Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

— Você tem que arranjar um babador, irmão. — Miloh bateu no meu ombro esquerdo enquanto eu viajava na perfomance que ocorria em cima do palco.
— Preciso mesmo — respondi com um sorriso tímido, virando o meu rosto sem exatamente tirar os olhos dela.
— Cara, tu tá gamadão na garota mesmo? — Assenti diante da pergunta, e ele riu, balançando a cabeça. — Você só escolhe mulher complicada, mano — o outro barman me alertou, limpando um copo como quem ama o que faz. Estalei minha língua, voltando a arrumar os copos de shots no balcão.
— Por que complicada? — Ergui uma sobrancelha em direção ao amigo, que me olhou zombeteiro.
— Porra, sério? Você tá aí há dois meses catando cavaco todo apaixonadinho e ela nem aí para você. Tu já chegou nela, por acaso? — Miloh cruzou os braços e eu rolei os olhos.
— Eu posso ter essa cara de quem não vale nada, mas quando fico afim de alguém, não é assim que eu ajo. Gosto de conversar, conhecer melhor a pessoa... Já foi o tempo que eu gostava de cair matando e nem lembrar o nome da pessoa.
Miloh fez uma pose engraçada ao colocar as mãos na cintura, me olhando com uma cara sugestiva.
— Tu vai meter essa pra mim, camarada? Serião? — E riu com gosto da minha fala. Eu suspirei, sorrindo e balançando a cabeça. — Qual é, . Papo reto?
— Retão, cara! Tô te falando! Além do mais... é muito diferente, só de falar com ela já dá pra perceber. Sei lá, não é o tipo de pessoa com quem eu me envolveria só uma vez.
— Cara... Tu tá gamadão mesmo — Miloh falou, com a cara em choque e eu ri, acenando positivamente.
— Tô, meu amigo. Foda é que ela é tão noiada por outros relacionamentos que sequer me enxerga... — minha voz saiu meio desanimada e Miloh riu, batendo no meu ombro de leve.
— Você só curte mina complicada, irmãozinho! — Me virei com os olhos semicerrados e abri um sorrisão debochado.
— E quando é que mar calmo fez bom marinheiro, Miloh?
A risada estrondosa do meu companheiro de plantão chamou a atenção de algumas pessoas ao redor.
— Noite animada, queridos? — Suzanne perguntou, enquanto depositava uma bandeja de copos vazios em cima do balcão.
— Melhor agora com sua chegada, Suzie — Miloh retrucou galanteador e eu sorri com aquela cena.
— Que tal parar de jogar cantadas da década passada e me trazer cinco shots de tequila? A despedida de solteira da mesa cinco está com a corda toda.
— Eu ouvi ‘despedida de solteira’? Cinco shots de tequila saindo no capricho! — ele exclamou animado, enquanto servia os limões cortados com maestria nos pequenos pratos, colocando o sal ao redor dos copos e depositando doses generosas de José Cuervo.
— Hm, Especial Gold? Queria eu valer tanto! — comentou Suzanne.
— Não se engane, doçura, você vale um estoque inteiro dessas. Pena que só tem olhos para o amigo aqui. — Com a cabeça, Miloh apontou em minha direção e eu ri sem graça com aquela cartada alta.
Sabia que Suzanne, no fundo, gostava de Miloh. Entretanto, a má fama de pegador afastava a única mulher que ele verdadeiramente tremia na base, mas fingia plenitude diante dela. As coisas entre os dois eram um pouco confusas; trocavam farpas e cantadas, mas sempre arregavam no final, sem colidir numa grande ficada; ela, por não confiar nele, e ele, por achar que ela gostava de mim e só se envolveria com Miloh para fins sexuais.
Tudo bem que as suspeitas de meu amigo não eram tão infundadas assim. Na festa de fim de ano da firma, Suzanne estava farta de ver Miloh dar em cima da milionésima mulher sem sequer se aproximar dela. Então imagine: a mistura de álcool e uma jovem decidida fez com que Suzanne agisse um pouco desmedidamente, sobrando para o pobre e infeliz aqui. Suzie deixou bem nítido que queria, no mínimo, me levar para tomar umas cervejas e dar uns amassos. Entretanto, já dizia minha vó: onde se ganha o pão, não se come a carne.
Além do mais, era visível a queda que Miloh tinha por aquela mulher; ele se fazia de mulherengo, mas nutria verdadeiros sentimentos por ela, e vice-versa. E eu jamais arranjaria um problema no meio daquela história que já era confusa o suficiente só com aqueles dois — imagine com a minha presença? Pois é. Suzanne era uma mulher bonita e interessante, mas não era para o meu bico em inúmeros motivos e eu seguia bem assim.
Despertei de meus pensamentos quando vi Suzie se aproximar no bar, apoiando os cotovelos no balcão e propositalmente unindo seus seios num aperto sedutor, chamando a atenção de Miloh com um dedo indicador para que viesse em sua direção. Meu amigo se aproximou com um sorriso de canto, bem sacana, e ficou a poucos centímetros do rosto de Suzanne. Esta, por sua vez, sorriu largamente e falou no canto do ouvido do barman.
se mantém firme no propósito, Miloh. Já você, quer um rabo de saia diferente a cada noite, e o problema é que eu já passei dessa fase, querido.
Sem delongas, a mulher mordiscou o lóbulo da orelha, atiçando o pobre homem, que quase derrubou os shots de tequila diante daquele ato inesperado, e quando deu por si, Suzanne já havia magistralmente apoiado a bandeja numa só mão, seguindo confiante para a mesa cinco.
Ele ficou olhando com a boca entreaberta e, no fim, suspirou frustrado.
— Essa mulher ainda vai me matar, .
— Falta você decidir se será de prazer ou por falta de iniciativa sua, garanhão — respondi com um pequeno sorriso, e nosso diálogo foi interrompido por uma salva de palmas.
A música ambiente havia acabado e a cantora sorria lindamente em cima do palco, em forma de agradecimento.
Como de costume, seu show encerrara com muitos aplausos, que logo foram abafados pela música que o DJ começava a tocar. Ela guardava seus pertences com calma, o que me deu tempo de preparar seu drink favorito: moscow mule. Comecei a separar os ingredientes e ouvi uma risadinha de Miloh.
— Que foi? — indaguei, com a cara desconfiada.
— Gado demais esse . Mas tá certo, tem que agradar a mina. Só não acrescenta tanta raspa de limão nesse Moscow Mule, pelo amor de Deus!
— Ela gosta de uma camada extra — respondi, sem olhá-lo, depositando o rum na coqueteleira.
— Até nisso tu já tá ligado?
Eu apenas dei de ombros e sorri, sem tirar o olho do que estava fazendo. Em pouco tempo, mexia com força e maestria o drink, a fim de torná-lo bem homogêneo e cremoso.
Meu interior deu alguns pulos quando percebi que ela caminhava a passos largos em minha direção. No caso, na direção do bar, mas enfim.
Eu sei, eu parecia um jovem ansioso por atenção, como se nutrisse um amor platônico por um personagem de tv. Mas era simplesmente impossível ignorar aquela presença, aquela voz, aquele olhar...
definitivamente era uma pessoa no mínimo distinta.
— Mais um show incrível para a conta, ! — exclamei animado, encarando-a com meu melhor sorriso. Ela retribuiu de leve antes de responder.
— Obrigada, . Me vê uma vodca pura, por favor?
Hoje ela queria vodca? Aquilo era novo.
— Sério? Acabei de preparar seu drink favorito... — comentei, finalizando o Moscow Mule numa caneca, com as raspas de limão que ela tanto gostava.
sorriu de maneira cansada, e eu notei que seus olhos estavam pouco iluminados, o que era incomum.
— Eu não vou fazer essa desfeita, né? Mas, mesmo assim, me dá uma dose da vodca e eu prometo beber seu agrado. — Ela piscou marota, mas eu senti um fio de tristeza na voz.
Aquilo não era normal; fazia dois meses que conversávamos após o seu show e eu poderia dizer com certeza que ela não estava num dia bom.
— Uma vodca saindo no capricho! — respondi mais contido, sorrindo de forma amena. Ela agradeceu quando dei o copo de shot e o virou numa só tacada, balançando a cabeça logo em seguida.
— Eita, porra! — Suzanne exclamou, passando por detrás de . — Hoje vai dar bom, cantora?
— Estou contando com isso! — respondeu, ficando sorridente para a garçonete, que riu em resposta.
Encarei por um tempo, prendendo meus lábios enquanto tentava ler o que ela pretendia esconder por detrás do álcool. Claro que nem toda pessoa que bebe quer isso, mas nitidamente a cantora não estava no “normal”. Alguma coisa tinha acontecido, tirando o brilho que ela costumeiramente trazia em si.
— Agora vou experimentar sua especialidade, — ela disse num tom melodioso e ergueu a caneca como se me cumprimentasse. Eu espalmei as mãos no balcão e sorri enquanto reparava no seu rosto.
A feição de era encantadora, mesmo que levemente murcha; ela conseguia fazer as melhores caras e bocas ao provar meu Moscow Mule.
— Hm, ! Isso tá divino! Mas... nada novo sob o sol, né? — ela comentou educadamente, forçando um sorriso mais aberto, mostrando os dentes brancos. Imitei seu gesto e acabei cortando a boa vibe com minha pergunta inédita.
— Você tá bem?
O sorriso caiu de seus lábios na hora. Ela me olhou num misto de surpresa e constrangimento, e pigarreou antes de falar.
— Sim... Acho que estou só um pouco cansada. Está muito visível?
“Pra mim, sim”, pensei em responder. Mas apenas olhei em volta, reparando no movimento do local. Estava mais vazio do que de costume e faltava pouco para o meu turno acabar. Entretanto, eu não queria sair de lá sem conversar um pouco com — principalmente depois de perceber essa mudança de humor.
— Na verdade, não. Acho que estranhei pela vodca — falei risonho, e ela fez cara de quem entendeu e encarou a caneca em suas mãos, sorrindo e mordiscando o lábio inferior.
— É que eu precisava de uma dose de “foda-se” hoje, sabe? Tô meio cansada da vida.
Eu pisquei mais vezes do que de costume e tentei amenizar minha cara de choque diante daquela frase. não costumava falar muito de si; falava um tanto de tudo e era realmente encantador. Mas de si era raro. Bem raro.
Talvez hoje ela quisesse falar. E eu não mediria esforços se ela precisasse de alguém para escutá-la.
— Eu acho que te entendo. É bem cansativo de vez em quando mesmo.
— Ôh... Nem me fale — ela retrucou, dando um novo gole no drink.
Olhei no relógio de pulso e voltei a encará-la, dando minha melhor cara de gente boa.
— Se liga, tem um petisco novo na casa, que ainda não foi inaugurado, mas o chefe de cozinha tá doido para colocar umas cobaias para rolo. O que você acha de ajudarmos ele? Não precisa pagar, relaxa.
— Sério? Po, de graça, até injeção na testa! — ela respondeu sem pestanejar, com curiosidade no olhar e eu ri satisfeito.
— Então, meu turno acaba em quinze minutos. Posso pedir pra ele ir preparando e quando estiver pronto, a gente senta numa dessas mesas e come enquanto bebe alguma coisa legal. O que acha?
E ali uma pequena centelha acendeu no olhar dela, me fazendo sorrir involuntariamente.
— Acho ótimo! Posso esperar aqui mesmo?
— Claro! Vou agitar o pedido e a gente vai, beleza?
— Fechou!
Acenei positivamente e fui em direção à cozinha, fazendo o pedido e vendo Garig sorrir sugestivamente para mim.
— Vai comer com a gatinha?
— A dona do meu coração, Garig!
A risada ecoou na cozinha inteira e ele concordou com um aceno.
— Tá certo, meu filho. Tem que mostrar para ela que você sabe conquistar alguém!
Eu ri sem graça e me retirei, indo até Miloh para pedir um quebra-galho.
— Mano, faltam quinze minutos para o fim do meu plantão. Tu cobre esse tempo? Convidei para comer o prato novo do Garig e acho que finalmente as coisas podem dar uma andada, mas eu preciso estar minimamente de banho tomado e cheiroso para isso, né?
Miloh olhou para mim com cara de chocado e deu umas risadinhas, concordando.
— Vai lá, moleque bom! Sem problemas, eu seguro aqui. Depois tu fica me devendo essa!
Eu ri e concordei, me apressando para ir para a área dos funcionários.
Entrei afoito no local, separando minha muda de roupa limpa e uma toalha, retirando o uniforme no meio do caminho para o banheiro. Tomei um banho rápido, logo indo me arrumar. Estava bem ansioso, e por mais que soubesse que no fundo poderia não dar em nada, ainda assim era uma chance.
chegou como atração do pub há dois meses, o que significa que são dois meses que fico maluco de ver aquela garota cantando, falando, respirando... existindo! Pois é. No começo, já achava a artista atraente de boca fechada, mas desde que começamos a trocar ideias e nos aproximar, eu senti que estava desenvolvendo um abismo, e não apenas uma queda por ela...
O problema era que ela não falava nada da vida pessoal. Eu não sei se namorava, se era casada... E ela sempre fugia do assunto quando era questionada. Já tinha entendido que era algo delicado e não quis insistir muito, porque a pior coisa era acabar tornando tudo mais frágil ou eliminar todas as possíveis chances com ela por ser um cuzão curioso.
E então eu decidi que iria conhecê-la melhor, mas sem muitas espectativas, já que dois meses tinham se passado e ela nem dava sinais de que tinha interesse em mim. E eu aqui, ansiando por uma chance.
Gado demais, como diria Miloh.
Dei uma última olhada no espelho, gostando do que vi. Tudo em cima, tudo em riba.
Era hora do show!


[...]


Conforme me aproximava do balcão, percebi que conversava algo com Suzanne. Aquilo fez minha sobrancelha se erguer em desconfiança, mas segui na direção delas de toda forma. Logo a garçonete notou minha presença e sorriu um sorriso grande.
Grande demais.
, até que enfim, hein! me falou que vocês vão provar o prato novo do Garig, então eu separei aquela mesa para vocês. Vão beber o quê?
Encarei , que me olhava com um ar de indagação e deu de ombros.
— O que sugere?
Pensei durante um tempo e percebi Miloh nos encarando com um sorriso descarado. Uma luz se iluminou em minha mente e eu sorri.
— Podemos deixar a especialidade de Miloh falar mais alto? Só enquanto esperamos o prato chegar.
sorriu um pouco desconfiada, mas concordou mais animada do que antes. Vi que ela reparou em mim, provavelmente estranhando a roupa diferente do uniforme, e meu sorriso se alargou quando seus olhos encontraram os meus.
— Beleza, vou falar com ele para separar os drinks então. Licencinha! — Suzanne anunciou num tom divertido e se retirou rapidamente.
— Bom, vamos? — Indiquei uma mão à mesa reservada e concordou com um aceno, indo na minha frente.
Foi impossível não dar uma secada na forma que ela caminhava e em como seu corpo era agradável aos meus olhos. Inconscientemente, mordi o lábio inferior e respirei fundo, tentando controlar a ansiedade e a vontade de explorar o corpo de entre quatro paredes.
— Hoje tá meio vazio, né? — ela comentou, sentando-se confortavelmente na poltrona. Eu sentei na sua frente, mas queria mesmo era ter sentado ao seu lado.
— Sim, acredito que seja pelo final do mês. O cartão de crédito ainda não virou — respondi, sorrindo e ela riu levemente. — E então, ensaiando muito o novo repertório?
— Ah, mais ou menos. Quer dizer, eu fiz as alterações, tenho praticado aos poucos devido ao curto tempo, mas tudo se encaminhando. Confesso que meu ritmo tá meio devagar nas últimas semanas... — ela respondeu sincera e eu vi novamente o semblante que me deixou curioso anteriormente.
— Algum motivo específico?
sorriu sem mostrar os dentes, colocando o queixo apoiado na mão direita e me olhando meio tímida.
— Não exatamente. É que tenho andado meio distraída, pensativa demais... Talvez seja a lua minguante, ou o fato do meu aniversário estar próximo, quem sabe? Trinta anos é complicado. — E sorriu genuinamente, me fazendo acompanhá-la.
— Eu não sei você, mas quando fiz trinta, me senti bem reflexivo e fodido! — Ela gargalhou ao ouvir minha sinceridade e eu apenas sorri ao vê-la mais leve.
— Ah, sério? Como foi isso? — perguntou curiosa.
— Ah, foi uma merda. Eu comecei a pensar um monte de coisa, fiquei todo para baixo achando que a minha vida não andava para frente, que eu não tinha um emprego estável, que eu não era alguém na vida... E sou sempre comparado à merda do meu primo engenheiro, que tá super bem na empresa dele e eu aqui, de barman. Só que percebi que pensar assim é uma cilada, das brabas.
— Por quê? — ela indagou com a cara mais séria, como se estivesse se conectando com o que eu dizia. Eu fiz uma careta e dei de ombros.
— É até mais simples do que parece, mas ter dinheiro e ser bem sucedido não são sinônimos, tá ligada? É um papo meio que “dinheiro não traz felicidade”. Eu não concordo com essa afirmação, mas entendo que a solução não é sacrificar sua vida apenas se garantindo no lado financeiro, sabe? E aí quando fiz trinta e um, entendi melhor isso... Eu estou curtindo fazer as coisas que faço, ganho bem o suficiente para manter meu apartamento, minhas coisas... Aprimorar os estudos e ainda de quebra conheci uma artista incrível. Meu primo com certeza não teve a mesma sorte.
abriu um sorriso enorme antes de rir timidamente.
— Obrigada pela parte final, foi realmente de aquecer a alma, .
Nossa conversa foi brevemente interrompida por uma Suzanne trazendo os drinks de Miloh.
— Sex on the bitch, por conta do barman bonitinho, mas ordinário, ali no balcão — ela disse, apontando para Miloh, que dava um tchauzinho cheio de caretas. Sorrimos e agradecemos o agrado, e Suzanne logo se foi.
— Ao que devemos brindar? — perguntei.
— Ao foda-se para os conceitos fixos de estabilidade, que só nos fodem sem nem sequer proporcionar um prazerzinho!
Foi a minha vez de rir alto e concordar com veemência, enquanto chocava meu copo com o dela.
— Ao foda-se!
— Ao foda-se!
E brindamos.


[...]


— E aí que eu penso que a espiritualidade fala com a gente de inúmeras formas, sabe? Depois desse sonho que eu tive, comecei a levar em conta tudo isso — explicava, enquanto comia as cebolas empanadas com queijo e bacon, carinhosamente chamadas de “Larica da meia noite” pelo chefe Garig.
Sim, esse era o nome do novo prato do menu.
— Caramba, mas sua amiga ficou bem depois que você contou o sonho para ela? — perguntei realmente curioso.
— Sim! Bom, claro que a princípio ela não acreditou, mas eu insisti que ela fizesse o exame de sangue. E um tempo depois, lá estava ela, gravidíssima!
— Caralho, . Tô arrepiado, namoral. — Mostrei meu braço para ela, que riu e o tocou com um carinho breve.
Aquilo me fez sorrir.
— E o pior: ela não estava com a regra atrasada. Menstruação em dia, anticoncepcional, a porra toda! O bichinho veio que veio. Foi um susto no começo, mas depois ficou tudo bem e eu acabei sendo a madrinha do Luca.
— Ah! Então é pra ele que você fez a música que tocou na semana passada?
estava levando uma cebola à boca quando parou e me olhou atônita.
— É, sim. Como você descobriu? A maioria pensa que é para um cara.
Dei de ombros, rindo.
— Com certeza fala de amor, mas nas letras sutis dá para perceber que não é um amor romântico. É tipo um de admiração, principalmente quando você fala aquela parte dos passos... De acompanhar os primeiros passos, um negócio desses.
Ela me encarou levemente chocada, com a boca aberta num sorriso.
— “Os teus pequenos passos são os que quero ver, os que quero estar. Luca, teu sorriso é meu lar” — ela cantou afinadamente e eu respirei fundo. Ela era linda até da forma mais despojada e simples possível. E fazia coisas incríveis com uma facilidade invejável.
— É isso! — exclamei e ela sorriu risonha, concordando com a cabeça. — Você é uma artista maravilhosa, .
O sorriso se tornou um pouco miúdo e ela deu de ombros, sem graça.
— Você que é muito gentil, . — E comeu a cebola, enquanto eu a olhava incrédulo.
— Te juro que eu estou sendo sincero. De coração, papo dez. — Ela me olhou desconfiada e eu ri. — Eu tô falando sério! Você por acaso já se viu em cima de um palco?
Ela riu, rolando os olhos.
— Sim e procuro evitar. Só faço isso porque amo e sou cara de pau em ignorar minha figura toda torta e estranha quando faço show.
Minha boca se abriu em choque e eu neguei com a cabeça, visivelmente discordando dela.
— Pelo visto, você não faz ideia do quanto é maravilhosa, .
O silêncio foi pontual. me olhou por um tempo, analisando minha face, provavelmente catando algum traço de piada... Mas eu falava a verdade, e fiz questão que ela soubesse disso.
— Está falando sério? — seu olhar receoso me perguntou e eu sorri ternamente.
— Eu nunca ouvi uma versão de “What’s up” do 4 non blondes tão incrível.
— Ah, aí tu me quebra, ! 4 non blondes é golpe baixo! Olha que eu vou acreditar, hein? — Ela riu, dando um gole no seu refrigerante e eu segurei sua outra mão livre, fazendo com que ela me olhasse ansiosa.
— Pode acreditar, mulher. Você é incrível.
arfou e percebi que seus lábios soltaram o canudo do copo. Ela fez força para engolir e, vagarosamente, desceu o olhar para minha mão na sua.
Era quente, suave e macio.
Por debaixo da pele, eu era lava pura ao tocá-la.
Foi então que ela me surpreendeu.
— Eu acho que preciso de mais uma dose de Sex on the bitch. — Eu sorri com aquela frase e ergui a mão, chamando Suzie.
— Pois não, amores? — ela perguntou, assim que chegou.
— Pede pro Miloh preparar um Sex on the bitch no capricho pra e um cuba libre pra mim? — Suzanne riu, enquanto remexia as sobrancelhas.
— Estão pique esponja hoje? Absorvendo tudinho, hein! É pra já, chefia! — Ela nem esperou minha resposta e saiu andando, arrancando pequenas risadas minhas e de .
— Como você se tornou barman? — a artista me perguntou, com o queixo apoiado na mão, me olhando curiosa. Eu ri meio sem graça, mas decidi responder.
— Pensa num adolescente introvertido que queria provar a tal da coragem líquida, mas tinha pouco dinheiro? — franziu a testa enquanto ria.
— Estou com medo do que vou dizer, mas a curiosidade é maior, então lá vai: poderia explicar melhor, ?
Foi a minha vez de rir.
— Eu era bem tímido nos meus 18 anos. Todos meus amigos já tinham tido vivências, enquanto eu era meio que o lerdão da turma, que se sentia pressionado em viver tudo: sexo, bebidas, cigarro. Eu não tinha nenhuma dessas experiências. Então só ficava a desejar que elas logo acontecessem e fui burro o suficiente para me dedicar a isso.
A risada de ecoou em todo o lugar, me fazendo sorrir involuntariamente.
— Como assim, ?
— Eu era pobre, tinha dinheiro apenas para o vinho barato e olhe lá. Meus amigos diziam que eu precisava tomar “uns gorós” para ficar no brilho, cheio de coragem para chegar numa garota, para fumar um cigarro, ou beber uma bebida forte. Bem, o resumo da ópera foi: não curti beber destilado puro, que era o mais barato da época. Então eu misturava com outras coisas e passei a ser o barman da galera, fazendo a alquimia entre um suco de sachê e uma vodca barata serem o elixir do rolê. E bom, com o tempo, passei a estudar e me aprimorar nisso, e aqui estou, ganhando a vida com tal saber milenar.
riu novamente, com o rosto surpreso.
— Você tá dizendo que era o responsável pelas misturas bizarras dos seus amigos? Isso nunca deu ruim, não?
— Claro que deu! — Eu ri, fazendo uma careta. — Acabou que aquela história toda de “beber para ficar mais solto” foi uma tragédia! Numa noite só eu fumei, bebi horrores, e quando fui ficar com uma garota, vomitei na saia dela! Olha a merda!
estava vermelha de tanto rir. A gargalhada dela era contagiante e nem parecia a pessoa com quem estava no início da noite.
— Você vomitou na saia dela?
— Sim! E, é claro, levei um fora depois disso.
— Ainda saiu ganhando... Poderia ter levado um soco! — Ela riu divertidamente e eu concordei consigo, sentindo vergonha daquele fato.
— Eu tentei me desculpar, mas aquilo foi muito inconsequente. O fato é: parei de beber para ficar seguro de mim e passei a confiar mais no meu taco. As coisas começaram a fluir a partir daí e os drinks foram acontecendo, ficando sob minha responsabilidade, até eu ser capaz de domar essa arte tão menosprezada.
sorriu de lado, e Suzanne chegou com nossos drinks com uma cara sugestiva.
— Sex on the bitch para a deusa e cuba libre para o amor do Miloh!
Eu franzi a testa confuso, enquanto ria da frase.
— Como assim? — perguntei para Suzie, que deu de ombros.
— Não me mande repetir esta merda, isso é tudo obra do barman escroto ali. — E apontou para Miloh, que dava um tchauzinho descarado. Eu e rimos, enquanto Suzie se despedia com uma piscada, se retirando do local.
— Eles são muito gente boa, né?
— São incríveis... — comentei sorridente, e ela tomou um longo gole de seu drink, me fazendo repetir o gesto.
— E super competentes naquilo que fazem. Puta merda, esse Sex on the bitch tá melhor do que o último!
— Miloh faz mágicas etílicas, . Acredite, ele é um mago! — falei risonho, avistando meu amigo perder longos segundos encarando Suzanne, enquanto ela atendia uma mesa.
— Não sou nem doida de duvidar — disse, chamando minha atenção com um sorriso. Fiquei preso no seu olhar por alguns segundos e decidi propor algo inusitado.
— Topa jogar um jogo?
A sobrancelha dela ergueu, junto ao olhar curioso.
— Qual jogo?
— Bom, pensando que a gente tá falando da nossa história, que tal “Eu nunca”? Uma coisa é dita e quem já tiver feito, dá um gole da sua bebida. Caso contrário, não bebe.
prendeu os lábios de forma frouxa, quase os soltando num sorriso pleno. Ajeitou os cabelos, a coluna e me olhou com falsa autoridade.
— Vamos lá, então. Me mostre quem é você, !
Eu sorri, já me sentindo mais perto de meus objetivos. Pigarreei e encarei dentro de seus olhos.
— Eu nunca pintei meu cabelo de verde.
A cantora abriu a boca indignada.
— Você só disse isso porque viu uma foto minha de cabelo verde de sete anos atrás!
— Jogo é jogo, . Pode ir bebendo.
Ela cerrou os olhos para mim e encarou nossos drinks.
— Acho melhor pedir mais desses, porque o bagulho acabou de ficar louco.
Eu sorri de um jeito esnobe e fiz o que qualquer um teria feito: berrei o necessário para manter o clima.
— Mais drinks, Miloh!


[...]


— Você não fez isso!
— Fiz...
— Não fez!
— Pior que fiz...
— Você... não f-f... aiii! — E lá ria, enquanto eu a imitava. Estávamos meio altos já, e tínhamos perdido a conta dos drinks que bebemos. A mulher ria copiosamente porque eu tinha acabado de dar um senhor gole na minha bebida. A frase era “eu nunca saí nua de algum lugar depois de transar.”
O que significava apenas uma coisa: eu já.
Sim, já tinha saído nu de um lugar logo após transar, porque a mulher, no caso, era comprometida e o namorado tinha chegado de surpresa na casa. É sério, não passo por isso nunca mais. Ter que dar a volta por fora do apartamento, sair da janela e se rastejar na parede até chegar à varanda e sair pela porta da frente enquanto a mulher despistava o cara no quarto...
Ela morava no terceiro andar! Eu poderia ter morrido fazendo aquilo!
Nunca. Mais.
— Tá bom, eu acredito em você. Agora é sua vez. — sorriu e eu percebi que estávamos bem relaxados, principalmente ela, sem nenhum rastro da tensão ou desânimo de antes. Pensei numa coisa específica e quando dei por mim, já tinha falado.
— Eu nunca beijei alguém do mesmo sexo.
me olhou surpresa, mordeu o lábio inferior e... bebeu de seu drink.
— Ora ora, parece que não sou só eu o vivido! — exclamei risonho e ela deu de ombros, já explicando.
— Momentos da vida nos quais a gente se permite duvidar das certezas, né? Nada contra, infelizmente sou apenas uma hétero. — Ela, sem reparar, bebeu de seu copo novamente e eu concordei com a cabeça, ficando feliz por saber que sua orientação sexual me contemplava. Agora era descobrir se ela me queria de alguma forma.
— Faz parte... — respondi, a olhando nos olhos. sorriu e deu de ombros.
— Bom, minha vez! Eu nunca... — E olhou em volta, prendendo os lábios dentro da boca e focando a visão num ponto fixo.
— Nunca? — encorajei a continuar. Ela mordeu a bochecha e soltou o ar dos pulmões.
— Nunca beijei a Suzanne.
Naquele momento, um alarme dentro de mim disparou.
Eu também não tinha beijado, mas... será que tinha lançado aquela frase para saber se eu e Suzie já tínhamos ficado? Sorri de canto e fiz uma careta engraçada.
— Eu também não.
não disfarçou a cara de choque, e eu teria rido se ela não tivesse iniciado a conversa.
— Peraí, como é? Você nunca beijou Suzanne?
— Hm... não. Por que a surpresa? — A boca escancarada, os olhos esbugalhados e a falta de fala de estavam me deixando mais curioso a cada segundo. — ?
— É, bem... Hum... Esquece! Eu só... achei que vocês se pegavam loucamente — ela respondeu totalmente sem graça, desviando o olhar para suas próprias mãos.
— E como você chegou a essa conclusão? — questionei realmente intrigado. Ela respirou fundo e olhou pro teto.
— Eu ouvi uma conversa dela com o Miloh... E eu sei, a gente não deve ficar espionando a conversa alheia, mas... Apenas aconteceu!
Eu franzi o cenho, unindo minhas mãos em cima da mesa e aproximando meu torso, ficando com o rosto na direção de .
— Como foi essa conversa? — Ela suspirou e coçou a cabeça.
— Eu estava ajeitando as coisas pro show mais cedo... E aí eu ouvi os dois meio que brigando. Miloh parecia enciumado com ela, e aí falou que Suzanne era afim de você. Então, pela forma que eles estavam discutindo, parecia que você e ela se envolviam, porque ela não chegou a negar, sabe? E enfim, eu acho que peguei o bonde andando e acabei pagando mico aqui. Foi mal — ela respondeu com sinceridade, sem conseguir me olhar.
E então uma ideia passou pela minha cabeça: será que era por causa daquilo que estava estranha? Teria alguma chance dela estar afim de mim e pensar que nada poderia rolar, por concluir que eu e Suzie estávamos ficando?
Foquei meu olhar na mulher à minha frente, pensativo. Ela estava com o rosto para baixo, provavelmente se sentindo envergonhada, e eu achei aquela cena fofa. Confesso que dei uma pequena risada, chamando a atenção dela. Minha cabeça se movimentava de um lado para o outro e eu sorria, olhando o casal de amigos distante. Naquele exato momento, eles discutiam algo com apenas o balcão os separando.
— Tá vendo aquilo ali? — Apontei na direção deles e se virou para acompanhar. — Aquilo é real. Eles se gostam, mas complicam tudo. — E me voltei para ela, que retornava o rosto de forma vagarosa, me olhando com receio. — Eu sou apenas o amigo no tiroteiro cruzado, sendo envolvido em histórias que sequer existem. Tenho nada a ver com o romance deles.
— Hm... entendi — ela respondeu e coçou a ponta do nariz, mais embaraçada do que antes. Então, por um segundo, eu não sabia dizer se era o álcool falando, ou eu finalmente havia tomado coragem.
— Por que você quer saber, ?
A cabeça dela se moveu tão rápido que eu quase não percebi. Quando dei por mim, os olhos expressivos me encaravam com algo diferente no olhar.
— Você... Não é a fim dela? Nem... nada do tipo?
Ok, as suspeitas cada vez mais aumentavam; aquilo ali acabava de ficar mais interessante, mesmo que ela estivesse me respondendo uma pergunta com outra pergunta.
— Não... — falei pausadamente, sem quebrar o contato visual.
— E não está aqui comigo apenas para colocar ciúmes nela?
Eita porra!
— De onde você tirou essas coisas, ? — Minha testa franzida indicava a confusão. Ela suspirou frustrada, segurando a cabeça com os dedos enfiados nos cabelos.
— Sei lá, ! Você foi sempre legal comigo e eu fiquei... porra, sei lá! Um homem legal, hétero, que te ouve e tem várias coisas em comum! Até o diabo desconfia!
Eu a encarei por três segundos e gargalhei com aquilo.
Mas, defintiivamente, precisava concordar.
— Homem é foda, né?
— Porra... — ela respondeu, suspirando cansada, com um meio sorriso. Nos encaramos por um tempo e eu me ajeitei no assento.
— Olha , eu fico feliz que você ache essas coisas de mim, de verdade... Obrigado por isso.
— Ah, bom. Acho que nesse pouco tempo que te conheço, as coisas boas se sobressaem, né? Eu sei que ninguém é perfeito, mas estou sendo realista quando digo que você é bem... legal. — Ela deu de ombros, enquanto se explicava e eu ri com seu jeito doce.
— Mesmo assim, obrigado. É legal ouvir isso. Mas te garanto que tenho uma porrada de defeito! Só não tô a fim de listar pra você agora... Principalmente porque meus objetivos são exatamente o contrário de queimar meu filme.
E assim eu lancei a braba.
me olhou com a boca entreaberta, a língua passando pela parte interna dos dentes debaixo, como se estivesse ponderando o que eu falei. O movimento vagaroso era hipnotizante e eu não fiz questão de disfarçar; encarei mesmo e subi o olhar para o seu, que me observava com um brilho nublado de alguma coisa.
Cinco segundos mais tarde, descobri que era malícia, e o rosto de aparentava ter gostado do que entendeu.
E assim ela tinha pescado meu recado.
?
— Hm?
— Você gostaria de continuar essa conversa num lugar mais reservado? Eu tenho um vinho fechado lá em casa...
Um soco na boca do estômago, suor pelas mãos, sorriso desesperado. Esse era eu.
Um sortudo desgraçado.
— Eu vou chamar o uber.


[...]


Eu achava que seria completamente estranho quando levantássemos. Mas lá estávamos no carro, a caminho da casa de , conversando coisas aleatórias e trocando olhares significativos.
Depois de algum tempo, me aproximei de e gentilmente escorreguei minha mão por seus ombros, até trazê-la mais pra perto. Sem restrições, ela se acoplou ao meu peito e ficamos muito mais próximos do que antes.
Fiz um carinho na sua pele e ela umedeceu os lábios, analisando meu rosto. Eu a olhava com um pequeno sorriso, mal acreditando que minha crush de dois meses finalmente tinha me notado. Me sentia vibrando por dentro, ansioso que nem uma criança à espera do estouro do balão de doces, mas tentava disfarçar com carícias e sorrisos tortos.
Antes que qualquer coisa pudesse acontecer, o carro parou, indicando que havíamos chegado ao destino.
Descemos, entramos no apartamento e enquanto trancava a porta, eu olhava ao redor, percebendo como tudo soava tão... .
Quadros.
Plantas.
Um gato gordo e peludo de cor laranja no canto do sofá.
E um vinil bem old school, com vários discos próximo à ele.
Me aproximei a passos largos quando avistei o “Magical Mistery Tour” do Beatles.
— Não acredito que você tem esse! — falei extasiado, enquanto tocava a capa com delicadeza. parou ao meu lado com uma garrafa de vinho, sorridente.
— É uma relíquia. Pena que preciso consertar a agulha da vitrola. Mas ela funciona direitinho. — E bebeu um gole, me oferecendo a garrafa. Fiz o mesmo e a observei enquanto ela esticava a mão para ligar o rádio. Procurando músicas legais, ela sintonizou numa estação cuja canção entoava em seus primeiros acordes.
Devolvi a garrafa para si e ela sorriu para mim enquanto eu retribuía o gesto, reconhecendo a batida.
se aproximou, pegou o album do Beatles de minhas mãos e devolveu ao lugar, sem sequer quebrar o contato visual.
Com a mão direita livre, ela espalmou em meu peito e retirou a jaqueta num ato gracioso.
— Alguém por acaso já dançou para você hoje, ?
— Não — respondi automaticamente, vidrado em seus movimentos sutis e vagarosos.
— Então talvez seja seu dia de sorte.
deu um último gole e deixou a garrafa em cima da mesa de centro, vindo em minha direção. Suas mãos alcançaram minha nuca na mesma proporção que as minhas apertaram sua cintura.
E assim tocou meus lábios com os seus e derramou magistralmente um pouco de vinho em minha boca, me fazendo beber diretamente da fonte.
Aquilo era tão excitante que eu arfei quando ela soltou meus lábios. Respiramos ofegantes, nos encarando.
— Definitivamente, é meu dia de sorte — respondi, inebriado pelo momento.
— Aproveite a noite, — ela anunciou sorridente, e, dessa forma, sua feição mudou completamente, tornando-se um tanto predadora. Empurrou meu peitoral e meu corpo caiu sentado na poltrona, enquanto ela retirava as botas dos pés.
Ela mordia seu lábio inferior em meio a um sorriso sacana e eu já me sentia excitado diante daquela visão. abaixou propositalmente até que seu colo revelasse os seios apertados pelo sutiã e o vale pelo qual eu estava louco para desfrutar com minha língua.
Entretanto, só consegui umedecer os lábios quando ela voltou à postura normal, balançando seu corpo de acordo com a música.

Tell me what you really like
Baby I can take my time
We don't ever have to fight
Just take it step-by-step
I can see it in your eyes
Cause they never tell me lies
I can feel that body shake
And the heat between your legs


Na última frase da estrofe, seduziu ao tocar sua pele na face interna da coxa, subindo um pouco o vestido. Eu mordi meu lábio e apertei o braço da poltrona, sentindo o pênis pulsar em resposta. Ela sorriu satisfeita pelo efeito que causou, mas logo assumiu sua feição sensual, com a boca entreaberta e os olhos fechados, enquanto a mão passeava pelo seu corpo.

You've been scared of love and what it did to you
You don't have to run, I know what you've been through
Just a simple touch and it can set you free
We don't have to rush when you're alone with me


Com os braços para trás, ela fez algo rápido, quase automático. Descobri do que se tratava quando, tortuosamente, retirou as alças do sutiã e puxou a lingerie pelo braço esquerdo, enquanto rebolava no ritmo da música. Jogou a peça íntima na minha direção, caindo bem em cima do meu colo, e eu peguei como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, sentindo o perfume de ao respirar o tecido do sutiã.

I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe

Jogou os cabelos, fez movimentos sedutores com o corpo e desceu até o chão enquanto apertava o tecido em si, puxando-o lentamente para cima ao subir graciosamente. Com isso, revelava a cada segundo um centímetro a mais de sua carne brilhosa, reluzente.
O pênis dentro da calça jeans se tornava cada vez mais apertado e eu sentia que só com um toque poderia explodir de tesão por causa daquela mulher.
era uma incrível caixinha de surpresas.

You are not the single type
So baby, this the perfect time
I'm just trying to get you high
And faded off this touch


E então ficou de pé, de costas para mim. Virou apenas o rosto com um sorriso provocativo e sem cerimônias, puxou o vestido pelos ombros, por cima de sua cabeça. Lá jazia , vestida apenas com a calcinha preta que circundava e modelava sua pele, seus músculos e o glúteo que me fez arfar em desejo.
Eu precisava daquela mulher e não seria capaz de esperar por muito mais tempo.

You don't need a lonely night
So baby, I can make it right
You just got to let me try
To give you what you want

You've been scared of love and what it did to you
You don't have to run, I know what you've been through
Just a simple touch and it can set you free
We don't have to rush when you're alone with me


Ela rebolava enquanto jogava as mãos para o alto, e a cada curva, a cada movimento, eu me perguntava se aquilo era real ou se estava sonhando. Eu realmente não podia acreditar que havia reciprocidade, que também me queria, a ponto de dançar sedutoramente apenas de calcinha na minha frente.
Definitivamente, precisava encontrar uma maneira de retribuir os seus esforços.
E eu faria, com toda devoção do mundo.

I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe


Ela parou de dançar e se virou para mim, harmonizando seus movimentos com a música. Visualizei com detalhes os seios de bicos entumecidos, a auréola que os rodeava, a curva que eles faziam em harmonia com o corpo. era linda por dentro e por fora, e eu não consegui manter isso só para mim.
— Você é linda demais, — falei, enquanto ela se ajoelhava entre as minhas pernas abertas e subia as mãos pelas minhas coxas.
Tateei seus braços, seus ombros, e meus dedos desceram por seu pescoço, até alcançar os seios. Ela prendeu um gemido na garganta e franziu levemente os olhos, mordendo o lábio inferior.
— Você acha? — ela perguntou manhosa.
— Sim... Você não faz ideia do quanto eu queria isso — assumi, me permitindo encher minhas mãos de sua carne. Ela fechou os olhos e jogou a cabeça levemente para trás, deixando escapar o ar pela boca com um som agradável.
— Eu também, ... — ela disse, num profundo tesão, pouco consciente.
Sem delongas, puxei seu corpo para mim e a beijei com vontade, tendo um retorno imediato. Nossas línguas, num mix de gostos, faziam movimentos lânguidos, completamente entregues ao desejo.
— Eu quero você, — ela sussurrou, quando explorei a pele em seu pescoço, e aquele foi o estopim; me afastei rapidamente de si e retirei a minha blusa enquanto tirava os sapatos com os próprios pés. Por último, me desfiz da calça e fiquei apenas de boxer preta.
— Estamos combinando — comentou com um sorriso sagaz e eu a imitei.
— Nisso e em muito mais, linda.


You've been scared of love
And what it did to you
You don't have to run
I know what you've been through
Just a simple touch
And it can set you free
We don't have to rush
When you're alone with me


A puxei para meu colo, fazendo com que nossas pélvis se chocassem. Automaticamente, começou a ir para frente e para trás, com seu quadril sambando em cima de mim. Já sentia os testículos doloridos — os pobres coitados deveriam estar roxos de tanto trabalharem, mas eles aguardariam um pouco mais.
Após aproveitarmos um tempo naquela posição, eu inverti nossos lugares, colocando sentada enquanto agilmente puxava sua calcinha, em meio a beijos e lambidas em seu corpo.
Sua cara contorcida de prazer foi o maior convite para cair de boca em seu sexo; o contato de minha língua com a carne dela causou um gemido audível de e eu fiquei feliz com aquilo. Comecei a explorar os cantos internos, externos e o ponto sensível, no qual me dediquei como um bom cara apaixonado. indicava entre seus gemidos e movimentos o que a agradava, e, atento aos sinais, investi no que a deixava mais próxima de seu clímax.
Acrescentei dedos e carícias, e os gemidos ficaram mais presentes, bem como os movimentos de seus quadris em minha direção. Sua mão se enroscou em minha nuca e começou a ditar a direção do foco que eu não poderia perder, e ali me dediquei com afinco, recebendo reações que beiravam ao suplício.
... ... Ah, !
Não parei nem por um decreto, seguindo firme no propósito. E, como resultado, se derramou em minha cara, com pequenos espamos de seu ventre, misturando a música ambiente com seus gemidos e arfares.


I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe
I feel it coming, I feel it coming, babe


Ela se recuperou de uma maneira tão natural e sexy, com os lábios presos nos dentes. Se ajeitou na poltrona e veio em minha direção, me beijando com afinco enquanto tateava meu corpo inteiro, parando em cima do elástico da minha cueca.
— Vamos deixar as coisas mais justas, uh?
E assim eu fiquei como vim ao mundo: nu, com o diferencial do pau em riste. umedeceu os lábios e se ajoelhou brevemente, me dando as boas vindas a uma sensação quente e acolhedora que tirou um suspiro satisfeito de mim.
— Caralho, ... Assim você vai me matar — desabafei, me controlando enquanto segurava em seus cabelos.
— Esse é o objetivo — ela disse, levantando levemente a cabeça, me observando.
— Eu sinto muito, mas tenho outros planos — retruquei com um sorriso sacana e a pus de pé, beijando sua boca e segurando em sua cintura, enquanto a levava para o sofá. A deitei ali e, desesperado, catei a carteira com a camisinha dentro, me vestindo em tempo recorde e arrancando uma risadinha safada da mulher.
— Ansioso, barman?
— Você não faz ideia, cantora.
Me pus entre suas pernas, e com um olhar de permissão, fui me colocando dentro de si. A boca de se abriu e novamente os gemidos deram o ar da graça, se unindo aos meus.
era quente, estava úmida, totalmente receptiva, o que deixava tudo mais sensível, indescritivelmente delicioso.
— Puta que pariu, ! — falei a única coisa que se repetia em minha mente.
— Isso, assim! — ela pediu, trazendo seu quadril para minha direção, fazendo movimentos levemente acelerados. A acompanhei, e pouco tempo depois, o andamento da coisa mudou bruscamente para o que Miloh chama de “bate-saco frenético”.
Eu sei, péssimo termo, péssima hora para lembrar disso.
De toda forma, a sensação me tomava cada vez mais e eu me via diante de um oásis no meio do deserto do Saara. A cada investida, a cada olhar trocado, a cada centímetro de carne explorado, eu sentia que era realmente incrível. Não que o sexo a fizesse assim, mas aquilo só reiterava a boa conexão entre nós e eu não queria que aquilo acabasse tão cedo.
Entretanto, parecendo um moleque que perde a virgindade, o tesão estava muito acumulado, e como eu não esperava transar com naquela noite, sequer tinha me aliviado antes para ter uma performance mais digna. Precisei reduzir os movimentos, respirar fundo, pensar em coisas menos sexys, e, mesmo assim, não durei tanto quanto queria, mas foi foda de toda forma.
... porra! Eu vou... Ah!
— Vem! — ela disse e logo após mordeu o lábio quando eu tive meu orgasmo, sentindo os jatos preencherem o preservativo, ainda rodeado pelo calor de .
— Ah... Ai... Caralho, — respondi ofegante, pingando horrores, enquanto saía de si e me desfazia do preservativo.
— Nossa, isso dava para povoar uma cidade inteira, hein? — ela comentou risonha, apontando para quantidade de esperma na camisinha. Eu ri sem jeito e desprezei o item na lixeira, me voltando para deitar ao seu lado.
Olhamos para o teto enquanto normalizávamos as respirações.
— Isso foi do caralho, — fui o primeiro a comentar, e ela riu, concordando com a cabeça.
— Também acho... Banho? — sugeriu, me olhando com um sorriso.
— Por favor!
— Round 2? — Eu ri e mordi o lábio inferior, encarando meu pênis flácido.
— Me dá um tempinho para recuperar. Foi muita emoção pro bichinho.
Ela riu e se levantou, andando graciosamente nua pela sala, e eu a segui momentos depois, pronto para uma nova rodada.
Aquela noite estava apenas começando.


FIM



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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