Antes que termine o Dia

por beel
Capitulo 1

Entro naquele lugar frio, e quando meus pés tocam o chão, dentro daquele portão, sinto minhas pernas ficarem e minha coragem de ir lá saiu correndo. Continuei andando, admirando as folhas secas caídas no chão e as árvores que já estavam ficando sem folhas por causa do outono que chegou alguns dias atrás. Paro em frente de uma árvore grande, cheguei no lugar que queria chegar (falando no sentido figurado, porque, na verdade, o que eu menos queria era ver aquela cena), e a dor que eu sinto desde ontem começa a aumentar. Acho que depois disso, nunca, nunca mais vou ser o mesmo; apesar de estar bem, bem mais calmo que ontem... E a dor? Cada vez maior e pior. Parei de chorar, ou gritar... Isso não a trará de volta; e já nem tenho mais lágrimas ou voz. Também percebi que isso não ia demonstrar o que eu to sentindo agora... Não chega nem perto. Só EU sei a dor, só EU sei o que to sentindo. Então, o melhor jeito, é guardar pra mim... Olho para o chão e vejo algumas flores jogadas no túmulo. Ainda tinha esperança, até agora, que fosse mentira, que ela ainda tivesse aqui... Mas ao ver o túmulo, escrito ' * 26/09/1989 – 24/10/2008 *'... Não sei explicar o que senti ao ver isso. Meus joelhos cederam, de tão fracos, e caí de joelho do lado do caixão. Não pude nem me despedir... Não pude vê-la uma última vez! Tudo porque eu estava dormindo... Isso dá raiva. Por que isso foi acontecer? Não podia...
Fecho meus olhos e coloco a rosa que ia dar ontem pra ela e não tive coragem. Talvez, se eu não tivesse sido tão bobo, e tivesse pedido pra ela ficar mais um pouco, ela não teria sido atropelada.

[flashback]
- Então... To indo embora, gente. – ela olhou pra mim, como se tivesse esperando resposta. Tinha acabado de voltar da pista de dança.
- Ela quer que você fale pra ela ficar, seu tonto. – ouvi cochichar no meu ouvido. – Vamos, fala logo. – Eu queria falar... Mas ela passou a tarde e a noite inteira falando com o Frank e oi, o ciúme não deixa.
- Tchau, . – tentei ser o mais grosseiro possível.
- Tchau. – Ela abaixou a cabeça, pôs as mãos no bolso, como de costume, e foi indo embora.
- Você é idiota? – ele tava estressado. – Vai falar com ela!
- Olha... Por que o Frank não vai? – olho pro idiota e ergo as sobrancelhas, em tom sarcástico.
- Porque é VOCÊ que ela quer, idiota.
- , escuta aqui...
- Escuta aqui você, ! Faz 3 anos. Você não pode ficar a vida inteira fugindo das suas paixões por causa de uma decepção amorosa. E desculpa, mas tava na hora de alguém lhe dizer isso. – eu podia ter discutido, brigado, mas levantei e saí. Talvez pra procurar , talvez pra apenas sair daquele ambiente desagradável. Cheguei na esquina da rua, e vi uma ambulância, com um caminhão do lado, polícia e muitas pessoas em volta. Vou chegando mais perto e ouço uma senhora falar: 'Coitada... Tão nova... Tão bonita.' 'Mas o baque foi fatal?' 'Parece que ela morreu.' Vou mais pra frente, e a vejo ali, caída no chão, com bombeiros em volta. Acho que fiquei perplexo, não acreditava que isso tava acontecendo. Isso não podia acontecer... NÃO PODIA!... Mas aconteceu. E então, começou o pesadelo. O meu pesadelo. Acho que quando vi ela ali, deitada no chão, senti metade de mim ir embora... A melhor metade. A metade que tinha alegria, esperança, que sorria... A metade que ela fazia existir. Vi aquela metade ir embora com ela.
[/flashback]

Ao lembrar disso, abro os olhos e vejo alguém na minha frente. Levanto a cabeça e vejo meu pai... Ele apenas me observava. Sem dó, na verdade, o jeito que ele me olhava... Parecia que ele tava com medo.
- Filho...
- Pai, foi minha culpa! Se eu tivesse pedido pra ela ficar e... – não conseguia terminar.
- Como você pode pensar isso? Não foi sua culpa! Foi um acidente... - ele estava seguro do que estava falando, mas não me convenceu.
- Eu só queria uma chance... Eu perdi tudo, pai.
- Você ainda tem fé? – às vezes, meu pai é muito capenga. E, essa não era a hora mais apropriada para isso. Eu assenti com a cabeça. – Então, peça essa chance com toda sua fé, que eu tenho certeza que ela não vai negar. – ele disse isso e saiu, acho que sabia que eu queria ficar sozinho agora. Fechei meus olhos, e com o pouco que restava de mim, falei:
- Por favor... Me dá mais... Uma chance. - Não consegui terminar, até porque, eu sabia que isso não ia acontecer. Então, com toda a força que eu já não tinha, me levantei. A cada passo que eu dava, a dor aumentava, se isso é possível. Não sei como consegui dar passo por passo. Entrei no carro, olhei pro relógio... Eram 6h. Isso me lembrou a , ontem. Acho que agora qualquer coisa me faz lembrar ela.

[ flashback ]
Deitei pra dormir um pouco, tava com muito sono. Não fiquei nem 5min na cama, e sinto alguém pular em mim.
- ! ACORDA MEU. Daqui a pouco a gente vai sair, seu anta! Você ainda tá dormindo? – sorrio ao ouvir aquela voz.
- Bom dia pra você também.
- Bom dia não. Boa tarde, aliás, quase boa noite! , você é muito vagal. – sorrio de novo. É, eu era feliz e não sabia.
- Você fala muito. – ela fez bico e saiu de cima de mim.
- Tá, não falo mais nada. – Ela levanta e vai saindo... Pulo da cama e paro na frente dela.
– Brincadeirinha, . – Ela me olha com cara de patética. – Eu te amo, você sabe. – Ela sorriu, e senti os braços dela passarem pela minha nuca, e ela aproximando seu corpo do meu, me dando um singelo abraço. Pus minhas mãos em sua cintura, apertando-a pra mais perto de mim, e a ouço dizer:
- Também te amo, . Até de noite. – Ela me soltou, e foi pra porta saindo.
[/flashback]

Sinto meus olhos aguarem com essa lembrança. Eu nunca mais vou abraçá-la, nunca mais vou vê-la, nunca mais vou ouvir dizendo que me ama... Nunca mais. Deixo o carro, e ao entrar em casa lembro de como cheguei ontem... Chorando feito um louco. Lembro que abracei e falei que ela tinha morrido... Ele estava chorando também. Não tanto como eu, mas tava. Aí... eu não lembro de mais nada. Segundo minha mãe ela me deu um calmante pra eu dormir e esquecer isso um pouco.

Capitulo 2

Entrei em casa e fui direto pro meu quarto. Fiquei ali, admirando a parede branca do teto e me lembrando dos bons, e maus momentos... Até que e chegaram, e começaram a conversar e jogar comigo, até umas 3h da manhã. Isso me fez esquecer um pouco... Não esquecer, mas sofrer menos, talvez. Assim que eles saíram do quarto, eu fui pra minha varanda. Lembrei que ali era o 'lugar preferido' da , segundo ela mesma... Ela gostava de ficar ali para ver estrelas. E falava que gostava de ver dali, porque parecia que estavam mais perto. Fiquei vendo as estrelas, e lembrando dela até as estrelas quase desaparecerem... E acabei pegando no sono. Acordei na cama, acho que e tiveram que me pôr ali... Uma cena realmente hilária, eu riria dela, se não tivesse tão pra baixo. Fechei meus olhos, e senti alguma coisa pular em mim. Irmãos malditos.
- ... Ou , sei lá, da pra sair?
- ou ? – achei que tava ouvindo coisas. – Você me confundiu com um dos seus irmãos? Qual é, Jonas! – abro os olhos e vejo a única coisa que me faria sorrir agora: . Senti um desespero, mas um desespero bom... Muito melhor do que eu senti ontem. Mas... como?
- ... ? – ela sorriu. Ah, eu já tava com saudade daquele sorriso.
- Quem mais você esperava que fosse? Ah, é, um dos seus irmãos. - ela saiu da cama.
- Eu QUERIA que fosse você. – Eu pulei da cama, na frente dela, inconsciente de que estava fazendo a mesma coisa que fiz no outro dia. – Eu te amo, . - Ela sorriu, e senti os braços dela passarem pela minha nuca, e ela aproximando seu corpo do meu, me dando um singelo abraço. Pus minhas mãos em sua cintura, apertando-a pra mais perto de mim, e a ouço dizer:
- Também te amo, . Até de noite. – e foi indo pra porta. Até que enfim, eu, uma anta em pessoa, me toquei. Quer dizer, eu já vivi tudo isso. Olhei pro relógio, eram 6:10.
- , que dia é hoje? – ela parou na porta, pensou um pouco e disse: "24, por quê?". CARA, o que aconteceu?
- Não... nada – desci as escadas correndo, e fez a mesma coisa que tinha feito dois dias atrás:
- Oi, vagal, acordou? – olhei, ignorei a pergunta e saí... Fui pro cemitério, é. O único lugar que eu poderia descobrir se aquilo era loucura era lá. Fui correndo, e o cemitério é meio longe... Ou seja, demorou um pouco pra chegar. Olho pro relógio, e lembro que ainda tenho que sair com o pessoal... Ah, eu só posso estar ficando louco. Caminhei pelo cemitério, e parei em frente da mesma árvore grande... Só que não tinha nada na sua frente. Nenhum túmulo, nada... Fiquei parado ali, e lembrei de mim mesmo ajoelhado ali, do lado do túmulo... Do meu pai tentando me dar conselhos. Aí a ficha caiu: Essa é a chance que eu pedi. Essa É a minha chance... E eu to gastando tempo aqui, parado num cemitério. SEU BURRO! Saí correndo, e quando cheguei em casa, já estava todo o mundo me esperando na sala... E a , conversando com o Frank. Decidi, naquele momento, que não ia perder a MINHA CHANCE por causa dele. Me arrumei rápido, e a gente foi pra bendita festa. Estava igualzinho a aquele dia, e eu não conseguia pensar em nada pra falar ou fazer, tava nervoso demais... Ela tava conversando com ele. Ela ia morrer hoje... Ela vai morrer daqui a pouco... Eu to desperdiçando a chance... Seu idiota! Olha ele olhando pra ela... Cara, preciso fazer alguma coisa.
- ... vamos dançar? – Hei, era pra EU estar falando isso! MINHA CHANCE, caralho. Esse Frank é um besta... E ela aceitou, saindo da mesa. Mais um tempo desperdiçado. , você é um idiota.
- Você vai desistir assim? – falou, indignado. Mas uma vez, poderia ter discuto, mas resolvi aproveitar minha chance.
- Não. – me levantei da mesa, acho que nem sei direito o que to fazendo; fui pra pista. Vi eles dançando, ela meio sem graça, olhando pro chão, era agora ou nunca. Chego mais perto e ela me vê, vejo ela ficar nervosa na hora. Nossa, bom saber que eu faço ela ficar nervosa assim, porque eu fico realmente muito nervoso quando a vejo. Parei na frente do Frank, e pensei em perguntar: posso roubar sua dançarina um pouquinho? Só que ela não é dele, e nunca vai ser, e não é um pouquinho, é um bom tempo, e eu não ia perguntar pra ele... Ele não é dono dela, e, como eu já disse, nunca vai ser, obrigado. Então, virei na frente da própria e disse: "Me dá a honra?" oferecendo minha mão. Ela sorriu, pegou na minha mão e deixou o Frank ali, plantado, com mais cara de loser do que já tem. Ele me olhou, como se quisesse me derrubar ou socar, só com olhar. Há, idiota. A gente foi andando mais pro meio da pista, ela parou na minha frente e disse:
- Pensei que você nunca ia fazer isso. – Como ela consegue dizer isso olhando nos meus olhos? Acho que é só pra me deixar mais nervoso... E como funciona.
- É, eu também. – mais sincero que isso, só se eu complementasse com um eu te amo. Ela sorriu e eu fiquei feliz pela musica ter começado antes que eu desviasse meu olhar do dela por pura fraqueza... Mas também, agradeci por pouco tempo. A verdade é que a gente começou a dançar e eu não sabia o que fazer. Já dancei com várias garotas, mas acho que nenhuma nunca foi tão importante. Olho pra , e ela tá me olhando rindo. AE, legal, rindo da minha cara na primeira dança... é, , você é realmente um idiota.
- Que foi?
- Você me chama pra dançar e fica aí, que nem um bobo. – ela riu.
- Ah é?... – e eu não lembro de mais nada. Quer dizer, quando eu me dei conta, eu tava segurando na sua cintura, com a cabeça meio que encostada na dela, sentindo seu perfume doce e sua respiração ofegante; e ela com suas mãos no meu peito, dançando.
- Então, quem é o bobo agora? – a resposta dela foi um sorriso... Como ela gosta de sorrir... Como eu gosto daquele sorriso. Sinceridade? Meu coração tá quase saindo, e eu to com aquela sensação estranha de quando você está preste a fazer alguma coisa muito boa, mas tem medo, insegurança. A mistura perfeita de medo, insegurança com felicidade, agonia, emoção, paixão... A sensação mais perfeita e confusa que existe. Parei e observei a por alguns instantes, e ela ficou vermelha.

Capitulo 3

- Então... Vamo pra lá? – assenti com a cabeça e ela me guiou até a mesa que a gente tava sentado. O Frank, bem, pra falar o português mais sincero, estava um cu. Acho que ninguém mais o agüentava ali.
- Então, – começou. – eu vou indo... tenho que... – senti um desespero enorme, a sensação boa desapareceu no mesmo instante. Ela não podia ir. Não podia. me cutucou, mas eu não ouvi, sabia o que ele ia dizer.
- Não! – dei um grito, sem querer. Ela me olhou sem entender nada. – Fica, ... Por favor.
- Ah, , eu vou indo mesmo...
- ... – eu comecei, mesmo sem saber o argumento que ia usar pra ela ficar. Quer dizer, se eu falar 'se você sair daqui, você vai morrer', ninguém ia acreditar, nem eu acredito por inteiro nessa história. O idiota, loser do Frank, me interrompeu:
- Deixa ela ir, para de ser chato. Tchau, .
- Er... Tchau. – ela foi saindo, e eu não sabia mais o que fazer. Senti o desespero aumentar, misturado com angustia, e todos meus medos desaparecidos a alguns instantes atrás reapareceram agora. Comecei a lembrar de tudo, e isso não podia acontecer de novo. Eu ia ficando cada vez mais nervoso, mais sob pressão, e não conseguia pensar em mais nada. Agi por puro impulso: ela tava na calçada, e eu sai correndo atrás. Quando cheguei lá, ela tava no meio da calçada; grito seu nome, e vejo que ela esta com dois fones no ouvido. Fiquei completamente desesperado, comecei a correr com todas as forças que eu tinha e não tinha também; se ela morresse, era culpa minha, de novo! Ela chegou na esquina e tava esperando o sinal fechar. Peguei uma lata que vi no meio da rua e joguei, com esperança que caísse nela, mas nem chegou. Gritei seu nome mais uma vez, e nada. Corri mais forte, e o sinal fechou. Ela pôs o primeiro pé na rua, quando...

Capitulo 4 – the end

...eu a puxei pra calçada, e a abracei, o mais forte que eu podia, tentando demonstrar tudo o que eu sinto por ela naquele abraço, o que com certeza era impossível. Eu me senti aliviado, ela estava a salvo agora. Eu não ia a perder, nunca mais. Eu consegui aproveitar minha chance, eu ia poder dizer o quanto eu a amo... finalmente. Ela não entendia nada, com certeza; apenas me abraçou. Eu explicaria mais tarde, talvez um dia. Ela soltou o abraço, e pela primeira vez em meses eu pude olhar nos seus olhos sem me sentir nervoso, pelo menos, mais nervoso do que eu estava há alguns segundos atrás eu não ficaria. Peguei na sua cintura, trazendo-a pra mais perto de mim, e encostei seus lábios nos meus, dando o beijo tão esperado, o beijo que eu achei que nunca ia dar. Aí sim eu fiquei nervoso. Minhas mãos tremiam enquanto nossas línguas dançavam, e eu pude sentir o coração dela bater mais rápido enquanto eu fazia carinho na sua cintura, e ela passava as pontas dos dedos no meu cabelo. Nos soltamos, e a vi sorrir novamente... De pensar que ela morreria se eu não tivesse ali. Olho pra rua, fiquei parado, ali, olhando, e virei exatamente na hora em que o caminhão passou pelo sinal vermelho. O mesmo caminhão que ia a atropelar. Minha vontade era de correr atrás daquele otário e matar ele, como ele fez com ela dois dias atrás... Mas me segurei. Acho que a nem se tocou. Ela me abraçou, e falou 'vamos?'. Assenti com a cabeça, atravessamos a rua em silêncio, abraçados. Quando chegamos do outro lado, ela perguntou:
- Por que essa declaração tão repentina? – decidi ser sincero, de novo.
- Porque eu não quero te perder... Eu te amo demais pra deixar você ir embora da minha vida assim. Você foi a pessoa que me tirou do fundo do poço, três anos atrás. E, eu me vi no fundo do poço de novo... Então, eu tive uma chance. E resolvi não desperdiçar. – só falta dizer que ela morreu... Mas eu não vou falar isso, acho. – Por sua causa eu fiz as coisas diferentes hoje, eu perdi meu medo...
- Isso tudo por ciúmes do Frank? Amor! – ênfase no amor, por favor. Ela me chamou de amor, dá licença? – Você sempre soube que eu te amo, não soube? – apenas sorri, e dei um beijinho na sua testa. Continuamos andando, enquanto eu pensava numa resposta boa pra dar.
- Um dia você entende. – ela sorriu... O único sorriso que me faz sorrir, a tanto tempo...
Fim





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agradecimentos especiais a caio e ana, que ficaram enchendo meu saco pra eu passar a fic pro pc OEIAHEA obg, amores. Segunda fic, cara *-* espero que gostem :)


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