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Capítulo Um


It's just another night
And I'm staring at the moon
I saw a shooting star
And thought of you
I sang a lullaby
By the waterside and knew
If you were here
I'd sing to you
You're on the other side
As the skyline splits in two
I'm miles away from seeing you
I can see the stars
From America
I wonder, do you see them, too?


Janeiro, 2012

“Estou sentindo um pouco de dor.” admitiu, tentando levantar-se da cama hospitalar.
Zac tirou o braço ao seu redor e a deteve.
“É melhor para a sua coluna.”
Ela resmungou, e a mãe teve que concordar.
“A minha coluna não dói mais.”
.”
“O quê? Não é mentira.”
O doutor Adam, oncologista, adentrou o quarto da paciente, segurando uma prancheta, e sorriu.
“Hora de checar como você está.”
olhou para o senhor de cabelos brancos.
“Mais uma sessão de tortura?”
“Não.” Pôs a mão no bolso do jaleco. “Radioterapia.”

Entrando na outra sala, em uma cadeira de rodas levada por Zac, dois corredores após a ala dos quartos, a senhora Garret pediu para que tirasse a roupa.
Ela, então, virou-se para o garoto moreno.
“Zac, é...”
“Eu sei.” Ele a beijou na testa. “Vou esperar lá fora.”
“Obrigada.”
trocou a camisola atrás da cortina rosa e cobriu-se com uma toalha. Caminhou devagar até a maca, sentando-se nela.
“Ponha estes panos nos seios e na parte intima. Vou estar logo ali, observando-a.”
Os pontos pretos no seu pescoço foram retocados com uma tinta escura, para que as radiografias focassem naquela região.
“Mantenha-se imóvel.” Garret avisou, quando a garota já estava entrando no aparelho de tomografia.
fechou os olhos, e o primeiro raio foi disparado.

----

“Você venceu.” minha mãe resmungou.
“Ainda não acabou.” Movi o cavalo na D4. “Faltam três peças suas.”
Ela olhou para a rainha e para o meu cavalo.
“Garota esperta, mas...” Deslizou a torre até três casas. “Xeque.”
A porta do quarto foi aberta e Zac entrou.
“Jogando Xadrez?!” falou, aproximando-se. “Deveria descansar, .”
“Não estou cansada.”
“Senhora , bom dia.”
“Oi, Zac.” Ela o cumprimentou rapidamente, vendo-me mover outra peça. “Ah, não.”
Xeque-mate.” Sorri.
Zac sentou-se no sofá.
“Joga comigo?”
Antes que eu respondesse, entraram novamente no quarto.
“Com licença!” A senhora Garret trazia uma bandeja. “Que tal se a menina comesse agora?”
Acomodei-me no travesseiro.
“Não quero.”
A enfermeira deixou a bandeja sob a parte solta ao lado da cama.
“É batida de frutas.”
Estendi o braço, segurando o copo de plástico, e dei o primeiro gole.
“Está bom?”
Uhum...” fingi, com a expressão neutra.
Garret saiu após examinar o meu pescoço, então pude cuspir o suco no copo.
“Horrível!”
!” minha mãe reclamou.
“Vou pedir para trazerem outro.” Zac levantou, irritado, e bateu a porta ao sair.
“Qual é o problema dele?” Observava-o pela janela de vidro.
“Ele quer que a sua namorada fique bem.”
Fechei os olhos.
“Que horas são?”
“Dez e vinte.”
“Quanto falta para eu morrer?”
Nunca havia perguntado sobre a senhora Morte, porque achei que teria mais tempo antes de enfrentá-la. E não tocávamos no assunto.
Minha mãe não gostava.
“Vem. Vamos dar uma volta.” Tirou o tabuleiro da cama, colocando-o no sofá. Pegou a cadeira de rodas e ajudou-me a descer.

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O braço esquerdo de repousava sob a poltrona, na ala da Quimioterapia. Do outro lado do corredor estava uma paciente meio sonolenta, respirando através de um cilindro de oxigênio.
As alas eram divididas com cortinas, e vários médicos e enfermeiros passeavam por ali naquele horário.
Sentiu a agulha perfurar a sua pele.
“Depois da cirurgia vai poder voltar para casa.”
Ela desviou o olhar para a mãe.
“Nesta semana?”
“Não, em vinte e um dias.”
“Vinte e um?” exclamou.
“Veja pelo lado bom. Ao menos no fim do mês estará em casa.” A voz de alguém soou próxima.
virou a cabeça, deparando-se com um garoto apertando os dedos da mão onde o pulso havia sido agulhado, pela cortina um pouco aberta.
“Oi.” ele disse, sentindo-se envergonhado por ter duas mulheres encarando-o sem piscar.
“Quem é você?”
.” Estendeu a outra mão. “E você é...”
Ela não respondeu.
.” A mãe o fez, recebendo uma careta da garota.
“Prazer em conhecê-la.”
...”
“Não vai apertar a minha mão?” esperou. “Tudo bem.”
Catrina virou a página da revista.
Logo mais será liberado, senhor .” a enfermeira avisou.
ergueu os pés.
“Minha perna está machucada.”
“O que aconteceu?” Catrina perguntou, preocupando-se.
“Não sei.”
A mulher pegou a perna dela e fez uma massagem.
Pronto, senhor.”
“Obrigado.” Sacudiu a calça. “Passar bem, .”

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perdeu 12kg nos últimos cinco dias.” O doutor Adam conversava com Catrina, fora do quarto da paciente. “Está abaixo do peso saudável.”
“Alega que não sente fome.”
“É natural que não, desde que se tornou difícil para o alimento chegar ao estômago, mas é necessário que tente ou...”
O barulho se esvaiu ao redor deles e a tensão constante retornou.
“Segundo os exames, tem menos de nove meses de vida. Queremos que o tumor diminua para que ganhe mais tempo.”
Ela tapou a boca.
“É bom que a família esteja ciente de maiores complicações.”
Catrina assentiu, voltando para o quarto.



Capítulo Dois


So open your eyes and see
The way our horizons meet
And all of the lights will lead
Into the night with me
And I know these scars will bleed
But both of our hearts believe
All of these stars will guide us home


“Mãe, posso contar uma piada?” perguntei, vendo-a balançar a cabeça, lendo uma revista sobre corte e costura.
Estávamos mais uma vez na ala de Quimioterapia, e a agulha perfurava o meu braço.
Oi, gata. Qual é o seu signo? Câncer. Você é de Câncer? Não. Eu tenho câncer.
“Não teve graça, mocinha.”
Ri, fechando o livro.
“Estou com gosto doce na língua.”
“Só um instante.” Abriu a bolsa, procurando algo em meio à bagunça. “Deve ter algum chiclete aqui dentro...”
“Aceita de estranhos?” A mesma voz do dia anterior perguntou, sentando na ala ao lado.
Desta vez, a cortina estava toda aberta, e a minha mãe não precisou curvar a coluna para vê-lo.
.” Catrina cumprimentou-o.
“Olá!” Sorriu cordialmente. “E, então?”
Observei a cartela de chiclete na sua mão.
“Não, obrigada.”
“Se mudar de ideia...” Esticou o braço, pondo-o perto.
Apoiei a cabeça no encosto.
“O Zac não veio hoje.”
A enfermeira Garret, uma senhora negra, baixa, cabelo escuro e curto, passou pelas alas, distribuindo laços para as mulheres e gravatas pequenas para os homens, como convite para o baile do hospital. Os pacientes que viviam ali poderiam ter uma noite divertida no saguão, aberto apenas para eles.
“Sexta-feira, Júlia.” Afastou-se da moça e aproximou-se do garoto, pondo a gravata nele. “E você, bonitão, pode levar uma das pacientes.”
balançou a cabeça.
“Elas estão doidas para serem convidadas.”
“Onde essas doidas estão?”
Garret apontou para Júlia, do outro lado.

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“Senti a sua falta.” Zac beijou a namorada nos lábios. “Você está bem?”
“Aham.” suspirou, deitada na cama, respirando pelos aparelhos.
Ele tocou o seu rosto.
“Qual é o problema?”
“Estava na faculdade?”
“Sim.”
Ela virou a cabeça e fitou o teto.
“Não posso continuar sendo um empecilho na sua vida... Isso só vai acabar de um jeito.’’
.”
“Não vou sobreviver.”
.”
“Sabe que estou dizendo a verdade! O que ainda faz aqui?” Aumentou a voz.
, chega!” respondeu rudemente.
A garota fechou os olhos.
“Vá embora, Zac!”
“Desculpe. Não quis ser grosso, só... Qual motivo eu teria para ficar, se não fosse porque gosto de você?”
Ela passou os dedos no cabelo e depois abriu a palma; havia um monte de fios escuros.
“Sabe o que isto significa?”
“Não vai ser a queda do seu cabelo que vai mudar o que sinto. Não é assim, . Que homem eu seria se te abandonasse agora?”
“O mais esperto deles.”
“Um covarde.”

Mais tarde, foi guiada pelos corredores do hospital, com Zac empurrando a sua cadeira de rodas. Às vezes, ela segurava o ferro ao lado das rodas, parando-o, e dizia que sabia rodar sozinha. Mas o garoto, vez ou outra, ajudava sem que a garota percebesse.
Voltando para o quarto, avistou e a enfermeira Garret, rindo.

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“A Sam mandou um vídeo para você.” Catrina falou, tentando animar a filha naquela manhã de quinta-feira.
“Hum.” tossiu. “Estou cansada.”
Haviam-se passado dois dias desde que Zac fora visitá-la. A cada manhã, os efeitos colaterais da Quimioterapia apresentavam-se. No dia anterior, Catrina aconselhou-a a raspar o restante do cabelo.
“Sente muita dor?” Segurou a sua mão gélida. “Chamarei o doutor.”
“Não.” respirou fundo. “Desliga a TV.”
“Certo.” A mulher buscou o controle remoto. “Está confortável nessa posição?” Ela assentiu.
Catrina pegou o copo de plástico ao lado da cama, sentou-se perto dela e pôs contra os seus lábios.
“Beba um pouquinho.”
“Estou com fome.”
“É o seu lanche.”
“Mãe, quero comida...” tossiu novamente. “Não aguento mais engolir tanto líquido.”
“Todo sólido que for ingerido, voltará...”
“Para onde veio” completou. “Eu sei.”
Catrina a viu virar o rosto.
Quando voltou a olhar para a mãe, os olhos tão bonitos estavam cheios d’água.

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A cadeira de rodas parou na ala de Quimioterapia. Catrina, então, ajudou a sentar-se na poltrona. Ela avistou a mesma garota do outro lado do corredor, com a cânula no nariz para respirar através do cilindro de oxigênio.
Abriu o seu livro e começou a ler.
“Senhoritas.” disse, já sentado na outra poltrona.
“Ei.” Catrina o cumprimentou.
“Oi, .” Sorriu atrevidamente, mesmo sabendo que ela não gostava dele, por algum motivo.
“Quando está concentrada, não fala com ninguém.” A mãe explicou o seu silêncio.
“Entendo. Também sou desses...” Voltou à página. “Que livro ela está lendo?” perguntou sem desviar a atenção.
“É Antes do Amanhecer.”
“Gosta de romances.”
“Apaixonada por um.”
arqueou a sobrancelha para a mulher, e sorriu.
“Qual livro é o seu?” Catrina quis saber.
A Culpa é das Estrelas.”
A garota olhou o exemplar na mão dele.
“Você lê John Green?” perguntou, incrédula.
“Você não?” a encarou. “Cortou o cabelo.”
Ela revirou os olhos.
“Por que ainda está me olhando?” Levantou o livro, cobrindo parte do rosto.
“Nada.”
“Já li algumas histórias dele...” falou, após alguns minutos em silêncio.
“Gostou?”
“É.”
“Aqui a personagem Hazel Grace tem câncer e, de alguma forma desconhecida, me identifiquei.”
“Forma desconhecida.” debochou.
“Pelo que li, não será um final feliz.”
“Por que continua lendo se já sabe disso?”
“Tenho TOC. Não consigo começar algo e não finalizá-lo.”
O doutor Adam apareceu na ala e conversou com as mulheres, logo liberando .
“Até amanhã?” perguntou. “Posso emprestar o livro, se quiser.”
“Não gosto de finais tristes.” sentou na cadeira de rodas.
“Eles são inevitáveis.”
“É apenas uma história.”
“É a... Talvez tenha razão.”
“Até amanhã, .”



Capítulo Três


I can hear your heart
On the radio beat
They're playing 'Chasing Cars'
And I thought of us
Back to the time
You were lying next to me
I looked across and fell in love
So I took your hand
Back through lamp lit streets I knew
Everything led back to you
So can you see the stars?
Over Amsterdam
You're the song my heart is
Beating to


“Recebeu algum convite?” Minha mãe perguntou, com os braços cruzados, a respeito do baile à noite.
“Não” grunhi.
Meus olhos mal abriam e o meu corpo estava pesado.
“Pensei em comprar um vestido” insinuou.
“O que está escondendo?”
Ela tirou uma gravata azul cheia de bolinhas brancas de dentro da blusa.
“Alguém enviou para você nesta manhã. Agora tem um.”
“Quem me convidaria?”
“Não sei. Apenas escreveu Às sete em ponto e pediu à uma enfermeira para entregá-la.”
Peguei a gravata e senti o cheiro de perfume, fazendo-me torcer o nariz.
“É forte?”
“Derramaram o frasco no tecido.”
“Tentaram impressioná-la.” Catrina animou-se. “Quer que eu traga os vestidos para experimentar?”
“Não vou ao baile.”
“Por quê?”
“Nenhum vestido vai combinar com o meu cabelo.”
“Querida...”
“Porque não tenho mais cabelo!” enfatizei. “Não entende?”
Catrina suspirou.
“Se o cabelo é um problema, o resolverei.”
“Com uma fórmula mágica?” ironizei.
“Ei, mocinha, não precisa descontar o seu mau humor em mim!” reclamou.
“Desculpe, só estou cansada.”
“Voltarei daqui a pouco.”

----

“Não deveria fazer o tratamento hoje.”
escutou aquela voz alegre, mas não respondeu.
“E nem fingir que não há ninguém falando com você. Acho que passamos dessa fase.” sorriu, sentando-se na poltrona em frente, onde Catrina costuma acomodar-se para esperá-la na Quimioterapia.
“O que faz aqui?”
“Não é óbvio?”
“Está na minha ala.”
“Isso é óbvio.”
revirou os olhos.
“Não vou ao baile.”
“Por que não?”
“Mudei de ideia.”
apoiou os braços nos joelhos e tocou as mãos no rosto, percebendo o quanto parecia extremamente cansada. Os olhos abatidos, a pele pálida.
“Recebeu muitos convites?” a garota perguntou.
“Dois.”
“Sério?” desviou a atenção do livro.
Ele negou.
“São os pacientes que devem convidar as pacientas, o que torna tudo difícil.”
“Esperar para ser convidada e não receber convite é muito constrangedor.”
“Você ainda está esperando?”
“Não!” respondeu rapidamente e o seu rosto atingiu um tom vermelho.
sorriu.
“O seu namorado não se importa de vê-la dançando com outro cara?”
“O Zac não va... Como sabe que tenho namorado?”
“Acabei de descobrir.” Deu de ombros.
“Ele confia que eu não... Me interessaria por ninguém aqui.”
“Por que também temos câncer?”
Ela mordeu o lábio.
olhou para uma garota no outro lado do corredor.
“Está vendo aquela menina?”
“Estou.”
“O nome dela é Júlia, e é a minha convidada para o baile. Ela também tinha um namorado antes de ser diagnosticada com câncer. Sabe o que ele fez? Terminou o namoro de dois anos. Sabe por quê?”
“Não.”
Ela tem câncer.”
notou que era a mesma garota que via todas as vezes ao fazer o tratamento.
“Júlia aceitou ir comigo ao baile porque somos iguais.” a encarou. “Somos todos iguais, . Eu, você, Júlia e todos os pacientes daqui.”
se manteve em silêncio.
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“Mãe, você está vendo alguém suspeito?” perguntei, procurando ao redor, na entrada do saguão.
Haviam enfeitado o local com jogos de luzes, globo giratório e balões coloridos.
“Não.” Catrina respondeu. “Tenho que ficar lá fora, você sabe. É só para os convidados.”
“Droga! Onde ele está?”
“Achei que tivesse sido quem enviou o convite, mas não quis comentar a respeito.”
“Por que ele faria isso?” Encontrei o garoto dançando com Júlia no meio da pista. “A peruca saiu do lugar?” Segurei os lados do cabelo castanho postiço.
“Você está linda!” Beijou-me na testa. “Se estiver cansada, apenas volte para o quarto, e estarei por lá.”
“Ok.”

Fiquei esperando quem havia me convidado para o baile, mas a criatura não apareceu. Talvez o fato de eu ter dito que não iria mais tivesse se espalhado, prevenindo-o de sobrar na festa. Sentada perto das mesas, pensei em como os últimos três anos passaram correndo. No dia 11 de Dezembro, três dias após o meu aniversário e três meses depois do acidente do meu pai, tive o primeiro desmaio. Toda a guloseima daquela noite voltou pelo esôfago, em forma de refluxo. A partir daí, a minha vida despencou.
O número três virou o meu número do azar.
Todas as vezes em que vi dona Catrina chorar, não saberia dizer se ainda era pela morte do marido ou pela doença da filha. Talvez os dois. Talvez, ela quisesse apenas que Deus a tirasse daquela situação. E eu não a culpava.
Contaram-me que a senhora Morte aparece quando menos esperamos. Só rezo para que seja quando eu estiver dormindo e que não doa mais nada.
olhou para mim e falou algo à Júlia, logo aproximando-se.
“Bela peruca.” Sentou ao meu lado.
“Belo smoking.”
Ele sorriu.
“Você disse que não viria ao baile.”
“Já estou arrependida de ter vindo.”
“Cadê o seu acompanhante?”
“Boa pergunta.” Suspirei.
franziu a testa e pareceu entender.
“Que falta de cavalheirismo.”
“Pode apostar que sim.”
Ele analisou o meu vestido.
“Você está muito bonita.”
“Obrigada.” Senti as maçãs do rosto esquentarem. “E, então...”
“Sou eu que falo essa frase. Não inverta os nossos papéis” resmungou, afetado.
“Claro, senhor .”
é para os mais velhos. Me chame de .”
“Pulamos para a fase dos apelidos?” Arqueei a sobrancelha.
“Os amigos fazem essas coisas. Você agora não é minha amiga?”
“Sou?” Cruzei os braços.
“É. Agora me diz o seu.”
.”
” repetiu, como se estivesse analisando. “Gostei.”
Balancei a cabeça, com um sorriso no rosto, e a senti rodar.
“O que foi?” perguntou, segurando-me pelos ombros.
“N-nada.”
, você...”
Fechei os olhos.
!”
Não escutei mais nada depois disso.

----

?”
A garota abriu os olhos.
A claridade do quarto fez a sua vista arder, e Catrina rapidamente fechou a persiana. Sentando ao lado dela, beijou-a na mão.
tentou curvar a boca, os lábios rachados, e os seus batimentos cardíacos aceleraram.
“Está tudo bem agora” a enfermeira Garret avisou.
“O que aconteceu?” A voz saía arrastada.
“Você teve uma queda de pressão.”
“E a trouxe para cá” sua mãe completou.
“Onde ele está?”
Catrina olhou para a senhora Garret.
“Tiveram que levá-lo para descansar. Não quis sair de perto de você até que estivesse respirando novamente.”
observou a porta fechada.

----

voltou à ala da Quimioterapia, na outra semana, esperando encontrar para que pudesse perguntar se estava bem.
Ela não apareceu.



Capítulo Quatro


So open your eyes and see
The way our horizons meet
And all of the lights will lead
Into the night with me
And I know these scars will bleed
But both of our hearts believe
All of these stars will guide us home


“É a sua vez” avisei, vendo-o concentrado nas peças do tabuleiro.
As brancas estavam em maioria, ou seja, eu vencia de novo. mantinha uma mão abaixo do nariz.
Havíamos sentado na mesma ala, mesmo que o tratamento tivesse acabado há algumas horas.
“Hum.” Moveu o bispo. “Xeque.”
Provavelmente não sabia que o meu rei poderia acabar com ele.
“Não mais.” Peguei a peça, pondo a minha na casa verde.
entortou a boca.
“Dê adeus ao seu peão, madame.”
“Um peão não vale tanto quanto um bispo.” Movi outra peça.
“Aposto que se tivesse apenas ele para salvar o rei, valeria.”
“Nesse caso...”
Percebi, na segunda partida, que mexia a perna de maneira frenética. Ergui o olhar, e a sua testa estava franzida. As sobrancelhas eram grossas, os lábios, desenhados, o formato do rosto um pouco largo e as mechas do cabelo caiam na testa.
Ele ainda tinha cabelo e isso era curioso.
“Qual é o câncer que você tem?”
“O quê?” Moveu a rainha.
“O câncer.”
“Carcinoma de células renais.”
“O que é isso?”
“Câncer nos rins.”
Abri a boca, sem esboçar nenhum som.
“É a sua vez agora.”

me levou de volta para o quarto, empurrando a cadeira de rodas. E, como de hábito, avisei que sabia fazer aquilo sozinha. Ele insistiu, mesmo mancando, e acabou parando para sentar-se no banco do corredor.
A minha mãe abriu a porta e entrou primeiro.
“Obrigada.” Agradeci.
“Quer ir lá para fora?”
“Podemos?”
“Bem, não fui diagnosticado com problemas com o sol. Você foi?”
“Não.” Sorri.
“Então esteja aí, porque posso passar em qualquer horário.”
“Como se eu fosse fugir...”
Ele levantou e, devagar, seguiu pelo corredor.

----

“Onde a está?” Zac perguntou ao entrar no quarto e avistar a cama vazia.
Catrina conversava com uma enfermeira no corredor.
“Ah, Zac!” Cumprimentou-o. “Ela foi dar uma volta.”
“Sozinha?” Estranhou.
a levou e...”
Uma ruga de ceticismo apareceu entre as suas sobrancelhas.
“Quem é ?”
“O paciente.”
“Senhora , está andando por aí com um paciente?”
“Sim, e é um garoto adorável.”
“Céus!” Zac saiu do quarto, atravessando o corredor, apressado.

Os pneus das cadeiras de rodas batiam-se à medida que a de aproximava-se da minha.
Eu sorria.
Era como se estivéssemos brincando de carrinho de bate-bate no meio do corredor com acesso ao jardim, o que se tornava ridículo para quem nos via.
“Você não sabe girar assim.” controlou a cadeira pelos botões. “Veja o meu poder” e ergueu os braços. “Tenho o controle em minhas mãos e posso fazer o que quero. Tenho escolhas. Não soa tentador?”
Assenti, balançando a cabeça.
“Estou vendo quatro ’s.” Apertou os olhos ao parar. “Devo ter sigo um garoto muito bom na outra vida.”
A quentura no meu rosto apareceu.
, por que você é assim?”
“Como? Feliz?” Cruzou os braços.
Intenso” respondi.
Ele começou a rir alto.
“Me acha intenso, ?”
Um barulho apressado, batendo no piso, nos chamou atenção.
encarou algo atrás de mim, e o acompanhei.
“Zac.”
, você está bem?” Segurou o meu rosto. “Fiquei preocupado que pudesse ter acontecido alguma coisa.”
“Estou ótima.” Tentei tranquilizá-lo. “Como descobriu que vim para o jardim?”
“A sua mãe avisou.”
“Ah.” Franzi os lábios, virando-me para o garoto na outra cadeira. “Este é .”
estendeu a mão, e Zac relutou antes de apertá-la.
“E este é o meu namorado...” falei.
“Vamos voltar? Você precisa descansar.”
Concordei, e ele empurrou a minha cadeira. Virei o corpo, no meio do caminho, acenando para .

----

Os dias passaram depressa na última semana do mês de Abril. Faltavam menos de doze horas para que voltasse para casa e continuasse o tratamento lá. A cirurgia seria feita no início da tarde.
“Oi” a garota falou.
Catrina sentou-se na ala ao lado dos adolescentes, entretendo-se com uma revista.
mantinha a expressão neutra.
“Oi” respondeu, grunhindo.
“Ainda não terminou de ler?” Notou o livro na mão dele.
“Não.”
“Você está com raiva?”
arqueou a sobrancelha.
“Por que eu estaria?”
“Não sei. Era apenas para quebrar o silêncio.”
Ele riu levemente.
Pela primeira vez, percebeu o quão fraco parecia, analisando-o de perto.
E, então... Conseguiu a passagem para ir para casa?”
“Sim.” Animou-se.
“Quanto ela custou? Estive pensando em visitar o Miqueias.”
“Miqueias?”
“É o meu labrador.”
estranhou.
“Se pudesse voltar para casa, seria para visitar o seu cachorro?”
“Os cachorros também sentem a nossa falta.”
“E a sua família?”
“É o Miqueias” respondeu, como se fosse um detalhe óbvio.
trocou olhares com a mãe, sentindo-se péssima pela pergunta.
, me...”
“Não tem problema. Miqueias e eu nos entendemos.”
Ficaram quietos, escutando as conversas dos outros pacientes e os conselhos das enfermeiras.
“Se eu ganhasse a passagem para casa, a recusaria. Só gostaria de saber se ele está sendo bem cuidado. Não tenho mais para onde voltar.”
“Para o mesmo lugar de onde veio.”
suspirou.
“Esse lugar não existe mais. Há uma grande diferença entre o lugar onde você mora e o seu lar.”
“Aqui é um lar para você?”
“É o que tenho.”
A enfermeira Garret aproximou-se deles.
“Menina , preciso levá-la para o quarto e prepará-la para a cirurgia.”
Catrina levantou da cadeira, ajudando a filha.
observou.
“Mãe, pode...” tentou dizer, embaraçada.
“Ah! Claro.” A mulher pegou a bolsa e afastou-se com a enfermeira.
“Acho que tenho que me despedir.” sorriu para o garoto.
“Está com medo?”
“Um pouco.”
“Vai dar tudo certo. Meditarei coisas boas.”
“Obrigada.” Segurou as rodas.
A expressão pesarosa no rosto.
“O que foi?”
“Nada.”
curvou a coluna e o seu rosto ficou muito perto do dela.
“Boa sorte.” Beijou-a na bochecha.

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Nos dias em casa, Catrina preparava-lhe sopa de legumes moídos e nada de suco de frutas. caminhava, arrastando-se pelas paredes, até a janela ou o quintal. Nas tardes, sentava-se na cadeira de balanço e assistia desenhos.
Sam, a sua melhor amiga, visitou-a diversas vezes.
Usava agora turbante na cabeça, enquanto, deitada na grama, sorria, avistando o céu.
Deveria tomar sol todas as manhãs.
“Esse é o melhor cheiro do mundo.” Respirou fundo.
“Qual?” Catrina perguntou ao seu lado.
“Ar puro.”

A partir do décimo dia, o estado de reverteu-se. Os dias de paz transformaram-se em melancolia. Não levantava mais da cama, preferindo dormir a maior parte do tempo. Às vezes escorria sangue pelos lábios, melando o travesseiro.
Estava adoecendo mais.
Catrina ajoelhou-se na borda do colchão, após limpar a filha com um pano.
“O que está sentindo?”
O olhar de parecia vazio.
Saudade.”

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, olha quem queria te ver” a senhora Garret falou, segurando Rosalie nos braços.
Era uma das pacientes com menos de cinco anos de idade da ala infantil.
A enfermeira a colocou no colo do garoto sentado na cadeira de rodas. brincou com a criança, enquanto atores vestidos de médicos animavam as outras, cantando o abecedário em inglês.
“Você sabe cantar essa música, Rose?”
Ela assentiu.
A, B, C, D, E” soletrou baixinho.
sorriu.
“O que mais?”
F, G, H, I...

Uma cadeira de rodas adentrou a porta dupla do hospital. O doutor Adam parou para falar com a sua paciente, pedindo explicações do porquê de ter voltado tão depressa, quando poderia estar em casa. Enquanto a sua mãe respondia, avistou, de longe, a ala infantil, encontrando um garoto magro, cabelo raspado e a pele pálida, cantando. Se não fosse pela animação dele, não imaginaria que aquele era .
O olhar do garoto cruzou o seu, surpreendendo-se.
----

passou o mês de Maio conversando mais vezes com sobre os seus sonhos, objetivos e o que vinha em mente, na mesma ala de sempre.
“Pretendo conhecer o Brasil.”
“Minha mãe não me deixaria atravessar o Oceano.” contestou.
“Podemos ir juntos.”
Catrina parou a leitura.
“Calminha aí, garoto!”
Os adolescentes riram.
“Desculpe, senhora .”
“Vamos escondidos” cochichou.
“Estou escutando, ” a mulher cochichou também.
sorriu.
“Para onde quer ir?”
“California, bitch.”

Em uma dessas manhãs, admirava lendo outro livro. A sobrancelha dele se erguia, enquanto lia as cenas, como se estivesse realmente vivenciando aquilo.
“Mais um romance?” perguntou-lhe.
“Sim.”
“Sobre o que é o enredo?”
“A mulher perde a memória, então o seu marido faz o que estiver ao seu alcance para fazê-la lembrar-se dele.”
“E ela nunca lembra.”
“Ela tenta, mas acho que não vai conseguir.”
“E o marido?”
“Continua fazendo o mesmo.”
revirou os olhos.
“Até a mulher dar-lhe um chute na bunda.”
“Não. Ela percebe que existe algo real nisso.” deu de ombros. “O que você está lendo?”
“São palavras-cruzadas.”
observou a revista na sua mão.
“Qual é o nome do paciente mais sexy do mundo?” perguntou.
“Não tem essa pergunta.”
“Mas tem a resposta: .” Deu um sorrisinho. “Eu.”
riu escandalosamente, fazendo-o tapar a sua boca.
“Shhh!”
“Ok.”

Os dois estavam em silêncio, no fim da semana, quando , olhando para o garoto, o beijou pela primeira vez, de repente, no jardim. A senhora , a princípio, não vira.
De tão rápido, não se moveu.
“Amigos fazem isso?” perguntou em voz baixa.
“Nós fazemos.”

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Eles beijaram-se outra vez. E outras vezes...
Mas não fora rápido e de repente. Ambos sabiam que, mesmo sendo errado, quando os lábios se juntavam, nem a incredulidade no rosto da senhora importava. Na verdade, não sabia se a mãe tinha visto. Também não comentaram o ocorrido.
As semanas posteriores terminavam como se nada tivesse acontecido, mas com dois adolescentes cheios de vontade de segurar as mãos, apenas para ter onde tocar um no outro.
“Você quer sair daqui?” perguntou, certa vez.
“Para onde?”
“Tem um lugar onde quase ninguém vai” respondeu, inseguro. “Não podemos ir agora.”
“Quando poderemos?”
“À noite.”
abriu a boca.
“O quê?” Ele sorriu, ruborizando.
“Está tentando me sequestrar?”
“Eu não te avisaria, caso fosse um sequestro.”
“Tá. O que tenho que fazer?”
surpreendeu-se.
“Quando a senhora dormir, saia do quarto. Vou esperá-la no final do corredor.”
“E se alguém aparecer?”
“Finja que é sonâmbula.”
“Por que não pensei nisso?”
“Sou o mais inteligente, e você a mais bonita.”
“Só por que sou garota?” Cruzou os braços.
“Não, porque simplesmente é.”
avaliou a resposta.
“Sendo assim, obrigada.”

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Passava da meia-noite quando abriu os olhos, após ter fingido dormir cedo. Ergueu a coluna, devagar, posicionando as pernas para fora da cama hospitalar. Avistou a mãe dormir agasalhada, no sofá encostado na parede em que havia a janela. Tirando alguns fios grudados no corpo, caminhou, arrastando-se até a porta, com a cânula no nariz.
Ela tremia.
Não por causa do frio.
Era outra coisa a qual não sabia nomear.
Respirando fundo, abriu a porta, movendo a cabeça para os dois lados e, então, seguiu na direção direita.
estava lá, segurando uma cadeira de rodas.

O garoto tentou correr, empurrando a cadeira de , e pendurava-se no ferro abaixo das rodas, fazendo-a sorrir. Esquivaram-se dos enfermeiros e médicos de plantão no caminho. Acabaram entrando em uma sala inabitada atrás de uma cortina clara, onde a luz do corredor batia, revelando a silhueta de ambos.
entrelaçou os dedos nos dela.
“Já veio aqui antes?” perguntou, observando ao redor.
“Não.”
“É uma sala restrita?” temeu.
“Se nos pegarem, estaremos ferrados.”
notou a cama hospitalar forrada.
.”
“Hum?’’ Olhou para ele.
levou a sua mão aos lábios, beijando-a.
“Você está tremendo.”
“Estou...”
Ele a abraçou, e pôs os braços ao redor da sua cintura.
“O que estamos fazendo?” perguntou baixinho contra o ombro dele.
“Nos abraçando.” sorriu.
“Não é o que eu quis dizer.”
“Dois motivos fazem o meu coração bater agitado. O primeiro são os aparelhos. O segundo está nos meus braços. Isso explica o que eu estou fazendo.”
afastou o rosto, ainda segurando-o, e encostou a boca no canto da dele.
“Deixe-me beijá-la agora.” sussurrou.
“Beije-me.”
O garoto curvou a cabeça até os lábios se encontrarem de novo.
Por trás da cortina, via-se braços levantados e as roupas de enfermos serem tiradas.

acariciava a cabeça de , enquanto ela estava com as pernas entre as dele e um lado do rosto sob o seu peito.
Dizia que o restante das suas forças seriam para cuidar dela.
“Cuide de si mesmo e poderemos ir embora.”
“Não tenho para onde voltar, esqueceu?”
“Você moraria conosco como um filho da minha mãe?”
franziu a testa.
“Agiremos como irmãos?”
“Não. Poderá levar Miqueias. Eu tenho uma cadela. Eles poderão...” ruborizou. “Você sabe.”
riu, assumindo uma expressão séria, em seguida.
“Não posso sair daqui. O estágio da minha doença está em um nível delicado. Os médicos acabarão virando os meus pais, e as enfermeiras, minhas mães.”
pensou por instantes.
“O que houve com os seus verdadeiros pais?” perguntou baixo.
Ele suspirou.
“Minha mãe era usuária de drogas e morreu de Overdose. Meu pai me abandonou depois disso. Fui criado pela minha avó materna até pouco tempo, quando descobri o tumor no rim esquerdo. Ela vem me visitar às vezes.”
beijou o seu peito pálido, deslizando a mão pela sua barriga.
.” ofegou ao sentir o aperto . “Não.” Puxou a mão dela.
manteve-se parada, enquanto permaneciam quietos.
Meia hora depois, havia ido ao banheiro e sentido ardência ao urinar, um dos sintomas da doença.
Ao retornar, abraçaram-se nus, em pé, e o garoto encostou a testa na dela, antes de voltarem para os seus quartos.



Capítulo Cinco


Pt.1

And, oh, I know
And, oh, I know, oh


encontrou-se com em mais uma quarta-feira. Falou que leu o final do outro livro e gostou.
“Mas não é triste?” perguntou.
“Não exatamente.”
“Como assim?”
“Augustus amou Hazel em cada instante, após perceber que estava apaixonado. E Hazel lhe retribuiu. Ela ainda teve tempo de se despedir.”
“Então, ele morre no final?”
“Bom, você terá que ler.” Estendeu o exemplar.
negou.
” pediu de maneira branda.
A garota revirou os olhos.
“Está bem.”

Ao retornar para o quarto, com a ajuda de uma enfermeira, pediu à senhora Garret uma caneta e bloco de papel, perguntando se ela poderia entregá-lo à outra paciente.
?”
“É.” Sorriu.

Nunca vi o meu pai ser agradável com a minha falecida mãe. Eu assistia aos filmes americanos e escutava os maridos chamando as suas esposas de “queridas”. Através disso, a criança de 10 anos aprendeu que as garotas merecem ser tratadas de maneira carinhosa. Por isso, não poderia deixar de começar esta carta, se não assim:
Querida ,


E foi escrevendo por horas à fio.

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“Estou entediada.” resmungou, enquanto fitava o teto branco do quarto, no dia seguinte.
Catrina suspirou no sofá, colocando a mão na base da mandíbula.
“O que quer fazer?”
“Podemos ir para a Quimioterapia?” respondeu rapidamente.
“Você nunca gostou.”
“Aprendi a gostar...” desconversou.
“Não há ninguém na ala e você tem que fazer exame de rotina hoje.”
“E o ?”
“Não apareceu.”
olhou para a sua mãe, analisando se falava a verdade, quando foi interrompida por uma batida na porta.

Pt. 2

I can see the stars
From América


(Coloque para tocar)

lia em voz baixa a carta que haviam trazido, enquanto Catrina mantinha a curiosidade contida, vendo-a na cama.

Tenho certeza que escrevo esta carta porque ela chegará até você, antes que nos encontremos na Quimioterapia, para jogar conversa fora, enquanto nossos braços são perfurados de novo e de novo. Desculpe-me pela letra horrível, mas é a que tenho hoje.
Ela sorriu.
Estive pensando em escrever tudo o que sinto neste exato momento, porém acho que você ficaria cansada de ler tanto sobre o amor. Não sei. Talvez não sinta o mesmo e se assuste. E ainda que eu tenha razão, continuarei sentindo isso até que Deus, com a Sua tamanha bondade, faça-me esquecer. O problema é que não quero esquecê-la, . Os últimos três meses foram os melhores três meses em 17 anos. Todas as vezes que perguntarem o porquê, vou dizer o seu nome e chamá-la para que eu possa apresentá-la aos curiosos. Estou ciente de que, nas minhas chamadas, você pode não aparecer, mas a imagem do seu rosto se formará em minha mente e, então, sorrirei como se fosse a primeira vez que a vejo. Falando em primeiras vezes...
Ela riu, limpando os olhos.
Como sou um cavalheiro, não entrarei em detalhes daquela noite na sala restrita. Só espero que você tenha gostado tanto quanto eu. Falo da primeira vez que nos encontramos. Na verdade, que a encontrei. Você estava resmungando sobre os vinte e um dias que faltavam para voltar para casa, então, com atrevimento, entrei na conversa e fui recebido com xingamentos mentais – estou certo? – e indiferença, o que não abalou o meu espirito aventureiro em habitar os mais difíceis terrenos. A senhora Garret, uma vez, pediu para que eu fechasse os olhos, lembrasse o dia anterior e o que mais deu prazer nele. Todos os dias, me lembrava de você. Deve ser porque a amei a partir de cada palavra dita e ignorada, em cada pergunta não respondida, em cada olhar revirado, e em cada sorriso seu que eu conseguia arrancar, antes de saber que havia me apaixonado. Quando soube, a amei com tudo de mim.
soluçou.
“Querida.” sua mãe se aproximou, acomodando-se ao lado dela na cama.
Hazel Grace, personagem daquele livro, despediu-se de Augustus, sem saber que ele morreria dali há alguns dias. Pensei, então, que esta carta pudesse ser a minha despedida. Não conseguiria lê-la em voz alta, porque tornaria o fim mais real, e a fantasia nunca me pareceu tão certa.
A culpa não é das estrelas. É da gente. É de quem sabe que tem uma bomba dentro de si e quer fazer outra pessoa carregá-la consigo.
A senhora Garret está vendo a minha pressa para terminar de escrever. As dores estão voltando e são insuportáveis. Se não conseguir ler o restante, desculpe-me outra vez. Prometo que farei caligrafia.

Catrina beijou a cabeça da filha.
Queria atravessar os corredores para abraça-la novamente, mas não consigo levantar da cama. Queria que essa bomba explodisse e, ao mesmo tempo, que ela não tivesse contagem regressiva. Queria não estar morrendo. Queria a minha mãe de volta. Queria que a minha vó viesse me visitar mais vezes e trouxesse o meu cachorro. Querer me parece muito distante agora.
Sei que existe uma linha imaginária entre o presente e o futuro. Sei também que nessa linha há infinitas possibilidades de darmos certo. E eu só peço que o certo seja um final feliz.

.


chorou, sendo consolada pela mãe.
“Preciso vê-lo.” Afastou-se, aos soluços.
“Espere!” Catrina ajudou-a a descer e buscou a cadeira de rodas.

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No início da madrugada, um médico entrou às pressas no quarto do paciente . O barulho do monitoramento seguia em linha reta.
O garoto sofreu uma parada cardio-respiratória.
O médico colou o desfibrilador no tórax dele, e o corpo de subiu com o choque.

Não havia acordado no primeira, segunda e terceira tentativa.
O médico aumentou a descarga, pressionando contra o seu tórax.
O corpo caíra na cama.

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“Oi, .” sorriu atrevidamente, mesmo sabendo que eu não responderia.
“Quando está concentrada, não fala com ninguém.” Minha mãe explicou o meu silêncio.
“Entendo. Também sou desses...” voltou a página. “Que livro ela está lendo?” perguntou sem desviar a atenção.
Fingi estar concentrada na história de Celine, deixando o garoto falar sozinho.
“É Antes do Amanhecer” Catrina respondeu.
“Gosta de romances.”
“Apaixonada por um.”
Arqueei a sobrancelha para a minha mãe, e ele sorriu.


Enquanto minha mãe empurrava a cadeira de rodas e, desta vez, eu não reclamava, parecia que estávamos voltando para o mesmo ponto.
, senhora ?” Zac nos parou no terceiro corredor perto da entrada.
Engoli o soluço.
“O que houve, amor?”
“Vamos, mãe! Não posso perder tempo!” resmunguei alto, deslizando as rodas.
Zac, sem entender, nos seguiu.
“Alguém pode explicar o que aconteceu?”
“É o .” Catrina respondeu.
“Quem é ?” Franziu a testa. “Espere. Aquele paciente?”
“Sim. quer vê-lo.”
“Por quê?”

A senhora Garret estava na porta do quarto de .
A sua expressão fácil era de quem não havia dormido nada. O doutor Adam respirou fundo, lá dentro, observando o paciente.
“Onde o está?” O lábio de tremeu. Os olhos cheios d’água.
“Sinto muito.”
Então, de repente, tudo se apagou.

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?”
Ela abriu os olhos, piscando-os.
“Você está bem?”
Ergueu a coluna, levantando da cama hospitalar, vendo apenas o esboço daquele rosto deitado sob o travesseiro, usando o inalador.
“Estamos no céu?”
A voz sorriu fraco, abafada.
“Não. Você desmaiou e a colocaram na cama ao lado.”
desceu rapidamente.
“Ei, cuida...”
Ela curvou o corpo, abraçando-o desajeitadamente.
“Achei que tivesse... Droga!” fungou.
“Você está chorando?”
“É a maneira de demonstrar que eu me importo.”
assentiu.
“Vai acontecer mais vezes...”
beijou a mão dele.
“Eu sei.”
“Somos duas bombas, lembra? Está na carta.”
“Essa não é a maneira mais gentil de me mandar vazar e, mesmo que fosse, eu não iria.”
“Você não seria a que eu conheço, caso vazasse.”
Ela sorriu sem mostrar os dentes e pegou algo dentro da roupa.
a observava desdobrar um papel.
Sei que existe uma linha imaginária entre o presente e o futuro. Sei também que nessa linha há infinitas possibilidades de darmos certo. E eu só peço que o certo seja o nosso final feliz.” mordeu o lábio. “Quero esse final, .”
Ele apertou a sua mão.
“Eu também.”

Na porta do quarto, a senhora e a enfermeira Garret assistiam os dois conversarem em voz baixa, após terem-nos deixado a sós, descansando.
Zac estava falando com o doutor Adam a respeito do desmaio de , antes de entrar, vendo a namorada cochichando algo com o paciente.
Pareciam íntimos demais.
“Ela já acordou.”
Catrina assentiu, observando-o rapidamente.
“Faz pouco tempo.”
A mão de tocou o rosto de .
Zac franziu a testa.
“Senhora , tenho que perguntar-lhe algo e adoraria que fosse franca.”
“Claro.”
está apaixonada?”
Catrina surpreendeu-se com aquela pergunta, analisando com mais cuidado os adolescentes à sua frente.
Estava? Ela nunca admitiu.” questionou a si mesma.
Olhe bem para a sua filha. Você já teve essa idade.”
“Acho que está.”
Zac suspirou, pondo as mãos nos bolsos da calça jeans.
“Por que não estaria? não é qualquer .”
Ela sorriu.
“Existe amor para todo mundo. Algumas pessoas escolhem não ser amadas, mas amam, porque ele existe especialmente para elas.”
“Amar sem esperar nada em troca.”
“Não exatamente.”
“Não?” estranhou.
“No fundo, os jovens sempre esperam que o primeiro amor seja o melhor dos que ainda estão por vir. Querem ser correspondidos. Amar sem pedir nada em troca é a forma menos dolorosa de amar.”
Zac entendeu.
Ele amaria , indo todos os dias ao hospital apenas para saber se ela estava bem, ou telefonando para a sua mãe, pedindo notícias, quando não pudesse aparecer. A amaria do jeito de sempre, mas, desta vez, sem pedir nada em troca.
“Acho que vou indo.”
“Não vai falar com a ?”
Ele a viu sorrir para o paciente.
“Outro dia.”
Enquanto caminhava, já fora do quarto, Zac apoiou as mãos no pescoço, como se fosse engasgar.
“Zac!” chamou na porta.
Ele não havia escutado na primeira vez, mas quando a voz chegou ao seu ouvido, não virou.

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Segundo o doutor Adam, teria apenas nove meses de vida. Mas os noves meses foram tão longos que se transformaram em um ano e pouco até hoje, Março de 2013. Ela conheceu a maioria dos pacientes da sua e das demais alas, até mesmo a infantil, quando foi algumas vezes com . O garoto a apresentou Rosalie, e a criança não desgrudou mais de . Pela insistência de , conversava com Júlia, emprestando-lhe livros para que não perdesse a esperança. Viraram amigas, até.
Há dois meses, a senhora , a avó materna de , o visitou no hospital, levando Miqueias para que ele o visse.
Certa vez, deu a ideia de passear longe dali. Mesmo relutante, Catrina conseguiu a permissão do médico.
“No que você está pensando?” perguntou a , sentados sob uma canga, na areia da praia.
Ele observava as gaivotas à beira do mar.
“Em nada.”
Miqueias latiu, e o garoto o acariciou abaixo da orelha.
“Gostaria de atravessar o Oceano com você.” disse, fazendo-o sorrir.
apertou o cobertor, que dividia com ela, no corpo.
“Tenho que pedir uma coisa.”
“O que você quiser.”
“Quero que fique com Miqueias.”
franziu a testa.
“Quando eu morrer, quero que fique com ele.” explicou.
“Não vamos falar disso.”
.”
“Tudo bem, ficarei” respondeu rapidamente. “Satisfeito?”
“Obrigado.”
Ela deitou a cabeça no seu ombro, em silêncio.
“Nossos corações sempre serão a minha casa... Não importa onde os meus pés ou a minha mente vagueie.”
beijou-a na cabeça.
“Quem inventou isso?”
“É uma música.”
“Ei, acho melhor voltarmos.” Catrina disse, aproximando-se deles. “Está ficando tarde.”
“Espere um minuto.” levantou, puxando , e juntos, seguiram até o mar, banhando os pés.
Miqueias correu logo atrás.

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Julho, 2013

“Vamos para casa!” avisou, sorridente, entrando no quarto de , na cadeira de rodas.
O garoto estava sendo analisado por uma enfermeira.
“O que disse?”
Catrina e o doutor Adam entraram em seguida.
“Não parece ser o mais adequado, mas acreditamos...” piscou para . “Que será bom para você. Isso se estiver de acordo.”
concordou, surpreso.

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“Consegue sentir esse cheiro?” perguntou, deitada ao lado de no jardim da sua casa.
“Sim.” Suspirou.
“Não é bom? Poderia morrer sentindo-o.”
“É delicioso.”
franziu a testa e virou o rosto.
“De que cheiro está falando?”
“Do seu cabelo.” Sorriu. “Cheira a baunilha.”
A garota riu, voltando a observar o céu.
“Obrigada. Mas estava me referindo ao ar.”
resmungou alto.

Setembro, 2013

Eu via sentada de costas no sofá, vendo o próprio reflexo pelo espelho de mão, enquanto eu assistia a um filme. Ela tocava o rosto, parecendo não gostar do que estava ali. recuperava o aspecto saudável, apesar de ainda tomar alguns remédios após a cirurgia no ano passado.
Não se cansava tanto. Não como antes.
“Não se preocupe, eu te acho bonita.”
Ela assustou-se, ruborizando.
“Obrigada.”
“Só que não adianta nada se você não se achar.”
“Eu sei.”
“Sente-se aqui comigo.”
acomodou-se no estofado roxo, dobrando as pernas, e retirei o espelho da mão dela.
“Chega disso” reclamei.
“Tudo bem. Você está com fome?”
“Não.”
“O que quer fazer?” Notou os créditos passarem na tela.
Beijei-a.
...”
“Quero fazer o que estou fazendo agora.”
E nenhum deles se importou com a música romântica que começou a tocar.





Epílogo


2015

“Para onde estamos indo?”
agachou-se ao escutar aquela voz macia.
“Para um lugar chamado Brasil.”
“Onde fica o Basil?” perguntou, curioso.
sorriu.
“Do outro lado do Oceano.”
“É muito longe?”
“Nós vamos voando.” Segurou a mãozinha dele, atravessando a ala de embarque.
O menino virou a cabeça, acenando para a senhora .

ao desembarcar no Aeroporto, pegou o primeiro táxi a caminho de um dos pontos turísticos mais conhecidos. Lá em cima, no topo, ela ajoelhou-se.
“Vai lá.”
O garotinho caminhou devagar, aproximando-se do Cristo Redentor.
“Este é o nosso final feliz.” falou baixinho, recordando-se. Os olhos cheios d’água. “Sempre estarei perto de você, enquanto Augustus estiver perto de mim” e sorriu ao ver o rapazinho fazer o mesmo, retornando.
Ele a abraçou.
“Amo você, mamãe.”

“Nossos corações sempre serão a minha casa... Não importa onde os meus pés ou a minha mente vaguei





FIM



Nota da autora: No 45’’ do segundo tempo! Ainda não sei se era exatamente assim o jeito que deveria ter ficado, mas foi o que deu.

Beijos,
Ray.




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