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Finalizada em: 25/09/2018

Capítulo Único


O vento congelante da noite açoitou o rosto da moça, causando-lhe um leve calafrio. O céu estava mais escuro do que o normal, pois as nuvens escondiam a lua e boa parte das estrelas, deixando o lugar mais sombrio do que deveria. Às suas costas, havia uma grande montanha rochosa, dando um aspecto grandioso a aquele momento. Ainda assim, ela não se importou com a bela visão, pois seus olhos cravaram-se metros à frente.
De onde estava, podia enxergar muito bem a pessoa parada sobre o gelo que cobria o lago ao redor da montanha.Erguendo o rosto, fitou-a com interesse, reconhecendo aqueles traços que fizeram parte de seu passado. Do melhor até o pior momento. E a moça compreendia o que aquele sorriso moldando os lábios do homem significava. Ela o conhecia tão bem como a si mesma. Pelo menos uma parte dele.
Caminhou alguns passos em sua direção, tirando sua arma do coldre preso à cintura. Ao mesmo tempo o rapaz aumentou o sorriso, cruzando os braços abaixo do peito, esperando-a com paciência. Quando a mulher finalmente parou, ele soltou um riso abafado, fitando-a de cima a baixo.
- Eu sabia que estaria aqui. – ele foi o primeiro a se pronunciar.
- Sabia? – a mulher rebateu nem um pouco surpresa.
- Demorei um pouco a perceber seu plano, mas eu sempre estou um passo à sua frente, minha querida. – mais um riso desdenhoso. – Sempre.
- É o que você acha, meu bem. – espelhou seu gesto, passando um dedo no gatilho da arma.
- Você me perseguiu por todos esses anos achando que me pegaria de surpresa. – o homem deu dois passos na direção dela. – Mas veja onde estamos.
- Eu posso ver bem. – ela inclinou levemente a cabeça para o lado. – Estamos sobre um lago congelado, dispostos a defender o que achamos ser o certo.
- Eu estou disposto a vingar a minha família pelos anos de opressão. – o homem elevou o tom, cortando-a. – Já você... é só uma garota mimada que não sabe perder.
Ao ouvir a sentença do jovem, a mulher franziu o cenho. Relembrando daquele tom de voz amargo, cheio de rancor, encarou-o diretamente, encontrando o mesmo brilho nas belas íris. Porém, dessa vez ela não teve medo. Pelo contrário, sequer se abalou.
- Antes que comecemos, acho que há uma coisa que você precisa saber. – a garota retomou a palavra. – Não estamos jogando nenhum jogo, afinal, isso não é um parque infantil. Como sempre dizia, é hora de soltar os paus e pedras. Vamos acabar com isso.
- Tenho certeza que esse não é o seu único desejo. – ele a provocou. – Não depois que matei seus amigos e quase fiz o mesmo com você uma vez.
- Eles também eram seus amigos. – as palavras saíram entredentes.
- Não. – o rapaz negou com a cabeça. – Nenhum de vocês significava nada pra mim. Apenas foram tolos para não perceber.
- Tolos... – a palavra escapou com uma leve pontada de ressentimento. – Eles confiavam em você. Se precisasse, morreriam por sua causa.
- De certa forma, eles morreram. – a crueldade emanou de cada sílaba.
Cerrando os punhos, apertando a pistola entre os dedos, a mulher fechou os olhos. Mesmo depois de cinco anos, a lembrança de seus dois amigos era forte. A forma como foram assassinados não havia sido justa e ela não deixaria isso passar. Não deixaria que aquele miserável manchasse ainda mais a memória deles.
Decidida, ergueu o punho até o outro, atirando contra ele com precisão. Viu o exato momento em que o homem descruzou os braços, levantando o punho direito na direção da bala. Criando uma onda de calor amarelada, em segundos ele transformou o metal em cinzas, que voaram para longe com a brisa noturna.
Parada, ela não se surpreendeu, já aguardando um movimento como aquele. Conhecia bem as habilidades do outro e não o subestimaria em nenhum momento. Atenta, olhou para o pescoço dele, vendo um colar ali. Preso à corrente estava um cristal azulado que brilhava, iluminando a escuridão, especialmente agora que o rapaz tinha usado seus poderes. Era de lá que eles provinham e a moça sabia disso.
- Ainda está com a pedra. – ela abaixou o braço. – Como eu imaginei.
- Precisei de muito esforço para consegui-lo. – ele também deixou a mão pender ao lado do corpo. – Acha que não desfrutaria de seus benefícios?
- Caso não se lembre, você não foi o único que se esforçou. –observou.
- Claro que não. – ele riu abertamente. – É até divertido relembrar.
- Acha mesmo, ? – pela primeira vez na noite a moça sentiu raiva.
- Eu tenho certeza... – ele respondeu. – .

Cinco Anos Antes

estava assustada. Há doze horas encontrava-seno Brasil, na casa que dividia com uma amiga, consertando alguns aparelhos eletrônicos que ela própria havia montado. Bia, como chamava a outra, era filha de uma amiga de seus pais e, após a morte deles, a mulher a adotou.
As duas cresceram juntas e agora que Beatriz completara dezoito anos de idade, resolveram morar sozinhas. Não era um mar de rosas, mas poder ser dona de ser próprio teto era libertador. que o diga. Especialmente, por ter o espaço que precisava para dar vida a suas invenções.
Entretanto, isso não faria mais diferença. Não quando precisou sair às pressas do seu lar, levando consigo o mínimo de pertences.Agora caminhava naquele lugar estranho enão fazia ideia de onde seria e muito menos quem eram aquelas pessoas que a conduziam por aquele imenso corredor. Tentando disfarçar o incomodo que sentia, cruzou os braços abaixo do peito, fitando os próprios tênis.
- Por aqui, por favor. – de repente, a mulher ruiva que lhe conduzia, disse.
Ela apontou para uma das salas e a seguiu, entrando junto com a mulher.Os outros ficaram do lado de fora. Um pouco atrás da moça, a adolescente pôde avistar um homem de postura intimidadora, com cabelos grisalhos e um belo terno, sentando atrás de uma mesa de madeira escura. Ao lado dele estavam dois jovens vestidos de preto e pareciam ser um pouco mais velhos que a garota.
- Senhor, aqui está ela. – a ruiva anunciou sua presença.
- Muito obrigado, agente Davis. – o homem inclinou a cabeça de leve. – Pode se retirar agora.
- Com licença. – ela imitou o gesto, dando as costas aos presentes.
Enquanto via a moça passar pela porta branca, a fechando em seguida, teve vontade de correr atrás dela. Mesmo que tivessem trocados pouquíssimas palavras desde que haviam se encontrado no território brasileiro, ela tinha sido a única pessoa que não a assustara ali. Mas a garota não o fez. Continuou parada no mesmo lugar em que fora deixada, evitando mirar os três presentes do outro lado da sala.
- Senhorita ?! – o mais velho a chamou, obrigando-a a erguer os olhos.
- Sim... – ela respondeu sem muita convicção.
- Sei que está confusa, especialmente pela forma como as coisas ocorreram, e peço desculpas por termos a pressionado. – ele começou a falar. – Apesar disso, não se preocupe, responderemos todas as suas perguntas.
- O que aconteceu com a minha amiga? – foi a primeira coisa que perguntou.
- Não se preocupe com a Beatriz, ela não foi machucada. – ele respondeu. – Apenas demos um jeito para que ela... se esqueça de tudo.
- Ela não vai se lembrar de vocês? – a menina franziu o cenho.
- É muito mais do que isso, senhorita . – o homem apoiou os cotovelos na mesa. – Sua amiga esquecerá qualquer momento que compartilhou com você.
- Quê? – ela arregalou os olhos.
- Será melhor assim. – ele disse sem se abalar. – Sei que entenderá um dia.
engoliu seco tentando formular alguma frase descente, entretanto, não conseguiu dizer nada. Descobrir que sua melhor amiga não se lembraria mais dela atingiu seu peito como uma facada. Para piorar, o olhar daquelas pessoas sobre si a fazia suar pelas mãos. Era sempre assim quando estava perto de desconhecidos. Ao perceber que a menina não falaria, o homem grisalho adiantou-se, se apresentando.
- Meu nome é Clark Johnson e sou o diretor da OSAN. – ele disse. – E estes são a agente e o agente .
O mais velho apontou para os dois jovens parados. No mesmo segundo, os encarou. A garota vestida com uma blusa escura sem mangas carregava um sorriso de canto, enquanto os cabelos pretos a altura os ombros com mechas loiras nas pontas, caiam numa franja de lado. O corpo era esbelto, quase sem curvas. Ainda assim, a moça era muito bonita. Quanto ao rapaz, usava uma jaqueta de couro e carregava um sorriso discreto. Assim que seus olhares se cruzaram, teve a certeza de que nunca vira orbes tão profundos e cativantes como aqueles.
- Estamos aqui para auxiliar as nações mundiais em questões que não podem resolver sozinhas. – o diretor disse, quebrando sua conexão. - Caso precisem de nossos serviços de espionagem ou de agentes antiterrorismo, enviamos nossos homens até o lugar indicado e fazemos o serviço.
- Vocês todos são... agentes secretos? – a curiosidade falou mais alto.
- Exatamente, minha cara . – o diretor confirmou.
- Tudo bem. – ela balançou os ombros, ainda sem compreender. – Mas onde eu entro nessa história?
- Suas habilidades são muito valiosas. – o homem respondeu. – Então, estamos recrutando você.
- Espera... – tentando raciocinar, deu dois passos na direção da mesa. – Eu não estou entendendo. O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que, a partir de agora, você também será uma de nós. – ele lhe lançou um sorriso discreto. - Bem-vinda à OSAN!

~o~


A garota fechou os olhos assim que a brisa alcançou seu rosto. Por sorte, havia conseguido escapar da segurança da base e agora se encontrava a alguns metros do lugar, sentada sob uma árvore. A noite havia caído há poucas horas, mas a lua já estava bem no meio do céu, enfeitando ainda mais o ambiente. Como uma boa nadadora, conseguiu atravessar o lago que rodeava a grande montanha, mas o frio a incomodava agora.
De onde estava, podia ver a silhueta do monte coberto pela vegetação.Era lá que a OSAN se encontrava. Uma estrutura construída entre as camadas de rocha. Para ela, aquela construção era obra de um verdadeiro gênio e daria qualquer coisa para conhecê-lo. Construir e consertar coisas era a paixão da garota e os detalhes nunca passavam despercebidos. Havia aprendido desde bem cedo com o pai e levou isso para a vida.
Ao pensar em família, lembrou-se da amiga que deixara para trás, tendo a certeza de que Bia acharia aquele lugar nem um pouco fashion.Soltouum riso, recordando-se da forma como a mais velha jogava os cabelos cacheados para trás quando não gostava de algo. Apesar da saudade, ficava aliviada por saber que a garota estava em segurança.
- Você é realmente uma boa nadadora! – de repente ouviu alguém dizer.
Olhando para o lado, avistou ninguém menos que o agente . Ele estava encharcado e ofegante, mostrando que acabara de sair do lago. A garota riu mais uma vez, abraçando o próprio corpo quando o menino se sentou ao seu lado, soltando um longo suspiro.
- Não deveria estar aqui, . – ele disse, sacudindo os cabelos.
- Você também não. – ela respondeu sem fita-lo. – Então acho que estamos quites.
- Sempre tem essas boas respostas? – o rapaz riu abafado. – Mas, falando sério, por que veio pra cá?
- Precisava de um tempo só pra mim. – a menina respondeu com o olhar meio perdido. – Toda essa coisa de agentes e organizações secretas é demais pra eu digerir em tão pouco tempo.
- Eu entendo. – ele balançou a cabeça, se recostando a árvore. – Foi do mesmo jeito pra mim quando cheguei.
- Há quanto tempo está aqui? – finalmente o encarou.
- Há quase dez anos. – ele a olhou nos olhos. – Praticamente fui criado aqui.
- E seus pais? – a moça questionou.
- Eles morreram quando eu tinha oito. – respondeu, passando a língua entre os lábios. – Após isso fui mandado pra um orfanato. Foi aí que o diretor me encontrou e me trouxe pra cá.
balançou a cabeça uma vez, mostrando que havia entendido. Apesar disso, não quis dizer nada. Não tentou consolar o colega, pois sabia que ele não precisava. Ela também perdeu os pais muito cedo e durante todos os anos que esteve sem eles, as pessoas tentaram ser legais com suas palavras bonitas. Mas elas eram só aquilo. A garota constatou que apenas o tempo curaria parte da dor e da solidão que sentia.
Ficaram ali, parados, sustentando o olhar. Enquanto a brisa noturna causava um arrepio bom, balançando seus fios de cabelo e as folhas nas árvores, os jovens pareciam estar conectados. A nunca vira um olhar como o de . Era como se ele quisesse entendê-la por completo. Com se com aquele simples gesto tentasse descobrir quem ela era de verdade. E apesar de sentir que ele a sondava, não se importou em nenhum instante.
- Pelo que ouvi, você deixou uma amiga para trás. – falou após um longo tempo.
- Sim. – respondeu com um leve aceno de cabeça. – A Bia era meio que uma irmã mais velha. Somos tão diferentes e é exatamente por isso que nos dávamos tão bem.
- Sei que não será o mesmo, mas agora somos a sua família. – o rapaz se aproximou. – Estamos aqui por você, pirralha.
Delicadamente, tirou alguns fios do rosto da garota, colocando-os atrás da orelha. Mesmo com a friagem que fazia, sentiu suas bochechas esquentarem. Um garoto bonito e legal estava sendo gentil com ela. Definitivamente, algo que a deixava sem ação. Constrangida, desviou o rosto, voltando a fitar a paisagem à sua frente.
- Eles disseram que vou poder construir coisas. – falou a primeira coisa que lhe veio à mente.
- Gosta de construir? – quis saber.
- Falando sério? – a menina soltou um riso divertido. – Eu amo!
- Que tal começarmos amanhã? – ele sugeriu.
- Com certeza! – ela o encarou com um largo sorriso.
- Muito bem. – o garoto se levantou. – Mas agora precisamos voltar.
- Tudo bem. – a menina cedeu.
Se erguendo, parou ao lado dele. Juntos, caminharam até a beira do lago e soltou um longo suspiro ao se lembrar do trabalho que teve para atravessá-lo.
- Vamos apostar uma corrida. – disse, a pegando se surpresa.
- Mas isso não é muito justo. – ela respondeu. – Você deve fazer isso o tempo todo.
- Fugir? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Nadar. – ela o corrigiu.
- Não importa. – ele a segurou pela mão, a conduzindo para dentro da água. – Será um desafio para você.
Sem poder mais contestar, ela fez o que o colega disse. Se preparou para atravessar o lago gelado até estarem novamente na base.

Um mês depois

Após ajeitar a gaze em volta de seus dedos, cerrou os punhos, erguendo-os à altura dos ombros. Sem precisar de nenhuma ordem, fez o que vinha fazendo desde o dia em que colocara os pés na OSAN. Socou o saco de areia à sua frente com força e destreza, movimentando-se com agilidade.
Agora conhecia a história de sua família e o motivo de seus pais terem morrido quando ela ainda era uma criança. Eles eram agentes da Organização Secreta em Auxílio das Nações. O sangue de espiã corria em suas veias e esse fora o principal motivo para ter sido recrutada, além de suas habilidades criativas. Ainda assim, caso alguém lhe dissesse a um mês que ela era capaz de lutar daquela forma, riria na cara da pessoa. Entretanto, agora conhecia bem sua capacidade e sabia que sim, ela era capaz. E era uma das melhores.
Mesmo sentindo falta de Bia, se conformou com a situação. Nos primeiros dias, se recusou a sair do quarto, mas depois conheceu melhor o lugar e as pessoas e se afeiçoou a elas. Não tinha mais como voltar atrás.
- Muito bem, . – uma garota parou ao seu lado. – Apenas não se esqueça de proteger seu rosto quando estiver atacando.
- Entendido. – ela respondeu com a respiração ofegante.
- Parece que temos uma lutadora aqui! – mais um dos agentes se aproximou, parando atrás do saco, segurando-o.
- Valeu, . – a mais nova continuou a golpear o aparelho.
- Não agradeça, novata. – a outra riu levemente, cruzando os braços. – O só não acredita que alguém seja melhor do que ele.
- Ela não é melhor do que eu, . – o rapaz fez uma careta.
- Mas vai ser. – a agente rebateu. – Ela é a melhor recruta dos últimos dez anos, conseguiu bater todos os recordes nos testes físicos, inclusive os seus. Sem contar que tirou a maior nota nas simulações emocionais.
- E daí? - o garoto revirou os olhos.
- E daí que você tem que aceitar isso. – sustentou o sorriso sapeca.
Os dois continuaram discutindo e apenas os observava segurando o riso. e eram melhores amigos e desde que a garota chegou, não os viu separados uma vez sequer. Aqueles bate-bocas eram divertidos de se ver, especialmente quando ela era o assunto principal.
Parou de socar, vendo-os frente a frente, soltando insultos sem nenhum escrúpulo. Quando cansou, revirou os olhos e caminhou até estar entre eles, separando-os.
- Ver vocês brigando é bem legal, mas uma hora cansa, sabia? – os empurrou para longe um do outro.
- Você é uma estraga prazeres, . – bufou. – Eu quase estava fazendo o chorar.
- Só nos seus sonhos, magrela. – o rapaz riu.
- Com toda certeza eu gostaria de ver o chorar. – a também riu. – Deve ser uma cena e tanto.
- Até você, novata? – o homem franziu o cenho, se fingindo ofendido.
- Foi mal, mas você se acha demais. – a mais nova brincou.
- Ah, é assim? – semicerrou os olhos, se aproximando dela.
Ao perceber sua intenção, a garota arregalou os olhos e começou a dar passos para trás. Entretanto, aquilo não seria suficiente para fugir das garras de um dos melhores agentes da OSAN. Assim, sem se importar com os outros que também treinavam na grande sala, começou a correr pelo tapete de borracha sendo seguida pelo homem. Enquanto isso, ria sem parar, a ponto de ter que se sentar no chão para não cair.
corria velozmente, desviando-se com facilidade dos outros agentes. Chegou até as áreas onde alguns aparelhos de escalada ficavam e, sem pensar, começou a subir um feito inteiramente por cordas. a seguiu.
- Eu vou pegar você, pirralha! – o rapaz disse, dando mais um impulso com a perna direita.
- Só se me alcançar! – berrou de volta, o provocando.
A aquela altura, todos já haviam parado o que faziam para prestar atenção aos dois prodígios da base secreta. Desde que haviam se conhecido, e se deram bem logo de cara. E quando o garoto soube das habilidades da mais jovem, um espírito competitivo saudável passou a pairar sobre eles. Era divertido competir para saber quem era o melhor.
Quando se preparava para passar a mão esquerda mais para o lado, a menina sentiu algo agarrar seu tornozelo. Era o e riu ao constatar que ele nunca desistiria. Com agilidade, escapou e jogou todo o corpo para o lado, agarrando-se a uma corda mais grossa com apenas uma das mãos. Olhou para , lhe lançando uma piscadela antes de se soltar de uma só vez. Com precisão, atingiu o solo, rolando uma vez e se levantou, voltando a correr.
Não demorou a senti-lo em seu encalço. Quando o garoto se aproximou o suficiente, usou seu cotovelo para acertá-lo no rosto. O golpe o atingiu em cheio, lançando-o ao chão. Imediatamente, a novata parou, assustada com a própria força.
- ! – levou as mãos aos lábios.
De maneira automática, correu até ele, abaixando-se ao seu lado. Arregalou os olhos quando o rapaz se sentou, pois pôde ver nitidamente o sangue escorrendo por seu nariz.
- Ah meu Deus! – agarrou o rosto dele. – Eu sinto muito.
- Está tudo bem. – ele fez uma careta.
- Caraca! – de repente se aproximou ainda gargalhando. – Esse golpe foi fenomenal.
- Foi sem querer, eu... – se levantou, tentando se explicar.
- Será que poderiam me ajudar aqui? - a cortou. – Não estou muito afim de morrer graças a uma hemorragia.
- Deixa de ser dramático, . – a agente revirou os olhos, agarrando o rapaz pelo baço, o ajudando a se erguer.
- Não estou sendo dramático. – ele bufou contrariado.
- Me desculpa. – falou novamente.
- Eu já disse que estou bem. – o garoto se virou para ela com um meio sorriso.
Ficaram longos instantes encarando-se sem dizer nada. Apenas sorriam um para o outro e isso vinha se tornando cada vez mais frequente, mesmo que não tivessem consciência disso.
- Achei que estivesse morrendo, . – debochou ao perceber a troca de olhares entre os amigos. – Mas se prefere continuar nessa melação, tudo bem.
- Quê? – se afastou rapidamente, olhando para a outra.
- ... – tentou falar, porém, foi impedido pela , que o puxou sala a fora. – Ei! Vai com calma, novata.
- Vamos dar um jeito nesse nariz. – ela respondeu apenas, sentindo suas bochechas extremamente quentes.
Juntos, os três seguiram até a enfermaria. ria da situação, fazendo piadinhas sobre a cotovelada e o suposto novo casal. Já ria sem parar do que a amiga falava enquanto não sabia onde esconder a cara. E assim continuaram até seu destino.

~o~


- Agente , mantenha sua posição! –a garota ouviu pelo comunicador preso ao seu ouvido. – Espere o sinal.
- Entendido, agente . – respondeu após pressionar o dedo indicador ao equipamento.
Os amigos permaneciam espalhados pelo perímetro, sobre os telhados das casas, monitorando seu progresso. Ajeitando a pistola em suas mãos, continuou recostada à parede do beco escuro, analisando a rua à frente com cuidado. De onde estava, podia ver qualquer um que passasse por ali, inclusive o seu alvo. Um contrabandista mexicano que estava escondido no Brasil, prestes a realizar a venda de uma arma biológica.
Após quase quatro meses de treinamento, finalmente fora designada para sua primeira missão oficial de alto nível. Havia encerrado seus dias de aprendizados básicos com êxito, sendo admirada por praticamente todos os membros da OSAN. Agora, era a mais jovem agente a entrar em campo e se orgulhava disso. Finalmente aceitara suas origens, decidindo seguir o caminho de seus antepassados.
Após alguns minutos, caminhou um pouco mais para o interior do lugar, escondendo-se atrás de um grande latão de lixo. O fez, pois acabara de ouvir passos naquela direção. Um pouco nervosa, mas confiante, levou a mão até o pulso direito, girando o relógio que usava. Imediatamente, o objeto piscou uma luz esverdeada. Em seguida, tanto o relógio quando a garota tornaram-se invisíveis. Sua primeira criação feita na OSAN com o auxílio de .
- Estou pronta. – ela anunciou aos outros.
- Espere mais um pouco. – a voz do agente foi ouvida.
- Ele está vindo para cá. – a garota alertou.
- Nós podemos ver, . – respondeu com firmeza. – Continue a esperar pelo sinal.
- Entendido. – respondeu.
Manteve-se invisível, abaixada e com a pistola em punho. Apesar de suas habilidades notáveis e da facilidade em captar tudo que lhe ensinaram, ainda não tinha experiência suficiente para agir por conta própria. Precisaria confiar nos colegas, acima de tudo. E assim o fez. Ficou ali até ver um homem passar pelo beco. Ele usava um grande casaco preto com um capuz que cobria seu rosto. Segurava uma maleta escura e seus passos eram cautelosos.A todo momento ele olhava para trás para ter a certeza de que não era seguido.
Ao constatar que estava só, o homem tirou um celular de um dos bolsos e ligou para uma pessoa desconhecida, esperando ser atendido.
- , agora! – o agente disse num sussurro. – Aproxime-se e grave a conversa.
- Estou indo. – ela respondeu no mesmo tom.
Guardou a pistola no coldre preso à coxa e tirou um pequeno gravador de seu cinto de utilidades. Erguendo-se com cautela, caminhou a passos inaudíveis até o criminoso que permanecia parado perto de uma parede. Tentando não deixar seu nervosismo estragar tudo, recostou-se no mesmo lugar e deixou o aparelho perto o suficiente para que gravasse o que ele diria. Finalmente o outro começou a falar.
- Alô, quem fala? – sua voz era baixa, mas seria captada sem problemas. – Sim, aqui é Alfonso Mendez. Sim, estou com o produto, preciso apenas que confirme o pagamento.
Depois de mais algumas frases, ele desligou o aparelho, olhando em volta mais uma vez. permaneceu estática, prendendo a própria respiração, até que o contrabandista se afastou, seguindo para a outra rua.
- Consegui. – ela falou aos amigos, soltando o ar aliviada. – Gravei tudo.
- Muito bem. – a parabenizou. – Agora é hora de soltar os paus e pedras.
- Siga em frente e não o deixe sair do beco. – tomou a palavra. – Estamos logo atrás.
- Certo. – balançou a cabeça mesmo que ninguém a visse.
Adiantando-se, a moça correu até passar de Alfonso, tomando a saída da viela. Parou, tirando a arma do coldre e quando o homem estava próximo, lhe acertou uma coronhada no rosto. Desequilibrado, ele foi ao chão sem entender oque acontecia. Foi quando a figura da garota se formou aos poucos diante de seus olhos assustados.
- Fim da linha, Mendez. – ela disse com um sorriso de canto.
- Mas o que... – balbuciou, ainda perplexo.
No entanto, não teve tempo para dizer mais nada. Mais três jovens vestidos com roupas pretas apareceram atrás da garota, parando ao seu lado. Os quatro agentes carregavam sorrisos satisfeitos, especialmente a mais nova. Dando passos à frente, ela foi em direção ao homem, pegando a maleta que jazia ao seu lado. Sem deixar de sorrir, anunciou a sentença.
- Alfonso Mendez, em nome da OSAN você está preso por contrabando de armas biológicas. – as palavras saíram com tamanha facilidade, que era como se ela as dissesse desde sempre.

~o~


caminhava pelos corredores da base com um sorriso no rosto. Por onde passava era cumprimentada e todos, de alguma forma, queriam ter um tempo com a garota. Apesar da timidez, se esforçava o máximo para ser gentil com os colegas, sempre dando atenção a eles, ainda que às vezes fosse cansativo.
Toda aquela fama provinha não só do fato de fazer parte da lendária família , uma das famílias que fundou a organização. Mas sim pelos seus feitos. Em seis meses, a menina conseguiu realizar missões de altíssimo nível, saindo bem sucedida em todas elas. No começo, saía apenas com , ou . Mas após um tempo passou a ser designada com outros agentes.
Naquele momento, caminhava até a sala do diretor Jonhson. Havia sido chamada para mais uma missão e precisava saber qual seria sua nova equipe e quais as instruções. Parou em frente à porta branca, batendo duas vezes. Aguardou alguns segundos e recebeu autorização para entrar. Ao fazê-lo, deu de cara com o homem grisalho. Porém, junto a ele estava mais três pessoas, fazendo-a sorrir.
- Vejam quem está aqui! – abriu os braços. – A garota prodígio!
- Até parece. – ela se aproximou, abraçando o menino.
eram um bom agente, sendo especialista em criar estratégias para as missões. o conheceu após algumas semanas, visto que o rapaz agora namorava . Assim que se soltou do amigo, cumprimentou os outros dois agentes.
- Oi. – ela sorriu para sem saber mais o que dizer.
- Oi. – o garoto respondeu de volta, sustentando o olhar.
Sem jeito, a baixou o rosto e se aproximou da amiga, que estava pronta para fazer alguma piada. Porém, não houve tempo.
- Já que estamos bem cumprimentados, é melhor começarmos. – o diretor disse, pegando uma das pastas sobre a mesa. – Vocês serão designados para uma nova missão. Preciso que deem o máximo de si, pois estarão lidando com algo grandioso.
- Poderia ser mais específico, senhor? – questionou.
- Precisarão encontrar um antigo artefato. – o homem não se incomodou com a pergunta, tirando uma foto de dentro da pasta. – Ele está escondido num local de difícil acesso, na Sibéria.
- Sibéria? – franziu o cenho.
- Isso mesmo, agente . – Johnson respondeu. – O lugar para onde vão é chamado de caverna Denisova, ou como é conhecida pelos nativos, Pedra do Urso. Vejam o que precisarão encontrar.
Após suas palavras, o diretor estendeu ao grupo a foto que segurava. a pegou e os outros se reuniram a sua volta, tendo a ampla visão do objeto. Era uma pequena gema azul, belamente lapidada em formato retangular. Estava presa a um arco prateado com uma corrente de metal delicada, mas com alguns pontos enferrujados.
- Mas se precisamos apenas encontrar o artefato, por que essa é uma missão de alto nível? – dessa vez perguntou sem deixar de olhar a imagem.
- Porque esse não é um artefato qualquer. – o homem respondeu, chamando a atenção deles.
- Como assim? – franziu a testa.
- A Pedra do Urso, como é chamada, é capaz de fazer coisas inimagináveis. – ele continuou. – Pode dar habilidades extraordinárias para aquele que a possui.
- Está falando de poderes? – quis saber.
- Sim, meu jovem. – o diretor respondeu. –Por séculos muitos a procuraram e só agora sua localização finalmente foi encontrada.
- E com toda certeza não somos os únicos que sabem disso. – deduziu.
- Exatamente. – o diretor confirmou. – Algumas organizações e pessoas estão dispostas a ir em busca da Pedra do Urso, por isso estou designando a vocês esta missão. São meus melhores agentes.
- Entendido, senhor. – falou pelo grupo. – Não vamos decepcioná-lo.
- Sei que não. – o mais velho sorriu de canto. – Agora se preparem, sairão em seis horas.
Assim que se retiraram, os jovens seguiram para seus respectivos quartos, preparando todo o equipamento que precisariam.Ainda que não tivessem nenhum inimigo, precisariam tomar muito cuidado com a pedra, pois se caíssem em mãos erradas, o mundo estaria em perigo.
Depois de arrumar sua mochila, terminou de calçar suas botas, seguindo para o hangar. Era lá que encontraria os outros. No meio do caminho, avistou a porta do quarto do agente entreaberta. Curiosa, se aproximou até poder ver pela fresta. Seu coração pulsou mais rápido ao avistá-lo de frente para um espelho de corpo todo, de costas para a saída, sem camisa. Podia ver perfeitamente o corpo bem definido do rapaz e imediatamente suas bochechas coraram.
Após meses, não era mais novidade para quase ninguém o que sentia por . Estava perdidamente apaixonada, mesmo que tentasse a todo custo esconder isso. Eram quase da mesma idade, ainda assim, a garota não achava que alguém como ele daria bola a alguém tão insegura. Mesmo que fosse uma das melhores agentes da OSAN, não se achava suficiente.
- Vai ficar parada aí ou vai entrar? – de repente o garoto falou.
Pega no flagra, arregalou os grandes orbes e deu dois passos para trás. Não sabia o que fazer. Caso fugisse, seria uma garota ridícula, por isso decidiu encarar seu constrangimento de frente. Engolindo seco, empurrou a porta de leve e entrou. Durante todo esse tempo, continuava a fitá-la através do reflexo. Mas, quando ela fechou a porta, ele se virou em sua direção.
- Estava me espionando, ? – um sorriso debochado enfeitou seus lábios.
- E por que eu perderia meu tempo, ? – a garota resolveu seguir a brincadeira. – Acho que não encontraria nada de interessante.
- Acha mesmo? – ele se aproximou, parando bem perto da moça.
- Tenho quase certeza. – sem se intimidar, ergueu o rosto, encarando-o nos olhos.
- Talvez esteja enganada. – ele se aproximou ainda mais.
- E por que estaria? – ela quis saber.
- As pessoas são muito mais do que podemos ver, . – ele disse, deixando um suspiro escapar. – Todos têm segredos.
- E quais são os seus? – a pergunta saiu antes que pensasse.
- Levaríamos muito tempo aqui caso eu fosse contá-los. – um sorriso misterioso surgiu em seu rosto. – E quanto a você, novata?
- O que tenho eu? – ergueu as sobrancelhas.
- Quais são os seus segredos? – ele a fitou minuciosamente.
- Acho que sou um livro aberto. – ela prendeu a respiração por um instante, soltando-a em seguida. – Todos sabem qual é o meu segredo. Inclusive você.
Ao ouvir as palavras da garota, o rapaz deixou um leve riso escapar por seus lábios. Quando ela baixou o rosto, ele o ergueu novamente com os dedos, olhando-a diretamente.
- Sim, eu sei. – as palavras saíram macias, causando um arrepio na garota.
Como se pensasse no que fazia, encarou a moça por mais alguns segundos. Por fim, chegou seu rosto para perto do dela. Lentamente os lábios se tocaram, trazendo sobre os dois um misto de sentimentos. Foi um beijo singelo, mas suficiente para que soubessem exatamente o que sentiam um pelo outro.
Quando se afastaram levemente ofegantes, encostaram as testas. Não sabiam o que dizer e nem precisavam. De repente, ouviram uma batida na porta e se distanciaram. atendeu quem chamava, encontrando os dois amigos do outro lado. Assim que viram também no quarto, e trocaram olhares significativos.
- Estamos atrapalhando algo? – a garota já foi perguntando.
- Não. – foi rápido em responder.
- Não parece. – a menina insistiu.
- O que vocês querem? – ele rolou os olhos.
- Temos que ir. – disse.
- Claro. – o outro respondeu sem muito ânimo.
Em seguida, olhou para um pouco mais atrás. Viu suas bochechas avermelhadas e como ela tentava olhar para qualquer lugar, menos para ele.
- Vamos? – ele perguntou.
- Acho que sim. – ela disse sem muita certeza.
- Vamos logo. – saiu puxando o namorado. – O mundo não se vai se salvar sozinho, meus queridos.
Após saírem do quarto, e seguiram os amigos. Lado a lado, observavam os outros dois conversando e rindo sem se importar se faziam muito barulho. Quanto a eles, estranhamente não conseguiam dizer nada. Nem uma palavra sequer.
Os quatro agentes adentraram o jato. sentou-se ao lado de enquanto observava os dois garotos conversando. O agente era o responsável por conduzir a nave e era seu co-piloto.
- Prontos? – perguntou, ligando o veículo.
- Sim. – respondeu por elas.
- Então vamos. – ele disse e finalmente a nave decolou.
A viagem demorou algumas horas, afinal precisariam ir para o outro lado do mundo. Mesmo com sono, não conseguiu nem cochilar. O beijo de mais cedo não saia de sua mente, fazendo seu coração descompassar todas as vezes que recordava do momento.
Finalmente chegaram, pousando numa área escondida, um pouco afastada do local onde procurariam o artefato. Prepararam-se, deixando a nave logo em seguida. Assim que o fizeram, ela se tornou invisível.
- Sigam em frente. – anunciou. – Precisamos achar esse colar antes do fim da noite.
- O caminho até a caverna se inicia ao lado sudeste da montanha. – disse, fitando um mapa. – Por aqui.
- Estamos indo! – respondeu, mas parou, segurando o pulso de .
- Algum problema? – a menina franziu o cenho, vendo os amigos se afastando.
- Não. – ele balançou a cabeça. – Só quero que saiba que o que aconteceu entre nós foi mais importante do que imagina.
- Sério? – os olhos da mais jovem brilharam.
- Sim. – o rapaz sorriu de lado. – Me fez entender quem você é de verdade e, por incrível que pareça, finalmente entendi quem eu realmente sou.
- ... – tentou dizer algo, mas ele a interrompeu.
- Eu só que entenda que, independentemente do que aconteça entre nós... – ele tocou o queixo dela levemente. – Era pra ser assim.
Confusa, tudo o que a garota fez foi balançar a cabeça em concordância. Após o ocorrido mais cedo não precisaria esconder de mais ninguém o quanto era apaixonada por . Aquele seu jeito gentil e protetor fez com que seu coração adolescente pulsasse mais forte cada vez que ele se aproximava. E, naquele instante, tinha certeza que não estava sozinha com seus sentimentos.
Juntos, voltaram a se aproximar de e , logo chegando à montanha onde encontrariam a caverna Denisova. O local era visitado por muitas pessoas, por isso escolheram a noite. Estariam sozinhos para encontrar a Pedra do Urso e sair sem chamar atenção. Continuaram até estarem numa área coberta por vegetação. Ao estarem mais perto, viram duas entradas na rocha.
- Vamos nos dividir. – disse.
- Tem certeza? – franziu o cenho.
- Não temos muito tempo. – o rapaz explicou. – Precisaremos fazer isso o mais rápido possível. Sem erros.
- Tudo bem. – ela balançou a cabeça positivamente.
- Certo. – ele balançou a cabeça. – Você e o , sigam pela entrada superior, através daquela escada. Eu irei com a .
- Entendido. – todos responderam em uníssono.
Coloraram seus óculos de visão noturna e seguiram nas direções das entradas. ergueu o rosto, podendo ver e subindo uma escadaria de metal, feita pelas pessoas para que tivessem acesso a parte superior da caverna. Logo voltou a atenção para o agente e juntos adentraram a menor abertura. Passaram um pouco abaixados, mas dentro puderam corrigir suas posturas.
Alguns metros longe da saída tiraram suas lanternas do cinto, as acendendo. Com cautela analisavam o perímetro, buscando qualquer vestígio do artefato. Foram mais para dentro da caverna, encontrando uma nova abertura.
- Deve ser a passagem que conecta as duas partes da caverna. – observou.
- Acho que deveríamos subir. – sugeriu. – Aqui não tem nada.
- Não podemos saber ainda. – ele parou a encarando com o cenho franzido.
- Na verdade, podemos sim. – a menina sorriu para o amigo.
Em seguida, retirou um pequeno objeto do cinto de utilidades. Era quadrado e cabia na palma da mão, tendo o aspecto de um pequeno comunicador.
- O que é isso? – o agente se aproximou.
- Há alguns dias desenvolvi com a ajuda de detectores de metais, mas que captam só o metal que você quer. – ela disse.
- E como essas coisas podem nos ajudar? – ele perguntou.
- Após receber a missão, pedi ao diretor o máximo possível de informações sobre a pedra. – a garota explicou. – Então passei as últimas seis horas que tínhamos estudando sua possível composição e, de acordo com os dados, reprogramei os detectores para localizarem apenas a gema.
- Uou! – soltou um assobio baixo. – Isso é genial!
- Valeu. – sorriu um pouco sem jeito. – Então, até agora não há nenhum sinal da pedra, por isso acho melhor irmos por ali.
- Você está certa, agente . – a rapaz sorriu orgulhoso. – O diretor fez bem em recrutá-la.
Antes que algum deles dissesse mais alguma coisa, ouviram uma estática em seus comunicadores de ouvido e entraram em alerta. Praticamente ao mesmo tempo atenderam ao chamado.
- Agente ? – ouviram a voz de e está parecia animada.
- Estamos ouvindo, agente . – o garoto respondeu. – O que houve?
- Sem estresse, meus queridos. – a outra soltou um leve riso. – Comemorem, pois acabamos de encontrar nossa pedra preciosa!
- Ok, estamos indo até aí. – ele respondeu, desligando o comunicador em seguida. – Parece que vamos voltar pra casa mais cedo do que imaginamos.
- Que bom. – respondeu. – Estou morrendo de frio.
Rindo, os dois agentes seguiram pela passagem na rocha. Realmente, ela os levaria até a parte da caverna onde e se encontravam e não demoraram a constatar isso. Os outros estavam abaixados, montando alguns equipamentos, até avistarem os colegas.
- Aí estão eles! – a morena abriu um largo sorriso, terminando de colocar luvas.
- O que estão fazendo? – questionou.
- Vamos precisar descer. – respondeu. – O detector indicou que o artefato está dentro daquele buraco.
Eles olharam para onde o garoto apontava e só então perceberam a grande cratera ao fundo do espaço.
- e eu vamos descer e pegar a pedra. – explicou. – Vocês nos esperem aqui.
- Eu poderia ir. – de repente a disse, chamando a atenção dos presentes para si. – Quer dizer... eu tirei nota máxima em escalada, então acho que isso poderia servir pra alguma coisa. Não que eu queria insinuar nada com isso, eu só...
- ! – a cortou, sustentando um sorriso gentil. – Relaxa, nós entendemos o que quer dizer.
- Foi mal. – a mais nova se encolheu.
- Nade de “foi mal”. – a garota se levantou, retirando as luvas. – Você é melhor nisso, é um fato. Vamos aceitar, não é mesmo, ?
- Pelo amor de Deus, o que eu tenho a ver com isso? – o rapaz revirou os olhos.
- Vamos deixar os apontamentos para mais tarde. – interferiu. – , , se preparem.
Assim eles fizeram, colocando todo o equipamento e fixando uma corda a cada um deles. Os dois que ficaram eram responsáveis pela segurança, caso vissem algum problema na descida. Prontos, se posicionaram na beirada da rocha, começando a descer. já o tinha feito antes, mas dentro da base enquanto treinava. Agora, tudo que via era escuridão e só enxergava um pouco graças aos óculos de visão noturna. Seu coração palpitava graças à adrenalina que corria em suas veias e, apesar do frio que fazia do lado de fora, suor escorria por sua testa.
Levaram alguns minutos para chegar ao fundo da cratera, mas logo os pés tocaram ao chão. Com rapidez, acenderam as lanternas.
- Está com o detector de metais? – o garoto perguntou, desprendendo-se do equipamento.
- Está comigo. – ela respondeu, tirando pequeno o aparelho do bolso.
Lado a lado, caminharam pelo lugar que tinha vários metros quadrados.O ambiente era úmido e o ar, levemente pesado. O cheiro forte de mofo e a poeira causaram uma leve crise de tosse na garota, mas esta logo cessou. A sensação ali embaixo era a de estar preso numa caixa sem saída.
- Esse lugar é estranho. – observou.
- Também não gosto daqui. – o rapaz respondeu. - Continue procurando e sairemos bem rápido.
Seguindo a ordem, a menina se afastou um pouco dele, seguindo até o lado oposto da cratera. Aproximou a lanterna de uma das paredes, encontrando alguns escritos indecifráveis, além de desenhos. Entre eles havia a figura de um urso preto rugindo, com as patas dianteiras levantadas. Chegando mais perto, viu uma rachadura perto da região do abdômen do animal. Franziu o cenho, erguendo o detector de metais perto da fissura. Como esperado, o aparelho começou a apitar, brilhando uma luz verde na extremidade superior.
- ! – a moça chamou o amigo. – Acho que encontrei.
se aproximou, parando às costas da menina. guardou o detector, erguendo os dedos até que estes encontrassem a rocha. Os deslizou ali na direção da rachadura, a forçando para fora. Aos poucos o material cedeu, revelando não uma falha, mas sim uma parte propositalmente colocada ali. Ao retirar o pequeno pedaço rochoso, pôde ver o pequeno buraco. Era suficiente para enfiar um ou dois dedos.
- Deve estar aí dentro. – ela murmurou.
Sem pensar muito, enfiou os dedos enluvados na abertura. Vasculhou o espaço com atenção, até que tocou em algo sólido, mas solto lá dentro. Com a ponta do indicador puxou o objeto para fora. Assim que o viu com a ajuda dos óculos especiais e da luz da lanterna, um sorriso surgiu em seus lábios.
- Conseguimos! – a mordeu os lábios para conter o entusiasmo. – , nós...
Ainda sorrindo, a garota virou-se para o rapaz, segurando a pedra pela corrente enferrujada. Mas o sorriso se desfez assim que encarou a expressão do outro. Mesmo com a mínima iluminação, notou a tensão no semblante de . Confusa, deu dois passos em sua direção, ficando de frente para ele.
- Está tudo bem?– a pergunta saiu cheia de preocupação.
- Mais cedo nós conversamos sobre nossos segredos. – ele respondeu, deixando-a ainda mais confusa.
- Sim, eu me lembro. – ela balançou a cabeça, soltando um riso sem humor. – Mas por que está falando sobre isso agora?
- Eu disse também que você me ajudou a ver quem eu sou de verdade. – o garoto continuou, dando alguns passos na direção dela. – Por um momento achei que seria difícil aceitar, mas não é.
- , do que está falando? – franziu a testa, também se aproximando do rapaz.
- Estou falando do nosso futuro. – ele a respondeu, passando seus braços em sua volta, abraçando-a. – Infelizmente, não podemos ficar juntos.
- O quê... – a menina murmurou.
- Eu sinto muito. – sussurrou em seu ouvido. – É o nosso destino.
Antes que a garota pudesse questionar, sentiu uma força incomum atingir seu corpo. Lentamente, a tomou consciência do que acontecia, porém, não havia mais como reagir. Uma corrente elétrica entorpeceu todos seus músculos, fazendo-a perder o controle deles. Foi rápido, não lhe dando ao menos tempo de exprimir o desespero e a dor que a envolveu.Quando percebeu, estava pendurada nos braços do rapaz, mal conseguindo manter os olhos abertos.
- ... – a mais nova tentou falar, mas sua voz saiu como um leve sopro.
- Sei que vai sentir raiva, mas acredite... – ele dizia ao mesmo tempo em que tirava o colar das mãos da menina. – Eu só estou fazendo o que sei ser o certo.
Com cuidado, deitou a moça no solo rochoso e úmido. Apesar de enfraquecida, conseguiu ouvir os passos dele se afastando. Estava indo na direção das cordas. queria se levantar, queria entender o que o amigo estava fazendo, entretanto, não conseguiu se manter acordada por muito tempo. Ainda que lutasse, a escuridão a envolveu por longos minutos.
Quando recobrou os sentidos, abriu os olhos, tentando enxergar em volta. Ao focar a visão, notou que a noite perdurava. Mesmo debilitada, obrigou-se a se levantar, soltando um gemido durante o processo. Forçou o corpo, se erguendo, apoiando-se na parede úmida e fria. Respirou fundo, avançando até as cordas, mas como imaginava, elas não estavam mais lá.
Praguejou, tentando entender o que motivo de ter dito aquelas coisas e por que ele a deixou ali, levando apenas a Pedra do Urso. Apressada, retirou a jaqueta que usava, largando-a em qualquer lugar, revelando as pulseiras de metal que usava. Se aproximou do muro, erguendo as mãos até tê-las sobre ele. Ao realizar tal ação, não perdeu tempo, impulsionando seu corpo para cima. Não precisaria de cordas. Não quando tinha sua própria mente à disposição e os recursos para executar suas ideias.
As pulseiras em seus braços criaram uma corrente elétrica, fazendo as palmas das mãos da garota aderirem ao material, facilitando assim sua subida. O restante dependeria de seu físico. Rapidamente, a agente escalou o precipício, chegando até a beirada da cratera. Mesmo com dores no corpo causadas pelo choque, correu pela caverna tentando encontrar os amigos, pois eles não estavam mais ali.
Assustada, seguiu se aproximando da saída. Corria, desviando-se dos obstáculos, deslizando por vezes nas rochas soltas. Quando emergiu pela entrada superior, uma lufada de ar frio açoitou seu rosto avermelhado graças à corrida. O coração da batia acelerado e, retirando os óculos, vasculhou o perímetro ao redor, buscando os amigos.
- ! – berrou quando não os viu em lugar algum. – , ONDE VOCÊS ESTÃO?
Ainda ofegante, voltou a correr, afastando-se da caverna, seguindo pelo caminho que tinham vindo. Sozinha, adentrou a mata que cobria parte do percurso antes de poder chegar até a nave. Não olhou para trás um segundo sequer, pois em sua mente havia um só pensamento: encontrar , e . Por tudo o que era mais sagrado, precisava achá-los.
Com velocidade conseguiu cruzar as árvores densas, faltando poucos metros para alcançar o jato. Tinha certeza de que os colegas estariam lá e que teria uma boa explicação para o ocorrido. Ou talvez tivesse sido apenas um sonho. Raciocinando furiosamente, não teve tempo para se proteger quando o veículo explodiu, lançando-a para trás.
Enquanto o fogo criava vida, retomava o fôlego perdido pelo forte impacto. Arrastou-se pela grama, na direção dos escombros, não acreditando no que via. Após se ajoelhar com dificuldade, cessou seus movimentos assim que os avistou. A luz da lua e a claridade das chamas foram suficientes para que a menina enxergasse os três amigos. Franziu o cenho, estranhando o fato de estar andando entre o fogo enquanto arrastava os outros dois, que achavam-se desacordados, pelas golas das roupas.
Arregalando os grandes orbes, a se adiantou, tentando mais uma vez se levantar,porém, tropeçou nos próprios pés caindo com o rosto no chão, sujando-o de terra e grama. Estatelada, permaneceu ali até ouvir as pisadas próximas. Sem coragem para erguer os olhos, ouviu apenas o baque à sua frente. Os corpos dos dois agentes tombaram perto de si. foi a mais próxima e o rosto delicado da garota virou-se bem para o dela. Os olhos estavam abertos, mas não havia o mínimo resquício de vida neles.
- Não... – foi a única coisa que conseguiu dizer.
Rastejou para perto da garota, agarrando sua jaqueta, sacudindo seu corpo com a força que lhe restava. Chamou-a uma, duas, três vezes... porém, a resposta não veio. Sua amiga estava morta. Ao seu lado, o namorado havia ganhando o mesmo destino. A diferença era que seu rosto estava completamente machucado e sujo de sangue, como se tivesse sido espancado. Tremendo violentamente, deixou que um gemido de agonia escapasse pelos lábios, pois não conseguia encontrar palavras para expressar o que sentia naquele momento.
- É triste, não é? – de repente a voz do agente chegou os seus ouvidos. Ainda assim não o encarou. –Duas pessoas com tanto potencial, mas com um fim tão trágico.
- O que... o que houve? – ela balbuciou, sentindo o queixo tremer graças ao choro preso.
- Eu tentei oferecer um trabalho a eles, mas a oferta foi recusada. – a voz do garoto saiu dura, diferente da que ela estava acostumada. – E os que se recusam a colaborar serão eliminados.
Perplexa, finalmente ergueu o rosto para fitar o rapaz. A cena que viu foi a última que esperava. permanecia parado a poucos metros. Sua postura era de superioridade, mas o mais estranho era a luz azulada que reluzia de seu peito. Semicerrando os olhos ela pôde ver o colar em seu pescoço. A Pedra do Urso brilhava mais do que a lua ou o fogo. Era terrivelmente bela.
- Foi você? – ela questionou e pela primeira vez desde que ele se aproximara, tentou se levantar. – Não, não pode ser.
- Por que está duvidando? – ele se abaixou ficando na mesma altura que ela.
- Porque o conheço. – o olhou nos olhos. – Somos amigos. Você não pode... Não...
- Pobre . – um riso desdenhoso escapou pelos lábios entreabertos. – Tão ingênua como todos os outros de sua família.
A moça abriu a boca para respondê-lo, entretanto, a fechou quando viu um reflexo azul claro passar em frente às íris dele, dando-lhe um aspecto sombrio. No segundo seguinte, ele a agarrou pelos cabelos, trazendo seu rosto para perto, a ponto de as respirações se misturarem.
- Acha mesmo que somos amigos? – ele falava entredentes. – Que temos algum sentimento bom para compartilhar? Então deixe-me lhe dizer algo.
Erguendo a moça, que continuava estática, a arrastou até perto do fogo parando a poucos passos das chamas violentas.
- Eu não faço parte dessa... família que vocês criaram. A OSAN é um emaranhado de mentiras. – parando por um segundo, ele encostou os lábios no ouvido dela. – E você, ... é a pior de todas elas.
Com brutalidade, soltou-a e a menina foi ao chão, caindo sentada. não conseguia reagir. Seu olhar estava preso ao do rapaz que a mirava com desprezo. Um desprezo que nunca vira antes. Aquele não era , era qualquer coisa menos o garoto pelo qual se apaixonou. Quando ele deu um passo em sua direção, involuntariamente se encolheu, pois tudo que sentia era medo. E o medo a dominou completamente.
- Eu deveria matá-la. – mais uma vez ele se ajoelhou em sua frente. – Mas não vou fazer isso. Sabe por quê?
Erguendo os dedos, ele tocou o rosto sujo e suado da garota. Quando as peles quentes entraram em contato, voltou a tremer de pavor, tirando um sorriso desdenhoso dele.
- Para que saiba que tudo isso é culpa sua. – a voz do era grave e carregada de maldade. – Que não passa de uma protegida. Não é tão inteligente quanto pensa, . Só está na OSAN por causa do que sua família representa. E você é fraca, fraca como todos eles.
Sem mais, o garoto deslizou os dedos pela bochecha dela e a pedra no colar voltou a brilhar. Arregalando os olhos, foi lançada para trás por uma força invisível. Sentiu que parte de seu braço estava entre o fogo, mas apesar da dor e da enorme vontade de gritar, não conseguiu se mover. Paralisada, viu quando se levantou esboçando um sorriso maldoso. Não, aquele não era , era apenas um monstro.
Enquanto o via se distanciar, lágrimas silenciosas escapavam pelo canto de seus olhos. Nunca, em toda a sua vida, sentira tanta dor. Mas não a agonia física e sim a que insistia em triturar o seu coração jovem. Aos poucos, não suportou mais o sofrimento, desfalecendo em meio às chamas alaranjadas.

~o~


despertou bruscamente. Ofegante, tentou se levantar, enquanto sentia o suor escorrer pela testa. Estava desesperada, precisava se livrar do perigo que a cercava de perto, mesmo que ela não fizesse ideia do que poderia ser. Sentiu coisas presas aos seus braços e as arrancou sem ao menos fitá-las, arfando graças a seu estado atormentado.
Foi quando alguém a tocou. Assim que os dedos circundaram seus pulsos, a garota estremeceu. Todo o seu corpo reagiu sem ao menos pensar e um gemido de pavor escapou por seus lábios entreabertos.
- Não! – a menina tentou se libertar.
- Agente ! – a pessoa a chamou, mas ela a ignorou, continuando a se debater.
- Fica longe de mim! – dessa vez sua voz saiu mais alta.
- , sou eu! – mais uma vez, o homem disse seu nome. – É o diretor Clark!
Como se as palavras fossem um balde de água fria, ela despertou de seu ataque de histeria.Quando finalmente fitou a pessoa à sua frente, pode constatar que era mesmo ele. O diretor Clark Johnson a fitava com preocupação.
- Diretor... – murmurou, tentando normalizar sua respiração. – É o senhor mesmo?
- Sim, criança, sou eu. – ele a respondeu com ternura. – Não se preocupe, está tudo bem agora.
- Onde... – estranhando a situação, a olhou em volta, analisando o ambiente. – Onde eu estou?
- A trouxemos para a enfermaria. – o homem respondeu. – Por sorte a encontramos com vida, ainda que seus machucados fossem graves.
- Me... encontraram? – confusa, ela encarou o braço direto completamente enfaixado. – Como assim?
- Agente ... – Clark franziu o cenho. – Não se recorda de sua missão na Sibéria?
A pergunta chegou até a mente da garota, que a processou por alguns segundos. Ela havia estado numa missão na Sibéria. Tinha sido encontrada ferida. Lentamente, seusolhos vagaram até a parede branca às costas do mais velho e, como se fosse um projetor, ela a fez se recordar da situação. Como um furação, as lembranças assolaram seu cérebro de forma devastadora.
Lembrou-se do momento que compartilhou com antes de partirem, de suas falas enigmáticas que apenas a deixaram mais confusa do que já estava. Recordou a troca de olhares de e por quase os terem pegado no flagra. Do momento que entraram na nave e de quando pousaram pela noite perto da caverna Denisova. Seguiram os quatro juntos, até dividirem-se em duplas que foram por caminhos opostos. Haviam encontrado a pedra antes do esperado e ela se ofereceu para trazê-la de volta. E foi aí que tudo começou.
- e ... – as palavras saíram com dificuldade. – Eles...eles estão mortos, não estão?
- Infelizmente. – o diretor respondeu após um longo suspiro.
- Eu não entendo. – com os olhos cheios de lágrimas, ela continuou a fitar a parede. – Por que ele fez isso? Por que queria aquela... aquela maldita pedra?
- É uma longa história. – o homem balançou a cabeça negativamente. – Depois conversaremos sobre isso, é melhor que descanse.
- Não! – ela falou com firmeza. – Eu quero saber tudo.
- ... – ele tentou convencê-la.
- Tudo! – a garota insistiu. – Eu mereço saber por que meus amigos estão...
Sentindo um nó apertar a garganta, baixou o rosto e cerrou os punhos, tentando reprimir o tremor que ameaçava envolvê-la novamente. Compadecido, o diretor suspirou, sentando-se numa poltrona ao lado da cama. merecia saber a verdade, especialmente naquele momento.
- , assim como você, é filho de dois agentes da OSAN. – o homem iniciou seu relato. – Sua família também foi uma das responsáveis pela fundação da organização, trabalhando em parceria com a família e a por décadas.
- E o que houve? – ela perguntou.
- Desde sua fundação, a OSAN nunca teve um líder dos , pois apesar de serem bons, nunca foram considerados aptos para essa posição. – ele respondeu. – Isso feriu seu orgulho e, por anos, conspiraram para assumir o poder.Isso perdurou até chegar aos pais de Sebatian e mais alguns membros que restaram. Mas foram descobertos e expulsos da organização.
- E depois? – a menina murmurou.
- Depois perdemos qualquer contato com eles. – o mais velho respondeu. – No começo, o estado de alerta foi mantido, mas após alguns anos esse assunto esfriou e, por fim, foi deixado de lado.
- Deixaram uma família de traidores para lá? – franziu o cenho.
- Não, a monitoração continuou em secreto. Os mais velhos morreram e outros resolveram seguir uma vida normal. – ele falou. – Os mais jovens, Marta e Paul, eram primos e se casaram. Com um tempo, tiveram um filho.
- ... – sussurrou, olhando para baixo.
- O menino era inteligente, mas eu sabia que deveria ficar de olho nele e quando me tornei diretor, coloquei agentes em seu encalço. – explicou. – Foi assim que descobrimos o plano de seus pais.
- Plano?
- Eles pretendiam conquistar a OSAN. – Clark se remexeu um pouco. – E, para isso, foram em busca de algo que os auxiliasse a ter êxito.
- A Pedra do Urso. – a garota arregalou os olhos. – Mas... por que não os impediram?
- Minha cara, ... – ele a encarou com um meio sorriso. – O fato de termos impedido os é o motivo principal de você estar aqui.
- Meus pais... – ligando os fatos, ela engoliu seco. – Foram eles que os pararam?
- Eles foram grandes agentes e deram a vida pela organização. – o homem respondeu. – Infelizmente, apesar de Marta ter morrido durante o confronto, Paul conseguiu fugir. Mas, com medo de ser pego, deixou num orfanato e sumiu do mapa.
Respirando lentamente, a garota assimilou as palavras do mais velho. Saber que seus pais haviam morrido como heróis não tornava nada mais fácil. Na verdade, isso só fez com que a dor em seu peito aumentasse.
- Então... – as palavras de voltaram à sua mente, fazendo a vontade de chorar voltar com força total. – Sou apenas uma protegida?
- No começo, pensei que sim. – o diretor balançou a cabeça positivamente. – Mas agora sei que é mais do que imaginei. Você está além de seu sobrenome, . Merece a sua posição pelo que realizou.
- Não consegui salvar meus amigos. – desviou o rosto. – Talvez eu não mereça tanto assim.
- Não foi culpa sua. – ele apoiou uma mão em sua perna, fazendo-a fitá-lo. – seguiu o que aprendeu dos pais. Se você soubesse o quanto demorou para que ele deixasse de ser uma criança fria e orgulhosa.
- Então, por que o deixaram ir justamente para o lugar onde a pedra estava? – não conseguia entender. – Se sabiam que ele sofreu essas influencias negativas, por que o permitiram chegar a.. a esse ponto?
- Por sua causa. – Clark respondeu.
- Minha... – a frase se perdeu em seus lábios.
Confusa, permaneceu estática, encarando o homem parado ao seu lado. De tudo que esperou ouvir, nunca imaginou que aquelas seriam as palavras.
- O que eu tenho a ver com isso? – sussurrou.
- Quando você chegou aqui, conseguiu cativá-lo. – Clark disse com um sorriso de lado. – Apenas , com muito esforço, conseguiu se aproximar dele. Então você, uma , o tirou do seu mundo particular. Nunca pensei que o veria tão sorridente longe da agente .
- E o que isso tem a ver? – me encolhi.
- Se estivesse ligado a você, poderia se esquecer do que aprendeu dos pais. – o diretor esclareceu. – E a rixa entre suas famílias seria deixada para trás.
- Isso é muito... muito ingênuo. – um riso incrédulo escapou de seus lábios. – Como puderam ter se apoiado nisso? Um sentimento tão recente nunca poderia substituir o que já estava arraigado em seu coração.
- Infelizmente, percebemos isso tarde demais. – o homem suspirou, levantando-se.
- E agora, e estão mortos. – um calafrio lhe atingiu a espinha.
Percebendo a melancolia no semblante da jovem, o diretor se aproximou um pouco, sustentando uma expressão pensativa.
- Nem tudo está perdido, minha jovem. – o diretor sussurrou, ainda encarando o nada.
ergueu os olhos e o analisou sem entender como aquele homem poderia dizer algo do tipo após um desastre tão grande. Na sua mente, as palavras de ainda gritavam e ela se encolheu ainda mais. Seu coração estava destruído. Não havia espaço para mais nada além de dor, tristeza, medo e culpa.
“Eu deveria matá-la. Mas não vou fazer isso. Sabe por quê?”
As palavras de a atingiram em cheio, obrigando-a a abraçar o próprio corpo.
“Para que saiba que tudo isso é culpa sua.”
Ele havia sido cruel. Havia mudado completamente de uma hora para outra. Abalada, não olhou para o diretor quando ele apoiou uma mão em seu ombro. Já haviam conversado o suficiente e ela não queria saber de mais nada. Queria apenas chorar, chorar e chorar.
Se martirizaria o resto da vida por ter sido tão fraca. Por ter deixado pessoas inocentes morrerem e não fazer nada.

Atualmente

Erguendo o rosto, mediu com o olhar. Fazia tanto tempo que não o via que pensou que esqueceria seus trejeitos. Porém, vendo-o sorrir de lado com as sobrancelhas erguidas, teve a certeza de que ele era o mesmo. Ainda que tivesse se tornado um homem, a moça se recordava do mesmo garoto que um dia fez parte da OSAN, mas se deixou levar pelos ensinamentos dos pais.
Automaticamente, enquanto ainda o analisava, a lembrança de seu próprio rosto jovem voltou à mente, lhe arrancando um suspiro.
- Quando eu o conheci, pensei que seríamos amigos. – a mulher revelou. – Achei que, finalmente, alguém me entenderia.
- Você sempre foi uma garota ingênua, . – ele soltou um riso desdenhoso. – Às vezes eu tinha vontade de fazê-la cair na realidade.
- Realmente, eu sonhei muito alto. –um riso semelhante ao dele escapou de sua boca. – Mas, deixe eu te contar sobre a garota que você conhecia.
franziu o cenho quando caminhou um pouco em sua direção sem deixar que o sorriso debochado morresse.
- Ela não é mais a mesma. – a continuou. - Ela não está esperando pela sorte, não há ilusões.
Parando, a garota guardou a pistola no coldre e com as duas mãos, retirou a jaqueta preta que usava. Por baixo, revelou uma blusa da mesma cor, entretanto, não foi isso que chamou a atenção do outro parado a poucos metros. O braço direito da mulher estava praticamente fechado por uma cicatriz um pouco mais escura que sua pele.
- Essa cicatriz é a principal coisa que me faz nunca esquecer quem você se tornou. – disse, erguendo a mão. – Naquele dia, você disse que não me mataria para que eu convivesse com a culpa e eu convivi. Todos esses anos, a cada dia, a cada minuto, eu pensei em suas palavras e em como conseguiu me destruir.
- Não foi tão difícil. – ele disse.
- Isso é verdade. – balançou a cabeça sem deixar de encará-lo. – A única coisa que você não sabia, era que essa dor me faria evoluir. Eu cresci, . E agora as coisas serão do meu jeito.
- Acha que isso é um tipo de competição, ? – franziu o cenho. – Que estamos aqui para saber quem é o melhor?
- Não, . –ela respondeu. – Estamos aqui para resolver isso de uma vez por todas. Você quer destruir a OSAN e eu não vou permitir.
- É melhor sair do meu caminho... – o homem disse entredentes. – Pirralha.
Travando o maxilar, cerrou os punhos e puxou ar para os pulmões. Já estava cansada das palavras de , cansada de sua negatividade. Não iria escutá-lo nem mais um minuto.
- Chega de me subestimar. –enquanto falava, ergueu o punho direito à altura do rosto. - Tranque todos os seus pensamentos e jogue fora a chave, porque você não me incomoda.
Quando a garota abriu os dedos, pôde ver. Cintilando em seu dedo anelar estava um anel de ouro com uma bela pedra azul. Caso não conhecesse a história, isso passaria despercebido, mas ele sabia o que aquele objeto significava. Arregalando os olhos, descruzou os braços e deu dois passos em sua direção.
- Como... – questionou ainda sem acreditar. -Como conseguiu isso?
- A Pedra do Urso sempre causou discórdias. – ela começou a falar, mantendo um tom calmo. – Por séculos, pessoas batalharam em busca dela e reinos deixaram de existir por conta disso. Mas, sempre houve os que eram mais sensatos, que reconheceram o que aquela pedra poderia causar ao mundo, então a dividiram em duas partes e as esconderam.
- Acha que não conheço a história? – o rapaz riu sem humor.
- Sei que sabe. – balançou a cabeça. – É por isso que está tão assustado.
- Como a encontrou? – ele insistiu.
- Quando o diretor Clark me falou sobre a história da Pedra do Urso eu consegui entender qual seria meu papel a partir daquele momento. Não esperei um segundo sequer e fui atrás da segunda parte da gema. – a garota falou. – Fiz pesquisas e dei o meu sangue para encontrá-la. Então, finalmente a achei.
- Ainda que tenha essa pedra, não vai me deter. – riu.
- Esse é o meu objetivo. – balançou os ombros.
- Já chega de conversa. – ele franziu o cenho. – É hora de colocá-la em seu lugar.
Fechando os punhos, o homem respirou fundo, levando para dentro de si o ar gelado daquela noite de inverno. Um vinco surgiu entre as sobrancelhas da assim que viu o colar no pescoço dele brilhar. O azul da pedra se tornou intenso e ela soube o que viria a seguir. Colocou-se em posição de combate, porém, antes que reagisse, a figura de desapareceu de diante de seus olhos.
Abriu os lábios graças à surpresa, olhando em volta em busca dele. A escuridão não era de ajuda, dando-lhe apenas o tempo de inclinar o corpo para o lado quando o pé de atingiu seu abdômen. Entretanto, isso não foi suficiente e o chute a acertou em cheio, a lançando longe. Arfou ao sentir seu corpo colidir contra o gelo, rolando algumas vezes, até finalmente parar com o rosto contra o chão.
Sentido o lugar atingido latejar, tentou se levantar, mas algo a fez voltar para baixo. Virou o rosto, encontrando logo acima, com um dos joelhos apoiados em suas costas.
- Então essa é a nova garota que você se tornou? – perguntou com desprezo. – Que decepção.
- Não... – sorriu de lado.
Antes que ele dissesse algo, a mulher cerrou a mão direita. Ao mesmo tempo em que o azul do anel ganhava um tom vivo, ela se moveu, libertando-se do domínio de . Como um raio, se levantou, socando seu rosto. O impacto o jogou para trás, contra o gelo sólido, causando várias rachaduras por sua extensão. Quando ele se apoiou nos cotovelos, a fitando com fúria, abriu um sorriso provocador.
- Essa é a garota que me tornei. – respondeu sem hesitar.
Transbordando ódio no olhar, se levantou sem quebrar o contato visual entre eles. Ignorando a dor que sentia no maxilar, preparou-se para avançar contra a garota do outro lado do lago. não tardou a imitá-lo, correndo em sua direção. Em segundos, colidiram, iniciando uma troca frenética de socos e chutes que, por conta da potência, causavam um vácuo que deixava rachaduras por todo gelo em volta.
Em certo momento, tentaram socar um ao outro ao mesmo tempo e seguraram os punhos com as mãos livre. Enquanto forçava a mão de para trás, o encarou de perto e viu o exato momento em que uma luz azulada passou em frente de seus olhos. Em alerta, o largou no exato momento que os membros superiores dele foram envolvidos por chamas. Eram como duas tochas, prontas para incinerar o que se aproximasse.
- Você falou bastante sobre si. – abriu os braços. – Agora é hora de mostrar quem eu sou.
Um sorriso maléfico surgiu no rosto dele ao mesmo tempo em que as chamas aumentavam em proporção. De onde estava, lançou rajadas contra a garota que foi obrigada a correr para se desviar delas.
- Eu sou um , sou leal à minha família. – ele dizia, continuando seu ataque. – Meus pais me criaram da melhor forma possível, pensando em trazer toda a glória que perdemos. Nós tínhamos um plano, mas então vocês, malditos s, resolveram se intrometer.
Em certo momento, precisou se abaixar para escapar do fogo, mas logo retomou o equilíbrio.
- Mataram a minha mãe e obrigaram meu pai a me deixar num orfanato. – o rancor em sua voz era evidente. – Mas estou aqui para consertar isso. Eu vou destruir a OSAN por todos que ela humilhou. Começando por você.
Farta das palavras daquele homem, praguejou algo indecente. já tinha chegado ao seu limite, não aguentaria mais ouvi-lo. Determinada, correu por mais um espaço, pronta para reagir. Quando respirou fundo, uma luz azulada passou sobre seus olhos. Parando de supetão, ergueu a mão onde o anel estava na direção da bola de fogo que vinha, sentindo a pele esfriar assim que a rajada de gelo escapou de seus dedos. Graciosamente, ela alcançou as chamas, as apagando como um sopro.
- Você só está aqui por vingança. – a garota tomou a palavra. – Matou seus amigos e me humilhou apenas para seguir as palavras de um velho amargurado e com o ego ferido. Você poderia ser muito mais se quisesse, . Eu conheci seu outro lado e ele é bom. As coisas não precisam ser tão difíceis.
- Aquela parte de mim que conheceu... Não passa de uma mentira. – ele inclinou a cabeça levemente para o lado. – Um personagem criado para convencê-los de que o pobre garotinho órfão havia finalmente encontrado sua verdadeira família.
- Nós éramos a sua família! – praticamente berrou.
- Vocês foram responsáveis por todo sofrimento que tive de suportar! – ele respondeu no mesmo tom. – Mas eu vou fazer justiça.
- Não... – ela negou. – Você só está sendo um garotinho mimado. Está perturbado, pois sabe que está errado.Desista!
- Como ousa me desafiar? – ele praticamente cuspiu a pergunta. – Você, mais do que todos os outros, é uma inútil. E depois que matá-la, vou acabar com todos eles.
- Eu achei que poderia fazê-lo mudar de ideia. – um suspiro escapou por entre seus lábios.– Mas parece que para algumas coisas não existe solução.
- Eu sou um ! – declarou, inflando o peito em orgulho. – E isso é algo que, nem você nem ninguém irá mudar.
- Eu sei disso agora. – a garota balançou a cabeça, mostrando toda a sua decepção. – O que é uma pena.
Soltando um grito cheio de raiva, o homem veio com tudo na direção dela, usando de sua velocidade anormal. A agarrou pelos ombros e caíram juntos contra o gelo que trincou por conta do peso. Não suportando o impacto, a estrutura cedeu e os dois jovens imergiram na água congelante, mas isso não fez diferença. Não quando iniciavam mais um combate.
Largando os ombros da moça, levou as mãos até seu pescoço, começando a enforcá-la. Já sentindo o ar lhe faltar, recorreu a uma última tentativa. Fechou os olhos, se concentrando e canalizando todo o poder da pedra em si. Ao sentir que era suficiente, impulsionou o corpo para cima, que imediatamente seguiu sua ordem. Agarrando os pulsos de , o levou consigo quando saiu como um jato de dentro da água.
Surpreso, o homem olhou em volta quando percebeu que agora levitavam a alguns metros do chão. Porém, isso não demorou, pois logo a foi obrigada a descer. No processo, o largou, fazendo-o se chocar contra o sólido. Aterrissando com um dos joelhos no chão, ergueu os olhos para , que permanecia jogado.
Quando finalmente se olharam, as respirações ofegantes e os queixos batendo graças ao frio extremo, ela teve certeza de que aquilo nunca acabaria. Assim, decidiu dar um basta a aquela luta que não os levaria a lugar algum. Se teletransportou, simultaneamente retirando um dispositivo de seu cinto. Ao ressurgir ao lado de , o afixou em seu tornozelo, voltando para o mesmo lugar em seguida. Tudo sem que ele percebesse.
viu o momento que a garota se moveu, entretanto, não foi capaz de saber para onde ela havia ido, pois logo estava no mesmo lugar de antes. Se levantou, com mais raiva ainda, disposto a finalizar aquela batalha de uma vez. Ele tinha um nome a zelar, precisava mostrar que era leal à sua família.
- Já estamos indo longe demais. – de repente falou, repetindo o que dissera antes. – Desista!
- Dessa vez devo concordar com você. – ele estalou o pescoço. – Hora de terminarmos.
Sorrindo de forma perversa, ele abriu os braços, pronto para criar novas chamas. Tentou canalizar a energia da pedra azul para si, porém, seu sorriso murchou ao notar que não conseguia realizar tal coisa. Se esforçou novamente, mas de nada adiantou. Estranhando, fitou o colar em seu pescoço e arregalou os olhos ao perceber que deste não provinhamais nenhuma luz. Havia voltado a ser apenas uma pedra azul.
- Mas... – murmurou, dando dois passos para trás. – O que está acontecendo?
- Eu disse que havia me tornado uma garota durona. – falou, chamando sua atenção. – Mas há uma coisa que você não conseguiu mudar em mim, . – caminhando um pouco, ela sorriu. – Eu sempre dei um jeito em tudo, sempre tive minha mente e minhas habilidades à disposição. Construir coisas era minha paixão e isso não é algo que se vem junto com um sobrenome.
Só então o rapaz pôde perceber algo diferente. Alarmado, olhou para o tornozelo, encontrando um pequeno dispositivo semelhante a uma algema fina, fixada ali. Antes que tentasse removê-la, a disse mais coisas e ele a fitou.
- Nem tente. - ela o alertou. – Se remover a algema, vai explodir junto com ela.
- Sua... –o outro disse entredentes.
Não permitindo que ele completasse sua sentença, sumiu, reaparecendo em sua frente. Sem hesitar, socou seu rosto, fazendo-o cair de joelhos. Em seguida, levou a mão até o colar, o arrancando de seu pescoço e o esmagando com sua força sobre-humana.
- Agora sim terminamos. – ela repetiu a fala enquanto os fragmentos da pedra atingiam o gelo.
- Como fez isso? – ele sussurrou, ainda pasmado.
- Criei um dispositivo que anula a ação da pedra. – ela explicou. – Tive cinco anos para isso e me serviu muito bem.
- Acha que isso vai nos parar? – soltou um riso que ecoou por todo o ambiente.
- Não. – ela balançou a cabeça para os lados.
- Então deveria me matar. – mais um riso. – Afinal, agora é superpoderosa. Finalmente poderei presenciar a nova mulher que se tornou, pois tenho certeza que sem essa pedra, você continua sendo a mesma de antes. Frágil, dependente... ingênua.
encarou o homem de joelhos por longos instantes. Então, um sorriso surgiu em seu rosto. poderia despejar tudo nela. Ela seria mais forte que suas palavras.Sem deixar de fitá-lo, a garota retirou o anel do dedo, o lançando para longe.
- Não preciso disso para saber quem eu sou. – falou, mordendo os lábios. – Você já me destruiu uma vez, . Então, por mais que tente, suas palavras não vão conseguir me atingir. Não estou aqui por mim e sim pelas pessoas que amo. Pela minha família.
- Eu também. – ele rebateu.
- É por isso que preciso ser firme. – ela continuou. – Você não vai parar, não é mesmo?
- O que acha? – um sorriso de deboche enfeitou o rosto dele.
suspirou. Durante os quase cinco anos que se preparou para aquele momento, pensou que talvez, apenas talvez, poderia se redimir de seus erros. Estava disposta a perdoá-lo, apesar de todo o mal que causou. No entanto, o encarando de perto, tinha que admitir para si mesma que estava enganada. Algumas pessoas nunca mudam.
- Você teve uma segunda chance. – ela disse, levando uma mão até o coldre. – Mas a desperdiçou.
De lá, retirou sua pistola, chegando mais perto dele. Apoiou o cano da arma em sua testa e a destravou, deixando o dedo perto do gatilho. Diferente do que esperava, ganhou dele apenas um sorriso desdenhoso.
- Vá em frente. – as palavras ecoaram mesmo que faladas num tom baixo. – Espero que consiga conviver com o peso do meu sangue sobre os seus ombros.
- Esse é um fardo que estou disposta a aceitar. – respondeu sem emoção.
Sem mais, afastou o revólver de sua pele e atirou. Uma bala certeira que fez a cabeça do homem pender violentamente para trás, sendo seguida por seu corpo, que tombou de lado. Então o silêncio dominou o local e apenas o som do vento podia ser ouvido. Enquanto via o sangue escarlate de manchar o branco do gelo, respirou fundo.
Estava feito.
Depois de anos, conseguiu pará-lo. Todo o tempo de evolução valeu a pena. e foram vingados, a OSAN estava salva. Acima de tudo, ela mesma se sentia mais leve. Não por ter provado a aquele homem que era melhor. Mas sim por ter sido forte o suficiente.
Deu as costas ao corpo e foi até o anel, pegando-o do chão. Ainda abaixada, fitou a bela joia, percebendo que agora ela não tinha mais uma serventia. Ela não precisaria da pedra, pois sabia do que era capaz. Com isso em mente, se levantou e a guardou no cinto de utilidades, decidindo deixar para depois o que faria com ela.
Fechou os olhos por alguns segundos, sentindo a brisa noturna acoitar sua face e suspirou. Estava livre. Finalmente poderia viver em paz. Automaticamente, a imagem dos dois amigos invadiu sua mente, fazendo seus olhos se encherem de lágrimas.
- Eu consegui... – ela murmurou mesmo sabendo que eles não a escutariam. – Obrigada...
Todos estavam a salvo, como ela disse que estariam. Ainda assim, não poderiam baixar a guarda. Não ainda. não era o último dos e deveriam permanecer espertos. Junto com os outros agentes resolveria isso até por um fim a aquela história.
Erguendo o rosto, voltou a caminhar e enquanto lágrimas singelas escorriam por seu rosto, a mulher sorriu. sabia que conseguiria, sabia que era capaz. Independentemente do que lhe dissessem, ela não se deixaria abalar. Ela faria as coisas do jeito certo. Alcançaria seus objetivos sem se esquecer de que não era preciso muito. Bastava apenas ser ela mesma. Bastava nunca desistir.


Fim.



Nota da autora: Hello, pessoas lindas, como estão? o/o/
Estou aqui pra dizer que eu precisei de coragem pra fazer o que fiz com o pp. Sério! Eu nunca tinha matado um pp e eu to muito feliz com essa evolução. E bora combinar que o cara era um embuste. Mereceu mexxxmo. Hihi
Sobre a fic, amei desenvolver o enredo e, ainda que nem todas gostem dessa coisa de agente secreto, o importante foi a mensagem que está por entre as linhas: nunca deixe que o que os outros dizem o atinja, seja forte, acredite em si mesmo, pois você é capaz de alcançar o que quiser. Basta não desistir! ;)
Enfim, obrigadinha por lerem e bjos.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.

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