16. Nobody Compares

Fanfic Finalizada

Capítulo Único

não esperava vê-la no casamento de Khrys. Mas ali estava ela, com aquele vestido azul, certamente britânico, que deixava claro suas curvas. Ela sorria largamente para todos, alheia sobre o olhar incessante do rapaz. Certamente ele era um péssimo irmão, pois no momento em que a viu, desligou-se da voz de sua irmã que insistia em tagarelar sobre seus planos para a lua de mel.
Todos na mesa riam e conversavam alto mas, para , eram apenas ruídos que nem chegavam a tirar seus olhos de . Ele franziu as palpebras, curvando-se para se certificar de que realmente era ela. E ele não podia estar errado, pois não importava o quão longe ela estivesse, ele a reconheceria. Suas entranhas se contorceram com a beleza que predominava naquela mulher, ela continuava tão bela quanto na última vez que ele a viu, mesmo que a lembrança fosse dela chorando. A lembrança que se repetiu constantemente na mente do rapaz no último mês, como uma tortura, o despedaçando aos poucos. E, de certa forma, ela era a culpada pela sua dor. Ele deveria estar com mágoa dela? Se sim, então ele era um tolo pois a única coisa que ele sentia em todo seu corpo era o amor que sentia por aquela mulher, transbordando por seus espaços em branco. Os espaços que ela havia deixado, quando resolveu dar um tempo.
Mesmo reconhecendo-a, não podia acreditar que ela estava, realmente, ali. Ela era uma grande amiga de Khrys, mas ele já havia se conformado com a possibilidade da ausência de , ainda mais depois do que ocorreu. O pensamento dela estar tão perto dele, sorrindo como antes, como se nada tivesse acontecido o fazia querer acreditar que estava bêbado e aquilo era uma miragem de sua mente fértil e nostálgica. Mas seria mais fácil acreditar nisso se ele tivesse bebido algo além da água. Então, pela primeira vez desde que a viu, retomou a consciência. Para sua surpresa, todos na mesa o fitavam como se esperasse que ele dissesse algo, mas não havia nada a ser dito. E, mesmo que houvesse, seria uma tarefa difícil, pois sua garganta estava tão seca que ardia em brasas. Rapidamente, seus dedos correram sobre a mesa e alcançaram uma taça de água, que ele desejou ser whisky. Após beber, a dor em sua garganta diminui significativamente, mas algo em seu peito ainda latejava como uma ferida constante.
Ele notou que teria de dizer algo quando, mesmo após um longo tempo em silêncio, todos ainda o fitavam esperançosos.
- Você não escutou nada, não é? - sua mãe indagou em um tom de repreensão. Desde aquele final de Março, andava sempre com as cabeças nas nuvens e sua mãe sabia que isso não era algo bom, ele parecia tão doente mas sabia que nenhum médico seria capaz de ajudá-lo.
ergueu os ombros, deixando claro como um ato de pedido de desculpas. Sua mãe bufou e estava prestes a iniciar um sermão quando seu pai interrompeu a mulher:
- Sempre soube que você iria para Paris, mas nunca me ocorreu que seria para sua lua de mel - ele confessou para Khrys que sorriu emocionada, abraçando seu, agora, marido.
Dentro de si, agradeceu seu pai por mudar o assunto na mesa e, tão rápido quanto os olhos saíram dele, os seus se voltaram novamente para , ficando subitamente concentrado demais para notar que Khrys ainda o fitava, dessa vez risonha.
Ele observou como sua mão delicada remexia em seu próprio cabelo e na forma como ela sorria nervosa para Meredith, tia de e Khrys. Ele podia facilmente imaginar o porquê do repentino nervosismo de . Meredith, provavelmente, tagarelava sobre sempre ter imaginado que um dia iria ao casamento de ambos e o quão triste ficou quando descobriu que haviam dado um tempo.
O rapaz desejou poder se aproximar, abraçar a cintura de e dar uma desculpa esfarrapada para salvá-la de sua tia. Mas apenas o pensamento de tocá-la lhe parecia errado, embora tentador. Como se soubesse de seu desejo, disse algo a Meredith e se afastou. Uma pequena batalha interna travou-se dentro de . Ele queria segui-la, mas será que era certo? Afinal, foi ela quem bateu a porta por último, ela quem pediu por um tempo. Infelizmente, ela não lhe deu instruções sobre como agir durante esse tempo, uma prova disso era a bagunça que se encontrava sua vida. E o pensamento de que, talvez, esse tempo não fosse mais temporário o impulsionou a segui-la quando ela já estava quase fora de sua vista.
Enquanto atravessava as portas do fundo do salão, atrás de , Khrys os fitava com um sorriso satisfeito no rosto.
caminhava calmamente, inconsciente sobre a presença de , que lutava para respirar a cada passo que dava. Ela entrou no banheiro feminino e, por um momento, o rapaz hesitou. Ele encarou a porta diante de seu rosto e tentou lembrar-se do motivo pelo qual estava ali. Aquilo era patético, pois ele estava disposto a lutar, mas não sabia contra o quê. A verdade era que não fazia ideia do que havia feito de errado. Como poderia concertar algo sem saber o que está quebrado? Cogitou a hipótese de ir embora e fingir que nada tinha acontecido, mas o pensamento de continuar sem ela parecia insuportável.
E foi este sentimento de negação que o impulsionou a abrir a porta. De inÍcio, não notou sua presença, permitindo que o rapaz pudesse desfrutar da maior aproximação que já teve com ela desde que foi embora.
se olhava no espelho, o rosto pálido e a maquiagem levemente borrada pareciam deixá-la frustrada. Ela limpou os borrões e ajustou o cabelo, parecendo querer ocupar sua mente com essas preocupações banais que nunca lhe preocuparam antes. Ela respirou fundo e se apoiou na longa pia, fitando-se no espelho com tanta intensidade quanto a fitava. Apenas quando fechou a porta do banheiro, deu-se conta da presença de uma segunda pessoa e virou-se. A passividade fingida de rapidamente se dissolveu quando seus olhos agitados reconheceram . Então, ambos estavam enfrentando uma situação onde não estavam preparados. Durante o último mês, ensaiou coisas que gostaria de dizer para , e não eram poucas. Mas, naquele momento, não se lembrava de nada além do próprio nome e do quanto ficava encantado com os olhos de .
Após um momento, que pareceu extremamente longo, suspirou e por fim interrompeu o silêncio com a voz trêmula e baixa:
- Você está no banheiro feminino.
- Eu achei que você não viria - ele ignorou o comentário anterior, frustrando-a por não ter se distraído como ela desejava.
A mulher abaixou o olhar, desejando que ele não tivesse seguido-a e entrado no banheiro feminino e, acima de tudo, desejou que ele parasse de encará-la como fazia. O rosto de estava vermelho e a conhecia o suficiente para saber que ela estava desconfortável. Ele nunca imaginou que um dia seria a causa do desconforto dela, parecia um absurdo para ele.
Sabendo que ela não diria nada, continuou:
- Mas você está aqui.
Ela respirou fundo e, então, virou-se para o espelho.
- Você não devia estar aqui.
- É o casamento da minha irmã - replicou, confuso.
- Não, eu digo aqui - ela girou o punho, deixando claro que se referia ao banheiro feminino e isso o deixou envergonhado. Enquanto seu rosto enrubescia, ele se imaginou concordando com a mulher e retirando-se do banheiro, talvez se ele não a olhasse novamente a dor passaria e ele poderia seguir em frente. Mas, em sua consciência, sabia que nada daquilo adiantaria, então prendeu os pés no chão e com um longo suspiro, replicou.
- E não deveríamos estar assim.
demorou um pouco para processar as palavras de e mais um pouco para reagir à elas. Aquele não era o com o qual sabia lidar. O que ela conhecia não era tão direto, não persistia em problemas: pelo contrário, os ignorava. E vê-lo disposto a lavar a roupa suja era assustador e surpreendente ao mesmo tempo. E, embora tenha gostado do ato de coragem de , não pôde ignorar a súbita fraqueza que sentiu diante do assunto.
- , não é um bom momento.
- Então me diga quando é um bom momento - pediu, fazendo-a abaixar o olhar.
- Você não entenderia - suspirou, cortando a linha de pensamento do rapaz e fazendo-o franzir o cenho em confusão, diante da confissão da mulher.
- Me ajude a entender - murmurou, em súplica. Ele estava disposto a abrir mão de suas morais e orgulho apenas para tê-la de volta e nada poderia deixar mais feliz. Mas ainda havia algo de errado, ela estava tão insegura com a ideia de voltar que fazê-lo não parecia justo. Então, como se visse a fraqueza da mulher, se aproximou.
E ela se afastou. Estendeu o braço em direção ao rapaz como se suplicasse para que ele parasse e, contra a própria vontade, ele o fez. Mas sua vontade era de se aproximar, talvez pudesse tocá-la e desejou que, com um abraço, tudo pudesse se resolver.
Mas ela nem ao menos o queria por perto e, ver a rejeição nos olhos de , o despedaçou.
- Eu não entendo - ele murmurou, a voz esganiçada deixando claro a mágoa que se recusava a enxergar.
- Só não deu certo - sussurrou e, em seu interior, pediu que ele não a escutasse. Mas ele o fez e, subitamente, ele ficou nervoso. Sua mandíbula estava tão rígida que ela era capaz de escutar seus dentes rangendo e, quando ele se pronunciou, sua voz fez questão de confirmar o que pensava. Ele estava furioso.
- Como você… - ele se interrompeu em uma lufada de ar e o fitava, surpresa pela sua reação inédita. - Namoramos durante sete anos, morávamos juntos, como pode dizer que não deu certo?
- Há outros fatores, - replicou com firmeza, embora sua maior vontade fosse se sentar e chorar.
- Outros fatores? - ele riu de forma irônica. - Merda, , me faça entender!
- Nosso relacionamento só estava se desgastando, uma hora ou outra isso aconteceria - ela arfou, afastando-se suavemente dele, embora suas palavras demonstrassem dureza.
Desgastado. não compreendia como essa palavra poderia descrever o relacionamento de ambos. Em sua mente, tentou achar os motivos para achar que o namoro deles havia se desgastado mas nada vinha em mente. Em sua mente apenas perambulava lembranças de quando ele a conheceu em uma festa infantil enquanto ela pulava no pula-pula com as crianças, de quando ela se arrumava e insistia em faze-lo na frente dele apenas para que ele opinasse, mas no fim ele lhe tirava a roupa e ambos se atrasavam para onde quer que eles planejavam ir. De como ela sempre o acordava de manhã com beijos, e de sua risada estridente, ou de quando ela o convenceu a levá-la para Paris apenas para reproduzir um legítimo beijo francês. Ele não conseguia aceitar que ela abandonaria tudo isto apenas por achar que o relacionamento de ambos estava desgastado. apertou os lábios, tentando conter os gritos que queriam escapar de sua boca, o que foi inútil.
- Pelo amor de Deus, nós nunca brigamos nesses setes anos!
- Você não consegue ver - ela respirou fundo, tentando recuperar o fôlego. Sentia-se tão cansada, como se estivesse em uma corrida. - Esse é o problema, nós nunca brigamos - choramingou, esperando que ele entendesse. - É um verdadeiro milagre estarmos brigando agora!
Então, fez-se silêncio. O barulho dos pingos da torneira levemente aberta e as respirações entrecortadas do casal eram o único som audível em todo banheiro e quis gritar, talvez isso fosse menos doloroso do que o silêncio de . Mas eles se mantiveram da forma como estavam, esperando que algo pudesse surgir e salvá-los de si mesmos.
foi a primeira a entender que nada, além deles mesmos, poderia salvá-los. Então, como uma última tentativa, tentou faze-lo entender e, por dentro, fez uma prece para que ela conseguisse. Para que ambos conseguissem.
- No começo achei que era a pessoa mais sortuda do mundo por não ter brigas com você, mas com o tempo notei que isso não é uma bênção - murmurou, sentindo-se patética pela própria explicação. - Eu não sei mais quem você é, nem mesmo quem eu sou. Eu só preciso saber o que você pensa, o que sente. Mas sinto que toda vez que estamos perto disso, você recua. Você não fala mais comigo, droga.
abriu a boca, pasmo com as palavras de e, antes que pudesse raciocinar, ela continuou.
- Eu odeio quando você acorda mal humorado porque dormiu muito tarde na noite anterior, odeio quando me enche por meu banho ser muito demorado, odeio quando não me dá um beijo de boa noite e odeio quando arruma desculpas para não ir na casa dos meus pais. Esses são os tipos de coisas que namorados fabem, principalmente quando o namoro já tem tanto tempo. É a sinceridade, mesmo nas críticas, que nos fazem nos conhecer e a falta disso, às vezes, me faz sentir como se fossemos desconhecidos.
-
- Não! - ela o interrompeu, pois sabia que se parasse, por um minuto sequer, não seria mais capaz de falar sobre o que sentia. - Você me prometeu que iria ao aniversário do meu irmão, eu te esperei a noite toda, tive que aturar todas minhas tias perguntando sobre você.
- , eu já pedi desculpas.
- , eu não me importo de você não ter ido pro aniversário dele, de não ter me levado ao restaurante que prometeu ou de não ter comprado os legumes que eu pedi! O que me incomoda é o depois. Quando acho que finalmente vamos ter uma discussão verdadeira, você se cala, transamos e agimos como se nada tivesse acontecido. Isso vai se acumulando e eu não aguento mais carregar isso.
arfava, como se tivesse saído de um briga e ela sentia exatamente isso. Uma briga monóloga com apenas um expectador. E ela estava ali, de frente pra ele. Nua sentimentalmente, frágil. Apenas esperando pela sua palavra que seria capaz de salvá-los ou arruína-los. E, de todas alternativas, a pior foi feita:
- Você tem razão, eu não consigo ver.
se manteve em silêncio mesmo depois de lhe virar as costas e, novamente, sair pela porta. Dessa vez, porém, parecia ser definitivo.


fez um sinal para o barman encher seu copo novamente, enquanto afrouxava levemente sua gravata que parecia lhe sufocar. Ele apertou os olhos, tentando forçar para que sua vista saísse do embaçado, para enxergá-la melhor. Ela estava sozinha em sua própria bolha de luz, balançando levemente os quadris no ritmo da música com um sorriso tímido nos lábios. Desejou ser o motivo de seu sorriso, mas isto era apenas um almejo em vão.
Outra dose desceu rasgando por sua garganta quando Khrys se aproximou com seu lindo vestido de festa, sentando-se ao seu lado. Ele ergueu as sobrancelhas para a irmã, tentando entender o porquê da aproximação ou do sorriso cúmplice que lhe lançava.
- O que foi, pestinha? - indagou, apontando para o próprio copo novamente. O barman fez uma careta e Khrys apenas riu, dando um sinal para que ele cumprisse o desejo de de encher a cara até cair no sono.
- Você está horrível.
- Você sempre foi horrível e eu nunca disse nada.
- Oh - ela fingiu mágoa, fazendo-o rir sem humor. E, quando ele se silenciou, ela prosseguiu com um tom mais sério: - Você precisa resolver essa merda, .
- Como? - o rapaz pediu, olhando-a, pela primeira vez, nos olhos. Embora houvesse um número considerável de pessoas animadas dançando na pista de dança atrás deles, parecia haver uma bolha de infelicidade os cercando e isso fez Khrys suspirar. - Eu já tentei, eu juro. Eu tentei entendê-la, mas não faz sentido, Khrys.
- Não faz sentido ou você não entende o sentido? - a noiva sorriu complacente, fazendo-o bufar.
apertou os olhos, bebendo a nova dose, tentando fingir a inexistência de Khrys, uma tarefa difícil pois ela estava tão iluminada. Por um breve momento, se perguntou o porquê dela estar ali. Era o seu dia, ela estava linda e feliz. Como ela poderia estar gastando seu tempo ao lado de um homem destruído?
Ah sim, ela era sua irmãzinha.
- Jason tem sorte de ter você - confessou, após um longo momento fitando-a. Os olhos esverdeados da noiva se encheram de lágrimas, comprovando-o que ela havia lhe escutado. E, mesmo infeliz, foi impossível conter um sorriso diante do fato. - Você está linda, pestinha. Ele apertou o nariz de Khrys, fazendo-a rir como a criança que para sempre seria. Algumas lágrimas escaparam de seus olhos antes de pedir-lhe:
- Agora vá aproveitar sua festa.
Por um momento, Khrys hesitou. Então ela se levantou, aproximando-se de e o surpreendendo com um abraço apertado.
- A não quer que você brigue com ela, quer que você brigue por ela - Khrys sussurrou, como se soubesse exatamente a pauta da discussão de ambos e as incertezas de e, então, se foi.
Durante os próximo trinta minutos, continuou encarando , tentando entender as palavras de Khrys mas era como juntar um quebra-cabeças onde faltava peças. Ele a amava, sempre foi algo claro para todos. Como poderiam acusá-lo de não ter lutado o bastante?
E, apesar de tudo, ele não conseguia tirar os olhos dela e seguir em frente. Ele simplesmente não conseguia ignorar a beleza naquela mulher, não conseguia ignorar o sentimento que crescia em seu peito ou o vazio que sentia em não vê-la ao seu lado na cama quando se deitava ou quando se levantava. Porque a risada dela fazia falta, os olhos brilhosos eram o brilho de todo seu dia, seu sorriso contagiante e até o sorriso envergonhado diante de estranhos. E agora era um estranho.
estava tão perto e tão bela em seu vestido, ele nunca imaginou que um dia apenas vê-la o doeria tanto, mas ele não podia conter o pensamento de que ela não seria dele esta noite.
Então entendeu.
Quando parou na frente de , a mulher congelou. Ela parecia tão surpresa pela aproximação, sentimento este que sumiu rapidamente de seu rosto quando estendeu a palma da mão para ela, fazendo-a suspirar, demonstrando o cansaço.
- … - ela murmurou, abaixando o olhar e ignorando sua mão. Depois de tudo o que havia sido dito ele ainda agia da mesma forma. Ignorava todos os problemas e os tampava com peneiras.
Ele fez um sinal para que ela se calasse, a surpreendendo de uma forma que ela não soube classificar se como negativa ou positiva e, antes que ela dissesse algo, ele reforçou novamente sua palma da mão. odiava confessar, mas era tão fraca referente a e, apesar de não querer se render novamente aos atalhos do rapaz, não pôde negar. Ela sentia tantas saudades e os últimos dias haviam sido difíceis. Ela não conseguia simplesmente jogar os sete anos fora como se não fossem nada. Então, em sua mente, prometeu ser apenas por uma noite. Mais uma noite de atos e sem conversas, a despedida antes de dizer definitivamente o adeus.
desejou que este pensamento não a doesse tanto quanto doía.
Ela segurou a mão de , que sorriu fraco para a mulher, puxando-a para perto de si. O perfume de o acertou como um soco. Levemente desnorteado, ele a segurou pela cintura e sua mão pequena fez contato com a sua. Ele mal podia acreditar que estava tão próximo, podia até sentir o cheiro do batom que ressalva seus lábios e, por um longo momento, desejou também poder sentir o gosto. Mas ela já havia aceitado a dança, não podia se arriscar.
fechou os olhos e por um tempo apenas aproveitaram da presença um do outro pois estavam crentes de que, talvez, aquela fosse a última dança de ambos. apertou a cintura de sobre esse pensamento obscuro e, então, finalmente quebrou o silêncio que se mantinha na bolha que ambos compartilhavam.
- Eu odeio seu irmão - confessou silenciosamente, fazendo-a saltar em surpresa diante de seu hálito quente contra sua pele e pela confissão, não pelo o que foi dito durante ela mas por estar confessando algo, em alto e bom som. - Por isto não fui ao aniversário dele, por isso invento desculpas para não ir à casa de seus pais.
Ela afastou-se levemente para fitar-lhe melhor, procurando um motivo para o que foi dito. Procurando por uma resposta que pudesse ser dita, mas nada saia de seus lábios entre abertos.
- Odeio quando você calça saltos muito altos porque no final do dia sei que você vai reclamar de dor - alcançou novamente as mãos de , puxando-a delicadamente para mais perto e voltando a envolvê-la em um ritmo musical calmo. Ela o seguiu, embora ainda pasma e confusa, pois confiava nele.
- Odeio quando você cozinha, você sempre queima as coisas - ele riu levemente contra seu ouvido, fazendo-a tremer em seus braços. - Odeio quando fica acordada até tarde apenas me esperando. Quando não atende minhas ligações ou quando reclama por eu não ter comprado as verduras mais bonitas e de como fica com raiva por eu não saber até hoje o que isso significa. Odeio quando me dá apenas um beijo de despedida e de como me afasta quando está ocupada, odeio mais ainda o fato de não conseguir afastá-la quando eu estou ocupado. Odeio você ter me deixado e odeio o motivo por você ter feito isso.
se afastou calmamente, apenas o suficiente para poder segurar o rosto de . Sua pele macia parecia seda contra seus dedos, fazendo-o acariciá-la inconscientemente. fechou os olhos diante do contato, a permissão dada para que algumas lágrimas caíssem.
- Não importa quantas coisas eu cite, não importa o quão longa seja a lista de coisas que eu odeio... Porque no final do dia, eu ainda vou te amar mais do que tudo no mundo.
abriu os olhos subitamente, seus olhos estreitos deixando claro sua surpresa quanto às palavras de , que ainda a segurava firmemente. Em volta, poucos casais ainda dançavam. Todos mantinham, discretamente, os olhares sobre o casal, ansiosos para saber o que aconteceria, como se fosse uma novela. Mas e estavam alheios aos olhares, aos cochichos e a música que diminuía gradativamente. Eram apenas os dois ali, sozinhos em um salão cheio.
As mãos de desceram suavemente pela pele de , fazendo-a prender a respiração inconscientemente, percebendo apenas quando suas mãos já lhe seguravam a cintura firmemente. Ele empurrou levemente o corpo contra o dela, iniciando novamente uma dança calma. E, embora todo aquele tecido o separassem, eles conseguiam se sentir. A pele febril, os pêlos levemente eriçados, os músculos trêmulos e o coração. Ah, aquele órgão que nunca fora capaz de mentir demonstrava toda a saudade que sentiam um do outro e o quanto estavam alegres pelo pequeno contato que compartilhavam. Cada batida rápida e forte de parecia gritar o nome de e ele soube que poderia ficar ali para o resto de sua vida, sentindo as batidas do coração de retumbar pelo seu corpo.
- Je te aime - ele murmurou, fazendo-a sentir o hálito quente e doce do rapaz contra seus lábios. Ambos de olhos fechados e testas próximas, não poderiam estar a ver melhor. - Jeg elsker dig, Wo ai ni, S'ayapo…
- O que você… - o interrompeu, sua voz tremendo, levemente risonha. - O que está fazendo?
- Estou dizendo que eu amo você e se você ainda não entendeu isso, conheço mais 36 línguas.
não respondeu e nem ao menos piscou, ela apenas o fitou, incrédula. Paciente, ele suspirou e continuou:
- Toi yeu em…
- Oh, pelo amor de Deus, cale a boca - ela riu, segurando firmemente o rosto do rapaz antes de beijá-lo, silenciando-o.
Os dedos do rapaz mergulharam nos fios de cabelo de , puxando-a gentilmente para mais perto. Seus lábios moldando os delas, sentindo sua maciez e seu calor. Ambos ficaram tão submersos naquele contato que até mesmo a salva de palmas e assovios passaram despercebidos e apenas o ar teve autoridade o suficiente para separá-los, mesmo contra a vontade deles.
uniu sua testa contra a de , sentindo a respiração apressada da mulher chocar contra sua pele, dando-lhe o sentimento de realidade que ele necessitava. Finalmente, perceberam o alvoroço que causaram e, embora envergonhados, o torpor predominava. E eles ficaram, o que pareceu um longo tempo, ali. Porque no fundo, ambos não davam a miníma para o que acontecia com o resto do mundo, eles compartilhavam de um mundinho apenas deles.
- Nós também te amamos - murmurou, refletindo o sorriso débil nos lábios de , que curvou as sobrancelhas em confusão.
- Nós?
puxou levemente a mão do rapaz, repousando-a sobre sua barriga e lhe presenteando com um sorriso largo e emocionado. hesitou e, então, arfou ruidosamente. não temeu pela reação do namorado, agora sabia que o conhecia o suficiente para não temer. E, como se para lhe dar certeza concreta sobre isso, não poderia ter a melhor reação. Ele riu, as lágrimas deixando-lhe com os olhos brilhosos e atentos sobre a mulher. Sua mão afagou a barriga e ele quase pôde sentir um chute, embora soubesse que era algo de sua mente ansiosa. Ele a beijou, forte e ao mesmo tempo com paixão, de uma forma que achou que nunca tinha a beijado antes. Ao se afastar, não conseguiu conter a empolgação em levantá-la, apertando-a fortemente em seus braços. A mulher ria e gritava para que ele a soltasse, protestos estes que rapidamente os fizeram ficar cercados de pessoas confusas e curiosas.
A primeira pessoa que viu, ao soltar , foi sua mãe. As sobrancelhas franzidas e o ar preocupado completavam o rosto levemente enrugado da mulher. Ela já havia passado por tanta coisa, criar e Khrys sozinha não foi uma tarefa fácil e continuava não sendo. E eles eram eternamente gratos à ela pelo esforço.
O rapaz se aproximou de sua mãe, o mais tranquilo que pudesse, segurou-lhe as mãos e, ainda emocionado, olhou nos olhos profundos de sua mãe e anunciou:
- Mãe, você será vovó!
Então, tão rápido quanto uma avalanche, a carranca de preocupação sumiu do rosto da mulher, dando lugar a felicidade e afeto. Ela olhou para e então soltou um barulho que pareceu ser uma risada com uma comemoração. A mulher os abraçou e, mesmo estando em silêncio, sabia que ela os dava as bençãos.
Após muitos abraços e parabenizações, Khrys tomou coragem e se aproximou, mais alegre que o normal.
- Tia, huh? - ela debochou para , abraçando logo em seguida , que ria. - Parabéns à nova mamãe, que terá de aturar duas crianças agora.
- Uma tia já com idade para ser avó - retrucou, não tirando as mãos de por um segundo sequer.
- Uma avó que ganhará 50 pratas! - comemorou, ignorando os pedidos de silêncio que o irmão fazia mimicamente.
olhou ameaçadoramente para e ele soube, já era tarde demais. Khrys provavelmente sentiu o mesmo pois rapidamente se afastou, usando como desculpa o buquê que estava iria jogar, mas sabia que era uma desculpa esfarrapada uma vez que, ao sair, a irmã mostrou-lhe a língua. Em sua mente, ele apenas pensava no quão estava ferrado.
- 50 pratas, huh? - cruzou os braços, um pequeno ato que, surpreendentemente, a deixava mais intimidante.
- É, eu estou devendo e…
- - advertiu, parecendo abruptamente decepcionada pela falta de sinceridade. suspirou.
- Fizemos uma aposta sobre quem teria um filho primeiro - o rapaz pareceu envergonhado ao confessar e, subitamente nervoso ao ver o rosto sem expressão de . - Foi uma aposta boba, eu sei, é só que ela estava se casando, eu achei que ganharia.
- Então apostou contra o nosso futuro casamento? Por apenas 50 pratas?
prendeu a respiração, não contendo o desespero em se explicar. - Não, amor, eu só…
A gargalhada de o interrompeu, fazendo-o suspirar aliviado ao notar a diversão que a mulher sentia ao zombar da cara dele.
- Estou brincando, seu tolo - ela bateu levemente em seu ombro, beijando-o logo em seguida.
Durante um longo tempo eles trocaram algumas carícias, às vezes outras confissões aleatórias e planos sobre o que fariam até que foram interrompidos pelo anunciamento de que a noiva jogaria o buquê. Rapidamente todas as mulheres se levantaram, afobadas. Com exceção de que apenas observou a cena, gargalhando contra o paletó de .
- Você deveria ir - ele murmurou contra os cabelos da mulher, risonho.
Rapidamente ela ergueu o olhar, as sobrancelhas erguidas e um sorriso debochado iluminava seu rosto.
- Isso é uma proposta?
não pôde conter a surpresa diante da pergunta. Se era uma proposta? Nem mesmo ele sabia. Mas eles já haviam passado por tantas coisas, sete anos era uma eternidade e, ao se lembrar de como havia sido seus últimos dias sem ao seu lado ele teve certeza de que queria mais eternidades como aquelas. Com um pequeno adejetivo que estava por vir, sua vida não poderia ser mais perfeita.
- Se você conseguir pegar o buquê… - desafiou com um falso desdém.
- Veja só - ela disse confiante, dando-lhe um leve beijo antes de correr para o meio da mulherada que gritava para Khrys se apressar.
O que ela não sabia é que ele a pediria mesmo se ela não pegasse o buquê.
Mas ela não precisava saber, afinal, ela conseguiu pegar.




Fim



Nota da autora: E aqui estoy, em mais um ficstape! Pelo visto vocês não se livrarão de mim tão fácil assim! HUAHAUAHAUHAUAHUA Confesso que peguei gosto pela coisa, prova disto é que neste exato momento estou escrevendo essa n/a enquanto escrevo outra short fic. QUE DEUS ME AJUDE!
Espero que gostem dessa fanfic que fiz com carinho tanto quanto sei que gostarão das outras fanfics desse ficstape maravilhoso <3
Um beijo e um queijo!





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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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