justamente pelo sentimento descomunal que a consumia que algumas decisões deveriam ser tomadas.
não sabia o que atormentava tanto a outra metade de si, mas podia suspeitar, uma vez que o desgaste era mútuo.
— Pode tocar alguma coisa e ficar comigo até eu dormir? Tive pesadelos... Que parecem reais. — A voz falha denunciou o choro. — O clima aí no Brasil parece espetacular — mudou o foco da conversa depressa.
— O céu está bonito mesmo... — respondeu, desconcertado pelo estado da mulher, sem poder fazer grandes coisas. — Claro que posso tocar para você, meu amor. Vou pegar meu violão.
Ao mesmo tempo em que ele sumia da lente para alcançar o instrumento, piscava pesadamente para afastar as lágrimas grossas. À medida que o tempo passava, a pressão por uma decisão quase se fazia palpável. Os primeiros acordes da canção favorita dela composta por ele ecoaram pelas saídas de som do celular e, de repente, ela sentiu como se as notas estivessem abrindo feridas que nem ao menos tinha conhecimento de que carregava. A cada verso, um pouco do ar parecia ser arrancado. Em determinado momento da chamada, viu a mulher do outro lado fechar os olhos, sem saber que, ao ceder ao sono, ela havia tomado uma decisão. Ele escolheu permanecer tocando por mais alguns minutos, como uma desculpa para apreciá-la no sono íntimo, como já não fazia há tempos.
— Boa noite, .
Ele estava voltando.




Na visão de , a história de que se duas pessoas querem, elas fazem acontecer é lenda, não se passa de ladainha de quem não carrega nenhuma outra responsabilidade nas costas. Pessoas conectadas precisam ser responsáveis para sentir quando é a hora de acabar. Não há nada de errado nisso. Ciclos começam e terminam. Essa é a beleza da passagem da vida. Foi movida por essas reflexões que ela, sempre destemida, cansou de se frear e fazer o que era óbvio. Imersa por uma onda de coragem, tomou a iniciativa para soltar as palavras que rondavam a cabeça dos dois há algum tempo, mas que, por receios e consideração, nunca haviam sido ditas em voz alta.
Até aquele instante.
Um de frente para o outro, transbordando sinceridade e transparência. Os dedos deles que estavam entrelaçados se apertaram com força.
, não dá mais. Precisamos terminar.
Era melhor terminar bem, na medida do possível, a aguardar que as coisas ficassem feias.
Ela fora atormentada por incertezas por muito tempo. Isso por si só era um sinal de que algo estava errado. Pouco a pouco, a mulher se deu conta de que o estilo de vida que estavam levando não era saudável. Nesse processo de descobrimento, a pior parte foi quando a dúvida de que eles deveriam se separar virou uma certeza.
Doía.
— Eu sei.
Eles sobreviveriam.


FIM

Um coração apaixonado era capaz de dedilhar até as canções mais doces, contudo um coração partido era o que completava álbuns e arrastava multidões. Era a dor que juntava as pessoas e causava comoções. Foi pensando nela que sua última obra foi lançada. Os momentos bons ficaram como um sonho. Em um palco, diante de milhares de pessoas, estava prestes a destruir em mais um show e roubar o coração dos fãs, da mesma maneira que haviam levado o dele.
— Boa noite, Brasil! Eu sou e hoje estou preparado para arrebentar!
A ovação no estádio fez o palco tremer, junto dele veio um arrepio que começou pelos braços e se espalhou por todo o corpo. Ele sempre estaria onde queria estar e não havia outro lugar naquele momento que ele desejaria estar.


FIM



Nota da autora: Socorro! É tão difícil tentar entrar na pele de uma sad girl quando o momento da vida não permite isso [risos nervosos]. A quantidade de autoras incríveis nesse ficstape me deixou um pouco apreensiva também, não vou mentir rs. Isso tudo culminou no resultado que viram. Bom, espero ter conseguido fazer jus à música, nem que seja um pouquinho! Acho que dei uma bola curva em algum momento dos versos KKKK. Mas estou muito emocionada pela oportunidade de participar desse projeto? Sinhe! Ao mesmo tempo, aliviada de finalmente estar soltando a mãozinha da música. Se você chegou até aqui, toma os meus eternos agradecimentos pela leitura. <3 Se cuidem, tentem ficar bem!

Beijos,
Ale.



Outras Fanfics:
Universo de Harry Potter:
Felicitatem Momentaneum (principais interativos)
Finally Champion (Olívio Wood é o principal)
Finally the Refreshments (continuação de Finally Champion — restrita)

Ficstapes:
04. Bigger
05. Mobile
06. Let Me Love You (restrita)
09. I Don't Have To Try
10. Fuego (restrita)

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