Traguei mais uma vez o cigarro que estava entre meus dedos e soltei a fumaça, sentindo a nicotina começar a fazer efeito em meu corpo.
Devia ser por volta das quatro horas da manhã de uma quinta-feira, talvez sexta, eu não sabia ao certo. Seria apenas mais uma droga de dia.
Me levantei e fui até a janela, abrindo e sentindo o vento tocar meu corpo, coberto apenas por minhas roupas íntimas, enquanto eu observava a rua vazia. Me virei de costa e encarei meu quarto, iluminado apenas pela fraca luz que vinha do abajur.
Eu não conseguia lembrar o nome do homem que dormia em minha cama. Eu havia conhecido ele poucas horas atrás, quando sai, numa tentativa frustrada de me distrair.
Eu era tão patética. Devia saber que nada resolveria. Mas ainda assim eu estava tentando encontrar em outra pessoa o que eu achei nele.
Não havia nada no mundo como , e eu o havia perdido.
Soltei um riso desesperado por estar pensando nele de novo, e olhei para cima, numa tentativa vã de impedir que as lágrimas abandonassem meus olhos. Lá estava novamente, todos os meus demônios me atormentando, me dando a sensação de insuficiência, me trazendo um desespero impossível de ser aplacado, porque eu nunca o teria de volta.
Hoje não seria um dia fácil. Era aniversario da Sarah, irmã caçula dele. A senhora insistira para que eu comparecesse, e eu amava a pequena. Mas eu não queria ter que ver com a vadia da pendurada em seu pescoço.
Eu sabia que a culpa era minha. era bom demais, e ainda assim havia conseguido me amar, e tudo que eu fiz foi trocá-lo repetidamente por drogas e bebidas. Nada valia a pena.
Acho que eu não sabia o quanto o amava até ouvi-lo me mandar embora de sua vida. Ah, a doce ironia, ela acabava com qualquer um.
Aquele dia nunca sairia de minha memória.
Flashback on
Ouvi quando a porta foi aberta, mas continuei deitada no chão de meu quarto. Eu não queria ver ou ouvir minha mãe reclamar novamente. Era sempre a mesma coisa.
- ? - não era a voz irritante de minha mãe. Não, agora era ali. Meu olhos foram abertos quase que por instinto, mas não me levantei, apenas virei o rosto para encará-lo. - , o que diabos você está fazendo ai? - ele estava com raiva. Droga.
- Estou deitada, não percebeu? - acho que meu senso de humor não estava muito bom, porque ele não pareceu achar nada engraçado. Eu tinha certeza que ainda era efeito da droga. - O que você está fazendo aqui, ? Não deveria estar trabalhando?
- É, eu deveria. - ele disse, controlando o tom de voz para não gritar comigo, e perceber isso me fez engolir em seco. - Mas sua mãe me ligou desesperada, . O que é que você tem na cabeça? De novo isso? Nós não tínhamos combinado que você já tinha passado dos limites? - ele passou a mão pelos cabelos, em sinal de nervosismo, e fechou os olhos, virando de costas.
- A Susan é muito exagerada - eu disse revirando os olhos - Não foi nada demais. - assim que as palavras saíram eu percebi que aquela era a coisa errada a se dizer.
- Nada demais... - sussurrou incrédulo e veio até mim, me segurando pelos braços e me erguendo, sem se preocupar se estava me machucando ou não. - O que é demais para você, ? - ele me balançou com força, e eu tentei me soltar, mas foi em vão. - Você passou a noite fora com aqueles seus amiguinhos de merda, que só afundam você, chegou em casa drogada, e destruiu quase tudo numa briga com a sua mãe. Você sabe como isso é para ela?
- Eu só sai um pouquinho para me divertir. Você não pode ir viajar com a ? Por que é que eu não posso sair com eles?
- Porque ela não destrói a minha vida. - ele gritou.
- Claro que não - rebati - Destruir a minha tá de bom tamanho. Ela quer tirar você de mim e está conseguindo. Não é por causa da faculdade que ela decidiu viajar. Isso é uma desculpa.
- , cala a porra da boca. Você sequer sabe do que está falando.
- Ah, eu não sei? O que foi, ? Quer dizer que ela não é louca por você? Que ela não tenta fazer com que você me deixe? - ele riu irônico e me encarou, com mágoa no olhar.
- Não, . É você mesma quem está fazendo isso. - ele me soltou e eu cambaleei, mas consegui me sustentar.
- Do que você está falando? - eu disse, com um tom de voz baixo, cruzando os braços.
- Que eu estou cansado de ter que bancar a babá. - ele desabafou e eu me encolhi minimamente com a sinceridade que transbordava dele. - Eu tô cansado de continuar aguentando todas as suas crises, de ter que lidar com as suas mudanças de humor, de suportar seu ciúme idiota, de ter que colocar seus pés no chão, porque você não tem ideia do quanto se destrói quando está destruindo tudo ao seu redor - os olhos dele estavam marejados, e parecia doer nele tudo que estava me dizendo. Mas eu duvidava que doesse mais do que em mim. - Eu estou cansado de você, . - meu queixo se ergueu por puro instinto ao ouvir o que ele disse.
- Você não está falando sério. - foi a frase mais idiota para ser dita, mas foi tudo que eu consegui dizer. Meus olhos estavam marejados, mas eu não queria chorar. Aquilo doía. E doía muito.
- Por que você acha que não? - ele disse rindo, mas sem nenhum traço de humor. – Por que eu sempre estive aqui?
- Porque você prometeu. - ele respirou fundo e passou a mão pelo cabelo. Eu não conseguia me mover. Era como se qualquer movimento fosse fazer tudo terminar de desmoronar.
- Você não me deixa cumprir. Eu não sei mais o que fazer com você. - ele deu um passo à frente, e segurou meu rosto entre suas mãos. - Eu venho amando você por bastante tempo, e o foi que você fez com isso? - ele perguntou e eu abri a boca para dizer algo, mas não consegui, porque eu não havia feito nada. - Você sabe que eu não posso mais ficar. - ele completou com um sussurro e começou a se afastar, suas palavras mexendo com minha cabeça e me impedindo de pensar em algo certo para ser dito, mas eu não conseguia.
- Eu posso mudar. - me ouvi dizendo. Era ali, e ele estava indo embora. O medo estava começando a tomar cada célula do meu corpo. - Eu posso, . Você sabe que eu posso. - as palavras saiam rapidamente, se embolando no caminho e eu comecei a caminhar em sua direção.
- Eu sei que pode - ele encarou o teto, como se não pudesse dizer olhando em meus olhos. - Mas vai ter que fazer isso sem mim. - e então ele se foi, sem que eu pudesse fazer algo para impedir.

Flashback off.



Eu não reconhecia a garota que eu via no espelho. Ela não se parecia em nada comigo.
Não havia batom vermelho, nem as varias camadas de rímel que marcavam meus olhos, não havia jeans rasgado e nem camisetas. No lugar dela, estava uma menina de vestido azul, maquiagem fraca, cabelo escovado, sapatilhas e uma expressão confusa.
Eu passara bastante tempo decidindo o que eu iria vestir, mas em momento algum eu consegui me ver dessa forma. Tão... Feminina.
Talvez o fosse gostar da garota que eu parecia nesse momento. A que eu sempre fora não tinha chances, e eu duvidava que essa teria, embora eu estivesse vestida assim para que ele pudesse gostar de mim hoje.
Estava tudo decidido. Eu iria embora dali a dois dias. Eu iria me internar em uma clínica. As drogas já haviam destruído minha vida demais, tirado de mim a única coisa real que possui.
Eu havia tentando esquecer o . Havia mesmo. Foram meses sozinha pelas ruas desse lugar, tentando achar algum rosto que me fizesse sentir algo. Todas as noites perdidas ao lado de algum infeliz eram pura perda de tempo, nada resolveria enquanto eu não pudesse me dar a chance de esquecê-lo.
Respirei fundo, peguei o presente em cima da cama e sai do quarto, me deparando com Susan deitada no sofá. Quando ouviu a porta de meu quarto se abrir, ela virou seu rosto para me olhar e não tentou esconder a surpresa de me ver arrumada daquela forma.
- ? Você... Nossa - ela riu em surpresa - você está... Diferente.
- Eu sei. Me sinto estranha. - admiti.
- Mas ficou linda - ela sorriu para me confortar e veio em minha direção.
Susan era uma mulher muito bonita, e parecia mais jovem do que realmente era. Me criara sozinha, mas não foi muito presente em minha infância, me deixando com minha avó até meus doze anos. Ainda assim, eu não podia reclamar dela. Me sentia injusta pela forma como a tratava na maior parte do tempo. Ela não merecia.
Quando veio aqui em casa pela primeira vez, ela sequer tentou disfarçar o quanto estava feliz por ser aquele tipo de garoto o primeiro garoto que eu namorava oficialmente.
- Acho que eu vou indo - disse, já sem graça por causa da quantidade de tempo que ela gastara me olhando daquele jeito bobo.
- Ah, claro. Dê um beijo na Sarah por mim. Diga a Diana para vir me visitar, e diga ao para... - ela se empolgou, mas parou ao tocar no nome dele, e pareceu meio sem jeito. Ela sabia da forma como eu me sentia. - Bom, diga que eu estou com saudade. - eu afirmei com a cabeça e sorri. - Agora vá, está quase na hora.
Eu respirei fundo e dei um beijo em sua bochecha antes de ir em direção a porta.
- ? - ela chamou novamente, parecendo um pouco hesitante, e eu me virei para encará-la. - Ele ainda ama você... Devia tentar consertar as coisas. - eu ri, mesmo que sem achar nada engraçado. Lá estava ela novamente, saindo em defesa de .
- Eu queria que fosse assim tão fácil. - eu disse, me odiando por começar a sentir meus olhos marejados novamente. - Eu não sou quem ele quer.
- Você é quem ele ama, meu bem. - ela disse com o tom de voz doce, e eu mordi o lábio inferior.
- Eu sei. Mas amor nunca foi o suficiente, mãe. Eu já aceitei isso. E eu vou embora, não ha mais o que consertar - falei, tentando convencer mais a mim mesma do que a Susan.
- Você não precisa ir. Sabe disso. - ela disse, querendo me fazer pensar no assunto, mas eu não queria.
Eu estava indo me despedir.

Eu estava ali a cerca de duas horas, e não podia estar mais incomodada. Havia crianças por toda parte, brincando e gritando, pessoas com seus amigos ou família conversavam e riam, e eu estava sentada, em um canto, sozinha, observando o que acontecia por ali.
A senhora havia ficado um tempo comigo, mas saiu para falar com todos os convidados, a Sarah também veio, mas eu não esperava que ficasse por muito tempo.
E tinha ele.
estava parado em outro ponto da sala. Estava lindo em sua camisa social preta e jeans, mas eu não esperava que estivesse de outra forma. Como era de se imaginar, estava lá, com os mesmos cachos loiros e cara de patricinha, mais perto do que o aconselhável. E ele sorria para ela. Ele. Sorria. Para. Ela.
Vez ou outra ela fazia questão de olhar em minha direção só para provocar, e Deus sabia o esforço que eu estava fazendo para continuar sentada ali.
Vi quando a Sarah se aproximou de e disse algo para ele, enquanto olhava para mim. Logo em seguida ele ergueu o olhar e me encarou. Era a primeira vez que ele me olhava naquela noite, antes ele estava praticamente fingindo não me ver ali.
Seu olhar ficou em mim durante um tempo curto, e ele estava sério quando disse algo para Sarah, fazendo ela assentir e vir em minha direção.
- Oi - disse com um sorriso enorme - A mamãe pediu pro vim falar com você, mas ele disse que você iria preferir se eu viesse - eu ri ao receber a informação, e eu o olhei, vendo ele novamente numa conversa com a .
- Imagino porque ele disse isso. - soprei, suspirando logo em seguida.
- Você quer conhecer as minha amigas? - ela perguntou, extremamente empolgada, os olhos verdes brilhando em animação.
- Quero sim. Depois você pode trazer elas aqui pra mim, okay? - sorri pra ela que assentiu.
- Você não fala mais com o ? - ela perguntou e eu abri a boca, se ter exatamente o que dizer.
- Falo sim, meu amor. - respondi.
- E por que ele não falou com você? - perguntou novamente e eu sorri, totalmente perdida na conversa com uma criança.
- Ele está ocupado, Sarah. Só isso. - menti. - Suas amiguinhas não estão te esperando? - ela assentiu. - Então, diga a sua mãe que tudo bem eu ficar sozinha. Não ligo. Tudo bem? - disse e ela me olhou antes de sair correndo novamente.
viu a irmã correndo e se virou para mim. Eu sustentei seu olhar pelo que pareceu ser uma eternidade, depois sussurrou algo em seu ouvido e o puxou pela mão, fazendo uma sensação muito conhecida por mim, se espalhar pelo meu corpo. Ciúme. Ela estava se achando no direito de tocar algo que era meu!
Quando eles sumiram da minha visão eu joguei minha cabeça para trás e respirei fundo.
Faltava pouco, muito pouco para eu estar pronta para deixar tudo isso para trás.


Nervosa. Era exatamente assim que eu me sentia. Meu coração estava disparado, e eu respirava fundo regularmente.
A festinha da Sarah havia terminado cerca de uma hora atrás, mas a menina insistira para que eu a ajudasse a tomar banho e ficasse com ela até dormir. Eu já havia feito isso algumas vezes antes. Em todo o tempo que eu fiquei com o , havia aprendido a lidar com essa coisa de vida em família.
Mas aqui estava eu. Parada na frente da porta do quarto dele, tentando criar coragem para bater.
Já havia tentado contar até dez, só que me perdi no meio da contagem, então decidi que deveria ir em frente ou dar para trás.
Respirei fundo pela milésima vez e então bati na porta, ouvindo a voz dele dizendo para entrar. Se soubesse que era eu ali, talvez a resposta fosse diferente.
Girei a maçaneta hesitante e entreabri a porta, somente o suficiente para que eu pudesse entrar.
estava sentado na cama, com o notebook no colo, e ergueu o olhar para ver quem havia entrado, parecendo realmente surpreso ao me encontrar ali.
- ? - ele disse, e eu sorri, nervosa.
- Posso entrar? - perguntei.
- Claro. - ele respondeu e eu terminei de entrar, fechando a porta atrás de mim.
Eu dei dois passos para frente e parei, porque não tinha ideia do que dizer. tirou o computador do colo e o desligou, o fechando e colocando ao seu lado em seguida.
- Então... - eu comecei e deixei a palavra no ar, pensando em uma forma de continuar e não parecer uma imbecil. continuou me olhando, com a expressão curiosa, mas sério.
- Pode dizer. - ele falou, quando percebeu que eu não saberia continuar a frase, mesmo que não tenha ajudado muito.
- Você não falou comigo hoje - disse, vendo-o arquear a sobrancelha, e se levantar, cruzando os braços e passando a língua nos lábios.
- Eu não tinha nada para falar. - respondeu e eu engoli em seco. Eu costumava admirar a sinceridade de , mas vinha aprendendo a odiá-la. Soltei um riso nervoso e também cruzei os braços, me sentindo vulnerável.
- Pra mim, não é? - falei, meu tom começando a soar defensivo. - Você e a estão... - deixei a frase no ar e ele sorriu, parecendo desconfortável com minha pergunta.
- É, mais ou menos. - nunca poderia dizer o tempo exato que perdi olhando nos olhos dele e procurando um único vestígio que me fizesse saber que ele estava mentindo, mas não encontrei nada.
Ele precisava estar mentindo.
Foi impossível evitar as lágrimas que surgiram em meus olhos naquele momento. Juntei minhas mãos na frente do vestido idiota que estava usando e as encarei, pensando em algo para dizer, mas nada sensato vinha. Passei minhas mãos pelo cabelo momentaneamente liso, e fechei os olhos com força, os abrindo em seguida, sentindo o desespero crescer em meu peito.
- Nossa. - eu ri, mesmo que não houvesse um pingo de humor em mim. - Tinha que ser... Justo ela? O que é isso? Alguma espécie de vingança?
- Eu tenho algo para me vingar? - ele continuou com o tom calmo, porém agora soava ofendido.
- Você sabe que eu não suporto ela - disse entredentes, sem uma resposta exata para a pergunta dele.
- Não se trata mais de você, . Eu sinto muito. - meu lábio inferior tremeu devido a vontade incontrolável de chorar, e lágrimas começaram a rolar por meu rosto, sem que eu pudesse fazer nada para impedir.
- Por que você está fazendo isso? - eu disse, com a voz trêmula. - Eu sei que eu estraguei tudo, mas porra, ... Não tá dando. Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Não me tira isso, por favor. - pedi, descruzando meus braços e avançando para mais perto dele.
- Eu não tirei, . Eu só... Só não dá mais. - ele disse e respirou fundo. - Nós tivemos a chance de fazer dar certo, e não deu. É isso. Não adianta mexer em algo que não dará resultado algum.
- Claro. Então você resolve tentar com uma patricinha insuportável. - eu disse irônica. - Mais diferente de mim, impossível, afinal, quem eu sou além de uma bastarda drogada, não é mesmo?
- Não é isso, porra! - ele jogou os braços para cima, frustrado. - Acontece que não dá pra entender você, . Eu tentei por meses e a cada dia eu sentia que estava mais distante de te conhecer. - a voz dele estava trêmula, como se ele sentisse vontade de chorar, mas eu sabia que não o faria na minha frente.
- Então você quer me conhecer? - eu perguntei, enxugando as bochechas molhadas. - Ótimo, deixa eu me apresentar, então. - eu disse, com o queixo erguido e dando um passo a frente. - Meu nome é , tenho dezoito anos e fui criada por minha avó até os doze anos de idade. Meu pai nunca esteve exatamente presente, fazendo visitas vez ou outra, minha mãe trabalhava demais pra sequer me levar para morar com ela. Minha infância não foi uma merda, mas não foi das melhores. Aos quinze anos de idade eu conheci um idiota, ele me mostrou como o mundo pode ser ruim, me viciou em drogas, álcool e tirou minha virgindade antes de me chutar. Desde então eu fiquei estragada. Virei um pesadelo para minha família, se é que posso chamar assim as pessoas que estiveram em minha vida por momentos curtos. Mas foi quando eu fiz dezessete que as coisas começaram a melhorar - eu sorri com a lembrança do dia que conheci . - Ele era um cara incrível. - continuei, sorrindo, e ele me ouvia com um interesse absurdo. - De inicio eu não dei nada por aquele garoto, mas ele tinha algo... Algo bom, algo que eu precisava. Amá-lo e ser amada por ele sempre será a melhor coisa da minha vida. Mas eu sou boa demais em estragar tudo, e pensei que eu podia tê-lo acima de qualquer coisa. - eu ri, debochando de mim mesma. - Eu fui feliz. Muito feliz. Ele me mostrou que eu não precisava me dopar para alcançar a paz, porque fazia isso enquanto me abraçava. Ele me prometeu que nunca mais precisaria ficar sozinha... - o choro começou a ficar difícil de ignorar, então eu fiz uma pausa para tentar controlá-lo antes de continuar. - Mas eu não deixei que ele cumprisse. Eu me joguei de volta no fundo do poço, mais fundo do que eu imaginava. Não dá pra provar do paraíso e retornar ao inferno... Sinto muito se eu não consigo superar isso. - finalizei e observei encarar o teto, parecendo meio perdido.
- Eu não conseguiria - ele disse e eu franzi a testa, confusa. - Eu não conseguiria preencher isso que falta em você. É demais pra mim. - admitiu e eu assenti.
- Você a ama? - soltei a pergunta e o olhei, esperando a resposta.
- Não. - respondeu e eu respirei fundo antes de falar novamente.
- Você me ama? - ele me encarou sério por um tempo, mas a resposta não demorou muito.
- Amo. - respondeu, mas aquela resposta não me trouxe felicidade, apenas alivio. Eu conhecia demais pra esperar que nós fôssemos voltar apenas por ele ter me dito aquilo, porém, ainda assim eu arrisquei.
- Amor é suficiente para você tentar de novo?
- Não. Você não vai mudar, . Sabe que não. - ele respondeu. - Amar você não é suficiente para suportar as consequências que isso traz. Infelizmente eu não posso mais te pôr como prioridade. - eu assenti e sorri fracamente.
- Eu vou embora. - disse e ele abriu a boca para dizer algo, mas desistiu. - Vou ficar um tempo com meu pai e... Me internar em uma clinica. - ri e coloquei o cabelo atrás da orelha, meio sem graça. - Não dá mais pra ficar aqui, e não é como se eu tivesse escolha.
- E a Susan? - ele perguntou.
- Ela vai ficar bem. - me limitei a responder e ele confirmou com a cabeça.
- Quando você vai? - colocou as mãos nos bolsos da calça, parecendo incomodado.
- Daqui a dois dias. - respondi, e ele me encarou, mas não disse nada. - Eu vim me despedir. - admiti e ele encarou os pés.
- Você vai conseguir se curar. - ele disse sorrindo, embora estivesse obvio que isso o machucava. - Talvez você deva pagar uma divida antes de ir. - eu franzi a testa em confusão e ele riu. - Disse que eu era um babaca romântico quando propus isso. - eu vasculhei minha memoria em busca dessa lembrança e não segurei o riso quando ela veio.
- ... Não. - ele me acompanhou no riso. - Você sabe que eu odeio dançar. - ele revirou os olhos.
- Não é como se fosse ser difícil. Pode ser a nossa música... Aliás, nunca entenderei porque diabos você gosta de Ed Sheeran. - eu fiz careta e respirei fundo.
Há um tempo, havia insistindo com a ideia de que devíamos dançar, já que isso era a possível única coisa que não fizemos juntos. Era patético, mas eu prometi ceder algum dia, e ali estava ele novamente com aquela promessa idiota.
- Okay. Se for pra ser uma despedida, que seja decente. - ele sorriu fraco, indo até o som e conectando o pen drive nele, passando por diversas até os primeiros acordes de Give Me Love começarem a ser entoados.
Ele deixou em um volume baixo, agradável e se dirigiu a mim, estendendo sua mão, e me puxando quando eu a aceitei. Seus braços envolveram minha cintura e os meus foram até seu pescoço, nossos corpos se tocando, me fazendo fechar os olhos e encostar a cabeça em seu peito, aproveitando ao máximo aquela sensação que tanto me fazia falta.
Eu poderia passar a minha vida ali, nos braços de , e ficaria grata por isso. Ele era tudo que eu poderia precisar, ele era meu porto seguro.
Seu corpo de movia devagar, guiando o meu no processo. Eu odiava dançar com todas as minhas forças. Não levava o menor jeito para isso. Mas eu faria qualquer coisa por ele.
Eu não saberia quando o veria de novo. Não fazia sequer ideia. Mas Deus sabia o quanto eu torcia para poder tentar novamente.
- Você acha que... Acha que nós poderemos tentar de novo algum dia? - eu perguntei meio incerta e ele demorou o que me pareceu séculos para responder.
- Talvez, sim. - ele se afastou o suficiente para me olhar. - Eu torço por isso. - respondeu e depois eu voltei a encostar em seu peito, deixando a melodia nos envolver, como sempre fez.
- Você pode me prometer uma coisa? - eu perguntei e ele apertou minha cintura em resposta. - Espere por mim. Por favor, não se apaixone por ela. - ele suspirou e apoiou o queixo em minha cabeça.
- Eu prometo. - respondeu e então eu fiquei em silencio, continuando a me mover minimamente, e sentindo a vontade de chorar voltar.
Era ali. O cara que eu amava, e ainda assim eu estava dizendo adeus.
Quando foi impossível de segurar, eu afundei meu rosto em seu pescoço, e me deixei chorar, sentindo ele me abraçar mais forte e me puxar para ainda mais perto.
- Eu não consigo dizer adeus. - admiti e ele ergueu meu queixo, me fazendo olhá-lo.
- Então não diga. - ele disse. - Não precisa ser um adeus. Você vai ficar bem. Eu sei que vai. E nós vamos nos encontrar novamente, nós vamos tentar outra vez. Do início. Pode não ter sido dessa vez, mas isso não acaba aqui. Nós sabemos que não. - ele sorriu - Eu amo você, . Não vou desistir disso. - então ele me beijou. Doce e lentamente, me deixando sentir seu gosto que tanto fazia falta.
Seria difícil como o inferno ficar sem ele, mas eu não podia continuar mais dependente das drogas, eu precisava me curar, precisava me libertar.
Não era nossa intenção passar daquele beijo, e nós não passamos. Quando os acordes finais forma chegando, ele separou nosso lábios e continuou com nossas testas coladas, me permitindo sentir sua respiração tocar meu rosto.
Nós paramos de dançar, mas não nos separamos por um tempo. Eu não queria ir embora, mas precisava fazer isso.
Envolvi os lábios dele com os meus uma última vez e respirei fundo.
- Amar você foi o que me fez real. Eu não vou desistir disso. - me soltei de seus braços e sorri. - Eu amo você, . Isso não acaba aqui. - ele assentiu e eu percebi que seus olhos estavam marejados. - A Susan disse que está com saudades.
- Eu também estou. - eu sorri e ele acrescentou. - Ela vai ficar bem. - me assegurou. Eu assenti e comecei a me afastar. - Lembra quando você me desafiou a subir no palco do karaokê e eu jurei que faria aquilo qualquer outro dia em que estivesse mais preparado? - eu ri.
- É, eu lembro. Parece que nós temos mania de deixar tudo para depois.
- Ainda está de pé - ele disse e eu percebi o que estava fazendo. Procurando uma promessa, mesmo que boba, para manter de pé, para me fazer saber que ele queria que eu voltasse.
- Eu vou cobrar isso. - respondi e respirei fundo. - Até mais, . - completei e me virei, saindo dali antes que mudasse de ideia.
Talvez algum dia nós realmente tivéssemos chances. Talvez fosse dar certo da próxima vez.
Eu pagaria para ver. Eu voltaria para ver.

Fim.



Nota da autora: (12/06/2015)
Olá, docinhos... Tudo bem com vocês?
Então, ai está a short para essa musica maravilhosa do Sam (me sentindo intima), e eu espero, de coração, que vocês tenham gostado. Já conheciam a música? Fugi muito do que vocês esperavam?
Bom, acho que esse não foi um romance muito tipico, mas aqui vai a explicação: essa ideia vem circulando minha mente a séculos, mas para conseguir encaixá-la na letra, ela sofreu modificações, até eu perceber que poderia dar certo ( obrigada, Gabe, sua linda!).
Esse também não foi um fim muito satisfatório, não me parece um ponto final para a historia desses dois. E não será.
Penso em seguir em frente com isso e fazer uma long com esse casal, talvez uma parte dois, ainda não sei.
Caso queiram entrar em contato comigo, abaixo eu deixo todas as formas para isso ;-).
Desculpem pela nota imensa, e obrigada por terem lido.
Até a próxima.
Vans.
Ask: Ask.fm/ficIWTFY
Twitter: @Nessie_souza
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(Já ouviram falar do projeto TDKAU? Se a resposta for não, que tal dar uma passadinha para conferir? Vale muito a pena.)
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