Finalizada em: 01/05/2015

Andando pelo corredor, avistei a luz de um dos três quartos acesa, a porta, entreaberta, e as fotos do mural jogadas no chão, aos recortes. O lençol da cama havia sido rasgado. Então, perguntei-me o que acontecera. Ao entrar no banheiro, encontrei a garota daquelas imagens, sentada com as costas na parede e o lençol enrolado no pescoço. Agachei-me perto dela e percebi que não respirava. O rosto, inchado, e os lábios, rachados e sem cor. Olhando para os seus braços vi cortes por toda pele.
Continuei minhas anotações, enquanto tiravam fotografias do seu corpo.


Capítulo Um

Help, I have done it again
I have been here many times before
Hurt myself again today
And the worst part is there's no one else to blame


Santana College; Denver; Segunda-feira - 9:57a.m.

O céu, cizento e sem núvens, dava um ar sombrio ao prédio do colégio, naquela manhã de ínicio da semana. Nenhum aluno estava do lado de fora, e o silêncio reverberava pelos corredores.
- Doutora Stuart, me acompanhe. - a diretora pediu, seguindo em direção à sua sala.
Atrás dela estavam os detetives e o chefe do departamento da Polícia Americana.
Ravena, um deles, sentou-se em uma poltrona, cruzou a perna e pegou o gravador.
- Está frio. Preferem que eu feche a janela? - a senhora perguntou.
- Não. Queremos apenas fazer algumas perguntas a respeito da morte da aluna .
Ela suspirou.
- O que querem saber?
- Tudo.
- estudava neste recinto desde que a família mudou para a cidade, há sete anos.
- Tinha um grupo social?
- Os professores comentavam que ela, na maioria das vezes, ficava dentro da sala de aula após os términos, resolvia as atividades rapidamente e não conversava ou interrompia-os. Era uma aluna empenhada.
- Quatro dias antes do ocorrido, recebeu uma mensagem com as siglas K.J., cujo informava sobre uma briga que a envolveria no pátio; enviaram no horário do intervalo e a rede vinha daqui.
- Nenhum aluno tem permissão para entrar na diretoria sem a minha autorização. - retrucou de forma incisiva.
- Não duvido disso, mas nem todos seguem as regras. Onde esteve na sexta-feira?
- Saí para uma reunião.
Malcom levantou da poltrona ao lado de Ravena, dando voltas pela sala.
- O pátio é aquele ali? - apontou para o espaço vago, pela janela de vidro.
A senhora Willians assentiu, sem virar a cabeça.
- Alguém avisou de que a agrediriam naquele pátio. Por quê?
- Existem pessoas boas, e eram seus amigos.
- Então K.J. é o seu amigo virtual?
- Sim.
- Por que um amigo não avisaria pessoalmente sobre o perigo que envolvia o outro?
- Medo.
Ravena franziu a testa.
- Do que teriam medo? A escola não é mais um lugar seguro?
- Mantemos os nossos alunos em ordem. Nunca recebemos críticas sobre a segurança.
- Uma aluna deste colégio morreu.
- Longe daqui.
Ravena olhou para Malcom.
- Terminamos com o interrogatório.

Santana College; Denver; 12:20p.m.

- Entre. - Ravena pediu, avistando a garota de cabelo ruivo e grandes olhos castanhos na porta da Detenção.
Ela sentou-se em frente a detetive, mantendo os ombros caídos e a cabeça baixa.
- Qual é o seu nome completo?
- Sarah Louise Zadled.
- Conheceu ?
- Estudávamos na mesma classe.
Ravena apoiou as costas na cadeira.
- Olhe para mim. O que sabe a seu respeito?
- Não éramos próximas. sentava atrás, na última carteira, e...
- E...
- Haviam garotos do time de rugby que faziam o mesmo. - suspirou.
- Imagino que ela sentia-se desconfortável.
Sarah hesitou.
- Na verdade, passou a andar com eles até o fim do semestre; bebiam à vontade no estacionamento e iam a festas.
- Há alguém com o apelido de K.J.?
A garota balançou a cabeça.
- Não, senhora.
- Kevin Jullian, talvez?
Ela negou.
- Certo. - a detetive cruzou as mãos. - Lembra-se de quando foi a primeira vez que os encontrou juntos?
- Depois das férias de verão. Soube que Thomas deu uma festa de boas-vindas aos calouros.
- Preciso de datas.
- Foi em Setembro... É tudo o que sei.
- Houve muitas brigas dentro do grupo?
- Às vezes escutava discussões no fundo da sala.
- Em que lugar esteve dois dias atrás?
- Na Biblioteca.

Departamento da Polícia Americana; Denver; 15:30p.m.

- Estas fotos foram pegas no quarto da garota. - Ravena avisou, enquanto passava uma por baixo da outra.
Malcom recolheu a segunda.
- Ela parece o tipo de adolescente alegre.
- estava mais para uma adolescente em crise.
- O que a mãe dela falou a respeito?
- Não sabe nada sobre a vida da filha, o que é negligência da sua parte.
- Há um quadro de suspeitos no mural. Começamos pela diretora, passamos pela aluna Sarah Zadled, queremos saber quem é K.J., até chegarmos ao culpado.
- Tem duas digitais no lençol.
Malcom cruzou os braços.
- Encontraram mais mensagens no celular dela. A primeira diz “Não conte a ninguém!” e “Shhh! Não chore.”
- Algum contato?
- Não. Levantamos todos os nomes com as letras K e J, na escola, e os interroguei, mas nenhum deles é.
- Era de se esperar. Alguém a avisava e dava conselhos, mas não queria ser descoberto.
- É o que mais me intriga.

Departamento da Polícia Americana; Denver; 18:43p.m.

Julliet chegou à Delegacia, sentindo a nuca doer. Sentando-se em um banco confortável, tirou da bolsa pertences pessoais da filha.
- Boa noite. - a detetive a cumprimentou, observando o que era colocado sob à sua mesa.
- Noite.
Ela pegou a carta.
- Onde isto estava guardado? A senhora já leu?
Julliet balançou a cabeça, cabisbaixa.
- Na minha gaveta. Não tive coragem.
- Sabe que pode ter o que tanto procuramos aqui dentro?
- Eu sei, mas - fungou. - Não consigo. Minha filha...
- Sinto muito. - Ravena segurou a mão dela, em um gesto de consolo, depois desdobrou o papel.
[...] Não recebi mais mensagens. Quem quer que seja, cansou de conversar comigo
Ela leu o restante e guardou no envelope.
- Encontrei este DVD pela manhã. - Julliet disse.
- O que tem nele?
- Veja.
Ravena pediu ao policial que trouxesse um aparelho de DVD e esperou a imagem aparecer na tela.
estava lá.
Vestia blusa larga e usava batom escuro, sentada no sofá, com as pernas cruzadas e o cabelo despenteado. Os olhos, vermelhos, e a voz, embargada.
Era a sala de sua casa.
Julliet contou que havia saído para o trabalho naquela manhã e deveria está no colégio. Durante a gravação, a garota comentou sobre as mensagens que recebia e a fazia sentir-se segura. Falou que aos 15 anos fumou ópio pela primeira vez para esquecer a dor. Começara a sofrer a Síndrome do Pânico, fugindo de lugares públicos, e automutilar-se após um confronto com algumas alunas.
Metade da minha vida, chorei. Na outra metade tentei parar de fazer isso, mas não consigo. Me ajude! Machuquei-me outra vez hoje. Olhe as minhas pernas. - as estendeu, cheias de cicatrizes. - Cortei com o canivete. E o meu cabelo. - puxou uma mexa. - Desfiei-o todo.”
Ela arranhou o rosto e gritou.
Ravena tapou a boca.
Por favor!”, soluçou.
Quando o silêncio pairou na sala e seu corpo estava deitado como se tivesse sem vida, escondeu o rosto, tremendo.
Não se assuste. Às vezes é pior.
Julliet não conseguiu assistir àquilo.
Ravena desligou o aparelho, silenciosamente.


Capítulo Dois

Be my friend
Hold me, wrap me up
Unfold me, I am small and needy
Warm me up and breathe me


Santana College; Denver; Terça-feira - 10:05a.m.

- Senhor Would, entre. - Ravena pediu ao rapaz de 1,80m, corpo atlético e cabelo loiro.
Ele sentou-se à vontade, desdenhando-a.
- Como está, detetive?
- Curiosa.
- Eu também. Por que mandou me chamar? Sou um dos suspeitos?
- Acha que é? - retrucou, desafiando-o.
Thomas deu de ombros.
- É o que parece.
- Qual era a sua relação com ?
- Nenhuma.
- Soube que namoraram durante meses...
Ele soltou um riso sarcástico.
- Jamais beijaria aquela garota fedida e estúpida.
Ravena segurou as mãos sob a mesa para não dar-lhe uns tapas.
- Então, não gostava dela?
- Acertou.
- Por quais motivos?
- Ela vivia nos lugares errados nas horas erradas.
- fazia parte do seu grupo de amigos e você não gostava dela. Não acha que é bastante interessante tamanha tolerância?
- Está me culpando por algo, detetive?
- Por enquanto, não, apenas quero esclarecer os fatos.
Ele coçou a barba rala.
- Estou perdendo o treino. O técnico não gosta quando chegamos atrasados.
- Se sair daqui será detido. - arqueou a sobrancelha.
- Falta muito?
- Já ouviu falar em K.J.?
- Não. - bocejou.
- Qual foi a última vez que viu ?
Thomas abriu a mão, prestando atenção nas linhas que a preenchia.
- Semana passada, passeando pelo corredor.
- Você ou ela?
- Fui ao banheiro e no caminho a avistei.
- O que fazia?
- Nada. Estou falando a verdade.
- Volte para a aula. O chamaremos, caso precisemos de mais informações.

Ravena esfregou os olhos, andando pelos corredores extensos e vazios até o estacionamento. Ao descer as escadas, encontrou um rapaz sentado no topo do corrimão, com o cigarro entre os dedos e a fumaça saindo de seus lábios. Os olhos dele observavam além do pátio.
A detetive parou ao seu lado e tocou-o no ombro.
- É proibido fumar.
Ele olhou para a mulher, depois para o cigarro e, por fim, jogou-o no chão.
- Qual é o seu nome? - perguntou Ravena.
- Você é da polícia?
- Sou.
- Não quero me meter em mais encrenca. - pulou nos degraus e subiu o restante.
Ela o observou ir e seguiu para a viatura.

Departamento da Polícia Americana; Denver; 13:00p.m.

- Trouxe café. - Malcom a entregou um copo de plástico revestido. - O Xerife está possesso por termos o isolado das investigações. Alega que roubamos a parte dele no trabalho.
- Obrigada. - Ravena girou na cadeira de rodinhas. - Tenho mais um suspeito. - levantou e escreveu o nome dele no mural, com uma foto. - Thomas Would.
- Ex-namorado de .
- Na verdade, segundo ele, nunca namoraram.
- Acredita nisso?
- Teve argumentos.
- Quem é o próximo?
- Trisha, atual namorada dele e quem combinou a agressão física contra .

Santana College; Denver; Quarta-feira - 09:00a.m.

- Trisha Emerson.
A líder de torcida morena e com cabelo amarrado adentrou a sala, ajeitando sua saia leve.
- Qual é o problema? - perguntou, mascando chiclete.
Ravena estendeu um guardanapo.
- Cuspa. Tenho perguntas para fazer.
Ela abaixou a cabeça e revirou os olhos.
- Sou obrigada a respondê-las?
- Se cooperar, saíra mais cedo.
- Quero a presença do meu advogado.
A detetive ajeitou o óculos.
- Está em um interrogatório.
- Não matei ninguém!
- Espero que esteja falando a verdade.
- não era a minha inimiga.
- Então por quais motivos planejou atacá-la?
As pernas da cheerleader começaram a tremer.
- Ela se meteu em meu relacionamento... - as tocou, em um gesto para fazê-las parar. - Descobri que estava dando em cima do meu namorado.
- E a ameaçou.
- Apenas avisei que havia descoberto o seu joguinho e não deixaria barato.
- O seu namorado jamais ficaria com ela.
Trisha surpreendeu-se.
- Como sabe disso?
- Ele me contou.
- Não foi o que me disseram.
Ravena passou as mãos no rosto.
- Não deveria acreditar em tudo o que dizem. Quem te avisou?
- Sarah.
- Qual das?
- Sarah Zadled.
Droga!” a detetive pensou.
- Quando Sarah fez isso? Mantem uma relação fraterna?
- Aparentemente ela não gostava de , como ninguém parecia gostar. Não somos amigas.
- Fique aqui. - Ravena mandou, erguendo-se com os papéis e, em seguida, abriu a porta; pediu para que chamassem a tal aluna.
A ruiva chegou rapidamente e olhou para Trisha, enquanto fechavam a sala atrás dela.
- Olá, senhorita Zadled. Sente-se.
A cheeleader abaixou a cabeça, vendo-a pelo canto dos olhos, sentar ao seu lado.
- Sabe o que vocês têm em comum? Ambas não gostavam de por motivos diversos. Mas a chamei de novo - encarou a ruiva. - Por ter espalhado boatos e influenciado em um ataque contra ela.
- É mentira!
- Conte-me exatamente o que fez na sexta-feira e não poupe os detalhes.
- Já falei o que sabia. O que disse à polícia, Trisha? - perguntou à cheerleader. Malcom, que mantinha-se extremamente quieto, na parede, soltou:
- Você ajudou?
- Não, eu.. - Sarah desviou os olhos para a sua figura rígida. - Não ajudei.
- Então quem foi, uh? - posicionou-se sob à mesa.
- Minhas mãos estão limpas. - respondeu de forma agitada. - Não tenho o que temer.
- Muitos não gostavam dela. - Ravena interveio.
- Não vi no dia da sua morte. Estive na Biblioteca, na maior parte do tempo, estudando. As aulas foram suspensas duas horas mais cedo, devido à uma pane no sistema elétrico. - parou, tomando folêgo. - Fiquei na sala para terminar de escrever o que tinha na lousa. Ela seguiu o grupo de Thomas Would, sem que ele soubesse. A última vez que a encontrei foi no estacionamento, discutindo...
- Com quem?
- Trisha. - respondeu baixo.
Malcom suspirou, saindo da Detenção, e Ravena olhou para a outra aluna.
- Não querem facilitar as investigações. - comentou em tom irritadiço. - Por que discutiam?
- Eu não queria machucá-la. - Trisha percebeu que a culpa seria jogada para si. - estava lá, pedindo para aceitá-la no grupo; dizia que faria o que quiséssemos. Chuck, então, pegou os seus livros e jogou-os no chão. Aproveitei para pedir que parasse de dar em cima do meu namorado.
Sarah umedeceu os lábios.
- Ele pisou neles.
- Qual fora a reação dela?
- não reagiu. Todos ao redor riam e a insultavam. Thomas começou a falar que se ela não fosse tão esquisita, poderia pensar em beijar os seus lábios grossos e machucados. O empurrei e fui para cima dela.
- Tudo o que contou até agora está gravado.
A cheerleader assentiu.
- Pediam para que eu batesse cada vez mais forte e bloqueasse os seus tapas. Quando a soquei no rosto, ela caiu, desacordada. Lembro de ter visto alguém socorrê-la depois.
Ravena levou a mão à face, paralisada.
- Imagino que tenham ido embora?
- Thomas mandou sairmos.
- A família da vítima tem o direito ao processo e, segundo a mãe dela, abrirão. Bullying no Estado é visto como assédio moral, violação de direitos; por esses motivos, torna-se crime. Voltem para a aula.
Trisha levantou em um pulo, e Sarah fez o mesmo.
- É . - a ruiva avisou na porta. - O nome de quem socorreu .

Departamento da Polícia Americana; Denver; 20:30p.m.

- Os pontos ligam o aluno Thomas Would. - Ravena falou, traçando uma seta com o pincel até a foto do capitão do time de rugby.
Malcom mantinha os olhos fechados e a cabeça no encosto da poltrona.
- As impressões digitais estão aí.
- Por que demoraram tanto?
- Sabemos que há duas digitais na corda; uma delas é da vítima, e a outra é do sexo masculino. Mas o que não sabíamos é que esse alguém já tem passagem pela polícia e não é o capitão.


Capítulo Três

Ouch, I have lost myself again
Lost myself and I am nowhere to be found
Yeah, I think that I might break
Lost myself again and I feel unsafe


Departamento da Polícia Americana; Denver; Quinta-feira - 8:00a.m.

- Senhora . - Ravena a cumprimentou, apontando para a cadeira.
A mulher acomodou-se, segurando firmemente um objeto.
- Encontrei ontem à noite isto. É outro DVD que fora escondido no baú da minha filha. Está escrito Breathe Me no espaço em branco e ela pediu para que fosse entregue a quem a enviava mensagens de conforto.
- O mesmo garoto que a socorreu.

Santana College; Denver; 8:30a.m.

A viatura do FBI parou no prédio do colégio que estudara. Malcom e Ravena desceram do carro e subiram as escadas em direção à sala da diretora Morganna Willians. As impressões digitais estavam em uma pasta abaixo do ombro do detetive, e as algemas na cintura de Ravena. “Achamos o culpado da morte da aluna , e a senhora o fez contar imediatamente quem era.
Enquanto seguiam pelos corredores, os olhos da detetive observavam os bancos e o chão de ladrilhos, imaginando sentada ali sozinha e deprimida. Ao chegarem à sala do estudante, a senhora Willians pediu a ele para acompanhá-la.
O garoto tinha a aparência serena, olhos bonitos e o cabelo cheio. Era alto, mas não tanto. Vendo a polícia ali, seus braços se retesaram.
A diretora o puxou.
Entrando na Detenção, sala que servia como interrogatório, o fez sentar-se na cadeira e saiu após pedido de Malcom.
- , te achamos.
O garoto engoliu a saliva.
- Está com medo?
- Não tenho mais medo de nada.
- Deveria, não sei lidar com assassinos.
- Está me acusando?
- Tenho as suas digitais e vieram do lençol encontrado no pescoço de , na última sexta-feira. Esse nome é desconhecido para você? Aliás, assaltar lojas de conveniência deve ser excitante, não é mesmo?
Ele apertou os punhos.
- morreu.
- Você a matou!
- Não. - negou, balançando a cabeça várias vezes.
- Acabou, garoto.
- Não a matei! - vociferou e o seu rosto atingiu um tom vermelho. - E o roubo foi um mal entendido!
Ravena ergueu a mão.
- O peguei fumando na escada. Ofereceu droga a ela também?
- nunca quis nada que viesse de mim!
- Esse foi o motivo que o levou a invadir à sua casa e enforcá-la? - Malcom perguntou.
puxou o cabelo com força.
- Não sabem o que estão falando!
- Como entrou na casa e a matou?
- Não a matei, droga! - gritou, chutando a mesa.
O detetive o segurou, percebendo o quanto tremia.
- morria todos os dias! Tentei salvá-la como pude, mas não foi o suficiente!
Ravena o observava, pensativa, enquanto o rodeava.

- É . - a ruiva avisou na porta. - O nome de quem socorreu .

- Mas...
Malcom a olhou.
- Onde esteve e o que realmente aconteceu na tarde de sexta-feira?
O garoto afastou-se do detetive.
- Tudo ocorreu após a briga no estacionamento. Eu estava embaixo de uma árvore...

Usava fones de ouvido, enquanto a música saia em um volume alto. Mexia em meu celular e segurava a mochila. Distante dali, os caras do time pararam perto do carro. Quando me dei conta, vi pessoas aproximando-se de lá.

Respirou fundo.

não reagiu em nenhum momento. Would a insultou com palavras horríveis e a sua namorada a agrediu. O meu pai buzinou várias vezes, mas não me importei e a socorri.

- A boca dela estava cortada. A segurei nos braços e disse para contatarmos a senhora Willians, mas ela preferiu manter o silêncio, então a levei embora. No caminho, pediu para que a deixássemos em um ponto de ônibus.

Na manhã seguinte, a esperei no portão. não apareceu. A procurei no intervalo e em todas as salas. Passaram-se quatro dias pelas minhas contas, até vê-la de novo. Ela não saia mais atrás do time de rugby. Também não mencionou o ocorrido com nenhum funcionário.
Voltei a enviar mensagens, mesmo não podendo ter respostas.


- O que continha nelas? - Malcom perguntou.
- Serviam como uma válvula de escape.
- K.J. - Ravena surpreendeu-se. - Por que o uso dessas siglas?
- Era o seu autor favorito. Se ela as visse, acreditaria no que escrevi. A encontrava assustada pelos corredores. Ninguém a tocava. Se eu pudesse tocar um anjo, o abraçaria para sempre. Acho que era o que queria: alguém que colasse as suas asas e a tirasse do Inferno.
- Prossiga. - Malcom pigarreou.

Topei com naquela sexta-feira no refeitório; estava sentada nas últimas mesas, sem companhia. Não era costume vê-la àquela hora. Mantinha a cabeça baixa e parecia tranquila.
Sentei em um dos bancos, sentindo-a enrijecer o corpo.
- Você tá bem?
Ela não respondeu de imediato.
- Já tive dias piores.
...
- Como se chama?
- Quem?
- A sua dor.
olhou para mim e suspirou.
- Estou anestesiada. Tomo antidepressivos quando acordo e antes de dormir.
- E é o bastante?
- Não. - segurou as laterais da bandeja, levantando. - Tchau.

O intervalo acabou, e segui para a minha sala. Houve um curto-circuito no sistema elétrico, por isso fomos liberados mais cedo. Desci as escadas do segundo andar e fui ao estacionamento.
O fluxo de alunos era grande.
Meus olhos procuraram os dela e acabaram encontrando-os aflitos, enquanto caminhava apressadamente.
Resolvi segui-la até à sua casa naquele dia.


(Coloque para tocar)

- A seguiu. - Malcom desdenhou. - Chegando lá, a enforcou quando ela tirava a maquiagem do rosto.
levantou, apoiando as mãos na mesa.
- Cale a boca!

A vi entrando na casa e esperei. Não havia mais ninguém ali dentro. Subi as escadas e a primeira porta estava travada; presumi que fosse o seu quarto. Escutei o barulho de algo quebrando, então forcei a maçaneta algumas vezes, até conseguir entrar. Notei as fotografias rasgadas perto da cama. Peguei uma delas e vi o corte no lugar em que a namorada de Thomas Would aparecia. A metade foi colada com outra foto e... Era .

- Ela amava Thomas. - Ravena concluiu, em choque.

Largue-as e corri para o banheiro. Quis furar os meus olhos quando achei o seu corpo curvado sob a pia, vomitando. O lençol já havia sido enrolado em seu pescoço e as tiras na torneira. Ela puxava com força, perdendo os sentidos.
A abracei por trás e a deixei no chão.
- Escute, .
- Quem é você?
Ela não enxergava-me com nitidez, via apenas o esboço, e tossia, revirando-se.
- Só escute. - segurei o seu rosto. - Não fale nada, precisa respirar. A ambulância está vindo.
- Lembro da sua voz...
- Shhh!
Vi a lágrima escorrer pelo canto do seu olho.
- Não quero que vá embora. - senti a garganta secar, vendo-a fechá-lo. - Maldita hora que não tenho como apagar o seu presente. Mas ofereço companhia para o futuro, . Nele não haverá pessoas más.
Ela não escutava-me e nem enxergava mais.


- suicidou-se. - Ravena respirou devagar e sentou. - Não está omitindo nenhum detalhe?
negou, em silêncio.
- Teremos que levá-lo à Delegacia.
- Posso ir ao banheiro antes?
A detetive assentiu, avisando que iria acompanhado.
Ele levantou, apertou a mão dela e seguiu até a porta, sem olhar para Malcom.
- !
- O quê? - virou a cabeça.
- Tenho algo que pertence a você. - Ravena pediu ao colega que buscasse. Quando o viu sair, olhou de volta para o garoto. - Acredito na sua versão. - e sorriu de maneira cordial. - O que diria se a visse mais uma vez?
- Nada.
- Tem certeza?
- Tudo o que falei não mudou o final da história, mas eu, ao menos, tentei.
Malcom voltou e entregou a correspondência à Ravena.
- deixou isto para quem a enviava mensagens.
Ele recolheu.
- Vai vê-la de novo.

assistiu a metade do DVD ao voltar para casa, sentado no sofá. Em várias partes teve que pausar para se recompor; em uma dessas, lembrou do detalhe que não contou à polícia.

Ela não escutava-me e nem enxergava mais. Mesmo assim, aproximei os meus lábios da sua orelha. Os olhos cheios d’água.
- Você era infinitamente melhor do que aquelas pessoas pensam em ser. - sussurrei. - Agradeço por te mostrado que o mundo não está perdido, só faltam garotas como você. - e acariciei as marcas roxas no seu pescoço. - Desculpe por ter escolhido te amar através de mensagens. Quando a gente ama, quer o bem do outro. Manter-te segura do que aconteceria foi o meu exemplo. - beijei a cicatriz na sua boca.


Na madrugada, quando dormia no mesmo lugar, sentiu jogarem algo quente e confortável sob seu corpo, sem acordá-lo.
Estava sonhando.
Com .
Obrigada”, ela dizia.


FIM!



Nota das autoras: A That salvou esta história, porque não sairia dos meus rascunhos caso não tivesse o ficstape.

Beijos,
Ray.



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Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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