17. Sunburn

Finalizada em: 25/01/2017

Capítulo Único

— Quer saber de uma história nada romântica, mas ao mesmo tempo cheia de amor? Bom... Esta é a minha.

[12 anos antes...]

Mais uma vez estava atrasado para meu expediente; eu trabalhava num Starbucks, no centro de Londres, um dos mais frequentadas da cidade. As pessoas costumavam ir lá quando se sentiam deprimidos; pelo menos era isso que parecia quando elas me chamavam para conversar e me faziam ouvir seus problemas, os quais não me interessavam nem um pouco. Portanto, fazia de tudo para colocar um sorriso no rosto, e fingir que toda aquela falação mudava algo em minha vida, porque afinal, eu precisava do dinheiro. Morava num apartamento, não tão grande e nem tão pequeno, no sul da região, onde poucas pessoas sociáveis ficavam. Meu prédio era um dos menores dali, já que a maioria eram altos como arranha céus, e eu com certeza não teria dinheiro para bancar um desses. Meu cabelo desgrenhado caia sobre meus olhos, fazendo-me bufar. O espelho em minha frente me indicava as olheiras abaixo de meus olhos; que gritavam para eu dormir direito. Eu não tinha a menor culpa. Minha faculdade começava às oito e meia e eu ficava até no mínimo onze e meia, e a noite servia para mim como um consolo, na qual eu usava para fazer meus trabalhos. Durante a manhã, a mesma correria de sempre, ia servir café para pessoas apressadas e mal humoradas. O único tempo que eu tinha para dormir era de cinco as sete, o que não é muito favorável, já que eu odeio dormir de tarde. Arrumei os pequenos fios arrepiados de meu cabelo, deixando-os abaixados. Já pronto, enfiei as chaves de casa na bolsa após trancar a porta, e depositei em minhas mãos as chaves de meu carro pequeno e simples, branco, que amava como se fosse um filho.
O movimento aquela manhã estava um desastre, como em toda manhã de quinta feira, as pessoas se espalhavam no local à procura de uma mesa vazia. Era um cômodo grande para uma Starbucks, pensava eu. Bufei irritado ao esbarrar em uma moça que estava perdida entre as fileiras, e fui direito para meu caixa, na qual uma fila enorme jazia em frente. Arrumei meu cabelo novamente e sentei-me no banquinho a fim de atender a primeira pessoa. Uma mulher gorducha e sorridente tirou uma nota da bolsa e me pediu um cappuccino, retribui o sorriso um tanto contagiante dela, e fui preparar o café o mais rápido que eu conseguia na máquina atrás de mim. Quando dei a ela, escutei um sonoro e educado "obrigada querido", que poucas pessoas falavam ali.

Meu coração parou no momento em que ouvi o sininho tocar e a silhueta alta e morena dela adentrar o local. Seu porte fino e elegante vagava por todo o cômodo, desviando das fileiras. Ignorei o fato de que ela estava vindo em direção ao meu caixa e fingi que estava anotando algo em uma folha.
.
Ela disse casualmente, olhei para cima encontrando seus belos olhos castanhos. Seu cabelo escuro se arrepiava num rabo de cavalo mal feito, e sua roupa moderna não combinava nem um pouco com sua personalidade nem um pouco frágil. Ergui as sobrancelhas e forcei um sorriso pequeno na boca.
. Como você está?
– Estou bem! – Respondeu simplesmente fazendo-me voltar a me concentrar em meus rabiscos no bloco de notas. Não olhava para ela, mas pude sentir seus olhos verdes me fuzilando até a alma.
– Então é assim que trata seus clientes? – Olhei para ela sem emoção alguma, e encontrei um sorriso sapeca se formando em seu rosto. Revirei os olhos e dei o meu melhor sorriso.
– Em que posso ajudá-la, senhora?
Ela riu de minha atitude, quase se engasgando. Era incrível a capacidade que ela tinha de me deixar envergonhado, e por puro prazer. Revirei os olhos novamente voltando-me para o bloco de notas quando a ouvi pigarrear.
– Quero um café com leite, bem quente.
– Certo. Pra beber aqui?
– Nop.
Levantei sem nem um pingo de vontade e preparei o café com leite, obviamente quente, para , numa lentidão quase imperceptível. Podia ouvi-la suspirar. Assim que ficou pronto, em dois minutos mínimos, virei-me para ela e lhe entreguei.
– Posso lhe pagar um jantar? – Perguntei sem pensar enquanto ela colocava o copo na boca e tomava um gole de sua bebida.
– Não.
– Uhm.
Ela respondeu simplesmente bebericando seu café. Fiquei impaciente com isso, e logo cruzei minhas mãos sobre o pequeno balcão encarando-a nervoso.
– Sério, . Quando você vai finalmente me desculpar?
– Quando você não estiver comprometido. Não sou uma destruidora de lares.
– Ok!
Ela tirou a carteira da bolsa com muito esforço e me entregou o dinheiro. Ia lhe entregar o troco mas ela negou com as mãos.
– Fica.
– Obrigado.
Ela sorriu, e longe do que eu imaginava, ela continuou parada ali me olhando.
– Por que não passa na minha casa umas seis e meia?
– Tenho coisas para fazer. – Uma risada abafada de deboche saiu de minha boca e eu a olhei feio.
– Tipo o que? Dormir?
– Não , tenho coisas para estudar, trabalhos para fazer...
– Livro para escrever... – Eu a interrompi completando o que ela dizia. – Dá um tempo, vai!
Revirei meus olhos e continuei rabiscando as ofensas sobre ela no papel desejando muito que ela pegasse e lesse.
– Pelo menos pensa? – Falei sem coragem de encará-la.
– Está bem.
– Te vejo mais tarde!
Assentiu e se virou deixando o local. Suspirei nervoso e mil pensamentos invadiram minha cabeça.


Eu a via de longe, encostada na parede, mordiscando a ponta do lápis, enquanto lia atentamente o livro em suas mãos. Me perguntava como ela conseguia ser tão bonita. E como era possível ela não ser minha; embora essa resposta fosse a mais fácil de todas. Eu fui um completo idiota. Estava quase conseguindo conquistá-la, já estávamos namorando há mais de cinco meses, cheios de vai e volta; e uma bebedeira fez-me estragar tudo. E tudo foi por água abaixo. E o pior, eu comecei a namorar outra menina, que era totalmente apaixonada por mim. Ah, como eu odeio machucar os sentimentos dos outros; mas na vida, isso é algo que não podemos evitar de fazer as vezes.
Pousei minhas mãos sobre a mesa, derrotado, e bufei agoniado por estar ali e não poder chamá-la para ficar comigo; afinal ela não queria ao menos saber de mim.
Ela não aparecera em minha casa como eu havia imaginado que aconteceria; muito pelo contrário, me enviou um e-mail dizendo que não poderia ir e que não tínhamos assuntos para tratar. Bom, o pior disso tudo era que ela tinha toda a razão. A verdade é que não sei bem o que deu em mim para convidá-la daquela maneira, não tinha nada para falar com ela; a não ser ajoelhar-me no chão e pedir a ela que voltasse para mim. Isso não iria acontecer, ela jamais me daria uma nova chance. Até porque eu tinha uma namorada.
Eu sabia que ela ainda sentia algo por mim; ela sempre fora muito apaixonada pela pessoa que sou. Mas vê que eu segui em frente tão rápido (ou pelo menos ela achou isso), a fez sentir um ódio enorme por mim. O que me dói bastante, mas merecidamente.
Não a trai em momento algum, mas acho que quando uma mulher te vê dançando agarrado com outra e totalmente bêbado ela já encara como o início da terceira guerra mundial, e então brigamos quase uma madrugada inteira quando eu estava sóbrio e não fazia ideia do que ela estava falando.
Mãos geladas e delicadas pousaram em minhas costas, deixando o rastro de um pequeno carinho; e um corpo pequeno se jogou na cadeira ao lado da minha. Liza me olhava com os olhos brilhantes e maliciosos. Eu a conheci uma semana depois do meu término com , e a achei encantadora. Ela se interessou por mim de imediato na primeira conversa. Era doce e frágil, porém se preocupava muito com as cutículas e pontas duplas; apesar disso, achei uma boa ideia fazê-la de consolo. E adequada, até, para fazer-me esquecer a garota que quebrou meu coração. Eu achei que ao estar com ela, tudo mudaria dentro de mim, e eu começaria de novo. Mas sempre que eu olhava seus lindos olhos verdes me encarando, eu via os olhos castanhos dela.

You’re not her
(Você não é ela)
Though I try to see you differently
(Apesar de eu tentar te ver de uma forma diferente)
I tow the line
(Eu joguei o seu jogo)
You see, I’m searching for what used to be mine
(Veja, eu só estou procurando pelo que costumava ser meu)
I saw your eyes
(Eu olhei em seus olhos)
And then I saw her staring back at me
(E então vi ela me olhando de volta)
And I will try to find another one
(E eu vou tentar achar outra)
Who suited me as well as her
(Que seja adequada pra mim, tão bem quanto ela)

– Você vai na festa amanhã? – Ela perguntou carinhosamente. Sua voz era tão meiga que me dava arrepios só de pensar em ouvi-la falar "Por favor, não me deixe"
– Eu não to no clima.
– Ah por favor, honeyboo boo. – Ela fez uma cara de cachorro que caiu da mudança e fungou apertando minhas mãos. Odiava quando ela me chamava disso e fazia manha.
– Ta bem.
Me rendi, se não ela encheria meu saco para todo o sempre. Olhei para frente esperando encontrar aquela morena alta encostada na parede, mas apenas pude detectar seu corpo caminhando rapidamente até o final do corredor.
– Vai ser tão legal, mas preciso ir arrumar minha unha. Me acompanha boo?
– Aham.
Assenti encarando-a. Seu sorriso era uma perfeita doçura, pequeno e luminoso. Ela era muito parecida comigo, e ao mesmo tempo, era totalmente o oposto. Mas ocupava minha mente quando eu só conseguia pensar em e na falta que ela me fazia.

As aulas passavam numa lentidão terrível, fazendo-me bufar nervoso. Encostei minha cabeça na parede e fechei meus olhos; o que não foi uma ótima ideia. Ela novamente invadiu meus pensamentos, deixando-me atordoado.

Conheci no início do ano passado, quando esbarrei sem querer com ela pelo corredor. Seus olhos castanhos encontraram os meus, cheios de fúria. Desculpei-me educadamente tentando acalmá-la, e um sorriso gentil surgiu no canto de seus lábios. Desde então começamos a conversar. Sabe aquela amizade que é muito mais que amizade, mas você demora um século para reparar isso e se dar conta de que deve beijá-la de uma vez? Então.

Mas eu a beijei, estávamos no jardim do campus, ela lia um livro de Shakespeare e eu observava as nuvens do céu. Era um lindo dia e ela parecia alheia a tudo aquilo. Tirei os livros da mão dela e o depositei ao meu lado fazendo-a rolar os olhos.
– Pare de me atrapalhar .
– Pare de ler, então. Olha como o dia está bonito.
Ela observou as coisas em sua volta. As árvores que se moviam conforme o vento fraco batia nelas; as nuvens nadando sobre o céu azul; os pássaros que voavam e cantavam; um aroma bom de calor que invadia nossas narinas; pessoas correndo e brincando pelo jardim. Era tudo muito bom. Mas nada era mais bonito que o rosto da menina ao meu lado. Me aproximei dela, decidido que aquilo era o certo, e quando ela virou o rosto para me olhar, ele estava bem perto do meu. Respirei fundo, olhando para sua boca. Ela piscou confusa, e então, numa súbita vontade e um impulso quase incontrolável selei nossos lábios. De início, ela apenas murmurou e tentou sair, mas assim que segurei seu rosto e tentei aprofundar o beijo, ela retribuiu. Só nos separamos quando estávamos totalmente sem fôlego.

Meu namoro com não era tão bem um namoro muito sério, mas tinha muito amor envolvido. Era uma paixão intensa, cheia de brigas e vai e volta. E sempre que brigávamos e eu ia embora, sentia uma saudade enorme, o que sempre me fazia voltar para ela. Não conversávamos sobre um relacionamento a mais que um namoro; não pensávamos no futuro. Era só eu e ela curtindo o amor que sentíamos um pelo o outro, até eu beber demais.

-Flashback

– Será que dá para me escutar? – Gritei fazendo-a se encolher. tinha seus olhos marejados e seu braços cruzados, na tentativa de guardar seu orgulho.
– Não temos o que conversar . Já falamos tudo ontem!
– O problema é que ontem eu estava BÊBADO! – A voz saia alta demais de minha boca, e não era algo que eu podia controlar. O desespero por saber que eu estava a perdendo era maior do que meu autocontrole.
– Não quero mais conversar com você. Se você quer ter uma vida assim, bebendo e dançando com qualquer uma que aparece, você não devia ter uma namorada. – Ela disse apontando o dedo em minha cara e então andando rapidamente em direção à porta de seu próprio apartamento.
foi um erro! E eu me arrependo. Só me perdoa, por favor? – Segurei seu braço e a puxei para perto de mim, sentindo suas mãos em meus peitos tentando me empurrar para longe.
– Então vai embora! Vai embora, não tenho mais nada para falar com você.
Uma raiva enorme ecoou por toda a extensão de meu corpo; meu sangue borbulhava em minhas veias. Olhei em seus olhos pela última vez, e sai daquele apartamento jurando nunca mais voltar.

Flashback-

I moved far away from you
(Se eu for embora para longe de você)
And I want to see you here beside me, dear
(E eu quero vê-la aqui do meu lado, querida)
But things aren’t clear
(Mas tudo está confuso)
When we never even tried
(Nós nem tínhamos tentado)
We never even talked
(Nem tínhamos conversado)
We never even thought in the long run
(Nós nunca nem pensamos no futuro)
Whenever it was painful
(Sempre era doloroso)
Whenever I was away
(Sempre que eu ia embora)
I’d miss you
(Eu sentia sua falta)
I miss you
(Eu sinto sua falta)

A aula acabou fazendo-me sair da sala apressadamente. O corredor cheio de alunos desesperados para ir embora parecia me engolir. Fui direto para o estacionamento na esperança de que não encontraria Liza. Nosso longo relacionamento conturbado e complicado estava gastando minhas energias. Eu não a amava. E percebi isso tarde demais. Era tarde demais para acabar com tudo e machucar mais um coração que sente muito por mim. Mas ao tentar fugir de uma, dei de cara com outra. estava parada em frente a seu pequeno carro preto, e procurava algo em sua bolsa, que deduzi que fosse a chave. Meus pés, involuntariamente, começaram a andar até ela, mesmo que eu tentasse ao máximo pará-los. Ela parou o que fazia ao ver-me aproximando dela, e encarou meus olhos dentre aquela escuridão da noite.
– Oi. – Falei, enquanto ela abria um pequeno sorriso em seus lábios rosados.
– E ai!
– Vai à festa amanhã?
Uma careta não muito contente invadiu seu rosto; e era de se esperar. era uma garota antifestas; odiava ter que se misturar com um bando de gente bêbada e suada.
– Provavelmente...
– Não. – Completei fazendo-a rir.
– Tem que parar com essa mania de completar tudo que eu digo.
– Eu não acho.
Ficamos em silêncio por um instante, enquanto seus olhos fitavam os meus. Um sorriso envergonhado e tímido, não muito típico de , se formava em seus lábios, fazendo-a parecer simples e meiga (o que ela definitivamente não era, de jeito nenhum). Rimos um para o outro um tanto sem graça por não ter uma continuidade para o assunto fadigo que compartilhávamos. Até que seus olhos se desviaram para algo atrás de mim e seu sorriso se esvaiu de seu rosto, e seu semblante ficou sério e rude como sempre. Sem ter muito tempo de olhar para trás e ver o que aconteceu, pequenos braços me abraçaram por trás. revirou os olhos e voltou a enfiar as mãos na bolsa, achando finalmente suas chaves. Me olhou uma ótima vez, sem emoção alguma, e adentrou o carro. Só pude acenar e dar um pequeno sorriso triste ao vê-la partir.
– Amor!!!! Você pode me levar em casa? Minha carona furou. – Ela disse manhosa agora distribuindo beijos por todo meu rosto.
– Sim, claro.

Após ouvi-la cantarolar cada música que passava no rádio, deixai-a em sua casa e fui para meu apartamento. Estava tudo um breu quando cheguei, e ao olhar para o telefone lembrei-me das horas em que ficava conversando com ela por ali. Parece bobagem, mas tudo me lembrava ela. Joguei-me no sofá sem nem um pingo de vontade de concluir meus trabalhos, eu teria tempo de fazê-los de tarde, tudo que eu queria naquele momento era dormir e esquecer-me de minhas responsabilidades. Tudo aquilo me desgastava muito e acabava me deixando exausto e mau humorado.

Pela manhã, já estava de pé as oito e meia, tomei um café quente e comi um pedaço de torrada; arrumei meu cabelo arrepiado e sai de dentro da minha pequena bagunça chamada apartamento. As ruas já estavam movimentadas, fazendo-me pegar um pequeno engarrafamento, mas nada que me atrapalhasse tanto. O sol estava mais quente que o normal, e um calor horrível começou a pinicar em minha pele.

-Flashback

– Você é minha? – Eu dizia enquanto ela olhava as estrelas. Seus olhos brilhavam tanto quanto elas e seus lábios se separaram num sorriso.
– Sim.
– Que bom. – Eu ri, realmente feliz, e segurei forte suas mãos sobre a grama gelada embaixo de nós. – Eu sou seu.
...
Ela me olhou de soslaio e então voltou seus olhos para o céu. Seu semblante passou de sorridente para triste de repente; e seus olhos se encheram de lágrimas, fazendo-me ir para mais perto e aperta-la num abraço.
– E se ele não ficar bem?
– Tenho certeza que ele vai, . Se não, ele... vai continuar com você, no seu coração.
Ela me abraçou e deixou as lágrimas caírem sobre minha blusa xadrez.
O pai dela estava com câncer. E ele infelizmente morreu. Mas eu passei cada dia daquele longo mês secando suas lágrimas e fazendo-a rir. Sentia-me realizado por ter sido a âncora e seu suporte.

Flashback-

Assim que atendi o último cliente da fila do meu caixa, sentei-me em meu banquinho e fiquei rabiscando em meu bloco de notas. Meus rabiscos não eram ruins, eu era o melhor na minha turma de artes, quando eu estava no ensino médio claro. O sininho tocou indicando a entrada de alguém, meus olhos se desviaram para a porta, rodopiando para o bloco de notas, e então, voltando para silhueta vindo em minha direção. Ela andava confiante em seus saltos, e um sorriso quase falso no rosto.
– Oi. – Ela disse encostando os braços em cima do balcão, e me fitando com seus olhos castanhos brilhosos.
– Oi .
– Toma um café comigo?
Ela se virou dando as costas para mim e se sentou em uma mesa ao lado da vidraça. Rolei os olhos confuso com a situação. Provavelmente receberia uma briga por ter deixado Liza me agarrar na frente dela; ou não, pois não havia motivos para isso. Peguei dois cafés e caminhei lentamente até a mesa, e a cada passo meu coração batia mais forte.
– Então... – Falei depositando as duas xícaras de café na mesa e me sentando em frente a ela. Ela fitava o movimento das pessoas do lado de fora, mas assim que me sentei ela me encarou com seus olhos enlutados. – O que foi?
– Eu não sei...
– Não sabe?!
Falei bebericando um pouco do meu café enquanto ela apenas abraçava a xícara com suas mãos.
– Bom...
Ela abaixou a cabeça e suspirou por um segundo antes de voltar a olhar em meus olhos. Parecia aflita, e confusa, e seus olhos estavam vermelhos e cansados, como se não dormisse há dias. E eu não sei como ela fingira tão bem todo esse tempo que estava feliz, pois até aquele momento, não havia reparado no quanto estava destruída.
, o que houve?
– Você sabe que não sou uma pessoa muito sociável, certo?
Assenti e ela respirou fundo.
– Eu não tenho muitos amigos para contar, e você por muito tempo... – Ela fechou os olhos atordoada e voltou a abaixar a cabeça. – Você por muito tempo foi um amigo na qual eu contava. Uhm...
– Onde você quer chegar com isso?
– Eu estou com câncer.

Sabe quando uma onda bem forte bate contra seu corpo fraco, e você cai e se afoga? E então você tenta voltar para a superfície, mas assim que consegue tirar a cabeça para fora pra respirar, outra onda maior ainda te ataca novamente? Me sentia exatamente assim. Não sabia mais como respirar, pois sentia um mar me engolindo. Não podia ver mais nada, pois tudo em minha volta parecia fazer meus olhos arderem. Não podia sentir meu corpo, pois a água que eu engolia sugava toda minha energia. Não via, não sentia, não ouvia. E as vezes eu voltava para a superfície, e ficava tempo o suficiente para ouvi-la chamar meu nome, mas então eu voltava para aquele sufoco novamente. Espera ai, como é que se respira? Eu puxava o ar e nada acontecia, eu soltava um grande vazio de dentro de minhas narinas. Quem havia tirado meus pulmões de mim? Não os sentia, meus órgãos pareciam pesados dentro de mim; e alguém arrancava meu coração e o esmagava. O que estava acontecendo? Por que eu estava no chão? Senti o piso gelado em minhas mãos. Vozes ecoavam em minha cabeça, seu grito de socorro me fez ficar atento. O que diabos estava acontecendo, meu Deus? Tentei me levantar mas minhas pernas me traíram, batendo com força contra o chão novamente. Mãos pequenas e frias seguraram meu rosto, mas eu não podia ver. Câncer. Câncer? Ela só podia estar brincando comigo.

She was mine
(Ela era minha)
I was hers
(Eu era dela)
And all that’s in between
(Como tudo entre nós)
If she would cry
(Se ela chorasse)
I would shelter her
(Eu a defendia)
And keep her from the darkness that will be
(E a protegia das trevas eminentes).

? – Eu a ouvia me chamar baixinho, e seu toque leve em minha mão. Abri meus olhos vendo uma luz clara, que o fez arder ainda mais. Ela estava parada ao meu lado, em meu quarto.
– O que aconteceu? – Uma dor forte palpitou em minha cabeça fazendo-me levar minha mão na mesma.
– Você pirou quando te contei que estou com câncer. E por favor, não pire de novo. – Ela disse rapidamente com um sorrisinho sínico no rosto. Balancei a cabeça me negando a acreditar que aquilo era mesmo verdade.
– Não.
– Sim.
Bufei nervoso e a envolvi num abraço quente e confortante; o abraço que sentia falta por meses. Me senti bem ali, ela era quase do meu tamanho, um pouco mais baixa. Era perfeito.
– Você não pode...
– Olha, eu estou bem! Estou bem. – Ela colocou as mãos em meu rosto e sorriu verdadeiramente para mim. – Mas se eu for morrer, eu prefiro fazer algumas coisas antes.
– O que?
Aflito e apreensivo, apenas fiquei encarando ela enquanto se aproximava de mim. Suas mãos ainda em meu rosto, fazendo um pequeno carinho com os dedos. Seus olhos que estavam nos meus, fitaram minha boca. Seu rosto chegava cada vez mais perto, então eu fechei meus olhos. Ela encostou sua testa na minha, senti sua respiração descontrolada em meu minhas bochechas, e então ela selou nossos lábios. Uma onda de eletricidade passou por todo meu corpo; era como um drogado que ficou muito tempo sem usar droga. Ela me envolveu em um abraço, e sentou em meu colo, puxando de leve meu cabelo. Minhas mãos viajavam por todo seu corpo. Nosso beijo era quente e cheio de desejo; o qual eu não podia evitar. Eu a queria, eu sempre quis. Ela era minha.

Acordei com um som alto apitando ao meu lado, tapeei o criado mudo até encontrar o despertador e desligá-lo. Resmunguei por um instante por saber que era minha hora de levantar e criar coragem de ir estudar. Mas logo toda a preguiça passou ao sentir aquele corpo quente estatelado ao meu lado na cama. estava jogada embaixo do lençol, sua blusa estava no chão, ela usava apenas um sutiã, e estava totalmente nua dali pra baixo. Sorri para mim mesmo em saber que aquela tarde foi a melhor tarde de todos os meses que fiquei sem ela. Levantei-me da cama lentamente para não acordá-la, e separei a roupa que usaria, pegando uma toalha no guarda roupa.
– Ei. – Sua voz sonolenta e carinhosa me chamou fazendo-me virar para trás. Ela estava caçando sua calcinha em algum canto da cama, e ria consigo mesma por estar daquela forma.
– Procurando isto? – Perguntei pegando sua peça vermelha e sexy do chão e erguendo para ela.
– Obrigada.
– Quer tomar um banho comigo? Posso te levar na faculdade.
Ela me encarou e sorriu.
– Aceito o banho. Mas não a carona. Estou com meu carro!
Ela se levantou tirando o sutiã de seu corpo enquanto caminhava até a mim, pegando a toalha de minha mão, logo, estava fora do quarto. Bufei e passei as mãos por meu cabelo. Nossa! Que garota maravilhosa, que eu não tinha em mãos. Droga.
Peguei outra toalha e me juntei com ela dentro do mini Box que eu tinha no banheiro. Ela molhava os cabelos e passava as mãos por seus fios castanhos. Ela era sensual até quando não estava tentando ser. A apertei em meu corpo fazendo-a grunhir baixinho, e beijei todo seu pescoço e ombro, fazendo-a sorrir maliciosamente.
– Eu senti sua falta.
Falei como se tivesse tirando um peso enorme do corpo.
– Eu também senti a sua.

Chegamos na faculdade juntos, um tanto atrasados por conta do banho demorado que tivemos. O que me deixou bastante feliz. Eu ainda tinha muito que conversar com ela; tudo havia acontecido rápido demais. Eu estava confuso, porém animado; e triste ao mesmo tempo. Todavia, me irritava o jeito calmo que ela agia contra uma doença grave. Só de me lembrar que ela estava daquela forma, me espantei novamente, parando-a no meio do corredor.
– É grave?
– É sim. Mas , se é isso que a vida reservou para mim, eu aceito de bom grado. Tenho um bom exemplo quanto a isso.
Sorri para ela um tanto receoso por aquilo estar saindo de sua boca. A mulher mais frágil e ao mesmo tempo mais forte que eu já conheci.
– Olha, eu sei que seu pai morreu de câncer e eu estava lá com você. Então, vou continuar aqui. Não importa o que aconteça.
Ela assentiu e me deu um abraço apertado antes de sumir no corredor e me deixar ali sorrindo que nem um bobo. Mas eu não podia perdê-la novamente, e uma dor enorme engolia meu peito.

A aula acabou mais rápido do que eu imaginava, isso provavelmente porque eu não prestava atenção nos professores; e sim ficava pensando em como ajudar . Ela precisava de mim, certo? Eu sabia que meu dever era ficar ao lado dela, mesmo que fosse a última coisa que ela desejava. Mas era impossível com uma pequena patricinha no meu pé. Não queria ser sujeito a quebrar o coração dela, afinal, eu até gostava um pouco de Liza. Mas Liza não era , nunca seria.

Sai da faculdade às pressas com a cabeça nas nuvens, minha vontade era de ir para casa, ligar para , e ter outra noite daquela com ela. Mas não era isso que meu corpo queria, e eu o odiava por isso. Eu só queria entender o que estava acontecendo, queria conversar com ela, tê-la por perto, dizer a ela que eu estaria disposto a ser dela novamente. E ela estava bem ali, encostada em seu carro, folheando um livro como sempre, por mais que estivesse escuro e ela tivesse que forçar sua vista. Andei lentamente até algo me impedir. Uma voz baixa e aguda me chamava enquanto barulhos de saltos batendo no chão vinha em minha direção. Revirei os olhos bufando nervoso e me virei, encontrando uma Liza ofegante e irritada.
– O que você pensa que está fazendo? – Ela perguntou enquanto me puxava pela blusa. Só pude olhar para trás e ver a cara de desaprovação de ao me observar, e então fui forçado a entrar na faculdade novamente.
– Posso saber o porquê disso tudo?
– Bom, primeiro, eu te liguei o dia todo e você não me atendeu. Tínhamos um compromisso, se lembra? – Ela falava um pouco alto demais enquanto mexia com as mãos no ar.
– Ahm... compromisso?
Ela revirou os olhos impaciente e cruzou os braços, o que me fez ficar mais irritado ainda comigo mesmo. Não sabia como ela conseguia controlar tudo.
– Você me prometeu que iria comigo na manicure amor. E segundo, você estava indo embora! – Ela apontou para a porta e logo cruzou os braços de novo. – Temos uma festa para ir, esqueceu?
– Ah olha, me desculpa Liza...
– Liza?
De repente o semblante irritado de seu rosto passou para um bastante irritado.
– Amor... – Falei baixinho e abaixei a cabeça, indo contra tudo que eu planejava. – Eu fui pro trabalho e depois dormi a tarde toda sem querer, me desculpe. E eu to cheio de trabalho pra fazer, acho que não vai rolar...
– Você está mentindo pra mim ! Vamos por favor?
– Está bem. Mas não ficarei muito.
Ela fez um biquinho e logo deixou escapar um sorriso, agarrando meu pescoço e dando beijo em todo meu rosto.
– Tenho certeza que você vai ficar.

A festa era na casa de um dos caras mais populares da universidade; ele fazia festa toda sexta feira após a aula, e metade dos estudantes iam. Não era atoa, a casa dele era enorme, continha uma piscina olímpica, jardim, churrasqueira, e mais de cinco quartos. Era realmente uma casa muito grande para um homem só, porém ele morava com alguns amigos também, o que já era algo. Dirigi até lá, novamente ouvindo Liza cantando as musicas da rádio e dançando de uma forma desastrosa no banco ao meu lado; ela parecia se divertir, mesmo não sabendo a letra certa da música, o que me fazia gargalhar muito. Era uma ótima companhia, a Liza. Era uma pena que meu coração pertencia a outra pessoa.

Chegamos na festa e, como eu esperava, já estava totalmente cheia, várias pessoas já dançavam embaixo das luzes (esqueci de mencionar que tem um pequeno salão de dança, com direito a DJ e tudo), e muitas outras pulavam na piscina gigantesca em frente à casa, outras apenas conversavam e bebiam. Senti as mãos de Liza segurando meu braço e me puxando para dentro da casa, onde muitas pessoas estavam.
– Vamos pegar algo para beber, huh? – Ela caminhou até a cozinha e pegou uma garrafa de cerveja já aberta e entregou a mim.
– Sério? Você sabe que é fraca pra bebida.
– Ah não papai, não te trouxe aqui pra controlar minha bebedeira ok? Depois você me leva em casa... – Ela abriu um sorriso malicioso nos lábios e se juntou lentamente em meu corpo, passando os dedos pelo meu peitoral e descendo. – Ou então eu posso dormir na sua casa. – Mordiscou os lábios e penetrou seus olhos no fundo de minha alma.
Aquilo me deixaria com um tesão louco se minha cabeça não estivesse em outro lugar. A fim de tentar disfarçar a minha falta de atenção, sorri maliciosamente para ela e lhe dei um selinho, e logo estava colocando a cerveja em dois copos.
– Está servida.
– Obrigada amor! AH MEU DEUS! SALLIE!!! – Ela gritou fazendo-me pular para trás, e assim que olhei para baixo para encontrá-la, lá estava ela sumindo pela casa e abraçando uma garota magrela. Revirei os olhos e me joguei em um dos sofás que havia ali.
Eu devia ter imaginado que eu seria abandonado por ela uma hora ou outra.

-Flashback

– Então, vestido vermelho ou preto? – segurava os dois perto de seu corpo, e se eu pudesse fazê-la ir com ambos eu faria, era um pena que ficaria estranho.
– Uhm... vermelho. Não, preto. Espera... Vermelho. – Ela ria enquanto guardava o preto no guarda roupa e então tirou o roupão. – Ou você pode ficar assim, e ficamos em casa.
– É uma ótima ideia. – Ela se empolgou e fez menção de guardar o vestido, mas eu a segurei.
– Uh-uhm. Você vai! Veste esse vestido, vamos!
revirou os olhos e se vestiu. E nossa, como estava linda. O vestido vermelho rodado marcava todas as suas curvas, e atrás, deixava suas costas nuas. Ela prendeu seu cabelo num rabo de cavalo, e passou um leve batom avermelhado nos lábios, o que me fez querer beijá-la.
– Nananina não! – Ela me afastou assim que eu me aproximei de seu rosto. – Devia ter feito isso antes de eu passar o batom, bonitinho.
– Ah meu Deus, ok. Vamos ver por quanto tempo você aguenta ficar sem me beijar.
Ela riu e deu um tapa em meu ombro, e logo arrumou a gravata em meu pescoço.
– Você não vai me largar lá, né?
– Claro que não.
, você tem um monte de amigos, e eu odeio festas. Eu posso te esperar aqui...
– Abracei sua cintura e a trouxe para perto colando seu corpo no meu. – Não ligo pra nada disso. Vou me divertir com você, não estou indo para ver meus amigos.
– Mas...
– Se continuar falando, eu vou te beijar!
Ela riu e envolveu meu pescoço com seus braços e eu depositei um beijo em sua testa. Ela estava deslumbrante e cheirosa, e eu queria muito ficar ali com ela, mas precisava tirá-la de casa um pouco. O peso de estar em luto mexia com sua cabeça, e com a minha, e uma festa a ajudaria a se distrair um pouco. Apesar de que sexo também...

Flashback-

Meus pensamentos se esvaíram assim que pus meus olhos nela, sua silhueta alta e cheia de curvas estava parada ao lado de uma porta de vidro, que dava para o jardim de trás da casa. Seu semblante era sério, mas seus olhos me encaravam sorridentes. Assim que ia me levantar Liza sentou no meu colo, depositando beijos em meu rosto e pescoço. Revirei os olhos e olhei para , que negava com a cabeça e sorria tristemente enquanto saía para fora.
– Liza...
– Uhm. – Ela beijava pescoço enquanto se esfregava em meu corpo.
– Está todo mundo nos olhando.
A verdade era que estavam mesmo, mas não era aquilo que me incomodava.
– O que tem? – Ela olhou em volta e então encontrou meus olhos desaprovando aquela atitude e bufou nervosa. – Está bem, você não quer?
Ela estava bêbada.
– Então vou encontrar alguém que queira. – Ela se levantou cambaleando pela sala e rindo descontroladamente.
Liza não tinha juízo algum quando se tratava de cerveja, e às vezes eu odiava acompanhá-la em festas por causa disso. Me levantei irritado ignorando os olhares e os risos sobre mim, e andei até a porta onde estava, a vi deitada na grama ao lado de uma árvore e andei até ela.
– As estrelas... estão bonitas hoje. – Falei olhando para o céu. E realmente estavam, embora não pudesse ver muitas dali. Sentei-me ao lado dela sentindo seu corpo quente encostar no meu, e me virei para encontrar seus olhos. – Me desculpe...
– Por quê?
– Pela Liza, ela está bêbad...
– Não me importo. Ela é a sua namorada, oras.
– Mas...
– Mas nada . – Ela me interrompeu desviando seu olhar para as flores em nossa frente. – Ela tem esse direito. Eu não pedi para que não tivesse.
– O que quer dizer com isso?
– Não gosto do fato de que te fiz traí-la. Mas não quero que você termine com ela para ficar comigo. Então não tem problema ela sentar no seu colo. – Ela disse agarrando sua perna e me olhando mais uma vez.
– Não entendo, eu posso fazer isso, eu posso voltar somente para você .
– Mas não é o que eu quero.
– Por que não? – Não podia entender o que ela querida dizer. Eu tinha certeza que era aquilo que ela sentia e queria para ela, e eu estava enganado. Então ela sorriu fracamente e pousou as mãos em cima da minha.
– Não vou ficar aqui por muito tempo, não quero que fique sozinho quando tudo acabar. Podemos ficar juntos, sem ela saber de nada, mesmo que seja injusto. Mesmo que eu esteja sendo egoísta.
– Não posso fazer isso.
– Eu sei. É uma coisa totalmente ridícula... Mas saber que te deixarei aqui sem ninguém me machuca.
Ela escondeu o rosto em seu joelho e apoiou o corpo em mim.

Por que doía ouvir ela dizendo todas essas coisas? Por que era verdade ou por que eu não queria aceitar? Ou ambas as coisas! Eu não me importava nem um pouco com o fato de que ficaria sozinho no final. Me importava fazer feliz nos seus últimos momentos, mesmo que fosse doloroso para mim saber que eram os últimos. A verdade era que eu era um cara totalmente despreocupado com a vida antes de conhecê-la. Ela me ensinou muita coisa que hoje levo em consideração sempre. Ela emoldurou meu coração de uma forma que me fez amá-la como eu nunca imaginei que iria amar alguém. Ela fez com que minha mente congelada e egoísta pensasse em coisas boas pela primeira vez na vida. E tê-la por perto, mesmo que ela não fosse minha, fazia-me sentir que valia a pena acordar todos os dias. Nem que fosse para somente observá-la de longe, e vê-la sorrir sozinha de algo que leu no celular. Isso já bastava para mim, para saber, que saía de casa feliz todos os dias, sabendo que ela iria me encontrar no Starbucks e pedir seu café quente.

ee! – A voz aguda e alta que eu sempre ouvia, e me irritava, me chamou lá longe. Olhando para trás, pude ver a silhueta baixa e impaciente de Liza. Suas mãos estavam na cintura e seus pés batiam bravamente no chão. me encarou sorrindo e assentiu.
– Vai. – Ela falou se levantando, e eu parei em frente a ela. – Se puder, passa na minha casa quando ir embora.
Ela disse e se afastou de mim, deixando-me ali aflito em meus pensamentos.

– O que estava fazendo com ela? – Ela gritava enquanto eu caminhava rapidamente até o carro.
– Nada, estávamos conversando.
– Ela quer te roubar de mim.
Liza não era tão ciumenta, nunca falava de ou brigava comigo por falar com ela. A não ser que estivesse muito bêbada. Abri a porta do passageiro e a coloquei lá dentro.
– Não quero ir! – Ela cruzou os braços emburrada assim que eu entrei e liguei o carro. Bufei nervoso e me virei para ela.
– Você está péssima Liza.
– Não ficamos nem meia hora...
– Ficamos sim, agora vou te levar em casa. – Demorei um pouco para conseguir sair do estacionamento por conta da aglomeração de carros que tinha ali, mas logo estávamos na pista desfrutando de uma noite fria e estrelada.
– Você vai ficar? – Ela perguntou passando a mão em meu cabelo.
– Não posso. Tenho trabalho pra fazer, se lembra?
– Ah não honeyboo boo!
Ri dela fazendo-a rir também. Ela estava só o caco. Então depois de alguns segundos ela encostou a cabeça na janela e adormeceu.

Depois de um tempo tentando abrir a porta com ela no meu colo, a coloquei no sofá. Peguei água e dois comprimidos de dor de cabeça e coloquei em cima da mesinha, com um pequeno recado ao lado.
"Tome isso, vai melhorar. Beijos, " Depositei um beijo em sua testa e sai a procura do que era certo.

O trânsito, de repente, ficou uma merda. Todos os carros estavam parados na avenida principal, buzinas ensurdecedoras ecoavam em meu ouvido fazendo-me bufar irritado. As pessoas descontam a agonia na buzina como se isso fosse mudar algo. Como se a pessoa que está na frente tivesse culpa do trânsito todo estar lascado. Já eram 00:30 e eu torcia para que ela estivesse me esperando. Àquela altura ela com certeza já havia desistido e dormido, mas eu sabia que ela estaria lá. Passei para a pista da direita a fim de tentar me movimentar um pouco; ficar dentro do carro parado por muito tempo me tirava do sério de uma forma...
Assim que o sinal demorado na qual eu estava parado abriu, o trânsito finalmente ficou mais leve e eu pude virar para o bairro onde morava; era um bairro cheio de ruas e as casas ficavam umas do lado da outra, montadas e perfeitamente desenhadas. Assim que virei na rua dela senti meu corpo todo ficar fraco e minhas pernas tremiam impedindo-me de pisar no acelerador corretamente. Respirei fundo e parei em frente à casa branca com alguns vasos de flores na janela. Era linda, e delicada, assim como . Passei as mãos no rosto e no cabelo a fim de espantar um nervosismo desconhecido que invadiu meu corpo, e toquei a campainha.

Um minuto depois, vi a luz ligando através da cortina da janela, e ela saiu pela porta com o semblante sonolento e triste; caminhou lentamente até o portão onde eu estava, e abriu sem olhar para mim, dando-me espaço para entrar. Ela usava um short curto de pijama e uma blusa apertada com um urso desenhado.
– Me desculpa, o trânsito estava uma merda. – Falei enquanto adentrava a casa perfeitamente organizada e limpa.
– Achei que você não ia vim.
– Por quê?
Ela parou ao meu lado e sorriu fraco.
– Porque você demorou, então pensei...
– É claro que eu viria.
Ficamos um tempo nos encarando, seu rosto parecia cansado, seus olhos estavam baixos, suas olheiras entregavam sua falta de sono, e suas mãos tremiam. Ela parecia tão nervosa quanto eu. Segurei suas mãos nas minhas e beijei sua bochecha, carinhosamente, fazendo-a corar.
– Você precisa descansar.
– Não consigo dormir aqui sozinha.
– Eu estou aqui, não estou? – Perguntei envolvendo-a em um abraço. Pude senti-la sorrir para mim.

Tirei minha camisa e fiquei apenas de calça; e ela nos cobriu com sua coberta quentinha. Ela sempre teve medo de ficar sozinha, principalmente à noite. E dormir sozinha para ela era bem difícil. Ela abraçou meu corpo com seus braços pequenos e eu fiz carinho ali, enquanto ela murmurava uma música baixinho. Sorri para mim mesmo por estar ali com ela; mas sentia-me extremamente culpado por ter deixado Liza, sozinha e bêbada, na casa dela. Ela me mataria no dia seguinte...

Pude sentir a respiração leve de em meu ombro; ela adormeceu em meus braços como costumava fazer há tempos atrás. E eu amava a sensação de tê-la comigo, na cama, ou em qualquer lugar. Protegê-la sempre foi meu dever, e eu sabia disso. Estar ali, cuidando dela, depois de tanto tempo desejando isso, fazia-me o cara mais feliz do mundo. E se fosse eu quem faria os últimos momentos de serem felizes e especiais, eu faria de bom grado sem me importar com mais nada.

Pela manhã, pude sentir o calor das luzes do sol, que entravam pela vidraça da janela, esquentando meu corpo, e me fazendo suar. Abri meus olhos lentamente tentando focar minha vista, enxergando primeiramente o teto branco e depois deitada ao meu lado. Ela dormia serenamente, tão calma como uma onda num mar. A respiração era leve e seu corpo se mexia lentamente para meu lado enquanto seu braço caia sobre meu corpo.
O relógio marcava nove horas, com muito cuidado levantei-me da cama, e fui direto para a cozinha. Preparar café da manhã sempre foi minha especialidade, acho que é porque trabalho num Starbucks. Fiz um café com leite que ela tanto amava e torrada, com algumas frutas para acompanhar.
Logo senti seus braços me abraçando por trás, e encostou sua cabeça em minhas costas, e eu me virei rapidamente para abraçá-la. Seu corpo estava pesado, mas seu semblante era cansado.
– Ta tudo bem? – Perguntei percebendo sua cor pálida quase amarela.
– Estou bem...
– Tem certeza?
Ela assentiu e sorriu para mim, desviando o olhar para meus preparos atrás de mim.
– O que é isso, huh?
– Seu café da manhã.
Sorri vitorioso e a levei para a mesa segurando a bandeja. Coloquei sobre a mesa, e a vi comer saboreando cada pedaço e cada gole do café.
– Uhm, eu amo seu café.
– Eu sei. – Cruzei minhas mãos em volta da minha xícara e a encarei. – Eu demorei para dormir ontem. Fiquei pensando...
– Não quero que você fique pensando nisso. – Ela me interrompeu e mordeu um pedaço de torrada.
– Precisamos fazer alguma coisa.

Ela apenas negou e continuou comendo. Ela de repente pareceu estar bem, e eu percebi então que ela estava se forçando a ficar. Mas eu não podia fazer isso, eu não podia ignorar a dor no meu peito e fingir que estava tudo em perfeita condição. Tudo estava desmontando aos poucos. Culpei-me por não ter voltado antes, por não ter batido na porta dela e dito: "Ou você volta comigo, ou você volta comigo", por ter arranjado outra para substituí-la e ficar no lugar dela enquanto a dor se espalhava por todo meu corpo, arranjado outra para disfarçar o quanto eu estava mal sem ela, culpei-me por não ter percebido que bastava um pouco de tempo e ela voltaria para mim, eu não tinha a perdido para sempre e só percebi isso tempos depois, quando já era tarde demais. E desde que terminamos eu não sentia emoção nenhuma. Merda nenhuma que me fizesse sentir realmente feliz ou triste, apenas um vazio enorme instalado em meu corpo. Porque sem ela, faltava uma parte de mim. E eu percebi isso tarde demais, percebi tudo tarde demais. E estraguei, destruí toda as chances de ter sido feliz ao lado dela novamente, por puro orgulho e raiva; dela, e de mim mesmo.
. – Ela me chamava e segurava minha mão com força. Mas eu não me importava. Não ligava se ela estava me chamando, ou se a voz doce dela ecoava em meus ouvidos fazendo-me arrepiar dos pés a cabeça, se seu toque quente me confortava tanto. Eu não me importava, naquele momento percebi o quanto eu a amava, e quanta coisa eu tinha que botar no lugar. Um dia eu iria me perdoar, Liza ia me perdoar, e até iria me perdoar. Mas eu faria a coisa certa, pelo menos uma vez na vida.
!! – E foi só quando ela gritou meu nome e segurou meu rosto enquanto se ajoelhava em minha frente, que percebi o quanto eu estava chorando, o quanto doía saber que ela iria me deixar, e que ela estava bem com isso. Coloquei as mãos sobre o rosto soluçando, tentando conter as lágrimas que caíam, sem sucesso, pois tantas dores que guardei por tanto tempo estavam saindo ali. Me joguei no chão ao lado dela, apertando-a em meu corpo. Ela tinha que ser minha para sempre.

– Não, você não vai fazer isso!
Ela disse mais uma vez, quando eu tentei novamente dizer a ela que eu terminaria com Liza. Depois de minha crise de choro, ela me levou para um banho quente, me deixando mais calmo. Ali no sofá, olhando para o teto, enquanto ela andava de um lado para o outro, pensei que não faria sentido algum eu ter as duas, sendo que a única que eu queria iria me deixar. Não fazia sentido, pois eu não queria mais ficar ao lado de alguém que eu não amava. Alguém que não fosse ela.
– É injusto ...
– Injusto? Injustiça é eu estar namorando alguém que eu não amo !
Ela se encolheu sentando-se ao meu lado e abraçou as pernas, pensativa. Me olhando de soslaio enquanto eu respirava fundo para não perder as estribeiras. A questão era que eu estava desesperado, porém teria que agir com calma para não assusta-la; a não ser que eu quisesse que ela desistisse de mim novamente.
– Tenho coisas para resolver agora, passo aqui a noite está bem? Vou te levar para jantar.
Me levantei do sofá e me dirigi até a porta enquanto ela tentava absorver o que eu havia dito. Ela apenas assentiu e então sai para o calor do sol, sentindo meu corpo sendo queimado aos poucos. Meu batimento cardíaco acelerou assim que liguei o carro e sai dirigindo pelas ruas. Eu precisava pensar no que fazer.

Eu via os velhinhos andando pela rua, um do lado do outro. Velhinhos que viveram uma vida toda, receberam do bom e do melhor, ou tiveram maus momentos. Velhinhos que aprenderam muita coisa durante um longo tempo de vida. E que se apaixonaram e continuaram sendo um casal até chegarem à idade que tem hoje. Eu queria que fosse assim. Eu queria que ela tivesse a chance de se formar, de trabalhar, de casar comigo ou com quem quer que fosse, de ter uma família, e então ter netos, e então ter uma história enorme para contar a eles. E depois morrer. Mas a vida nem sempre dura tanto tempo, para algumas pessoas ela mal começa.

Parei indeciso em frente à casa de Liza, respirei fundo juntando toda minha coragem em meu peito e sai do carro. Meus passos eram tão lentos que eu comecei a me perguntar o porquê de a casa estar se afastando de mim na medida em que eu chegava mais perto. Às vezes fazer algumas escolhas, mesmo que pareçam ruins, mesmo que vá machucar alguém que é especial pra você, é necessário. E naquele momento, era realmente algo necessário. Meu coração me gritava isso desde o dia em que sai do apartamento de com a promessa de que não voltaria nunca mais. Ele gritava: "Cara, volte. Não faça isso. Não estraga tudo de uma vez". Mas eu me achei mais inteligente que isso. Acredito agora, ninguém é mais esperto que o coração.
Bati na porta um tanto receoso, mas já era tarde demais para dar o pé para trás. Ela abriu a porta, com um semblante cansado. Parecia sentir dor em todo o corpo, e seu cabelo estava todo desgrenhado. Mas assim que conseguiu focar sua visão em mim, abriu um sorriso enorme e me abraçou.
– Você veio me ver boo!! – Ela me puxou para dentro da casa me enchendo de beijos. Era a hora certa, eu sentia.
Recuei um passo para longe dela, e então ela percebeu o quão sério eu estava.
– Você está bem?
– Eu quero terminar.
Saiu. Como uma onda de alívio meu corpo ficou mais leve, e minha mente mais limpa. O peso que estava em meu corpo eu soltei em cima dela. Ela deixou seus ombros cairemos e sua boca se abriu um pouco, estava atônita, tentando absorver o que ouvira.
– Sinto muito Liza...
– Por... por que ? – Sua voz era macia e saia quase num sussurro. Podia jurar que nascia uma lágrima em seus olhos claros, mas ela logo passou o dedo e a secou.
– Não... Não dá mais. Eu espero que você possa me perdoar, é complicado. Um dia você vai entender.
– Vou?
– Uhum.
Me aproximei dela, que deu um passo para trás afim de fugir de mim, mas não me importei com isso. A envolvi em um abraço apertado, e pude sentir ela soluçar em meu peito. Era oficial, meu coração estava quebrado.
– Espero que o motivo seja muito bom. – Ela disse sorrindo, e eu apenas dei o último beijo nela. Enquanto ela fazia um bico... Ah essa garota.
– Acredite, é sim, e vai me fazer muito feliz.
– Espero que sim. – Ela sorriu e beijou minha bochecha, logo abrindo a porta para que eu saísse.
Respirei fundo assim que ouvi a porta se fechando atrás de mim. O céu estava lindo...

Arrumei minha gravata em meu pescoço e passei o perfume que estava no fim. Me olhei no espelho pela última vez, parecendo uma mulherzinha. Meu cabelo estava num arrepio proposital, que só para constar me deixava muito sexy. Então, sai de casa para buscá-la.

E como estava linda. Ela usava um vestido preto, quando saiu do portão e veio ao meu encontro. Eu estava encostado no carro com as mãos no bolso da calça, observando ela caminhar como uma modelo. Seu cabelo estava solto sobre o ombro, e um sorriso alegre em seus lábios a deixava encantadora. Depositei um beijo em seus lábios e então sorri para ela, segurando em sua cintura.
– Agora, eu sou todo seu. Para sempre.
Seu cheiro era doce como uma chuva, ela me apertou em um abraço, e eu senti seu coração batendo forte contra o meu.
– Eu amo você. – Os meus pelos de eriçarem na mesma hora. E meu coração acelerou a mil quilômetros por hora.
– Eu também amo você.

Riamos e conversávamos como se nada de ruim tivesse acontecido, nunca. A risada dela era contagiosa e alta, vez ou outra as pessoas das outras mesas riam ao ouvi-la rir. Era engraçado, e divertido, a forma em que ela se entregava a uma conversa, a forma que ela sentia prazer em sentir a felicidade que pairava ali. Meus olhos enchiam de lágrimas, só de pensar que eu não teria mais aquilo comigo dali a alguns meses, ou dias. Ela enrolava as pontas do cabelo e piscava para mim, e assim que terminamos de comer a levei para a pista de dança, envolvendo seu corpo no meu e segurando sua mão no ar. A música Sunburn do Ed Sheeran tocava, e eu senti meu corpo esquentar e meus olhos arderem.
– Não chore .
– Não consigo...
Deixei que as lágrimas rolassem pelo meu rosto enquanto ela me encarava sorrindo; a dor no peito era insuportável, mas eu estava feliz por estar ali com ela.
– Me promete uma coisa? – Ela disse abraçando meu pescoço e abrindo um grande sorriso. Assenti e sorri junto a ela. – Você nunca vai se esquecer de mim.
– Nunca.
– Outra coisa?
Assenti e dei um selinho em seus lábios rosados e macios.
– Você vai se casar e ter uma família. Mas com alguém que você realmente ame.
– Não posso casar com alguém mort...
Ela me deu um tapa no braço fazendo-me murmurar bravo comigo mesmo, e então rimos um para o outro.
– Prometo.
– Mais uma coisa...
– Ave Maria.
– Vai . – Ela sorriu e eu assenti. – Você vai escrever para mim todos os dias me contando sobre você e o que está acontecendo em sua vida.
– Mas você não vai poder ler.
– Promete?
– Prometo.
Ela me beijou sorrindo e ficamos ali sentindo as luzes caírem sobre nós. Eu queria ficar ali para sempre com ela.

[2 meses depois...]

Sabe, a dor da ausência, de alguém que você ama, é a que mais sufoca. É a que te prende em uma saudade insuportável, é a que te enforca até você não aguentar mais e fechar os olhos. As últimas lágrimas que caem são as lágrimas do adeus. O adeus que machuca, que perfura como uma faca, que explode dentro de você como uma bala; que te mata aos poucos. E então você não se sente mais vivo, apenas é um sobrevivente fadigo vivendo em um mundo onde nada mais faz sentido. Vê-la em uma cama de hospital, chorando, vomitando, sentindo dor... Fazia-me desejar estar no lugar dela. Queria que fosse eu ali. Implorando para que tudo acabasse logo. Suas mãos perderam a força, seus olhos marejados não olhavam mais nos meus, mas mesmo assim ela tentava sorrir como se estivesse feliz. E ela estava. Deus do céu, ela estava muito feliz. Porque eu a fiz feliz. Eu a fiz feliz porque era isso que iria me fazer sentir bem depois, porque era o que ela precisava de mim. Porque eu a amava. E como eu a amava.

Depois que saímos daquele restaurante, fomos para minha casa. Foi uma das melhores noites de toda a minha vida. Fizemos amor até o amanhecer, e ela nunca se cansou de querer mais. Dizendo ela, tínhamos que aproveitar bastante. Ria comigo mesmo, porque o sortudo era eu. Mas ela tinha razão, por que não aproveitar a vida antes que seja tarde demais? Desde então, todos os dias saíamos juntos, eu a levava para a praia, clube, cinema, até para cidades vizinhas para passar uns dias. E toda noite íamos olhar as estrelas no jardim do campus após a aula.
– Você vai ser uma dessas, . – Eu falava enquanto olhava para ela. Seus olhos que estavam concentrados nos brilhos lá em cima se viraram para mim, penetrando nos meus. – E será a mais bonita de todas.
– Você vai me olhar?
– Todas as noites.
– Ok. – Ela sorriu e me beijou, e só não fizemos amor ali mesmo porque era um jardim.

Ela apertava minha mão, mesmo que não exigisse muito esforço, pois estava fraca. Mas continuava linda. Linda como um anjo...
– Eu te amo muito.
Eu dizia enquanto beijava seu rosto suado. Ela assentia, e sussurrava que também me amava.

.
Uma enfermeira me chamou, me acordando de meus pensamentos. Sequei meus olhos e me levantei, ficando de frente a ela.
mandou isso para você. – Ela ergueu uma carta pequena para que eu pegasse, e assim o fiz. Agarrei o pequeno envelope em minha mão, e assenti me sentando novamente.

"Querido
Meu amor.
Eu me sinto extremamente culpada por ter te deixado ir embora. Dói em mim até hoje saber que eu fui uma tremenda idiota e o tirei de minha vida, sem nem ao menos te dar uma chance. Me perdoa por isso. Todos nós erramos, e às vezes é tarde demais para reparar o que estragamos. Mas você não desistiu de mim, ficou do meu lado. Eu juro que somente fui atrás de você naquele Starbucks porque eu estava me remoendo de saudades, e não me importava mais se você estava namorando ou não. Lá, meu câncer já era terminal, e a última coisa que eu queria no mundo era ter você do meu lado novamente. Eu sabia que se eu deixasse uma pista de que te queria de volta, você viria. E eu estava certa. Você voltou para mim. E eu fico muito feliz em saber que você me ama tanto assim. , eu sei o quanto está doendo em você, assim como está doendo em mim. Ficar sem você... Eu não quero, tanto quanto você não quer ficar sem mim. Mas a vida é cheia dessas armadilhas, e não podemos fazer nada para mudar isso. Só saiba que te amei com todo meu coração, como nunca amei ninguém antes; e que vou ser uma linda estrela, acompanhando você aonde você for. Você é o homem da minha vida, meu primeiro e o meu ultimo. Mas não quero ser a última da sua vida. Me prometa que vais seguir em frente, eu sei que irá cumprir. Não se esqueça das outras promessas que você fez, eu juro que estarei do seu lado para o que você precisar. Basta você olhar para o céu, ou escrever para mim. Eu acredito que todo o amor que você sente por mim, você irá guardar. Mas não deixe de sentir por outras pessoas, eu vou te mostrar o caminho. Eu sei que você é capaz de passar por isso. Amo você, com todo o meu coração. E eu vou sussurrar isso todos os dias em seu ouvido. (Não fique assustado). Eu te amo, não se esqueça! Adeus ! Você foi e sempre vai ser, meu porto seguro"

Don’t drop me in
(Não me visite)
It’s not my turn
(Não é minha vez)
If you cut deep
(Se você me ferir)
Then I might learn
(Quem saiba eu aprenda)
You scarred and left me
(Você cicatrizou e me deixou)
Like a sunburn
(Como uma queimadura de sol)

Me levantei, chorando, com as pernas bambas mas me levantei. Corri por aqueles corredores. Espalmei minha mão na vidraça. Ouvia os médicos gritando, correndo para todos os lados. Uns me pediam para sair dali, outros sussurravam para eu ficar calmo. A sensação de estar me afogando voltou, e apenas consegui me manter em pé pois alguém me segurava.
– Vamos sair daqui.
Liza me puxava para o lado. Mas tudo estava tão escuro. O barulho estava ecoando em meu ouvido.
Bip. Um bip sem fim, um bip eterno. Assim como o vazio em meu coração....

[12 anos depois...]

"Querida .
Faz tempo que não te escrevo, e peço mil desculpas. Eu te prometi que te deixaria por dentro de tudo, e aqui estou eu, escrevendo novamente para você, trazendo novidades a mais do que na última carta que lhe escrevi. Sei que de alguma forma você sabe muito bem o que escrevo pra ti, e sorri sempre quando lê. Eu tenho esperança disso. Eu sinto a sua falta , todos os dias. E não conversar com você, não ouvir a sua voz, não compartilhar momentos de loucura com você ao ir no jardim pela noite apenas para olhar as estrelas; me dói como se tivesse um buraco enorme no meu peito, como se todo meu corpo estivesse vazio. Tem um eco enorme aqui, mesmo depois de tanto tempo. Agora eu sei o que você sentiu quando você perdeu o seu pai. Eu nunca pude entender como é perder alguém de tremenda importância, mas agora eu sei . E eu sinto todos os dias por isso. Como eu queria que você estivesse aqui, desfrutando de uma vida maravilhosa ao meu lado. Mas você não pode e isso me aborrece. De alguma forma ainda te vejo, ainda ouço sua voz, ainda sinto seu toque em meu rosto. Ainda vejo seus olhos me observando com tanto desejo. E dói. E vai doer para sempre não te ter ao meu lado, pois era a coisa mais preciosa que eu tinha. Você não sabe o quão ruim é deitar a cabeça no travesseiro a noite e me lembrar dos momentos que tive com você. Uma parte de mim vai sempre te amar, e uma parte da minha memória sempre vai se lembrar de você. Para sempre, não importa o que aconteça. Pois bem, semana passada minha história sobre você foi publicada; e está tudo correndo muito bem por sinal, já ouvi muitos elogios e críticas. Todos estão se apaixonando por você. As pessoas sentem sua falta , até as que não tiveram a sorte de conhecê-la. Eu queria que você estivesse aqui para comemorar comigo. E ah, minha filhinha, (Em homenagem a você, não me mate), vai nascer daqui a um mês, e minha mulher, Megan, já está me deixando louco. Ela é um amor de pessoa, e às vezes murmura para si mesma como queria ter tido a chance de te conhecer. Então eu digo, que se você estivesse aqui para ela te conhecer eu não estaria casado com ela agora. E bom, ela ri de mim, e diz que eu iria perder "tuuuudo isso" enquanto rebola para mim. Você é a melhor pessoa que eu já conheci, mas ela não briga comigo quando me vê dançando com outra num bar (brincadeirinha). Eu sei que nossa filha vai ser tão linda e tão perfeita quanto você, simplesmente por ter seu nome.
, eu te amo com todo meu coração. Você me deixou, e deixou uma ferida enorme no meu coração. Mas agora eu aprendi, pelo menos. Não moramos dentro de um escudo de proteção. Sempre iremos nos machucar ou machucar alguém, sempre iremos sentir dor, e então iremos sentir felicidade, e então qualquer coisa que nos faça sentir vivos. É a vida não é? E você me ensinou isso. Obrigada por tudo.
Quase me esqueci, a Liza. Ah a Liza. Ainda me liga de vez em quando para saber como estou, aliás, é uma das melhores amigas de Megan. Da pra acreditar nisso? Ela está noiva agora, e muito feliz. O que me deixa contente até. Por ela, não pelo noivo. Brincadeira de novo... ou não.
Eu vou sentir sua falta para sempre, e isso vai arder em mim como uma queimadura, para sempre também. Mas, só de saber que fui amado por você, já me sinto bem. Você ainda está na minha vida. Eu espero que aonde você estiver, você ainda se lembre de mim, e me assista dai de cima. Ao lado do seu pai. Espero que você me ame tanto quanto eu te amo, ainda. Espero que você esteja bem, minha estrela.
Até a próxima , eu amo você!"





Fim!



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


CAIXINHA DE COMENTÁRIOS

O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


comments powered by Disqus