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Prólogo


Londres; Dublin Castle; Quarta-feira; 02:13 da manhã.

Deixei que todos os sentimentos encobertos diariamente se apoderassem de mim no momento em que adentrei aquele bar movimentado, como de costume. Estar pela milésima vez no local estava sendo um grande hábito, talvez por ser o único lugar pelo qual eu sentia que era acolhido. Não por pessoas, e sim, por bebidas. Os indivíduos jogavam conversa fora, compravam briga por coisas imbecis e a maioria, enchia a cara para tentar esquecer ou não se lembrar de algo. Ou os dois. E eu me encaixava perfeitamente na última opção.
Respirei fundo inalando todo o ar do lugar antigo que fedia a podridão autentica. Deixei meus olhos caírem até o balcão, onde o pequeno copo cristalino cheio de Vodca pura estava e o levei até a boca, bebericando um pouco mais. O líquido desceu como água, ardendo levemente da mesma forma que os outros três copos e apesar de sentir uma breve tonteira, não me importei em constatar que provavelmente eu sairia dali bêbado. Mais uma vez. Uma rotina repentina crescera dentro de mim desde os últimos meses e eu não me importava nem um pouco em ficar bêbado, nem mesmo se estivesse de dia, porque minha única vontade era de estar embriagado todo o tempo depois de ter pedido minha melhor amiga para um inimigo.
Olhei o relógio de pulso, estreitando os olhos para poder entender os números que os ponteiros indicavam. Pelo que havia visto era pra lá das duas da manhã e eu estava sendo um miserável. Reconhecia isso. Já não me importava em aparentar um bom comportamento ou boa aparência, sendo que daqui a algumas horas eu receberia olhares estranhos na universidade.
Engoli em seco ao tomar o resto da bebida e enfiei uma das mãos no bolso, tirando uma nota qualquer. Caminhei em passos largos até a saída, tirando o maço do bolso do casaco junto ao isqueiro e o acendi, sem esperar muito. Ao dar a primeira tragada, fechei os olhos brevemente sentindo o alívio entorpecer meu corpo, como se eu não tivesse colocado um cigarro nos lábios há tempos. Fiquei mais algum tempo parado na calçada, encarando meu carro do outro lado da rua. Eu poderia bem comparar o Audi A7 a mim. Não como um carro sensacional e reluzente, mas como um carro sem brilho algum, consumido e usado. Usado. Era assim que eu poderia me rotular. Usado pela vida, pelos meus próprios sentimentos e principalmente, por ela. Estava sendo enganado por um rosto inocente, olhos vívidos e lábios convidativos, os qual eu havia provado e como uma droga, viciado. E eu sentia como se isso fosse à única coisa que eu poderia arrancar dela agora, e de fato era. O sentimento de ser usado, e pensar que talvez ela pudesse ser minha algum dia. Pura ilusão.
Traguei mais uma vez aquele fino rolo de tabaco e olhei para o mesmo, expelindo o ar de dentro da boca. E mesmo sabendo que aquela droga em minhas mãos estava me matando lentamente, era a única que me confortava recentemente.
Enfiei uma das mãos no bolso da calça, tirando de lá a chave do carro e segui até ele, entrando no mesmo. Deixei meu corpo relaxar no estofado assim que liguei o rádio, ouvindo os acordes de Snuff inundarem todo o interior do carro e fechei os olhos, fazendo com que minha mente vagasse para longe, tão longe que a única coisa que pude ver foi os olhos vívidos dela. Os olhos de .

01.


Batuquei os dedos no volante antes de sair do carro enquanto com a outra mão, tirava o maço dos lábios. Havia estacionado o carro em uma vaga, digamos que, reservada. Era longe de todos os outros e felizmente, longe de onde todos os alunos costumavam ficar. Desliguei o rádio assim que ouvi o sinal indicando o começo das aulas e vagarosamente, saí do carro colocando o maço do bolso da calça enquanto dava uma última tragada e jogava o cotoco no chão, esfregando meu pé em cima dele.
Caminhei pela extensão do estacionamento, recebendo todos os olhares que costumava receber nos outros dias. Desdém, indiferença, descaso e tantos outros. O tipo de olhar que eu não ligava mais em receber.
Assim que cruzei a porta de entrada, observei a única figura que ousava em falar comigo. .
- Por onde você andou na noite passada, cara? – iniciou, ficando ao meu lado. O olhei por alguns segundos e voltei minha atenção no corredor. – Receber ligações do seu pai não é lá algo que eu goste.
- Espero que aquele velho se foda. – disse, naturalmente. balançou a cabeça, soltando uma risada fraca.
Joseph . O homem cujo eu tinha a infelicidade de ter como pai. Rico, presunçoso, arrogante e claro, se fosse presente eu até poderia pensar em ter alguma consideração por ele. O mais cômico era o fato de ele pensar que poderia me comprar com um carro caro e um apartamento no centro da cidade. Era, realmente, um grande otário.
Caminhamos um pouco mais antes de chegar ao gramado próximo ao estádio. se sentou, deixando a mochila de lado, logo fiz o mesmo. Tínhamos horário vago nas duas primeiras aulas, portanto algumas pessoas da nossa aula também estavam espalhadas pelo campus. Passei os olhos por toda a extensão do local, parando-os nas duas pessoas sentadas nas mesas da cantina. Engoli em seco ao ver quem era uma delas: . E ao seu redor estava Lawes, que por infelicidade minha, era seu namorado. Os braços pousados na cintura da garota, que os acariciava lentamente, me fazendo quase rosnar de ódio ao vê-la ali, nos braços daquele bastardo. Benjamin Lawes era um dos caras mais reconhecidos na universidade, cursava Educação Física e não podia deixar de mencionar o quão boçal ele era. E foi por causa dele, que conheci . Ajudei meu melhor amigo quando em uma dessas eventualidades, Benjamin o confrontava na frente de sua matilha. Lawes ganhou um soco no estômago e um olho roxo. Já eu e , bom, ganhamos alguns ossos doloridos por duas semanas.
Ouvi um pigarro ao meu lado e virei o rosto, encontrando com uma sobrancelha arqueada.
- Poderia tentar camuflar um pouco essa sua expressão de idiota. É visível demais. – disse, apontando em direção ao meu rosto. – Lawes não para de te encarar.
- Não dou à mínima. Que ele venha arrumar alguma discussão estúpida. – dei de ombros, respirando fundo. olhava para mim vez ou outra, tentando desviar o olhar virando o rosto para o namorado. – Ela não para de olhar pra cá.
virou o rosto, olhando na mesma direção que eu.
- Lawes vai acabar descobrindo. Esses olhares são tão claros como o dia.
Resolvi não retrucar e ficar calado. Por mais que eu não quisesse, tinha que concordar com . Ele tinha razão. Lawes era esperto demais quando queria e ainda conseguia ajuda na hora que queria.
Observei sorrir para uma das amigas e comentar algo com Lawes, que acenou como se concordasse com algo. E antes de sair do grupinho, olhou de relance em minha direção, seguindo até um dos corredores. Olhei para baixo, mordiscando o lábio inferior.
Deixei que mais alguns minutos se passassem antes de dar impulso com um dos braços, ficando de pé. Lawes conversava animadamente com a melhor amiga de , ainda na cantina. ergueu o olhar, encarando-me.
- Eu sei que você gosta dela, certo? E gosta muito. – começou, dizendo um pouco mais baixo. – Deve ter sido incrível você ter ficado com ela ou sei lá o que fizeram. É ótimo, de verdade, eu fico feliz por você, . – parou de gesticular, respirando fundo.
- Não enrola, . – disse, entre dentes.
- Ela era sua melhor amiga. Eu não sei o que pode acontecer. Você é completamente caído nela e talvez ela só esteja te usando como um passatempo. Porque vejamos, ela está namorando o Benjamin. Há meses. – arqueou as sobrancelhas, apontando minimamente para o namorado da garota.
- Ela não está me usando. - soltei, desviando meu olhar do dele. Não tinha certeza alguma dessas palavras. – Não se preocupa. Não dá pra ficar pior do que já estou, . Ela já acabou comigo uma vez. O que pode ser agora?
Ele me encarou por alguns segundos e balançou a cabeça veemente.
- Cuidado, .

-x-

Pus as mãos no bolso da calça jeans enquanto caminhava pelo corredor da universidade. Na medida em que meus passos aumentavam, mais olhares eu recebia dos alunos ao redor, mas aquilo não me incomodava. Não mais.
Dobrei em direção a outro corredor, onde no final daria no laboratório. E logo mais à frente, andava apressada, entrando no lugar. Deixei minha respiração acalmar um pouco e a segui, esperando que a mesma entrasse no local e assim ela fez.
Engoli em seco olhando para os lados e me aproximei da sala, não demorando a adentrar. O laboratório estava escuro, as persianas fechadas como normalmente ficavam, mas a diferença era que antes as luzes estavam acesas. Nesse momento, eu não enxergava nada.
Respirei fundo, tentando avistar algo em volta.
- ?
Escutei a voz melodiosa da garota. Ela não estava tão perto, mas podia ouvir claramente. Fechei os olhos brevemente, sabendo bem que ela não veria aquilo, o que era bom já que eu senti um leve arrepio por todo o corpo ao ouvir pronunciar meu nome.
- , eu não consigo ver você.
Passei a língua pelos lábios, podendo sentir que ela estava perto de mim. Já podia ouvir sua respiração em minha frente, o que me fez sorrir minimamente.
- Eu estou aqui.
Estiquei um dos braços até sentir sua pele macia contra a minha e ergui meu olhar até seu rosto, tentando de uma forma falha encontrar seus olhos, mas o máximo que consegui foi continuar ouvindo sua respiração.
Não trocamos uma palavra sequer. Como se o simples fato de estarmos ali juntos bastasse e fosse o suficiente para suprir a falta que sentíamos um do outro. Para ela, talvez, preencher a falta do melhor amigo. E para mim, com toda a certeza, preencher a falta do meu amor por ela.
- Eu senti sua falta. – iniciei, falando um pouco mais baixo. – Você tem noção do quanto isso me tortura ?
Toquei seu rosto, deixando que meus olhos se fechassem no mesmo instante em que senti seu toque no meu também. Ela tinha a respiração tranquila, diferente da minha que com um simples toque da garota, já oscilava.
- Eu não queria fazer isso com você. – respirou fundo, encostando sua testa na minha. – É tão difícil.
Balancei a cabeça em negação, como se pedisse para ela não falar nada daquilo. Não queria ouvir suas lamentações, muito menos o quanto estava arrependida de tudo aquilo.
- Fica quieta. Por favor. – sussurrei.
- O que fazemos é errado, Danny. E eu não sei por que gosto tanto disso.
Encarei seu rosto em meio à escuridão da sala, ouvindo suas palavras. Eu a queria tanto que não conseguia sequer explicar. Olhei seu rosto assim que uma pequena fresta de luz invadiu a sala, mirando aqueles lindos olhos que também me encaravam e como um passe, puxei seu rosto sentindo seus lábios macios selarem nos meus iniciando um beijo tranquilo por parte dela, fazendo com que eu segurasse sua nuca. E eu só conseguia pensar que estava li, beijando os meus lábios e estando em meus braços.


02.


O sol se punha lentamente ao longe e eu constatava essa paisagem perfeitamente através da enorme janela de vidro do apartamento. Pus os braços atrás da cabeça ao notar os raios solares invadindo o quarto vagarosamente, clareando o cômodo. Deixei um longo suspiro escapar, denunciando o quão contrariado e desolado eu estava. Não conseguia dormir direito há dias, não tinha um sono descente e muito menos conseguia tirar aquele maldito beijo da cabeça. E eu parecia ter sido o único que tinha se importado com aquilo, a ponto de estar atormentado ao lembrar-se de lábios carnudos e macios encostando nos meus. Isso só comprovava ainda mais o quanto eu conseguia ser estúpido.
Desde o dia no laboratório, parecia tentar me evitar em qualquer hora que nossos olhares se cruzavam. Ela fazia questão de desviar a atenção para outro lugar, sendo suas amigas ou até mesmo Lawes. Portanto, não nos falamos em momento algum e não tendo aula por dois dias seguidos, nos tornamos distantes mais uma vez, sem ter algum contato. Não dava para ficar mais amargurado do que já estava.
Dei impulso com um dos braços, sentando na cama. Passei uma das mãos no cabelo, o bagunçando e puxando alguns fios em frustração.
- Imbecil. – murmurei, sentindo a raiva vir a tona.
Passei as mãos pela barba mal feita, tendo certeza do quanto eu estava mal cuidado. Eu não me importava com minha aparência, nem se eu estava aparentando estar bem ou não fisicamente. Eu estava acabado e podia colocar total culpa nas bebidas e maços de cigarro consumidos ao longo da semana.
Balancei a cabeça rapidamente, como se isso fosse retirar os pensamentos que tanto me assombravam nos últimos dias e segui em direção ao banheiro, passando uma das mãos no rosto. Encarei meu rosto no espelho, observando um pouco mais a situação em que me encontrava. O cabelo sem corte se encontrava bagunçado, como de costume. Não era algo necessário a arrumar. Os olhos azuis, diferentes de antes agora estavam foscos e sem brilho algum, acompanhando olheiras profundas que tomavam conta da parte inferior. Podia ser facilmente rotulado como um sujeito abatido e enfraquecido.
Tomei um banho rápido, nada que me fizesse demorar e ter que, outra vez, pensar em tudo o que estava acontecendo. Passei a toalha de banho nos cabelos, para tirar o excesso de água e caminhei até a cozinha procurando algo para comer já que deveria ser quase oito da manhã.
Encontrei uma garrafa de leite na geladeira e a peguei, bebendo diretamente. E no instante em que me virei em direção à sala, ouvi o toque do meu celular que estava no balcão. O peguei, vendo o nome de na tela do mesmo.
- Cara, qual foi a sua? Sumiu desde o começo do feriado. – iniciou, parecendo irritado. Rolei os olhos, encostando o corpo na bancada.
Tomei mais um gole da bebida, antes de respondê-lo.
- Você podia ser menos dramático. – pigarreei. – Estou cansado. Além do mais, tenho o direito de ficar em casa.
- Por três dias seguidos?
- Quem te garante que fiquei em casa todos os três dias? – soltei uma risada sem humor, seguindo até a sala. Deixei o corpo cair no sofá, sem ânimo algum.
- Você se faz o engraçado. Vai te ferrar! – exclamou a última frase, soltando uma risada. – Mas eu não liguei para ficar te elogiando, pelo contrário... Você vai estar pronto antes das oito. Vamos a um pub. Àquele que você tanto costuma ir. – abri a boca para reclamar, mas o mesmo se adiantou. – Se você não aparecer, eu juro que invento uma merda das grandes e espalho por toda a universidade.
- E todos vão acreditar em você. Claro, . – balancei a cabeça minimamente, achando aquilo o cúmulo. O fato era que, realmente tinha um grande reconhecimento naquele lugar. E qualquer palavra inventada, viraria uma enorme verdade para todos. – E outra, chantagem não funciona comigo. Desiste, sucker.
Ficou em silêncio por alguns instantes, o que me deixou um pouco desconfiado, mas em seguida já tinha voltado a falar mais calmo. E a forma com que falava me intrigou.
- Eu estou falando sério, . Se não quer ir por você, faz isso pelo sucker que você tem como amigo que está indo embora. É só uma saída. – suspirou.
- Você me paga.
Desliguei o telefone sem mesmo me despedir e encostei a cabeça no braço no sofá, encarando aquele teto branco. O fato de estar se mudando era estranho para mim. Não teria meu melhor amigo ao meu lado para aguentar minhas bebedeiras e muito menos minhas reclamações. Ele tentaria algo melhor e eu entendi isso perfeitamente. Já estava formando seu futuro.
Tirei o controle debaixo do corpo, começando a zapear os canais na televisão. Nada me interessava em canal algum, nenhuma matéria nem mesmo um vídeo musical.
Joguei o controle em qualquer lugar do sofá, deixando um filme qualquer rolar por ali. Eu não tinha minha atenção fixa totalmente nas cenas, só avistava alguns borrões e quase pegava no sono outra vez, até ver os créditos rolando pela tela. E o que me surpreendeu era que já não era mais o filme anterior, e sim outro que havia acabado.
Pude notar as horas no canto do televisor, constatando pouco mais de meio dia.
Respirei fundo algumas vezes, voltando a encarar aquele enorme teto branco. Nunca senti como se estivesse tão perdido. Não dessa forma. E eu sentia como se meus sentimentos estivessem esgotados e eu, simplesmente, não tivesse mais força para seguir adiante. Não sem resolver o problema pendente e o porém, talvez, fosse esse: Eu sequer queria resolvê-lo.
Coloquei as mãos no bolso da calça, encarando a casa amarela mais a frente, depois do gramado. estava atrasada para algo que eu mesmo não sabia. Segundo a garota, iríamos fazer algo divertido. Pelos velhos tempos. E tinha dois anos que havíamos terminado o colegial e não nos víamos com frequência.
Ela dizia que sentia falta. E eu tinha certeza que sentia muito mais.
Não éramos o tipo de amigos inseparáveis ou algo assim. Ela tinha seu próprio grupo e eu tinha o meu. Não sentíamos necessidade de estar colado um ao outro o tempo inteiro, mas de certa forma, ela dizia que eu era seu porto seguro. Assim como ela era o meu.
Todas as vezes que ela precisava de ajuda, ou simplesmente conversar, eu estava lá. Todas às vezes. E era como se estar com ela, ajudando-a, me ajudasse também. Eu gostava dessa sensação.
Pisquei algumas vezes, abandonando os pensamentos quando avistei a garota andando em minha direção, tentando inutilmente ajeitar o cadarço do All Star branco. O vento batia levemente em seu vestido, balançando-o de forma graciosa. Da mesma forma que fazia com seus cabelos e a esse ponto, eu provavelmente estaria como um retardado a olhando assim.
Rodei o carro rapidamente, antes mesmo que ela entrasse e liguei a ignição, olhando pela janela da outra porta. Deixei um sorrisinho escapar e assim que ela pôs as mãos na maçaneta, acelerei o veículo deixando-a um pouco para trás.
- Sério, ? Quantos anos você tem?! – disse alto, levantando as mãos. Olhei para ela pelo retrovisor e vi um sorriso brotar em seus lábios.
- Vem ou eu te deixo aí de uma vez por todas. – arqueei uma sobrancelha, enquanto ela se aproximava, abrindo a porta do carro. Sentou levantando uma das pernas para amarrar o tênis devidamente. Claro que ela havia se esquecido do vestido, o que fez seu pequeno short aparecer. – Não vai me contar para onde vamos?
- Só se você parar de me olhar como um tarado. – virou o rosto, fingindo estar indignada. Em seguida desatou a rir, assim como eu.
- Agora vai me contar? – perguntei.
Ela havia se inclinado para ligar o rádio assim que íamos em direção à cidade. Eu dirigia sem nem saber para onde estávamos indo.
- Ah... Não. – estalou a língua, apoiando a cabeça no banco. Rolei os olhos, balançando a cabeça. – Mas você pode seguir até aquele jardim distante da cidade.
Virei o rosto rapidamente em direção a ela e deixei um sorriso transparecer, vendo que o mesmo acontecia com ela. Tínhamos a mania de ir ao grande gramado para ficarmos a sós. Não, não. Apenas como amigos. Infelizmente.
Paramos em um sinal antes de virar a esquina e seguir em direção ao jardim, até que pude ouvir o suspiro pesado da garota ao meu lado. Olhei para ela atentamente, observando sua expressão suave enquanto a mesma olhava para qualquer lugar na calçada.
Parecia perdida em seus pensamentos, e eu sabia bem que ela gostava de estar assim, quieta.
Estiquei a mão livre, tocando seu rosto com as pontas dos dedos em um carinho leve. Ela pareceu acordar, virando o rosto em minha direção e sorriu minimamente. Só que ela não fazia ideia do quanto aquele pequeno sorriso me aquecia por dentro. Era demais para mim.
Assim que o sinal abriu, virei à esquina seguindo até o jardim. O lugar não era tão longe, pois em poucos segundos eu já estava estacionando no acostamento e percebendo o quanto o lugar estava pouco movimentado. saiu feito um furacão, indo direto para a calçada enquanto eu ainda trancava o carro.
Ela adorava aquele lugar. Não era pra menos, o local era realmente adorável. Tinha um ar mais natural por estar cercado de árvores e a grama que sempre era verdinha. Alguns bancos de madeira estavam espalhados em volta e no centro, uma pequena ponte também de madeira. Era nosso lugar secreto, apesar de todos da cidade irem ali.
Caminhei um pouco mais para alcançar a garota que estava longe de mim.
- Hoje nem tá tão cheio assim. – comentou, olhando em volta. Olhou em minha direção e me deu um leve empurrão no braço. Franzi o cenho, a olhando. – Você tá calado.
- Só não tenho muito que falar. – dei de ombros, pondo as mãos no bolso enquanto andava. Ela balançou a cabeça negativamente, ficando ao meu lado. Respirou fundo entrando no mesmo silêncio que eu e aquilo começou a me incomodar.
Andamos um pouco mais até encontrar o lugar pelo qual costumávamos ficar deitados. O gramado era enorme, onde havia enormes palmeiras em volta, alguns quiosques fechados e poucos casais. Era memorável.
Fui o primeiro a me sentar, soltando todo o ar. Encarei o céu ao levantar a cabeça, observando o tanto de estrelas que ele apresentava. Estava mais bonito do que anteriormente.
se sentou ao meu lado, mas diferente de mim, logo se deitou no gramado.
- Tem tempo que a gente não vem aqui. – disse, baixo. Balancei a cabeça concordando e deitei ao seu lado, ainda sem tirar os olhos das estrelas.
- Muito tempo. Desde o colegial. – virei o rosto para ela, observando-a. Piscava vagarosamente, com os olhos direcionados ao céu. – Você resolveu embarcar em uma dessas viagens com seus amigos. Não tivemos mais contato.
- Ah, qual é, . Só não nos falamos por... – respirei fundo, a interrompendo.
- Seis meses. – completei, voltando a fitar o céu. - Eu fiquei sabendo pelos seus pais.
- Eles te contaram? – virou o rosto para mim, surpresa.
- Não. Eu fui até sua casa procurar por você. – dei de ombros. Ela continuou me observando, como se quisesse falar algo, mas eu simplesmente fingi que não estava percebendo aquilo.
Entramos, novamente, em um silencio perturbador. O barulho das conversas alheias invadia nosso espaço, assim como o pouco do vento que passava por ali.Vez ou outra esse clima estranho se instalava entre nós dois.
Mas, o que me deixava desconfortável era o fato de que, ela não parecia ligar. E mal ela sabia que eu havia esperado por ela desde que soube que ela tinha viajado. Eu sempre fiquei esperando.
- Não viemos aqui para falar de algo de meses atrás, não é? – começou, virando o rosto em minha direção tentando de alguma forma, quebrar aquele clima. – Eu não tive muitas notícias suas, mas bem, estamos aqui. Eu senti sua falta, .
E eu muito mais, droga!” Pensei em dizer, mas aquilo seria apenas meu subconsciente gritando. Eu não podia dizer isso. Era apenas o melhor amigo dela, apenas.
- Eu também. Foi bom ter encontrado você de novo. Não mudou muito desde a última vez.
Dei impulso com um dos braços assim que a vi se sentando na grama.
- O que quer dizer com isso, ? – semicerrou os olhos, ficando de frente para mim.
Observei seu rosto por alguns segundos, sorrindo de lado.
- Não quis dizer nada, . – a imitei, arqueando uma das sobrancelhas. Ela me olhou mais uma vez, mordendo o lábio inferior. Ela realmente tinha que ter feito aquilo? – Eu realmente senti sua falta.
Pisquei algumas vezes, observando o sorriso em seus lábios e também a forma que ela me olhava. Sem pensar muito, a puxei para perto pondo meus braços em volta de seu corpo. Como se não quisesse soltá-la nunca. E eu não queria.
Respirei fundo, abrindo os olhos rapidamente ao ouvir o barulho insistente das batidas na porta. Franzi o cenho, percorrendo meu olhar até a porta branca do apartamento. Quem diabos estaria batendo ali? E o pior, atrapalhando meu pequeno cochilo. Dei impulso com um dos braços, sentando no sofá, me prontificando em ir até a porta.
Tinha quase certeza de que era . Ele tinha essa mania de aparecer sem avisar e eu simplesmente odiava, mas ao abrir a porta sem ânimo algum, engoli em seco ao avistar os olhos em minha direção. estava parada em minha frente, fungando baixinho.
- Oi. – disse com a voz falha enquanto encarava suas mãos. Passei o peito da mão livre pelos olhos, esfregando-os arduamente. Seria ilusão minha?
- ? – a olhei, ainda sem entender da sua aparição ali. A garota respirou fundo, ainda sem olhar nos meus olhos. – Ah, hm... Está tudo bem?
- Eu posso entrar? – perguntou, ignorando totalmente minha pergunta. Dei de ombros, ainda sem tirar meus olhos dela e a vi passar por mim, seguindo rumo ao sofá. Pisquei algumas vezes antes de fechar a porta e ir em direção a ela.
Parei ao lado da garota, ainda permanecendo de pé. Não estava entendendo nada do que estava acontecendo. no meu apartamento, no meu sofá. E, para completar, com o rosto vermelho denunciando de que a garota estava chorando há um bom tempo.
- Desculpa chegar assim do nada, é só que eu... Eu queria alguém... – mal terminou de dizer e já tinha voltado a soluçar. E eu tinha plena certeza de que aquilo estava ligado ao Benjamin.
Passei uma das mãos pelo peitoral livre e sentei ao seu lado, um pouco sem jeito. Observei a pequena olhada que ela deu e tentei não sorrir com aquilo. Ela notava.
- O que houve? – perguntei um pouco calmo. Ela respirou fundo uma, duas, três vezes antes de levantar o rosto em minha direção. Por um momento quis puxá-la para mim, ao ver seu rosto avermelhado e os olhos também.
Pressionou os lábios e se levantou novamente, me fazendo estreitar os olhos. O que é que estava acontecendo? Eu estava mais perdido do que tudo. Colocou uma das mãos na lateral da cabeça e soltou um urro nervoso, rodando a mesa da sala.
- Argh! Eu quero quebrar algo! – fez menção de seguir até a pequena estante, logo me dirigi à garota, segurando seus braços.
- Para. Agora. – disse firme, a olhando nos olhos. Tentou se soltar, mas não conseguiu. - Respira mais uma vez. – fez o que eu pedi e abaixou o olhar. Percorri os olhos por todo o seu rosto, tendo certeza de que ela estava mais calma. Observei o vermelho do rosto sumindo vagarosamente.
- Eu sou muito idiota. – disse, mais para si do que para mim. – Benjamin é um... Ah, não tenho nem palavras para descrever!
- Ainda não sei o que aconteceu. – rolei os olhos, encostando o corpo no estofado. passou uma das mãos pelo rosto, tirando alguns vestígios de lágrima e olhou em minha direção.
- Um ano de namoro. – começou, encarando as unhas. - Nós íamos sair para comemorar hoje pela tarde e a noite também, mas ele sequer deu algum sinal de vida. Faz vinte minutos que ele me ligou. – balançou a cabeça vagarosamente. – Desmarcando tudo.
- Ele simplesmente desmarcou? Sem dar alguma explicação?
Cruzei os dedos, observando a garota.
- Não. Ele explicou. E muito. – trincou o maxilar, encarando a televisão à frente. – Avisou que estava na companhia dos amigos e que não poderia sair comigo hoje. Simples, só disse isso e mais nada!
Eu queria rir. Na verdade, queria começar dizendo que Lawes sempre foi esse babaca egoísta que minha pobre amiga só estava percebendo agora. Porém, eu me contentaria. Não iria fazer isso.
- E como se já não fosse suficiente, recebi essa foto quando cheguei aqui. – falou rapidamente, ligando o display do celular, o mostrando para mim. – Lise, a qual eu chamava de melhor amiga.
Frisou as ultimas palavras, com certo desdém. Peguei o aparelho de sua mão, observando bem a imagem. Lawes abraçava a loira por trás e tinha a cabeça pousada no ombro da mesma, como se aquilo fosse natural.
E, naquele momento, ao virar e olhar para o rosto angustiado de , algo brilhou em minha mente.
- Não precisa ficar assim. – iniciei, ainda a olhando. – Você não quer perder seu dia, certo?
- O que quer dizer? – levantou o olhar, com seu cenho franzido.
Engoli em seco, encarando meus pés descalços. Iria ser uma ótima chance para estar mais próximo dela.
- Eu posso sair com você. Pra qualquer lugar.

-x-

Passei uma das mãos nos cabelos, talvez pela décima vez. E isso contrastava meu nervosismo. Por um lado por fazer quase décadas de que eu não via minha amiga completamente arrumada, e por outro lado por que, droga! Eu estava saindo com . Sozinhos. Só nós dois.
Encarei a casa que continha a mesma pintura amarelada de antigamente e deixei um breve sorriso escapar assim que avistei a porta se abrindo. Respirei fundo, puxando todo o ar ao ver a garota caminhar pelo gramado em minha direção. O vestido azulado até suas coxas, o salto alto preto. Ela estava deslumbrante.
- Não fica me olhando assim. – comentou baixo, parando em minha frente.
- Desculpa, mas... Nossa. Você tá incrível. – cocei a nuca, sem jeito. Ela deu um pequeno sorriso, se aproximando. Nossos rostos estavam bem perto. O que ela estava fazendo?
Assim que se aproximou o suficiente, colocou uma das mãos na maçaneta do carro, passando ao meu lado e entrando. E meu coração estava à mil. Como ela ousava?
O caminho até o pub no centro da cidade foi silencioso, mas não tão ruim como eu havia pensado. Paramos em frente à fachada do Dublin Castle, onde a música já era alta do lado de fora. Desci do carro junto à menina e o tranquei, indo em direção à portaria. Passamos por um pequeno corredor de pessoas antes de chegar ao bar e pude ouvir comentários sobre uma banda tocar naquela noite. Não seria tão ruim assim.
estava animada, o que me fez ficar até um pouco animado também.
- O que vai querer? – perguntou um pouco alto devido ao som.
- Qualquer coisa. – aproximei-me dela, apoiando os braços no balcão. – O que você quiser, eu também quero.
Ela se virou, pedindo a bebida para nós dois. Não me dei ao trabalho de saber o que era. Eu sempre visitava o pub e se duvidasse, já tinha tomado todos os tipos de bebidas do local.
Fiquei com o corpo escorado no balcão até observar mexer a cabeça de acordo com a música que tocava. Ela parecia não estar ligando para o que havia acontecido mais cedo.
Resolvi me aproximar, ficando bem próximo a ela.
- E aí, o que está achando? – aproximei do seu ouvido, para que ela escutasse. Virou o rosto para mim, sorrindo de lado.
- Não está tão ruim. – deu de ombros. – E ? Ele não iria vir?
- Ele vai. Pediu para que esperássemos ele por aqui. – levantei o olhar em direção às pessoas que dançavam, procurando por meu amigo. Direcionei meu olhar até a entrada do local, avistando a cabeleira loira com mais algumas pessoas em volta.
, vagarosamente, conseguiu nos achar depois de parar algumas garotas no caminho. Caminhou em minha direção, mas assim que avistou a garota ao meu lado, um vinco se formou em sua testa. Provavelmente se perguntando o que ela fazia ali, comigo.
- Eu realmente achei que você não iria vir. – comentou, me abraçando brevemente enquanto depositava leves tapas em minhas costas. Virou-se para , sorrindo abertamente. – Caramba, é muito bom te ver por aqui.
- Faz muito tempo, . – ela o abraçou, um pouco sem graça. Assim que se afastaram, alternou o olhar entre nós dois mais uma vez.
- Ah, , eu vou dar uma festa de despedida no outro fim de semana. Você pode ir. E levar o...
- Eu vou sim. – a garota o interrompeu, sorrindo de lado. Respirei aliviado ao perceber que aquilo não fez o clima ficar tão pesado. Ela tomou um gole da bebida, se virando para meu amigo. – Você vai se mudar?
- Não. Na verdade, eu consegui uma bolsa em outra faculdade. – se aproximou de nós dois, passando uma das mãos pelo cabelo. – Cornell.
Franzi o cenho, encarando . O filho de uma puta não havia me contado aquilo.
- Você não me disse que ia para o outro lado do oceano. – comentei, arqueando uma das sobrancelhas.
- Era pra ser surpresa, mas agora vocês já estão sabendo. – deu de ombros, rindo fraco.
sorriu abertamente, abraçando o garoto mais uma vez. Ele a olhou um tanto surpreso, mas logo retribuiu, passando os braços pela cintura da garota. O momento era estranho. Era como se voltássemos há alguns anos atrás.
- Isso é incrível! Realmente fico feliz por você, parabéns! – ela dizia animada, olhando o garoto. Virou em minha direção e sorriu. – Desmancha essa cara, .
- É, . Não é como se não fossemos mais nos ver. – olhou em minha direção, rindo. – De qualquer forma, vou gostar de ver você lá. – olhou para .
Não demorou muito para que o garoto saísse de perto de nós, seguindo para a pista de dança. O lugar estava ficando cada vez mais cheio e aquele ponto, eu e estávamos bem mais animados por conta da bebida. Ela dançava de forma engraçada e eu a acompanhava, apenas por diversão, mas assim que uma música menos agitada começou a tocar – algo como The Strokes -, ela me olhou rapidamente, se aproximando.
- Eu adoro essa música! – falou mais alto, mexendo a cabeça. Percebeu que eu não estava dançando muito no momento e colocou as mãos nos meus braços, os balançando. Sorriu ao olhar em meus olhos e fechou os olhos brevemente, como se sentisse a música.
Observei seus movimentos, sentindo que aquilo estava quase que me hipnotizando. Era surreal o fato de estar ali, comigo, dançando na minha frente. Era algo que eu realmente achava que nunca iria acontecer. Não tão breve assim.
Pus uma das mãos em sua cintura, a puxando para perto até sentir seu corpo colado ao meu. Ergueu os olhos em direção aos meus assim que percebeu a aproximação e sorriu de lado, ainda movimentando o corpo. Uma das mãos estava no cabelo, o mexendo.
Mordisquei o lábio inferior, observando cada pequeno movimento da garota. Eu precisava dela. Não só ali, dançando. Precisava dos seus lábios juntos aos meus. Precisava explorar cada área do seu corpo.
Puxei sua nuca delicadamente, aproximando nossos rostos. Ela olhou em meus olhos e sua boca se formou em um pequeno sorriso, sendo para mim, sua deixa. Sem esperar colei nossos lábios ouvindo um pequeno gemido da garota e apertei levemente sua cintura, puxando-a mais para mim. Se é que ainda era possível fazer isso.
Seus braços rodearam meu pescoço, e logo senti as pontas de seus dedos acariciando o mesmo, seguindo em direção aos meus cabelos. Ela estava me deixando, completamente e loucamente, maluco.
Guiei seu corpo até a parede mais próxima, o encostando ali. A esse ponto as várias bebidas que tínhamos tomado já estavam surtindo efeito, mas eu não ligava. Não ligávamos.
- ... – disse baixo, abrindo os olhos vagarosamente. Resmunguei qualquer coisa, sem querer partir o beijo, mas ela continuou tentando dizer algo. – Estamos em público. Tem muita gente...
- E o que tem?
Olhou para mim, franzindo o cenho e balançou a cabeça em negação, soltando uma risada abafada. Respirei fundo e a puxei mais uma vez, a beijando novamente. O dessa vez foi mais demorado, diria até que com certo cuidado. Era como se quiséssemos lembrar aquele momento.
Parou o beijo com um selinho demorado e olhou para mim, piscando os olhos.
- Não acho que seja uma boa ideia, . – fez uma careta um tanto engraçada. Olhei em seus olhos, tentando controlar minha respiração.
desviou o olhar para a multidão, o deixando lá. Pressionei os lábios, ainda de frente para a garota.
- Você quer uma bebida? – perguntei mais tranquilo dessa vez.
Porém ela não respondeu, sequer se movimentou. Estranhei seu ato e observei sua expressão, paralisada. O que tinha dado na garota? Segui seu olhar até a pista de dança e engoli em seco ao observar os olhos do garoto passeando por todo o pub.
- Benjamin. – ela disse baixo, olhando para o garoto como se a qualquer momento ele fosse a ver ali. – , se afasta. Por favor.
- O que? – perguntei, atordoado. – Não. Qual o problema?
Eu sabia bem qual o problema. E sabia ainda mais que aquele lugar teria uma grande confusão hoje.
- Você sabe qual o problema, ! – exclamou nervosa. Passou uma das mãos no cabelo e me empurrou no peitoral, fazendo com que eu me afastasse. Franzi o cenho sem entender o que ela estava tentando fazer.
- , o que você... – parei de dizer no instante em que senti um empurrão na lateral do meu corpo, me fazendo cambalear para o lado. Apoiei as mãos em algumas pessoas ao redor, tentando inutilmente pedir desculpas.
- Posso saber que merda é essa? – Benjamin estava parado entre nós dois, olhando diretamente para mim. O maxilar trincado, os punhos cerrados. – O que você está fazendo aqui com esse cara, ?
Lawes olhou para mim mais uma vez, me encarando de cima a baixo com certa indiferença. O olhei da mesma forma, fazendo com que ele virasse o rosto para a garota.
- O que é que você está fazendo aqui?! – apontou para o garoto.
Olhei ao redor e notei que algumas pessoas já olhavam em nossa direção.
- Isso não importa. Eu mal chego com os caras e me deparo com essa ceninha ridícula. – apontou para nós dois. – O que é que você tava pensando, garota?
Respirou pesadamente, se aproximando enquanto encarava a garota. Fiz o mesmo, porém pus uma das mãos no peitoral do cara, o afastando dela.
- Não toque nela. Eu estou falando sério.
Benjamin desatou a rir. Como se eu tivesse contado algo engraçado. Encarei os olhos azuis sem brilho algum do garoto, e assim que ele parou de rir, desferiu um soco em meu rosto, me fazendo virar para o lado. Havia me pego completamente de surpresa.
- Benjamin! – gritou, até tentou ir em direção ao garoto, mas retomei minha postura, caminhando até ele. – , não...
Acertei seu rosto com tamanha raiva. Eu não sabia bem o que estava sentindo no momento. Ódio, fúria, rancor. Lawes levantou o corpo, mas a adrenalina já tinha tomado conta de meu corpo, me fazendo acertar outro soco, dessa vez, em seu abdômen.
Ouvi murmúrios e percebi que uma roda de pessoas havia se formado em volta de nós. também olhava o mesmo que eu.
- Eu acho melhor você começar a se arrepender do que fez, . – Benjamin disse, voltando a me encarar. Segurou um dos meus ombros, acertando socos repentinos em minha barriga. Não conseguia me soltar, apenas gemer de dor.
Senti mãos ao nosso redor. Ouvi a voz exaltada de pedindo para que parássemos. Vi de relance correndo em nossa direção e vi, também, tudo turvo ao meu redor.
- Para com isso! Vamos embora, agora! – gritou para Benjamin, o olhando nos olhos.
Eu estava caído no chão, apoiando o corpo apenas com os braços. Respirei algumas vezes, tentando me levantar, mas senti a metade do corpo dolorida.
Observei a garota ainda o segurando pelos braços, mas o mesmo seguiu novamente em minha direção, se agachando até a mim. estava agachado ao meu lado, tentando me ajudar.
- Olhe só para isso, seu merda. – perguntou, sem quebrar o contato visual. – Você ainda tenta alguma coisa apesar de tudo isso. – estalou a língua, rindo fraco. – Enquanto você fica querendo conseguir algo com ela. E sim, eu sei o quanto você é apaixonadinho pela minha namorada. Enquanto você fica pagando de otário, no final, ela sempre está comigo. No final, é ela que vai pra minha cama. É ela que vai gemer o meu nome. – encostou o indicador no meu ombro, fazendo com que eu tentasse esquivar. – E você, no final, vai ser só mais um merdinha jogado pelos cantos porque não conseguiu a garota.
Deixou um pequeno sorriso transparecer, levantando o corpo e se afastando da multidão com a garota. olhou para trás, como se tentasse se desculpar com o olhar, mas não consegui olhá-la por muito tempo. Eu tinha a ajudado e ela simplesmente segue em frente com o cara que tentou quebrar a minha cara.
me ajudou a levantar, segurando um de meus braços. Olhou-me apreensivo.
- Eu vou embora.

Epílogo


Encostei o corpo na bancada do bar e batuquei os dedos no balcão seguindo o ritmo da música. Estava sentindo uma pontada de cansaço tomar conta do meu corpo. Tinha chegado na casa de um pouco mais cedo para ajudar com os preparativos da festa. Claro, a maior parte sendo as bebidas. Ele estava mais do que animado, por assim dizer. E até tentei entrar na onda, tentando me animar um pouco, mas não conseguia.
Eu sentia como se precisasse descarregar toda aquela raiva acumulada desde o pub. Eu precisava fazer algo a respeito, mas não sabia definir o que. Não sabia o que fazer com aquilo, apesar de já ter esmurrado algumas paredes e soltado alguns gritos de puro ódio.
Uma semana havia se passado desde o acontecido e eu estava evitando ao máximo encarar aqueles olhos . E de fato, eu estava conseguindo. Todas as vezes que olhava em minha direção, eu desviava o olhar. Não queria olhar para ela. Não queria encarar uma pessoa mal agradecida. E se eu estava agindo um tanto infantil? Estava, mas eu precisava fazer aquilo. Era como uma necessidade.
Fechei o livro insatisfeito com aquele tédio que pairava no local e o coloquei dentro da mochila preta. estava ao meu lado escutando música em seus fones enquanto terminava a lição da aula seguinte. Sabia bem que ele não ouviria caso eu avisasse que iria andar um pouco pelo campus, então logo me pus de pé e coloquei a mochila nas costas, saindo do lugar.
Chequei as horas no celular, percebendo que ainda faltava um pouco para que a próxima aula começasse e o coloquei no bolso da calça, reparando que não estava andando sozinho. Olhei de soslaio para o lado, percebendo que andava ao meu lado apreensiva e olhando vez ou outra para mim.
- Você pode, por favor, me deixar se desculpar?
- Desculpar pelo que? – perguntei, olhando algumas pessoas ao redor. – Por ter me deixado lá caído em frente a todos e sair com seu namorado como se nada tivesse acontecido?
Ela bufou colocando uma das mãos em meu peitoral, como se quisesse me parar. Rolei os olhos e virei de frente para ela.
- Eu tive que tirar Benjamin de lá. Não foi como se que quisesse ir embora.
- Já se desculpou?
- ! – falou um pouco mais alto, provavelmente já irritada. – Me desculpa. Por favor.
Respirei fundo e olhei em volta, antes de sair andando.
- Ótimo.
Balancei a cabeça rapidamente, espantando aquela lembrança e virei para o bar, pedindo mais uma dose de bebida. Pela primeira vez em uma noite, eu não tinha em mente encher a cara e sair sendo carregado do lugar. Pela primeira vez eu queria estar sóbrio. E nem sabia o porquê.
- ! – falou alto, se aproximando com algumas pessoas. – Você está aí desde que a festa começou.
- Eu já falei com algumas pessoas. Vim pra cá tem alguns minutos.
- Então vem aqui, vou te apresentar a outras pessoas. – deu ênfase na palavra, arqueando uma das sobrancelhas. Estreitei os olhos com o ato do garoto. Ele já estava chapado?
Nos aproximamos de um pequeno grupo próximos à varanda e meu amigo parou ao lado deles, colocando um dos braços nas costas de um moreno. Depois me apresentou para outros três e engatamos numa conversa sobre coisas aleatórias, sem muito ânimo. Diferente da conversa, a festa estava ótima. O som estourava nas caixas de som do jardim e muitas pessoas dançavam.
Dei as costas para o grupo, voltando novamente em direção ao bar que ficava um pouco perto da porta de entrada e assim que me sentei em uma das banquetas, avistei dois rostos conhecidos. Um vinco se formou em minha testa, não por estar confuso, mas sim surpreso. Nunca que depois do que aconteceu, achei que fosse aparecer na festa. Ainda mais com Benjamin ao seu lado.
passou em minha frente mais uma vez, logo aproveitei para puxá-lo pela camisa, parando-o do meu lado.
- O que é que ela está fazendo aqui? – perguntei, sentindo meu corpo esquentar. olhou para mim confuso e virou o pescoço em direção à porta, soltando um xingamento baixo.
- Eu a convidei aquele dia no pub. – disse por fim. – Mas não achei que ela realmente viria. Benjamin?
Disse, espantado. Bufei, pegando a bebida que o barman havia deixado no balcão.
- Eu vou pedir para eles se retirarem.
ia se afastando quando o chamei mais uma vez.
- Não. Não precisa. Eu fico longe. Afinal, você a convidou. – permaneceu me olhando. - Esquece, não precisa se preocupar.
Ele assentiu se distanciando. Fiquei mais algum tempo no bar observando o casal de longe. Pareciam estar bem um com o outro e aquilo me irritava. Não me sentia irritado por estar com ele, mas me sentia irritado pelo que tinha acontecido. Eu ainda estava enfurecido.
Pisquei algumas vezes e observei olhando em minha direção. Sabia que se Benjamin não estivesse ali, ela já estava ao meu lado, tentando se desculpar mais uma vez. Olhei para os lados, focando minha atenção em qualquer coisa que não fosse ela. Encarei o jardim iluminado ao lado de fora, as luzes penduradas ao fio acesas, iluminando não só a piscina como as árvores que tinham ali e o palco improvisado. Todos estavam adorando.

-x-

Caminhei entre as pessoas segurando mais um copo vazio. Os flashs atrapalhavam minha visão vez ou outra, mas por fim consegui enxergar o gramado, seguindo até ele. Sentei em uma das cadeiras de madeira espalhadas por ali e ouvi risadas aumentando cada vez mais.
- ! – disse alto, ficando ao meu lado. – Não esquece meu discurso, cara. Vai começar agora.
Estreitei os olhos, tentando entender o que ele falava.
- Vai começar o que? – perguntei o encarando.
- Os discursos! Um pessoal quer dizer algo. E você como meu melhor amigo, tem essa obrigação também. – apontou para mim, pegando o copo plástico da minha mão. – Espero que tenha algo em mente.
Sorriu antes de sair andando pelo gramado indo de encontro a outro grupo de pessoas. Passei uma das mãos pelos cabelos pouco molhados pelo sereno e levantei da cadeira, passando os olhos pela multidão. Nada de . Nada de Benjamin.
E eu não sabia o porquê de ainda me preocupar com ela.
Caminhei em direção a casa, mas antes de subir os pequenos degraus da varanda, ouvi os gritos vindos do palco improvisado. Virei o corpo, observando segurando um microfone e rindo ao mesmo tempo.
Pude me aproximar a tempo suficiente de ouvir a gargalhada do mesmo apontando em direção a um rapaz entre algumas garotas. Encostei em uma das cadeiras que estavam ali e cruzei os braços, observando a figura do meu amigo, completamente alegre, em cima daquele palco.
- Estou feliz por todos estarem aqui. Sério, é muito irado! – riu fraco, olhando para todos. – Jonathan, seu discurso foi demais. Obrigado, cara. – apontou para o loiro encostado ao palco.
Olhei rapidamente para meu lado esquerdo e vi os dois parados perto de uma árvore. estava sendo abraçado por Benjamin, que observava em cima do palco. Engoli em seco virando o rosto assim que olhou para o lado também.
- Agora, quero uma pessoa aqui em cima. – meu amigo falou, olhando todos na multidão. – ? , cadê você, seu boçal?
Soltei uma risada fraca, balançando a cabeça negativamente. Algumas pessoas também riram, outras bateram palma e algumas apenas me encararam, como se perguntassem quem eu era.
Caminhei em direção ao palco e dei impulso com os pés e mãos para subir no local. Olhei para , o encarando, mas o mesmo continha um sorriso fraco no rosto.
O olhei mais uma vez e puxei o microfone da sua mão, umedecendo os lábios rapidamente. Encarei cada uma daquelas pessoas, pensando no que realmente falar. tinha os braços cruzados, ainda em cima do palco.
Engoli em seco, piscando algumas vezes.
- Eu conheci esse babaca em uma dessas confusões da vida. – olhei diretamente para Benjamin e sorri minimamente, ouvindo risadas das outras pessoas. – Sabe, quando você menos espera e percebe que aquela pessoa precisa da sua ajuda, e bom, foi assim com . – apontei para ele que abaixou a cabeça, sorrindo. Lawes me encarava com um sorriso idiota no rosto, provavelmente já sabendo o que aconteceria ali. E aquilo só me fez ter certeza de algo que tinha em mente. Virei o rosto para meu amigo, o encarando. – Você é um cara incrível, um irmão pra mim. Sabe disso. Não mude nunca. – sorri abertamente e ouvi alguns aplausos. veio até a mim, provavelmente achando que o discurso havia acabado. – E enquanto eu estava aqui, falando para , percebi uma coisa. – O loiro me encarou, sibilando um baixo “O que você está fazendo, cara?”. – Tudo bem que a comemoração é do , mas tem gente que também merece um discurso aqui. – olhei para a multidão. A maioria me olhava tentando decifrar o que eu estava fazendo. – Eu queria falar sobre duas pessoas que estão entre vocês. – apontei para as pessoas. – Então, vou juntar o útil ao agradável. Vou falar dos dois em um discurso só. – dei um sorrisinho para , que me olhava incrédula. – Bom, a primeira pessoa era muito especial pra mim. De verdade. Eu lambia o chão pra ela passar. Imaginem um cara completamente apaixonado e abobalhado por ver a garota. Esse era eu. – balancei a cabeça, concordando comigo mesmo. – E ela era minha melhor amiga.
- Ninguém quer saber da sua rejeição amorosa, . – Lawes disse alto, provocando risadinhas.
- Ainda bem que você se pronunciou, Lawes. – apontei para ele que ficou sério rapidamente. Soltei uma pequena risada. – Esse cara, pessoal. – continuei o olhando. – É um puta de um corno. – ele franziu o cenho, me olhando sem entender. – Não precisa ficar assim, Benjamin. Essas coisas realmente acontecem, não é? Desculpa falar assim, em frente à metade da universidade, mas foi o único jeito que encontrei para te dar a notícia já que da última vez você não viu, então...
- Que merda você tá falando, ? – gritou, soltando bruscamente. – Que porra é essa? – se virou para a namorada.
- Deixa eu explicar direito, depois vocês podem resolver isso e você, Benjamin , aproveita e conta pra elas sobre as garotas que você traça quase todas as noites. Incluindo também, a Lise, não é, ? – me olhou com os olhos marejados, sem acreditar no que estava acontecendo. E pela primeira vez em anos, eu senti um grande alívio em estar falando aquilo.
- Você é um idiota, . É isso o que você é! – cuspiu as palavras, me encarando.
Todos olhavam a cena atônitos e em partes, estavam adorando. , assim que o olhei de relance, tinha uma das mãos na boca, segurando a gargalhada que estava por vir. Metade das pessoas encarava o casal com certo ar divertido.
- Eu sempre fui, . Comecei quando descobri que gostava de você. – pisquei para a garota. Benjamin alternava o olhar de para mim, sem acreditar no que estava acontecendo. – Ah, Benjamin, naquele dia do pub, não só naquele dia, claro. Antes de você transar com sua princesa aí – apontei com o queixo para . – Nós trocamos muito mais do que saliva. – balancei a cabeça concordando. Ele me olhou vermelho de raiva. Dei de ombros. – Ah, eu achei que você queria saber. Não sei.
- Você está morto, ! – disse entre os dentes, me encarando.
- Por quê? – fingi indignação. - Por te contar que sua namorada te traia comigo? Por mostrar a que você também traía ela com a Lise, melhor amiga da garota? – apontei para ela, que tinha uma das mãos no rosto. – Lawes, você é muito mal agradecido. – balancei a cabeça negativamente. – Mas eu espero que você tenha adorado o discurso. Foi de coração, irmão. – pus uma das mãos em cima do peitoral e o olhei sério. – E também espero que você vá pra casa do caralho, seu merda. E que seja muito feliz ao lado dessa cretina.
Pisquei para os dois e virei o corpo, indo em direção a . O garoto me encarava boquiaberto, assim como todas as pessoas do local, mas ele segurava a gargalhada assim como antes. Entreguei o microfone para ele e sorri minimamente, sentindo tapas de leve em minhas costas.
- Eu não acredito que você fez isso. – disse, rindo baixo.
- Nem eu.
Desceu do palco que agora, estava vazio e as caixas de som tocavam uma musica animada qualquer. Provavelmente tentando fazer com que as pessoas esquecessem o ocorrido.
Peguei um copo de bebida qualquer e o virei de vez, fazendo o mesmo com mais dois copos que tinham perto do balcão. me olhava de certa forma orgulhoso e eu estava me sentindo assim. Saí da casa com um sorriso radiante nos lábios. Eu estava feliz, realizado e um tanto otimista em relação a tudo.
Ela estava escolhendo aquele como seu destino. Eu sabia disso, estávamos nos separando naquele exato momento. E apesar de ver a garota pela qual eu senti os maiores e mais rápidos batimentos cardíacos ir embora daquela forma, eu tinha plena certeza que aquela não era a pior parte. E as coisas a partir dali mudariam para sempre.
Porque agora eu iria seguir em frente. Seguir em frente sem .

Fim.



Nota da autora: Hey, pessoal. Como estão? Bom, não queiram me matar pelo final, mas ele ficou exatamente como eu queria. Acho que a Isabelly mereceu tudo isso e que o Daniel tinha que sair por cima mesmo! Afinal, ele já sofreu bastante, não é? Beijinhos e até mais, gatinhas! <3
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