Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Flashing lights and we took a wrong turn and we fell down a rabbit hole/You held on tight to me ‘cause nothing’s as it seems and spinning out of control

As luzes dançavam no interior da boate, iluminando os corpos que mexiam-se conforme o ritmo das músicas tocadas pelo DJ. encontrava-se perdida no meio da aglomeração de corpos suado e nojentos, enquanto tentava inutilmente procurar suas amigas no meio da multidão. Caminhou com dificuldade até o bar, sentando-se em uma das banquetas. Ignorou o barman que veio até ela, frustrada e indignada. Não conhecia ninguém ali e temia não conseguir ao menos chegar à saída sozinha. Onde estaria Lily e Sophia? Iria matá-las. Não deveria ter cedido à insistência delas, deveria ter ficado em casa estudando para ser aprovada em uma universidade no final do ano. Ali não era seu lugar, estava completamente deslocada... Se seu pai descobrisse o que havia feito, a mataria! Não podia desobedecê-lo apenas porque ele havia viajado para longe. Se bem suas amigas tinha razão. Também não podia ficar sempre trancada dentro de casa, apenas estudando e fazendo e fazendo tarefas domiciliares. Era adolescente, tinha que aproveitar a vida, principalmente o último ano do colegial! Mas com a família que possuía... No que estava pensando? Não tinha tempo para aproveitar a adolescência. Tinha que cuidar de sua mãe, cuidar de seu pai, estudar, cuidar da casa... Não tinha tempo para desperdiçar. Perdida em pensamentos, levou um susto quando um rapaz sentou-se ao seu lado, suspirando, aparentemente frustrado. Observou-o por alguns instantes, suas grossas sobrancelhas estavam o tempo todo franzidas, os lábios apertados um contra o outro; sua expressão era dura. À luz colorida da boate, ele parecia ter pele morena, seu cabelo era negro e ainda não havia conseguido ver a cor de seus olhos, visto que o rapaz olhava fixamente para o celular que tinha em mãos. De repente ele jogou o aparelho no balcão, assustando-a novamente.
- Perdeu alguma coisa? – perguntou, quase gritando devido a musica alta.
- O-o quê? – gaguejou , surpreendida pela pergunta inesperada.
- Perguntei se você perdeu alguma coisa. Em mim. Não parou de me olhar desde que eu sentei aqui. – Observou, ao ver a expressão confusa da menina.
- Ah, não, não. Me desculpe, eu estava... Estava só pensando. Desculpe, não percebi que te olhava. – tentou desconversar. O rapaz a ignorou, olhando ao redor da boate abarrotada. Ela continuou a observá-lo, agora pensando em como seus olhos verdes eram tão grandes e brilhantes e combinavam perfeitamente com seu tom de pele. O rapaz tornou a olhá-la, fazendo-a corar e desviar o olhar. O quão petulante estava sendo! Não se encara alguém assim, ainda mais quando esse alguém era um rapaz tão bonito como o que estava a seu lado, agora encarando-a e fazendo suas bochechas arderem. Remexeu-se inquieta em seu banco, pensando em como sair dali, quando o rapaz suspirou novamente.
- Desculpe-me. – olhou para ele, novamente confusa. – Eu fui um pouco rude com você.
-Ah, não, sem problemas. Eu é que não devia estar te encarando.
- então você estava mesmo me olhando?! Você disse que “estava só pensando”! – fez o gesto de aspas com as mãos.
- N-não, eu... Na verdade, quero dizer...
- Relaxa – tranquilizou-a o rapaz. – Eu estava só brincando com você.
- Ah. Sim, claro, tudo bem. – sorriu nervosa.
- Você não costuma frequentar lugares como esse né? – indagou o rapaz, curioso.
- Como você sabe?
- É que você esta claramente desconfortável. – respondeu.
- Nossa, está tão na cara assim? – riu, acompanhada da risada do garoto. – É, eu não sou de sair muito. Na verdade, é a primeira vez que eu saio à noite sem estar acompanhada dos meus pais.
- Sério? – surpreendeu-se. – E você veio sozinha?
- Não, eu vim com umas amigas. Mas eu me perdi delas no meio dessa multidão, e não sei o que fazer.
- Aham. – assentiu o garoto.
- E você? – perguntou.
- Eu o quê?
- Costuma frequentar esses lugares frequentemente? – questionou .
- Ah, não. Só quando eu quero dar uma escapada dos problemas. O que acontece quase sempre, mas enfim.
- Hmm. E hoje é uma dessas noites?
- Que dias?
- Que você quer “escapar dos problemas”.
- Sim. É sim.
- Quer conversar sobre? – Perguntou , depois de um tempo em silêncio. Temia estar sendo inconveniente, mas gostava de conversar com as pessoas e ouvir seus problemas. – Desculpe se eu pareci metida demais, se não quiser tudo bem.
- Sabe que... Nunca conversei com alguém sobre isso?
- Sério? É bom conversar sobre os problemas às vezes. A pessoa pode te ajudar a ver uma solução que você nunca enxergaria sozinho. – deu de ombros.
- Que tal uma caminhada? Conversar aqui dentro não será muito produtivo...
- Claro, se você se sentir mais a vontade, tudo bem. – Sorriu, estendendo-lhe a mão. – A propósito, meu nome é .
- . – apertou a mão da menina, guiando-a pelo caminho até a saída.
esperou que estivessem um pouco longe do clube para começar a falar novamente.
- Então, , sou toda ouvidos. – sorriu. – O que te trouxe àquela boate, justo no dia de hoje?
- Então... Tem certeza de que quer ouvir mesmo?
- Claro que sim. Se você estiver disposto a contar, né.
- Eu meio que fugi de casa, sabe? Não é a primeira vez que faço isso, geralmente eu volto pela manhã.
- E por que você foge?
- É complicado... - o rapaz suspirou, recebendo um olhar de compreensão e carinho por parte de . Sabia que não deveria falar sobre sua vida pessoal e seus problemas para qualquer pessoa, mas estava se sentindo tão incrivelmente bem com a presença de a seu lado, que quando viu já estava desabafando. - Eu moro com meus pais, desde sempre. Nós éramos uma família feliz, eles sempre me levavam ao parquinho quando eu era criança, meu pai brincava comigo e minha mãe nos olhava com tanta ternura, sabe? Eu não sei como isso foi acabar... Só sei que, do nada, meu pai começou a frequentar uns bares de esquina. No começo ele ficava umas duas horinhas, no máximo, depois foi se folgando, começou a chegar tarde em casa. Minha mãe não gostou nada da atitude e eles começaram a brigar. Uma briga aqui, outra lá, meu pai chegava cada vez mais tarde em casa e cada vez mais bêbado. Um dia, ela trancou a porta e não deixou ele entrar quando chegou, de madrugada. Ele estava podre de bêbado e ficou furioso, quebrou uma janela e entrou por lá; quando minha mãe foi conversar com ele, recebeu um soco no olho direito. Ela ainda quis revidar e discutir mais ainda, o que só serviu para deixá-lo com mais raiva. E assim começou, ele batia nela quando ela reclamava, batia quando ela ficava quieta, batia a hora que ele bem entendesse... Eu tinha uns 9 anos, era bem pirralho ainda para entender, mas lá pelos meus 12 anos eu já não aguentava mais ver minha mãe naquela situação. Não entendia o porquê daquilo, mas sabia que não era certo. Nenhuma das mães dos meus amigos apanhava. Então eu comecei a ficar com muita raiva dele, e de mim também, pois não fazia nada para ajudá-la. Um dia, quando ele chegou lá pelas tantas da madrugada, eu não quis deixar ele bater nela e me coloquei no meio, ignorando os avisos dela e pedidos para que eu saísse dali. Naquele dia, meu pai usou das mais variadas palavras de baixo calão para me xingar e como eu não saí do meio dos dois, me surrou também. Fiz isso duas vezes. Eu achava certo pelo menos apanhar junto com ela, já que não conseguia fazê-lo poupá-la, mas parei por que ela me implorou e me fez jurar que eu não me meteria mais nisso, que um dia ele parava. Lógico que depois de anos ele ainda não parou... Parece até que ficou mais forte. Eu tentei pará-lo algumas vezes depois de grande, mas de nada adianta, agora. Ele já é um alcoólatra fodido. - O olhar de vagava pelo outro lado da rua, mas não prestava realmente atenção no que via. Sua mente estava longe, como se as cenas que acabara de compartilhar dançassem à sua frente.
- E sua mãe nunca pediu ajuda? - questionou delicadamente, com medo de invadir demais a vida de .
- Ela tentou, sabe? - deu de ombros - Tentou conversar com uma colega do trabalho, mas ele descobriu e, além de surrá-la, ameaçou-a. Se ela procurasse ajuda de novo ele a mataria... Então ela não fez mais nada, já estava meio que desconfiada. E foi por isso que fugi. Tem dia que eu fico no meu quarto, coloco uma música pra tocar no máximo volume e passo a noite assim. Mas tem dia, como hoje, que eu não tenho saco pra aguentar os gritos dele e tenho medo de fazer algo que não deveria, então eu simplesmente saio de casa e volto quase no amanhecer, quando eu sei que ele já estará no sétimo sono. Essa é a minha lida. - suspirou cansado. - Desculpe, eu falei demais. Seus ouvidos devem estar doendo. - sorriu de canto.
- Não, não estão. Eu gosto de conversar e escutar as pessoas, os problemas delas, sabe? Me fazem esquecer os meus próprios. - deu de ombros.
- Então você também é problemática? Nem dá pra imaginar. A não ser, claro, pelo fato de você ser superprotegida e não poder sair de casa. - brincou, fazendo Rebeca sorrir. - Aposto que não são tão grandes como o meu.
- Talvez. - Ponderou ela, recebendo um olhar inquisitivo da parte de . - O que foi?
- Pode começar. Quero ouvir sua história.
- O que? Ah, não. Você não vai querer ouvir...
- "Aaah não" digo eu, dona . Eu contei minha vida inteira praticamente, e você não vai contar a sua? Direitos iguais, oras! - argumentou, arrancando risadas da garota.
- Tudo bem - abraçou os próprios braços - Bem, por onde começar...
- Geralmente a gente começa pelo começo mesmo.
- Não diga?! Bom, eu sou filha única, sabe, e por isso meu pai sempre foi muito protetor, como você falou. Mas não um "protetor" bom, sabe? É um "protetor" ignorante e machista. A começar por meus pais serem de idade mais avançada, ele acha que a gente congelou no tempo e eu tenho que ser igual às irmãs dele, tipo, cuidando da casa o tempo inteiro, essas coisas. Olha, dou graças a Deus que a gente não mora no campo, ele seria capaz de me botar pra trabalhar na roça. Outro fator positivo também é que ele não me obrigou a casar com uns 14 anos, por aí. Isso foi muito bom. Mas ele é muito mente fechada, sabe? Pra ele eu tenho que ficar o dia inteiro dentro de casa, cuidando de meus afazeres domésticos e estudando. Trabalhando e estudando. Vendo assim ele não parece tão errado, mas ele me priva de qualquer contato social, sabe? Minhas amigas só podem ir à minha casa quando ele não está - assim ele não fica sabendo - e eu nunca posso ir à delas. Rapazes, então, misericórdia. Quanto mais longe, melhor. Pra ajudar ele ainda é militar... Minha mãe sempre falou que ele era "durão", mas ele era um ogro mesmo. Grosso, mal educado, sem respeito nenhum por ela... Quando eu nasci ela disse que isso melhorou um pouco, mas ainda assim, ele não deixou o lado turrão de lado. E, assim como faz comigo, ele começou a não deixar minha mãe sair de casa, principalmente depois que ela engravidou. Era quase um cárcere privado, sabe? E ele era muito ciumento. Qualquer coisinha ele já achava que ela estava dando mole pra outro cara ou que algum homem estava dando em cima dela. E isso desencadeava vááárias discussões... Ele nunca chegou a bater nela, mas eles brigavam feio. E quando eu nasci, minha mãe teve depressão pós-parto, e ele, como bom ignorante, brigava com ela dia e noite por que eu vivia chorando, por que ela não cuidava de mim direito e vivia com "aquela cara de morta", como dizia ele. Passou um tempo, minha mãe melhorou e meu pai ficou um pouco mais frouxo por minha causa. Ele se derretia pela menininha dele, mas nunca demonstrava ou admitia. E, com o passar do tempo, ele foi ficando mais velho e voltando a ser o ogro de antes... Até que minha mãe entrou em depressão novamente, dessa vez de uma forma muito pior. Ele faz o tratamento dela tudo de qualquer jeito, sabe; parece que não tá nem aí pra ela, e no fim sobra tudo pra mim. Já que ela está de cama e ele ficou ainda pior por isso, tudo cai sobre meus ombros: cuidar da casa, cuidar da minha mãe, cuidar dele, estudar e, quem sabe, cuidar de mim um pouco... - suspirou - É isso. Essa é minha trágica história de vida. - fez aspas com as mãos, sorrindo timidamente.
- E sua mãe ainda está doente? Muito? - indagou , preocupado.
- Sim. Quer dizer, há dias em que ela está bem, sabe. Até se arrisca em sair da cama, dá um sorrisinho... Mas, para um dia assim, ela fica dez afundada na cama... Hoje foi um dos dias em que ela estava mais boazinha, quer dizer, super boazinha, pois até me encorajou a sair de casa...
- Ainda bem. Se você não tivesse saído talvez nós nunca nos encontrássemos naquele clube, né?
- Quem sabe? - deu de ombros.
- Nossa, é tão estranho como tu olha pra alguém e pensa que a pessoa não tem nada, não sofre com nada, não luta por nada, mas, na real, ela é deve ser cheia de problemas e dilemas, né? Olhe para você. Eu nunca imaginaria que você tem um pai provavelmente furioso por que você fugiu de casa enquanto sua mãe está doente...
- Ei, quem disse que eu fugi de casa? Meu pai foi viajar, ele nem sabe que eu estou fora de casa uma hora dessas.
- Uuuuuuuh, que rebelde. - tirou sarro, fazendo bater levemente em seu ombro. Um arrepio percorreu toda a extensão de seu braço, fazendo-o encolher-se. pareceu não perceber.
- Sem graça - mostrou a língua a ele, como uma criança. - Além de sair sem permissão dele, me perdi das meninas e não sei como voltar pra casa, e olha só: já é madrugada! - exclamou irônica.
- Com isso você não precisa se preocupar, oras. Eu não estou aqui?
- Sim, mas... - o comentário pegou-a desprevenida. Estaria ele se oferecendo para acompanhá-la?
- Nada de "mas". Não vou voltar para casa agora e, além disso, eu não te deixaria andar pela cidade sozinha a essa hora. Você mesma falou que não sabe voltar.
- , eu agradeço muito, mas realmente não precisa. Quer dizer, você já tem muito com o que se preocupar, não tem cabimento eu te incomodar também. - argumentou .
- Não será incômodo. Eu mesmo me dispus, ué. Está decidido; partimos quando você desejar. - o encarava, ainda sem acreditar. Não sabia para que lado ficava sua casa, mas sabia que não era perto. E se...
- Como posso confiar em você? - dessa vez, foi quem se surpreendeu.
- O quê?
- É, tipo, como eu vou saber se você não é um pedófilo, um ladrão, um marginal querendo descobrir onde é a minha casa para depois roubá-la, vender os objetos roubados e comprar drogas?
- Nossa. Uau. - balbuciou . A vontade de rir era grande, mas a menina o encarava sem expressão, e ele não soube se ela falava sério. - Você tá falando sério?
- Sei lá, ué. Vai saber. - deu de ombros e continuou a andar. E então começou a gargalhar. - Do que você tá rindo? - virou-se de frente para .
- Nada, nada. Vamos andando. Se eu não me engano, em algum ponto da noite você comentou que seu pai era militar... Se eu fosse qualquer um desses tipos que você citou, eu nem estaria mais aqui, né?
- Nunca se sabe. Enfim. Vai me levar pra casa mesmo?
- Ahhh, agora você quer minha companhia? - sorriu .
- Melhor do que nada, ué. Não quero mesmo sair por aí sozinha.
- Tudo bem. Mas só por que eu sou uma pessoa muito boa.
- Aham, tá.
- E você vai ficar me devendo uma.
- Podemos ir logo? - arqueou as sobrancelhas, fazendo rir. Os dois caminharam mais um pouco, enquanto dava o nome do bairro e da rua em que morava. Não era muito perto, mas omitiu esse fato e convidou a ir caminhando. A noite estava bonita, fresca e estava gostando muito da companhia de . E o mesmo podia ser dito da parte dela. O fato é que, juntos, ambos esqueciam os problemas que tinham e se sentiam muito bem com a presença do outro a seu lado. Era uma sensação nova, de liberdade, que a cada segundo crescia. Como poderia? Afinal, haviam se conhecido apenas há algumas horas! não tinha conhecimento da explicação, muito menos . Durante toda a longa caminhada eles riram, conversaram sobre assuntos banais, e conheceram-se melhor. já sabia que não gostava de pizza, sua cor favorita era azul e percebia que ela estava perdendo a timidez que tinha no início da noite; enquanto descobrira que era canhoto, não gostava de futebol e, por sua vez, tinha a pizza como refeição favorita. Eram pequenas coisas, que fizeram grandes diferenças na vida dos dois.
- É aqui. - Pronunciou-se , ao chegarem à frente de sua casa.
- Mesmo? Não acredito que já chegamos! Bonita casa... - observava a residência atrás da garota, enquanto ela o olhava com um singelo sorriso.
- Na verdade, - disse ela risonha - a minha casa é aquela. - Apontou para a casa que havia do outro lado da rua, em sua direção.
- Ah, sim. Bonita também. - respondeu, meio sem jeito. sorriu, cruzando as mão atrás de seu corpo, enquanto a olhava, sem saber o que dizer. Não queria que a noite acabasse, o estava fazendo tão bem! Como faz para estender a noite?
- Então... Vou indo. Já fiquei tempo demais fora de casa.
- Quando nos vemos novamente? - questionou .
- Como assim?
- Você não achou que eu não ia querer te ver novamente, achou? Porque Depois dessa noite incrível, é claro que eu quero.
- Ahn... Eu não sei se você lembra, mas eu não posso sair de casa. E de jeito nenhum você pode aparecer aqui, a não ser que queira ser morto pelo meu pai.
- Você estuda, não estuda?
- Lógico que sim. No St Peter's, por quê?
- Que horas você entra?
- Entro às 7h15 e saio às 12:30, mas o que isso tem a ver...
- Então tá decidido. Vai ser nesse horário que nós vamos nos ver.
- O que? Espera...
- Boa noite, . Nos vemos na sua escola.
- , espera, você não pode... - Mas já estava longe, deixando sem ação e estupefata. Como assim "nos vemos na sua escola"? Por que queria vê-la novamente? Eram perguntas que não conseguia responder. Correu para dentro de casa, a fim de um banho quente e sua cama aconchegante. Depois de dar uma olhada na mãe, deitou e tentou dormir tranquilamente, mas as palavras de não saíam de sua mente. não saía de sua mente.

***

Didn't they tell us "don't rush into things"? Didn't you flash your green eyes at me? Haven't you heard what becomes of curious minds?

parou no meio da calçada enquanto andava, abarrotada de livros no braço esquerdo, tentando fechar um zíper da mochila com o direito. Só tentava mesmo, pois a mochila estava ganhando de 10 a 0.
- Que tal uma ajudinha? - Uma voz conhecida se fez presente por trás de si, bem próxima ao seu ouvido, fazendo arrepiar-se e assustar-se ao mesmo tempo.
- ! Quer me matar do coração? - A garota tentava se recuperar, enquanto o rapaz ria dela. - Dá pra parar? O que tá fazendo aqui? Você não ia me ajudar? - disparou ela, tentando não deixar-se levar pela risada contagiante dele.
- Ei, calma! Uma de cada vez... Não está feliz em me ver?
- Lógico que sim, mas...
- Então, nada de "mas". Bom dia pra você também. - sorriu e deu um rápido selinho em , rindo da cara que ela fez.
- ! - exclamou, roxa de vergonha. - Você ficou maluco? Tem um monte de gente aqui!
- Que por sinal, já desconfiam de que estamos juntos. , já faz mais de um mês e seu pai nem sonha que isso está acontecendo.
- Por que não era pra estar! Mas eu sou desobediente e irracional demais para agradá-lo sempre e completamente apaixonada por você para largá-lo, então eu tenho que apelar pro meio termo... Que foi? - olhava 'abestadamente' para a garota à sua frente, com um sorriso abobalhado crescendo cada vez mais em sua face.
-Repete. - pediu. - O que você acabou de falar.
- Que eu sou desobediente e irracional demais? - perguntou confusa.
- Não. Que você está completamente apaixonada por mim. - repetiu ele, fazendo-a corar mais do que achava possível. Ele sabia que ela iria gaguejar.
- N-não, eu, n-não foi, quer dizer...
interrompeu-a novamente, agora segurando seu rosto entre a palma de suas mão e beijando-a verdadeiramente.
- , para! A gente tá na rua da escola, olha o tanto de gente passando aqui! - implorou, surrando de uma maneira que mais parecia que estava gritando.
- E quem se importa com eles, ?! A única pessoa que me interessa nesse exato momento, está na minha frente e é a garota mais bonita de toda a cidade, a mais inteligente, a mais especial e... E... E eu também.
- Você também o que? - questionou ela, com os olhos brilhando.
- Eu também estou apaixonado por você. Céus, eu estou apaixonado! Por você!
- Shhhhhh - quase pulou em cima de , com a mão tapando sua boca, mas o rapaz se desviou e continuou a gritar.
- Eu estou apaixonado por você, . Você! - Abraçou-a radiante, transbordando alegria.
- , - o guiou até outra rua mais calma, saindo do movimento da rua da escola, onde quase todos os alunos pararam para presenciar a declaração dele. - Eu não vou negar o que disse antes, e você não tem noção de como eu estou feliz ao ouvi-lo dizer isso, mas a nossa situação é complicada, você sabe muito bem disso. E talvez por isso a gente não dê certo, talvez não seja certo, entende?
- , eu não me importo se o seu pai é militar, turrão ou qualquer coisa que ele possa ser. Eu não me importo em ter que te ver por meia hora em cada dia, não me importo de ser no seu caminho para a escola, por que são os melhores minutos do meu dia. Eu não me importo mais se meu pai chega de madrugada chapado e faz coisas que não deveria, porque eu sei que logo eu te verei, e isso vai ser a minha cura; com você tudo fica bom, tudo fica melhor. E é por isso que eu estou apaixonado por você e não me importo com mais nada que não seja você. Dá pra entender? - perguntou , olhando nos olhos de . Quanta coisa havia se passado durante esse mês... Depois que se conheceram na boate, cumpriu sua palavra e foi vê-la novamente, no horário em que ela ia e voltava da escola. As duas primeiras semanas passaram muito rápido e os encontros eram quase sempre a mesma coisa, mas a vontade de vê-la no outro dia só crescia, junto com a sua impaciência por ter que esperar. Com tudo parecia certo. Parecia não, era certo. E ele já nem se importava mais em ter que esperá-la na esquina da rua da casa dela, onde seu pai não poderia mais vê-la, para finalmente encontrá-la depois de um longo e agonizante dia. Ele deixou de se importar quando, na terceira semana, teve o impulso de beijá-la e realizou tal ato, sem ser rejeitado como pensou que seria. Dentro de crescia alguma coisa, que antes ele não conseguia identificar, mas agora pode. Amor. Paixão. estava definitivamente apaixonado por , por todas as suas inseguranças, todos seus cuidados, todos os defeitos que aos olhos dele não eram defeitos. estava apaixonado e era correspondido. Nada mais importava agora.
o abraçou fortemente, lutando para não deixar nenhuma lágrima cair. Aquilo era tudo tão novo e excitante, que dava certo medo. Mas ela não abriria mão daquilo por nada. Nem por seu pai, tão rude e grosseiro, nem por sua mãe que a irritava por nunca sair da cama nem da sua melancolia; nada. Nada a faria desistir daquele sentimento tão maravilhoso que só tinha conhecimento quando estava com .

Didn't it all seem new and exciting?/I felt your arms twisting around me/I should've slept with one eye open at night
***

- Isso é uma loucura. - Comentou . Estavam sentados no chão de uma rua sem saída e sem casas também, em plenas 7 horas e meia da manhã, fazendo um piquenique.
- O que? - perguntou .
- Isso. - Ela apontou para si e para o namorado (?) (não sabia como chamá-lo ainda).- Nós. Quero dizer, quem um dia iria pensar que eu estaria matando aula para ter meu desjejum com um garoto, escondida do meu pai? Isso é louco.
- Mais louco seria se seu pai aparecesse aqui do nada. -brincou .
- Deus nos livre, ficou retardado, é?
- Ai, eu estava apenas brincando. - jogou um pedaço de pão em , fazendo bico.
- Eu sei. Eu também. - ela aproximou-se e deitou no colo do rapaz. - É até engraçado, né? O jeito como nos conhecemos... Parece que imediatamente houve uma conexão entre nós. E olhe só onde estamos hoje...
- No começo você era só meu porto seguro, sabe? As coisas melhoravam sempre que eu estava com você, parecia que os problemas sumiam...
- Comigo também era assim. - sorria olhando as nuvens no céu.
- Ai depois eu me meti num problema maior né... Fui me deixar levar por seus encantos... - gargalhou, sendo acompanhado da risada gostosa dela.
- Você nunca resistiria. - estreitou os olhos, ainda rindo.
- Ainda bem. - sorriu largo.
- A maneira como nós nos conectamos, nos entendemos e nos damos bem, sendo suporte um para o outro... É como... Como...
- O país das Maravilhas? - arriscou .
- O País das Maravilhas? Mas o que tem a ver?
- Sei lá. É que tudo fica uma maravilha quando estamos juntos. Fica tipo um mundo só nosso, sabe? Nosso País das Maravilhas. - terminou dando piscadelas à de forma engraçada.
- É. Até que faz sentido. - concordou ela. - Queria poder me perder nesse País para sempre...
- E você pode, ué. O país só funciona com nós dois e, como eu não vou embora tão cedo, podemos nos perder nele para sempre. Não vai ser tão ruim. - riu com a lógica de . Mas, no fundo, queria que fosse tudo real.

***

Três meses. Três meses de pura felicidade, alegria e loucuras também. Três meses que poderia viver para sempre, sem reclamar. E logo no "aniversário" de namoro/encontro/rolo, seu pai recebe uma viagem da base onde trabalha, saindo já na manhã. , sabendo desse detalhe, convidou para um passeio a noite. Agora voltavam para casa, de mãos dadas, cada um com uma casquinha de flocos na mão livre. Intercalavam o tempo conversando e às vezes ficando em silêncio; não um silêncio desconfortável e agoniante, mas um silêncio bom.
- Gostou da noite? - perguntou .
- Amei! Não sabia que Cara Delevingne poderia ser tão boa atriz.
- Pois é. Gostou só do filme? - questionou brincalhão.
- Ah, não - entrou na brincadeira - a noite também está linda, né? E a pipoca, então? Nossa, estava divina! - começou a rir com a cara que ele fez. - Claro que a companhia também estava maravilhosa.
- Ainda bem que posso dizer o mesmo. - sorriu , abraçando-a pela cintura, selando seus lábios gelados pelo sorvete. - Adoro você assim, sabia?
- Assim como?
- Assim. Sem se preocupar com alguém estar nos vendo, ou com medo do seu pai aparecer do nada na nossa frente. - deu de ombros.
- Agora sou "vida loka". - gargalhou, fazendo caretas.
Logo chegaram à frente da casa de . Subiram os degraus da varanda e ficou no penúltimo, deixando ficar mais alta que ele.
- Boa noite, namorada. - arregalou os olhos e o sorriso, surpresa, abraçando-o pelos ombros.
- Namorada? - deu-lhe um selinho, enquanto confirmava com a cabeça. - Gosto disso. - sorriu, beijando-lhe mais uma vez.
- Posso saber que pouca vergonha é essa? - Perguntou uma voz grossa, que fez tremer desde a ponta do dedão até o último fio de cabelo.
- P-pai? - virou-se rapidamente, ficando de frente para o pai. , que ainda tinha as mãos na cintura dela, sentiu-a enrijecer o corpo. - O-o que o senhor está fazendo aqui? Não tinha ido viajar?
- Era isso o que você queria, não era? Que eu saísse da cidade pra você ficar se agarrando com algum marginalzinho por aí, não é?
- P-pai, eu...
- Senhor , na verdade...
- Em algum momento eu falei com você? , já para dentro. Não vou tolerar pouca vergonha de minha filha com um vagabundo qualquer pelas ruas. Entra.
- Senhor, com todo o respeito...
- , para dentro. Agora. E você, dê o fora daqui. - dispensou com um gesto de desprezo.
- Senhor, me desculpe, mas eu não vou tolerar isso. Não posso deixar levar a culpa sozinha, ela não estava fazendo algo errado só.
- Não quero saber o que você tem a ver com isso ou não, poupe-me de suas desculpas.
- Mas o senhor não pode...
-Não posso o que, exatamente? Vai me dizer como criar minha filha agora?
- Pai, por favor...
- Cale a boca! Já mandei você ir para dentro de casa, sua vagabundinha.
- Ei! Não fale assim com ela! – gritou, subindo o restante dos degraus e ficando frente a frente ao pai de .
- Eu já não mandei você dar o fora daqui, pivete? – Empurrou , que desequilibrou-se e quase saiu rolando degraus abaixo.
- Pai!
- Sai daqui! Vai pra dentro de uma vez! – Em um momento de irracionalidade, o pai de agrediu-a com um forte tapa no rosto. Nessa hora perdeu o restante de paciência e razão que ainda tinha e partiu para cima do homem.
Sr. , transbordando raiva, não poupou o rapaz; eram socos, tapas e chutes trocados, e gritando ao lado. Em um momento, tropeçou nos próprios pés e caiu escada a baixo, levando o adversário consigo.
- Pai, pare por favor! ! – implorava, sem ser atendida. Lágrimas caiam por seu rosto, o desespero começava a tomar conta de si. – Mãe! Mãe! Me ajuda, alguém, alguém me ajuda!
Não adiantava. Ela poderia estar morrendo, mas a mãe não sairia da merda daquela cama e ninguém passava pela rua no momento. Tentou aproximar-se dos dois para apartar a briga sozinha, mas tudo o que ganhou foi um soco na panturrilha, sem saber de quem. Os dois continuavam a rolar no chão. Seu pai estava com grande vantagem sobre , afinal era maior que o rapaz tanto na altura quanto no peso, sem contar que era um adolescente e seu pai um militar com mais de 30 anos de carreira. De repente, seu pai deu um soco tão forte no rosto de que ela pôde ouvir os estalos de algo se quebrando, provavelmente seu nariz. ficou meio dormente, largado no chão, enquanto o pai saía de cima dele e vinha em sua direção.
- O que foi que você fez? – chorava. – Pai, por que...
- Cale a boca e entre na porra da casa. – Agarrou-a pelo braço direito, levando-a a força para dentro da residência. resistiu, debatendo-se.
- Não! O que você fez com ? Eu preciso vê-lo! – debateu-se até, mesmo sem querer, arranhar o braço do pai com as unhas. Ele afrouxou o braço por dois segundos, o suficiente para a garota sair correndo em direção ao namorado. – , você está bem? Oh, Deus! – Exclamou, vendo o rosto todo ensanguentado do rapaz em seus braços. Pai, o que você fez?
- Dei a esse pivete o que ele merecia. Agora a minha conversa é com você. – agarrou-a pelos braços novamente, muito mais forte dessa vez. poderia debater-se o quanto quisesse e não conseguiria soltar-se novamente. Seu pai jogou-a para dentro da sala de estar, trancando a porta atrás de si.
- Pai, por que tudo isso? – não conseguia controlar as lágrimas que corriam pelo rosto.
- Por quê? Você ainda pergunta por quê? – esbravejou ele – Eu não criei você para sair vagabundeando por aí! Eu tentei, eu tentei te educar bem, tentei te fazer uma mulher decente, sempre dei do boas condições a você, tudo do bom e do melhor, paguei o melhor colégio por anos para passar numa boa universidade, e você me agradece virando uma piranha? Virou uma porca, relaxada, não fazia mais nada direito dentro de casa! E pensa que eu não vi suas notas horríveis nas provas, ? Tudo por causa daquele marginal vagabundo, tudo por homem! Você virou uma vagabunda!
- Você tem noção do que está dizendo? – questionou , tomando coragem, finalmente, para enfrentar o pai. – Quer saber? Eu cansei. Cansei! Cansei de ser tratada como uma empregada o dia inteiro, cansei de não poder sair de casa e ter uma vida normal, cansei de ter uma mãe praticamente morta dentro de casa que não serve pra nada, cansei de ter um ditador debaixo do mesmo teto que eu! Sabe por que eu comecei a sair com ? Por que ele me entende! Ele me entende, e melhor do que isso, me faz esquecer toda a minha vida de merda que tenho quando estou com ele! É por isso que eu o amo!
- Vadia! – Gritou, dando outro tapa no rosto da própria filha. – Vadia, é isso o que você é! Vagabunda!
- Quer saber? Pense o que quiser. Não devo satisfações a você. – deu as costas ao pai, em direção ao seu quarto.
- Não deve satisfações? – a essa altura, seu rosto estava roxo, mas não transpassava toda a ira que tinha dentro de si. – Eu pago tuas contas, te dou teto, comida toda merda a mais que você precisa e você não me deve satisfações? – não respondeu. Encarou o pai com o rosto totalmente sem expressão. – Quer saber? Você não é minha filha. Não sei quem você é, ou o que você se tornou. Sai. – dirigiu-se à porta, abrindo-a. – Sai, agora.
- O que? Como...
- SAI! – berrou; uma veia saltou em seu pescoço. – Eu não quero mais ver você aqui! Você não é a que eu criei, vai embora!
- V-você está me expulsando de casa?
- Estou. Vou dar dez minutos para juntar todos os trapos que precisar. Não quero ter que olhar para sua casa nunca mais. E se, depois de dez minutos, eu descer e te encontrar aqui ainda, te chuto para fora apenas com tua roupa do corpo. – deu as costas à , subindo ao segundo andar e trancando-se no quarto.
estacou no chão, atônita, totalmente surpresa, irada e com medo. Não esperava uma reação com essa; de seu pai esperava qualquer coisa, mas nada tão... Já nem sentia mais as lágrimas caírem. Correu para o quarto sem saber o que fazer. De uma coisa sabia: o pai falara sério. Pegou sua mochila, tirou os materiais escolares e enfiou ali toda a roupa e objetos que achava que precisaria. Deu uma rápida olhada ao redor do quarto, sentindo a garganta queimar. Não demorou ali, pois sabia que se demorasse não conseguiria ir embora. Desceu as escadas, apressada, passando pela sala em direção à porta. Antes de sair, parou e voltou o olhar para a estante da sala, mais precisamente para a terceira gaveta à sua esquerda. Sabia que era ali que o pai guardava um dinheiro extra, caso precisasse, e não pensou duas vezes antes de abrir a gaveta e pegar todo o dinheiro que ali havia. Depois, saiu sem olhar para trás, totalmente sem rumo.
Ao mesmo tempo, descia de um táxi à frente de sua casa, com o rosto todo latejando. Abriu a porta da casa e deparou-se com sua mãe encolhida num canto do sofá, chorando. Não entendeu o motivo e, ao aproximar-se dela, descobriu: Seu pai havia chego cedo hoje. Justo hoje.
- Onde você estava, pivete? – Questionou uma voz atrás de si. fechou os olhos e inspirou vagarosamente pelo nariz. – Que merda é essa de eu chegar em casa e você não estar aqui? E eu querendo passar a noite com a minha querida família... – Seu pai passou ao seu lado, fazendo seu estômago embrulhar com o mau cheiro de bebida que saía de sua boca. Passou rente a si, em direção à sua mãe. Tudo o que queria era ir para o quarto, então deu as costas ao casal e começou a andar.
- Ei, ei, ei, ei, onde é que você pensa que vai? Volta aqui, não terminei de falar com você ainda! – virou-se de frente para o pai, vendo seu rosto passar de surpresa para raiva. – O que aconteceu com você? Puta que pariu você tá metido com drogas?
- O que? Tá ficando louco? – questionou . Essa não era a reação que esperava.
- Seu filho da puta, você tá metido com drogas, sim! Miserável, ficou devendo pro traficante e levou uma surra, não foi? Claro que foi, olha o olho dele, mulher! Tá vermelho! É olho de maconheiro! Vagabundo, e esse bafo de bebida?
- Você tá é confundindo seu próprio bafo.
- Cala a boca! Cala a boca, porra, tá me tirando? – gritou o homem, quase colando o próprio rosto no rosto do filho. – Filho da puta... – deu tapas nos braços de . – Não foi pra isso que eu te fiz, vagabundo. Tá todo arrebentado por quê? Comeu a putinha do patrão, foi? – gargalhou, enojando cada vez mais. – Sai daqui! Marginal! Vagabundo, filho da puta! Você sabia, não sabia, mulher? Você sabia de tudo, vagabunda! – Deu um soco no rosto da mulher.
- Ei, para com isso! – interviu, empurrando o pai.
- Me larga! – Empurrou o rapaz, dando um soco em seu rosto também. , que já estava meio tonto da briga com o pai de , ficou mais lento ainda, sem conseguir revidar. – Perdeu o juízo, pivete? Quer saber? Não quero viciado na minha casa! Não quero! Vaza daqui! – Correu ao quarto de , pegando roupas, objetos e demais coisas que haviam ao seu alcance. – Não quero! Não quero!
- Amor, pare! – interviu a mãe de , apenas para apanhar mais uma vez. , sem forças para reagir, apenas pegou uma mochila que encontrara por ali e colocou algumas peças de roupa dentro. Foi para o quarto, contra os avisos do pai, apenas para pegar um dinheiro que vinha economizando há tempos. Com seu pai gritando para que saísse da casa e sua mãe gritando para que o pai parasse, saiu de casa. Sem rumo, machucado, com a cabeça latejando e os reflexos lentos.
andara até o centro da cidade, sem saber o que fazer e totalmente preocupada com . Não sabia onde ele morava e não sabia se ele havia realmente chegado em casa. Pensando no namorado, passou por um orelhão e lembrou-se de que ele tinha passado o número do seu celular para ela, caso acontecesse alguma coisa, e a tinha feito decorá-lo. Saiu em busca de um orelhão, torcendo para que atendesse. Um, dois, três, quatro toques. O coração de acelerava-se. atendeu no último toque.
- Alô? – disse com a voz arrastada.
- ! Graças a Deus! Como você está? – questionou aflita.
- ? O que aconteceu? Onde você está?
- Isso não importa, como você está? Ah, , eu sinto tanto! – Sentia vontade de chorar novamente.
- , por que está me ligando de um orelhão? Onde você está?
- Aqui na praça da rua 22...
- Você está no centro? – indagou, surpreso. – Com quem você está? O que aconteceu para você ir para aí? Já é tão tarde, é perigoso você ficar sozinha a essa hora! Não saia daí, eu chego em 10 minutos.
- , calma! Sim, estou sozinha, mas estou bem. Você não precisa...
- , não saia daí. – Desligou a ligação, sem mais nem menos.
o esperou, apreensiva. Não mais de dez minutos depois, um táxi contornava a praça, parando atrás do banco onde estava sentada. Observou pagar o motorista e sair do carro, vindo ao seu encontro. iria esperá-lo sentada, mas conforme ele se aproximava a luz dos postes a faziam perceber seu rosto todo machucado, e então saiu correndo em sua direção.
- ! Você não cuidou desses machucados ainda?! Ah meu Deus, o que meu pai fez com você?
- , não se preocupe comigo. Por que você está aqui?
- Longa história – suspirou, após dar um abraço apertado no rapaz. – Mas primeiro vamos a uma farmácia para fazer um curativo no seu rosto. E não adianta dizer protestar.
Andaram umas três quadras até uma farmácia 24hrs; fez o curativo em e ambos contaram o que acontecera em suas respectivas casas.
- Eu não acredito que ele te expulsou de casa! – Indignou-se .
- Nem eu. É surreal, sabe? Nunca pensei que ele seria capaz disso. Quero dizer, que tipo de pai expulsa a própria filha? Sem contar o tanto que ele me xingou... – suspirou , brincando com os dedos de . – E agora, o que fazemos? Até o seu pai te expulsou de casa! Não temos para onde ir, , o que faremos? – sentiu a garganta queimar e as lágrimas formarem-se em seus olhos.
- Ei, calma. – abraçou-a, fazendo carinho em sua cabeça. – O que você acha de nós sairmos da cidade? Eu trouxe um dinheiro que tinha guardado...
- O que? – levantou a cabeça bruscamente. – Vamos fugir?
- Não literalmente. Não temos do que fugir. Vamos só... Embora. Para alguma cidade vizinha. Não temos nada a perder, , nem nada a nos prender aqui. A gente fica num hotel, e eu arranjo um emprego, não deve ser difícil... O que você diz?
- Não sei, ... Nós somos adolescentes ainda, você recém chegou à maioridade! Sairmos sozinhos por aí... Você não sente medo?
- Não. – segurou as mãos da garota entre as suas. – E você também não precisa sentir. Estaremos juntos, e eu não vou deixar nada te acontecer. Eu prometo. Eu só... Cansei dessa vida, sabe? Sempre sofrendo, pagando o preço por algo que eu não fiz, carregando uma cruz que eu não merecia. Vamos nós dois começar nossa vida. O que acha? Deixo você escolher para onde vamos – sorriu timidamente. – Não sendo um lugar longe, claro. Não tenho tanto dinheiro assim. – riu.
- Casa eu já não tenho mesmo... E tenho você, que melhora minha vida em 1000%. O que temos a perder, não é? – Sorriu, acompanhada de . O rapaz a beijou, e foram andando até a estação de trem.

So we went on our way/Too in love to think straight/All alone, or so it seemed

***
Os dias passavam rápido para e devagar para . Enquanto ele trabalhava durante o dia todo, ela ficava na pensão que haviam encontrado, numa cidade não muito longe da sua cidade natal. Às vezes ajudava a Sra. Margareth, dona da pensão, na cozinha ou limpando os cômodos, mas parecia que o tédio já era uma parte de seu corpo. Estava tão acostumada a estar sempre atarefada, fazendo mil coisas ao mesmo tempo em casa, que ali ela estava a ponto de enlouquecer. Por vezes se pegava pensando nos pais, principalmente mãe, que largara para trás. Tentava não lembrar deles, pois a saudade batia e depois se lembrava do dia em que seu próprio pai a colocara para fora, enchendo-se de raiva. Mas a vida ali era muito parada, e não tinha a seu lado sempre, como achou que teria. Estava começando a se arrepender de ter deixado tudo para trás, principalmente os estudos. Sempre sonhou em sair da escola e adentrar numa boa universidade, agora isso já não era mais possível. Passou o resto da tarde na frente de televisão; chegou quando já anoitecia.
- Boa noite, amor. – Deu um beijo na testa da garota, que abriu um sorriso.
- Oi. Como foi seu dia?
- Cansativo. Super cansativo. O que tem pra jantar? – perguntou, jogando-se no sofá.
- Ih amor... Esqueci de fazer seu jantar. – disse tentando fazer uma carinha fofa, para que o namorado não ficasse bravo.
- Poxa, , nada? O que você fez hoje?
- Nada, também. Não tem nada pra fazer aqui. – deu de ombros.
- Você ficou o dia inteiro morgando no sofá enquanto eu fiquei ralando no serviço, chego quase morto em casa e você não fez nada?! Caramba, hein.
- Ei, desculpa! Também não precisa falar assim. Quer um miojo?
- Miojo, ? Tá me tirando?
- Não, ué. Miojo por acaso não é comida? – perguntou, inocentemente. riu irônico, balançando a cabeça.
- Deixa pra lá. Vou comer fora. – subiu para o quarto, a fim de trocar de tomar banho para sair.
- Como assim comer fora? Eu passo o dia inteiro sozinha esperando você chegar em casa pra finalmente termos um tempo só para nós dois e você ainda vai sair?
- Morrer de fome é que eu não vou, caramba! – gritou, fazendo encolher-se. Respirou fundo, tentando acalmar-se. – Desculpa. Amanhã estou de folga, podemos passar o dia juntos, está bem? Agora, dá licença. – Passou por ela, deixando-a indignada.
desceu, emburrada, e voltou a assistir algo que passava na televisão. Não percebeu quando saiu, sem despedir-se, mas pensava em seu comportamento durante os últimos dias. parecia mais distante, alienado, não parecia mais o mesmo . Ultimamente ele estava sempre irritado com alguma coisa e os dois acabavam discutindo. No começo, eram apenas conversas calorosas, mas foi perdendo a paciência e também. Chegavam a gritar um com o outro e não sabia por que. Não sabia como as coisas tinham ido parar ali, e não estava gostando nada do que estava acontecendo. Cansada de não fazer nada e ficar remoendo o porquê da mudança de comportamento de , subiu ao quarto para dormir. Também não viu quando ele chegou à pensão ou quando deitou. Acordou na manhã seguinte com o namorado ao lado, jogado de qualquer jeito na cama, com a roupa que havia saído na noite anterior. Decidiu ir ao mercado comprar algo diferente para o almoço, para agradá-lo. Fez sua higiene matinal, arrumou-se e saiu. Fez as compras normalmente, no mercado que havia a duas quadras da pensão e voltava para lá tranquilamente, quando alguém a chamou.
- ? – Virou-se, que a chamava era um homem de uns quarentas anos, que nunca havia visto antes. – ? – Como ele sabia seu nome?
- Desculpe, o senhor me chamou? – questionou, desconfiada.
- Ah, sim. Graças a Deus. Até que enfim te encontrei, mocinha! – sorriu o homem. o encarava séria. – Desculpe, não no conhecemos. Eu sou o Doutor Alberto Schneider, advogado de seu pai. Ele me pediu que a procurasse por toda e qualquer cidade perto de onde você mora. Logo depois que você fugiu...
- Fugi nada. Ele me expulsou! – interveio.
- Sim, sim. Depois que ele a expulsou de casa e não a encontrou em canto nenhum da cidade, ele quase foi à loucura. Desde então temos trabalhado inacessivelmente atrás de você e do rapaz que sumiu também . Seu pai pediu que, quando eu a encontrasse te passasse um recado: Ele está muito arrependido, . Entende perfeitamente se você estiver com raiva ou algo do tipo, mas ele quer muito conversar com você, para vocês se acertarem, sabe? A situação da sua mãe está cada dia mais difícil, e ele não consegue viver sem você, . Não só para cuidar da casa, ou de sua mãe, mas ele sente falta da filha. E se arrepende muito, de tudo o que disse a você naquela noite. Ele disse que entenderia caso você não quisesse voltar, mas pense bem, ok? Não queira passar anos brigada com sua família, , eles são tudo o que você tem. Pense nisso. – Alberto deu dois tapinhas no braço da menina e saiu, sem dizer mais nada. voltou para casa atordoada, sem saber no que pensar. Não gostava da situação em que se encontrava e queria fazer as pazes com o pai, sentia muita falta de sua verdadeira casa, mas tinha receio de que o reencontro não saísse muito bem.
- Onde você estava? – questionou , assim que pôs os pés para dentro de casa, mas a garota não deu ouvidos. Foi em direção à cozinha colocar as compras na bancada. – ? Eu falei com você.
- – disse, com a voz baixa, ao virar-se para o rapaz. – Precisamos conversar.
- O que houve? – Agora ele parecia preocupado.
- Eu saí para comprar alguma coisa pro almoço, já que você ficou reclamando que ontem eu não fiz a janta... – Foi em direção ao sofá, enquanto ele a interrompeu.
- Mas claro, você...
- Fica quieto e me deixa falar. Então, eu fui ao mercado e, quando estava voltando, um homem começou a gritar meu nome na rua. Perguntei o que ele queria e ele disse que tinha vindo dar um recado do meu pai...
- O que ele fez, dessa vez?
- Quer parar de me interromper? Pra encurtar a história, ele é advogado do meu pai e veio me dizer que ele está sentindo muito a minha falta, que está arrependido de ter dito tudo o que disse e por ter me mandando embora de casa. Ele quer conversar, , fazer as pazes.
- Você não vai cair nesse papo furado, vai? – o olhou sem expressão. – , você não tá pensando em ir até lá, está?
- Eu não posso ficar brigada com eles para sempre, .
- Como não? , eles são passado! Nós estamos vivendo uma nova vida aqui, estamos nos ajeitando, você não deve voltar até lá.
- Eles são meus pais, !
- E foi ele mesmo que te chutou pra fora! Ele te jogou na rua, ! Ou você esqueceu daquela noite? Ele quase me deixou em coma e te xingou de tudo quanto era nome!
- Por que você tá gritando? – questionou, baixinho, sentada com as mãos apoiadas nos joelhos e a cabeça apoiada nas mãos.
- Não estou gritando. Estou falando normalmente.
- Não, você não está! – levantou-se, tentando ficar na altura de para olhar em seus olhos. – Aliás, nem agindo normalmente você está mais.
- O que você quer dizer com isso?
- Quero dizer é que você anda diferente. Você diz que está sempre cansado, nunca tem tempo para nós, parece que tá sempre longe, sempre ocupado com outras coisas. Quando eu pergunto se está acontecendo alguma coisa você desconversa, não responde...
- Isso é tudo coisa da sua cabeça, .
- Não, , não é! Tudo o que fazemos agora é discutir, qualquer coisinha gera resmungos, que se tornam conversas e logo se tornam gritos! Eu não entendo, , o que foi que houve?
- Houve você, , você e essa ideia de girico de voltar para a casa do teu pai.
- Isso não tem nada a ver! Não muda de assunto!
- Tem tudo a ver sim! Eu abri mão de toda a minha vida por você, dou duro todos os dias pra te sustentar e não te deixar faltar nada e agora você quer voltar para trás!
- Eu não vou voltar, . Só vou conversar.
- Claro, até por que seu pai vai te deixar sair de casa quando estiver lá né. Quer saber? Não estou nem aí. Faça o que você quiser, se quiser voltar a ficar presa, sem liberdade e levar uns tapas na cara de vez em quando, a decisão é toda sua.
- Como é que é?
- Isso que você ouviu, ! Isso que você ouviu. Faça o que quiser, eu não me importo! – gritou, fazendo encolher-se, assustada com o comportamento do namorado. Nunca o tinha visto assim, tão temperamental para com ela. Decidiu não se importar também, iria optar por fazer o que achava certo. E se queria assim, pois bem.
- Tudo bem . Eu não ia pedir sua permissão, mesmo. Só ia te avisar que eu estou voltando para minha casa hoje à tarde. – Deu as costas ao rapaz, subindo ao quarto para arrumar suas coisas.

But there were strangers watching/And whispers turned to talking/And talking turned to screams

Didn't they tell us "Don't rush into things"/Didn't you flash your green eyes at me/Didn't you calm my fears/With with a Cheshire cat smile?

Didn't it all seem new and exciting?/I felt your arms twisting around me/It's all fun and games 'til somebody/Loses their mind


***
- Filha! – O pai agarrou assim que ela saiu do trem. Abraçou-a fortemente, a ponto de sufocá-la.
- Pai. Você está me sufocando... – Clamou , engolida pelo grande porte físico do homem.
- Oh, me desculpe. – Afastou-se. – Me desculpe, filha, desculpe. Por tudo, tudo o que eu disse, tudo o que eu fiz, me desculpe...
- Ei, agora não. – Colocou sua mão no ombro do pai. – Estou cansada da viagem, vamos ir para casa primeiro, depois conversamos sobre isso, pode ser?
- Claro, claro. Como você preferir. – Acompanhou-a até seu carro. Foram para casa em silêncio, com a cabeça encostada na janela e seu pai batucando no volante com os dedos. Chegaram em casa rapidamente; nada ali havia mudado, estava exatamente como lembrava-se. Jogou a mochila ao lado do sofá e sentou-se, sendo acompanhada pelo pai, que pegou em sua mão.
- Tudo bem? – perguntou, vendo a filha assentir com um gesto de cabeça. – Filha, eu não quero deixar para depois. O quanto antes falar tudo o que tenho entalado, melhor. Eu sinto muito. Por tudo. Sinto muito por ter direcionado a você palavras tão duras, sinto muito por não ter escutado a explicação que você tinha a dar, sinto muito por bater naquele menino. Também sinto muito pelo meu comportamento durante todos esses anos, eu sempre te fiz ser o que você não era. Só pelo fato de sua mãe ser doente, acho que eu queria que você fosse tudo o que ela não foi. Queria que você fosse uma dona de casa, mas ao mesmo tempo em que estudasse para ter um bom futuro. Eu sempre te prendi dentro de casa, nunca deixei você ter uma vida de verdade, te privei de tudo durante a sua infância e adolescência. Eu não soube ser um bom pai. Mas eu estou disposto a melhorar, . Estou mesmo. Esse tempo em que você ficou fora, não tinha um dia sequer que eu não me lembrava de tudo o que fiz a você, de tudo o que eu não deveria ter feito... Sinto muito, filha. De verdade. Sei que palavras nunca serão o suficiente para aniquilar todos os meus feitos, mas eu espero que você me perdoe. Não precisa ser já, mas algum dia eu realmente espero que você me perdoe. Eu sinto muito, , e te amo mais que tudo nessa vida. – nada falou por um momento, deixando apenas as lágrimas correrem por seu rosto, mas em silêncio.
- Você não deve se desculpar tanto, pai. Eu também te devo desculpas. Desculpa eu não ter te obedecido sempre. Desculpa eu ter te desapontado, me desculpa por fugir. Eu só... Não vou dizer que me arrependo, sabe? Por que eu realmente não tenho arrependimento do que fiz. Conhecer foi a melhor coisa que me aconteceu em todos esses anos, mas eu também fui bastante egoísta e ingênua, ao pensar que a vida seria sempre um mar de rosas. Eu devia tê-lo deixado a par do que estava acontecendo, mas não o fiz. E aconteceu o que aconteceu. Por isso peço desculpas a você.
- Você não tem que se desculpar, . Foi minha culpa, desde o começo. Mas, falando no rapaz, por que ele não veio com você? Eu queria pedir desculpas a ele. Estou tão envergonhado pelo que fiz...
- Ele não pode vir, porque... Ele... Estava trabalhando, e não pode faltar ao serviço, sabe? Mas... Ele gostaria de vir.
- Entendo... Bom, agora que estamos nos resolvendo, vou fazer a janta para nós, tudo bem? Enquanto você toma uma banho e descansa. Depois nós conversamos mais. – piscou, ajudando a garota a levantar-se. dirigiu-se ao seu quarto, depois de tanto tempo, e um rio de emoções a atingiu. Começou a chorar por tudo...
***
But darling, we found wonderland/You and I got lost in it/And we pretended it could last forever

We found wonderland/You and I got lost in it/And life was never worse but never better


“- É até engraçado, né? O jeito como nos conhecemos... Parece que imediatamente houve uma conexão entre nós. E olhe só onde estamos hoje...
- No começo você era só meu porto seguro, sabe? As coisas melhoravam sempre que eu estava com você, parecia que os problemas sumiam...
- Comigo também era assim. - sorria olhando as nuvens no céu.
- Ai depois eu me meti num problema maior né... Fui me deixar levar por seus encantos... - gargalhou, sendo acompanhado da risada gostosa dela.
- Você nunca resistiria. - estreitou os olhos, ainda rindo.
- Ainda bem. - sorriu largo.
- A maneira como nós nos conectamos, nos entendemos e nos damos bem, sendo suporte um para o outro... É como... Como...
- O país das Maravilhas? - arriscou .
- O País das Maravilhas? Mas o que tem a ver?
- Sei lá. É que tudo fica uma maravilha quando estamos juntos. Fica tipo um mundo só nosso, sabe? Nosso País das Maravilhas. - terminou dando piscadelas à de forma engraçada.
- É. Até que faz sentido. - concordou ela. - Queria poder me perder nesse País para sempre...
- E você pode, ué. O país só funciona com nós dois e, como eu não vou embora tão cedo, podemos nos perder nele para sempre. Não vai ser tão ruim. - riu com a lógica de . Mas, no fundo, queria que fosse tudo real.”


lembrava-se de um dos momentos no início do namoro com , deixando escapar um lágrima do olho esquerdo. Fazia uma semana que tinha voltado para casa e não havia falado com ainda. Sentia falta dele o dia inteiro, a cada minuto. Não sabia que tinha se tornado tão dependente assim do rapaz. Não gostava de lembrar da briga de uma semana atrás, nem pensar em quão diferente estava.... Decidiu ligar para ele; as coisas não podiam ficar assim.
- Alô? – depois de dois toques a voz rouca de fez-se ouvir do outro lado da linha.
- Oi. – não sabia o que falar. A linha do outro lado havia ficado muda, mas ela sabia que ele tinha ouvido. – , sou eu. .
- Eu sei. Conheço sua voz. – ficou calada, sem saber o que dizer.
- Como está?
- Bem. E você? – Aquilo estava saindo pior do que imaginava.
- Também. Eu me acertei com meu pai, sabe. E... Ele disse que queria que você tivesse vindo. Ele queria pedir desculpas por aquele dia. – escutou a risada irônica de , ficando sem jeito. – Nós estamos bem, sabe? Ah, tenho uma novidade: Ele disse que vai me ajudar com a faculdade. É só eu terminar o último ano da escola, no ano que vem. E o melhor de tudo: ele não vai se importar se a minha faculdade for na cidade em que vamos morar... Ele irá pagar do mesmo jeito. O que você acha? Poderíamos alugar uma casa de verdade aí e sair da pensão. Meu pai ajudaria...
- Legal. Foi tudo o que você sempre quis, não foi? – não queria ser tão duro, mas era impossível. Até a voz de estava diferente, mais alegre. Apenas uma semana foi o suficiente para voltar ao normal e deixar de ser aquela irritada e entediada. E a faculdade... sempre soube do sonho da garota. – Digo, a faculdade.
- Sim. Foi sim. E agora eu posso fazer, né? Depois do ano que vem. E o melhor é que vamos estar juntos...
- É. – estava ficando angustiada com aquele clima. Tentava puxar assunto e mostrar que tudo estava bem, mas não ajudava. – , sobre o dia da minha viagem... Nós devemos conversar sobre isso. Eu me senti muito mal em sair após uma brigarmos. Mas depois de amanhã eu vou voltar, e poderemos conversar melhor e esclarecermos tudo, ok?
- Tudo bem. Mas você não acha que é melhor ficar mais um tempo aí? Quero dizer, seu pai não vai achar ruim, ou coisa do tipo?
- Não. Ele mesmo disse que eu deveria voltar para resolvermos as coisas.
- Hm. Tudo bem. Até logo.
- Até. – Despediu-se ela, mas já havia desligado o telefone. Estava muito estranho na ligação, mas ela não o culpava. Eles tinham brigado feio e ela veio embora sem mais nem menos. Ele tinha toda a razão de estar bravo. Mas depois de amanhã ela voltaria à pensão, e os dois se resolveriam. E tudo parecia encaixar-se no lugar certo.

In wonderland, in wonderland/In wonderland, in wonderland

***
chegou na pensão e deu de cara com a Sra. Margareth limpando a sala de estar e recepção.
- Boa tarde, Sra. Margareth! – cumprimentou, radiante.
- ! Como vai? – Abraçou a menina. – Você foi embora tão de repente!
- Pois é, mas agora estou de volta. – Sorriu. – O está?
- Agora não, mas... Ele me avisou que você viria e pediu que eu entregasse algo a você. Só um minutinho que eu vou buscar.
- Tudo bem. – sentou-se no sofá, imaginando o que havia deixado para ela.
- Aqui está. – Sorriu Margareth.
- Obrigada! Uma carta? – questionou . Margareth deu de ombros.
- Foi o que ele me deu.
- Tudo bem. Eu vou ir tomar um ar e aproveitar para ler, ok?
- Ok. – concordou a senhora. – Tome cuidado, criança.
- Eu tomarei sim. – Sorriu . – Obrigada, Sra. Margareth. Até mais.
saiu da pensão com o pensamento a mil. Uma carta? Por que raios deixaria um carta a ela?

POV’S

, sei que nesse exato momento você deve estar se perguntando o porquê de eu te deixar uma carta...” Depois de quatro começos riscados, esse parecia bom. não sabia o que dizer e sua mão tremia. “É que... Eu fui embora. Melhor falar de uma vez, não? Sim, eu fui embora, . Depois que brigamos aquele dia e você foi embora, todos os dias eu fiquei pensando em tudo o que nós passamos, todas as dificuldades que vivemos e eu sei que não foi fácil. Você me ajudou no momento em que eu mais precisei, mas eu sinto que não te ajudei quando você mais precisou. Quando viemos para esta cidade, eu fiz de tudo para te sustentar. Quando dei a ideia de nos mudarmos, eu disse que te protegeria e te faria feliz, não é? Eu sinto muito por não ter cumprido minhas palavras. No começo você estava bem, mas depois eu vi que você estava ficando cada vez mais chateada e sentindo muito a falta dos seus pais. E também tinha a faculdade... Eu estava te privando de viver a vida, . Te separei da sua família, acabei com seu sonhos. E quando começamos a discutir por qualquer coisa... Eu percebi que não estávamos bem. Eu não estava te fazendo bem. Sei disso porque, quando você me ligou, dois dias atrás, você já estava diferente. Estava feliz, radiante. Quando você disse que tinha se acertado com seu pai, que ele iria te ajudar com a faculdade e que as coisas estavam indo muito bem, eu percebi que o seu problema era eu. O que te entristecia era eu. Você sempre foi meu porto seguro e me deu os melhores momentos da minha vida. Sou grato por todos eles. E sinto muito por não poder correspondê-los. Eu realmente sinto. Fui embora para te deixar viver, e para procurar algo que me faça viver também. Algo que me melhore, como você fez, mas que eu não possa prejudicar. Sinto muito. Com carinho, .”
Essa, com certeza, foi a coisa mais difícil que já fiz. Dizem por aí que fazemos de tudo para vermos as pessoas que amamos feliz, não é? Pois bem. Por mais que doa em mim, para será bom. Poderá ser horrível no começo, mas o resultado será bom. Não sei se nunca disse a o quanto eu a amava... Mas não era pouco. Nunca vou amar nenhuma outra do jeito que amei .

POV’S – FIM.

estava sentada no meio fio desde a metade da carta. Não acreditava no que estava lendo. não havia feito-a feliz? Os melhores momentos da vida dela foram ao seu lado, como ele poderia dizer isso? Subitamente, fora destruída. A dor que sentia era imensa. Sua vida havia desmoronado. Seu País das Maravilhas havia sido destruído.

We found wonderland/You and I got lost in it/And we pretended it could last forever
We found wonderland/You and I got lost in it/And life was never worse but never better
In wonderland.


FIM



Nota da autora: Primeiramente, desculpem-me por essa short não tão short assim, hahah! Segundamente, quero agradecer à Bia e à Laura, minhas maravilhosíssimas e incríveis amigas por terem me dado a ideia da fic e me ajudado a montar o acontecimento dos fatos. Agradeço também à That, por me oferecer a música e se dispor a betar essa short nos 45 minutos do segundo tempo. Por último, mas não menos especial, quero agradecer a você que tirou um tempo para ler Wonderland e chegou até aqui. Espero que tenham gostado, de coração. Qualquer coisa, vocês me encontram sempre no twitter. Ah! E aproveitem o tempo livre para dar uma olhada nas minhas outras fics também! Hahah <3



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