Finalizada em: 10/07/2023.

Capítulo I

Fordham University • 19 de janeiro.


Um dia sua autoestima vai fazer com que você bata a cabeça no teto, .
Jab.
Você não deveria ser tão sentimental, .
Direto.
Você mudou! Já não é a mesma garota que eu conheci.
Jab. Direto. Cruzado.
Tinha muitas coisas que eu podia aceitar na vida, coisas como o fato dos meus pais reatarem o casamento depois de anos separados e começarem a falar sacanagens sem se importar se eu estava no recinto; ou minha avó decidir que queria ter aulas de pole dance no auge dos seus quase 60 anos, o que eu apoiei e até a acompanhei; o fato de que o meu treinador escondeu todas propostas de vagas em times porque não queria que o sucesso subisse à minha cabeça. Claro que eu já estava acostumada com as pessoas confundirem minha autoconfiança com arrogância, parecia que quando uma mulher era confiante em si mesma, sabia o que queria e se esforçava pra conseguir o que queria, as pessoas logo tiravam suas próprias conclusões e a chamavam de arrogante. Não era que eu não tinha inseguranças, claro que tinha, pra falar a verdade, quem é que não tem? Mas se tinha algo que eu tinha aprendido durante os anos desde que saí do colégio, era como ficar mais segura de mim mesma, não pedir desculpas pelas coisas que eu queria e nem pelas coisas que eu conquistei com muito sacrifício e muito suor. Para o diabo o resto do mundo, eu tinha lutado por anos pra chegar onde cheguei, eu não pediria perdão por nada que fiz, só pelo que deixei de fazer.
Eu não era a garota mais popular na época de colégio, na verdade, era a esquisitona apaixonada por futebol e passava a maior parte do meu tempo no treino ou com uma bola debaixo do braço. Meu foco sempre foi o futebol, e claro, meus estudos, eu não tinha tempo pra perder com garotos ou dramas desnecessários que sempre aconteciam no colégio. Eu tinha uma meta em minha vida: jogar para o Simone Cuvier, o melhor time feminino de futebol. Quando eu entrei na faculdade, claro que as coisas foram diferentes, o futebol continuou sendo meu objetivo principal, mas os garotos passaram a ter um novo espaço na minha vida, especialmente aqueles com 1,80 e sorriso de matar.

Jab. Direto. Esquiva. Cotovelo. Cruzado. Dois chutes alternados.

Eu aproveitei tudo que tinha pra aproveitar na faculdade nos dois primeiros anos. Eu fiz novos amigos, fui pra mais festas que podia contar, beijei mais garotos que podia me lembrar e, claro, joguei muita bola. Eu nunca tinha pensado que o fato de ser boa de bola fosse fazer com que eu virasse uma das pessoas mais populares da universidade junto aos outros capitães das outras modalidades. Eu me dava muito com todos eles, dois dos meus melhores amigos eram o capitão do time de basquete, Matt, e a capitã do time de lacrosse feminino, Bailey, porém, nem tudo eram rosas e, para a minha infelicidade, eu também tinha conhecido , o capitão do time de futebol que sempre queria fazer uma competição de tudo e implicava comigo como ninguém.

Frontal com a esquerda. Dois direita. Esquiva. Cruza. Gancho. Dois com a esquerda.

Foi em umas das festas dada por alguém do time dos capitães que eu conheci Max, o meio irmão mais novo de Matt, que tinha acabado de entrar na faculdade e tinha a maior cara de nerd que eu já tinha visto. Claro que eu tinha, sim, uma queda por cafajestes, mas, naquela noite, eu me peguei sentada no balcão da cozinha, tendo umas melhores conversas que já tive com um cara do sexo oposto e desejando ardentemente que ele desse o primeiro passo. Claro que ele não deu e, antes mesmo que eu pudesse pensar, me vi o chamando para um casual encontro para a nova exposição de Zoe Cane, uma das minhas artistas favoritas. Max não era o tipo de cara que eu estava acostumada, com ele as coisas tinham que ir com calma, sem decisões precipitadas ou passos em falsos. Demorou mais de um ano para que nós dois déssemos o primeiro beijo, eu achava que tinha encontrado o cara perfeito pra ser meu namorado, porém, nada na vida saía como planejado e eu me viu caindo em um dos truques mais velhos dos homens: o cafajeste com cara de bom moço.
Claro que eu não percebi logo de primeira, pra falar a verdade, eu estava tão cega de amor que não sabia ao certo o que estava acontecendo. Os pequenos comentários sobre a minha alta autoconfiança foram os primeiros; depois os comentários sobre "ser muito sentimental"; ou que eu falava alto demais quando entrava em algum bate-boca com alguém que tinha uma opinião diferente, ou como eu gostava de dizer, alguém extremamente privilegiado que abusava do seu privilégio e achava que o mundo estava bom do jeito que está. Eu me vi em um relacionamento onde eu fazia tudo pra agradar Max, esquecendo até da minha própria felicidade.
Você não me deu escolha, , você me decepcionou muito.

Jab. Direto. Esquiva. Cruzado. Dois chutes com a perna direita.

Eu deveria ter visto todos os sinais, as noites em que Max desaparecia sem nem ao menos dar notícias a não ser na manhã seguinte, os finais de semana em que ele estava muito ocupado estudando pra sair comigo e as mensagens e ligações ignoradas e raramente respondidas. Eu achava que ao menos cogitar a ideia de que Max estaria me traindo era absurda, ele não era um cafajeste, ele não faria algo assim comigo, não quando nós já estávamos namorando há mais de dois anos e fazia dois meses que estávamos morando juntos, não era possível que Max era só mais um cafajeste que eu tive a má sorte de namorar e só descobri depois que meu coração foi partido em um milhão de pedaços.

Quando eu entrei em nosso apartamento, depois de um dia inteiro de aulas, sabia que algo estava errado, especialmente pelo fato de ouvir vozes vindo do quarto e uma delas ser Max, que deveria estar em uma das reuniões do seu grupo de estudos. Eu quase não acreditei quando ouvi um gemido feminino ecoar pelo apartamento, foi automático meus pés me levarem para o quarto. Parei na porta do quarto, arregalando os olhos e colocando a mão na boca. Em cima da minha cama, com uma garota, estava o seu namorado. O mesmo namorado que eu estava me culpando por pensar algo ruim a respeito.
Eu vi minha visão ficar vermelha e com toda a força que tinha, empurrei a porta do quarto, fazendo com que ela batesse com um estrondo na parede. Os dois pararam o que estavam fazendo e olharam para mim assustados. A garota, que eu reconheci como Elia, a melhor amiga de Max, a mesma garota que ele disse que eu não precisava me preocupar.
, não é nada do que você está pensando — Max disse, se levantando da cama e se enrolando no lençol. — Eu posso explicar.
— Eu não preciso pensar nada, Max! Uma imagem vale mais do que mil palavras! — gritei, de volta, jogando minhas mãos para o alto. — E nem tente explicar, é auto explicativo! — Eu senti as lágrimas começarem a descer por meu rosto. — Eu fiz tudo por você, Max! Eu deixei todas as minhas barreiras baixas porque eu te amava pra você me trair desse jeito? Pra você me desrespeitar assim? Você é uma pessoa horrível, Maximiliano, você é um homem de merda! Eu te odeio, Max! Eu te odeio!
— Se eu te traí, foi sua culpa! Você não me deu escolha, , você me decepcionou muito. Eu te falei, falei mil vezes, mas você nunca escutou. Você é muito sentimental, deixou que a sua popularidade como capitã do time de futebol e sua autoestima subissem sua cabeça e batessem no teto. Você só liga pro seu futebol, você nunca me deu atenção.
— Minha culpa? — perguntei, incrédula, limpando minhas lágrimas. — Você está tentando colocar a culpa em cima de mim de você ter me traído? Você está dizendo que minha autoestima e minha paixão pelo futebol fizeram isso? — Eu ri sarcástica. — Você é um filho de um puto de um escroto, Maximiliano! Tentando colocar a culpa em cima de mim porque você é uma merda de ser humano e não passa de um filhinho da mamãe que não consegue segurar um emprego, ainda é sustentado pela mãe e não passa um semestre sem repetir pelo menos duas cadeiras! — Peguei o porta retrato em cima da mesa e joguei nele, que desviou.
— Você está ficando louca, ?
— Além de tudo eu ainda sou louca? Se eu sou louca, a culpa é sua, Maximiliano! — eu disse, o imitando. — Porque você é um péssimo namorado — peguei outro porta-retrato e joguei nele —, porque você não consegue fazer uma garota gozar — joguei um vaso nele, que desviou dessa vez —, porque você é só um garotinho assustado que tem medo do fato que sua namorada, ou melhor, ex-namorada, não é as garotas que ficam correndo atrás de você como um cachorro sem dono! Que não vive a vida pra te bajular, que tem uma meta de vida além de viver uma vida em função de um namorado escroto! — Peguei o notebook dele e joguei em sua direção, que deu um pulo pra trás. — Você não é um homem, Max, você sempre foi e sempre será só um garotinho assustado e eu não quero nunca mais ouvir nem ao menos falar no seu nome! — eu gritei e ele me olhou assustado. — Meus advogados entrarão em contato, eu quero tudo que é meu, nem que seja pra tocar fogo! Passar bem!


Jab. Direto. Jab. Direto. Jab. Direto. Jab. Direto. Jab. Direto. Jab. Direto.

— Se você continuar socando esse saco, vai fazer um buraco. — Parei de bater e me virei pra trás, dando de cara com . Ele usava roupas de academia, o que indicava que eu não era a única usufruindo dos benefícios da academia exclusiva dos esportistas. — O que foi que aconteceu pra você estar com tanta raivinha? — Ele cruzou os braços. — Ainda chateada por que eu estou ganhando de você nas vitórias dos jogos?
, eu estou pouco me fodendo pra essa competição que, aparentemente, só você está participando. — Me virei outra vez para o saco, começando a bater de novo. — Me deixa em paz.
— Por que você está tão tarde na academia? Você normalmente gosta de vir de manhã, não na calada da noite. — Eu apenas o ignorei, porém, para , isso só servia de incentivo pra ele. — A não ser que algo tenha acontecido e, pelo jeito que você está socando esse saco, eu estou certo. O que foi zinha, o treinador escondeu os times que te escolheram outra vez? Ou será que foi a reitora que pediu pra você ser a garota propaganda dela de novo? Ou melhor, seu namoradinho esqueceu o aniversário de namoro outra vez?
— Por que você tem que ser tão idiota, ? — Me virei pra ele, começando a tirar minhas luvas. — Por que todos os homens tem que ser idiotas? — Eu joguei minhas luvas nele, que as pegou no ar. — Por acaso esse teu cérebro está tão danificado que não consegue compreender que eu não quero sua companhia? Você não sabe a definição de “Me deixa em paz”, é isso? — Parei em frente a ele. — Me deixa em paz! — Eu o empurrei. — Por que você não me deixa em paz? Por quê? Por quê? — eu disse, começando a dar socos em seu peitoral. — Por que você me trata assim? Por quê?
Quando eu menos esperei, já sentia as lágrimas descerem por meu rosto. Eu sabia que eu estava parecendo uma louca na frente de , a única pessoa no mundo que eu não queria que me visse em um dos meus piores momentos, porém, em um dia como esse, onde uma parte do meu mundo tinha desmoronado em minha frente, eu realmente não estava me importando com os que outros pensavam. Eu só queria que todo esse sentimento dentro de mim saísse, eu só queria que o mundo desaparecesse. Eu queria parar de chorar, claro que eu queria, mas as lágrimas apenas continuaram a vir e eu nunca me senti tão triste em toda a minha vida. Tanto que minhas pernas cederam, porém eu não caí no chão como eu esperava, um par de braços me segurou e nós lentamente sentamos no chão, e antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, eu o estava abraçando forte pela cintura, enquanto ele acariciava os meus cabelos.
Eu não sei exatamente por quanto tempo eu chorei nos braços de , a única coisa que me tirou do transe foi quando eu escutei a voz de Matt. Me afastei de , enxugando minhas lágrimas, dando de cara com meu melhor amigo me olhando com simpatia nos olhos. Matt nunca gostou do meu relacionamento com Max, e ele sempre deixou bem claro isso, porém ele sempre disse que a vida era minha e eu fazia o que eu quisesse, se meu desejo era ficar com o irmão dele, ele não ia fazer nada pra impedir.
, eu sinto muito. Eu sempre te disse que você era boa demais pra ficar com o Max, mas você estava tão apaixonada que não me escutou. Se eu soubesse que ele ia fazer algo assim, eu nunca teria deixado vocês dois nem ao menos se aproximarem. Eu sinto muito, , de verdade, me perdoa.
— A culpa não é sua, Matt — eu disse, respirando fundo. Esse era o Matt pra você, o cara que se colocava no lugar dos outros, tomava as suas dores e ainda te ajudava a superar. — Se o seu irmão é um merda de ser humano, a culpa não é sua. — Eu abaixei a cabeça. — Eu só queria que eu soubesse antes, sabe? Eu gostaria de não ter ignorado todos os alertas que meu cérebro estava me mandando, talvez agora eu não estivesse com um coração partido em um milhão de pedaços, um chifre no meio da testa e a eterna imagem do meu ex-namorado transando com outra em cima da minha cama.
— Você sabe que é melhor do que ele, não sabe, ? Max pode nascer duas vezes, mas não chegaria nem ao mínimo pra merecer uma garota como você. — Matt apertou minha mão.
— Eu sei — eu respondi, fazendo com que ele sorrisse. — Só que agora eu não tenho onde morar, ou roupas pra vestir, e nem o capeta me faz voltar àquele apartamento tão cedo.
— Você pode ficar com a gente — disse, fazendo com que eu o olhasse assustada. — O quê? — Ele se afastou de mim, se levantando. — Não é como se a gente fosse te deixar na rua da amargura, você fica com a gente até encontrar outro apartamento ou expulsar aquele idiota do seu.
— Quando eu voltar para aquele apartamento, vai ser pra pegar as minhas coisas. — Me levantei, cruzando os braços. — Será que a gente pode ir agora? Eu preciso de um banho longo, e, se eu me lembro bem, vocês têm uma banheira maravilhosa.
— Vamos lá, minha pequena aprendiz, você vai adorar morar com a gente — Matt disse, jogando seu braço ao redor dos meus ombros.
— Por que eu tenho a sensação de que eu deveria arrumar um quarto de hotel em vez de aceitar o convite de vocês?
— Deve ser porque você deveria, mas eu não vou deixar! — Matt me abraçou. — Oh, isso me lembra: onde vai dormir?
— Ela pode dormir no meu quarto, eu durmo na sala. — deu de ombros.
— Isso significa que eu vou poder brincar com os seus barquinhos? — eu disse, sorrindo de lado e olhando pra , que me olhou assustado.
— Eu já te disse que os barquinhos eram dos meus sobrinhos! — grunhiu, fazendo com que eu gargalhasse.
— Claro que eram, pequeno .


Capítulo II

Bronx • 15 de maio.


já estava morando conosco há quase seis meses e as únicas coisas que ela fez foram: ir pra as aulas, ir para o treino e voltar pra casa. Ela falava apenas o necessário, e quando eu ou Matt tentávamos provocá-la ou chamá-la pra sair, ela apenas dizia que estava cansada demais, o que era de se entender, já que ela tinha se jogado de cabeça no futebol e estava todos os jogos sem perder uma partida. Quando jogava, parecia que ela esquecia do mundo lá fora. Ela tinha apenas uma meta e era ganhar, nada nem ninguém podia lhe tirar isso porque ela era a melhor e o resto do mundo tinha que lidar com isso quer queira quer não, eu entendia exatamente o que ela sentia, era a mesma coisa que eu sentia quando entrava em campo.
Então você deve imaginar o quão estranho foi pra mim acordar no meio da noite com o choro de vindo da cozinha. Assim que ela me viu, limpou as lágrimas e se virou de costas, porém eu ainda podia ver os seus ombros balançando, indicando que ela ainda estava chorando. Ela era tão durona quando entrava em campo, ou quando retrucava algo que eu falava ou participava em uma discussão com alguém, que chorar era a última coisa que eu a imaginaria fazendo, e nesse meio tempo eu descobri que ver chorando trazia um sentimento dentro de mim o qual eu não sabia descrever, ou até sabia, mas ignorava.
— Você vai ficar aí parando me vendo chorar? — ela disse, sem nem ao menos olhar pra trás.
— Vou! Você vai chorar a noite toda? — eu disse, me sentando na bancada atrás de mim. — Porque, se sim, eu vou logo preparar um café. — riu pelo nariz, se virando pra mim. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, mas ela tinha um leve sorriso nos lábios.
— Eu te odeio.
— Mas eu te fiz sorrir! — Apontei o dedo pra ela, fazendo com que ela sorrisse largamente.
— É, você fez. — Ela amarrou o seu cabelo em um coque e cruzou os braços. — Desculpa se eu te acordei com o meu choro, mas é que o Max... Quer saber, não importa.
— O que foi que aquele idiota fez agora, ? — Ela abaixou a cabeça, mordendo o lábio. — E nem pense em dizer que não importa ou pra deixar pra lá, porque eu sei que foi alguma coisa, faz tempo que você não chora desse jeito.
— Max descobriu que eu estava tirando minhas coisas do apartamento aos poucos e disse para o porteiro me impedir de subir. E o síndico, que é outro merda, tomou partido dele. Agora, eu não posso mais nem pegar o resto das minhas coisas porque Max é um escroto. — Ela riu sem humor, abrindo os braços. — Eu me pergunto amargamente como foi que eu me apaixonei por aquele idiota? Por que, em toda a galáxia, não vi quem Max era de verdade? Porque, aparentemente, todo mundo sabia que ele era um idiota, mas decidiu não me contar!
— Às vezes pessoas boas fazem coisas ruins, mas às vezes são pessoas ruins que fazem coisas boas. No seu caso, Max é uma pessoa ruim que faz coisas boas. Você estava apaixonada, , e quando a gente se apaixona, a gente não vê os defeitos de alguém, aceita tudo porque as coisas boas valem a pena. Até que um dia você percebe que fingir que as coisas ruins não existem só retardam coisas que estavam propícias a acontecer. Max nunca te mereceu, , você é muito boa pra ele.
— Você fala como se entendesse.
— Porque eu passei pela mesma coisa. — me olhou assustada. — Não fique assustada, pequena , aqui também pode se apaixonar. — Ela sorriu de lado. Fiz sorrir, ponto para o pequeno ! — Eu a conheci no final do colégio, ela era amiga da minha irmã e vivia na nossa casa. Foi inevitável, ela era toda certinha e eu todo bad boy. A gente passou mais de três anos juntos, fomos pra universidades diferentes, mas, mesmo assim, a gente conseguiu manter um relacionamento a distância. Até que ela conheceu Dermeval, e acredite, esse era mesmo o nome do cara, e ela encontrou tudo que ela, aparentemente, não encontrou comigo: um cara sensível, que sabia falar dos sentimentos e não só ligava para o futebol.
— Engraçado, Max disse que eu era muito sentimental, muito confiante e só ligava pra o futebol.
— No final, tudo é culpa do futebol.
— Na verdade, a culpa é deles que não nos aceitaram do jeito que éramos.
— Você ainda está apaixonada por Max?
— Não, não mais. — Ela balançou a cabeça. — Eu só quero que isso acabe, entende? Eu quero me ver livre do Max pra sempre e pra isso eu preciso tirar minhas coisas do apartamento pra não ter que vê-lo nunca mais.
— Okay. Eu te ajudo.
— O quê?
— Amanhã nós vamos para o seu apartamento e nós vamos tirar todas as suas coisas de lá.
— É muita coisa, , não só minhas roupas.
— Eu posso ligar pra um amigo do meu pai pra levar um caminhão de mudança.
— Só nós não vamos dar conta e arrumar tudo.
— Eu posso chamar os caras do time, eles podem ajudar.
— Por que você está fazendo isso? Não é como a gente fosse os melhores amigos do mundo.
— Eu sei, , mas, sei lá, eu só acho que você não merece nada que está te acontecendo e, se você precisa da minha ajuda pra se livrar do Max, eu estou mais do que disposto em ajudar. É pra isso que amigos servem.
— Nós somos amigos agora?
— Bem, você sabe o nome de todos os meus patinhos de borracha. — Ela sorriu largamente. — Eu não conto isso pra todo mundo, então considere isso um segredo.
— Godofredo e Gertrudes estão a salvo, não se preocupe. — Ela se aproximou de mim e estendeu a mão. — Obrigada, .
— De nada, .
— Boa noite.
— Boa noite.
E então ela saiu da cozinha sem olhar pra trás e eu comecei a me perguntar o que diabos eu estava fazendo?

E foi assim que eu passei a tarde inteira, de uma sexta feira, ajudando a arrumar as coisas do seu apartamento antigo com a ajuda de alguns cara do meu time de futebol. Meu pai me ajudou a arrumar um caminhão de mudança pra levar tudo, aparentemente ele era um cara de confiança que já tinha ajudado meu pai algumas vezes. não sentiu nenhum remorso enquanto arrumava tudo que lhe pertencia em caixas, era visível que ela estava mais aliviada do que nunca de finalmente fechar com chave de ouro esse filme de terror que virou sua vida nos últimos meses. escolheu o dia perfeito pra fazer a mudança, Max passava o dia inteiro fora e, com a ajuda de uma vizinha e da chave reserva, Maximiliano teria uma baita surpresa quando chegasse em casa.
— Eles já levaram as últimas caixas? — ela perguntou, olhando pra mim.
— Sim, Bob já está levando tudo pro meu prédio. Os caras estão indo pro treino, mas Bob disse que pediu ajuda pra carregar as caixas.
— E onde é que nós vamos colocar tudo?
— Não se preocupe, eu já tenho o lugar perfeito.
— E onde é esse lugar perfeito, ?
— Que merda que está acontecendo aqui? — Minha fala foi interrompida pelo grito de Max vindo da porta. rolou os olhos e olhou para ele. — O que foi que você fez com o meu apartamento, ? Onde estão minhas coisas?
— Correção: minhas coisas. Eu tirei tudo que era meu por direito nesse apartamento, você pode ficar com o resto.
— Você realmente ficou louca, ! — ele gritou.
— Ah, tá! Porque foi eu que impedi você de pegar suas coisas, Maximiliano! — ela gritou de volta. — Eu não vou desceu ao seu nível, eu já terminei o que eu tinha que fazer aqui. Tenha uma vida ótima, espero que você tropece e quebre a cara. Passar bem! — começou a andar em direção à porta, quando Max tentou segurar em seu braço. Quase sendo a palavra-chave, porque eu bloqueei o seu caminho, o empurrando pra trás.
— Eu não faria isso, se fosse você — eu disse, bloqueando a visão dele, impedindo que ele olhasse pra . — Aceita que dói menos, Maximiliano.
— E o que que esse idiota está fazendo aqui?
— No momento, está sendo escroto com a ex-namorada.
— Eu estava falando de você, .
— E eu de você! — eu disse, cruzando os braços. Max me olhou com ódio e dessa vez veio pra cima de mim. Eu o empurrei de volta, fazendo com que ele me pegasse desprevenido e desse um soco no meu maxilar. Eu olhei pra ele com um sorriso de lado e parti pra cima dele. Eu realmente não sei por quanto tempo nós dois lutamos no chão, a minha única meta era acertar o maior números de lugares no corpo de Max pra que ele sentisse pelo menos o dobro da dor que ele fez passar durante os últimos meses. começou a gritar para que nós dois parássemos, só que nenhum dos dois estava pronto pra desistir, porém, parecia que alguém tinha escutado os gritos de e vieram separar a briga. Dois caras seguravam Max, enquanto mais dois me seguravam. parou em minha frente, inspecionando meu rosto.
, você ficou louco? — Ela tocou meu lábio, fazendo com que eu afastasse meu rosto.
— O que está acontecendo aqui? — um velho ao lado do porteiro disse. — Max, você pode me explicar isso?
— Ele me atacou! — Max apontou o dedo pra mim. — Esse louco entrou no meu apartamento, levou minhas coisas e ainda atacou!
— Max, cala a boca, você só fala merda! — disse, se virando para ele. — Eu só vim buscar o resto das minhas coisas que deixei aqui, mas Max não aceitou bem, porque o apartamentinho perfeito que ele enchia a boca pra dizer pros idiotas dos seus amigos que a “sua incrível namorada” decorou já não é mais perfeito depois que eu tirei tudo que eu comprei pra decorar. Ele, então, não contente de me impedir de pegar minhas coisas e colocar um chifre enorme na minha testa, decidiu partir pra cima do meu amigo.
— Não eram as coisas que Max comprou? — o síndico perguntou, olhando para Max.
— Claro que não, Max não levantou uma pena pra decorar esse lugar, só trouxe o vídeo game porque, enfim, era o que os pais compraram pra ele.
— Eu não sabia. Max disse que as coisas eram dele.
— Porque homem tem sempre mais credibilidade que uma mulher, mesmo quando mente — disse, fazendo com que o síndico ficasse vermelho de vergonha. — Pode ficar vermelho de vergonha mesmo, e eu espero que o senhor esteja pronto, porque meu advogado vai contatar todos vocês sobre a quebra de contrato da sua parte quando me impediu de entrar no meu próprio apartamento porque Max pediu.
— Esse apartamento também é meu!
— Mas não é o seu nome no contrato e pagar uma parte do aluguel não te faz dono de nada! — gritou de volta. — Espero que o senhor Bellucci, dono do prédio, esteja pronto pra encarar mais um processo. Se bem que com a quantidade de merda que acontece aqui, ele já deve estar mais do acostumado — continuou, sorrindo vitoriosa. — Como sempre, foi péssimo estar na presença de todos vocês, menos você , eu gosto de você. — Ela piscou pra mim. — Espero não precisar voltar a esse lugar, passar bem todos vocês. Vamos sair daqui logo! — me puxou pela mão e foi me arrastando em direção ao elevador. Quando as portas fecharam, nós nos entreolhamos e caímos na gargalhada.
— O síndico ficou vermelho de tanta vergonha! , você é a melhor! — Me virei pra ela, segurando seus ombros.
— Eu nunca me senti tão satisfeita em minha vida! Colocar cada um no lugar deles fez com que um peso saísse dos meus ombros. — Ela se encostou no espelho atrás dela e olhou pra mim. — Obrigada por me defender e me ajudar com tudo. Eu fico te devendo.
— Cuidado, , ficar me devendo é uma coisa muito perigosa.
— Sem problema, eu não tenho medo de arriscar. — sorriu de lado, antes de sair do elevador em direção ao meu carro. Eu apenas balancei a cabeça, a seguindo logo em seguida. Essa garota vai ser a minha sentença de morte.

Nós fomos o caminho inteiro falando sobre futebol, é claro, como capitães dos times de futebol que tinham na universidade, futebol era uma das coisas que não saía da nossa cabeça assim facilmente. Sem falar que eu estava tentando desviar a atenção de sobre tudo que tinha acabado de acontecer e qual o melhor jeito de fazer isso a não ser a fazendo falar da única coisa que fazia com que ela esquecesse do mundo? Pro time de futebol feminino ainda, faltava um jogo pra elas ganharem a liga. Dava pra perceber o quanto era apaixonada por futebol, o jeito o qual ela falava do seu time, o quão orgulhosa ela estava de tudo que elas conquistaram. Chegava até a ser impossível não sorrir quando os olhos de brilhavam como dois faróis e pareciam desvendar todos os meus segredos apenas com o olhar. Acho que era por isso que a nossa relação era baseada em pura implicância, especialmente da minha parte, tinha olhos que podiam penetrar a alma e toda vez que ela olhava pra mim, parecia que ela estava vendo além do , capitão do time do futebol, e isso me assustava pra caralho. Ser vulnerável nunca foi meu forte, demonstrar sentimentos nunca foi minha praia, pra isso eu tinha outros métodos, mas então por que com eu sentia que eu era capaz de tudo? Capaz até de mostrar a parte de mim que nem todo mundo conhecia?
— Onde você está me levando ? — perguntou, atrás de mim, enquanto eu liderava o caminho para onde nós levaríamos as caixas de mudança.
— Você verá, pequena — eu disse, por cima do ombro, parando em frente ao portão do meu estúdio. Tirei o cadeado e empurrei o portão, fazendo com que ele deslizasse até o final do corredor. — Bem vinda ao meu refúgio! — Liguei as luzes, revelando o estúdio de pintura que eu tinha montado pra mim. Era um velho salão de festas que estava caindo aos pedaços, mas que servia perfeitamente para um estúdio parecido com o que eu tinha em casa e dividia com minha mãe. Meus pais compraram o lugar e me ajudaram a reformar e transformar em um estúdio. Minha mãe ficou mais do que feliz quando descobriu que eu continuaria pintando mesmo depois de ir pra faculdade, claro que ela não ficou tão feliz quando descobriu que não poderia expor nenhum dos meus quadros, porém aceitou a minha decisão. — Vocês podem colocar as caixas onde quiserem, tem bastante espaço.
— Esse lugar é incrível! — disse, parando ao meu lado. — De quem é?
— Meu. Era um antigo salão de festas, então eu reformei e transformei em um estúdio de pintura. — estava prestes a falar, quando Bob a interrompeu.
— Eu estou tendo uma espécie de dejá-vu.
— Por quê? — eu perguntei, o olhando confuso.
— Anos atrás, seu pai nos chamou pra um trabalho em um estúdio também, mas, no caso, nós estávamos levando os quadros pra Londres. Meu pai, que cuidou do frete na época, não sabia que ele estava levando os quadros de uma pintora famosa. A gente era um bando de moleques na época e só descobriu anos depois, quando seu pai disse que tinha casado com ela.
— Obrigado pela ajuda, Bob.
— Que isso, filho, foi um prazer. Mande um abraço para os seus pais.
— Mandarei sim. — também agradeceu Bob e depois se virou pra mim, dizendo:
— Eu nunca imaginaria que você seria um cara apaixonado por arte. Quem pintou esses quadros?
— Eu pintei — eu disse, me virando pra ela, que me olhou assustada. — O quê? Minha mãe me ensinou desde pequeno que arte é o melhor jeito de se expressar.
— Mas esses quadros são incríveis, ! — ela disse, andando em direção a uns quadros empilhados na parede. — Por que você não os vende?
— Porque eu gosto da minha arte do jeito que ela está no momento: apenas minha. Eu acho que não teria coragem de colocá-la em alguma exposição pra alguém criticar.
— Ou apreciar.
— Você não sabe o legado que eu tenho que representar — eu disse, me virando pra ela por completo. — O que você acha de a gente assistir à última partida do time que vocês vão jogar amanhã pra ver que fraquezas vocês podem explorar?
— Isso é música para os meus ouvidos! Pizza de mozarela?
— Você sabe como conquistar um homem, pequena .


Capítulo III

Bronx • 23 de maio.


— Nós vamos sair pra comemorar hoje! — disse, logo quando eu entrei no apartamento no começo da noite. — E não me venha com desculpas, você está me devendo uma!
— Tudo bem — eu respondi, colocando minhas coisas em cima da bancada da cozinha. — Pra onde nós vamos?
Hopeless Fountain Kingdom. Eles vão ter uma festa incrível hoje com open bar, karaokê e eu já comprei nossos ingressos.
— Matt vai com a gente? — Me sentei em um dos bancos de frente pra ele.
— Ele vai, mas vai com a Bailey, então a gente se encontra por lá. Quer lasanha?
— Foi você que fez ou Matt?
— Eu.
— Então passa um prato enorme pra cá, porque eu estou com muita fome.
— Pequena , você está admitindo que minha comida é melhor do que a do Matt? — ele disse, colocando a mão em seu coração.
— Se ele perguntar, eu nunca disse tal coisa — respondi, antes de começar a comer.
Tinha várias coisas que eu tinha aprendido sobre nos últimos meses morando com ele, como, por exemplo: o seu quarto era impecável, com enormes prateleiras lotadas de livros, enquanto o de Matt era uma bagunça na qual você não sabia onde encontrar nada, mas sabia que em algum lugar encontraria uma pizza velha; o fato dele ser um tremendo cozinheiro e que, dos vários livros, alguns eram de receitas e todos os domingos testava uma nova; e, por último, o estúdio de pintura lotado de quadros feitos por ele mesmo, que, a propósito, eram incríveis. Esse era um lado de que eu nunca tinha conhecido, na verdade, eu nunca tinha me importado em ver além do capitão do time de futebol metido, porque pra mim era tudo isso que ele era, sem mais nem menos. Talvez, se eu tivesse, as coisas seriam diferentes e a nossa relação passaria de “eu não vejo a hora de você levar uma topada e cair no chão” pra “vamos assistir ao jogo do time adversário da próxima partida? ”. Se eu tinha descoberto algo nesses meses, era que eu gostava desse novo que eu estava conhecendo, bem mais do que eu gostava de admitir.
? — Eu levantei minha cabeça, olhando pra ele. — Você está me ouvindo?
— Desculpa, eu viajei.
— Matt disse que o bar está lotado e era melhor a gente ir logo. Quer tomar banho primeiro?
— Não, pode ir — respondi, me sentando no sofá.
estava prestes a responder, quando a porta do apartamento abriu com um estrondo e uma mulher, com uma bolsa enorme e vans entrou sem nem ao menos olhar por cima do ombro.
— Mãe, você não pode continuar usando meu apartamento como depósitos de quadros que você não acha bons o suficiente pra galeria. — respirou fundo e se sentou no banco perto do balcão da cozinha. A mulher apenas deu de ombros, andando em direção à parede perto da janela e levantou o quadro, arrumando-o na melhor posição. — Mãe, a senhora está me escutando?
— Não — ela respondeu, colocando o quadro do chão e tirando um martelo da bolsa.
— Então como é que você está respondendo?
— Intuição. — A mãe de começou a martelar o prego na parede e, depois que ficou satisfeita com seu trabalho, pendurou o quadro. — Perfeito! Esse lugar estava precisando de uma melhorada, não acha? — Ela se virou para , porém seus olhos pararam em mim. — Oh, não sabia que você estava acompanhado — ela disse, cruzando os braços, olhando para , que deu de ombros. Sua mãe voltou o olhar pra mim, arregalando os olhos. — Ai meu Deus, ela é sua namorada! Você está cozinhando pra ela! — A mulher andou em direção ao sofá e se sentou ao meu lado, tirando os óculos escuros. — Finalmente! Onde vocês se conheceram? Há quanto tempo vocês estão namorando? E por que você não nos apresentou sua namorada, ? — Ela olhou pra ele e depois pra mim de novo. — Ah, que cabeça a minha! Eu sou Jane , mãe do . É um prazer te conhecer!
A única coisa que eu consegui fazer foi encará-la com os olhos arregalados, porque na minha frente estava nada mais nada menos do que uma das minhas pintoras favoritas, Zoe Cane. Ou melhor dizendo, a super heroína Jane .
— Mãe, não! — disse, se sentando entre nós duas, virando para sua mãe. — só está passando uns dias aqui porque ela terminou com o namorado dela e precisa de um lugar pra ficar. Ela não é minha namorada, pra falar a verdade, a me detesta.
— O que foi que você fez pra menina, Leopoldo ? — Jane deu um tapa em seu ombro, que a olhou incrédulo. — Eu não te ensinei a tratar as mulheres direito, hein? Desaprendeu tudo com aqueles teus amigos acéfalos?
— Aí! E eu não estou desrespeitando ninguém aqui, eu só gosto de implicar com a e, pode apostar, que ela também gosta de implicar comigo.
— Pior que gosto — eu disse, me afastando um pouco pro lado pra poder vê-la. — E não se preocupe, senhora , tem me tratado como um perfeito cavaleiro. Posso até dizer que seu filho está um pouco mais tolerável nas últimas semanas.
— Acho muito bom! — Ela sorriu pra mim. — puxou muito ao pai, até na hora de flertar ele é péssimo que nem ele!
— Mãe! — a repreendeu e ela só deu de ombros. — Se você já veio fazer o que tinha pra fazer, eu tenho muito o que fazer ainda.
— Não use esse tom comigo, senhorzinho, eu que sou a adulta aqui. — se jogou para trás no sofá e fechou os olhos.
— Eu mereço! — respirou fundo.
, não fala assim com sua mãe, ela é Zoe Cane. Sua mãe é Zoe Cane! Por que você não me disse que sua mãe é Zoe Cane? — Eu o cutuquei na costela, fazendo com que ele me olhasse incrédulo.
— Minha mãe é Zoe Cane. Feliz? — Ele se virou pra sua mãe. — A propósito, é sua grande fã.
— Oh, verdade? — Jane o olhou surpresa. — A maioria dos amigos do não sabem nem quem é Zoe Cane, quiçá sabem alguma coisa sobre arte. Então, , minha fã, me conte mais sobre você. O que você faz? O que gosta de fazer? Por que está morando com os dois maiores bagunceiros que eu já conheci?
— Mãe! Eu não sou bagunceiro, você sabe disso!
— O quê? — Ela olhou para ele inocentemente. — Eu só quero saber mais sobre a minha fã e amiga do meu filho, não é ? — Ela olhou pra mim e eu assenti minha cabeça.
, por que sua mãe está olhando pra essa moça como quem está prestes a planejar um casamento? — Todos nós viramos para a voz que vinha da porta e eu arregalei os olhos quando vi um homem que parecia mais a versão mais velha de . E, queridos, deixa eu te dizer, que homem lindo era esse!
— Pai, graças a Deus! — jogou as mãos para cima, antes de se levantar e o cumprimentar. — Tem como você impedir a mamãe de interrogar a ? E também parar de usar meu apartamento como depósito?
— E por que eu faria isso? — Ele olhou pra , com os braços cruzados.
— Porque meu apartamento não é depósito e não cometeu nenhum crime.
— Bem, o único crime que ela cometeu foi jogar bola melhor do que você. — O pai de sorriu largamente, o que fez com que ele rolasse os olhos. — É um prazer te conhecer, , eu sou um grande fã. — Ele estendeu a mão para mim, que a apertei.
— É um prazer conhecê-lo também, senhor.
— Agora, sobre aquele interrogatório — ele se sentou ao meu lado —, me diga, você está namorando nosso filho? E será que tem como você ensinar pro a fazer gol de carrinho como você fez no último jogo? Aquilo foi incrível!
, conheça meu pai, Kevin e mais fã seu do que do próprio filho!
— O que eu posso fazer? Sua namorada é incrível!
— Eu não sou namorada do .
— Não? — Ele olhou pra mim, surpreso. — Então por que você está aturando ele? Ele está te fazendo prisioneira? Balance a cabeça se sim — ele sussurrou só pra eu ouvir. — Eu e Jane não víamos a hora dele ir pra faculdade, pense em um garoto chato.
— Pai! Pelo amor de Deus!
— Seu filho é incrível, senhor . Na medida do possível, é claro.
— Você dois não têm o que fazer não? — perguntou, andando em direção ao sofá e se sentando entre seu pai e eu. — Já terminaram o que tinham que fazer aqui ou a mamãe trouxe mais quadros pra transformar meu apartamento em uma galeria?
— Nós viemos te lembrar do dia anual de “Come Away With Me”. — Jane bateu as mãos animada. — É o dia anual que nós juntamos a família inteira e pintamos um painel de pintura de dois metros e meio. — Ela olhou pra mim. — Você deveria vir, , você iria adorar. As irmãs do estarão lá, elas vão adorar te conhecer. Eloá vai trazer o namorado dela pra gente conhecer, aparentemente ele é um cowboy super sexy!
— Jane! Mãe! — Kevin e falaram ao mesmo tempo, fazendo com que ela rolasse os olhos.
— Mas foi o que ela disse. Então, , você pode ir? — Olhei pro , que apenas deu de ombros.
— Claro que sim, eu adoraria. — Jane sorriu largamente.
— Isso é maravilhoso! Agora, conte-me mais sobre você, , o que você cursa na faculdade? Você joga futebol também? Há quanto tempo vocês dois fingem que não estão juntos?
— Pelo amor de Deus! — se levantou, andando em direção à porta e a abrindo. — Se vocês nos dão licença, e eu temos um compromisso.
— A gente pode ficar até vocês saírem — Jane disse, se encostando no sofá. abaixou a cabeça, se dando por vencido.
— Vamos, Jane — Kevin disse, se levantando.
— Mas eu quero conversar com a . E ela quer conversar comigo, e eu tenho várias perguntas pra fazer, e pro também. E... — Jane não pôde terminar, porque Kevin a pegou pela cintura e a jogou por cima do ombro, fazendo com que ela soltasse um grito. — Kevin! Me coloca no chão! — Ela bateu nas costas dele.
— Tchau, meu filho. , foi um prazer te conhecer — Kevin disse, andando em direção à porta.
— Tchau, ! Tchau, filho chato! — Jane gritou e deu língua pro antes de desaparecer pela porta. Ele andou até o sofá e se jogou, fechando os olhos.
— Seus pais são...
— Muito trabalho? Loucos? Sem limite?
— Eu ia dizer adoráveis, mas tudo isso que você falou funciona também. Ele são incríveis.
— Claro que são, porém eles desconhecem a palavra limite e também adoram se meter na vida dos outros.
— É porque você não conhece a minha família. Minha avó me levou pra aulas de pole dance à beira dos 60 anos e meus pais decidiram que ainda se amavam e começaram a falar sacanagens na minha frente antes de ir embora pra faculdade. Acredite em mim, seus pais são fichinha. — riu e encostou sua cabeça em meu ombro.
— Que bom que eu não estou sozinho no quesito família metida.
— Não, , você não está sozinho — eu respondi, me virando pra ele na mesma hora que ele se virou pra mim. Parecia que o mundo tinha parado por um instante pelo jeito que me olhava, como se fosse desvendar todos os meus segredos. Todas as barreiras que eu tinha levantado outra vez depois da traição de Max estavam, aos poucos, se abalando. O que era totalmente louco, já que, há alguns meses, a única coisa que eu queria de era quilômetros de distância e empurrá-lo do precipício mais próximo. Talvez as coisas tenham mudado mais do que eu esperava e, em vez de empurrá-lo, eu queira pular junto com ele.
— Eu vou tomar banho — ele disse, se levantando rapidamente e indo em direção ao banheiro.
É, , parece que você vai precisar de um pouco de coragem líquida pra desvendar o maior segredo de .

Quando nós chegamos ao bar, quatro horas depois, o lugar estava lotado e Matt tinha conseguido que um de seus amigos colocasse a gente pra dentro pela porta dos fundos. Aparentemente o cara era muito fã de esportes, existia tratamento especial para os capitães favoritos de toda a universidade, e um deles era bebidas de graça. À medida que a noite foi passando, a bebida foi entrando e a conversa foi fluindo. Bailey, a namorada de Matt e minha parceira de time, ficou ao meu lado a noite inteira conversando sobre os vários assuntos possíveis. Em alguma hora, o resto do nosso time apareceu, depois que eu mandei uma mensagem pra elas com a seguinte frase: “bebida de graça”. e Matt ficaram do lado oposto junto a alguns caras do time de futebol e basquete e, mesmo que eles estivessem longe, com milhares de pessoas tampando minha visão, nada me impediu de dar umas olhadas pra de vez em quando (lê-se: a cada minuto). Era mais forte do que eu, sem falar que parecia estar mais gostoso do que nunca, especialmente quando jogava a cabeça pra trás toda vez que soltava uma gargalhada.
— Você está encarando! — Bailey disse, no meu ouvido, fazendo com que eu olhasse pra ela.
— Encarando? Eu não estou encarando ninguém!
, pelo amor de Deus, com quem você acha que está falando? — Ela cruzou os braços e eu fiz uma careta. — Se eu posso ser sincera, já está mais do que na hora de vocês dois ficarem juntos.
— O quê? Da onde você tirou isso?
— Ah, , vocês dois brigando. Parece um jogo de clássicos tipo Flamengo x Fluminense, Brasil x Argentina, Liverpool x Manchester ou Barcelona x Real Madrid. Dois times rivais, que querem ver o outro derrotado e com torcidas fanáticas cheias de energia. É um jogo que deixa as emoções à flor da pele, cheio de contra-ataques, onde você não sabe quem vai ganhar, mas que acaba terminando no zero a zero pra ser decidido nos pênaltis. — Ela se virou pra mim. — Vocês dois vivem nesse constante contra-ataque, mas ninguém faz um gol porque estão mais preocupados em não deixar o outro ganhar do que ganhar em si. Talvez, se vocês se concentrarem em realmente conhecerem um ao outro, não deixarem as aparências enganarem, alguém poderia sair vitorioso. Ou melhor dizendo, os dois sairiam, porque, venhamos e convenhamos, vocês dois são incríveis e juntos seriam uma combinação perfeita.
— Talvez eu esteja pronta pra fazer um gol — eu disse, sorrindo de lado, fazendo com que ela soltasse um “uhul”!
— Finalmente! O que você vai fazer agora?
— Meninas, a Mona vai subir no palco agora pra cantar! — Paige, gritando, apareceu na nossa frente. — Ela vai cantar >I'm Outta Love da Anastacia. Que tal a gente dar um suporte pra ela? — Bailey e eu nos entreolhamos e começamos a segui-las em direção ao palco. Veja bem, existia uma regra entre as meninas do time de futebol e era que nós, toda vez que Anastacia tocava, não importava o lugar, com quem a gente estivesse, a gente tinha que se juntar pra curtir o hino dessa rainha maravilhosa.
Quando nós chegamos ao palco, a música já tinha começado, mas isso não impediu que a gente dançasse como se não houvesse amanhã. Era disso que eu estava precisando, uma noite cheia de diversão e minhas amigas pra poder espantar tudo de ruim que aconteceu comigo nos últimos meses e partir para um novo capítulo da minha vida. E eu sabia exatamente a quem agradecer por ter me convencido a vir e tinha feito minha vida um pouco mais fácil, engraçada, e, claro, cheia de surpresa.
Olhei para o lado, vendo que me encarava com um sorriso nos lábios, soltei um beijo pra ele, que pegou e colocou a mão no peito como quem guarda no seu coração. Eu gargalhei alto, seguindo as meninas pra fora do palco, andei em direção a , parando em frente a ele.
— Obrigada, zinho.
— O que foi que eu fiz? Isso é sarcasmo? Eu não consigo identificar.
— Não, idiota, eu estou falando sério. Se você não tivesse me tirado de casa, eu provavelmente não veria o que estava perdendo todo esse tempo que eu fiquei trancada dentro daquele apartamento. — Ele se levantou do banco, indicando para que eu sentasse, e eu o fiz. — Se bem que a vista de dentro de casa não deixava a desejar — eu disse, me apoiando no balcão atrás de mim. sorriu de lado, apoiando suas mãos no balcão também, ficando tão perto de mim que eu podia sentir sua respiração em meu rosto.
— Bem, você não foi a única que apreciou a vista. — Ele sorriu de lado, fazendo com que eu mordesse o lábio.
, você quer... — eu comecei, mas fui logo interrompida por Matt.
, vem comigo.
— Tem que ser agora? — ele respondeu, sem tirar os olhos de mim. — Eu estou no meio de algo muito importante no momento.
— Vamos logo. — Matt o puxou, fazendo com que ele se afastasse um pouco de mim. respirou fundo, se virando pra ele e depois para mim novamente.
— Você me espera aqui? — Eu assenti e ele começou a se afastar, porém, logo se virou pra mim de novo. — Ah, esqueci uma coisa! — parou em minha frente, segurou meu rosto em suas mãos e me deu um selinho demorado. — Eu já volto. — Ele me deu outro selinho antes de desaparecer na multidão.
— Esse homem vai ser a minha ruína — eu disse, fazendo com que Bailey desse uma gargalhada ao meu lado.
— E, aparentemente, você não está reclamando de jeito nenhum — ela disse, pedindo duas cervejas para o bartender.
— Você pode apostar que não. — Me virei na cadeira, ficando em frente a ela. Bailey estava prestes a falar alguma coisa, quando o sorriso dela desapareceu quando viu algo atrás de mim.
! — Escutei a voz da única pessoa que eu nunca mais queria ouvir falar na vida, meu sorriso logo desapareceu enquanto eu virei meu rosto para o lado e dei de cara com Max.
— O que você quer? — perguntei, sem olhar pra ele.
— Será que a gente pode conversar?
— Pensei que eu deixei bem claro que não queria te ver nunca mais.
... por favor, eu só quero conversar. Eu sinto sua falta.
— Mas você é muito cara de pau mesmo, Maximiliano — eu disse, me virando pra ele, incrédula. — Você me trai, me impede de pegar minhas coisas, me coloca pra baixo de todas as maneiras possíveis, odeia o meu futebol e tem a cara de pau de dizer que sente minha falta. Vaza daqui, Max!
...
— Eu acho que ela disse que não quer te ver nunca mais. — apareceu ao meu lado, colocando o braço em minha cintura.
— Esse cara é seu cão de guarda agora, ? — Max disse, irritado.
— Ele é meu amigo, e se tem algum cachorro aqui é você.
— Amigo? Você odeia esse cara, ! Você mesma disse!
— Mas eu mudei de ideia! As pessoas fazem isso, Max, elas mudam de ideia à medida que vão conhecendo alguém. Eu descobri que o é um cara incrível do mesmo jeito que eu descobri que você é um imbecil. Acabou, Max!
— Eu sabia que você estava tendo um caso com esse idiota! — Ele apontou para . — Todo aquele ódio era só uma fachada.
— Bem que eu queria, mas, felizmente, eu não sou que nem você que não respeita ninguém e saí por aí dormindo com metade do corpo estudantil enquanto estava em um relacionamento de dois anos.
— Você é uma vadia! — ele disse, e eu fiz a única coisa aceitável no momento, que foi dar um tapa forte na cara dele.
— Nunca mais fale comigo, Maximiliano, eu juro que se você fizer, eu só paro quando eu quebrar seu nariz. — Max me olhou incrédulo e deu um passo em minha direção.
— Max, cara, já deu — disse, parando em minha frente. — A culpa é sua por perder uma garota incrível como a . Agora vive com as consequências.
— Saí da minha frente, !
— Max, já é o suficiente. — Matt apareceu ao lado dele. — está certo. Você vai ter que viver com as consequências do que você fez.
— Claro que você vai ficar do lado desses dois, Matt, que belo irmão você é! — Max se virou, desaparecendo pela multidão. Matt respirou fundo e foi atrás do irmão, enquanto se virou pra mim, me abraçando pelo pescoço.
— Você está bem? — se afastou de mim, me olhando. — Ela não fez nada com você, não?
— Não, você chegou antes — eu disse, olhando pra ele. — , eu vou embora.
— Não deixa esse cara estragar sua noite, , você estava se divertindo tanto.
— Eu sinto que está todo mundo olhando pra mim, e eu odeio isso. — olhou em volta antes de voltar seu olhar pra mim.
— Vamos, eu te levo. — Ele segurou em minha mão e eu o parei no mesmo instante.
— Não, , você não precisa ir comigo, eu pego um táxi.
— Eu não vou ficar aqui, sem falar que essa festa já perdeu a graça.
— Se você diz.
Depois de se despedir de todos os nossos amigos, e eu ficamos esperando pouco tempo do lado de fora para conseguirmos um táxi. passou o braço por meus ombros, me puxando pra perto e beijando minha testa. Pela primeira vez na noite, eu consegui relaxar e no lugar que eu menos esperei: nos braços do .
Quando chegamos ao nosso prédio, pagou ao taxista e depois segurou minha mão, me levando até o elevador. Ninguém falou nada, eu nem ao menos tive coragem de olhar pra porque eu estava com medo que qualquer movimento brusco poderia fazer com que esse momento acabasse e essa era a última coisa que eu queria que acontecesse.
— Eu vou deixar você dormir. — soltou minha mão, logo depois que nós entramos no apartamento. — Você deve estar cansada.
— É, hoje à noite foi definitivamente interessante. — Eu sorri sem graça. — Obrigada por me salvar, outra vez.
— Eu estou à sua disposição sempre que você precisar, .
— Bom saber, meu próprio super-herói.
— Boa noite, .
— Boa noite, — eu disse, começando a andar em direção ao corredor. É mesmo assim que você quer que a noite termine, ? Claro que não! — Ah, eu esqueci uma coisa — eu disse, me virando pra ele outra vez.
— O quê? — ele perguntou e eu andei em direção a , segurei seu rosto entre minhas mãos e lhe dei um selinho demorado. me puxou pela cintura, fazendo com que eu ficasse na ponta dos pés, aprofundando o beijo. Borboletas começaram a habitar minha barriga, pequenas correntes elétricas passavam pelo meu corpo e eu tinha formigamentos nos dedos, parecia que tudo que as heroínas dos meus livros favoritos sentiam quando estavam com o seu “par perfeito” eu estava sentindo com o nosso primeiro beijo de verdade. estava longe de ser perfeito, mas, no momento, estar com ele apenas parecia certo, mais certo do que qualquer outro garoto que eu já fiquei ou namorei. É, queridos, parece que a gente acha “a conexão perfeita” nas pessoas mais peculiares.
— Se era meu ar que você estava procurando, você achou e o roubou todo de mim — disse, afastando nossos rostos e encostando nossas testas. Eu soltei uma gargalhada e dei um selinho nele.
— Essa foi a melhor cantada que já me disseram.
— E o pior que não foi cantada, é a verdade. — Ele sorriu largamente.
— Vem — eu disse, me afastando dele, e segurando em sua mão.
— Pra onde?
— Pro meu quarto, pra eu roubar mais um pouco desse seu ar. — Olhei pra ele por cima do meu ombro, mordendo minha língua.
, você está tentando me seduzir?
— Tentando e sucedendo, devo ressaltar. — me puxou e me abraçou pela cintura.
— Comigo você vai chegar à primeira base, segunda, no máximo, viu ? — ele disse, começando a beijar meu pescoço. — Nós ainda não fomos a um encontro.
— E você quer ir a um encontro? — eu perguntei, fazendo com que ele me olhasse.
— Com você, , eu vou até pra lua. — Ele sorriu, me dando um selinho. — Agora vamos continuar aquela história de roubar um pouco do meu ar, eu estava gostando dela.
Eu soltei uma gargalhada antes de voltar a beijá-lo novamente.

• • • • •


— Olha quem eu achei no meio do caminho! — Jane anunciou, logo que entramos no quintal da sua mansão. não estava em casa porque tinha treino a manhã inteira e, segundo o recado que ele deixou na geladeira, ele iria direto pra casa dos seus pais, e se eu quisesse ir, que eu mandasse uma mensagem que ele vinha me buscar. Eu não tinha planejado vir pro dia anual da família , porém Jane apareceu no apartamento, avisando que veio nos buscar e não tinha como eu recusar.
virou para trás e sorriu assim que me viu. Pra piorar tudo, ele estava sem camisa, usando apenas uma calça, sujo de tinta. Do lado dele, tinha duas mulheres e, em outro painel, tinha um casal, o que deu logo pra perceber que era a irmã de , que trouxe o seu namorado cowboy sexy.
— Mia! — O pai de me abraçou forte pelo pescoço. — Bem vinda ao dia anual dos ! Venha, venha conhecer o resto da família. — Ele me puxou em direção ao casal e disse: — Essa é a Eloá e o namorado dela, Austin!
— Muito prazer, Mia. — Eloá sorriu pra mim. — Você é muito bonita pra namorar o .
— Eloá, eu escutei isso! — gritou, não se incomodando de virar para nós.
— É pra escutar mesmo! — ela gritou de volta.
— Não me faça ir aí e jogar tinta em você! — ele disse, se virando pra nós.
— Eu quero ver você tentar, pirralho! — dessa vez, foi a vez de Austin gritar. — Prazer em te conhecer, Mia! — Ele estendeu a mão pra mim e eu a apertei.
— O prazer é meu.
— Não é só porque você é novo na família que eu não posso derrubar um balde de tinta em você, cunhadinho. — apareceu ao meu lado, jogando o braços para os meus ombros.
— Repito: Eu quero ver você tentar, pirralho! — Austin respondeu, colocando o braço ao redor dos ombros de Eloá.
— Vamos, Mia, deixa eu te apresentar as minhas irmãs favoritas! — Ele disse e Eloá deu língua pra ele. tirou o braço de meus ombros e segurou em minha mão. — Oi — ele sussurrou em meu ouvido.
— Oi — eu respondi de volta, olhando pra ele.
— Por que você não me ligou pra ir te buscar?
— Porque sua mãe apareceu no apartamento praticamente me arrastando pra vir pra cá.
— Ela tende a fazer isso — ele disse, balançando a cabeça. — Essas daqui são minhas irmãs, Catarina e Valentina. Monstrinhas, essa é a Mia.
— Olá, Mia — Catarina disse, me abraçando logo em seguida. — Eloá estava certa, você é muito bonita pra estar com .
— E, segundo papai, ela é a rainha do futebol em Fordham — Valentina continuou. — Arrumou uma namorada que vai finalmente te ensinar a jogar bola, zinho?
— HA! Muito engraçadas vocês! Vazem daqui, esse painel é meu e da Mia.
— Podem ficar, a gente não queria segurar vela mesmo. — Valentina deu de ombros, e as duas foram em direção ao mesmo painel que seus pais estavam.
— Agora eu sei de onde você tira todo o sarcasmo, é de família.
— Você não imagina o quanto. — Ele disse se abaixando e me entregando um pincel.
— Então, o que nós vamos pintar? Vou logo dizendo que eu sempre sou péssima em arte e só sei fazer solzinho.
— Um penhasco — ele disse, se virando pra tela.
— Por que um penhasco?
— Porque foi assim que nossos pais se conheceram.
— O quê? Como assim?
— Nossos pais estavam viajando juntos pro casamento do meu tio e tia, quando um bando de ladrões invadiu o trem em que eles estavam atrás de Zoe Cane. Os dois tiveram que pular, ainda me pergunto como eles não morreram, depois foram parar em um bar, onde o dono disse que poderia levá-lo para Oxford só pro carro deles dar o prego no meio do caminho. — olhou pra mim de lado, sorrindo. — Eles foram andando até encontrarem outro bar, onde encheram a cara e acabaram encontrando o mesmo bando de ladrões de antes, só que dessa vez eles tiveram que pular de um penhasco.
— Que história mais louca!
— Ainda tem mais: os ladrões os seguiram até New York, só que minha mãe, sendo a melhor super-heroína que você respeita, armou pra eles e acabou prendendo o bando e de quebra ainda revelou pro mundo quem era Zoe Cane.
— Então é por isso que você não gosta de mostrar sua arte pra ninguém, você tem a quem puxar. — assentiu com a cabeça, voltando seu olhar pro painel outra vez. — Mas mostrou pra mim, por quê? — parou de pintar, sorrindo de lado.
— Eu não sei — ele disse, se virando pra mim. — Há alguns meses a gente não se suportava, eu tenho quase certeza de que você queria me empurrar de um penhasco literalmente. E eu simplesmente adorava te ver soltando fogo pela boca. — Ele apontou para o penhasco ao seu lado. — Mas aí as coisas foram mudando, a gente foi passando mais tempo junto e ontem a gente ficou e, porra, agora eu não consigo parar de pensar em você e sinto uma vontade enorme de ficar com você o tempo inteiro.
— Você está completamente certo, eu queria te empurrar de um penhasco. — Dei um passo pra frente, ficando mais perto dele. — Mas talvez agora eu só queira segurar sua mão enquanto nós dois pulamos. — sorriu largamente antes de me puxar pela cintura e colar nosso lábios.
— Quer sair comigo, ? — ele perguntou, encostando sua testa na minha.
— Eu pensei que você nunca ia perguntar. — sorriu largamente antes de me dar um selinho demorado. Não demorou muito pra que nós sentíssemos um líquido gelado descer das nossas cabeças pelo nosso corpo. Nós dois nos afastamos, olhando para o lado e vendo Eloá e Austin gargalhando alto.
— Vocês vão se arrepender disso! — pegou um balde de tinta, mas, a essa altura, Eloá e Austin já estavam longe. Ele me deu um balde de tinta e disse:
— Pronta pra guerra de pintura?
— Com você, , sempre.


FIM



Nota da autora:Olá raios de luz! Espero muito que vocês tenham gostado dessa história. Pra quem não está no grupo das minhas histórias no facebook (link aqui embaixo), eu falei que essa short junto com mais três shorts futuras que vão ser escritas e postadas, vão fazer parte de um projeto novo chamado “A Jornada de Hart: O Legado ”, onde elas vão contar as histórias dos filhos do casal de principais de AJH. Então se você é fã de A Jornada de Hart(antiga Come Away With Me) e está com aquela saudade do nosso casal puladores de penhasco favorito, vem matar um pouquinho da saudade deles enquanto eles fazem aparições especiais.






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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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