Última atualização: 17/05/2020

Capítulo Único

One wild night (blinded by the moonlight)
One wild night (24 hours of midnight)
One wild night (I stepped into the twilight zone
And she left my heart with vertigo)...


Na maioria das vezes, eu nem percebia a semana passando. Isso se dava pelo tanto de trabalho que eu tinha na revista durante a semana, e eu só percebia que a sexta-feira havia chegado quando eu precisava recusar o convite de Adrienne para sair para beber, porque eu preferia ficar no meu apartamento na companhia da Netflix ou porque eu tinha algum freelance para terminar, porque precisava ganhar uma graninha extra.
Porém, daquela vez, eu percebi a semana se arrastando para chegar ao fim e senti que a sexta-feira não fosse chegar nunca. O motivo da ansiedade pelo final de semana? Na segunda-feira, minha mãe me ligou para avisar que contava com a minha presença em New Jersey, porque meu pai estava se aposentando e receberia uma homenagem da empresa em que trabalhou por trinta e cinco anos. Seria um jantar seguido de uma recepção em um dos melhores restaurantes da cidade.
Essa cerimônia também marcaria a volta de à cidade de New Jersey, e esse era o verdadeiro motivo de toda a minha ansiedade para o fim de semana.
era nada mais que o homem por quem eu tinha uma paixão desde os meus quinze anos de idade. Para minha decepção, nunca aconteceu nada entre nós porque, além dele não saber da minha paixão, ele era vinte anos mais velho, casado e um dos melhores amigos do meu pai. Dessa forma, eu guardava toda a minha paixão no fundo do meu coração, mas ela, ocasionalmente, aparecia e me fazia ter borboletas apenas por pensar naquele homem tão perfeito.
Então, estar em Jersey depois de sete anos longe e ainda ter que passar uma noite inteira babando por eram coisas que me deixavam levemente nervosa. Eu tentava não sonhar alto demais porque meus anos de adolescência já haviam passado, mas era impossível não sonhar quando se tratava daquele homem. Se ele estivesse parecido com a última visão que eu tinha dele, eu tinha tudo para passar a noite na mais absoluta tensão – ou sem a letra “n”.

X


– Meu Deus, querida! – Minha mãe sorriu assim que eu terminei de descer as escadas de nossa casa.
Ela estava parada no meio da sala, arrumando algumas coisas em uma pequena bolsa de mão que levaria para a recepção. Estava divina em seu vestido azul marinho com pedras levemente brilhosas na parte da frente. Eu a ajudei com a maquiagem – com o pouco que eu sabia dos tutoriais que assistia na internet – e com o penteado, mas ela estava incrível.
– Gostou? – Perguntei, passando a mão pela saia do meu vestido, e ela concordou com a cabeça, abrindo um sorriso largo na minha direção.
– Mas é claro... Você está linda. – Sorri em agradecimento.
Eu optei por um vestido vermelho. Ele era de alças um pouco grossas e justo, indo até próximo aos meus joelhos. Fiz uma maquiagem leve nos olhos e escolhi um batom vermelho igual para os meus lábios, deixando meus cabelos presos na parte de cima mas caindo sobre os meus ombros.
Se eu veria após sete anos, pelo menos, eu gostaria de lembrá-lo visualmente que eu havia crescido muito bem e não era mais aquela menina mas, sim, uma mulher, e não havia cor melhor do que essa: vermelho. Lembro-me de tê-lo ouvido dizer uma vez que era uma de suas cores favoritas, e esse era até o motivo de ter comprado um carro vermelho.
Assim que meu pai retornou para a sala, depois de me elogiar também, seguimos para o carro, para que fossemos até o dito restaurante onde ocorreria o evento. Pelo nome e pela pesquisa que eu tinha feito na internet, era um dos grandes da cidade.


O restaurante estava fechado para o evento. Todas as pessoas que trabalhavam na empresa estavam por lá, acompanhadas de seus familiares, e após cumprimentar a maior parte das pessoas, optei por ir até um pequeno bar montado na lateral do restaurante para poder pedir alguma bebida. De forma alguma, eu iria aguentar aquela formalidade toda sóbria.
Pedi uma bebida qualquer do pequeno cardápio que o barman me mostrou e fiquei encostada no balcão, observando o espaço. Havia diversas mesas redondas espalhadas pelo lugar e as pessoas conversavam. Próximo à janela que mostrava uma New Jersey iluminada, havia sido montado um pequeno palco que contava com a presença de uma banda – sem um vocalista – que apenas tocava uma versão instrumental de uma música que eu não me liguei qual era.
No exato momento em que eu percebi meu drink sendo colocado sobre o balcão ao meu lado, a figura de surgiu na porta do restaurante. Estiquei a mão para o lado, pegando o copo, mas sem retirar os olhos da porta e de .
Se os anos passaram para ele, definitivamente era como o vinho: quanto mais velho, melhor. De longe, eu só podia admirar seu paletó impecável, sua blusa levemente desabotoada nas primeiras casas na tentativa de lhe dar um ar mais jovial e seus cabelos grisalhos.
Suspirei, erguendo a minha taça e bebendo quase todo o líquido em um gole só, tomando a coragem para me aproximar da mesa em que meus pais estavam sentados para aguardar o momento em que ele chegasse para cumprimentá-los.
Não demorou muito para que isso acontecesse. Pouco mais de quinze minutos – mas não que eu estivesse contando – e estava parado próximo à nossa mesa, cumprimentando meu pai. Sofri internamente em antecipação e, quando ouvi sua voz pronunciar meu nome, quase desfaleci sobre a cadeira.
. – Ele sorriu na minha direção e eu estiquei uma mão para cumprimentá-lo. – Se eu passasse por você pelas ruas de Jersey, não a reconheceria. – eEe riu do próprio comentário e eu concordei com a cabeça. – É um prazer revê-la.
– Espero que eu tenha mudado para melhor. – Falei, soltando uma risada fraca. – Também é um prazer vê-lo, senhor .
– Por favor, não faça eu me sentir com setenta anos. – Ele colocou uma mão no peito, fazendo-se de afetado.
Sorri com o comentário e me arrumei novamente na cadeira enquanto ele se juntava a nós, sentando-se em uma das cadeiras vazias da mesa.
– Como está Dorothea? – Minha mãe perguntou e só então eu havia reparado que ele estava sozinho.
Tive vontade de rir de mim mesma porque estava tão ocupada babando por que nem mesmo havia me atentado ao fato de que ele estava sozinho naquela noite ou que não havia uma aliança dourada em seu dedo como de costume.
– Está bem. – Ele deu os ombros. – Nos separamos há um ano e meio.
– Desculpe... Não sabia. – Minha mãe sorriu sem graça.
– Não há pelo quê se desculpar, Lily. – Ele sorriu. – Você não sabia. Nós terminamos em bons termos, sabe, pelos meninos.
– Que bom que aconteceu dessa forma. – Ela sorriu e ele concordou com a cabeça, finalizando o assunto sobre sua ex-esposa e iniciando uma conversa com meu pai sobre o trabalho sobre a qual eu não fiz questão nenhuma de me inteirar, embora a voz de soasse como música para os meus ouvidos.
Eu poderia ouví-lo falar sobre qualquer assunto apenas para ouvir aquela voz maravilhosa. Fechei os olhos, contendo um suspiro ao realmente imaginar aquela voz próxima ao meu ouvido pela manhã, e me levantei da mesa, anunciando que iria buscar mais alguma coisa para eu beber.

Meus olhos estavam presos na pequena pista de dança improvisada que havia sido montada no meio do salão. Alguns casais, incluindo os meus pais, dançavam animados depois de alguns copos de álcool, e eu tinha certeza de que aquilo renderia comentários na empresa na segunda-feira de tão divertido que estava.
– Uma margarita, por favor. – Eu reconheceria o dono daquela voz em qualquer lugar, mas olhei para o meu lado direito apenas para me certificar de que era parado próximo a mim, em frente ao balcão do bar. – Animados, hein? – Ele apontou para as pessoas dançando.
– Muito. – Soltei uma risada fraca, concordando. – Não vai se arriscar?
– Há duas coisas que eu não faço, . – Ele riu e eu o encarei, esperando que ele revelasse quais eram as tais coisas. – Uma delas é dançar no meio de tanta gente conhecida. Não gosto de passar vergonha.
– Nem mesmo com dose altas de álcool no sangue? – Perguntei, erguendo uma sobrancelha.
– Ok, talvez, nesse estado, eu passe por essa vergonha um pouco. – Ele soltou uma risada. – E você? Não vai dançar?
– Essas músicas não fazem muito o meu estilo. – Dei os ombros, finalizando o meu drink em um gole só, me virando para colocar a taça sobre o balcão e sinalizando para o barman que queria um outro. – Mas você não disse a segunda coisa.
– Que coisa? – perguntou confuso e eu ri nasalada.
– Você acabou de dizer que há duas coisas que você não faz.... – Relembrei, vendo-o concordar com a cabeça. – E só disse uma. Qual é a segunda?
– Sexo casual. – Ele respondeu como se não fosse grande coisa e eu retesei por alguns segundos, me segurando firme no balcão pela surpresa das palavras.
– Sem exceção? – Perguntei no exato momento em que o barman entregou as nossas taças e dava um gole em sua margarita.
Soltei uma risada fraca ao vê-lo se engasgar levemente com a bebida e, enquanto ele tossia, eu me virei de frente para a pista novamente, recostando-me no balcão.
– Que tipo de exceção? – Ele perguntou, curioso, e eu dei os ombros.
Por Deus, nós não estávamos flertando, estávamos? Porque eu não sabia se aguentaria muito tempo com toda a minha paixão reprimida por aquele homem falando sobre sexo em um local público, onde eu não poderia simplesmente pular em seu pescoço e pedir que ele me levasse para o primeiro quarto disponível.
– A sua exceção para a dança é quando está com alta dose de álcool no sangue. A sua exceção para o sexo casual pode ser uma conhecida, talvez.
permaneceu em silêncio por alguns minutos e eu tive que olhar para o lado para me certificar de que ele ainda estava por lá. Mas ele permanecia ali, parado, encostado de lado no balcão e com uma mão sobre o mesmo, segurando sua taça.
... – Ele murmurou, soltando uma risada.
– O que? – Perguntei, me virando de frente para ele.
Nós estávamos próximos e qualquer pessoa que visse de longe poderia interpretar aquilo como algo a mais – e realmente era algo a mais, porém eu não estava me importando muito com o que as pessoas iriam pensar nos vendo daquela maneira.
Naquele momento, só existíamos e eu no salão.
Pelo menos, para mim.
– Não faça isso. – Ele murmurou, se afastando um pouco para levar sua taça até a boca e dar um gole.
– Isso o quê, exatamente? – Perguntei, me fazendo de desentendida, e ele soltou uma risada fraca.
– Me provocar.
– Por quê não? – Mordi o lábio inferior antes de sorrir de ladino. – Está dando certo?
se afastou novamente e ocupou a minha posição anterior: de costas para o balcão e de frente para a pista de dança. Eu observei atentamente cada detalhe da sua reação. Ele encarou a cidade pela janela e soltou uma risada fraca, passando a mão livre pelos cabelos. E, depois de longos minutos em silêncio, ele me encarou para responder.
– Está.
Sorri, vitoriosa. Dei um passo em sua direção e, se fosse possível, dois corpos ocupariam o mesmo espaço naquele exato momento.
– Então por que não fazemos acontecer? – Propus. – Uma noite louca, .
. – Seu tom era de alerta, eu não sabia se era pela proximidade ou pela minha oferta.
– Eu adoro meu nome saindo da sua boca. – Respondi travessa, o vendo rir nervoso e balançar a cabeça devagar para um lado e para o outro.
– A vida é para ser vivida, , você tem que viver intensamente. – Murmurei, levando a minha mão livre para a parte trás de sua cabeça, pousando-a em sua nuca.
Fiz um carinho na região e, quando ele não se afastou, eu senti meu sorriso se alargar ainda mais. Eu nem sabia que era possível sorrir tanto.
– Você não deveria estar fazendo isso. – Ele respirou fundo mas não se moveu.
– Por quê não? Se eu quero e você quer, eu não vejo problemas. – Dei de ombros e ergui minha taça até meus lábios.
– Você é vinte anos mais nova que eu, . – Ele pronunciou meu apelido e eu senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem.
Droga de homem.
– E, se você fizer as contas, isso mostra que eu sou maior de idade. – Ri da minha própria resposta.
. – Ele disse meu nome mais uma vez e eu suspirei.
Terminei minha bebida em um gole só e depositei minha taça sobre o balcão.
– Eu tentei, . – Murmurei próxima ao seu ouvido. – Porque eu tenho essa porcaria dessa paixão, esse tesão reprimido por você, desde os meus quinze anos! Mas, se você não quer, eu não posso fazer nada.
Depositei um beijo estalado e demorado bem próximo à sua boca e retirei minha mão de sua nuca, saindo de perto dele em passos largos. Eu me aproximei da pista de dança para falar com meus pais.
– Eu já vou indo. – Anunciei para os dois, recebendo olhares surpresos.
– Nós vamos também, então.
– Não precisa. – Sorri, fraco. – Só estou um pouco cansada da viagem. Eu posso pedir um Uber e ir para casa. Fiquem e aproveitem o resto da noite, vocês estão se divertindo tanto...
– Tudo bem. – Minha mãe sorriu. – Há uma chave no lugar de sempre.
– Certas coisas não mudam. – Ri fraco, me despedindo dos dois, e segui em direção a saída do restaurante.
Retirei meu celular da pequena bolsa que eu carregava comigo e desbloqueei a tela, abrindo o aplicativo para pedir um carro. Suspirei, balançando a cabeça e me sentindo uma idiota. Era a oportunidade perfeita e eu havia tentado, não era culpa minha se estava dando uma desculpa esfarrapada. Eu não iria me humilhar. Já havia vivido com essa paixão reprimida por tanto tempo...
O aplicativo mostrou que o motorista estava a cinco minutos e eu suspirei, encarando a rua antes de voltar atenção para o meu celular. Olhei algumas postagens no Instagram apenas para distrair a mente das cenas anteriores enquanto esperava o carro, mas aquela voz chamando meu nome novamente fez todos os pelos do meu corpo se levantarem mais uma vez.
! – Eu me virei, encontrando caminhando apressado na minha direção.
, se você vai dizer que a nossa diferença de... – A frase morreu no ar.
grudou os lábios nos meus e praticamente fundiu os nossos corpos, se isso fosse possível naquele momento. Levei alguns segundos para me recuperar da surpresa mas, assim que o fiz, me envolvi no beijo, levando minhas mãos para seus cabelos e aproveitando para arranhar sua nuca como havia feito antes.
Ele se afastou com a respiração acelerada e eu me encontrava do mesmo jeito naquele momento. Sua mão se encaixou no meu rosto e seu polegar acariciou a minha bochecha antes de escorregar pelo meu braço e segurar a minha mão.
– Vamos. – Ele murmurou apressado após ouvirmos risadas altas vindo de dentro do restaurante.
Só então nos lembramos que as pessoas poderiam nos ver ali. Seguimos de mãos dadas e passos apressados até o carro vermelho estacionado do outro lado da rua. mostrou seu cavalheirismo, abrindo a porta para que eu entrasse, e eu sorri agradecida enquanto o observava dar a volta no veículo para entrar do lado do motorista.
Nem me preocupei em perguntar para onde iríamos, porque qualquer lugar com ele estava bom. Tudo que eu queria era que chegássemos logo para que me fizesse dele o mais rápido possível.
A paisagem da cidade passava como um borrão pela janela e mão de apertava fortemente a minha coxa, me fazendo conter a necessidade de esfregar uma contra a outra. Estiquei meu braço, voltando a minha mão para sua nuca apenas para provocá-lo, e ele riu.
– Está deixando meu coração palpitando. – Ele riu e eu sorri quando o carro parou em um sinal vermelho.
Eu me estiquei sobre ele, aproximando meu rosto do seu, e depositei um beijo em seu pescoço.
– E você está me deixando louca. – Ri fraco. – Não é de hoje.
Antes que eu pudesse me afastar, me segurou pela nuca, grudando nossos lábios mais uma vez com urgência. Sua mão desceu para minha cintura, apertando-a, e tudo que eu queria era poder pular em seu colo para consumar tudo ali mesmo. Porém uma buzina nos despertou de nosso momento e riu ao perceber o sinal aberto.
Resolvi parar de provocá-lo até que chegássemos ao nosso destino. Pelo canto do olho, eu podia ver totalmente concentrado na estrada e eu sorri com a visão. Aquele homem conseguia ser incrivelmente lindo fazendo qualquer coisa boba do dia a dia. Deveria ser proibido.
Senti o carro parar e percebi que havíamos chegado em sua casa. saltou do carro e eu abri a porta do carona, descendo do mesmo e sendo pressionada contra a lateral do carro em um beijo que tirou quase todo o meu fôlego.
Aos tropeços, fomos para o interior da casa, e as nossas roupas foram sendo perdidas pelo meio do caminho. fez toda questão de me tratar com o maior carinho a todo o tempo, e era tudo melhor do que eu poderia ter imaginado. A melhor – e mais esperada – noite de toda minha vida.
Ele era incrível. E acordar com aquele braço sobre o meu corpo e a voz rouca que eu tanto adorava chamando meu nome e me desejando bom dia conseguiu tornar tudo ainda mais especial. Tanto que eu nem liguei para o arrependimento matinal dele.
Aquela noite louca era a minha maior fantasia.


Fim.



Nota da autora: "Mais um ficstape para a conta! Para saber mais sobre as minhas fics é só participar do meu grupo no Facebook."

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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