Capítulo Único
O brilho da lua era refletido na imensidão anil, a brisa fresca do mar acalentava meu tortuoso coração. Fazia exatos onze meses que haviam tirado ela de mim. Era incrível como a vida lhe prega peças; em um momento você possui tudo o que havia desejado durantes décadas, mas basta um segundo para perdê-lo.
, filha de e ; em tese deveria me odiar assim que pousasse seus olhos sobre minha figura, mas, ao contrário do que esperava, ela se afastou e fugiu. A fera em mim fora atraída pela fragilidade dela, a sagacidade em seu olhar era idêntica aos seus antepassados, mas em suas adoráveis íris havia a mais pura compaixão.
Me odiava em ter que cumprir perfeitamente a promessa, a qual fora realizada no dia em que tive minha liberdade estabelecida. Era demais ter as duas coisas? Estava sozinho no mundo, era o último da espécie . E talvez o último lobo, quem sabia? Eu não! Minha vida inteira havia passado naquele vilarejo esquecido pelo mundo, isolado de qualquer pessoa. Não era uma vida, sequer comparava-se a uma! Respirei fundo, deixando o odor da maresia envolver-me; em décadas esta era a primeira vez que eu saía do vilarejo e via o mar.
O cheiro era agradável e extremamente reconfortante e após observar o mar por dias, eu havia concluído que ele me lembrava . Ela era como o mar, algumas vezes calma e em outras, furiosa. Sua personalidade doce e geniosa era o que me deixava extremamente encantado. Ela não havia hesitado nem um só segundo em me defender de seu pai, meu carrasco particular.
Atualmente eu havia desenvolvido a habilidade de tocar instrumentos musicais, através deles podia expressar o que havia reprimido por tantos anos... era como poder respirar novamente. O fardo não estava mais em meus ombros, porém haviam as saudosas lembranças do que havia vivido ao lado de meu pai e de . Minha mãe havia morrido para me salvar e meu pai sempre me falava sobre ela. A única vez que pude falar com ela fora quando me protegeu de .
Após ver o sol despontar no horizonte, me levantei dali com as emoções novamente encobertas.
— Estou preso nesse inverno rigoroso sem você Jass.
Sussurrei as palavras desejando alcançá-la, onde quer que fosse o lugar em que ela estivesse.
.❤🐺❤.
— Indicador, médio, indicador. — Instruí a criança sentada a minha frente. Ela tentava reproduzir meus movimentos, porém os executava com certa dificuldade.
— Por que isso tem que ser tão difícil? — Ela resmungou deixando o violão de lado, emburrada. Coloquei o meu violão de lado e me ajoelhei em frente a ela.
— As melhores coisas da vida são. Conquistar é sempre mais divertido do que ter algo fácil, mocinha. — Belisquei a pontinha do nariz dela, lhe oferecendo um sorriso encorajador.
— Martim, você tem um momento? — Liana, a dona da loja, apareceu com um semblante neutro em sua face.
— Já volto, pequena, enquanto isso treine mais um pouco o que te ensinei. — Pisquei para ela antes de seguir Liana até seu escritório.
— Tá bom! — Ela respondeu-me contrariada, pegando novamente o violão.
O trajeto até seu escritório fora extremamente rápido. Liana parecia aérea, preocupada e quando ela abriu a porta de sua sala entendi o motivo. me aguardava, trajava vestes formais e seu semblante exibia a frieza costumeira de sua família.
— . — Cuspi as palavras com escárnio.
— . — Ele me respondeu no mesmo tom.
— Vejo que já se conhecem. — Liana comentou tentando quebrar a tensão na sala.
— Quem não me conhece hoje em dia minha cara. — ofereceu um sorriso galanteador a Liana que enrubesceu diante o olhar de .
— Mande lembranças a Jass, . — O provoquei, vendo sua expressão passar de galanteadora para raivosa em segundos.
— Fique longe da minha família, . — respondeu-me em um tom perigoso.
— O que há entre vocês? — Liana questionou, nos lembrando de sua presença.
— Longa história, chefe. — A respondi de modo educado.
— Vejo que aprendeu bons modos. — comentou com um ar de superioridade.
— Agradeça sua filha por isso. — Rebati seu comentário tocando em seu ponto fraco.
— Ainda está respirando graças a ela. Lembre-se bem disso. — me respondeu de modo calmo, porém deixando subentendido o que queria dizer.
— Vamos focar no que eu queria lhe dizer. — Liana se pronunciou antes que eu rebatesse a fala de .
— Exatamente, vamos ao assunto principal. — concordou de modo desinteressado.
— Infelizmente, você vai ter que parar de dar aulas . — Liana iniciou a sua fala me olhando com tristeza presente em seus olhos. — Recentemente o Claymor Violinz foi adquirido pelo homem à sua direita. — Liana indicou , que me observava com atenção.
— Seu medo que eu me aproxime novamente de é maior do que sua honra. — Lancei um olhar furioso em direção ao homem que eu detestava antes de prosseguir. — A qual não vale nada, pelo que vejo. — Completei vendo a máscara fria de ruir.
— Você não chega a ser nada diante de mim, criatura medíocre. — se aproximou tempestivamente.
— Vai mesmo querer arruinar a sua fama de bom moço aqui? — Indiquei Liana que nos observava confusa.
— Desta vez, e somente desta vez, o deixarei ir. — se afastou, saindo da sala em seguida.
— Espero que saiba onde se meteu, garoto. — Liana falou em um tom de voz gentil.
— Acredite em mim, Liana, sei perfeitamente bem que ele não pode me tocar a menos que eu quebre o acordo. — Após dizer isso, lhe dei as costas e segui em direção à sala em que havia deixado minha adorável aluna.
A garotinha de cinco anos ainda tentava executar a sequência de notas que havia lhe ensinado; seu afinco era encantador. Eu sentiria falta de meus alunos, no entanto deveria encontrar outro emprego o mais rápido possível. Corrigi o modo como ela segurava o instrumento e a fiz segurar com mais firmeza, conseguindo assim reproduzir as notas perfeitamente.
— Você é o melhor professor do mundo, Martim! — Ela gritou animada e feliz.
— Lembre sempre de segurar corretamente o instrumento, Sammy. — Pisquei um olho brincalhão antes de me ajoelhar diante dela. — Eu não vou ser mais seu professor. Aconteceram umas coisas de adulto e é por isso que não posso ser seu professor mais.
— Mas eu queria que você continuasse me ensinando. — Sammy me respondeu insatisfeita.
— Não posso, querida, mas sei que vai adorar o próximo! — A encorajei a ser otimista.
— Você é meu professor preferido. — Ela respondeu brava.
— E você é minha aluna favorita. — Beijei o topo de seus cabelos de modo carinhoso antes de me despedir dela.
Pacientemente consegui convencê-la de que encontraria um professor, ou professora, melhor do que eu e poderia até se tornar cantora como desejava. Ao chegar em minha casa, que era a estrutura de uma fábrica abandonada que eu havia reformado, deixei o lobo vir à superfície e destruir o que havia do lado de fora: árvores, animais etc. Longas horas depois, voltei à minha forma humana e notei que a bagunça havia sido grande. Respirei fundo e então comecei a reorganizar tudo.
Ao fim de três dias, eu havia conseguido um emprego em um bar de música ao vivo. Inicialmente eu teria apenas que tocar; pois eles já tinham uma cantora. Não vi problema algum. Ocuparia minha mente durante a noite, o que por si só era um conforto; enquanto trabalhasse, não pensaria em mais nada.
.❤🐺❤.
A noite fresca atraiu um público maior do que esperado para o bar. Enquanto tomava minha bebida, observava o movimento do bar; era como um ritual antes de subir no palco. Em poucas semanas passei de parte da banda a cantor também. De alguma forma, havia criado um vínculo com a música – talvez fosse os sentimentos em relação a ; o que quer que fosse havia me levado a cantar minhas próprias composições.
Dessa forma, sentia que podia alcançá-la embora soubesse que fosse impossível. Para isso acontecer teria de lembrar o que havia acontecido. Eu a perdera de modo completo. Ela sequer lembrava-se de quem eu era e o que significava para a família dela, enquanto eu tinha tudo vívido em minha mente.
Terminei meu wisky exatamente no momento em que senti o perfume. Aquele perfume reconheceria a quilômetros! Fechei os olhos por breves segundos tentando encontrar a voz dela. Mas não encontrei nada; no entanto isso não me desanimou. Vasculhei o bar atrás dela e então a encontrei; canto esquerdo, próxima ao palco. Apenas vê-la havia me deixado extasiado. Seu sorriso era a minha parte favorita dela, e ela o exibia sem qualquer restrição.
Suas vestes eram descontraídas e estavam de acordo com o local. A lembrança que eu tinha dela não fazia jus ao que era admirá-la ao vivo.
— Martim, cinco minutos. — Denis, o dono do bar, surgiu me lembrando o porquê de estar ali.
— Já estou indo. — Maneie a cabeça antes de me voltar para Cami, a bartender. — Peça para Molly entregar um drink àquela mulher. — Indiquei .
— A noite mal começou e você já está em seu modo Don Juan. — Cami piscou um olho, se divertindo com minha expressão de desgosto.
— Ela é diferente, Cami, de um modo que você não faz ideia. — Me levantei do lugar que ocupava, checando minhas vestes em seguida.
— O que eu faço para ela beber? — Cami elevou a voz assim que comecei a me afastar.
— Você é a bartender, deve saber melhor do que eu o que as mulheres gostam de beber. — Pisquei para ela antes de seguir até o palco, subindo pelo lado oposto em que se encontrava.
Me sentei sobre o banquinho em frente ao microfone e então sorri para o público. O bar estava lotado e a única pessoa em quem eu conseguia prestar atenção era . O mundo não existia enquanto seus olhos estavam pousados sobre mim. A falta de reconhecimento pouco me afetou em vista ao sorriso que ela me deu após receber o drink que eu havia lhe pago.
Cumprimentei o público e dedilhei algumas notas no violão para chegar à afinação. Feito isso, iniciei a canção feita especialmente para ela. Meus olhos permaneciam fixos nos dela enquanto cantava trecho por trecho.
Sei que quando canto você pode me escutar
Com esperança me sinto vivo
A bola é pra frente, o pensamento é positivo
O tempo vai nos dizer quem é quem
E é assim que a gente vai levando
Caindo, mas sempre levantando
O destino me trouxe até aqui
Chorando, mas sempre melhorando
Buscando, e sempre encontrando
Nem tudo na vida tem um porque
E concluindo que a vida é uma graça
E que nessa vida sempre tudo passa
E o que sinto vai além das palavras
A vida nos leva onde temos que ir
Quando finalizei a canção e ouvi palmas, mas minha atenção era toda de . Seus olhos haviam se fechado em determinados trechos da música, como se absorvesse a canção. Aquelas lumes encontravam-se marejadas, mas ainda assim não havia nenhuma familiaridade em seu olhar.
Continuei a cantar, uma faixa atrás da outra. Cada uma delas dirigidas à garota que havia conquistado o lobo. Meus olhos raramente deixavam os dela; agora que a havia encontrado novamente, não poderia deixá-la sair facilmente da minha vida.
Após terminar todas as canções, me despedi do público e me dirigi ao meu lugar no bar, eu precisava ingerir algo. Estava sobre o acordo imposto por e minha mãe, então não havia muita coisa que poderia fazer caso não viesse até mim; estava sob a minha palavra e como tal não poderia quebrá-la, sem que minha vida sofresse com isso.
Ouvi com perfeição o exato momento em que ela decidiu vir até mim. Sua respiração encontrava-se normalizada e seus batimentos acelerados. Permaneci com os olhos fixos nas garrafas de bebidas expostas atrás de Cami, enquanto tomava tranquilamente minha cerveja. Duvidava que meu perfil revelasse a ânsia de vê-la.
— Minhas amigas acham que você me conhece. — se pronunciou. Ela estava ao meu lado. Seus olhos mantinham-se firmes em minha face e os meus imitavam os dela.
— Talvez a vida seja repleta de encontros e desencontros. — Lhe ofereci um sorriso verdadeiro.
— . — Ela falou antes de pedir algo para beber.
— . — A respondi pedindo outra longneck.
— A propósito, obrigada pela bebida. — Ela se virou de forma que eu pudesse admirá-la de frente. — Mas não curto bebidas doces. — Ela completou desdenhando da bebida que havia lhe enviado.
— Permita-me então compensar o erro. — Me ofereci tirando um sorriso discreto dela.
— Esse é o seu plano? — arqueou as sobrancelhas, me instigando a cair em sua provocação.
— Não planejo nada, deixo a vida definir o curso que deseja tomar. — Dei de ombros.
— Adoraria descobrir o que a vida nos preparou hoje. — sorriu antes de tomar um gole de sua bebida.
— Eu também.
, filha de e ; em tese deveria me odiar assim que pousasse seus olhos sobre minha figura, mas, ao contrário do que esperava, ela se afastou e fugiu. A fera em mim fora atraída pela fragilidade dela, a sagacidade em seu olhar era idêntica aos seus antepassados, mas em suas adoráveis íris havia a mais pura compaixão.
Me odiava em ter que cumprir perfeitamente a promessa, a qual fora realizada no dia em que tive minha liberdade estabelecida. Era demais ter as duas coisas? Estava sozinho no mundo, era o último da espécie . E talvez o último lobo, quem sabia? Eu não! Minha vida inteira havia passado naquele vilarejo esquecido pelo mundo, isolado de qualquer pessoa. Não era uma vida, sequer comparava-se a uma! Respirei fundo, deixando o odor da maresia envolver-me; em décadas esta era a primeira vez que eu saía do vilarejo e via o mar.
O cheiro era agradável e extremamente reconfortante e após observar o mar por dias, eu havia concluído que ele me lembrava . Ela era como o mar, algumas vezes calma e em outras, furiosa. Sua personalidade doce e geniosa era o que me deixava extremamente encantado. Ela não havia hesitado nem um só segundo em me defender de seu pai, meu carrasco particular.
Atualmente eu havia desenvolvido a habilidade de tocar instrumentos musicais, através deles podia expressar o que havia reprimido por tantos anos... era como poder respirar novamente. O fardo não estava mais em meus ombros, porém haviam as saudosas lembranças do que havia vivido ao lado de meu pai e de . Minha mãe havia morrido para me salvar e meu pai sempre me falava sobre ela. A única vez que pude falar com ela fora quando me protegeu de .
Após ver o sol despontar no horizonte, me levantei dali com as emoções novamente encobertas.
— Estou preso nesse inverno rigoroso sem você Jass.
Sussurrei as palavras desejando alcançá-la, onde quer que fosse o lugar em que ela estivesse.
— Indicador, médio, indicador. — Instruí a criança sentada a minha frente. Ela tentava reproduzir meus movimentos, porém os executava com certa dificuldade.
— Por que isso tem que ser tão difícil? — Ela resmungou deixando o violão de lado, emburrada. Coloquei o meu violão de lado e me ajoelhei em frente a ela.
— As melhores coisas da vida são. Conquistar é sempre mais divertido do que ter algo fácil, mocinha. — Belisquei a pontinha do nariz dela, lhe oferecendo um sorriso encorajador.
— Martim, você tem um momento? — Liana, a dona da loja, apareceu com um semblante neutro em sua face.
— Já volto, pequena, enquanto isso treine mais um pouco o que te ensinei. — Pisquei para ela antes de seguir Liana até seu escritório.
— Tá bom! — Ela respondeu-me contrariada, pegando novamente o violão.
O trajeto até seu escritório fora extremamente rápido. Liana parecia aérea, preocupada e quando ela abriu a porta de sua sala entendi o motivo. me aguardava, trajava vestes formais e seu semblante exibia a frieza costumeira de sua família.
— . — Cuspi as palavras com escárnio.
— . — Ele me respondeu no mesmo tom.
— Vejo que já se conhecem. — Liana comentou tentando quebrar a tensão na sala.
— Quem não me conhece hoje em dia minha cara. — ofereceu um sorriso galanteador a Liana que enrubesceu diante o olhar de .
— Mande lembranças a Jass, . — O provoquei, vendo sua expressão passar de galanteadora para raivosa em segundos.
— Fique longe da minha família, . — respondeu-me em um tom perigoso.
— O que há entre vocês? — Liana questionou, nos lembrando de sua presença.
— Longa história, chefe. — A respondi de modo educado.
— Vejo que aprendeu bons modos. — comentou com um ar de superioridade.
— Agradeça sua filha por isso. — Rebati seu comentário tocando em seu ponto fraco.
— Ainda está respirando graças a ela. Lembre-se bem disso. — me respondeu de modo calmo, porém deixando subentendido o que queria dizer.
— Vamos focar no que eu queria lhe dizer. — Liana se pronunciou antes que eu rebatesse a fala de .
— Exatamente, vamos ao assunto principal. — concordou de modo desinteressado.
— Infelizmente, você vai ter que parar de dar aulas . — Liana iniciou a sua fala me olhando com tristeza presente em seus olhos. — Recentemente o Claymor Violinz foi adquirido pelo homem à sua direita. — Liana indicou , que me observava com atenção.
— Seu medo que eu me aproxime novamente de é maior do que sua honra. — Lancei um olhar furioso em direção ao homem que eu detestava antes de prosseguir. — A qual não vale nada, pelo que vejo. — Completei vendo a máscara fria de ruir.
— Você não chega a ser nada diante de mim, criatura medíocre. — se aproximou tempestivamente.
— Vai mesmo querer arruinar a sua fama de bom moço aqui? — Indiquei Liana que nos observava confusa.
— Desta vez, e somente desta vez, o deixarei ir. — se afastou, saindo da sala em seguida.
— Espero que saiba onde se meteu, garoto. — Liana falou em um tom de voz gentil.
— Acredite em mim, Liana, sei perfeitamente bem que ele não pode me tocar a menos que eu quebre o acordo. — Após dizer isso, lhe dei as costas e segui em direção à sala em que havia deixado minha adorável aluna.
A garotinha de cinco anos ainda tentava executar a sequência de notas que havia lhe ensinado; seu afinco era encantador. Eu sentiria falta de meus alunos, no entanto deveria encontrar outro emprego o mais rápido possível. Corrigi o modo como ela segurava o instrumento e a fiz segurar com mais firmeza, conseguindo assim reproduzir as notas perfeitamente.
— Você é o melhor professor do mundo, Martim! — Ela gritou animada e feliz.
— Lembre sempre de segurar corretamente o instrumento, Sammy. — Pisquei um olho brincalhão antes de me ajoelhar diante dela. — Eu não vou ser mais seu professor. Aconteceram umas coisas de adulto e é por isso que não posso ser seu professor mais.
— Mas eu queria que você continuasse me ensinando. — Sammy me respondeu insatisfeita.
— Não posso, querida, mas sei que vai adorar o próximo! — A encorajei a ser otimista.
— Você é meu professor preferido. — Ela respondeu brava.
— E você é minha aluna favorita. — Beijei o topo de seus cabelos de modo carinhoso antes de me despedir dela.
Pacientemente consegui convencê-la de que encontraria um professor, ou professora, melhor do que eu e poderia até se tornar cantora como desejava. Ao chegar em minha casa, que era a estrutura de uma fábrica abandonada que eu havia reformado, deixei o lobo vir à superfície e destruir o que havia do lado de fora: árvores, animais etc. Longas horas depois, voltei à minha forma humana e notei que a bagunça havia sido grande. Respirei fundo e então comecei a reorganizar tudo.
Ao fim de três dias, eu havia conseguido um emprego em um bar de música ao vivo. Inicialmente eu teria apenas que tocar; pois eles já tinham uma cantora. Não vi problema algum. Ocuparia minha mente durante a noite, o que por si só era um conforto; enquanto trabalhasse, não pensaria em mais nada.
A noite fresca atraiu um público maior do que esperado para o bar. Enquanto tomava minha bebida, observava o movimento do bar; era como um ritual antes de subir no palco. Em poucas semanas passei de parte da banda a cantor também. De alguma forma, havia criado um vínculo com a música – talvez fosse os sentimentos em relação a ; o que quer que fosse havia me levado a cantar minhas próprias composições.
Dessa forma, sentia que podia alcançá-la embora soubesse que fosse impossível. Para isso acontecer teria de lembrar o que havia acontecido. Eu a perdera de modo completo. Ela sequer lembrava-se de quem eu era e o que significava para a família dela, enquanto eu tinha tudo vívido em minha mente.
Terminei meu wisky exatamente no momento em que senti o perfume. Aquele perfume reconheceria a quilômetros! Fechei os olhos por breves segundos tentando encontrar a voz dela. Mas não encontrei nada; no entanto isso não me desanimou. Vasculhei o bar atrás dela e então a encontrei; canto esquerdo, próxima ao palco. Apenas vê-la havia me deixado extasiado. Seu sorriso era a minha parte favorita dela, e ela o exibia sem qualquer restrição.
Suas vestes eram descontraídas e estavam de acordo com o local. A lembrança que eu tinha dela não fazia jus ao que era admirá-la ao vivo.
— Martim, cinco minutos. — Denis, o dono do bar, surgiu me lembrando o porquê de estar ali.
— Já estou indo. — Maneie a cabeça antes de me voltar para Cami, a bartender. — Peça para Molly entregar um drink àquela mulher. — Indiquei .
— A noite mal começou e você já está em seu modo Don Juan. — Cami piscou um olho, se divertindo com minha expressão de desgosto.
— Ela é diferente, Cami, de um modo que você não faz ideia. — Me levantei do lugar que ocupava, checando minhas vestes em seguida.
— O que eu faço para ela beber? — Cami elevou a voz assim que comecei a me afastar.
— Você é a bartender, deve saber melhor do que eu o que as mulheres gostam de beber. — Pisquei para ela antes de seguir até o palco, subindo pelo lado oposto em que se encontrava.
Me sentei sobre o banquinho em frente ao microfone e então sorri para o público. O bar estava lotado e a única pessoa em quem eu conseguia prestar atenção era . O mundo não existia enquanto seus olhos estavam pousados sobre mim. A falta de reconhecimento pouco me afetou em vista ao sorriso que ela me deu após receber o drink que eu havia lhe pago.
Cumprimentei o público e dedilhei algumas notas no violão para chegar à afinação. Feito isso, iniciei a canção feita especialmente para ela. Meus olhos permaneciam fixos nos dela enquanto cantava trecho por trecho.
Com esperança me sinto vivo
A bola é pra frente, o pensamento é positivo
O tempo vai nos dizer quem é quem
E é assim que a gente vai levando
Caindo, mas sempre levantando
O destino me trouxe até aqui
Chorando, mas sempre melhorando
Buscando, e sempre encontrando
Nem tudo na vida tem um porque
E concluindo que a vida é uma graça
E que nessa vida sempre tudo passa
E o que sinto vai além das palavras
A vida nos leva onde temos que ir
Quando finalizei a canção e ouvi palmas, mas minha atenção era toda de . Seus olhos haviam se fechado em determinados trechos da música, como se absorvesse a canção. Aquelas lumes encontravam-se marejadas, mas ainda assim não havia nenhuma familiaridade em seu olhar.
Continuei a cantar, uma faixa atrás da outra. Cada uma delas dirigidas à garota que havia conquistado o lobo. Meus olhos raramente deixavam os dela; agora que a havia encontrado novamente, não poderia deixá-la sair facilmente da minha vida.
Após terminar todas as canções, me despedi do público e me dirigi ao meu lugar no bar, eu precisava ingerir algo. Estava sobre o acordo imposto por e minha mãe, então não havia muita coisa que poderia fazer caso não viesse até mim; estava sob a minha palavra e como tal não poderia quebrá-la, sem que minha vida sofresse com isso.
Ouvi com perfeição o exato momento em que ela decidiu vir até mim. Sua respiração encontrava-se normalizada e seus batimentos acelerados. Permaneci com os olhos fixos nas garrafas de bebidas expostas atrás de Cami, enquanto tomava tranquilamente minha cerveja. Duvidava que meu perfil revelasse a ânsia de vê-la.
— Minhas amigas acham que você me conhece. — se pronunciou. Ela estava ao meu lado. Seus olhos mantinham-se firmes em minha face e os meus imitavam os dela.
— Talvez a vida seja repleta de encontros e desencontros. — Lhe ofereci um sorriso verdadeiro.
— . — Ela falou antes de pedir algo para beber.
— . — A respondi pedindo outra longneck.
— A propósito, obrigada pela bebida. — Ela se virou de forma que eu pudesse admirá-la de frente. — Mas não curto bebidas doces. — Ela completou desdenhando da bebida que havia lhe enviado.
— Permita-me então compensar o erro. — Me ofereci tirando um sorriso discreto dela.
— Esse é o seu plano? — arqueou as sobrancelhas, me instigando a cair em sua provocação.
— Não planejo nada, deixo a vida definir o curso que deseja tomar. — Dei de ombros.
— Adoraria descobrir o que a vida nos preparou hoje. — sorriu antes de tomar um gole de sua bebida.
— Eu também.
Fim
Nota da autora: Antes que me matem, a fiction tem, sim, continuação. Além das palavras é a continuidade de White whinter himnal (a história você pode encontrar no ficstape da Birdy). A história de e está longe de acabar!
Espero que tenham gostado!
Não esqueçam de comentar e fazer uma autora feliz.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero que tenham gostado!
Não esqueçam de comentar e fazer uma autora feliz.