Por Bruna Emygdio - Betada por Carol F.
Fic baseada no Challenge #001 do Fanfic Obsession


“Por mais que ele andasse, o corredor parecia não ter fim. Inúmeras portas, todas iguais. A iluminação não tinha fonte, simplesmente iluminava, como se as paredes fossem pintadas de luz. As portas eram pequenas e possivelmente só um anão passaria por ali. Ele andava e andava, mas nunca encontrava o fim. Em dado momento ele se cansou e sentou no chão, que era acolchoado e consequentemente macio, e aos poucos foi adormecendo. Quando despertou, uma movimentação nova tomava conta do corredor. Milhares de anões com gorros berrantes nas cores verde e vermelho circulavam pelas portas com presentes empilhados nos braços. O ar começou a faltar, mas mesmo assim eles não iam embora e continuavam diminuindo o espaço livre para ele no corredor. E então ele viu. Uma porta enorme e antiga no fim do corredor, que agora já era visível aos seus olhos. Como se fosse uma saída de emergência correu até ela para se salvar dos pequenos monstrinhos. Abriu com pressa e com certa força, tratando logo de fechá-la atrás de si assim que passou do portal. Mas assim que seus olhos se acostumaram com a claridade nova do ambiente, ele se deparou com seu pior pesadelo. Fileiras e fileiras de anões se espalhavam pelo cômodo imenso. Eles trabalhavam como em uma fábrica, cada um com uma especialização. Um escolhia o presente e o colocava na esteira automática, outro polia o brinquedo, outro embrulhava o brinquedo, outro o colocava em um grande saco vermelho no meio de tudo. E isso se repetia em TODAS as fileiras. Mas seu pânico só aumentou quando no fim de todas as fileiras, sentado em uma cadeira majestosamente grande, estava ELE. O velhinho que assombrava seus sonhos desde criança. O coroa que o fez chorar como um bebê no seu aniversário de 10 anos. Aquele que usava um conjunto extravagantemente vermelho e um gorro asfixiante. O Papai-Noel. Seus olhos saltaram da órbita quando o bom velhinho se levantou vindo em sua direção com um sorriso monstruoso de enorme no rosto e tudo em que ele pôde pensar foi correr. Voltou pela porta que tinha entrado mas o caminho ficava cada vez mais apertado e mais lotado de anões e mais anões. Ele sentiu duas grandes e gordas mãos segurarem seus ombros e seu coração foi a mil. ‘Harry! Harry!’ Não, ele não queria olhar pra trás. NÃO, ele gritava.”

- HARRY! Acorda, seu estúpido, e para de gritar que nem uma bichinha ou eu vou ter que socar a sua cara. – O garoto loiro, sentado na poltrona do outro lado do quarto, gritou enquanto mirava uma almofada na cara de Harry.
Por pouco ele errou, mas pelo menos Harry já tinha acordado. Ele se sentou na cama e esfregou os olhos até encontrar a figura sentada na sua poltrona.
- Puta merda, Dougie! Que horas são? Você sabe que eu detesto que me acordem. – Ele deu uma checada no relógio e seus olhos se arregalaram. – E ainda mais em plena madrugada! São seis horas da manhã ainda, seu viado.
Ele puxou os cobertores para cima de si novamente, mas antes que pudesse sequer pensar em voltar a dormir um peso se jogou contra ele.
- Levanta logo ou eu vou peidar na sua cara, dude! – Dougie riu enquanto mirava a bunda na cara do amigo.
- Argh, Dougie! Sai de cima de mim. – Ele resmungou enquanto levantava da cama e se dirigia para o banheiro.
- É isso aí, gatinho. Vai limpar sua bunda fofa e volta aqui pro papai depois que eu tenho novidades.
Harry mandou o dedo do meio pra trás e entrou no banheiro, trancando a porta. Apoiou-se na pia e lavou o rosto pelo máximo de tempo que pôde. A água fria em contato com a pele quente lhe causava alguns choques, mas nada que não pudesse suportar. Pegou a toalha em que sua mãe tinha bordado caprichosamente as palavras ‘Harry Judd’ e enxugou o rosto com ela, devolvendo depois. Encarou a própria imagem no espelho e a memória do pesadelo bombardeou sua mente, fazendo com que por alguns segundos ele sentisse uma ligeira vertigem. Fechou os olhos tentando se concentrar em algo que não tivesse a ver com natal, mas foi em vão, já que segundos depois a voz animada de Dougie invadiu seus ouvidos cantando com uma afinação afeminada um trecho da música Jingle Bell. Revirou os olhos e procurou a escova de dente.
Terminada a higiene matinal ele saiu do banheiro e Dougie deliberadamente já havia ligado seu computador e estava postando algo no twitter. Ele parou logo atrás do amigo e viu o tweet que ele digitava. <
“Esperando meu macho sair do banheiro, isto é, se ele ainda conseguir andar. Vem com o papai, Juddão.”
- Depois eu que sou a bicha. – Harry resmungou enquanto abria a porta do guarda roupa. – E que merda é tão importante pra te fazer me acordar às SEIS horas da madrugada do pior dia do ano?
- Deixa de ser fresco, você e essa sua raiva do natal. – Dougie bufou enquanto desligava o computador e saía do quarto. – Vai dizer que você não está ansioso pela ceia que vai ter hoje à meia noite? – Ele suspirou enquanto alisava a barriga, fazendo Harry rolar os olhos enquanto o seguia, e este nem se deu o trabalho de responder.
Assim que chegaram à cozinha, Dougie se jogou em uma das cadeiras enquanto Harry abria a geladeira pegando leite. Colocou na mesa e pegou o sucrilhos no armário.
- Sucrilhos? Na manhã da véspera de natal? Que deprimente. – Dougie fez uma careta enquanto se servia de uma boa quantidade do mesmo.
- Você não vai me dizer o que veio fazer aqui? – Harry perguntou enquanto preparava seu cereal. – E como você entrou aqui se minha mãe nem acordada está pra abrir a porta pra um energúmeno em plena madrugada?
- Ui tigrão, eu entrei pela sua janela. Que nem o Edward! GRAW! – Dougie riu enquanto fazia uma careta que ele julgava ser sexy, e acabou levando uma colherada na testa.
- Deixa de ser idiota.
- Seu grosso! – O loiro bufou. – Eu revirei o jardim tentando achar algo útil pra fazer enquanto você não acordava, tipo caçar lesmas ou controlar a população de duendes. E acabei encontrando a chave reserva. Simples. Entrei, subi e você estava se revirando na cama e gritando NÃO! – Ele fez uma cara dramática dando ênfase à cena. – Que nem uma bichinha indefesa.
- Caçando lesmas? – Harry levantou uma das sobrancelhas, concluindo que, realmente, seu amigo tinha problemas.
- É! A Emengarda sumiu, eu preciso substituí-la. – Ele deu de ombros. – Bom, mas vamos voltar ao foco principal. Minha mãe veio falar comigo ontem. – Ele fez uma pausa dramática.
- E? – Harry perguntou incerto quanto à importância do assunto.
- Ela quer que eu a ajude amanhã de manhã no orfanato. Eles vão distribuir presentes por lá e tudo isso de natal solidário. Você sabe que eu adoro ajudar e ainda mais quando é no natal. – Ele respirou fundo – Mas, CRIANÇAS? Eu simplesmente não posso, elas são tão espertas e malvadas. Elas adoram pregar peças no nerd que coleciona animais silvestres.
- E o que eu tenho a ver com isso? – Ele perguntou indiferente.
- Eu vim pedir pra você ir comigo. - Dougie deu um sorriso amarelo enquanto os olhos de Harry dobravam de tamanho.
- Natal? Eu? Caridade? Me desculpe, amigo, mas você sabe que não é comigo. – Ele respondeu enfiando o máximo que pôde de cereal na boca, dando o assunto por terminado.
O único som que ecoava na cozinha era a mastigação de ambos, a geladeira funcionando e o tic-tac do relógio. Assim que terminou, Dougie se levantou e lavou seu prato, sentando logo depois e encarando o nada. Harry repetiu seus gestos e os dois ficaram em silêncio por um longo tempo.
- Você pode ir ao supermercado comigo? Minha mãe disse que pra se fazer uma ceia decente tem que começar desde cedo. – Dougie fez uma careta.
- Tudo bem. – Harry respondeu rindo. - Vou só deixar um recado para a minha mãe. “Mãe, fui ao supermercado com o Dougie. Não me espere pro almoço.” , pendurou na porta da geladeira e saiu com o amigo.




- É sério, dude! Se você comprar mais um panetone eu vou dar na sua cara. – Harry resmungou antes de empurrar o carrinho em direção ao caixa.
- Qual é? Eu gosto deles. - O amigo bufou enquanto o seguia. – Se você é um velho ranzinza que não gosta de Natal o problema é seu. Eu amo Natal, e amo panetone. – Ele completou, enfiando mais um panetone no carrinho por cima do ombro de Harry, fazendo o mesmo rolar os olhos enquanto continuava a caminho do caixa.
- Eu tenho 18 anos, e não 50. – Ele acrescentou, antes de começar a passar as compras, recebendo um tanto faz como resposta.

A caixa já terminava de passar a compra enquanto Dougie cantava animadamente a música que saía das caixinhas de som espalhadas pelo supermercado e Harry tentava, em vão, fingir que não conhecia ele, já que o mesmo apontava pra ele seguidamente enquanto fazia um solo no seu baixo imaginário.
- Com licença. – A moça do caixa tossiu suavemente, tentando chamar a atenção dos dois. Quando eles a olharam, ela continuou. – Vão pagar como?
- Ah! Com o cartão de crédito. – Dougie tirou a carteira do bolso enquanto Harry sorria debilmente para a caixa. – Hum, ele tá aqui. Em algum lugar.
Harry se virou para encarar o amigo e este retirava todo o conteúdo da carteira à procura do cartão.
- Por Deus, Dougie! Cadê esse cartão? – Ele perguntou, impaciente com a demora do amigo, que agora revirava os bolsos.
- Droga! Acho que esqueci em casa. – Ele resmungou antes de pegar o celular. – Você não tem dinheiro aí, né?
- Nada.
Dougie bufou antes de discar algo. Vinte minutos depois eles ainda estavam parados no caixa, e as pessoas da fila começavam a encará-los com caras enfurecidas e cochichar entre si.
- Cadê a sua mãe, Dougie? Eles vão nos matar se continuarmos aqui por mais um minuto. – Harry sussurrou enquanto olhava desconfiado pras pessoas atrás dele.
- Ela já deve estar chegando e OLHA ELA ALI! – Ele gritou, aliviado, quando a mãe apareceu no portal no supermercado, mas sua felicidade foi embora assim que viu a expressão furiosa dela.
Ela se dirigiu calmamente ao caixa tentando se acalmar, sorriu docemente pra caixa e disse:
- Me desculpe pelo meu filho e o amigo dele. São duas cabeças de vento mesmo. Vamos ver quanto deu essa compra. – Ela puxou pra perto dos olhos a nota fiscal. – NOVENTA E SETE REAIS? – Ela gritou assustada. – O que você comprou, Dougie? OURO?
- Não, mãe, eu... – Ele tentou se explicar, mas sua mãe o cortou antes que pudesse.
- Não tente se desculpar, eu vou pagar essa compra e nós vamos pra casa! – Ela bufou enquanto passava o cartão de crédito. – E vocês estão de castigo. – Acrescentou, fazendo Harry levantar uma sobrancelha em sinal de confusão. – OS DOIS! – Ela completou, tendo como resposta um suspiro de resignação.

Harry conhecia Dougie e Tia Sam desde que se conhecia por gente, e sua mãe já havia dado pra ela todo o direito de educar Harry como quisesse quando a própria não estivesse por perto. Ele avistou a fachada da casa assim que o carro virou a esquina, e sorriu ao notar que não estava enfeitada. Pelo menos ele não teria que aguentar todo verde e vermelho que se espalhavam pela casa normalmente, e nem a árvore de Natal que só deixava o ambiente menor e mais apertado. Perto dela ele se sentia bem claustrofóbico e por isso ela já tinha sido escolhida como o pior dos enfeites de Natal para ele.
Tia Sam estacionou o carro e os obrigou a carregarem as compras pra dentro enquanto ela trocava de roupa.
- Dude, o que você acha que ela vai mandar a gente fazer? – Harry perguntou enquanto depositava as sacolas no balcão da cozinha.
- Eu não sei. – Dougie suspirou. – Mas vindo da minha mãe, eu espero tudo.
Tia Sam apareceu na cozinha assim que os dois terminaram de trazer a compra pra dentro. Abriu uma das sacolas e começou a guardar o que tinha dentro dela.
- Bom, - Ela começou enquanto abri o armário. – Eu não tive tempo de enfeitar a casa esse mês, como vocês podem ver. E Natal sem enfeites não é Natal. – Ela concluiu o óbvio. – Dougie, você sabe onde estão os enfeites. Podem começar a arrumar tudo. – Terminou de guardar a primeira sacola tranquilamente e partiu para a segunda.
Os meninos ainda a encaravam, estáticos, sem saber o que fazer. Enfeitar uma casa inteira em uma tarde? Ela só pode estar brincando.
- Vocês vão andar logo ou eu vou precisar arrastá-los? – Ela bufou, lançando um olhar maligno na direção deles, e em menos de dez segundos os dois já tinham sumido da cozinha.

- Acho que se eu ver mais um centímetro de pano verde ou vermelho eu infarto. – Harry comentou enquanto terminava de perdurar laços de fita coloridos intercalados nas luzinhas de Natal que haviam pendurado na fachada da casa.
- Se eu tiver que subir em uma escada de novo, EU infarto. – O amigo respondeu do alto da escada, ajeitando algumas luzes que lutavam para ficar acesas.
- Pelo menos nós estamos terminando. – Harry sorriu, pegando a caixa de enfeites vazia e colocando onde o lixeiro passava pra recolher o lixo.
- Terminando? – Dougie repetiu incrédulo. – Que nada, dude! Eu só trouxe duas caixas de enfeite, porque era tudo que tinha pra colocar aqui fora. Ainda tem mais umas cinco caixas pra enfeitar dentro de casa, e umas duas pra árvore de Natal. – Disse, descendo das escadas enquanto uma careta tomava conta do rosto de Harry.
- Mais? – Ele perguntou com uma voz engraçada.
- Muito mais. Agora vamos lá pega-las. – Ele se dirigiu pra garagem, com Harry em seu encalço, e carregaram mais quatro caixas pra dentro da casa. Dougie foi buscar a última de enfeites e deixou que Harry abrisse as que já tinha trazido.
- Ah não! Mais vermelho e verde! - Resmungou enquanto fitava a abundância das duas cores misturadas nas caixas.

- Aleluia! Aleluia! ALELUIAAAAAAA! – Harry cantava quando Dougie pendurou a estrela no alto da árvore de Natal, montada num canto da sala de estar.
Dougie riu da cara do amigo e se juntou ao coro quando foram interrompidos por um grito.
- DOUGIE LEE POYNTER! VENHA AQUI AGORA! – Tia Sam berrou da cozinha.
- Merda. – Ele resmungou antes de deixar a sala e Harry foi com ele. – O que aconteceu, mãe?
- O que aconteceu? O QUE ACONTECEU? – Ela gritou, vermelha. – Aconteceu que a ANTA do meu filho comprou vinte e um panetones. VINTE E UM PANETONES! Quero saber onde você vai enfiar tudo isso.
- Mas mãe, são panetones. – Ele disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Poderiam ser até Brad’s Pitt! – Ela bufou. – Eu tinha te pedido só quatro, não vinte e um. Você vai se virar e comer os dezessete que excederam o MEU pedido.
- Mas aí eu não vou aguentar a ceia. – Ele concluiu confuso.
- Ninguém mandou comprar todos esses panetones. Agora vai comê-los ou eu os enfio pela sua goela abaixo.
Harry tentava, a todo custo, segurar o riso, e foi só quando Tia Sam se dirigiu a ele com uma voz totalmente doce que ele se concentrou.
- Você pode ir pra casa, meu bem. Já passam das seis e sua mãe vai ficar pronta daqui a pouco, ela não vai gostar que você se atrase.
- Er, tudo bem tia. Eu vou indo então. – Ele abraçou ela e se despediu de Dougie, com um aperto de mão e um riso mal contido.

Assim que chegou em casa, encontrou sua mãe fazendo um lanche na cozinha. Beijou o topo de sua cabeça e disse que iria subir para tomar um banho e se arrumar. Tirou a blusa no caminho e deixou onde quer que tenha caído, tudo o que precisava era de um bom banho para esquecer um pouco dessa data que o torturava todos os anos. Terminou de tirar a roupa no banheiro e ligou o chuveiro, mergulhando embaixo da corrente de água que batia no seu rosto, lhe causando uma sensação boa. Deixou que a água o molhasse por completo, na esperança de que as suas lembranças fossem junto com o suor e a sujeira acumulada no corpo. Mas não era fácil assim, nada era. Não se podia jogar o passado pelo ralo como se ele fosse apenas água encardida. Suas mãos procuraram a parede e ele se apoiou nela com a cabeça baixa enquanto as lembranças do Natal de oito anos atrás afloravam sua mente. As lágrimas começaram a se acumular e ele as deixou cair, sabendo que era inútil segurar. E mais do que nunca, era em momentos como esse que odiava o Natal. Aquela data que deu a ele o pior dos presentes.




Sempre que estiver em itálico é Flashback ~

"- Papai, a mamãe disse que você não ia me dar outro presente hoje porque eu já ganhei uma flauta nova ontem no meu aniversário. É verdade? – O menininho, no auge dos seus dez anos, perguntou ao pai.
- Sua mãe estava brincando, garotão! A sua flauta nova foi porque o seu professor disse que você já toca perfeitamente bem. Na verdade nós estamos saindo para buscar o seu presente de natal. – Ele disse sorrindo enquanto prestava atenção no trânsito."


A água queimava a sua nuca, mas ele não ligava ou nem ao menos sentia. O calor embaçava os vidros do box e sua cabeça estava mergulhada nas memórias de um passado que, pra ele, ainda parecia muito recente. Suas mãos apertavam a parede como se a mesma pudesse se esmigalhar entre seus dedos, mas ele sabia que nem ela poderia ficar despedaçada como seu coração. Este estava quebrado e ferido há muito tempo.

"– Oh papai! Eu adorei ele. Posso dar um nome? – O pequeno Harry perguntou enquanto brincava com seu presente de natal, um filhote de labrador.
- Claro que pode, filho! Ele é seu. – O pai concluiu, sorrindo orgulhoso para o filho, que agora abraçava o cachorro.
- Então ele vai se chamar Fred, como no desenho. – Ele sorriu ao ver que o cachorro parecia ter gostado do nome.
- Oh, então será Fred! - Seu pai riu. – Mas agora vamos que sua mãe vai ficar preocupada se demorarmos muito. – Ele terminou enquanto se dirigia ao seu fusca verde, que estava enfeitado para o natal também."


Ele já podia sentir seus dedos enrugando, mas não se importava. Poderia ficar lá até morrer, seria ainda melhor do que ter que encarar a realidade.

"Chris dirigia com cuidado o carro pela neve, já tinha ouvido várias noticias de acidentes e não queria que nada acontecesse. Ao seu lado, Harry brincava com Fred enquanto olhavam os enfeites de natal das casas que passavam pela janela.
- A mamãe disse que vai fazer panetone pra ceia, papai! Estou morrendo de fome. – O filho disse de repente, chamando a atenção do pai.
- Vai sim. – Ele riu e passou a mão livre pela cabeça do filho. E então tudo aconteceu muito rápido.
Fred se animou ao ver um Papai Noel acenando pra ele e começou a pular dentro da cabine do carro. Pulou direto para o colo de Chris, impossibilitando-o de ver, e as rodas derraparam na neve quando ele soltou o volante para tentar se livrar do cachorro. Mas antes que pudesse, um baque surdo tomou conta do ar e tudo escureceu."


Harry não podia controlar as lágrimas, elas agora desciam em cascatas se misturando à água quente do chuveiro. Ainda se lembrava como fosse ontem, de como acordou num hospital com sua mãe dormindo em uma cadeira ao seu lado. De como os olhos delas estavam inchados e de como ela havia lhe dado a notícia. O cão atrapalhara a visão do pai e ele acabou deslizando quando um caminhão se chocou com o lado direito do carro. Harry nunca mais viu seu pai e seu cachorro outra vez.


A camisa parecia sufocar, mas a tristeza ainda rondava sua mente, impedindo-o de notar isso. Pegou a chave do seu carro e bateu na porta do quarto da mãe, dizendo que estava esperando no carro. Ele sabia que ela iria demorar pelo menos uns vinte minutos, então fez tudo com calma. Fechou o casaco por cima da blusa e saiu para o quintal. Abriu a porta da garagem, mas antes que pudesse tirar o carro outra coisa atraiu sua atenção. Uma porta verde enfeitada com estrelas vermelhas, que o fez fazer uma careta pela combinação. Fazia tempo que ele não entrava ali, mas também fazia tempo que não deixava as lembranças aflorarem na sua mente como tinha feito ainda há pouco.
Deixou as chaves no banco do carro e se dirigiu para a porta. Sem pressa girou a maçaneta e se encontrou no meio de uma escuridão. Ele tinha ido tantas vezes naquela cômodo quando voltou do hospital que já sabia o caminho exato para o interruptor. Acendeu a luz e vislumbrou as ferramentas do pai espalhadas como se ele tivesse estado por ali minutos atrás. Mas o leve cheiro de mofo denunciava o contrário. Lentamente ele se virou para o que procurava e quando o viu seu coração parecia estar sendo esmagado por uma mão invisível. Nada mudara desde a última vez que tinha ido lá. O esqueleto do fusca verde quase que totalmente amassado no lado direito continuava intacto. As luzinhas de natal que agora não acendiam mais também estavam envoltas no meio dos destroços restantes do fusca, junto com laços vermelhos e fitas verdes brilhantes. Ele deu dois passos pra frente, inconscientemente, e antes que pudesse calcular, suas mãos já deslizavam pela lataria amassada verde. Sua mente doía com a velocidade e a quantidade de pensamentos que passavam por ela. Mas ele não chorava, suas lágrimas tinham se esgotado enquanto tomava banho.
- Deveria ter sido eu. – Sua voz saiu fraca e trêmula.
- Mas não foi. – Ele escutou a voz de sua mãe logo atrás de si e assim que se virou viu que ela estava na entrada do quartinho e tentava a todo custo não olhar para nada lá dentro.
Tirou a mão do pedaço retalhado que sobrou do que um dia fora um fusca verde. Saiu do quartinho e sem nenhuma palavra tirou o carro da garagem e esperou que sua mãe estivesse nele para arrancar pela rua.




“É isso aí, Rick, o trânsito parece estar lotado em toda a cidade. As principais avenidas de Londres estão totalmente congestionadas e a nossa dica para os ouvintes é que se for sair de casa, vá a pé.” Harry desligou o rádio, irritado, enquanto olhava a longa fila de carros que se estendia a sua frente.
- Parece que vai demorar, né? – Sua mãe tentou puxar assunto, mas ele respondeu com um aceno de cabeça. - Por Deus, menino! Eu estou tentando conversar desde que saímos de casa, será que você não pode conversar comigo? – Ela bufou enquanto tirava as luvas e as colocava na bolsa.
- É. Vai demorar mesmo. – Ele falou, batendo os dedos no volante.
- Você sabe que não é disso que eu estava falando.
- Por favor, né, mãe. Eu só quero ficar em silêncio, será que é tão difícil você fechar a boca? – Ele disse sem pensar, fazendo Emma se encolher com uma expressão torturada ao ouvir suas palavras.
- Me desculpe. – Ela sussurrou. – Eu não tenho culpa se o seu pai se foi no natal.
- Você não entende, mãe. Você nem ao menos deve se lembrar dele. – Ele falou, sentindo a raiva crescer dentro de si.
- Não fale isso. – Ela disse, indignada.- Como eu não iria me lembrar do seu pai?
- Porque você queria isso. A culpa toda foi sua, que insistiu que ele enfeitasse aquele fusca e me levasse para pegar o Fred quando em todas as rádios avisava que as ruas estavam escorregadias. Você que deu a idéia de comprar aquele maldito cachorro. É tudo por sua culpa, ele podia estar aqui agora! – Sua voz já tinha se elevado quando terminou de falar.
Ouviu o barulho da porta batendo e quando olhou para o lado sua mãe não estava mais lá. Conseguiu distinguir sua silhueta andando por entre os carros, cada vez mais longe, enquanto o deixava sozinho com seu coração gritando o erro que ele havia cometido. Bateu a cabeça no volante, mas a raiva não permitiu que ele escutasse o coração.

Duas horas depois ele estava na porta dos Poynter’s; estacionou o carro de qualquer jeito e bateu desastrosamente na porta enquanto tentava se manter em pé. Dougie abriu a porta e assim que viu quem era a fechou atrás de si e arrastou Harry para o quintal, o empurrando em um banco qualquer.
- Dude, que porra foi que você falou pra sua mãe? Eu nunca a vi chorar tanto. – Dougie andava de um lado pro outro quando parou do nada. – Que cheiro é esse? – Cheirou o ar perto do amigo. – Você bebeu? – Perguntou espantado.
- Não, eu não bebi, eu biquei um pouco de Martini. – Ele disse, se esforçando para levantar do banco. – E eu só disse praquela vadia o que ela precisava ouvir.
Dougie encarava o amigo, inconformado.
- Venha, vamos pro meu quarto, você precisa de um banho gelado e muito café. – Ele disse, arrastando o amigo consigo.
O relógio batia quase meia noite e todos estavam reunidos na mesa da copa caprichosamente arrumada com todos os tipo de comida, com exceção dos dois. Dougie tentou segurar o amigo de todas as maneiras, mas foi em vão. Assim que Harry avistou a mãe sentada na mesa se soltou de Dougie rapidamente por ser mais forte e foi em direção a copa. Todos os encararam feio quando entrou na mesma, mas a única coisa que ele podia ver era sua mãe desviando o olhar do seu.
- Então é assim que você se sente culpada? – Ele aumentou o tom de voz se embolando nas palavras, enquanto Dougie estava apavorado tentando tira-lo de lá. – Você comemora a morte dele todos os anos nessa droga de natal. Você é uma vadia, isso que você é! – Ele apontava para a mãe enquanto tudo parecia rodar a sua volta.
O pai de Dougie não esperou nem um segundo e ajudou o filho a levá-lo pra fora.
- Leve esse inconsequente para a casa dele, Dougie, e volte logo. – Ele disse antes de bater a porta da frente.
Dougie bufou e enfiou Harry de qualquer jeito no carro, enquanto este murmurava palavras desconexas. Dirigiu até a casa dele e o apoiou até que estivesse dentro da sala. Empurrou o amigo para o sofá e disse:
- Sua mãe vai dormir lá em casa, amanhã ela vai conosco no orfanato. Só procure ela quando você estiver sóbrio e deixar de ser um idiota.
E dizendo isso ele fechou a porta e voltou para sua casa.




Quando o relógio marcou uma da madrugada, Harry começou a entender o que tinha acontecido. O rosto de sua mãe, contorcido de dor, estava marcado com brasa em sua mente. Levantou-se com certa dificuldade e subiu para o seu quarto, afim de uma ducha. A água acalmou o seu estado de espírito e assim que colocou uma calça de malha qualquer se jogou na cama, desejando que tudo tivesse sido somente um pesadelo, que quando ele acordasse sua mãe estivesse dormindo tranqüila, e não com raiva dele na casa do seu melhor amigo, que a essa altura já achava que ele era mesmo um ogro idiota. Quando pensou que finalmente iria pegar no sono, um barulho alto vindo do quintal o despertou. Ele passou a mão no rosto antes de se levantar e abriu a janela para ver o que estava acontecendo. Uma brisa gostosa tocou seu corpo e, pelo que ele pôde espiar, não tinha nada por lá. Suspirou, pensando ter imaginado o barulho, e se sentou na cama. Mas bastou que ele se sentasse para que uma bola enorme voasse desastrosamente pra dentro do seu quarto pela janela. Não demorou pra ele perceber que não era uma bola, e sim um homem, o que o fez pular da cama e ficar em posição de ataque.
- Caralho! Eu preciso calcular melhor meus saltos, já é a quinta vez que eu quebro alguma coisa. Será que ele vai ligar? – O homem conversava sozinho sem ao menos notar Harry no quarto. – O Tom que é bom com esses treco de continha, da próxima vez eu falo com ele e... Er. – Ele havia acabado de encontrar com o olhar confuso de Harry e automaticamente sua mão coçou a própria nuca. – Eu, me desculpe o abajur, sabe como é, né?! Eu queria uma entrada triunfal, - Ele se empolgou enquanto fazia uma pose estranha. – mas não deu muito certo.
Harry não sabia o que falar, um retardado entrou no seu quarto pela janela, quebrou o seu abajur e ainda pediu desculpas? Era totalmente inacreditável.
- Hum, deixa eu me apresentar. – Ele estendeu a mão. – Meu nome é Daniel Jones, mas você pode me chamar de Danny ou de 22co da laje, tanto faz. E eu sou o fantasma do passado. – Ele concluiu sorrindo, orgulhoso por ter conseguido decorar a fala.
- Você é o quê? – Harry fez uma cara estranha. – Fantasma? – Danny concordou com a cabeça e Harry disparou a rir assim que ele fez isso.
- Hey! Assim você me ofende, está rindo do quê? – Danny botou um grande bico na cara.
- Você. – O garoto não conseguia parar de rir. – Fantasma! – Ele agora já estava sentado, pois sua barriga chegava a doer.
- Por que quando eu digo que sou um fantasma todos eles riem? – Danny começou a falar consigo mesmo. – Eu tenho sempre que provar, que coisa! Me dê a sua mão. – Ele disse pra Harry, que parou de rir na mesma hora e o olhou desconfiado, levantando uma sobrancelha. – Relaxa! Não é como se eu fosse te pedir em casamento ou algo assim, porque eu sou macho, dude! M-A-C-H-O! Macho! Agora me dá a sua mão logo.
Harry deu de ombros e deu a mão para Danny, que a segurou com muita força. Mas algo diferente aconteceu, de repente ele não estava mais no quarto. Ele olhou em volta e percebeu que estava na rua, mais precisamente na avenida em que o acidente ocorreu. E ela agora não estava mais congestionada, e sim vazia. Exceto por um carro que vinha se aproximando com cuidado. O coração de Harry parou na boca quando ele conseguiu distinguir que carro era aquele. Era um fusca verde enfeitado para o natal com luzes, laços vermelhos e fitas verdes brilhantes. Sua mão apertou inconscientemente a de Danny e ele deixou escapar a palavra ‘pai’, que saiu como um pedido. Seus pés se moveram automaticamente na direção do pai, ele tinha que impedir que acontecesse de novo. Mas antes que pudesse seguir adiante, a mão de Danny o impediu. Ele olhou incrédulo para o garoto que dizia ser um fantasma e tentou puxar a mão mais uma vez, mas de novo ele não conseguiu.
- Por Deus! Você não entende! É meu pai, eu preciso ir salvá-lo. Eu preciso, ou vai ser tudo minha culpa de novo. – Ele praticamente berrou enquanto tentava desesperadamente se soltar de Danny.
- Pare de tentar se soltar. – Danny falou com a voz alta também. – Eu não vou deixar você ir. Você tem que ver, você tem que prestar atenção no que realmente aconteceu.
Os olhos de Harry se desviaram para o fusca e Fred tinha acabado de pular em cima de seu pai. Seu coração batia desesperadamente dentro do seu peito, mas ele tentou se manter calmo. E então o barulho de outro motor tomou conta do ambiente. Um caminhão enorme se aproximava. Ele forçou num pouco mais a vista e o que viu acabou com ele. De qualquer jeito, no fim, ele não poderia salvar o pai. A culpa não fora de seu pai, nem dele, nem do cachorro. O motorista do caminhão usava um gorro extremamente grande na cabeça e parecia bêbado. Enquanto ele cantava alguma canção qualquer, o seu gorro caiu pela sua cabeça, tampando sua visão. O caminhão mudou bruscamente de pista entrando na contramão e, antes que qualquer barulho pudesse ser ouvido, Harry estava de volta na sua cama. Seu corpo todo tremia quando ele tentou se levantar, mas Danny impediu que ele fizesse isso.
- A culpa nunca foi sua, Harry. Nunca foi e nunca vai ser. – As lágrimas praticamente pulavam dos olhos de Harry enquanto ele soluçava. Ver o acidente de outro ponto de vista depois de tanto tempo acabou com ele. - Era a hora do seu pai, de qualquer jeito iria acabar acontecendo. Se não no acidente, em qualquer outro momento. Não se pode mudar as coisas quando chega a hora de ir embora. Você só tem que aceitar e deixar que ela te leve. Eu fui mandado aqui porque você precisava ver isso e parar de se culpar. E principalmente parar de culpar a data em que isso aconteceu. Foi sim uma fatalidade horrível, mas por causa disso você sempre se impede de ver as coisas boas que sempre bateram na sua porta no natal. – Ele se sentou ao lado do garoto que agora já estava mais calmo. – E quem vive de passado é museu. – Danny riu da própria piadinha e só parou quando Harry o encarou magoado. – Tá, eu sei não teve graça. Mas agora eu te deixo um conselho. Você tem que se desligar aos poucos dessa culpa que corrói, começar a pensar no seu pai com alegria e não com dor. Você está prendendo o espírito dele com você. Deixe-o fazer a passagem, liberte-o para que ele possa encontrar o caminho dele.
Harry enxugou o rosto e suspirou longamente enquanto se sentava melhor na cama. Tudo ainda estava muito confuso na cabeça dele, mas parecia que um grande peso estava saindo de suas costas. Ele sorriu para o fantasma ao seu lado, agora acreditando mais nisso. Apesar de ainda achar que isso podia ser efeito do Martini. Danny se levantou e olhou distraidamente o relógio que carregava no pulso. Seus olhos se arregalaram quando viu a hora.
- Caralho! O Tom vai arrancar o meu cérebro se eu... – Mas ele foi interrompido por uma voz calma e tranquila que dizia:
- Olá! Eu sou Thomas Fletcher, mas você pode me chamar de Tom, é claro. E eu sou o fantasma do... DANIEL ALAN DAVID JONES! O que você ainda está fazendo aqui, seu fantasma idiota? – Um garoto loiro parado na porta do quarto gritava com o ruivo encolhido no canto da janela. – O seu timing é péssimo, Danny. Suma antes que eu mesmo me encarregue disso.
Não demorou um segundo e Danny tinha sumido pelo mesmo lugar pelo qual havia entrado. Tom respirou fundo tentando se acalmar enquanto Harry o observava de longe.
- É! Você convence bem mais que ele. – Harry concluiu, fazendo Tom o encarar confuso. – Sobre esse lance de fantasmas, sabe? – Ele tentou explicar. – Ah, esquece! Sobre o que você estava falando mesmo?
- Bom, eu sou o fantasma do presente. – Ele continuou ainda confuso. – Você pode segurar a minha mão?
E novamente, quando Harry segurou a mão de Tom, ele não estava mais no seu quarto. Estava em outro quarto, um muito mais bem arrumado e que ele conhecia muito bem. O quarto de hóspedes da cada de Dougie. Ele sempre dormia lá quando as coisas ficavam difíceis em casa. E dessa vez, quem o ocupava era sua mãe. Ela estava encolhida debaixo das cobertas e seu corpo todo tremia, acompanhado de soluços abafados pelo travesseiro. O coração de Harry pesou, sabendo que aquilo era por causa dele. Ele queria se esticar para abraçá-la, confortá-la e pedir desculpas por ter sido um imbecil. Mas ele já tinha entendido as regras. Não tocar em nada. Não tentar mudar nada.
- Ela pode nos ouvir? - Ele perguntou.
- Não. Mas se você falar algo ela pode sentir. – Tom explicou e o empurrou alguns passos pra frente. – Diga o que você sente.
Harry se ajoelhou na frente da cama e reparou em como os olhos de sua mãe estavam inchados e vermelhos. Seu coração se contorcia a cada soluço dolorido que saía dela, e mais ele perdia as palavras. Ele estendeu a mão na direção dela e olhou incerto para Tom, que sorriu e disse que abriria uma exceção. Esticou mais um pouco o braço e tocou o rosto da mãe, que quase instantaneamente sorriu. Ele sorriu junto e começou a acariciar a face dela. Depois de alguns minutos ela já estava bem mais calma, e ele pronunciou a única coisa que sairia de seus lábios naquele momento.
- Me desculpe, eu te amo. – Ele se levantou e segurou novamente na mão de Tom.
Quando abriu os olhos estava em casa. E Tom o encarava feliz.
- Acho que já terminei o meu papel aqui. Daqui a cinco minutos o fantasma do futuro virá te visitar. – E dito isso, ele sumiu.
Harry encarou o relógio na cômoda ao lado da cama e suspirou quando viu que ainda marcava uma hora da madrugada. Aquela droga deve ter parado de funcionar, pensou consigo mesmo. Não deu muita atenção, pois antes que percebesse um barulho nas escadas o fez virar a cabeça para a porta. E por ela entrou uma garota. Uma garota com cabelos escuros e pele muito branca, seus traços perfeitos pareciam um pouco confusos e ela logo estacou no chão, ficando presa pelo longo cachecol azul bebê que enrolava seu pescoço, que ficara preso na maçaneta da porta.
- Oh, me desculpe! – Ela disse, ajeitando o cachecol de volta no pescoço. – Eu acho que me desviei do seu quarto pelo cheiro de peru de natal que estava lá na cozinha. Eu realmente amo peru de natal, ou leitão de natal, ou chester de natal, enfim, qualquer coisa que termine com natal. – Ela sorriu animada para Harry, que ainda estava um pouco atordoado com o som musical de sua voz. – Bom, meu nome é , mas pode me chamar de . Eu sou a fantasma do futuro, mas acho que você já sacou isso, né? – Ele ia falar, mas mesmo não percebendo, ela o cortou. – Eu vou te mostrar algumas coisas, então preciso que você me dê a sua mão e... Oh! Que cabeça a minha, me esqueci que Tom e Danny já fizeram isso e você provavelmente já sabe que tem que me dar a sua mão e... – Antes que ela continuasse, Harry pegou na mão dela, a fazendo corar levemente e agradecer num sussurro.
Uma claridade repentina o fez fechar os olhos com força até se acostumar com a luz do local. Assim que conseguiu focar a visão, se descobriu dentro de um cemitério e seu coração parou. Ele olhou atordoado para , e ela indicou um enterro que acontecia logo à frente.
Ele andou lentamente na direção das pessoas vestidas e de preto e encontrou sua própria figura ajoelhada na terra ao lado de dois caixões brancos, sendo um grande e outro tão pequeno que poderia ser de um filhote de cachorro. Ele suspirou de alívio quando viu que sua mãe estava ao seu lado, não era ela quem ele estava enterrando. Aproximou-se mais e viu que ele tremia, cada vez mais ajoelhado ao chão, enquanto soluçava pesarosamente. Focou a primeira lápide para ver de quem se tratava e ficou totalmente confuso com o que leu. Dizia “ – ‘Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração’”. Ele se virou confuso para e percebeu que ela estava ao seu lado com os presos na lápide. Ela soltou um suspiro longo e encarou Harry com o olhar triste.
- Nós nos casamos no dia 23 de dezembro, porque você insistiu que não queria que fosse no natal. Mas eu te amava demais para dizer que era o meu sonho desde menina me casar no meio da neve na manhã do dia 25. Por um ano nós vivemos bem, até chegar o natal e você estragá-lo, desprezando todas as minhas tentativas de fazer você gostar da data. Eu briguei com você pouco antes da meia noite. Saí furiosa pelas ruas, não olhei quando fui atravessar. – Ela abaixou o olhar. – Um ônibus virou a esquina e não me viu, porque estava escuro.
Harry prendeu a respiração. Ele iria se tornar um monstro, ele já se sentia como um. Como ele poderia estragar os sonhos de alguém tão doce como ela? Ele voltou o olhar para o segundo caixão, o menor. E antes que ele pudesse perguntar algo, ela explicou.
- Eu estava grávida de oito meses. – Disse, o encarando novamente.
Harry sentia como se o mundo tivesse caído em cima dele. Ele seria a causa da morte de sua esposa grávida. Ela estaria grávida, por Deus, como ele poderia? Ele ergueu as mãos para tocar o rosto dela e, assim que o fez, estava de volta no seu quarto. Ele acariciou a bochecha dela com a ponta dos dedos, o que a fez fechar os olhos inconscientemente.
- Me desculpe. – Ele repetiu pela segunda vez naquele dia.
Ela abriu os olhos e sorriu docemente pra ele.
- Te vejo no futuro. – E sumiu como os outros dois, dando a ele somente um último vislumbre do cachecol azul bebê que enrolava seu pescoço.
Harry se sentou na cama e encarou o relógio que estava estragado, mas agora ele já marcava uma hora e um minuto da madrugada, e os ponteiros voltavam a se mover como se nunca tivessem estado quebrados. Sentiu os olhos pesarem e deixou o corpo cair na cama, se entregando ao mundo dos sonhos.




O relógio fazia um barulho alto e ele acordou assustado, por ter certeza de que não o havia colocado pra tocar. Esticou os braços para se espreguiçar e desligou o despertador do relógio. Olhou para ver as horas e encontrou um bilhete ao lado dele.

"Não te acordei porque realmente parecia cansado, mas coloquei o relógio pra despertar. Se já tiver voltado ao normal, eu vou estar de volta do orfanato depois do meio dia. Você vai ter tempo de sobra para se recompor e dar uma passada lá em casa. Dougie"

Sorriu e colocou o papel de volta à cômoda, o relógio marcava nove horas. Ótimo, eles ainda estavam no orfanato. Levantou-se num pulo só e pegou a primeira roupa que viu pela frente. Trocou-se, escovou os dentes e desceu a escada aos pulos enquanto tentava enfiar o sapato no pé. Chegou no andar de baixo e admirou, pela primeira vez, realmente, a árvore de natal que sua mãe montava todos os anos. E toda vez ela colocava o mesmo presente pra ele embaixo dela, porque ele nunca aceitava o presente. Ele se abaixou e pegou o embrulho de um azul desgastado. E quando ele abriu seu coração pareceu se encher de uma alegria que ele não sentia há tempos. Uma flauta profissional igual aquela que o fez querer aprender a tocar flauta ainda criança. Uma flauta profissional igual a de seu pai. Ele sorriu e correu pra fora de casa. Tudo estava coberto pela neve e, mais do que nunca, ele se sentiu feliz por tudo estar branco e enfeitado com vermelho, verde e luzinhas de natal. Riu ao pensar que ontem ele odiaria esse início de manhã, mas agora era tudo diferente. Ele não queria se tornar um monstro, ele só queria ser feliz.
Foi o caminho inteiro jogando bolas de neve para o alto e às vezes deixando que elas caíssem em sua cabeça. Se divertiu como nunca havia feito com o cobertor branco que estava em quase todo canto e logo avistou, ao longe, o portão do orfanato. Sorriu consigo mesmo e entrou assim que o porteiro abriu para ele. Estava cheio de crianças sorrindo por todos os cantos e ele sorria de volta para aquelas que sorriam para ele. Girou a cabeça procurando o amigo e logo ouviu uma voz conhecida.
- Harry? – Dougie perguntou, incrédulo, encarando o amigo que sorria abertamente. – Você está doente?
Mas antes que ele pudesse responder, algo um bolo de crianças se aproximou correndo atrás de Dougie, o fazendo dar um gritinho afeminado e se esconder atrás de Harry.
- EI! – Harry gritou e todas as crianças olharam confusas pra ele. – O Papai Noel saiu correndo por aquele lado ali! – E apontou numa direção qualquer, fazendo todas elas saírem gritando empolgadas para onde o “Papai Noel” tinha ido. – Pronto florzinha, pode voltar a ser macho agora. – Ele disse, fazendo Dougie rir.
- Hey, Harry! – Dougie disse sem graça. – Obrigado.
- Por isso? De nada, amigo. – Harry sorriu.
- Não. – Ele levou uma mão para coçar a nuca. – Eu quis dizer obrigado... Por estar melhor!
Harry sorriu, entendendo a que melhor ele se referia, e puxou o amigo para um abraço.
- Algum dia eu teria que melhorar, né? – Ele riu. – A propósito, onde está minha mãe?
Dougie olhou em volta antes de responder.
- Sua mãe eu não sei, mas a minha está ali. – Ele apontou. – Ela deve saber.
Harry sorriu e agradeceu o amigo, gritando um feliz natal para ele enquanto corria em direção a Tia Sam. Quando ela avistou ele, fechou a cara, mas antes que pudesse começar o sermão, ele já tinha a puxado para um abraço.
- Me desculpe tia, eu sei que eu fui um idiota. Pode me bater, me xingar, mas primeiro me deixe falar com a minha mãe, eu preciso me desculpar com ela. – Quando ele terminou ela já estava toda mole em seus braços.
- Seu bobo, é lógico que eu te desculpo. E ela está lá atrás, perto da fonte. – Ela disse enquanto o empurrava na direção dos fundos do orfanato. – Feliz natal, Harry!
- Feliz natal, Tia Sam! – Ele disse antes de sumir entre as crianças.
Passou por um jardim congelado, onde algumas flores tinham conseguido sobreviver à neve e, por fim, viu a silhueta de sua mãe em um balanço ao lado da fonte congelada. Ele se aproximou devagar e parou logo atrás dela. Ele tinha certeza que ela sabia que ele estava ali, por isso empurrou o balanço de leve para que ela o aproveitasse. Ela encostou a cabeça na corda que prendia o balanço e fechou os olhos.
- Me perdoe, mamãe. – Ele sussurrou baixo. – Eu não sei por que eu te acusei daquele jeito, eu fui um idiota. Achava que a culpa era minha e quis jogá-la em cima de outra pessoa, me perdoe.
- Mas a culpa não foi sua, meu bem, nunca foi. – Ela desceu do balanço e pegou a mão do filho. Sentiu algo a atrapalhar e sorriu ao perceber que ele segurava a flauta comprada há nove anos, no primeiro natal sem Chris. – Você voltou, não é, meu filho? – Ela sorriu. – Eu sempre tive esperanças de que isso iria acontecer um dia.
- Me desculpe, mãe. Me perdoe por ter ficado tanto tempo longe. – Ele a abraçou com força. – Por não ter estado aqui pra você sempre que você precisou. – Ele beijou o rosto dela, enxugando as lágrimas que caíam. – Eu te amo, mãe.
- Eu te amo, meu filho. – Ela sorriu para ele.
Palavras não eram necessárias ali. Ele finalmente se sentia em casa depois de quase dez anos no escuro. Ergueu o olhar pro céu e viu o sol brilhando fraco por trás das nuvens. Mas uma coisa chamou sua atenção. Por segundos, teve um vislumbre de um cachecol azul bebê. Ele sorriu para a mãe e se separou lentamente dela.
- Bom, antes de ir distribuir presentes, eu tenho só mais uma coisa pra fazer. Você avisa a Tia Sam pra mim que eu já vou?
- Claro que sim. Fique a vontade pra fazer o que for. – Ela sorriu de volta pra ele.
Ele seguiu para o local onde tinha visto o cachecol e deu de cara com uma garota. Uma garota com cabelos escuros e pele muito branca, seus traços perfeitos sorriam para ele, e usava um longo cachecol azul bebê, que enrolava seu pescoço.
Ele se aproximou e estendeu a mão pra ela.
- Meu nome é Harry. – Ele pegou na mão dela. – Harry Judd. O que você acha de se casar no natal? - Ele completou, a fazendo soltar uma gargalhada gostosa aos seus ouvidos antes de responder.
- . – Ela sorriu. – .

Fim




N/A: Bom, essa história é fruto do primeiro challenge do FFOBS. Ela foi desclassificada porque eu enviei em .doc e só aceitavam .html ou .htm, BUT a gente supera isso, né? O nome inicial era Restart, mas eu mudei ele, assim como algumas partes da história, as quais eu vou dar uma incrementada. Espero que vocês gostem dela tanto quanto eu me diverti escrevendo-a. E mais uma vez, obrigada à Carol, que está aturando mais uma das minhas histórias pra corrigir.

Bom, sobre a história, o Harry é fixo porque ele era o encaixe perfeito do personagem. Medo de natal = Harry Judd /fatão. Coloquei os outros meninos fixos também, porque fiz os personagens com as características deles mesmos. E vou dizer uma coisa, eu me diverti MUITO escrevendo essa fic.


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