CAPÍTULOS: [Prólogo] [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7]









Prólogo


O que é o amor? Desde que a conheci, era essa a pergunta que me atormentava. Talvez fossem seus enormes olhos azuis, que me hipnotizaram desde que os vi pela primeira vez. Eram expressivos e intensos, fazendo jus à pessoa que os tinha. Talvez viesse a ser seu gloss de maçã, o qual ela sempre usava. Sei apenas que meu coração bateu mais forte quando a conheci. Eu era apenas uma criança e já estava descobrindo o que era amar. Hoje, treze anos depois, é por ela que meu coração bate mais forte, minha melhor amiga, a garota por quem sou perdidamente apaixonado.


Capítulo 1


Estava sentado sob a sombra de uma grande árvore, de um lado meu caderno de composições e uma caneta, do outro meu violão. Olhava atentamente para o horizonte, admirando minha fonte de inspiração. Ela sorria abertamente, enquanto conversava com suas amigas e seu novo namorado. Era notável, mesmo de longe, que, de todos ali, ela era a que mais brilhava. Meu coração palpitava, ao observá-la de onde estava, as borboletas faziam festa em meu estômago, tudo isso pelo simples fato de vê-la sorrir. Em meio a um de seus risos espontâneos, nossos olhares se cruzaram e foi como se uma corrente elétrica houvesse me atingido, pegando-me da cabeça aos pés, tamanha era a intensidade de nossos olhares. Ela disse algo a suas amigas, despediu-se do namorado com um selinho, que assumo ter doído no fundo do meu coração, e caminhou graciosamente até onde eu estava.
- Por que você está isolado aqui, ?
- Eu estava tentando compor, pequena.
- Posso ver? Por favorzinho?
Era impossível resistir à carinha que ela estava fazendo. Seus olhos brilhavam em pura inocência e sua boca formava um biquinho adorável, tornando a vontade de beijá-la assustadoramente forte. Controlei todas as minhas emoções e puxei-a para o meu colo, respondendo-a de forma carinhosa:
- Deixo, mas só quando eu terminar.
Ela preparava-se para protestar, quando a surpreendi com uma mordida carinhosa na bochecha. A gargalhada que ela deu em seguida foi como música para os meus ouvidos, aquecendo meu peito de uma forma tão boa, que foi impossível não rir junto. Ataquei-a com cócegas, apenas para continuar ouvindo sua risada gostosa.
- Para , por favor. Eu não consigo respirar.
Parei com as cócegas e abracei-a forte. Era uma das coisas que eu mais gostava de fazer: ficar abraçado a ela, apenas sentindo seu perfume suave e ouvindo sua respiração calma.
- Sabe, , eu não ligaria se eu morresse agora, abraçado a você.
- Não diz uma coisa dessas, . Eu não posso perder você – ela disse com os olhos já cheios de lágrimas. – Me diz o que seria de mim, sem você aqui? Quem iria me abraçar forte e dizer que vai ficar tudo bem, quando eu sentisse meu mundo desabar? Quem iria cuidar de mim, quando algum retardado partisse meu coração? Quem iria estar sempre aqui, independente de qualquer coisa? Não existiria sem . Eu não existo sem meu melhor amigo.
Eu estava tão emocionado com sua declaração, mesmo que no fundo ela apenas me enxergasse como amigo. Era sempre para mim que ela viria correndo, para contar o que quer que fosse. Sequei suas lágrimas e depositei um beijo singelo em sua bochecha, antes de sussurrar de forma sincera:
- Eu nunca iria partir seu coração, pequena. Você saberia disso se me desse uma chance.
No mesmo instante em que terminei de falar, senti seu corpo ficar tenso no meu colo, seus olhos se arregalaram e ela me encarou, surpresa.
- O que você disse, ? – suas bochechas logo ganharam um tom avermelhado, que a deixou ainda mais adorável. Engasguei com a minha saliva, antes de conseguir responder-lhe.
- Eu disse que seu novo namorado está te chamando.
- Ah, sim. Eu... hum... vou lá, ver o que ele quer. – Sua carinha de decepção me fez pensar que não era bem isso que ela gostaria de ouvir, fazendo com que uma faísca de esperança surgisse em mim.
Logo que seu pequeno corpo se afastou, senti um vazio em mim, como se parte de mim houvesse sido retirada. Respirei fundo e voltei a me concentrar na música.


Capítulo 2


(flashback 13 anos antes)

Era tarde de sábado. Eu estava brincando com meu novo caminhãozinho, isolado das outras crianças do parque. Ao longe, eu conseguia ouvir as crianças rindo e suas mães gritando, preocupadas que algo pudesse acontecer. Brincava tão distraído, que não percebi uma menininha se aproximando. O impacto do seu corpo com o meu foi tão grande, que fez com que eu perdesse o meu equilíbrio e caísse, trazendo-a junto comigo. Ela logo se levantou, rindo, e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Levantei, um pouco sem graça, e já estava pronto para pedir desculpas, quando a olhei pela primeira vez. Seu corpo era um pouco menor que o meu, seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo, já um pouco bagunçado, mas foi quando olhei em seus olhos, de um azul tão claro, que senti meu mundo desandar. Foi como se o mundo girasse mais devagar, como se todos à minha volta houvessem sumido e só existíssemos eu e ela ali. Meu coração falhou uma batida, antes de voltar a bater acelerado em meu peito. Minha respiração ficou ofegante, como se eu houvesse corrido uma maratona, e minhas mãos começaram a suar frio. Eu, com meus cinco anos de idade, estava descobrindo o que era amor à primeira vista. Fiquei observando-a, estático, até que o som de sua risada preencheu meus ouvidos, fazendo com que eu tivesse alguma reação.
- Oi. Qual o seu nome?
Ela deu um sorriso tímido, que fez com que suas bochechas ficassem vermelhas, deixando-a com uma expressão ainda mais inocente em seu rosto. Ela se aproximou e me respondeu, com uma voz extremamente doce:
- . E o seu?
- Eu me chamo .
- Nome bonito. Desculpa por ter caído em cima de você. Eu estava distraída. Bem que mamãe me disse para não correr. Você tá brincando do que? Esse caminhãozinho é seu? Posso brincar também? Minha mãe diz que isso é coisa de menino, mas eu acho muito divertido.
destrambelhou a falar, deixando-me sem entender quase nada. Sorri de seu jeito espontâneo e puxei-a para brincar comigo. E, desde então, descobri que sou apaixonado pela menininha do parque, a qual eu chamo de melhor amiga.


Capítulo 3


Sono. Sonhos. Cama quente e confortável. Uma música irritante tocando. Mais sono. E essa música que fica cada vez mais alta. Resmunguei alguns palavrões, quando reconheci o toque do meu celular. Estendi a mão à procura dele e abri apenas um olho para ver o nome no visor. Eu mataria o infeliz que estivesse perturbando meu sono. Ao ver quem estava ligando, meu coração parou por alguns milésimos de segundo. Duas e meia da manhã. Algo muito sério devia ter acontecido, para que ela me ligasse àquela hora. Prendi a respiração, ao atender, sentindo minhas mãos suarem e meu coração bater acelerado. Na minha cabeça, já passavam mil e uma coisas que poderiam ter acontecido.
- Alô, ? Tudo bem?
Ouvi sua respiração ofegante do outro lado da linha e me desesperei ainda mais. Logo ela respirou fundo e me respondeu, com voz de choro.
- , por favor, vem me buscar.
Senti um aperto em meu peito, ao ouvir o desespero da sua voz. Tentei manter a calma e continuar conversando com ela, enquanto fui atrás da chave do carro.
- Calma, princesa. Eu já estou indo. Agora, me diz o que aconteceu e onde você está.
- O Josh. Eu to na casa dele. Vem rápido, por favor.
Eu ia falar mais alguma coisa, mas ela desligou. Respirei fundo e tentei manter a calma. Ela precisava de mim e eu não podia me desesperar. Tentava não pensar nas coisas que o imbecil do namorado, ou talvez agora ex, tivesse feito para minha pequena.
O caminho até onde ele morava me pareceu uma eternidade. Sabia que tudo isso era por conta do meu nervosismo, mas não conseguia me controlar, sabendo que ela estava mal. Se algo acontecesse à minha , eu não sei o que seria de mim. Doía muito, vê-la sofrendo. Doía, quando algo acontecia a ela e eu nada podia fazer. Pisei fundo no acelerador e logo avistei a casa, ou melhor, a mansão, onde Joshua morava. estava encolhida rente ao meio fio, usava um vestido que ia até um pouco acima de seus joelhos e estava sem nenhuma blusa de frio. Era possível notar, mesmo de longe, que ela tremia de frio e chorava muito. Desci do carro e fui correndo ao seu encontro. Assim que me viu, levantou e correu em minha direção, sua expressão demonstrando todo o alívio que sentia ao me ver ali. abraçou-me com tanta força. Seu corpo estava tenso e completamente gelado, mas, ao retribuir o abraço, senti que ela havia relaxado. Levei-a até onde o carro estava estacionado e evitei fazer qualquer pergunta, enquanto ainda estivéssemos ali. Durante todo o caminho de volta, fomos em silêncio. Eu a ouvia chorando e sentia meu coração se quebrar em pedaços.
Cheguei em casa e percebi que ela havia adormecido. Sorri, ao perceber o quão linda ela ficava dormindo, mesmo que seus olhos estivessem inchados, devido ao choro. Peguei-a no colo e andei em direção a meu apartamento. Estava tentando abrir a porta de casa, quando ela despertou e me olhou, confusa. Abri um sorriso tranquilo e finalmente consegui entrar em casa, trazendo-a comigo.
- Vem, . Toma um banho quente. Vou arrumar a cama pra você.
- Obrigada, . Você é um anjo.
Separava a roupa que emprestaria para usar e, em minha cabeça, passavam-se mil coisas. Em meu coração, estava apenas o aperto por amá-la demais.
- !
- Diga, pequena. Precisa de alguma coisa? – Corri até a porta do banheiro. O susto que levei com seu grito me fez pensar que ela havia se machucado.
- Fica aqui comigo?
Sua voz de choro me quebrava por inteiro, apertava o peito e me sufocava. Eu me sentia impotente, só por saber que ela não estava com seu habitual sorriso. Engoli seco, com o seu pedido. Eu não podia negar isso a ela, mas não sabia como reagir a isso. Respirei fundo e entrei: ela precisava de mim.
- Pronto, anjo. Estou aqui.
- Obrigada. Eu não queria mais ficar sozinha com meus pensamentos.
- Quer conversar agora?
Sentei em cima da pia, de costas para o box. Não podia ficar olhando para ela, pois, por mais delicado que fosse o momento, eu ainda era homem. Balançava minhas pernas lentamente, enquanto esperava que ela dissesse algo. Ouvi-a respirar fundo, antes de começar a desabafar:
- Primeiro, eu gostaria de pedir desculpas, por ter te ligado tão tarde.
- Ei, o que eu já te disse? Eu sempre vou estar aqui, pra tudo. Agora me diz o que aconteceu? Você me deixou assustado.
- Hoje, estaríamos fazendo uma semana juntos, como namorados. Ele me chamou pra jantar e tudo mais, queria que essa data fosse especial, queria que fosse tudo lindo para que eu sempre me lembrasse do quão importante era pra ele. Eu, como a tola que sou, fui. Pensei que ele, de fato, estava se preocupando com essas coisas. Ele foi me buscar e estava lindo. Foi um verdadeiro cavalheiro comigo, mas eu podia perceber que ele estava nervoso. – Nessa hora, eu percebi que ela estava prestes a chorar, mas me segurei, enquanto esperava que ela terminasse. – Fomos pra um restaurante chique e, durante todo o nosso jantar, o telefone dele não parava de tocar. Ele atendeu uma vez e ficou todo bravo, repetindo, o tempo todo, “eu já disse pra você não me ligar”, “estou tentando agilizar as coisas, mas você fica me atrapalhando”. Tentei não me importar com isso. Ele tentava disfarçar e começou a ficar passando a mão na minha coxa, tentando subir a mão até , começou a sussurrar coisas obscenas pra mim. Depois que ele pagou o jantar, me levou pra casa dele, e então ele piorou e começou a ser bruto comigo. Ele me agarrava com força, estava me obrigando a beijá-lo. Subimos até seu quarto e ele começou a tentar tirar minhas roupas, enquanto tirava a dele e gritava coisas como “agora você vai ver como é que se faz”, “estava louco pra te comer”. – Ela chorava de soluçar, relembrando as coisas que aquele mauricinho metido a besta havia feito. Ela não conseguia continuar falando e meu coração se quebrava em pedaços, a cada soluço dela. – Eu gritava, . Gritava pra que ele parasse, mas ele não me ouvia, só me agarrava mais. Tentei me soltar, até que eu consegui mordê-lo, e ele ficou furioso e começou a falar coisas horríveis sobre mim, como “ninguém te suporta, todos só querem te comer”, “você é uma vadiazinha”. Me vesti correndo e corri o máximo que pude. Eu tremia e não conseguia enxergar nada. Não sei como consegui te ligar, mas você foi a primeira pessoa que me veio à cabeça. , eu fiquei com tanto medo.
Fechei minhas mãos em punho e respirei fundo. Aquele desgraçado não havia feito aquilo com ela. Eu o mataria. chorava copiosamente, e eu não sabia o que fazer. Fui até ela, ignorando que ela estava nua, e simplesmente a abracei, deixando que ela chorasse abraçada a mim. Não ligava que minha roupa estivesse encharcada: o que importava ali era ela, seria sempre ela. Desliguei o chuveiro e tirei-a de lá. Peguei uma toalha e sequei-a com todo o amor e carinho do mundo. Ajudei-a a vestir a roupa que eu havia separado e nos guiei até meu quarto. Penteei seu cabelo, enquanto sussurrava que tudo ficaria bem e que eu estava ali. Esperei que ela se deitasse para cobri-la e deitei ao seu lado. Logo ela me abraçou e continuou a chorar, e foi assim que meu anjo adormeceu, abraçada a mim, enquanto gradativamente seu peito se acalmava e seu choro cessava. E eu soube, naquele momento, que, independente do que acontecesse, eu faria de tudo para vê-la bem. Eu a amava com todas as minhas forças e faria tudo que estivesse ao meu alcance para conquistá-la.


Capítulo 4


(flashback 8 anos atrás)

Era um sábado de sol e eu estava no parquinho com a . Cinco anos haviam se passado, desde o dia em que havíamos nos conhecido. Desde então, tínhamos nos tornado inseparáveis. Percebi, com o decorrer do tempo, que eu a amava e ela era tudo para mim. Discutíamos sobre o que era amor, quando ela me surpreendeu com uma pergunta?
- , você já beijou alguém?
- Nunca. Você já?
Suas bochechas ficaram vermelhas, com a minha pergunta. Eu já estava pronto para continuar o assunto, quando ele me pegou de surpresa com um pedido que ela não fazia ideia do efeito que teve em mim.
- Vamos dar nosso primeiro beijo juntos?
Engasguei com o ar. Não sabia o que responder. Tinha plena noção de que meus olhos estavam arregalados. Ela já estava considerando pedir desculpas, quando eu resolvi que tomaria uma atitude. Puxei-a para perto de mim e lhe dei um selinho, sentindo, logo em seguida, todo o meu corpo se arrepiar. Eu sentia medo, meu coração batia forte em meu peito. Com um pouco mais de coragem, iniciei um beijo lento. Não sabia o que fazer. Nossas línguas estavam envolvidas em uma dança, como se fossem feitas para aquilo. Seu beijo tinha um gosto de gloss de maçã e aquilo fez com que tudo se tornasse ainda melhor. Beijávamo-nos como se já houvéssemos feito aquilo várias e várias vezes, mas ainda havia aquela sensação de ser a primeira vez. Não saberia descrever, nem em um milhão de anos, como era beijá-la. Era tudo tão natural, tão perfeito, que me perguntei se não seria apenas um sonho. Parecia que éramos feitos um para o outro. Deus, como eu amo a .


Capítulo 5


Acordei, sentindo uma respiração em meu pescoço, que fazia cócegas. Seu cabelo estava espalhado por todo o travesseiro, e algumas partes pinicavam meu rosto. Abri meus olhos lentamente, me acostumando com a luz que entrava pela janela. Demorei um pouco para me situar, mas logo me lembrei da noite anterior. Ligação de madrugada. Choro. E minha dormindo ao meu lado, abraçada a mim. Olhei para o anjo adormecido ao meu lado e sorri. Ela ficava linda, dormindo, seu cabelo estava completamente bagunçado e caía um pouco em seu rosto, sua expressão estava tranquila. Eu a observava dormir, quando uma ideia me veio à mente. Era um pouco insano, mas, por ela, valeria a pena arriscar. Levantei-me devagar, para não acordá-la, e fui arrumar as coisas de que precisaríamos.
- Bom dia, .
Derrubei algumas coisas que estavam na minha mão, devido ao susto que levei ao ouvir sua voz sonolenta. Era uma sensação engraçada ouvir sua voz quando ela acordava, causava em mim um sentimento de que aquilo era certo e me trazia paz.
- Bom dia, pequena. Dormiu bem?
- Estaria dormindo ainda mais, se você não estivesse fazendo tanto barulho. Pretende derrubar sua casa?
- Já acorda engraçadinha assim, é?
- Essa é só mais uma das minhas muitas qualidades. Agora conta aí: o que você está tentando fazer?
- Humildade ficou na cama pelo visto. Enfim, estou arrumando nossas bicicletas. Nós vamos fazer um passeio e, não, eu não vou falar pra onde nós vamos. Agora, vá se arrumar.
Emburrada com a falta de informações, saiu andando a passos firmes para o quarto. Ri sozinho, pensando no quão adorável ela ficava quando era contrariada. Embora eu sempre a achasse adorável.
- Devagar, . Minhas pernas não aguentam mais.
- Rápido, sua sedentária. Nós estamos quase chegando.
Estávamos andando de bicicleta há horas e havíamos visitado quase todos os pontos turísticos de Londres, justamente aqueles que eu sabia serem os de que mais gostava. Pedalávamos, agora, em direção à London Eye. Durante todo o passeio, pude perceber o quão feliz ela havia ficado com a surpresa. Eu sabia que, após a noite turbulenta, ela precisaria de algo para acalmá-la. Levei-a para almoçar em seu restaurante favorito, tiramos as fotos mais bizarras, e passamos o tempo todo em meio a risos e tudo a que tínhamos direito. Assim que avistei a roda gigante, acelerei. Eu a ouvia reclamar e apenas ria, pois sabia que, no fundo, ela estava amando tudo aquilo. Colocamos nossas bicicletas em um lugar próprio para isso e fomos para a fila esperar.
- Finalmente, grandão. Eu já não estava mais aguentando.
- Como você é gorda sedentária.
- Gorda? Sedentária? Você viu o tanto que me fez andar de bicicleta?
- Não reclame, princesa. Está parecendo uma velha rabugenta, mas vai falar que não gostou?
Ela abriu a boca para dizer o contrário, mas seu sorriso lhe entregou. abraçou-me com toda sua força e sussurrou um “obrigada”. Um alivio percorreu meu corpo com isso. Era imensamente prazeroso saber que ela estava feliz e que a causa disso foi algo que eu fiz. Nossa vez chegou e percebi que seríamos apenas nós dois. estava maravilhada com aquilo, sorria e não parava de apontar tudo o que via. Assim que nossa cabine atingiu o topo, eu a abracei por trás e sussurrei:
- Olha, princesa. O sol está se pondo.
- Isso é tão lindo. Muito obrigada por me trazer até aqui.
- Hoje, pequena, resolvi fazer esse passeio com você, pra que nunca se esqueça das coisas bonitas da vida. Nós vivemos em constante correria e nos esquecemos de admirar pequenas coisas, seja um pôr do sol, ou seja uma obra de arte. Não se esqueça nunca, anjo, que embora as pessoas pareçam horríveis e façam coisas que nos fazem mal, não podemos nos abalar com isso. Eles não veem o que há de melhor no mundo, não sabem admirar pequenos gestos e momentos de carinho. Nunca deixe que ninguém apague seu sorriso: ele é lindo. Lembre-se sempre: a vida é linda e muitas vezes alguém está apenas esperando você sorrir, para encontrar motivos para continuar. Estaremos sempre rodeados de pessoas fúteis e invejosas, não deixe que apaguem seu brilho. E aproveite a vista, aproveite a vida.
virou-se para mim e sorriu. Seus olhos estavam brilhando e eu sabia que ela estava grata por tudo o que eu estava fazendo por ela. Percebi, em seu olhar, algo mais, porém não consegui identificar.
- Obrigada, , de verdade. Você é tudo pra mim, meu porto seguro. Sempre que eu precisei, você esteve ali, quando eu chorei, você secou minhas lágrimas. Você sempre esteve ali, pra rir comigo, e para que eu pudesse compartilhar meus sonhos e meus medos. Nunca, em toda minha vida, eu serei capaz de te agradecer por tudo o que você tem feito por mim. Você, sim, é um anjo, meu anjo da guarda. Amo você, . Muito.
- Está tentando me fazer chorar, é? Eu sempre vou estar aqui, não se esqueça jamais disso. Eu também amo você, e espero que um dia possa te mostrar o quanto.
A roda gigante parou e nós descemos. Estávamos em um silencio um pouco constrangedor, enquanto andávamos, lado a lado, até onde nossas bicicletas estavam. Peguei-a no colo e corri, ouvindo sua gargalhada em seguida. E, então, tudo entre nós estava normal novamente. Apenas com a diferença de que ali, naquele momento, alguns sentimentos novos nasciam.


Capítulo 6


(um mês depois)
Férias. Sábado. Dormir até tarde. Sono. Cama quente. Férias. Sono pós-festa. E um celular tocando sem parar. Espera. Um celular? Busquei por meu celular no amontoado de cobertas e, assim que o achei, atendi, sem nem mesmo ver quem era.
- Quem é?
- Bom dia pra você também, . Eu to bem. Obrigada por perguntar.
- Ah. Oi, pequena. Bom dia. O que você fazendo, acordada a essa hora?
- Você sabe que horas são? Não me diga que ficou até tarde na festa de ontem. Mas, enfim, liguei porque eu estou entediada. Pensei em te chamar aqui, pra gente fazer alguma coisa.
- Ah, pequena. Eu tinha outros planos pra hoje.
- Como, por exemplo, dormir o dia todo?
- Por aí. Brincadeirinha, anjo. Arruma suas coisas. Daqui a uma hora, eu passo aí, pra te buscar.
- E para onde nós vamos? O que eu devo levar?
- É surpresa. Quero te mostrar algo. Vista algo confortável. Beijos.
Desliguei o telefone, antes que ela tentasse tirar alguma informação de mim, e me levantei. Eu havia terminado uma música na noite anterior, depois de chegar da festa, e uma ideia havia surgido em minha mente. Eu precisava confessar o que sentia por , não podia mais aguentar isso em segredo. O último mês fora uma prova de que as coisas entre nós estavam mudando, pois a cada surpresa que eu fazia para ela, um brilho que eu nunca antes havia visto aparecia, ela estava mais carinhosa e não estava se envolvendo com mais ninguém.
Terminei de arrumar minhas coisas e fui me arrumar. Estava sol em Londres e o dia parecia propício para o que eu tinha em mente. Levei minhas coisas para o carro e vi que eu estava quinze minutos atrasado, sem contar que até chegar à casa de eu iria atrasar mais uns vinte minutos. Ela me mataria.
Estacionei em frente à casa em que morava e buzinei. Alguns minutos depois, ela saiu, toda emburrada. Dei um sorriso feliz, ao vê-la, e desci, para abrir a porta do carro para ela.
- Bom dia, . Está pronta?
- E para onde nós vamos?
Esperei que ela entrasse no carro e dei a volta. Durante o percurso, ela insistiu para que eu contasse para onde eu a estava levando.
- Já sei. Você vai me levar pra um lugar deserto e me matar. É por isso que você virou meu amigo: para descobrir coisas sobre mim e me matar na hora certa.
Eu ri da sua ideia maluca e neguei com a cabeça. E assim fomos, rindo muito e conversando sobre coisas aleatórias. Era tão fácil estar na presença dela. Eu era eu mesmo e me sentia feliz com isso. Estávamos quase chegando, e meu coração batia acelerado e minhas mãos suavam frio. Eu apertava o volante com força, com medo de estar me precipitando e acabar estragando tudo.
Depois de quase duas horas de viagem, finalmente chegamos a Brighton. Olhei para o lado e percebi que sorria. Eu sabia o quanto ela amava praias e o quanto ela gostaria de ir para o Brasil, mas isso era o mais próximo de uma praia a que eu poderia levá-la. Pude notar que ela estava sem palavras e não parava de sorrir. Desci do carro, enquanto tremia da cabeça aos pés, e abri a porta, para que ela pudesse descer.
- , eu não acredito que você me trouxe até aqui. Não sei nem o que dizer.
- Não precisa dizer nada, princesa. Agora vem. Vamos almoçar.
E eu não soube, naquela hora, que ali, naquele lugar, rodeado de pessoas desconhecidas, nasceria algo que seria capaz de durar para o resto de nossas vidas.


Capítulo 7


Almoçamos em um restaurante próximo ao píer. Depois seguimos com nossa caminhada, aproveitando o que Brighton tinha de melhor. Eu me sentia mais nervoso a cada minuto que se passava. Estava perto do sol se pôr, quando resolvi que era agora ou nunca. Pedi para que esperasse ali e corri até o carro, para buscar o violão. Minhas mãos tremiam e eu sentia que, a qualquer momento, derrubaria o violão. Aproximei-me de onde estava e sorri. Ela segurava seu chinelo e brincava na água. estava de costas para mim, por isso não viu quando eu larguei o violão no chão e me aproximei. Ela ria sozinha, ao sentir a água em contato com sua pele. Parecia uma criança. Cheguei perto o suficiente e a abracei por trás, rodopiando com ela, enquanto a ouvia gargalhar. Assim que a coloquei no chão, me senti nervoso novamente. Era agora.
- , quero te mostrar uma coisa.
- O que é, ?
- Lembra que certa vez você me perguntou o que eu estava fazendo, e eu respondi que estava compondo? E que, assim que eu terminasse, eu te mostraria?
- Você já terminou?
- Sim, e eu gostaria que você escutasse. Essa música tem um significado importante para mim.
Guiei-a até onde o violão estava e sentei. Ela fez o mesmo, em seguida, e me olhou de forma carinhosa. Criei coragem e comecei a dedilhar os primeiros acordes da música. (sugiro que coloque Little Joanna do McFly para tocar)


Little 's got big blue eyes
(Pequena tem grandes olhos azuis)
I could die lying in her arms
(Eu poderia morrer deitado em seus braços)
And I'm starting to believe that dangers never near
(E eu estou começando a acreditar que o perigo nunca está por perto)
When is here
(Quando a está aqui)


Comecei a cantar e não conseguia olhar para ela e ver qual era sua reação. Eu estava colocando todo o meu sentimento, ao cantar aquela música. Era uma letra um pouco engraçada, se analisasse bem, porém era escrita com todo o amor do mundo.

Little 's like a laser beam sky
(Pequena é como um laser que corta o céu)
Gluteous Maximus like a fire fly
(Brilhando ao máximo como um vagalume)
And that's why I'm a kissaphobic
(E é por isso que eu sou beijo fóbico)


Lembrei no primeiro e único beijo que havíamos dado até então. Enquanto eu compunha, me lembrava de tudo que havia sentido quando isso aconteceu. O medo que senti, achando que ela poderia não gostar, achando que ela nunca mais olharia para mim. Mas também teve aquela sensação indescritível: era como estar no paraíso.

But when the shivers are salty
(Mas quando os calafrios são salgados)
And sea forms the colour of space
(E o mar forma a cor do espaço)
God, I love
(Deus, eu amo )


Ao cantar essa parte, olhei bem fundo em seus olhos, transmitindo toda a sinceridade do mundo, ao dizer aquilo. Mostrando que não era amor de amigo, irmão, era mais que aquilo. Ela sorriu, com os olhos cheios de lágrimas.

But she don't understand much
(Mas ela não entende o quanto)


Dei um sorriso triste nessa parte. Era a mais pura verdade. Ela sabia que eu a amava, mas sempre confundia esse amor com amor de amigos e não entendia a profundidade do que eu sentia.

I love it when our hands touch
(Eu amo quando nossas mãos se tocam)
Knowing that I'm near
(Sabendo que eu estou perto)
Apple-flavoured lipgloss
(Brilho labial sabor de maçã)


Ela sorriu com a menção de seu pequeno vício, o qual ela tinha desde que nos conhecemos. E eu sorri mais ainda, pois esse gloss foi um dos fatores que fez com que eu me apaixonasse ainda mais.

And feeling I got reckless
(Eu estou me sentindo jovem e indestrutível)
When 's here
(Quando está aqui)
Little 's got big blue eyes
(Pequena tem grandes olhos azuis)
I could die lying in her arms
(Eu poderia morrer deitado em seus braços)
And I'm starting to believe that dangers never near
(E eu estou começando a acreditar que o perigo nunca está por perto)
Oh, when is here
(Oh, quando a está aqui)


Finalizei a música e senti um peso sair de minhas costas. Levantei o olhar e percebi que me olhava, encantada. Seus olhos continham um brilho diferente do normal, era único e especial, como todos os outros tipos de olhar dela. Seu sorriso seria capaz de iluminar o mundo todo e aquilo me aqueceu por dentro.
- , isso foi... eu nem sei o que dizer. Foi tão surpreendente, magnifico. Você parecia um anjo cantando, e essa música.
- Estava com medo de que você não gostasse.
- Eu amei. Mas, você... eu... o que... como? – ela gaguejava e suas bochechas ficavam cada vez mais rosadas. Ela não conseguia formar frases coerentes, eu estava adorando vê-la desconcertada daquela forma. Respirei fundo e despejei tudo o que eu sentia.
- Anjo, eu não faço ideia de como começar. Enfim, há treze anos, eu conheci uma garota, ela era linda e tinha enormes olhos azuis, que transmitiam uma intensidade impressionante. Eram como perder-se na imensidão do mar, e aquele sorriso de tirar o fôlego era radiante e iluminava o mundo todo, era contagiante e eu me apaixonei, no momento em que a vi. Tinha apenas cinco anos, e isso pode parecer um absurdo, mas amei-a desde que a vi pela primeira vez. Eu era uma criança e nada sabia da vida, apenas que eu amava a menina de olhos azuis. Ela era linda, . O modo dela de agir, de falar, de ser, tudo nela me prendia de uma forma inexplicável. Nós viramos melhores amigos, éramos inseparáveis, eu estava lá nos piores e melhores momentos dela, compartilhávamos tudo, e entre nós não havia segredos, a não ser pelo fato de que ela não sabia que eu a amava. E os anos se passaram, e a cada dia, mês, que se passava, o sentimento crescia, tornava-se mais intenso. Nunca em toda minha vida, eu seria capaz de descrever isso, posso apenas dizer que é forte, que queima o peito como o inferno. É tão forte que faz parecer que estão me torturando da pior forma possível, a dor é horrível, ela dilacera todo o meu coração, faz sangrar e, mesmo assim, faz com que eu persista nisso, pois o bem que me faz supera qualquer dor. , eu amo você. Amo tanto que dói, corrói. E eu não consigo mais suportar tamanho sentimento. Eu amo estar com você, amo seu abraço, amo tudo que envolve você. Eu quero sempre poder me deitar ao seu lado e poder acordar com você ali, abraçada a mim, com sua respiração calma em meu pescoço e seu cabelo me pinicando o rosto. Quero poder abrir meus olhos e ter como primeira imagem no meu dia o seu rosto sonolento, ouvindo você me desejar bom dia. Quero poder estar com você nos meus melhores e piores momentos. Quero poder sempre compartilhar com você meus sonhos e também meus medos. Quero confiar a ti todos os meus segredos. Quero que você saiba sempre o quanto é amada. Eu te amo e lutaria por você, mesmo sem força nenhuma. Quero acordar com você toda descabelada e com o rosto amassado. Quero proteger você de todo e qualquer mal. Eu amo você mais do que você sequer possa imaginar, mais do que eu sou capaz de descrever. Palavras nunca serão o bastante para definir isso que eu sinto. Quero que saiba que meu coração sangra a cada dia que passo sem você, sem poder chamá-la de minha. Te amo tanto e dói tanto. Você é tudo pra mim. Foi você, quando te conheci treze anos atrás, e será você até o dia em que eu der meu último suspiro. EU AMO VOCÊ, . Quero que você seja minha, hoje e sempre. Eu te amo e isso basta.
Ao terminar de falar, senti meu peito livre. E eu chorava. Chorava como uma criança, mas me sentia aliviado. Olhei para ela e tive tempo apenas de vislumbrar seu sorriso, antes que ela se atirasse em meus braços e me beijasse com toda a paixão do mundo. E ali, naquela praia, enquanto o sol se punha e tínhamos todo o mar com testemunha, nós nos beijamos, selando, então, uma promessa. E eu soube que, finalmente, ela me pertencia, e eu faria de tudo para vê-la feliz. Faria tudo por , o grande amor da minha vida.


Fim



Nota da autora: (20/06/2015)




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