FFOBS - 15. Antichrist, por Naya R.

Última atualização: 15/08/2018

Capítulo Único

And I swear there's a ghost on this island.

Acordei suando frio, vendo o costumeiro vazio ao lado da minha cama.
Uma dor de cabeça fortíssima me atingiu como um caminhão, e levantei-me para respirar ar fresco. O pesadelo rasgando minha cabeça.
Nele, estava perdida na mata e eu ia atrás dela, nunca conseguindo alcançá-la, apenas três ou quatro passos atrás, mas por mais que eu corresse, nunca conseguia chamá-la ou tocá-la. Até o momento em que ela virou-se para mim, com a boca e pescoço completamente ensanguentados, as mãos meladas daquele líquido viscoso e vermelho, escorrendo pelos pulsos até o cotovelo.
- Me desculpa, . - Ela só sussurrava isso, com os olhos vidrados.
Depois de pedir desculpas umas cinco vezes, percebi que seu tom ia seguindo um pedido de desculpas mais agressivo. No último “me desculpe!” ela já estava gritando e rosnando como um felino pronto para atacar. Corri, mas eu sabia que ela iria me alcançar e me dilacerar com suas mãos já sujas de sangue. Acordei.

Traguei meu cigarro na varanda do quartinho do hotel que eu havia alugado naquela ilha estranha. Eu era repórter, e estava naquele lugar sujo, frio e especialmente nublado atrás de algumas pistas de uma série de assassinatos que estavam acontecendo ali. E todos os fatos me levavam àquela mulher: Dicker. A mulher que eu estava espionando, a minha principal suspeita, a mulher mais bonita que eu já havia visto, eu sentia uma atração absolutamente insana por aquela mulher.
Soltei a fumaça do cigarro olhando em volta. A cidade era absolutamente morta, um barulho aqui e ali, nenhum carro passava pelas ruas, dava para ouvir o ruído da energia acendendo a luz do poste, aquele zzzzzzzzzzzzzzzzzz infinito. O frio me congelou as mãos, já que eu estava sem camisa.
Aquele silêncio me incomodava, parecia que sempre estava prestes a acontecer algo, como aquele silêncio de um filme de terror antes do susto.
Recostei-me no beiral dando mais uma tragada.
Eu odiava aquela cidade fantasma. Precisava achar logo aquela mulher e descobrir se ela realmente estava envolvida. Minha sanidade já estava por um fio, já que até pesadelos eu estava tendo com ela. Mas isso era um bom sinal, minha intuição nunca falhou.

No outro dia, acordei como se tivesse bebido a noite inteira. Como se estivesse de ressaca. Tomei um café preto forte e segui para a biblioteca da cidade com meu rotineiro cigarro na boca. Quando cheguei na biblioteca, joguei a bituca no chão e pisei em cima antes de seguir para a porta.
- Vou ter que chamar a polícia se você continuar sujando minha cidade assim. - Ouvi uma voz feminina atrás de mim dizer. Virei-me para ver quem era.
Minha boca simplesmente soltou-se para baixo quando vi os olhos de felina daquela mulher que era minha principal suspeita.
- Estava me procurando? - Perguntou ela, absolutamente astuta. Sem qualquer sinal de medo ou revolta. - Você está me seguindo há duas semanas, acho que provavelmente quer saber alguma coisa de mim, certo?
Apenas concordei com a cabeça, não sabendo exatamente como lidar com esta situação. Realmente não esperava por isto.
- Quer tomar um café?
- Sim. - Consegui dizer, olhando seu sorriso presunçoso, os dentes eram perfeitos: extremamente brancos e bem alinhados. Analisei as pintinhas espalhadas por seu rosto e pescoço. Ela era a definição de perfeição.
Passei a mão no cabelo antes de acompanhá-la.
- Então, eu estou envolvida em um assassinato? - Perguntou, colocando as mãos no bolso. Rindo em deboche.
- Não sei ainda. - Falei, querendo mais analisá-la do que qualquer outra coisa.
- Ah bom, você parecia bem decidido quando me seguiu até essa ilha. - Ela disse.
- Sim! É que estou seguindo minha intuição. Não tenho muitas provas. - Dei de ombros. Ela estava jogando comigo, eu também jogaria com ela.
- Entendi... Se eu fosse culpada, você não estaria em perigo agora?
- Meu assassino só mata mulheres. - Falei convicto.
- Talvez isso seja só o que ele quer que você pense. - Disse ela, sorrindo novamente.

And his hands, all covered in blood

Sentamos em uma mesa apenas para dois. Ela com seu sorriso convencido.
Eu com meus olhos astutos.
- Você parece nervoso. - Comentou ela, depois de pedir um café preto sem açúcar para mim, como se soubesse exatamente o que eu pediria.
- Não vai beber nada? - Perguntei.
- Não gosto de café.
- Então por que sugeriu este lugar? - Perguntei novamente.
- Você queria um café. Estava estampado na sua cara. Por mais que já tivesse tomado um, não foi o bastante. - Ela lambeu os lábios e cruzou os braços em cima da mesa, me encarando.
- Você está me espionando, então?
- Bom, você desconfia de mim. Eu resolvi desconfiar de você também. - Deu de ombros.
Eu sorri. Ela era inteligente e engraçada. Não era bom eu saber esse tipo de coisa dela, certo? Era como dormir com o inimigo, ou algo assim... Mas tê-la ali tão perto era confortável, de um jeito doentio que não deveria ser.
- Justo. - Apenas falei. - Bom, por que está me espionando?
- Achei que seria divertido ver até aonde você poderia chegar com essa idiotice de assassinato. - Comentou ela rindo.
- E o que está achando? - Perguntei.
- Não tirei minhas conclusões ainda. Mas com certeza é divertido ver como você está obcecado por isto.
- Estou sim. Quero descobrir coisas. É o meu trabalho.
- Estar obcecado não é saudável. - Comentou ela, enquanto a garçonete trazia meu café. - Querida, você pode me trazer uma garrafa de água?

Ouvi algumas coisas sobre .
Era filha única, cresceu com o pai militar, então se mudava muito. Perdeu a mãe quando era nova e formou-se em Medicina há cinco anos, mas teve que afastar do trabalho por motivos pessoais.
Não tomava café e era alérgica a amendoim. Sua banda preferida era Fleetwood Mac.
E eu não conseguia pensar em mais nada, a não ser seus lábios movendo-se e como eles ficariam bons colados nos meus.
Ela hipnotizava.
Eu tinha certeza de que seus lábios hipnotizavam. Eu estava ali, falando com minha principal suspeita, ouvindo sua história, que possivelmente era inventada, e não estava fazendo absolutamente nada. Era como se ela falasse, e tudo que aparecia em minha cabeça eram unicórnios voadores vomitando arco-íris.
E enquanto ela esperava alguma resposta minha, que não prestei bem atenção, ouvi ela dizer:
- Você não vai lembrar. - Ela não disse alto e claro, mas ela disse.
- Não vou lembrar do que? - Perguntei unindo as sobrancelhas.
Ela arregalou os olhos, visivelmente assustada.
- Não pode ser. - Disse, colocando as mãos sobre a boca.
- O que não pode ser?
- Graças à Deus, achei que estivesse ficando louca! - Disse ela, suspirando aliviada.
- Do que você está falando? - Perguntei absolutamente perdido.
A imagem de suas mãos ensanguentadas que vi no meu pesadelo agora vagava em minha mente, como se quisesse me alertar de algo.
- Ah, nada não. Estou pensando alto... - Disse ela, depois riu abertamente como se eu tivesse contado a melhor piada do universo.
Fiquei durante uns bons minutos apenas olhando aquela mulher absurdamente esquisita rir.
Ela suspirou fundo, segurando o riso e disse:
- Me desculpa. É que acabei de lembrar de uma coisa muito engraçada. - Ela olhou em meus olhos. - Eu juro que não sou louca, se isto é o que você está pensando neste momento.
- Eu nem sei o que estou pensando neste momento. - Admiti. Ela sorriu, o ataque de riso tinha ido embora.

She said: How can I relate to somebody who doesn't speak?

Como de costume, tive uma noite de merda recheada de pesadelos.
Desta vez, chorava em meus braços, sua pele era tão gelada que deixava meus dedos dormentes. Seu rosto enterrado em meu pescoço, eu sentia suas lágrimas baterem em minha pele, tão geladas quanto chuvas de inverno. Acariciei seus cabelos macios, enquanto ela fungava, e logo seus cabelos já não eram macios, eram como areia e se desfaziam em meus dedos. Foi quando ela levantou seu rosto para mim, os olhos caindo das órbitas, as maçãs do rosto se desfazendo, os lábios murchos como uva passa. Tentei afastá-la de mim, mas ela esticou seus lábios secos em um sorriso e pude ver seus dentes, meu coração deu um baque surdo que senti dentro de meus ouvidos. Seus dentes eram normais, exceto pelos caninos que eram afiadíssimos e mais compridos do que os outros, típicos dentes de vampiros de Hollywood. Ela grudou sua boca em meu pescoço antes que eu pudesse afastá-la.
Acordei.

Minhas têmporas molhadas de suor.
Olhei a hora em meu celular. Hora de levantar. Joguei as cobertas para o lado e saí da cama, sentindo um incômodo na nuca, como se sentisse que estava sendo vigiado.
Abanei a cabeça, tirando esse pensamento da mente enquanto me espreguiçava e seguia para o banheiro. Meus pensamentos voaram para e a sua estranheza. Eu havia sonhado com ela durante noites e mais noites, nunca sonhos agradáveis, o que essa mulher escondia de mim? Como eu me relacionaria com ela para que ela falasse comigo sem surtar? Aparentemente, mesmo eu fazendo absolutamente nada, ela não tinha o devido gosto por mim.
Joguei água em meu rosto e deixei ela escorrer enquanto me olhava no espelho: nariz meio grande, olheiras e barba por fazer, a boca não era tão mal assim.
Tomei uma ducha e segui para meu destino de ontem: A biblioteca municipal.

Sentei-me na frente de uma pilha de livros com a história da ilha e jornais locais com manchetes interessantes. Depois de três horas colando Post-It nas páginas que possivelmente poderiam me levar a algum lugar, fui tirar cópia das páginas para poder analisar melhor em casa. Enquanto esperava a senhora tirava as cópias, fiquei analisando uma imagem de um dos jornais que acabou ficando em minha mão.
Na manchete desse jornal dizia “Assassino do Farol ataca novamente: Mais de 15 vítimas em menos de dois anos”. A foto mostrava um corpo enrolado em uma lona preta, os paramédicos ao lado do mesmo, uma ambulância não muito longe dali e um tumulto de pessoas ao redor da vítima, várias pessoas especulando e espiando, conversando umas com as outras e então eu vi ela.
Ou parecia-se muito com ela, provavelmente sua mãe ou algo do tipo. Mesmo sabendo que aquilo não era nenhuma prova concreta de qualquer coisa, achei intrigante e resolvi copiar também.

Segui para o hotel para almoçar e ouvi passos logo atrás de mim.
- Hey! - Reconheci a voz e fiquei estático. - Prometo que hoje não vou pirar, ok?
- Tenho que admitir que estou com um pouco de medo de você. - Falei, enrolando as folhas copiadas em minhas mãos.
- Posso me redimir por ontem? - Seus olhos extremamente penetrantes pareceram ler minha alma, enquanto ela mordia o lábio inferior sem graça.
Juro que meu pênis deu um salto dentro de minha calça, apenas com essa mordida de lábios.
Dei de ombros, disfarçando.
- Tudo bem, mas essa redenção não envolve assassinato, certo? - Brinquei. - Se sim, que não seja o meu, pois ainda quero escrever minha coluna no jornal.
Ela riu.
- Vou te dar motivos para escrever essa coluna. - Segurou em minha mão e puxou-me.
Fomos até um restaurante, onde comemos sushi e conversamos mais sobre nossas vidas. Acabei me afeiçoando à sem muito esforço. Parecia que eu a conhecia há muito tempo... Nossas conversas emendavam umas às outras com uma facilidade incrível e acabamos ficando quase a tarde inteira ali.
- E o que você tem aí? - Perguntou ela, referindo-se as cópias que eu havia feito na biblioteca municipal.
- Bom, eu estava na biblioteca pesquisando alguns casos semelhantes a este que está acontecendo e aproveitei para ver a história da cidade. Apenas pesquisa de campo. - Não vi motivos para mentir.
Ela concordou.
- Posso dar uma olhada? - Perguntou.
Eu não devia dar, é claro. Mas eu não conseguia me controlar ao lado dela, então entreguei os papéis em suas mãos.
Ela analisou as cópias com calma. Quando chegou na imagem que eu havia visto mais cedo, em que havia uma mulher muito parecida com ela, uniu as sobrancelhas e analisou a imagem com cuidado.
- Essa mulher se parece muito comigo! Parece até uma foto minha. - Ela disse divertida. - Nossa, o jornal é dos anos 60. Será que era minha mãe? Não tenho muitas fotos dela...
- É bastante provável que seja, a semelhança é incrível. - Falei aproximando-me dela, para poder ver o jornal também.
Estávamos em uma daquelas mesas redondas em que os bancos são na verdade sofás que se encontram em um dos lados.
Quando viu que eu estava me aproximando, afastou-se rapidamente. Entendi aquilo como um claro sinal de: Por favor se afaste de mim. E foi o que eu fiz.
Ela levantou-se num salto.
- E-Eu tenho que ir... Foi ótimo passar esse tempo contigo. - Disse, aparentemente sem graça.
E saiu correndo sem olhar para trás.

I feel like I'm just treading water, is it the same for you?

Acendi um cigarro atrás do outro na sacada do hotel. Sem saber exatamente o que havia acontecido. Refazendo meus passos e relembrando de cada palavra que aquela mulher me disse.
Era claro que faltava peças no meu quebra-cabeça.
Mas quais peças?
Por que ela pareceu tão assustada?
Se ela era uma assassina, por que parecia tão vulnerável? Um segundo antes estava completamente confiante e, inclusive, dando em cima de mim.

Não dormi bem à noite, revirei-me na cama, mas nada me tirava da cabeça aquela mulher incrivelmente assustadora que conversou comigo hoje no almoço. Minha mente rodava e rodava atrás de respostas. Nossa conversa passando repetidamente em minha cabeça.
Eu precisava de mais cigarro.
Levantei-me da cama meio zonzo, e cambaleei até a sacada onde eu já havia deixado meu isqueiro e o maço de cigarro. O maço estava vazio, é claro. Foi por este motivo que fui dormir: Meus cigarros haviam acabado.
Suspirei, olhando em volta procurando algum bar aberto para comprar mais cigarros. Talvez um posto de gasolina.
Foi então que a vi. De pé, pelo menos umas quatro quadras longe de onde eu estava. Na verdade, mal dava para ver que era uma pessoa, mas eu simplesmente sabia que era ela.
Senti um vento frio soprar, novamente eu estava sem camisa, senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Não consegui distinguir se a pessoa estava se aproximando ou não, então entrei no apartamento, coloquei um moletom velho, meus óculos e segui para a varanda novamente.
A pessoa havia sumido.
Dei de ombros, e continuei procurando um estabelecimento aberto. Fui até a sala, e vi pela janela as luzes do posto de gasolina acesas.
Levei meu isqueiro na mão, apertando-o até quase machucar a palma. Mordi o interior dos meus lábios, nervoso com a possibilidade daquela pessoa ainda estar ali por perto.
Eu, completamente despreparado fisicamente, com calça jeans, moletom e tênis sem meia. Cabelos despenteados e olheiras... Não era o melhor momento para ser atacado ou perseguido.
Ao contrário disso, consegui chegar são e salvo ao posto. A atendente me olhou como se eu fosse um absoluto doente. Dei de ombros novamente.
- Três maços do Marlboro vermelho, por favor, e um pacote de Doritos.
- Isso vai te matar. - Ela comentou entediada, virando-se para pegar os maços.
- Vai ser um favor para a humanidade. - Brinquei. Ela me olhou com cara de poucos amigos.
Paguei os maços e acendi um antes mesmo de sair da conveniência. Já havia acabado quando atravessei a rua. Acendi outro enquanto abria o pacote de Doritos.
Percebi que tinha algo de errado quando coloquei a chave na porta e ela abriu sem eu precisa virá-la, o interior do apartamento estava intacto. Mas senti um cheiro diferente do que já estava acostumado. Um cheiro meio terroso, cítrico. Vi seus olhos faiscarem no escuro, o cigarro caiu da minha boca. veio em minha direção, como uma felina vai atrás da presa. Seus cabelos estavam bagunçados, e usava um vestido preto simples, como se fosse uma camiseta muito larga e comprida, a gola caía pelo ombro esquerdo. Os lábios pintados de vermelho, e nos pés um coturno preto e velho.
- Eu juro que tentei . Eu tentei. - Ela se aproximou muito rápido, agarrou meu rosto com suas mãos geladas. Fincou suas unhas em meu pescoço e colou nossas bocas. Sua língua passou pela minha boca com absoluta urgência, minhas mãos colaram em sua cintura como um ímã. Sua língua era gelada e doce, como se ela tivesse acabado de tomar sorvete. Uma de suas mãos seguiram para minha nuca, e eu já sentia falta de ar só de sentir seus dedos por entre meus cabelos, fazendo cada pelo do meu corpo se arrepiar. Ela sugou meu lábio inferior, fazendo-me suspirar, e beijou o canto da minha boca, seguindo para o queixo e maxilar.
- ? Estou meio confuso aqui. - Falei, sentindo meu pênis pulsar dentro da calça quando vi a cara de desejo dela.
- Foda-se a sua confusão. Eu preciso disso . Você não faz ideia de quanto tempo estou esperando por isso. - Ela disse, avançando em mim novamente.
Minhas mãos passeavam por suas costas, não demorou muito para eu perceber que ela estava sem sutiã. Minha sanidade foi por água abaixo.
Ela pulou em meu colo, enrolando suas pernas em minha cintura. Segurei-a, enquanto ela puxava meu moletom para cima. Eu estava sem camisa, então ficamos com bastante pele à mostra. Ela seguiu seus lábios para o meu pescoço, enquanto eu passava um braço por baixo da sua bunda e procurava algum lugar para nos encostarmos. Sua língua fria entrou em contato com a minha pele e soltei um gemido enquanto a prensava contra a parede. Uma espécie de aura estava em nosso redor, não era possível ver, mas dava pra sentir o ar no ambiente. Era como se aquilo fosse para acontecer. Parecia certo.
Meus olhos reviravam nas órbitas quando nossas intimidades roçaram.
Deus.
Ela parecia querer arrancar pedaços de mim. Eu já não sabia se seria homem o bastante para aquela mulher. Mas se ela estava ali, era por algum motivo, certo? Puxei seu rosto para mim, e colei nossas bocas novamente, suas mãos voltaram para os meus cabelos, puxando-os com tanta força que provavelmente cairiam tufos.
Separei nossas bocas, e lambi seu queixo, descendo até seu ombro desnudo, onde dei uma mordida aparentemente forte. gemeu. O gemido mais sexy que eu já havia ouvido na vida.
Suas unhas fincaram em minha nuca. Fechei os olhos com força.
- Deus, como eu senti falta disso. - Ela disse, mais para ela do que para mim, arfando com certa dificuldade.

Well criminals and liars, keep him in your cell as a privilege of mine

Eu transei com uma estranha.
Abri os olhos com medo do que poderia ver, e percebi que não tive pesadelos aquela noite.
Minha pele se arrepiou quando senti uma mão gelada encostar em minhas costas. Oh shit.
Ela ainda estava ali. Encarei o chão durante uns minutos antes de virar-me para ela.
Antes que eu pudesse virar, senti ela levantando-se da cama. Olhei-a.
A mulher que ali se encontrava de costas pra mim, apenas de calcinha, amarrou seus cabelos, colocou as roupas rapidamente e seguiu para fora do quarto, respirei fundo tentando controlar meu amigo pênis que só de vê-la de costas já quis acordar com força total.
A noite anterior veio em minha cabeça, seus gemidos, suas unhas me arranhando e seus seios balançando em cada investida que eu dava. Foi o melhor sexo da minha vida.
Sentei-me na cama, massageando minhas têmporas por costume, já que dessa vez eu acordei muito bem. Minhas noites mal dormidas provavelmente eram falta de foda. Ri sozinho ouvindo a porta do quarto se abrir. Não achei que ela voltaria.
- Hey, peguei um café. - Disse, sorrindo completamente sem jeito. Muito diferente da durona que eu estava acostumado a investigar. Diferente também da que me deixou sozinho no almoço ontem.
- Ah, obrigado. - Eu disse, pegando o copo de papel que ela oferecia. Bebi a metade antes mesmo dela começar a falar.
- Eu preciso te dizer algo, mas não pira antes de eu terminar, ok?
- Posso colocar uma roupa antes? - Perguntei, apontando para meu pênis que estava coberto apenas pela manta que usamos para dormir.
Ela riu concordando.
Terminei o café e segui para o banheiro nu sem muita vergonha do meu corpo já que, se ela me atacou ontem, foi por algum motivo.

Encostei-me no beiral da sacada, acendendo um cigarro enquanto ela se apoiava no batente da porta.
- Então... - Falei, com o cigarro na boca. - Você fala e eu não piro, certo?
- Isso. - Ela pigarreou.
E começou:
- É verdade. Tudo que você pesquisou, tudo que a tua intuição te disse que te fez chegar até mim é verdade. Eu sou uma assassina. Eu mato pessoas e venho deixando um rastro por um bom tempo porque achei que talvez assim eu pudesse te encontrar.
Ela faz uma pausa. Não esperando que eu fale algo, apenas para ver a minha reação, e minha reação foi dar uma tragada no cigarro, vendo como aquilo parecia ser uma pegadinha.
- Eu sei que vai parecer loucura. Mas , eu já te conheço. Você é meu. E passei tanto tempo sem te ver dessa vez, sem saber que era você, que estava de todas as maneiras tentando te aproximar de mim. Infelizmente teve que ser dessa maneira. E deu certo, viu?
Meu coração palpitava de maneira estranha e eu já estava começando a pensar em como eu escaparia dali, já que aquela mulher era completamente insana.
- Ainda não ficou bem claro, né? , eu sou uma vampira. Eu mato pessoas para conseguir viver. Eu já tentei viver de sangue animal, mas não funciona como em Crepúsculo, eu preciso de sangue humano. Então eu geralmente mato pessoas ruins, homens que batem em mulheres, estupradores e traficantes, gente desse tipo. E não, se eu ficar sem beber sangue, eu não morro, eu simplesmente fico ensandecida e posso atacar qualquer um a qualquer momento. E não posso me dar ao luxo de fazer isso, porque já te matei uma vez assim. - Sua voz ficou embaçada. - Não posso te perder assim de novo.
Eu não sabia o que pensar. O que filtrar daquela conversa. Até que ponto era verdade? Ela não podia simplesmente ser uma vampira, certo?
Percebi que o cigarro havia acabado, puxei outro do maço segurando-me para não a interromper.
- Você é minha alma gêmea. Demorei décadas para te encontrar, e quando te encontrei você era apenas um garotinho. Isso foi em 1912. Cresci ao seu lado, você se apaixonou por mim. Fomos felizes, até você morrer de velhice. Procurei aquele amor em outras pessoas, e achei que nunca mais iria encontrar. Até que te encontrei de novo. Eu sabia que era você, era diferente. E foi então que percebi que você morria e nascia de novo, reencarnado em outro corpo, mas sempre com o mesmo espírito. Em lugares diferentes, mas nunca fora do país. Creio que assim como não consigo viver longe de ti, você também não consegue e sempre vem de encontro a mim, de uma maneira ou de outra. - Ela suspirou, me olhando nos olhos. - Eu já tinha desistido dessa vez, pensei que você pudesse me achar, ou que eu não estava procurando direito. Então fui deixando pistas, para ver se assim você me achava. Só não achei que seria você. O repórter bonitão e misterioso, você sempre volta com a mesma fisionomia, mas nunca tinha deixado a barba crescer, acho que foi por isso que eu não imaginei que fosse você. Eu precisava me aproximar, mas era muito difícil sendo que você estava achando que eu era uma assassina... Ok, eu sou uma assassina.
Ela esperou, provavelmente achando que eu fosse falar algo.
Eu não sabia o que falar. Muito menos o que pensar...
- Tive que testar antes para saber se era você mesmo. Sabe, eu tenho um dom. Eu consigo fazer qualquer pessoa fazer o que eu mando. Seja o que for. E testei isso com você lá na cafeteria, por isso comecei a rir histericamente. Eu literalmente estava rindo de felicidade. Eu finalmente tinha te encontrado! Você é o único que consegue anular meu dom.
- A Ordem? - Perguntei como se simplesmente soubesse o que era aquilo.
Seus olhos brilharam de esperança, e minha cabeça estava a mil. Como eu sabia daquilo?
- Ok. Supondo que isso seja verdade... Eu não estou apaixonado por você. - Falei com a voz meio falha.
- Foi mais fácil te contar isso das outras vezes porque geralmente você já está apaixonado por mim. Dessa vez fui pega de surpresa. , é verdade. Por favor acredite em mim e me ajude com isso.
- Ajudar com o que?
- Ah vai! Nosso sexo ontem foi maravilhoso. Você sabe que teve uma conexão ali. Que não foi só sexo, certo? - Ela sorriu, mordendo os lábios.
- Então é isso? Tenho que me apaixonar por você porque nosso sexo foi bom?
- Você não sentiu nada diferente? Algo na nossa atmosfera?
Ok, talvez eu tivesse ouvido o coro de anjos quando enfiei meu pau dentro dela, e foi como se a Terra tivesse parado de girar... Mas aquilo ali? Vampiros? Alma gêmea e reencarnação? Só podia ser a maior besteira já inventada.
- Você não acredita, não é? - Ela disse, com seus olhos tristes. - Vou provar.
Ela deu um passo em minha direção, eu não tinha como fugir. Estava encostado na sacada.
- Hey, calma. Não vou te machucar. Só quero te mostrar algo.
Ela pegou seu celular do bolso, clicou em algumas coisas e me entregou.

No celular rodava um vídeo com uma imagem bem precária de câmeras de vídeo dos anos 90, aqueles vídeos caseiros de família feliz.
No vídeo, a câmera focada apenas em , com os cabelos bagunçados sentada em uma cama grande e desarrumada. Ela sorria envergonhada para a câmera.
- Esse negócio do vídeo é para você, não para mim. - Falou ela, esticando os braços, pedindo para segurar a câmera. Ouve aquele barulho da câmera caindo no colchão, e a risada de duas pessoas no fundo.
Aparentemente segurou a câmera, pois a imagem que apareceu depois era eu, rindo feito um bobo, com um par de óculos diferente do que eu usava agora e sem barba. Deus, eu nem me lembrava mais como meu rosto ficava sem barba.
Mas era eu.
Era a minha voz, meu cabelo e minhas sobrancelhas grossas.
- Fala alguma coisa. - Ela disse rindo.
- Eu não sei o que dizer! - Respondeu a minha cópia.
- Bom, fala algo. Algo que só vocês poderiam saber.
- Cara, você tem alergia a amendoim? Eu tenho. - Os dois caíram na gargalhada. Estavam chapados, sem sombra de dúvidas. - Ok, ok, sério agora. Essa mulher que provavelmente está te mostrando esse vídeo é a mulher da sua vida. Ela é perfeita e vai te fazer o cara mais feliz do mundo. E não precisa mentir, você sente um tesão por ela que não consegue explicar. Ela está falando a verdade e a sua vida vai ser completamente infeliz e vazia sem ela. Você vai ter pesadelos todas as noites, com sangue e coisas assustadoras. Você vai acordar todos os dias olhando para o vazio ao lado da sua cama e pensando: Por quê? Por que não tem alguém aqui comigo? E bom, não são as mulheres, você até consegue trazê-las até você, mas nenhuma fica. Pois nenhuma preenche o vazio dentro do seu peito, e esta mulher aí, que está te mostrando este vídeo, ela preenche.
- Isso foi lindo, Jim. - Ela disse, por trás da câmera.
Fechei meus olhos, respirando fundo. Minha vista ficou embaçada.
- Ah, e mais uma coisa: Você tem duas pintinhas no seu... pênis? Que parecem um “ponto e vírgula”? Eu tenho. - Ele disse, e caiu na gargalhada. também caiu na gargalhada e o vídeo acabou.
Eu sou alérgico a amendoim.
Eu tenho as duas pintinhas no meu pênis.
Eu tenho pesadelos todas as noites. EXCETO pela noite em que ela dormiu comigo.
Isso tudo, somado à sensação horripilante de me ver conversando com eu mesmo no futuro.
Meus braços se arrepiaram.
Entreguei o celular a ela.

The blood is on your tongue as well as your hands

Fiquei durante horas olhando para o nada na varanda enquanto aguardava uma resposta minha. E bom, eu não tinha o que responder. Como vou trilhar minha vida em cima de algo que me contaram?
- Você pode ir embora, se quiser... - disse, sua voz não muito longe de mim. - Não precisa construir sua vida ao redor da minha, não é uma regra a ser seguida.
Eu podia sentir a dor em sua voz. Ela não queria que eu fosse.
- Prometo que paro com essa matança explícita. Te deixo em paz.- Continuou.
- Você nunca vai me deixar em paz nos meus sonhos. Eu já sonhava contigo mesmo antes de te ver pela primeira vez. Quando te vi, logo pensei “é a garota dos meus sonhos, literalmente”. - Falei.
Ela sorriu meio sem graça. Colocou uma mecha do cabelo para trás da orelha.
- Não me entenda mal. - Continuei. - Eu acredito em ti. E eu até gosto de ti. Mas isso é demais para digerir em meia manhã.
- Eu entendo perfeitamente. - Ela disse baixinho. - Bom, vou te deixar sozinho, ok? Qualquer coisa me procure.
Ela aproximou-se de mim e beijou minha bochecha antes de ir em direção à porta.
Minha bochecha pareceu formigar onde ela havia tocado e eu sentia um peso indescritível em meus ombros.
Eu finalmente havia “desvendado” todos os mistérios.
A série de assassinatos eram dela, para chamar a minha atenção. Ela só estava “matando” mulheres para que eu não tivesse medo de me envolver. A foto do jornal que eu havia visto ontem provavelmente era ela mesma, fazendo a mesma coisa que estava fazendo agora: chamando a minha atenção.
Ela havia conseguido.
Antes de conhecê-la, ela já vivia rodando em minha mente. Agora que eu havia provado um pouco do que era ficar com ela, tocar a sua pele e sentir o seu gosto... Era difícil não querer ficar ao seu lado. E saber que ela me queria tanto assim também era, pelo menos, tranquilizador.
Fiquei o dia inteiro pensando no que o meu eu do passado tinha falado e acabei tomando uma decisão.

Corri até a porta de meu apartamento, desci as escadas correndo e consegui alcançá-la saindo do prédio.
- A-acho que podemos pelo menos tentar, certo? - Perguntei ofegante, ainda com um cigarro aceso nas mãos. Ela apenas sorriu abertamente, enquanto enxugava as lágrimas de sua bochecha.
- Acho uma ótima ideia. - Disse ela, dando um passo em minha direção.
Seus olhos de felina me comeram inteiro enquanto eu sentia o ar ficar pesado, suas mãos frias encontraram minha pele e a única coisa que passava em minha cabeça era: Como uma mulher como aquela tinha olhos para mim?
Minhas mãos seguiram para sua cintura e nossas respirações se misturaram quando colamos nossas bocas.
Aquilo parecia incrivelmente certo.
Is it the same for you?




FIM



Nota da autora: Olá! Turo bem? Mais um Ficstape meu! E tem mais coisa vindo por aí hahaha Juro que tentei fazer uma atmosfera ~sombria~ mas isso é muito difícil! Espero do fundo do meu coração que tenham gostado e bom, comentem! Obrigadinha <3 Leiam minhas outras fics <3



Outras Fanfics:
Landslide - Paramore, finalizada.
Don't You Worry Child - Bandas, shortfic.
02. Go All The Way - Ficstape Guardians of The Galaxy – Awesome Mix Vol. 1.
Piloto Automático - David Luiz, shortfic.
07. Seaside - Ficstape The Kooks.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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