Back To Life
Por Lívia.
Julho 2009

Era quente e ela nunca gostou muito do verão. A única coisa que lhe agradava era poder sentar na areia e ficar olhando as ondas, sem se preocupar com um monte de casacos lhe mantendo aquecida. Pensava nele e lembrava perfeitamente de cada momento, cada sorriso. Contava os minutos, pra não dizer os segundos, em que iria vê-lo novamente. Pra ela, era como se aqueles dois anos tivessem se transformado em séculos, mas ainda assim não tinha esquecido a semana que passaram juntos, tão juntos que por um momento pareciam um só.


Julho 2007

- Oi! – Ele falou sorridente e ela tomou um susto. Não por ele ter falado, mas pelo fato de ele estar tão próximo dela.
- O-oi. – Sorriu nervosa.
- Você não é daqui, é? – Perguntou de um jeito engraçado e se afastou um pouco, percebendo que ela olhava fundo nos seus olhos. Não que incomodasse, mas ele queria uma certa distancia pra olhar nos dela também.
- Não. – Soltou uma risada abafada e passou a fitar os próprios pés.
- Vai ficar por quanto tempo?
- Três dias, eu acho. – Respirou fundo, se sentindo um pouco mais a vontade.
- Que tal um encontro? – Ele perguntou divertido, mas tentando soar o mais sério possível.
- COMO? – Ela levantou a cabeça rapidamente o olhando, como se aquilo fosse algo surreal.
- Um encontro. Digo, a gente podia sair e eu te mostrava a cidade, sei lá. – Deu de ombros e sorriu amigável.
- Desculpa, mas... Anh?
- Olha, onde você ta hospedada? Eu passo amanhã às duas da tarde e daí a gente vai. Não vai ter nenhum show essa semana, meio que férias, sabe? Daí eu posso te levar pra alguns lugares, a gente conversa e quando você for embora eu te deixo no aeroporto. – A essa altura você imagina que ela já estava caída no chão, mas ao contrario do que ela sempre imaginou, ela estava ali, em pé, vendo ele falar pelos cotovelos, marcando um encontro com ela. Sorriu. O melhor de tudo era que aquilo era uma linda realidade.


- Não, eu nem to nervosa! É só impressão sua! – Ela falava enquanto andava de um lado pro outro, enquanto sentia que sua mão poderia cair a qualquer momento. Olhou pros lados e respirou fundo. Sozinha, num país desconhecido. O que diabos ela tinha na cabeça quando resolveu ir pra lá? Ah, é verdade. Ele. Estava perto de explodir, não sabia se era de felicidade ou de nervosismo, mas sabia que mesmo com o coração batendo tão rápido, ele poderia parar a qualquer momento. Quanto mais ela dizia pra si mesma que tudo aquilo era normal e que não estava ansiosa, pior ficava a situação. Se jogou na cama e ficou olhando atentamente pro relógio na mesa de cabeceira. Incrível como os segundos pareciam horas. Sorriu ao ouvir alguém bater na porta e deu um pulo na cama, dando uma olhada rápida no espelho e ajeitando a franja, que já estava bonitinha no lugar, visto que ela passou quase meia hora brincando com ela no espelho. Colocou a mão na maçaneta e respirou fundo. “É agora” pensou antes de abrir a porta e sentir uma leve sensação de desmaio quando viu que era ele, era realmente ele, ali, na sua frente.
- ? – Ele falou simpático, dando um sorriso que deveria ser colocado na lista mundial de armas mortais, já que ninguém tem um sorriso tão lindo assim só pra ser simpático. Ela balançou a cabeça afirmando, foi tudo que seu estado de transe lhe permitiu fazer. Tudo tão rápido e bem mais simples do que ela jamais imaginou que seria. Um simples passe de backstage fez muito mais do que lhe dar fotos ao lado deles, simplesmente mudou sua vida por completo, dali pra frente e ela se quer tinha noção que seria muito mais difícil do que já era a partir dali.
- Pra onde a gente vai? – Ela finalmente perguntou, pedindo espaço pra passar e fechando a porta atrás de si. Eles pararam na frente do elevador, enquanto ela olhava pra ele esperando uma resposta.
- Eu tenho tudo programado bonitinho, pode ficar tranqüila. – Ele deu uma piscadela pra ela e entrou no elevador. Encostou na parede e ficou olhando pra ela, que piscava freneticamente e não tirava a imagem dele piscando na cabeça, o que tornava difícil andar. – ? – Ela balançou de leve a cabeça e entrou no elevador, se colocando ao lado dele.
- Ah, é pra chamar de , viu? – Ela falou divertida e virou pra ele, sorrindo.

- COMO ASSIM A GENTE NÃO VAI NO LONDON EYE, ? – Ela perguntou indignada, enquanto olhava pra trás e via a super roda gigante se distanciando cada vez mais. Ele riu e balançou a cabeça em sinal de negação. Ela já se sentia bem mais a vontade perto dele. Suas mãos ainda tremiam, mas não era mais de nervosismo e sim de felicidade contida no corpo, já que os sorrisos não eram o bastante pra colocar toda ela pra fora. Não sabia se dez minutos eram o suficiente pra ficar tão a vontade com ela, mas imaginava que ela sabia muito mais sobre ele do que ele mesmo, o que tornava aquele primeiro encontro, pra ela, como se eles já estivessem saindo há um mês, o que pra ele não era favorável. Resmungou alguma coisa e ela riu da cara revoltada que ele fazia, apesar de não fazer idéia do que se passava na cabeça dele.
- Me fala de você, . – Ele falou, virando rápido pra ela e dando um sorriso.
- Tipo o que?
- Sei lá, o que você gosta, de onde você é, quais seus sonhos. Sei lá, só me fala de você. – Ela sentiu toda sua parte interna virando água naquele momento e seu sorriso pareceu aumentar, se é que isso era possível.
- Bah, sei lá. Eu sou do Brasil, algo desse tipo? – Ela falou entortando a boca e depois voltando a sorrir, enquanto pensava em algo mais pra dizer.
- É. Continua. – Ele deu um sorriso satisfeito.
- Hum, Brasil, gosto de tantas bandas que levaria séculos pra te dizer metade. – Ela rolou os olhos e ele riu. – E meus sonhos nunca estiveram tão perto da realidade. – Ela falou boba e, logo que percebeu o que havia falado, praguejou mil vezes a sua falta de capacidade de falar pouco.
- Como assim? – Ele perguntou franzindo a testa e ela passou um tempo imaginando o que falar. – ? – Ele chamou depois de cinco minutos sem uma resposta.
- Que?
- Como assim teus sonhos nunca estiveram tão perto da realidade? – “Ele realmente tava prestando atenção no que eu falava! Uau *-*”.
- Será que ta passando alguma coisa boa na radio? – Ela perguntou mudando bruscamente de assunto, fazendo ele deixar aquilo pra lá. Ligou o som e começou a tocar Hey There Delilah.
- Conhece Plain White t’s? Esse cd é bem antigo, mas é o melhor. – Ele sorriu, virando rápido pra ela novamente e ela sentia seus olhos brilharem e seu sorriso se tornar cada vez mais bobo. Ela ficou olhando a paisagem da janela, porque sentia que se olhasse pra ele ia enlouquecer de vez, com aquela musica e com tudo que tava acontecendo, seria difícil manter a calma. Ele olhava pra ela de tempo em tempo e sorria, não sabia porque, mas sentia algo imenso e uma extrema vontade de sorrir quando olhava pra ela.

Não era como se aquele dia tivesse sido algo especial, pra falar a verdade, ele nem chegava perto de especial, tamanha havia sido a importância dele pra ela, mas quando aquela musica tocou ela teve a certeza de que aquilo era real e que não queria ele, mas que precisava dele, como precisava do oxigênio. Percebeu ali, do lado dele, que todos aqueles anos que havia passado longe foram importantes, foram únicos, mas não tanto quanto aqueles poucos dias que ela passaria ao lado dele. Olhou no relógio e suspirou, os minutos realmente insistiam em não passar quando se tratava de vê-lo.

- Eu não acho que você seja irritante. – Ela respondeu normalmente.
- Você é a primeira, então. – Ele sorriu bobo, ainda olhando pra frente.
- Como assim? Vai dizer que você pergunta isso pra todas as garotas que você leva pra jantar? – Ela perguntou o olhando assustada e ele gargalhou.
- Pras que eu gosto, sim. – Ele falou virando pra ela e depois voltando a olhar a rua. Quantas vezes ela já havia derretido naquela tarde? Uma? Duas? Mais? Enfim, com essa agora se totalizavam varias. Ela sorriu sem graça e tentou disfarçar os fogos de artifícios e a parada de ação de graças que acontecia no seu cérebro.
- Se você diz. – Ela deu de ombros e ficou olhando a rua. sorriu vitorioso e parou o carro.
- Hey. – Chamou, vendo ela virar assustada. – Que foi? – Perguntou vendo a expressão assustada dela. Ela balançou a cabeça e piscou com força.
- Nada, só acho que entrei em órbita. – Ela deu de ombros e ele riu.
- Okay. – Ele pegou um lenço no porta-luvas e entregou pra ela. – Coloca. Eu quero fazer uma surpresa. – Ele sorriu e foi uma das ultimas coisas que ela viu antes de vendar os olhos.
- Olhe lá o que você vai fazer, viu ? – Ela falou num tom autoritário, mas logo depois riu. Ouviu a porta do lado dele fechar e em poucos segundos a do seu lado abrir. Sentiu ele pegando sua mão e a guiando com cuidado. Colocou uma das mãos na sua cintura e foram andando ate algum lugar. Ele parou por um instante, nunca soltando a mão dela e falou alguma coisa sobre irem sozinhos em algum lugar, mas ela não conseguiu prestar atenção. Sentiu a mão dele na sua cintura novamente, agora a empurrando de leve pra frente e o ouviu falar pra tomar cuidado com os degraus. Sorriu. O quão surreal era ela pensar que nada daquilo era novidade? Tudo que ele estava fazendo, ele já havia feito antes, mesmo que indiretamente e ela não conseguia deixar de sorrir. Sentiu um solavanco leve, enquanto ele ainda a empurrava pra frente. Parou e esperou o tempo certo. – Posso tirar? – Perguntou impaciente e ouviu ele rir. Por volta de cinco minutos depois ele tirou a venda dos olhos dela e ficou esperando alguma reação, o que demorou um pouco já que ela ainda estava tentando descobrir onde estava. Mesmo tendo visto aquele lugar tantas vezes por foto, era bem diferente estar ali. Mas sempre é assim, certo? Sorriu e virou pra trás, vendo com um sorriso bobo no rosto.
- É lindo e a gente nem ta na parte mais alta ainda. – Ele falou vendo ela assentir. – Você acha que eu ia perder de ver essa tua cara? – Ele falou divertido e ela virou indignada.
- Então porque você passou direto?
- Porque a vista é mais bonita essa hora. – Ele deu de ombros e ela suspirou, voltando a olhar a paisagem. Ficaram em silencio, só olhando a cidade e o que era mais estranho era aquele silencio não incomodar nenhum dos dois. Não ficavam tentando forçar assunto ou ter uma conversa sobre o tempo. O silencio era agradável e a presença do outro mais ainda. Quando terminaram a volta completa, ele foi deixar ela no hotel, prometendo que aquela não ia ser a ultima vez que ela o veria.

Dois dias. Ele fez ela esperar por ele por dois dias e todo aquele tempo ela ficou se perguntando se ele pensava nela, enquanto ficava sentada na cama do hotel esperando ele chegar. Ela havia falado pra ele que só ficava na cidade por três dias, certo? E agora chovia bastante, então ele provavelmente estava em casa, debaixo de cobertas quentinhas, dormindo. Estava pra fechar a ultima mala quando ouviu alguém bater na porta. Foi, impaciente, e estranhou ao ver ele todo molhado e respirando forte ao abrir a porta.
- , eu tenho que ta no aeroporto dentro de quarenta minutos... – Falava indignada, mas foi interrompida por ele, que agora a beijava de um jeito delicado e que fazia ela se arrepiar. Ele partiu o beijo e se afastou dela esperando uma reação, mas, aparentemente, ficar olhando pro nada calada não era a reação que ele esperava.
- Você não vai. – Ele falou olhando firme nos olhos dela.
- Que? – Perguntou assustada acordando do transe.
- Não vai embora. – Ele falou serio, sem se quer piscar.
- E você espera que eu fique aonde? Na rua? – Perguntou confusa e ele sorriu.
- Não! Você pode ficar lá em casa, sei lá! – Ele falou fazendo gestos exagerados com as mãos.
- Eu não tenho dinheiro pra outra passagem! Você por acaso tem noção de quanto isso custa? – Ela suspirou. Queria ficar, queria mais que tudo ficar, mas era muito mais complicado do que parecia.
- Eu pago pra você, só me faça o favor de ficar aqui! – Ele insitiu, agora num tom mais desesperado.
- Porque eu ficaria? – Ela perguntou, querendo saber exatamente o que diabos ele queria com ela. Apesar de que tudo que ela queria naquele momento era apenas aceitar aquela proposta louca que ele fazia.
- Porque eu preciso que você fique. – Ele falou de um jeito doce. – Porque nesses dois dias não teve um único minuto que eu não pensasse em você e eu odeio me sentir assim! – Exclamou nervoso enquanto ela ouvia calada e se derretia cada vez mais por dentro. – Uma vez por ano isso acontece e foi acontecer logo com você! Agora me diz porque você tem que ir embora? Eu passei dois dias tentando superar, porque naquela noite quando eu cheguei em casa e tudo que eu conseguia ver era o teu sorriso eu me dei conta que se a gente se visse por mais dois dias ia doer muito mais! – Respirou fundo. – Será que, agora, você pode ficar? – Ele perguntou delicado e ela foi fazer alguns telefonemas.

O silêncio nunca era desconfortável, ele só não era muito bem vindo. Mas essa era uma daquelas situações onde ele fica pensando no que dizer e ela tenta não pensar em nada. Ficava olhando a rua, não pra se distrair, mas algo a fazia prestar atenção em cada detalhe, cada possível ponto de referencia. olhava fixamente pra frente, devia ter pensado no que falar ou fazer antes de sair correndo no meio da chuva. Suspirou e finalmente pareceu acender uma luz acima de sua cabeça.
- Seria mais fácil deixar as coisas do jeito que elas são, né? – Ele falou meio incerto. Ela ouviu e não ouviu ao mesmo tempo. Continuou olhando a rua e a voz dele ficava apenas como um plano de fundo. Sentia que tinha que responder, quando ouviu ele chamar seu nome pela segunda vez.
- É. – Talvez passar cinco dias ao lado dele, apenas como amigos, fosse facilitar alguma coisa; se é que tinha alguma coisa pra facilitar.

Foi um erro, mas quem consegue viver sem cometer um? Ela tinha medo de que talvez, pra ele, tudo não passasse de uma empolgação de momento. Não aparentava ser, pelo fato dele ter corrido no meio da chuva pra chegar no hotel. Era como uma cena de filme, que ela nunca imaginou que fosse acontecer e isso parecia deixá-la cega, que era tudo que ela não podia ser naquele momento. De qualquer forma, com o passar dos dias ela ia perceber que pra ele, ela jamais seria uma empolgação de momento.

Já era tarde, eles não haviam trocado mais nenhuma palavra o dia inteiro e aquilo parecia corroer cada pedacinho deles por dentro. Ela ajeitava algumas coisas na gaveta e agora ela fazia todo o esforço que podia pra não pensar nele, que acabava sendo em vão, já que toda e qualquer mínima coisa ela conseguia ligar diretamente a ele. Ele olhava o teto da sala e tentava não lembrar do sorriso dela, que era o que, no final das contas, quebrava todas as suas defesas. Suspirou e levantou num impulso, vendo ela escorada na parede da sala com os braços cruzados e o encarando.
- Hey. – Ele falou, talvez pra quebrar o silencio, talvez uma tentativa desesperada de contato. Ela apenas respirou fundo, sorriu e voltou pro quarto, deixando ele com um olhar perdido e um sorriso bobo no rosto. – TA COM FOME? – Ele gritou do nada e ela riu.
- Aham, o que você tem ai? – Ela falou aparecendo na sala de novo.
- O telefone da pizzaria e algo que eu posso pensar em fazer, mas só se você se comprometer a comer mesmo sem saber o que é. – Ele falou divertido e ela estreitou os olhos.
- Algo que você pode pensar em fazer, que eu me comprometo a comer mesmo sem saber o que é. – Ela sorriu e ele soltou uma risada abafada. – Realmente espero continuar viva amanhã.
- Okay, mas vai demorar um pouco, quer ficar vendo filme? – Ela balançou a cabeça concordando, ele mostrou pra ela onde tudo ficava e foi pra cozinha fazer o jantar. Talvez aquele simples gesto, aquele simples sorriso, fosse o jeito dela dizer pra ele que tudo ia dar certo no final, porque agora ela tinha certeza que ia.
- Hey. – Ele falou depois de horas apenas deitados, um em cada sofá. – Posso te perguntar uma coisa? – Ela sentiu seu estômago dar voltas e colocou a mão sobre a barriga. A comida estava boa demais pra aquilo ser culpa dela. Riu de leve, pelo pensamento besta que teve e suspirou antes de dar a resposta.
- Só não garanto responder. – Ele riu e sentou no sofá, olhando atentamente pra ela, de um jeito que incomodava por parecer que ele tentava desvendar todo e qualquer mistério que se passasse na cabeça dela.
- Qual teu maior sonho? – Perguntou com um meio sorriso no rosto. Ela continuou deitada, olhando pro teto e pensando numa resposta que não fosse constrangedora. Rolou os olhos e olhou pra ele, dando um sorriso logo que se viu na resposta pra pergunta.
- Ter uma banda, eu acho. – Deu de ombros. Não era seu maior, mas não deixava de ser um sonho. Por mais que ela quisesse falar tudo pra ele, por mais que ela quisesse dizer que ele era tudo que ela sempre quis, seis dias talvez não fossem suficientes pra fazer ele pensar o mesmo dela. “Dói menos se ele não sabe” pensou. – E o teu? – Perguntou.
- Jura que não vai me chamar de gay, bicha ou derivados? – Pediu meio inseguro. Aquilo era algo que ele jamais tinha falado pros seus melhores amigos e não fazia idéia do porque falar pra ela, ao invés de inventar uma mentira boba. Ela riu e balançou a cabeça aceitando. – Ok. – Ele esfregou as mãos nervosas e suspirou. – Achar a pessoa certa. Aquela que vai me amar de verdade e nunca vai me deixar. – Ele viu como tinha soado idiota e se jogou de cara no sofá, envergonhado. Ela ficou estática, olhando pro teto e piscando. Ouviu a voz dele meio abafada de fundo, mas não se importou em escutar. Sorriu involuntariamente e levantou, indo direto pro quarto. olhou ela passar e franziu a testa, levantando logo em seguida e a seguindo. – Foi tão gay a ponto de te fazer sair da sala? – Perguntou divertido, enquanto via ela mexer na mala.
- Não. – Respondeu sem tirar os olhos do monte de roupas sujas que havia jogado dentro da mala nas pressas. Porque diabos tinha jogado as roupas sujas dentro da mala dos presentes? Ah, claro. A pressa e o susto misturado não ajudam muito. Achou uma caixa verde, com lagartos brancos desenhados e sorriu. – Pega e faz o que tu quiser, é teu. – Falou e o empurrou pra fora do quarto com a caixa na mão, trancando a porta em seguida. Não era um ato desesperado, muito menos previsível. Havia colocado aquela caixa ali porque gostava de ler as coisas que escrevia e de guardar nela e somente nela quando escrevia mais. E agora estava nas mãos dele. Todos os sonhos, as declarações, as besteiras, as historias, enfim, seu coração em forma de papel.

Havia passado a noite acordado, lendo tudo que tinha na caixa. Ficou assustado de inicio, era algo realmente grande e ele nunca tinha visto antes, mas logo que começou a se imaginar nas historias ou ao lado dela vendo seus netos brincarem no terraço da casa, se sentiu confortável. Sentiu que era aquilo que ele queria, apesar de tão pouco tempo de convivência. Ela se importava e ele percebia pelas palavras dela que era algo verdadeiro. Queria dormir, mas a curiosidade em saber pelo que ela passou sem ele era maior. Quando finalmente deitou, não passou mais de dez minutos sonhando e acordou com cheiro de panquecas queimando. Coçou os olhos e riu. Ela realmente não existia. Deixou o sono pra lá e foi indo na direção da cozinha, vendo ela lutar contra a frigideira pra tirar a panqueca que havia colado. Resmungou alguma coisa em português e jogou o objeto quente na pia. Riu, enquanto ela inda reclamava em português com as paredes.
- Hey, pequena. – Falou com um sorriso nos lábios. Ela ficou estática, a voz dele ecoava na cabeça dela, enquanto ela procurava uma reação. Deu um sorriso bobo e virou pra ele, vendo um semblante extremamente cansado, mas que mesmo assim estampava um sorriso pra ela, só pra ela.
- Você... – Suspirou. A frase não ia se formar tinha certeza disso. – O que... Eu... E foi... – Mas insistia. Ele riu do nervosismo dela e foi na sua direção, lhe dando um abraço, seguido de um beijo na testa.
- Bagunça meu cabelo ate eu dormir? – Pediu manhoso e ela riu. Sentaram no sofá e ficaram conversando por horas sobre coisas sem sentido, bandas que acabaram, o que queria fazer antes de morrer, onde queriam estar, ate que ele dormiu. Aquilo realmente havia levado a algum lugar? Porque aquele sim era o sonho do qual ela jamais queria acordar. Queria só ficar ali, vendo ele dormir e pensando no que fazer quando ele abrisse os olhos.

Era mágico. Algo realmente difícil de acontecer, mas ele realmente estava ali com ela, pra ela. Não só como um amigo, mas agora como a pessoa certa, a pessoa que ele sempre foi. A fila do show parecia imensa, mas já que havia comprado os ingressos logo que começou a vender, ia ficar lá na frente. Agradecia eternamente pelos shows serem em arenas. Apesar de não ter feito nada pra chamar a atenção dele, sabia que ele a veria de qualquer forma. E melhor ainda, sabia que ele lembraria.

Ela acabou dormindo também e quando acordou percebeu que ele não estava mais lá. Depois de procurar pela casa inteira, foi ate a cozinha e viu um bilhete que dizia apenas “Eu não fugi”. Ela riu e foi pro quarto, organizar algumas coisas nas gavetas. Não tinha muito, então terminou rápido. Jogou-se em cima da cama, pegou seu ipod e ficou ouvindo, com os olhos fechados. Não estava nem um pouco cansada, só queria um jeito de esperar por ele com o tempo passando mais rápido. Não sabia se tinha funcionado, mas logo que sentiu ele sentar na ponta da cama seus olhos abriram como reflexo. Ele sorriu. A parte boa do seu dia estava para começar.
- O que fazer hoje? – Perguntou, já com algumas idéias em mente. Ela sorriu e foi mais pro canto da cama, dando espaço pra ele deitar. – Por mais tentadora que a oferta seja, eu tenho outros planos em mente. – Sorriu.
- Se eu perguntar quais, vai adiantar de alguma coisa? – Ela perguntou num tom suspeito.
- Não custa tentar. – Ele deu de ombros e ela suspirou. Ele já era surpresa suficiente e ainda insistia em trazer mais a cada dia que passava.

A mais pura verdade? Ela não queria mais nada na vida. A semana havia passado e cada dia ele fazia algo diferente. Coisas simples, mas que tinham um brilho especial: Ele. Andar na praia, ver o sol nascer, piquenique no parque, ver filmes dividindo um pote de sorvete, tudo tinha algo mais. E agora ela não conseguia respirar. Talvez por ele estar apertando ela muito forte, mas ela não se importava com o motivo. Queria andar na direção do portão de embarque, mas não conseguia. Alem de não querer, sabia que ele não ia soltar enquanto ainda tivesse tempo sobrando. Respirou fundo e a abraçou com mais força, seja lá o que ela tivesse feito ele sentir, ele sabia que não tinha mais volta. Queria ir com ela, pra criar o futuro que ela tanto sonhou, mas nada era tão simples quanto deveria ser.
- We could’ve fallen in love. – Ele sussurrou no ouvido dela.
- A gente ainda vai ser ver, . – Ela falou, tentando acreditar nas próprias palavras. Ele apenas assentiu e antes que pudesse falar qualquer coisa ouviram a ultima chamada pro vôo dela. Deu um beijo na bochecha dele e tentou se afastar, mas com a força que ele estava prendendo ela e com a força de vontade que ela tinha de ir embora, qualquer tentativa seria inútil. – Eu... – Foi interrompida por ele, que a beijava como se aquela fosse a ultima vez. Ela se assustou de começo, mas depois se entregou. Talvez criar esperanças de que aquilo fosse acontecer de novo não fosse necessário, talvez ela devesse tentar deixar tudo aquilo apenas naquela semana. Só pensar nisso, já fazia a faca ir mais fundo. Ele partiu o beijo e deu vários selinhos nela, fazendo ela sorrir.
- Vou sentir tua falta, pequena. – Falou com a voz fraca e ela apenas concordou. Ouviram a chamada mais uma vez e ela tremeu. – Merda. – Ele riu abafado e a soltou.
- Vai dar tudo certo. – Ela sussurrou antes de soltar a mão dele.

Ele dirigiu ate em casa, enquanto ela esperava o avião. Ele bebeu ate ficar completamente dormente, enquanto o avião dela voava pra casa. Ele se jogou na cama, mas ainda assim não conseguia dormir. Seus olhos ardiam, apesar dele ter tido a capacidade de controlar as lagrimas. Queria voltar pro aeroporto e pegar o primeiro avião pro Brasil, mas havia tomado todos cartões que ele tinha depois que ele havia comprado a passagem de ida dela, o amigo sabia da capacidade de de fazer besteira. Ela já tinha chegado em casa, a viagem havia sido incrivelmente demorada e seus olhos pareciam maior que o normal. Não quis explicar pra ninguém o que havia acontecido, não quis contar as historias, não quis gritar que adoraria ter se jogado do avião. Contar as historias só dariam a certeza de que o sonho havia acabado. Deitou na cama e não dormiu. Três horas, quatro horas. O tick-tack do relógio parecia mais alto a cada segundo, mas assim os dias passaram. Os meses. Dois anos.

Julho 2009

Então esperar na fila não tinha sido o pior. Assistir o show tinha sido incrível, mas não sabia se ele tinha visto que ela estava lá. O pior era a incerteza. A falta de segurança e a falta de sorte que ela tinha nessas situações. Resolveu dar uma ajuda pras coisas acontecerem. Morar em Londres não aparentava ser o suficiente, por enquanto. Pegou o primeiro táxi que viu e deu alguns pontos de referencia. Lembrava perfeitamente como chegar lá bastava olhar os lugares. Não sabia se ele ainda morava lá, mas isso não importava agora. Pagou o taxista e desceu, sentando na escada que ficava na frente do prédio. Sorriu. Com ou sem ele ali aquele lugar fazia ela se sentir em casa. Pelo menos parcialmente. As lembranças influenciavam nisso, o conforto que aquele lugar trazia também era um dos principais motivos. Passou horas ali, olhando a rua e não sabia ao certo em que parte da noite ela havia encostado na parte mais baixa da escada e cochilado, mas sabia que a voz dele ecoava na sua mente agora. Era tão real que quase fazia ela querer abrir os olhos. E ela o fez. Viu ele cambaleando na sua frente e sorrindo.
- Eu sabia que ia te ver se viesse aqui! Eu te vi no show hoje. Foi uma ilusão bem real, pra ser sincero. – Ele falou, colocando a mão no queixo e lembrando dos olhos dela nele. – E agora você ta aqui! Eu deveria ter vindo antes, mas eu achei que se eu viesse sóbrio a ilusão seria menos real. – Ele sentou do lado dela e ela sorriu. – Teu sorriso foi uma das ultimas coisas que eu conseguia ver antes de dormir por um bom tempo. – Ele suspirou. Ela colocou uma das mãos no rosto dele e, apesar do susto da ilusão poder manter contato físico, ele fechou os olhos. Ela foi diminuindo a distancia entre eles e o beijou. Ele ainda achava que aquilo não era real e a bebida tinha feito a ilusão ficar mais forte. Ela sorriu.
- Você faz falta. – Ela falou, sem acrescentar uma distancia muito grande entre eles.
- Eu não quero acordar. – Ele comentou e voltou a beijar ela.
Em algum momento da noite ele pareceu sóbrio, nesse mesmo momento eles foram pra casa nova dele. Dormiram no sofá, já que a cama aparentava ser longe e grande demais pros dois. Chegava a ser engraçado como ele não queria nenhuma distancia, mas ela gostava. Já tinha acordado e olhava ele dormir, quase caindo do sofá. Riu quando ele abriu os olhos e caiu pra trás. Foi pra ponta do sofá e esperou ele levantar, ainda com um sorriso no rosto.
- Acredita que é real agora que acordou? – Ela perguntou. Viu que ele não ia levantar tão cedo e foi pro chão, deitar do lado dele. – Eu achei que em algum momento você ia perceber que era real, mas pela tua cara eu estava errada. – Ela deitou a cabeça no peito dele.
- Eu não queria acreditar. – Ele falou depois de um tempo. – Porque se fosse real, queria dizer que tu ia embora e eu não acho que agüento toda aquela dor de novo. – Fez uma cara feia, lembrando das noites sem dormir que havia passado lendo as coisas na caixa dela. Chegou a decorar boa parte.
- Eu vim morar aqui, pequeno. – Ela sorriu com a verdade que ecoava agora. Ele tinha sentido falta dela. – Eu não era útil pra nada lá naquele fim de mundo. Na verdade, sem você eu não sou útil pra nada em qualquer lugar. – Ela resmungou alguma coisa baixa e ele riu, puxando ela mais pra perto.
- Eu tava quase indo pra lá. Realmente muito próximo. E eu acho que os meninos tinham percebido, já que eles roubaram minha carteira semana passada. – Ele riu com a lembrança. – Mas eu ia dar um jeito, eu ia te ver. Eu não fazia idéia de onde você morava, mas eu ia sentar na praça do shopping, um dia você ia passar por lá. – Ele pensou por um instante. Queria dizer, queria que as palavras saíssem, mas não tinha certeza daquilo. Respirou fundo. Tinha certeza dela, talvez isso fosse suficiente. – Eu te amo, . Honestamente, eu tenho minhas duvidas se eu devia te dizer isso agora, mas eu não to a fim de desperdiçar mais tempo com medo. Se você vai ficar aqui, tudo vai dar certo. – Ele parou e ficou olhando pra ela, que tinha os olhos fixos num ponto aleatório. Esperou por um tempo e começou a notar que ela mal se mexia. – Respira, pequena. – Ele riu nervoso e ela puxou o oxigênio pra dentro.
- Just when I thought I could die, you come and bring me back to life. – Ela sussurrou e ele sorriu. – Eu não acho que amor seja a palavra certa pra o que eu sinto por ti. Soa fraco demais, pra um sentimento tão grande. – Sentia que ia assustar ele com isso, mas se ele estava sendo sincero, ela também ia ser. – Se houvesse algum meio da gente viver assim. – Ela se mexeu um pouco nos braços dele. – Pra sempre, eu não ia me importar. – Parou por um tempo e fechou os olhos, sentindo ele brincar com seu cabelo. – Eu te amo parece tão fraco, mas é o único jeito.
- A gente tem tempo pra encontrar a palavra certa. – Ele comentou e deu um beijo na testa dela. – Todo tempo do mundo. – Sorriram e continuaram ali, aproveitando cada segundo que tinham juntos.



Fim



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