(Back to) Memory Lane



Capítulo 1 – The way you make me feel


A garota descia as escadas andando um pouco mais devagar que o normal. Estava cansada de fazer a mesma coisa todas as tardes.
O andar devagar a fazia imaginar suas tardes sendo ocupadas de diversos jeitos diferentes, alguns jeitos até engraçados: como uma tentativa frustrante de imitar o jeito horripilante de Gerard Way cantar. Outros maliciosos: como ficar observando seus poucos vizinhos garotos tomarem banho, sim, eles tomavam banho com a cortina do banheiro aberta, quem vai julgá-los? E outros apenas com coisas que toda garota de 17 anos normal faria: ocupando seu tempo fazendo unhas ou suspirando vendo algum filme de Johnny Depp (o último ela e sua amiga Chuck faziam freqüentemente).
Cozinha. Garrafa térmica.
Fazia frio naquela cozinha, com o chão de granito e o inverno de Londres.
O semestre estava apenas começando, algumas datas de provas já estavam coladas atrás da porta do quarto, ou na geladeira (normalmente quem fazia isso era sua empregada).
A menina ficava observando o café cair lentamente na sua caneca do Snoop.
Café.
Tudo que ela precisava.
Tudo que ela queria.
Girou a caneca ainda apoiada na mesa antes de levá-la ao rosto.
Sentiu o vapor do líquido esquentar sua face enquanto o soprava, aquele vapor e o cheiro do café faziam o seu rosto suar e sua mente imaginar.
Voltava para seu quarto quando se deparou com um Jess um pouco triste deitado no corredor.
- Olá, garoto! – a menina passava a mão na cabeça do cachorro que parecia ficar mais feliz e balançava o rabo freneticamente. O Golden Retriever era seu cachorro já há mais de sete anos, ela o ganhou em seu aniversário de 10 anos. Sorriu se lembrando de como ele costumava ser pequeno a ponto de caber dentro de seu antigo chinelo da Minnie. Sorriu mais ainda ao se lembrar do seu chinelo escandaloso: era branco e tinha uma Minnie desenhada em relevo com um óculos totalmente gigante com purpurinas rosa o enfeitando.
Entrou no quarto com o cachorro e a caneca a acompanhando, sentou-se no gigante pufe roxo no canto do quarto e ligou o som, ouvia Anna - The Beatles, ela gostava de ouvir algumas músicas mais antigas.
Dava um longo gole em seu café e olhou Jess já estirado no chão e dormindo, sua atividade favorita, babar e dormir no tapete do quarto da garota.
Algumas coisas nunca mudam. Ela riu sozinha.
Olhou para o mural de fotos do quarto, se levantou para enxergar mais de perto... Uma lembrança afogada no meio de tantas fotos: ela e seu amigo no seu aniversário de 10 anos. havia achado a foto já há alguns meses atrás, os dois estavam abraçados com os narizes sujos de cobertura de chantilly, suas cobertura favorita para um bolo de aniversário.
era seu amigo desde os cinco anos de idade. Suas mães se conheceram quando iam deixar os dois em uma espécie de creche, ficaram amigas e os seus filhos também.
Eles andavam sempre juntos, bagunçando a casa inteira, fosse com cobertura de chantilly, brigadeiro, pipoca ou até tinta guache. Uma amizade que durou quase sete anos até os pais de seu amigo resolverem mudar para uma cidade que ficava a quilômetros de distância de Londres.
Resultado?
Já havia quase sete anos que eles não se viam, e cinco que não se falavam. No começo um ligava para o outro toda semana... A conta de telefone começou a ficar cara, os pequenos amigos começaram a se tornar pequenos adolescentes, até que não houve mais quase nenhum contato. De vez em quando, Alice (sua mãe), ligava para (mãe de ) e ficavam horas conversando sobre assuntos diversos, desde a vida pessoal de com seu marido (porque diabos elas discutiam isso nunca soube), até o assunto de como os perfumes Dolce&Gabbana haviam ficado caros.
Mas nunca havia assunto para e . Nunca havia interesse em se comunicarem.
A menina olhou triste para o café que já não lhe trazia tantas alegrias como trouxe para a pequena do passado.
Onde será que ele estava agora?

x :: x

- Hey, eu tô falando com você, mongolzinho! – Tom estava chamando por já há algum tempo.
- Ahh, dude! Eu estava mesmo com saudade dessa cidade – o garoto andava com um enorme sorriso estampado no rosto.
inspirava aquele ar frio de Londres como se fosse a primeira vez que fazia aquilo em sua vida, ele observava fixamente cada detalhe daquele lugar, cada esquina que havia passado, cada asfalto que havia ralado o joelho ou algo do tipo. Aquele definitivamente era seu lugar favorito.
- Cidade fria, você quer dizer – segurava seu inseparável café expresso, inseparável a partir do momento que ele chegou em Londres.
- Hey, táxi! – balançava a mão no ar – Porra, esse londrinos são muito sem educação!
Nenhum táxi parava ou fazia menção de parar. A inquietação dominou os garotos que batiam o pé na calçada gelada e bufavam inúmeras vezes.
- Calma, dude, daqui a pouco alguém pára.
Parou, realmente parou. Quando eles já estavam balançando a mão por 20 minutos, o bendito táxi resolveu parar.
- Vão pra onde?
O grande homem ligava o taxímetro com dificuldade, já que possuía uma barriga extremamente grande para um taxista.
- Queen’s Park – disse enquanto todos entravam no táxi.
O caminho do aeroporto central de Londres até o tal bairro não demorou muito, mas para era como se fosse um século.
Os três amigos discutiam e riam sobre algo relacionado às Tartarugas Ninjas, Tom afirmava que o filme original era melhor que o desenho, afirmava que gostava mais dos gibis antigos, já estava muito ocupado tentando se aquecer com a fumaça que saía pelo buraco da tampa de seu café expresso extremamente quente.
não prestava atenção. Estava feliz, uma felicidade que contagiava todo o seu corpo e o deixava elétrico, a chance de lançar um CD com sua banda e seus três recentes amigos o deixava assim. A chance de morar em uma casa só com os amigos o deixava assim. O ar frio de Londres o deixava assim. A neve branca como ele nunca havia visto o deixava assim. O céu nublado o deixava assim. As árvores com poucas folhas o deixavam assim. A chance de ver sua pequena depois de anos o deixava assim.
Ele se lembrava de , se lembrava de Jess. Lembrava-se do olhar de uma pequena ao se despedir do amigo no mesmo aeroporto central da cidade. Lembrava-se do pequeno beijo de criança que eles trocaram meses antes de partir. Lembrava-se de como ele estava com saudade de sua melhor amiga. Talvez ele não tivesse percebido a falta que a garota fazia em sua vida, mas o vento o fez lembrar no minuto em que ele pisou naquela cidade maravilhosa.


Capítulo 2 – Baby’s coming back


Escola, tédio, fato.
Tudo relativo, tudo se ligando. Tudo igual.
Nada mudava. Nada mudava naquela droga de escola. Nada mudava naquela droga de vida.
avistou uma mão que balançava no meio da multidão, reconheceu logo a dona daquele esmalte laranja fluorescente.
Chuck: sua amiga desde o ano passado, sua confidente desde o ano passado.
tentou andar até a garota, não foi preciso esforço nenhum, a multidão de alunos a levava até lá. Como diria o seu professor de física: ela foi levada por inércia. Física; nossa, como física era uma droga também.
- Então, garota, animada pra prova de sexta?
- Nem abri os livros – jogava a mochila em sua cadeira de qualquer jeito, definitivamente ela precisava dar um jeito na sua mochila; ela costumava ser roxa, agora estava marrom. Roxo, sua cor preferida.
- Você é doida, amiga – a menina ria – Sério mesmo. – ela disse com os olhos arregalados olhando para a cara de tédio que fez - Eu sei que Biologia é uma droga, mas a gente precisa de pontos nessa droga pra passar de ano.
não ligou, simplesmente deu língua para a amiga que riu.
Como ela tinha saudade de matar aulas. Como ela tinha saudade de seu antigo amigo Ned.
Ned era seu companheiro em matar aulas na pequena sala de arquivos. Aquela minúscula sala teria grandes histórias para contar se tivesse boca.
Ned também a tinha abandonado. Seus amigos tinham esse costume de abandoná-la. Será se Chuck a abandonaria também?
voltou seu pensamento para Ned. O garoto fazia uma falta imensa, simplesmente pelo fato de que ele realmente fora um grande amigo, ele sempre a fazia se sentir bem naquela escola ridícula, ele sempre estava ali quando ela precisava.
"Sempre" até o momento em que Ned mudou de país e não teve mais contatos com o garoto. Agora existia um extenso Oceano Atlântico que os separava. Como ela pôde deixar a distância destruir todas as suas amizades?
passou o olhar por cada aluno da classe. Pela expressão que seus colegas estampavam no rosto, a garota concluiu que eles, assim como ela, não queriam estar naquele lugar. A professora já estava na sala havia 10 minutos e já estava anotando no quadro algo sobre minhocas ou qualquer outro animal nojento.
Seu olhar foi direcionado instantaneamente para a porta ao ouvir o barulho de alguém que batia.
- Entre – a professora, cujo nome lutava para lembrar, disse sorrindo.
- Com licença, professora.
O diretor também parecia não saber o nome da tal professora de Biologia, ele estava parado na porta dizendo algo sobre um aluno novo.
não prestava atenção no diretor, ela definitivamente não simpatizava com o sujeito. A garota abriu seu caderno e olhou para o quadro: como as minhocas pareciam atraentes agora.
Ela pesquisou pelo caderno e não achou nenhum nome. Afinal, qual é a droga do nome da professora?
O diretor saiu da sala e continuou sem resposta para sua pergunta.
O garoto novo que entrou na sala com o diretor velho e arrogante permanecia parado junto à porta até a professora o convidar para sentar.
Mas qual é a droga do nome da professora?
- Obrigado, professora – o menino abaixou a cabeça e seguiu para a cadeira que a professora apontava alegremente.
- Hey, Chuck, qual o nome da professora? – perguntou para a amiga que estava distraída. Chuck não respondeu.
- Chuck, qual é a droga do nome da professora?
Chuck estava surda ou algo do tipo?
balançou a mão na frente do rosto da amiga nervosamente.
- Você viu o aluno novo? – Chuck virou o rosto para , seus olhos brilhavam mais do que o normal.
Aleluia, a Chuck não está muda nem surda.
- Eu quero saber o nome da professora
revirava os olhos, estava pouco ligando para o aluno novo, ela só queria saber a droga do nome da professora.
- Ele é muito lindo – os olhos da garota brilhavam ainda mais.
- Legal, legal.
sabia que era algo impossível.
Era impossível ter aluno novo bonito.
Ela não confiava em Chuck nesses assuntos, o gosto da amiga era esquisito demais, ela sempre achava bonitos os garotos mais estranhos do colégio e do bairro.
David era a prova viva disso. Chuck namorou com o garoto por quase três meses. Ele era muito estranho, tinha aquela cara de intelectual do tipo ‘eu sou o foda’ que dava nojo à .
‘David nunca estava errado. ’
‘O professor de Química devia ser demitido por dar um nove e meio para David na prova valendo dez.' 'David era mais inteligente que o professor.' 'David é o lord da Física.’ 'David isso, David aquilo.'
Nojo, nojo, nojo.
A palavra vômito vinha à cabeça de naquele momento.
- Mas apresente-se a turma, querido, como você se chama? – a professora ainda sorria para o aluno novo. Ela sabe que pedofilia é crime, não sabe?
Outro ex-namorado de Chuck foi Sheldon, o típico ‘filhinho de papai’. Sabe aquele garoto sem futuro nenhum que fazia questão de ter um caderninho ridículo onde anotava o nome das garotas com quem ele dormia? Provavelmente o nome de Chuck estaria lá.
Aquele típico garoto, com o típico cabelo loiro natural e o típico olhar que fazia qualquer garota suspirar. O típico líder de Futebol, Basquete ou Hóquei, se preferir. tinha nojo de caras assim. Talvez ela fosse esquisita, mas o nome dela definitivamente não estaria no pequeno caderno preto do garoto.
- Hm, meu nome é – o novo aluno falou com um tom um pouco tímido.
Aquela voz lhe era familiar.
Aquele nome lhe era familiar.
tentou enxergar o aluno novo pela primeira vez. Não dava para ver seu rosto, talvez a face do garoto fosse tão bonita quanto suas costas. só podia ver costas.
Ele sentava em uma das primeiras fileiras. Ela, no entanto, quase no fundo da sala.
Irônico.
Chuck parou de suspirar por alguns instantes e resolveu dar atenção à amiga.
- Olive, a droga do nome da professora é Olive.
Chuck tentou rir em silêncio ao ver levantar as mãos para cima em sinal de ‘aleluia’.
A droga do nome da professora era Olive.

x :: x


Pipoqueiro, Inferno Escolar... Havia vários apelidos que poderiam ser dados ao recreio da escola.
Pessoas, muitas pessoas. Pessoas que lutavam mortalmente, estranhamente talvez, por algum lugar na bagunçada fila da cantina.
observava aquele ambiente selvagem sentada em sua habitual cadeira na habitual mesa que se localizava no canto do pátio.
Cantos eram charmosos na opinião de .
- Toblerone para você, tortinha de frango com catupiry para mim.
Chuck chegava animada e com as mãos ocupadas com os lanches dela e da amiga.
tinha uma tara por toblerone.
Talvez ela estivesse assistindo Friends demais.
- Valeu, amiga – se lembrou de um antigo amigo seu que também tinha tara por toblerone e Friends: Daniel.
- Você sabe que esse toblerone vai direto pra sua bunda?
Chuck disse sem vitória, não ligava, talvez o toblerone ajudasse a fazer sua bunda ficar maior; tristemente, o ideal de garota americana era ter bunda grande, e definitivamente não era dotada disso.
- Oh, meu Deus.
Chuck se virou de costas para o resto do pátio.
- Você é estranha, dude.
gargalhava.
- Não! É o aluno novo, ele olhou pra cá.
- Tudo isso por causa de um garoto?
Chuck a olhou feio.
- Tá, desculpa! Vai lá falar com ele, oras!
- Não dá, travei.
- Ele não pode ser tão bonito assim, exagerada.
deu língua, Chuck continuou com a cara feia.
se levantou. Chuck fez cara de espanto.
se dirigiu ao menino novo que agora estava de costas e o cutucou nos ombros. Chuck observava de longe com olhar curioso.
- Olá, eu me chamo !
O menino se virou. Os dois se olharam assustados.
poderia reconhecer aqueles olhos e aquele sorriso mesmo depois de cinco anos.
também.


Capítulo 3 – I’ve got you


A garota pulou no pescoço do amigo e os dois ficaram abraçados até se lembrar de Chuck: isso demorou um bom tempo.
olhou pra direção da amiga. Ela parecia estar muito nervosa, a veia começava a se manifestar.
Chuck tinha essa veia que podia dar medo em qualquer um.
Foi por causa da veia que David terminou com ela;
Foi por causa da veia que ela terminou com Sheldon.
Essa veia tinha muita história para contar.
fez sinal com a mão para Chuck se aproximar, ela tinha medo da reação da amiga e da veia dela, seria melhor se elas soubessem logo que o aluno novo era apenas um amigo de .
Chuck negou. Ela e a veia pareciam estar muito nervosas.
- Vem! Eu quero que você conheça alguém.
puxou pelo braço e o arrastou até Chuck.
- , Chuck. Chuck, .
O garoto olhou para confuso.
, essa é a minha recente amiga e confidente Chuck.
sorriu para a menina.
– Chuck, esse aqui é o meu antigo amigo e confidente . A gente se conhece desde os cinco anos, mas ele resolveu me abandonar por um tempo.
olhou triste para .
Chuck sorriu para .

x :: x

- Alguma coisa nova pra me contar, Pink?
Pink, longa história.
- Eu não acredito que você ainda se lembra disso, Cérebro! – ria enquanto abraçava o amigo de lado.
Ok. Vamos aos fatos: duas crianças, de 8 anos; uma tarde de sábado assistindo à desenhos da Warner Bross; um desejo de conquistar o mundo. Isso te lembra alguma coisa?
- Ah, nem faz tanto tempo assim! – ele sorria com as mãos na cintura da menina.
Os dois passavam pelo portão do colégio. Foi a primeira vez que se sentiu bem ao passar naquele lugar.
- Eu estava com saudade de você, Cérebro! – a menina apertava a bochecha do amigo.
- Eu também – ele continuava a sorrir – Você ainda não me respondeu a pergunta, algo novo?
- Não.
- Nada?
- Não. Mesma casa, mesmo cabelo.
riu, bagunçando o cabelo da amiga.
- Você devia ir lá em casa, Alice ia ficar feliz em te ver.
- Talvez eu passe lá – o garoto piscou.
Sim, havia algo novo, o pequeno havia crescido, e junto com ele cresceu um lado malicioso que era desconhecido por .
Eles passaram por algumas ruas. O frio parecia aumentar a cada esquina que viravam; a felicidade parecia aumentar a cada esquina que viravam. Nenhum dos dois ainda acreditava no que estava acontecendo.
Talvez sem o vento congelante eles tivessem melhor chance de entender o que se passava.
A grande casa dos parecia aumentar a cada passo que davam.
Em pouco tempo a mochila roxo-marrom já estava jogada no sofá do Hall com um sentado ao lado dela.
O lugar era mais clássico do que parecia ser, apesar de obter o modelo padrão pelo lado de fora: branco com vermelho terra e tijolinhos na lateral. O Hall e todas as outras salas eram pintadas por tons variados de vermelho e teto branco, a cozinha era revestida por granizo, o que fazia ficar insuportável permanecer ali por mais de 5 minutos devido ao tamanho frio.
- Eu quero te apresentar a alguém.
desapareceu da vista do garoto e segundos depois voltou acompanhada por um cachorro grande e peludo que correu até pulando e babando em cima do garoto.
Jess, baba: coisas que combinam sem efeitos colaterais.
- Garoto, você está enorme!
Era incrível como o cachorro não havia se esquecido de .
O mesmo jeito de balançar o rabo quando viu o garoto há quase sete anos atrás continuava;
O mesmo latido;
A mesma baba;
O mesmo jeito atrapalhado e lerdo de correr do cachorro;
A mesma mania de cheirar a mão de à procura de doces.
Aparentemente nada havia mudado.


- Então, , o que você quer almoçar?
- Hm... Pizza!
e pizza eram duas palavras que quase sempre vinham juntas na mesma frase, talvez vício também viesse junto.
- Novo vício?
O vício de era algo novo para . Ele havia descoberto o mundo mágico do prato italiano graças à Domino’s.

Alguns pedaços de pizza a mais desciam pela garganta, e um copo de Coca foi deixado na mesa.
Aquele copo provavelmente deixaria uma marca redonda e marrom no forro branco da cozinha. Alice provavelmente teria um ataque ao descobrir resquícios de Coca em seu raro tecido preferido.
Os dois abandonaram o ambiente frio da cozinha e já se encontravam parados na porta do quarto da garota com Jess e seu grande rabo no meio deles.
- Eu pensei que você tinha dito que continuava a mesma coisa.
já fechava a porta atrás de si.
O quarto de mudou. Mudou muito. Antes haviam almofadas coloridas por todo o quarto, um papel de parede com maçãs, tudo muito exagerado; decoração especial de Alice. Digamos que um quarto normal para uma criança de 10 anos de idade.
Agora, havia pôsteres de bandas variadas que cobriam quase todas as paredes do quarto da menina. As almofadas coloridas foram trocadas por um grande e confortável pufe roxo no canto do quarto – ela simplesmente tem uma certa tara por cantos. A cama que antes era pequena, havia se transformado em uma grande cama de casal, que na opinião de era sua parte favorita.
Uma cama grande que estava quase toda ocupada por macacos de pelúcia e um Snoop muito grande, muito grande mesmo. Pode se dizer que o quarto da garota sempre foi a ‘aberração’ da casa, pelo simples fato de não seguir o mesmo estilo - se é que esse termo é o apropriado.
- É, eu acho que mudou um pouco.
A garota se jogou no pufe.
- , por que eu não vi a tia Alice?
chamava a mãe da amiga assim desde... desde muito tempo. Alice, ou tia Alice, era como uma segunda mãe para , assim como era a irmã que ele nunca teve.
- Trabalho.
Jornalismo. Esse trabalho pode ocupar mesmo o resto do tempo livre que qualquer jornalista possa cogitar em ter. Alice gostava disso, gostava que seu tempo livre - que antes era em excesso já que a mulher ficava o tempo todo em casa - fosse ocupado, assim ela se esquecia do ex-marido.
Georgie: O pai traidor de . Ele provavelmente está em algum canto do mundo com seu marido gay, literalmente.
É claro que havia o lado ruim da história, a garota só via a mãe em raros finais de semana.
A terceira gaveta do seu guarda-roupa - que, por sinal, precisava de uma arrumação que demoraria horas pela situação decadente e pela mistura de blusas de frio com coisas que talvez fossem calças de moletom - estava cheia de cartões postais enviados por Alice.
Eles podem preencher uma gaveta inteira, mas nunca o vazio de uma mãe no coração de . Por mais idiota que isso possa soar.
- O que o trouxe até Londres e, mais especificamente, ao meu colégio? Você anda me investigando?
sorria. Como o garoto sentia saudade daquele sorriso. abraçou a menina e ficaram assim por algum tempo.
- Eu realmente estava com saudades sua.
sorria.
sorria.
Não se teve certeza, mas os dois podiam jurar que Jess sorria também.


Capítulo 4 – Memory Lane


O resto da semana passou arrastando. tinha a ligeira impressão de que isto iria acontecer em todas as semanas até o fim do ano letivo. Tudo ia ser tão monótono.
Apesar de que já era antes. Talvez não fizesse muita diferença, afinal.
- Ahh não, fala sério! Eu prefiro o MEU Johnny em A Janela Secreta.
- SEU? Ahh, tá bom Chuck.
Esse foi mais um dia inteiro ‘desperdiçado’ vendo filmes do Johnny Depp. Ok, talvez não tenha sido um desperdício tão grande assim.
- E agora, o que a gente faz?
Chuck desligava a TV e se jogava no sofá ao lado da amiga.
- Não sei.
olhava para o teto com total tédio, olhar para o teto ultimamente estava sendo a sua melhor atividade. É claro que isso resultava uma monotonia gigante, mas trazia benefícios, como por exemplo: a garota reparou que a tinta que antes era branca precisava de um retoque.
Lembrete: ligar para o pintor assim que Alice chegar em casa.
- E sua mãe?
- Trabalho.
já estava acostumada a falar isso, já estava ficando completamente normal na sua rotina esse tipo de pergunta e esse tipo de resposta. A sua gaveta também já estava se acostumando.
As duas amigas ficaram um bom tempo morgando naquele grande sofá preto e vermelho, Jess já tinha desistido de tentar fazer brincar com ele de jogar disco.

Babando.
Babando era o que Chuck e estavam fazendo até antes de o telefone tocar.
levantou resmungando alguma coisa. Há quanto tempo ela e Chuck estavam dormindo naquele sofá?
ouviu um choro familiar à Jess: a garota havia pisado na sua pata.
- Estúpido cachorro que fica no meio do nada.
Alguns tropeços a mais até alcançar o telefone que ficava na parede da sala.
- Alô? - atendeu com total desprezo.
Quem liga pra casa de uma pessoa em um sábado às 10 da noite?
Provavelmente alguém que esteja fazendo uma coisa mais interessante do que ela fazia, do tipo: não estar atropelando o cachorro no meio do caminho.
Mas esse alguém não respondia.
Ótimo. Além de ser um idiota por interromper o momento ‘morgante’ da garota, o alguém não respondia no telefone.
Alguns gritos de ‘Alô’, alguns xingamentos e o telefone foi parar no gancho com um barulho muito grande devido à força aplicada pela garota e devido à sua fúria.
se virou, ainda com raiva do tal alguém, e olhou para o caminho de volta para o sofá, encontrou uma Chuck que ainda dormia.
- Como ela consegue? – e sua indignação.
O caminho era muito grande, a preguiça de andar era maior ainda. A garota decidiu ‘morgar’ por ali mesmo.
Sentou encostada na parede do telefone.
Ódio, pela droga da pessoa que a tinha acordado.
Ódio maior pela droga do telefone que voltou a tocar.
- SERÁ SE DÁ PRA PARAR DE ME LIGAR, SEU INÚTIL! EU TAVA TENTANDO DORMIR AQUI!
- ?
? que estava ligando e não dizia nada? Ok, muito estranho.
- ? Foi você o idiota que me ligou, me acordou, e não falou nada?
- N-não.
Medo, o coitado tinha medo na voz. Ele podia se lembrar de como a amiga costumava ficar com um ódio mortal de quem a acordasse.
- Oh, então me desculpe. Então, Cérebro, a que me devo a honra de sua ligação?
A fala de tinha tom de ódio que passou para um tom doce, depois para um tom irônico. Quem entende?
- Nahh, só queria saber se você tá fazendo algo interessante. Além de ser acordada por algum ‘inútil’.
- Não.
olhou para Chuck que ainda babava no sofá. Ela estava roncando também? Credo.
- Quer vir pra cá?
- Pra cá onde?
- Pra minha casa fofa.
- Ahh, claro.
batia na testa, ela precisava acordar de algum jeito.
- Eu só preciso de um endereço que eu e Chuck estaremos aí.
- Chuck?
- É, ela tá aqui. Espera.
Alguns barulhos do tipo ‘Pra casa dele? Ah, meu Deus, meu cabelo tá feio, não vai dar’ e ‘deixa de ser idiota e atende o telefone’ foram ouvidos por , que gargalhava do outro lado da linha.
- Aposto que o cabelo nem tá feio.
- Oh, meu Deus! Você ouviu?
Chuck ficou vermelha em questão de segundos.
- Sim.
- Ok, a gente vai pra aí.
tinha roubado o telefone da amiga no instante em que ela começou a ter algo parecido com um ‘ataque’. A garota ficou muda, Chuck estava muda, não conseguia falar nada. Ok, não esqueçamos de que ela estava muda e vermelha-parcialmente-roxa.
- ?
- Diga, Cérebro.
- HAHAHA.
- O que vamos fazer esta noite?
- O que fazemos toda noite, Pink, tentar conquistar o mundo.
Algum tipo de risada ‘maléfica’, ou melhor... tentativa de risada ‘maléfica’ foi dada por antes de o telefone voltar para o gancho.

As duas ficaram paradas na frente da grande casa branca tomando coragem para tocar campainha.
Não foi preciso, com um minuto que elas estavam ali a porta se abriu e dois garotos totalmente bêbados saíram de dentro da casa.
Nenhum deles era .
- A gente tá no endereço certo?
- Eu acho que sim.
ainda olhava no pedaço de papel que tinha anotado o endereço e conferia.
- Tá certo sim.
- Hey!
Chuck gritou e fez uma cara de espanto olhando para amiga.
Um dos garotos se virou para olhar, o outro estava ocupado demais tentando se segurar na grade da varanda na frente da casa. Mas qual o problema? Afinal, bebida nunca é demais; certo?
Errado.
- O tá ai?
- Ahhhh...
Um dos garotos berrou em tom do tipo ‘entendi’, o outro se virou para o garoto e os dois riram ao mesmo tempo.
- , certo?
, que até então não havia falado nada, ficou assustada. Como diabos o garoto sabia o nome dela?
- E aí?
Um terceiro garoto, que também não era , surgiu pela porta com uma cerveja na mão.
As duas continuaram imóveis.
Então finalmente apareceu rindo e com uma expressão de nojo na cara. Certeza de que o motivo para a expressão de nojo era algum cheiro ruim.
- Dude, você é podre, !
- Fui eu.
Tom levantava a mão com um sorriso satisfeito.
- Tá, correção: você é podre, Tom. Oi , oi Chuck.
balançou as mãos no ar quando notou a presença das amigas ali.
As duas continuavam imóveis e com cara de quem não entendia nada.
- Esses são meus colegas de banda, Tom, e .
- OOOOOOOOOOOOOI.
Os três balançavam as mãos no ar.
- Espera aí, você tem BANDA?
Chuck gritava histérica.
- É, mais ou menos... A gente veio pra cá pra tentar a sorte e tal... Mas a gente acabou de fechar um contrato, e tem o Fletch e...
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH
Chuck já se encontrava agarrada no pescoço de .
Além de a garota ter uma tara por garotos estranhos, ela também tinha uma tara por garotos que possuem banda. Ao menos nisso concordava com a amiga.


Algumas garrafas de cerveja estavam rolando pelo chão, alguns garotos estavam estirados pelos sofás e uma Chuck que babava e roncava estava abraçada com um totalmente bêbado.
olhou para aquela bagunça e balançou a cabeça, pegou uma garrafa de cerveja e foi se sentar na varanda da casa. Ela ficou ali observando os poucos carros que passavam na rua. Como aquele bairro era monótono, não fazia jus ao glamour de Londres.
- Hey, Pink.
Um meio sonso (leia-se: sonso, mais sonso do que o normal) sentou do lado da garota.
- Por que você não me disse que tinha uma banda?
- Você não me deu oportunidades pra isso.
Ele piscou e riu dando tapinhas no ombro do amigo que cambaleou um pouco devido ao excesso de álcool.
- Você deveria beber menos.
- Ah, qual é, mamãe!
resmungou alguma coisa e apenas riu, no estado que ele estava, a única coisa que conseguia fazer era rir.
- Vamos!
O garoto se levantou com dificuldade e estendeu a mão para .
- Aonde? Você tá louco? Sabe que horas são?
- Você devia parar de ser tão chatinha – ele riu e fez cara feia – ahh, você sabe o que eu quis dizer... Você é muito madura, garota, tem que aprender a curtir mais a vida... Se arriscar mais, entende?
A garota revirou os olhos. Ela sabia que no fundo tinha razão... Ela tinha que parar de ditar regras para si mesma, afinal, esse trabalho era de sua mãe e ela não tinha culpa se Alice não estava ali com ela o tempo todo.
- Vamos, Cérebro – ela piscou para o amigo, pegando na sua mão.

- Ah, fala sério, nem foi tão igual, .
- Como? Pareceu que você tinha encarnado o Gerard ou algo do gênero.
riu mais e já gargalhava.
Fôlego recuperado, a garota notou onde estavam: quando os dois eram pequenos, meses antes de se mudar, eles foram num local que era uma espécie de usina hidroelétrica, tinha uma pontezinha do lado das comportas. Eles adoravam aquele lugar, era o ‘esconderijo secreto’, coisa de criança.
- Ahh, não acredito que você lembrou.
dava pulinhos e batia as mãos.
- É sempre bom relembrar os bons tempos.
se sentou em um banco de madeira e puxou a amiga para se sentar do lado dele.
- Eu me lembro quando o seu pai foi embora e a gente veio aqui.
O garoto a olhou com olhar triste.
- Tá tudo bem – ela sorriu.
- Você ficou chorando, a gente conversou por um longo tempo.
- Você realmente me ajudou muito – ela sorriu mais ainda.
- Eu também me lembro do que a gente fez depois.
soltou uns risinhos nervosos. Ela se lembrava bem do que eles tinham feito, se lembrava porque ela tinha a certeza de que nunca ia esquecer o primeiro beijo - por mais idiota que isso pareça ser.
- É, foi legal.
A garota riu da cara de um ‘valeu’ irônico que fez.
Mas o ‘valeu’ irônico se transformou em segundos em uma cara totalmente maliciosa.
- Você ficou linda, sabia?
A garota teve vontade de rir da cara de bêbado do amigo, mas não riu porque pela primeira vez ela tinha parado para reparar em , e ele realmente tinha ficado lindo. O tipo de garoto que ela iria suspirar e, no mínimo, ter um ataque de nervos se ele a chamasse de linda. se conteve, afinal... eles eram amigos, certo?
- E você está... bêbado, .
Errado. Pelo menos não era o que tinha em mente.
Depois de rir sozinha pelo que tinha acabado de falar, se deu conta de que estava perigosamente perto de ... Seus narizes podiam se tocar, ela podia sentir a respiração tranqüila e ofegante do amigo perto demais - ou será que passariam de amigos para algo mais complexo?
tentou pensar em qualquer outra coisa naquele momento para não seguir a ordem que seus neurônios desesperadamente a mandavam fazer, ela não conseguia pensar em mais nada, o perfume natural do garoto era forte demais. Talvez fosse culpa do frio que aumentava mais, e a ausência de uma jaqueta a fazia se sentir no mínimo aconchegante por estar tão perto assim do calor que vinha do corpo do menino.
Por pura sorte - ou talvez azar - as comportas se abriram e uma enxurrada de água caiu nos dois, fazendo-os ficar totalmente encharcados. A última coisa que a garota viu foi pulando em cima dela.
- Sai de cima, .
Ela berrava.
- Poxa, eu tava tentando te proteger da água.
Ele ria com um sorriso malicioso. Um absurdamente-adorável sorriso malicioso. Blair se conteve e engoliu em seco.
- Agora que já estou completamente encharcada não é.
Ela o olhou com olhar irônico.
O garoto a abraçou mergulhando seu rosto no pescoço da menina.
sentiu calafrios, o coração da garota tombou levemente.
- , você tá bêbado.
- Não tô não.
Ele levantou o rosto fazendo bico.
Próximos demais, perigosamente próximos demais.
deu um sorriso meio sem graça, retribuiu.
Seus lábios se encostaram, era como se sentissem aquela primeira sensação novamente: o primeiro calafrio, as primeiras ‘borboletas no estômago’, a primeira tremedeira; tudo voltava.
A sensação era boa, fazia os neurônios desesperados da garota se acalmarem, fazia o coração da garota se acalmar. Era tudo bom demais.
- É sempre bom relembrar os bons tempos – piscou antes de se levantar e andar em direção à sua casa novamente.
sorriu vendo a garota se afastar.
As coisas mudam, e muito.


Capítulo 5 - Ignorance


O despertador.
Porque a droga do despertador tinha que tocar tão alto?
teve vontade de jogar a droga do despertador pela janela, mas, ao invés disso, apenas resmungou alguma coisa e acabou com o barulho dando um tapa no pequeno relógio que ficava ao lado de sua cama.
Levantou com dificuldade da cama, parecia que o seu pijama havia engordado alguns quilos, se é que isso fosse possível.
Arrastou os pés até a porta do banheiro ainda de olhos fechados. Fez sua higiene pessoal, colocou o uniforme do colégio.
Aquele uniforme era tão... Estranho. Aquela saia a fazia ficar com um traseiro maior. O que era totalmente desconfortante. Aturar garotos totalmente nojentos olhando para o seu traseiro a manhã inteira definitivamente não é a melhor coisa do mundo.
não comeu nada, ela não gostava de comer tão cedo, seu estômago embrulhava. Ela apenas tomou a sua santa cafeína de todos os dias. O dia não era o mesmo sem uma dose de café.
ia em direção à porta da casa quando ouviu o telefone tocando.
- Bom dia! – Uma Chuck completamente agitada berrava do outro lado do telefone.
- Oi, estranha.
- Ai, que mau humor. Dá pra você passar aqui em casa e me buscar? Eu quero falar uma coisa com você antes de ir pra aula.
resmungou algo e colocou o telefone no gancho.

Algumas quadras a garota andou até parar em frente à casa da amiga.
A casa era basicamente igual a sua, com a diferença de que o jardim era mal cuidado, já que a mãe da amiga não tinha paciência de plantar alguma flor apresentável e nem tinha paciência de ligar para algum jardineiro. Incrível a semelhança existente entre mães e filhas.
Chuck esperava sentada no meio fio.
- Ahhh! – Chuck pulou no pescoço da amiga.
- Hey, qual é, assim você estraga o meu mau humor matinal.
As duas garotas riram.
- Então, o que você queria falar comigo? – chutava algumas pedras no asfalto enquanto andava com a amiga em direção ao colégio.
- Então... É porque você foi embora da casa do e nem deu tchau.
- Hahaha! Eu não queria estragar o seu momento ternura com o - recebeu um tapa e um olhar furioso da amiga – Tá, desculpa! Mas vocês formam um belo casal.
Outro tapa, outro olhar furioso.
- Você é muito chata de manhã, menina – Chuck fez careta – Mas enfim... E como eu não te vi ontem, não deu pra te contar a novidade.
Chuck abandonou o olhar furioso e o substituíu por olhos que brilhavam.
- Assim você tá me deixando curiosa.
- Você lembra de quando eu gostava do David?
lembrava, mas preferiria não se lembrar.
- Ahan, ahan.
- Então... Eu acho que eu tô gostando do .
- Você tá o quê?
As pedrinhas que a garota chutava já não eram tão divertidas como antes. já não prestava mais atenção no caminho que fazia. A única coisa que ela podia prestar atenção era o barulho irritante que a última pedrinha chutada fazia enquanto rolava pelo asfalto ainda um pouco sujo de neve. O atrito não foi vencido pelo gelado empecilho branco. ficou parada, observou aquela pedrinha rolar... Era como se a sua última esperança fosse embora junto com a pedra. Apesar de isso não fazer sentido algum. se sentia... Confusa.
- Hey, ! Você nem tá ouvindo o que eu estou dizendo – Chuck bufava.
- Desculpa, é que... Eu me lembrei que eu tenho uma coisa pra fazer.
tentava disfarçar. A confusão de sentimentos a intrigava.
- Hmm, está bem. Mas daí, depois que você foi eu fiquei tipo ‘que ótima amiga ela é, vai embora e nem me chama’ – Chuck fazia cara irônica e forçava um riso – Mas eu descobri que você é uma ÓTIMA amiga! Eu pedi pro me acompanhar até em casa, porque tava tarde e tal... E ele... Ele é tão lindo! A gente conversou, e riu... Foi tão divertido, amiga! E calma que tá chegando na melhor parte!
Tem uma parte pior do que essa? - se contorcia por dentro.
- Quando a gente parou na porta da minha casa – Chuck suspirou antes de continuar a frase – A gente se beijou!
Como desejava ser aquela pedrinha naquele momento.
- V-vocês se, se, se beijaram? – tentava parecer feliz pela amiga, e isso continha a tentativa de não gaguejar. Ela estava nervosa demais.
- É! Na verdade eu beijei ele! Mas ele retribuiu sabe?
- Uhum...
Como ela desejava ter uma pedra maior do que aquela pra jogar na cabeça do idiota do . Quem ele pensa que é pra beijar ela e depois beijar a amiga? Idiota!
Ele tinha se transformado em um perfeito idiota... Assim como todos os ex-namorados de Chuck que abominava. Eles se mereciam.
- E foi isso – Chuck continuava com os olhos brilhando – Você não vai falar nada?
- Ah, que bom pra vocês, amiga!
Chuck não tinha culpa, ela não podia imaginar que começava a sentir algo pelo garoto. Espera, ela sentia algo pelo garoto? Ótimo! Isso é definitivamente ótimo! Ela podia ver as coisas mais claramente apesar de a confusão de sua cabeça ainda insistir em permanecer.

x :: x

Recreio.
Três horários já haviam se passado e ela ainda se sentia uma perfeita idiota por ter suspirado pelo idiota do há dois dias atrás.
Ela não pronunciou nenhuma palavra com o garoto desde que tinha chegado no colégio, ele também não.
- Ah, qual é a de vocês? – Chuck comentou abraçando de lado enquanto oferecia a ele um pedaço de sanduíche, o garoto negou com a cabeça.
- Como assim? – escondia o constrangimento pela pergunta.
- Vocês não trocaram nenhuma palavra até agora. Por quê? Aconteceu algo que eu devia saber?
Chuck não era burra... E também não.
- Nada, eu estou bem! E você ? – disfarçou um olhar cínico.
- Nada também – o garoto deu de ombros.
- Problema resolvido, eu vou me retirar.
se afastou antes que qualquer um dos dois pudesse falar alguma coisa. Ela precisava sair dali, o olhar do garoto a fazia ficar com náuseas, a felicidade da amiga a fazia ficar com inveja e a confusão a perturbava.
Olhou para trás e viu os dois aos beijos em algum canto do pátio. Uma mistura de sentimentos no estômago da garota provocava um mal estar tremendo.
Os cantos já não eram mais charmosos como costumavam ser.
A garota virou seu corpo para frente novamente, os pensamentos a faziam ficar tonta. Não era como se ela estivesse perdendo um amigo, era como se ela estivesse perdendo um namorado. Algo extremamente irritante.
esbarrou em alguém, um alguém muito alto.
Ela olhou para cima, ia falar alguma coisa não educada quando se deparou com os olhos negros e brilhantes do rapaz.


Capítulo 6 – Easy Way Out


A garota se cambaleou um pouco e foi segurada pela cintura por Ned.
Ela tentava falar alguma coisa, as palavras não saíam da boca da menina, aquele sorriso era hipnotizante demais.
Sim, ele estava sorrindo. ficou confusa. Mais confusa do que estava, se isso fosse possível.
A capacidade que Ned tinha de trazer um bem-estar na garota era incrivelmente ágil e eficaz, talvez fosse por esse motivo que aceitou namorar com o garoto por algum tempo.
Antes de Ned ir embora - por algum motivo desconhecido pela garota - eles foram namorados, talvez namorar não seja o termo certo, eles haviam trocado carícias. Antiquado demais?
nunca foi garota de namorar, e Ned também não. Eles tinham um relacionamento a longo prazo que gerou algo mais profundo, se é que me entende.
- Eu também estava com saudades sua.
Ned percebeu que a garota tinha dificuldades em pronunciar alguma coisa. Ele a conhecia bem demais, era desconfortante.
- Oh meu Deus, como você está... Eu também estava com saudades, Ned!
se jogou nos braços do garoto, a coisa que ela mais desejava naquela hora era o abraço de um amigo.
A menina sentiu que ia chorar, não sabia se era por rever Ned, não sabia se era pelo idiota do . Ela só sabia que queria chorar, ela precisava muito chorar, e ela se sentia muito inútil por isso.
- Eu sei, broto... Eu também estava com saudades.
O menino sorria mais ainda enquanto pegava pela cintura e a girava no ar.
A garota sentia saudades daquele braço forte do garoto, sentia saudades do perfume amargo dele, sentia saudades de ouvir ele a chamar de broto.
- Mas o que você está fazendo aqui?
A garota ajeitava o uniforme quando foi colocada no chão novamente.
- Nossa! Já tá me mandando embora? – Ned ria.
- Não, seu bobinho! Mas eu pensei que você não ia voltar mais.
- A saudade foi muito grande.
Os grandes olhos negros brilharam novamente. sentiu seu rosto corar.
Constrangedor.
Ela ia responder algo quando o sinal bateu indicando o fim do recreio.
Os dois olharam tristes para a caixa de onde saía o barulho alto e irritante.
- É, parece que eu vou ter que ir pra aula.
- Eu te vejo na saída, pode ser? – Ned sorriu.
- Claro!
deu um beijo na bochecha do garoto antes de ir para a sala de aula.

- Hey, onde você estava? – Chuck chegou ao lado da amiga ainda sem fôlego por ter corrido todo o corredor do colégio para alcançá-la.
- Hmm, por aí... – deu de ombros.
- Por aí? Você nunca fica por aí, a não ser que esteja acompanhada por alguém.
- Hahaha, olha quem tá falando.
riu vendo a amiga lançar um olhar malicioso.
- Hey, Pink – se aproximou das duas e abraçou Chuck.
- Hmm, oi, .
ainda não conseguia olhar para o garoto, aquilo tudo era recente demais. Talvez se ela não tivesse se atrevido a segui-lo até a usina, tudo estaria normal como antes, mas não estava.
Fato.
Chuck se soltou dos braços de quando o professor entrou na sala.
- Tá tudo bem? – se aproximou da garota.
- Não.
- Por quê? – ele já sussurrava no ouvido da menina para ninguém escutar.
Aquele calor, aquele calafrio. Maldito calafrio! Maldito calor! Malditos neurônios descontrolados que não a deixavam em paz! Por que aquela droga de menino a fazia se sentir assim?
- Você sabe o porquê, – ela o olhou com a pior cara que conseguiu fazer e sentou em sua cadeira.

x :: x

- ! , espera.
berrava enquanto tentava seguir a garota que andava rápido, ela praticamente corria. Uma tentativa frustrante de correr da confusão de sentimentos que a fazia sentir.
Ele a alcançou e a segurou pelo braço, puxando-a forte. O corredor da escola já estava vazio, restavam apenas os dois. Aparentemente todos os alunos da High Five School são desesperados para voltarem para suas casas assim que o sinal do último horário bate.
- O que tá acontecendo?
revirou os olhos se soltando do braço do garoto. Ela evitava o olhar de . Ela sabia que aquele olhar era fatal demais, ela sabia que se olhasse para o garoto ela não agüentaria... Ela o agarraria ali mesmo, com todo o ódio e o amor que ela sentia por ele. Amor? Ótimo! A vida de tinha se transformado em uma merda de novela mexicana! Patético.
- , me fala. O que tá acontecendo? Você não olha pra minha cara desde as 7 da manhã, você não fala mais comigo. Cadê aquela saudade que você disse sentir por mim?
Como ele era cínico, ele era ridículo demais.
A garota o olhou nos olhos, sentiu suas pernas balançarem, ela teria que ser mais forte que uma tremedeira qualquer.
- Você é um idiota, , um idiota! – a menina vomitava as palavras, não tinha mais controle de nada, as pernas continuaram a tremer, ela sentia que ia cair... Mas ela tinha que falar tudo que estava preso em seu estômago – Primeiro, você... Você me chama pra uma ‘festa’ idiota, e adivinha só? Eu fui a mais idiota em aceitar! Depois você me chama pra ir com você até a usina, e adivinha? Novamente a idiota aceita! Você me beijou, , você tem noção disso? Você me beijou... E eu ouvi alguma ligação sua no dia seguinte? Não! Eu me deparei com você DOIS DIAS DEPOIS pendurado no pescoço da minha MELHOR AMIGA.
A expressão no rosto de depois de ouvir os berros da garota não era a expressão que ela esperava.
pensou que ele iria pedir desculpas ou algo assim, ou que apenas ia ficar com uma expressão de superior. Mas ela não conhecia esse ; e esse ficou sem expressão alguma.
Exatamente. A mesma cara de sempre, o mesmo olhar penetrante continuava, ele simplesmente não tinha reação. Ele ouviu calado o desabafo da garota e continuou calado.
- Você não vai dizer nada?
A impaciência, o ódio e o nervosismo da garota a fazia bater os pés freneticamente no chão do corredor. O barulho de um all star tocando o chão nunca foi tão irritante.
O rosto sem expressão de se tornou em um rosto com uma expressão de total surpresa.
- Eu... Eu não fazia idéia de que a gente se beijou – ele batia na testa como se tentasse fazer seu cérebro se lembrar de alguma memória esquecida – Eu não me lembro, ! Me desculpe, eu não me lembro! Eu nem ao menos me lembrava de que tinha beijado a Chuck, ela veio toda histérica na minha casa no outro dia e... Ela começou a falar que a gente tava namorando. Eu ainda estou muito confuso. Talvez se eu não tivesse bebido tanto...
O garoto tentava se desculpar, o olhou com pena.
- Bom, agora eu vejo que você é mais idiota do que eu pensava.
A garota saiu correndo dali.
Ela sentia as lágrimas escorrerem pelo rosto. Por que ela estava chorando por algo tão estúpido? Ela se sentia uma completa idiota. tentou enxugar as lágrimas ainda com raiva.
Merda de novela mexicana!
Quem sabe se ela parasse um pouco para respirar as coisas poderiam voltar a ocorrer normalmente na sua cabeça... Ela deveria dar um descanso para seus neurônios e seu coração.
parou encostada em uma das milhares árvores que tinha na entrada do colégio, escorregou o corpo pela árvore até encontrar o chão. Respirou fundo e fechou os olhos. Os resquícios de neve pareciam mais confortáveis do que já foram algum dia.
- Até que enfim eu te achei.
abriu os olhos com dificuldade, o fraco brilho de sol a atrapalhava de enxergar qualquer coisa que estivesse a um palmo de distância, mas ela poderia reconhecer aquela voz.
- Hey, Ned.
Ned sentou-se do lado dela com um grande sorriso estampado no rosto. Passou o braço pelo ombro da garota e a abraçou.
- Eu pensei que você já tivesse ido embora.
- Hmm, não.
- Que tal um sorvete?
- Tá fazendo frio, garoto.
- Ah, mas eu sei que você adora sorvete.
sorriu, ela adorava mesmo sorvete.
- Certo.
Ela podia ver o sorriso e os olhos brilhantes de Ned; se sentiu bem novamente. Era reconfortante saber que ela não estava sozinha, era reconfortante saber que ela tinha os braços fortes de Ned ao redor de seu fraco corpo. Era mais reconfortante do que a própria neve.

x :: x

- O que é isso?
Chuck perguntou vendo abrir um envelope branco que estava dentro do seu armário. O que demorou um pouco, já que o armário de Blair tinha essa irritante mania de emperrar, a garota tinha que dar socos na caixa de metal para ela abrir.
Totalmente irritante.
- Shh! – balançava uma mão no ar com menção de mandar Chuck ficar quieta enquanto ela lia o papel.
- Então? O que é?
Chuck observava a expressão no rosto da amiga: uma expressão de desespero misturada com uma expressão de raiva.
- É do diretor.
- O que ele quer? Oh meu Deus!
- Parece que as minhas notas caíram, daí eu vou ter que ir a algum psicólogo idiota dessa escola idiota!
Idiota. Sua palavra preferida.
- Nossa, mas pra que isso?
- Não sei. Mas isto me cheira à Alice.
fuzilava o papel com os olhos.
Ótimo! Ótimo mesmo! Já havia passado quatro meses desde que ela e se beijaram. A merda da novela mexicana insistia em permanecer... Ela já tinha problemas demais na cabeça, e, pra variar um pouco, o colégio e a própria mãe achavam que ela precisava de um psicólogo! A culpa era dela se o professor de Geometria era idiota demais para ensinar a matéria direito? A culpa era dela se a droga do celular tocou quando ela estava fazendo a prova de Física? Não e não.
- Hey, Chuck.
- Oh, meu bebê!
A garota corria para os braços do namorado. Eu já mencionei que Chuck e estavam namorando? Bom, agora já sabem.
apenas revirou os olhos enfiando o papel novamente no armário. Aquilo já estava virando rotina, e ela absolutamente odeia rotina.
- Olá, broto.
Aleluia! Aleluia alguém que fazia se sentir bem no meio daquele ninho de cobras.
- Ned! – a menina sorria e abraçava o amigo.
- Hmm, vocês se importam se eu roubar a amiga de vocês por uns instantes?
Ned perguntava para e Chuck que resmungaram alguma coisa enquanto praticamente se amassavam no armário ao lado. A rotina novamente no ar.
- Eles não se importam – estendeu as mãos para o amigo.
- Ótimo!

Os dois já estavam sentados em um dos milhares de bancos do colégio há algum tempo. Eles riam e gargalhavam. estava deitada com as pernas dobradas e Ned sentado ao lado das pernas da garota.
Talvez aquela posição não fosse a melhor, já que a garota não conseguia enxergar com clareza o rosto de Ned. Ele era tão bonito e incrivelmente comum. Era até espantoso. não gostava de nada comum, mas Ned era definitivamente uma exceção.
- Sabe no que eu estava pensando?
O garoto fazia um sorriso malicioso. Como ela adorava aquele sorriso.
- Haha, lá vem... Quando você dá esse sorrisinho aí, coisa boa que não é.
- Não exagera, garota! – Ned soprou fazendo uma mexa de sua franja se levantar. Como ela adorava aquela franja.
Uma leve memória correu à mente de . A memória de suas mãos tocando aquele cabelo incrivelmente perfeito. Memória que a fazia suspirar.
- Tá, fala, eu tô curiosa.
- Hm, não. Você me ofendeu, eu não vou falar.
- Deixa de ser idiota – ria observando Ned dar língua.
- Ok – ele soprou novamente. Ned tinha noção do poder que esse simples gesto tinha sobre a menina? Acho que não – Eu me lembrei dos nossos amassos na sala de arquivos.
- Oh.
A garota sentiu sua pele esquentar, uma concentração de sangue em suas bochechas deu um tom rosado ás mesmas, fazendo-a corar. Ela tinha uma certa vergonha nesses assuntos.
Ned percebeu que a garota suava frio. Novamente se tornava desconfortante o fato de ele a conhecer tão bem.
- Vem! – o garoto levantou do banco e puxou a mão da garota, fazendo-a se levantar.
- Pra onde?
- Relembrar os velhos tempos.
Ela não gostava dessa frase, definitivamente e absolutamente não gostava dessa frase. Mas apenas engoliu em seco. Afinal, estamos falando de Ned. Tudo relacionado a Ned é uma exceção.
Os dois correram pelo colégio que se encontrava quase vazio.
Eles já passavam por um corredor que lá no fundo tinha uma porta grande com uma placa em cima escrito ‘biblioteca’.
- Ned, isso não é a sala de arqui...
- Eu sei, eu sei. Eu ouvi dizer que agora eles trancam aquela sala.
Ned abriu a porta grande e entrou lá dentro puxando pela mão. A bibliotecária apenas moveu o rosto, observando os dois entrarem e mandou eles se sentarem e fazerem silêncio.
- Eu não sei porquê fazer silêncio, não tem ninguém aqui mesmo.
sentou na cadeira emburrada e Ned se sentou na cadeira de frente para ela. Como ela conseguia ficar emburrada com a imagem perfeita de Ned ali mesmo?
- Calma, broto.
O garoto pegava na mão da menina e a acariciava, as memórias e o sangue quente na bochecha de voltaram. Ned aproximou mais o rosto e sussurrou no ouvido da garota:
- Me segue.
podia sentir seu rosto corar pela milésima vez, ela não sabia se ia fazer a coisa certa, mas dane-se, se a mãe dela achava que ela era doida, então ela ia começar a agir como uma. A merda de novela mexicana finalmente estava se descipando!
Ned se levantou indo para trás de uma pratileira de livros quase no fim da sala, a garota o seguiu. O menino encostou na pratileira com cuidado e ficou acariciando seu rosto.
- Eu estava com saudade de você.
sorriu ao ouvir aquelas palavras, fechou os olhos e depositou os braços no ombro do garoto, Ned escorregou sua mão do rosto da garota até parar na cintura de .
Parecia ser fácil, tudo que ela tinha que fazer era seguir os instintos, ‘relembrar os velhos tempos’.
O casal ficou naquela posição, apenas respirando o mesmo ar e sentindo o aroma de livro velho misturado com o perfume natural e amargo que vinha da camisa de Ned. O garoto se aproximou mais e encostou os lábios hesitante sobre os de , ela apenas deixou que suas bocas se encaixassem e deixou que o garoto percorresse sua língua pela boca dela.
Algo a fez lembrar . Talvez fosse a urgência surgindo no beijo que a fez lembrar do garoto, como era irritante a idéia de que aquele idiota ocupava todo o espaço vazio e não vazio de seu cérebro.
Ned já havia soltado as mãos da cintura de e agora acariciava as costas da menina, e tudo que conseguia pensar era que aquele ali não era .
abriu os olhos, Ned ainda estava ocupado demais com o trabalho de mexer a língua e não percebeu que a garota balançava a cabeça tentando expulsar os pensamentos dali. Ela colocou as mãos no peito do garoto, afastando-o um pouco. Ned também não percebeu. já tinha desistido e fechou os olhos novamente, às vezes não seria tão ruim relembrar os velhos tempos com Ned, talvez a ajudaria a esquecer o idiota do , já fazia tanto tempo. Ele nem deveria se lembrar de nada. Ele provavelmente não se lembra de nada.
Certeza que ele não se lembra de nada.
- O QUE VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO? TEM GENTE QUERENDO ESTUDAR AQUI! – a bibliotecária berrava com todas as forças.
Rapidamente Ned se afastou da garota e virou sua atenção para a mulher.
- Ah qual é, nem tem ninguém aqui! – dava de ombros. Ned a olhou espantado.
- Desculpe-nos, senhorita... – Ned tentava entender o nome da mulher que estava escrito no pequeno crachá – Hegfield?
- SAIAM DAQUI! – a mulher baixinha e magricela ainda berrava e apontava para a porta da biblioteca do outro lado da sala.

Capítulo 7 – Crazy Little Thing Called Love


andava pelas ruas movimentadas na esperança de chegar em casa. Ela ainda tinha que comer algum resto de pizza-de-ontem que serviria de almoço e, depois, voltar correndo para a escola. Ela tinha consulta com o psicólogo idiota.
tentou mudar seus pensamentos e se deparou pensando em Ned, ele fazia bem para a garota. Ela gostava do sorriso dele, ela gostava dos braços fortes do garoto, e ela definitivamente gostava do jeito que a franja do menino se movimentava quando ele soprava. riu sozinha se lembrando da expressão histérica da bibliotecária.
A garota foi virando a esquina da sua rua quando se deparou com seu ‘amigo’ sentado no meio fio em frente a sua casa. Ela poderia reconhecer aquele menino de longe.
- Hey, Cérebro.
estranhou que a amiga estava de bom humor. Mas ele não fazia a mínima idéia do porquê do bom humor da garota.
- Tá de bom humor hoje?
- Hahaha, você percebeu? Que bom.
A garota sorria triunfante se sentando ao lado do menino.
- Posso saber o motivo?
O menino sorria. Definitivamente o sorriso de Ned era mais bonito - pelo menos era isso que tentava convencer os seus neurônios, mas sem sucesso.
- Hmm, garotos.
Agora ela já ria.
- Entendo.
no entanto não estava tão feliz como parecia estar.
- E então, como tá indo a banda? McFLY, certo?
- Ah, tá tudo bem... É sobre isso que eu queria falar contigo. A gente vai tocar sábado, quer dizer, amanhã, em um bar aí. Não é grande coisa, mas já é um começo.
- Ahh que ótimo, !
- É, e eu queria que você fosse... Vai ter uma festa depois também, lá em casa.
- Tá, eu vou!
deu um grande sorriso e abraçou o menino. Ela sentia falta daquele abraço, e pela intensidade que abraçava a menina, dava para deduzir que ele também sentia.
- Eu estava com saudade desse seu bom humor, Pink.
sorria, ainda com os braços envolvendo o corpo de . Ela podia ouvir o doce som da doce voz do garoto, ela podia sentir o doce cheiro do hálito de que a deixava completamente tonta e confusa.
- Hmm, você está me apertando, , e eu preciso respirar.
Ela precisava afastar de algum jeito, não previa nada de bom se a aproximidade dos dois aumentasse mais.
Inexplicavelmente a imagem de Ned se sumiu por completo da mente da garota. Era tão injusto.
- , eu estava pensando... Será se a gente pode voltar a ser amigos de novo?
- Eu estou confusa, algum dia a gente deixou de ser?
Os olhos redondos e expressivos do garoto a observavam, um longo intervalo de tempo se manifestou. tentava pensar em uma resposta que não atrapalhasse o momento deles.
- Eu acho que não – sorria – Então, baixinha, o que você quer fazer agora? – ele esfregava a palma da mão no topo da cabeça da garota com delicadeza.
- Ei, baixinha não! Eu não tenho culpa se você cresceu, ok? E eu sempre fui mais alta que você.
- Agora já não é mais – ele piscou. fez cara feia e bufou.
- Isso não vem ao caso. Eu me lembro muito bem que eu era mais alta que você, porque era sempre eu que subia no banco pra roubar os cookies que Alice fazia.
- Não confunda ser grande com ser gulosa, .
Como ele era irritante.
- Eu posso te provar, ok?
se levantou com um pulo e agarrou a mão do garoto, puxando-o correndo para dentro da casa. Eles correram até o quintal dos fundos da grande casa. De vez em quando, pisava no rabo de um Jess eufórico que tentava correr na frente deles.
- Vê? Se você reparar os tracinhos aqui ó...
abaixava para apontar os pequenos traços feitos na grande árvore no quintal da casa, cada traço indicava uma altura em algumas determinadas idades dos dois, eles tinham essa disputa constante de tamanho. Coisa de criança.
- Hmm, e quem me garante que os tracinhos mais altos são seus?
observava calmo a expressão incrédula da garota. Ele sabia que a qualquer momento ela iria correr atrás dele berrando com um chinelo escandaloso na mão. A pequena sempre fazia isso quando o pequeno a irritava.
- Eu garanto – ela o olhava furiosa. balançou um pouco os ombros tentando se acalmar, de alguma forma ela sabia que apenas estava tentando tirá-la do sério, e estava conseguindo – Eu não vou discutir com um pirralho.
o olhou e saiu andando com um andar superior.
Em questão de segundos, estava parado em frente da garota e a observava com o mesmo olhar calmo. Como ele conseguia fazer isso? O seu olhar era reconfortante, e fatal ao mesmo tempo.
- Concordamos que eu não sou pirralho e você não é baixinha, certo?
- Certo.
respondia automaticamente, era como se ela estivesse hipnotizada pelos grandes olhos claros do garoto.
- Eu estou com fome, baixinha, o que temos para comer? – dizia calmo, e agora sorrindo, enquanto passava o braço pelos ombros da garota e a arrastava para dentro da casa novamente.
- Eu pensei que nós concordássemos que eu não sou baixinha, pirralho.
o olhava calma também, agora era uma questão de princípios.
- Mas isso não me impede de te chamar assim.
- Está bem.
Ela deu de ombros, não iria se irritar mais, não com o braço de seu amigo envolvendo seus ombros e a protegendo do frio constante de Londres. Uma memória borrada dos braços fortes de Ned na mesma posição que os braços magros de tentava inutilmente permanecer. Repito: inutilmente.
- Meu Deus! Você não vai mais a um supermercado por muito tempo.
abria a porta da geladeira com uma expressão incrédula se formando em seu rosto.
- Isso foi uma pergunta? Eu devo responder ou deixar pra lá?
sentava no balcão da cozinha rindo da expressão do amigo.
- Eu acho que não, foi mais uma afirmação mesmo.
- Eu não tenho tido cabeça pra supermercado – a garota fez uma pausa enquanto respirava profundamente. Ela definitivamente não gostava do barulho irritante de crianças correndo, ou rodinhas de carrinhos rolando pelo chão daquele lugar – muita coisa anda acontecendo por aqui.
O sorriso de desapareceu, rapidamente já estava parado na frente da garota.
- Você quer me dizer o que foi?
Ele alisava as maçãs do rosto da amiga.
lutava para não gostar do que ele estava fazendo, algo aparentemente impossível.
- Eu acho melhor não – ela desviou o olhar com dificuldade do olhar de , aquele olhar penetrante a prendia e a fazia ficar perdida em pensamentos. Tão injusto.
- Tudo bem.
não precisou se mover para dar um beijo no topo da cabeça da garota, ela era tão mais baixa que ele.
- Você me humilha com a sua falta de esforço pra fazer isso, .
bufou um pouco impaciente.
- Mas você sabe que não é essa a intenção - revirou os olhos ainda impaciente, mas agora era com o sorriso que surgiu no rosto do garoto. Perigoso demais – E o que vamos fazer com a minha fome?
- Eu não sei – tentava se mexer no meio das mãos de que a prendiam sentada no balcão da cozinha – Você se importa? – agora ela apontava para as mãos do garoto.
- Me desculpe.
deu um meio sorriso e se afastou da menina.
- Eu acho que vi algum macarrão instantâneo por aqui – a garota revirava o armário tentando ignorar o sorriso que crescia no rosto do amigo. Por que diabos ele estava sorrindo? Aquilo não tinha graça.
- Macarrão instantâneo, ? Se você vai comer alguma coisa não saudável, ao menos faça isso com estilo, ok?
O sorriso de havia se transformado em risada, e agora ela estava rindo também.
- Hm, certo. O que você sugere?
- Pizza?
- Gostei.
- E depois toblerone?
- Estou assustada agora, você andou aprendendo a ler mentes?
- Não, apesar de estar me matando pra saber o que se passa na sua mente nesse momento.
a olhou pensativo.
- Não há nada de interessante aqui, apenas a imagem de uma pizza de pepperoni gigante – mentiu.
Com um esforço gigante ela mentiu, dizer o que passava em sua mente não era a melhor coisa a se fazer, definitivamente não era. Levando em conta que a imagem de um certo dia há quatro meses atrás recorria pelos seus neurônios nesse momento.
- Essa desculpa não foi muito boa, . Mas eu estou com muita fome para argumentar mais.
- Oh, então não sou eu quem vai discutir com o seu estômago.
- A gente cuida desse assunto mais tarde, mocinha – apontava para o rosto da amiga com um sorriso.
- Eu não tenho muita certeza sobre isso, – ela o olhou séria.
- A gente vê isso depois – o amigo sorriu mais e beijou a testa da menina. Ela fez uma cara meio sorridente, tentando se controlar para não deixar seus neurônios vencerem e ela acabar agarrando o garoto. Ela deu um sorriso meigo, e pegou o celular, discando o número da pizzaria. Ele a olhou.
- Hm, você vai comer pizza aqui?
- Acho melhor, por quê? - ela o olhou, ele riu.
- Eu também acho.
- Pois é, Cérebro.
- Então, Pink.
- A conversa tá realmente interessante. Vamos ler um livro?
- Livro é coisa de intelectuais, vamos ver um filme.
Os dois se dirigiram para a sala com um certo cuidado para não se aproximarem muito. pegou o controle, e começou a rodar canais. De repente parou em 'Titanic', ele sabia que literalmente a amiga era apaixonada por aquele filme desde pequena. nunca entendeu o vício da amiga pelo filme. sempre dizia que um dia acharia um Jack para ela, era tão infantil pensar que contos de fadas são reais.

- Se você pula, eu pulo, lembra? - dizia Rose, olhando Jack, já no oceano, tremendo com o frio que percorria em suas veias, em todo seu corpo. - Promete que vai sair dessa, Rose?

sussurrava todas as falas dos personagens, e a olhava rindo. Rose e Jack se beijaram, continuou a olhar a garota, ela retribuiu o olhar.
Constrangedor.
Um silêncio perturbador penetrou na sala e disse qualquer coisa apenas para quebrar aquilo.
- Ahn, são beijos tão românticos, não é.
- É, totalmente românticos. - disse se aproximando um pouco mais da garota, que mordeu o lábio.
Perigosamente perto. Perigosamente perto. O coração da garota cambaleou e novamente os neurônios se agitavam em sua mente.
- Hm, será que... - ele aproximou o rosto dela, ela tentou desviar, porém seu coração não conseguia permitir mais, estava tudo muito confuso.
- ... Eu...
- Eu não posso controlar, ok? - ele colocou a mão na nuca dela, ela respirou fundo. Um silêncio fatal, as respirações muito próximas, e os olhares penetrantes, de repente, ouviram o som da campainha. A garota deu um pulo, fingindo que nada estivesse acontecendo, acordou do estado de transe, e continuou a ver o filme. foi atender a porta, pagou ao entregador, e pegou a pizza.
O cheiro de queijo derretido e massa italiana subiu, foi que nem um cachorrinho abandonado.
- Garota, antes de você, vem a pizza. Eu posso te amar, mas meu Deus, comida - disse ele pegando a pizza das mãos da garota, ela fingiu chorar.
- , agora seu vício é a pizza? - eles riram. Foram até o sofá, a garota pegou Coca e colocou em dois copos levando pra eles, sentou ao lado do amigo que já se afogava nos pedaços de pizza.
- , não seja tão porco - disse ela o olhando com uma cara enojada.
- , não seja tão chata - disse ele a olhando.
Realmente, os anos passam, e as pessoas não mudam.
Ela pegou um pedaço de pizza, e deu uma mordida pequena.
- Sabe... A gente assim, eu me lembro de quando éramos pequenos - disse sorrindo para a garota, ela retribuiu.
- Mesmo que muitas coisas tenham mudado, e a gente tenha crescido demais. Vou admitir, pirralho. Você ficou lindo.
Pizza deixava doida, ou é só um comentário suspeito. Ela depois foi controlar o seu estado de 'ah meu deus, eu disse'.
Ele simplesmente paralisou olhando o rosto da garota, ela o olhou, e arqueou a sobrancelha, ele acordou de seu estado de transe.
- Você ficou mais linda do que eu poderia imaginar. Eu sempre gostei de você, sabia?
- Sério? Você nunca comentou comigo isso - disse ela meio interessada no assunto e se amolecendo por dentro.
- É, eu sempre te amei, só não conseguia dizer. Eu pensava que era apenas paixão de criança, mas desde que a gente se beijou, eu percebi que não é essa a situação - ele se aproximou dela, ficaram com os rostos totalmente perto novamente. Ela colocou a mão no rosto dele, ela gostava daquela sensação, a sua pele, o tato, tudo. Ele simplesmente colocou a mão sobre a coxa da garota, mas tirou a mão dali rapidamente, ela estava tão conectada no momento, que acabou nem percebendo. Eles suspiraram, e fecharam os olhos, seus lábios se tocaram, até que alguém ouviu uma música - até fofa - de um celular. revirou os olhos e pegou o celular do bolso de trás da calça.
- Oi, Chuck - disse em uma voz nada dócil.
- Oi meu amor, onde você está? - disse Chuck do outro lado em um 'barulhinho'. se levantou e virou o rosto. percebeu que ela estava prestes a desabar em lágrimas.
- Eu tô na casa da... - o olhou, com o olho marejado - na casa da - Ao ouvir, a garota soltou um 'droga'.
- Ah, nem vou aí. Vocês devem estar vendo fotos de quando eram pequenos - Chuck disse um pouco enciumada, mas não deixando perceber. fingiu um sorriso, e começou a mexer nas pontas dos seus cabelos.
- Então, a machucou o dedo aqui, nada grave, eu tenho que desligar.
- Estranho, não ouvi grito nenhum.
- A é forte, você sabe. Beijos.
- Ok, beijo, te amo, meu xuxu.
revirou os olhos pela última vez e desligou o celular.
- Chuck, Chuck, Chuck. - disse ele olhando - Não diga pra mim que você está com ciúmes dela. Você me conhece há mais tempo - ele a puxou pelo braço, lágrimas já haviam escorrido pelo rosto da menina que estava umedecido.
- Eu não sei o que acontece comigo, , não era pra eu estar assim. Não era pra você saber que estou assim. Mas sim, estou com ciúmes, e daí?
se surpreendeu um pouco com as palavras da garota, porém nem tanto quanto ela. Ela nunca mais comeria pizza em sua vida. Aquela comida gordurosa a fazia dizer coisas que não deviam ser ditas. Realmente não deviam.
- , eu amo você. – Como ele podia ser tão cínico? Essa frase martelava na cabeça de que ficou o encarando.
- as coisas não são assim, você está com a minha melhor amiga.
- Eu amo você, . Por favor, fica aqui comigo, sim?
simplesmente ignorou as últimas palavras de , ele simplesmente não se importava com mais nada.
- Eu...
Em outra circunstância, ouvir essas palavras ocasionaria uma explosão de felicidade na garota. Mas algo a impedia de chegar a tal reação, talvez a imagem de uma Chuck chorando que vinha à sua mente no momento.
- Eu vou tentar explicar o que eu sinto, mas eu preciso de você aqui!
- É meio óbvio, Cérebro. Como você vai explicar pra mim, sem eu estar aqui? – tentativa falha de trazer um pouco de graça à situação. adorava esse jeito dela.
- Eu precisava ter tido esse tempo antes.
- Mas você teve, , apenas não o usou. E agora você está me deixando mais confusa do que eu já estava.
- É, baixinha. Eu quero ver você bem, mas isso está ficando mais possível para o 007 - disse ele tentando fazer a garota rir, mas recuou sua fala sem sucesso.
- É melhor você ir embora, .
já não conseguia mais olhar para o rosto do garoto. Não depois de ter dito tudo que estava preso em sua garganta. Maldita pizza.
- Mas eu não quero ir.
- Mas você TEM que ir.
Por impulso a garota o olhou com olhos apavorados. Ela sabia que era tarde demais. Porém, se recusava a acreditar nisso.


Capítulo 8 – Five Colours In Her Hair


Os sábados costumavam ser uma cruz na vida da garota. Ela detestava os sábados, definitivamente detestava. Principalmente os sábados que o envolvem.
Já eram quase sete da noite e ainda se encontrava imóvel e sentada no grande e confortável pufe roxo. A vontade de fazer nada consumia todo o seu estado físico e emocional. A vontade de sumir consumia o seu estado emocional, mas não físico, já que era algo impossível de se fazer. Ela tinha que fazer algo, ela simplesmente não podia ficar assim.
pegou seu celular e apertou a rediscagem, ela sabia muito bem com quem queria falar.
Ela reconheceu a voz do outro lado da linha e desligou o telefone rapidamente. Talvez não tivesse sido uma boa idéia ligar para o celular de , é lógico que Chuck estaria com ele. Principalmente em um sábado. Especificamente neste sábado que é uma data especial para o namorado da amiga. Como desejava estar no lugar de Chuck.
Então era isso. Ela tinha que reconhecer o fato de que definitivamente não era ela que estava com , e definitivamente ela não vai estar com em um futuro próximo. Essa é a realidade, isso é um fato.
Talvez uma mudança radical a ajudasse. A menina levantou do pufe e foi correndo ao quarto de sua mãe. Revistou todas as gavetas do cômodo do quarto; - aquelas gavetas provavelmente estariam sujas de poeira se a empregada não desse ao trabalho de limpá-las todos os dias na esperança de Alice voltar logo. Mas ela não ia voltar tão cedo, e sabia muito bem disso.
Finalmente achou o que precisava, ali escondido embaixo de vários esmaltes e algodões: uma tesoura. Mas não era uma tesoura qualquer, era uma tesoura que Alice havia usado para cortar os pequenos cachos que apareciam no cabelo da pequena há muito tempo atrás. A velha tesoura agora teria uma nova utilidade, talvez não tão nova, mas teria utilidade.
voltou correndo ao seu quarto à procura de sua bolsa.
Alguns segundos depois a garota já se encontrava a caminho da farmácia mais próxima à Queen’s Park.

- Tem certeza que quieres hacer isso, querida?
- Tenho, Catarina.
revirou os olhos, o sotaque mexicano da empregada a irritava.
- Mas su pelo é tão bonito.
- Mas eu quero mudar, você vai me ajudar ou não? Porque eu posso ligar para algum salão e...
- No, no, eu ajudo sim.
- Ótimo.
A menina viu seu reflexo no espelho, viu também o reflexo do rosto mexicano de Catarina. Por mais irritante que fosse seu sotaque, ela era como uma ‘segunda mãe’ para a garota; apesar de quase nunca falar com ela, era reconfortante saber que tinha uma presença adulta naquela casa enquanto sua mãe estava ausente.
O reflexo de seu cabelo castanho claro sendo coberto por um creme pastoso a fez sentir uma pontada de remorso. Mas a vontade de mudança deixou o outro sentimento ir embora junto com seu antigo cabelo.
- Pronto. Ahora espera um poco, si?

x :: x

parou na frente do grande espelho de seu banheiro. Talvez fosse a luz fluorescente ou seu cabelo estava realmente preto. Totalmente preto, elétrico e brilhante. Um sorriso cresceu em seu rosto e ela tinha certeza de que era um sorriso de satisfação. Ela finalmente tinha feito algo totalmente fora dos princípios da sociedade, e o melhor de tudo: ela não afetou ninguém com essa ação, a não ser seu próprio cabelo.
O que Alice acharia disso? Provavelmente alguns berros com sua ‘opinião’ iriam ser dados assim que ela voltasse para casa, provavelmente Alice falaria que a filha está mais doida do que ela pensava. Mas não ligava, realmente não ligava.
Agora só faltava uma coisa: a tesoura. A garota pegou a tesoura que se encontrava ao lado da pia. Olhou-se mais uma vez no espelho e respirou fundo. Ela nunca mais se permitiria estar como antes novamente.
Os fios de cabelo foram caindo ao redor dos pés da garota, várias mechas de cabelo se acumularam com o tempo. O cabelo que antes era volumoso e castanho, tinha se tornado fino e preto. Uma franja tinha aparecido ao lado direito do rosto da menina. O olho verde de brilhava com nunca, assim como seu cabelo e seu rosto. Ela estava no mínimo vibrante.
Algum tempo depois a garota se via parada em frente ao guarda-roupa com várias roupas ao seu redor, ela definitivamente precisava fazer compras. Nenhuma roupa fazia jus ao seu novo cabelo. Mas ela não teria tempo, ela estava irritantemente atrasada. Então voltou ao armário de sua mãe em busca de alguma relíquia que fosse útil. Um viva ao jornalismo e aos benefícios financeiros que ele trás: um vestido xadrez, curto, apertado e totalmente sexy se encontrava soterrado no meio de peças de roupas totalmente bregas. anotou o lembrete mental de agradecer ao Christian Dior por esta obra-prima.
- Catarina, tô saindo e volto mais tarde, ok?
fechou a porta de sua casa sem ao menos esperar resposta de sua ‘segunda mãe’.

x :: x

olhou no relógio, já eram 11 horas da noite, ela estava se perguntando o quão atrasada estaria para ver os garotos tocando, mas sua pergunta foi respondida pela música alta que saía da casa de quando a garota estava a alguns metros de distância da porta.
A menina respirou fundo e atravessou a rua chegando em um jardim lotado de gente, ela se lamentava por perder a apresentação dos garotos. foi se infiltrando no meio de garotos bêbados e garotas que berravam por um pouco de atenção dos integrantes da banda. Ela andava com a cabeça baixa desejando não ser reconhecida por ninguém, estava tentando se lembrar o que fazia naquela festa totalmente irritante.
levantou a cabeça por um impulso quando ouviu alguém gritar o nome de seu amigo e finalmente lembrou o que fazia ali: ela precisava desesperadamente conversar com Ned - ou talvez esse ainda não fosse o motivo. A garota ficou olhando fixo para Ned que estava de cabeça baixa, ela pensou em berrá-lo, mas chamaria atenção demais, e essa era a última coisa que ela queria, apesar de ser impossível usando um vestido glamuroso daquele. Ela continuava olhando para Ned e sorrindo tentando imaginar uma maneira de se aproximar mais, foi quando Ned finalmente parou de falar com alguma loira recém pintada e olhou para a direção onde estava a sua amiga, demorou algum tempo até ele reconhecer e ter certeza de que aquela era mesmo a .
- Olá – apenas mexeu a boca e acenou para o amigo que instantes depois estava parado em frente a ela.
- Meu Deus, o que aconteceu com você? – Ned estava visivelmente chocado e abobalhado ao mesmo tempo.
- Parece que a água de Londres é melhor no fim da primavera – a garota sorriu mais.
- Você está simplesmente... E o seu cabelo! Meu Deus! Você planeja matar alguém ou seduzir alguém? – um sorriso malicioso que conhecia muito bem surgiu no rosto de Ned.
- Acho que os dois – ela deu de ombros tentando agir casualmente.
- E precisa de alguma ajuda?
Agora Ned já estava com as mãos envoltas na cintura da garota, adorava aquela sensação de conforto que sentia nos braços de Ned, mas essa sensação foi embora quando ela avistou sorrindo e conversando com Tom, aparentemente ambos estavam bêbados assim como o resto das pessoas naquela festa.
- Eu acho que sim – balançou a cabeça afastando os pensamentos que deixavam seus neurônios malucos e seu coração bambo. Ela sabia que a pessoa certa a ajudá-la a esquecer esses pensamentos era Ned.
- Quer dançar, broto?
- Claro.
As coisas podiam ser tão mais fáceis quando era envolvida pelos olhos negros de Ned e pelo seu perfume amargo. As coisas eram tão mais fáceis quando ela simplesmente jogava alguma tinta no cabelo e vestia algum vestido de um estilista famoso. As coisas eram tão mais fáceis quando uma música barulhenta é substituída por uma música lenta e apaixonante, obrigando a garota a apoiar sua cabeça no peito de Ned que a guiava pela pista de dança. Mas ela sabia que o fácil é momentâneo e o que a fez se lembrar disso foi a voz que saía das caixas de som quando a música foi parada.
- Olá, pessoal! Eu sou e eu queria agradecer a presença de todos vocês na nossa humilde casa – berros e gritos variados ecoaram pela sala obrigando a parar de falar por instantes – Obrigado! Eu queria agradecer também pelas pessoas que foram ver a gente tocar no Cuca’s.
Novamente os gritos e berros obrigaram o garoto a se silenciar.
- Atendendo a pedidos, a gente vai tocar de novo! – berrava no microfone e mandava beijos para as garotas alucinadas que berravam cada vez mais em frente ao palco montado no canto da sala.
- Essa é Five Colours in Her Hair – Foi a vez de Tom berrar e levantar o braço para cima, seguido por uma batida de baqueta e um solo de guitarra.
olhava perplexa para o pequeno e baixo palco acompanhando cada solo que fazia, ela olhava mais intensamente para que em alguns intervalos encontrava com o olhar da garota. parecia não reconhecer , e Chuck também não.
Chuck estava ali no canto de trás do palco encarando com cara fechada, ela certamente não gostava da garota que flertava o seu namorado. acenou para a amiga e deu um meio sorriso, Chuck, porém, continuou com a cara fechada, mas agora ela sabia muito bem quem era a tal garota.
Uma pontada de remorso e uma vontade gigante de chorar vieram à tona em que saiu correndo em direção ao banheiro. Ela simplesmente esqueceu que Ned estava ali, de repente tudo sumiu, ela tinha que sair dali.
abriu a porta do banheiro rapidamente e se deparou com duas pessoas - ou devo dizer uma? - que se agarravam no canto do box, fez cara de nojo e bateu a porta. Uma vontade de vomitar agora se juntava ao remorso e ao choro. A garota subiu a escada aos tropeços e abriu as portas que passavam por ela - todas com pessoas se agarrando dentro, apenas com uma exceção: um quarto grande com vários pôsteres, um computador e uma bagunça gigante.
se sentou na cama e colocou os braços envolta de seu estômago, o choro que até então estava preso em sua garganta veio a tona, ela estava absolutamente cansada de chorar. A mudança de cabelo agora era inútil, ela iria se sentir triste mesmo se pintasse o cabelo de rosa.
A porta foi aberta por um garoto com uma na mão. ia silenciosamente guardar sua quando ouviu um soluço, o garoto virou a cabeça em direção à cama e encontrou uma desconhecida por ele.
- Am, garota, você está passando bem?
Ele não podia ver o rosto de que estava escondido por sua mão. O choro aumentou mais quando ela ouviu a voz de então ela apenas balançou a cabeça negativamente respondendo à pergunta dele.
- Quer que eu te leve para casa? – se sentou ao lado da menina na cama e gentilmente a abraçou. O choro ficava mais forte a cada toque.
ainda balançava a cabeça sem dizer uma palavra.
- Eu posso te ajudar em alguma coisa?
ainda balançava a cabeça mas tirou a mão de seu rosto escondendo a cara no peito de e o abraçou forte.
- Me diga o que aconteceu? – a voz doce e rouca de era insuportável e agravante ao choro da garota. continuou sem dizer nada apenas balançando a cabeça.
pegou no queixo da menina e levantou seu rosto, a escuridão do quarto o impedia de enxergar claramente, mas ele tinha certeza de que aquela era a garota que ele amava, e ele era o garoto que a fazia chorar.
- Oh , o que sua mãe vai dizer sobre seu cabelo?
sorriu tentando alegrar a menina, ela parou de chorar e mergulhou seus olhos no olhar hipnotizante do garoto. Instantaneamente seus neurônios se descontrolaram e seu coração cambaleou tentando se salvar de um enorme precipício, mas ela continuou a olhá-lo, ficou difícil demais evitar a falta de ar. O sorriso de desapareceu e agora ele também a encarava, o garoto pousou sua mão sobre a bochecha molhada de e o olhar ainda se sustentava no ar.
A janela meio aberta permitia uma entrada de ar frio no quarto provocando efeito instantâneo em que apertou mais a garota que agora já estava sentada em seu colo, um sorriso enorme se estendia na mente de que adorava sentir o calor aconchegante que vinha da pele de seu amigo.
A corrente de ar esfriava mais a cada instante, já estava ficando insuportável para , mas não para que se aquecia nos braços do garoto.
levantou nos braços sem esforço e a colocou sentada na cama antes de ir em direção à janela e fechá-la; ele seguiu até a porta e a trancou, se virou para e ficou olhando-a com um olhar indeciso no rosto, a menina apenas curvou os lábios surgindo um meio sorriso.
andou hesitante até a garota e a levantou pela cintura, os corpos já estavam grudados e o calor aumentava mais, tinha certeza de que não era conseqüência da janela fechada. Ela hesitava sua mão que cobria metade do pescoço do garoto, a menina podia sentir suas pernas bambas e uma necessidade urgente de oxigênio que ela não conseguia inspirar. De repente ela se esquecera de toda a raiva que sentia, de todo o remorso que provavelmente sentiria, e de todo o choro que soltara há pouco tempo atrás, de repente tudo começava a ficar bem quando roçava os lábios suavemente no pescoço da garota.
Eles começaram a agir por impulso, um impulso que ficava mais urgente a cada toque.
Em pouco tempo o vestido de já não era tão glamuroso como antes por se encontrar no chão do quarto de - provavelmente o Christian teria um ataque se soubesse a falta de respeito com sua obra-prima. Em pouco tempo a blusa Hurley de se encontrava a metros de distância do vestido e, em instantes sua bermuda também estava.
Os dois se olharam - e apenas de roupa íntima; ela podia sentir suas maçãs do rosto corarem, ela podia sentir a urgência sendo substituída por uma suavidade enquanto a deitava na cama e se colocava por cima dela.


Capítulo 9 – Everybody Knows


ouvia o silêncio da casa - um silêncio que a deixava frustrada - normalmente o seu cachorro era o primeiro a acordar e latir como um desesperado a manhã inteira.
Mas essa manhã Jess não latiu porque Jess não estava lá.
A garota se levantou com certa dificuldade da cama e puxou o lençol consigo cobrindo o seu corpo nu, porquê ela estava com ausência de roupas ela ainda não havia entendido, algo em sua cabeça martelava mas ela estava cansada demais para entender a mensagem. Ela olhou em volta, era quase reconhecível aqueles pôsteres todos. Se não fosse pelo motivo de ela não ser tão viciada em The Who aquele provavelmente seria o seu quarto, mas não era. Agora ela já podia enxergar as coisas com mais clareza, abriu a janela descobrindo um enorme sol que iluminava toda Londres, ela podia reconhecer a chegada do verão e seus fenômenos, ela podia reconhecer que aquele seria um dia glorioso para muitos, mas não para ela que sentia uma falta irritante do frio.
Algo se movimentou na cama ao lado fazendo gemidos, deu um pulo e um grito abafado quando percebeu a presença de ali. Ele a olhou com olhar interrogativo e tudo começou a finalmente se processar na mente da garota: ela tinha mesmo dormido com o namorado da melhor amiga. se sentia a pior e insignificante criatura do mundo.
mexeu as mãos ainda deitado na cama fazendo sinal para se juntar à ele, a garota apenas negou com a cabeça. Um silêncio perigoso se instalou no quarto e evitava o olhar controlador do rapaz tentando dirigir sua atenção ao sol que cada vez ficava mais forte.
apareceu do lado da garota já com uma blusa e uma cueca, só percebeu sua presença quando ele envolvia os braços na cintura dela.
Perigosamente perto.
Essa frase sempre martelava na mente da garota toda vez que se encontrava a menos de três centímetros de distância de ; a respiração falha lutava para dominar o estado físico dela, e já não agüentava mais isso.
- É melhor eu ir embora – ainda disse sem mover um centímetro já que seu coração bambo não permitia tal fato.
- Por quê? – mordia de leve o ombro da garota, ela podia sentir seu coração se explodindo de felicidade, mas ela não podia permitir isso – Eu não quero que você vá.
tirou a atenção do ombro da garota e a olhou com olhos absurdamente brilhantes, tentava lutar contra a vontade de erguer a cabeça e olhá-lo também, mas a tentativa sempre falhava.
- Você... não.. entede.
Com um esforço gigante ela conseguiu soltar algumas palavras que soavam falhas.
- Não, , é você que não entende o meu desejo incontrolável.
roçava os lábios no ouvido da garota - ele parecia não precisar de tanto esforço para dizer algo, ou fazer algo.
- Não pode... não é certo.
balançava a cabeça negativamente, o hálito de não ajudava nada em seu estado emocional. Como alguém poderia ter um hálito matinal tão agradável igual ao do garoto?
- O que não é certo, é o que estamos fazendo, nos torturando.
Ele a olhou com olhar apreensivo enquanto limpava com as costas das mãos as lágrimas que insistiam em cair dos olhos de .
- Parece que o navio está sempre afundando para nós.
Porque ele tinha dito aquilo não sabia, simplesmente fluiu junto com um choro que foi abafado pela camisa de que agora já estava encharcada de lágrimas.
- Por favor, fofa, não chore.
Era impossível resistir à voz doce do garoto, era impossível resistir a tentação de não querer abandonar o dono da camisa molhada.
A menina aproveitou a brecha de silêncio que se instalou para lutar contra o impossível: ela se separou dos braços de rapidamente e vestiu seu vestido ainda com pressa, desejando não se arrepender do que estava fazendo.
percebeu o que ela planejava fazer e "voou" até a porta, se escorando na mesma.
- Eu não vou deixar você fugir de mim.
- E o que você quer que eu faça? Que eu esqueça as conseqüências e deixe que todo mundo saiba desse nosso pequeno romance? Eu pensei que você fosse mais responsável que isso, .
- Você considera isso apenas um pequeno romance?
Ele a olhou com os olhos que borbulhavam uma dor e agonia.
- Sim – respondeu hesitante, não tinha outra maneira de sair dali sem fazê-lo sofrer e quebrar o coração dos dois; ela se lamentava por isso.
não disse nada, se afastou da porta deixando o caminho livre para . Segundos depois ele pôde ouvir a porta da casa se fechando e fazendo um barulho alto e irritante.

lutava desesperadamente contra as lágrimas que faziam seu olho arder mais a medida que se acumulavam. O dia estava realmente lindo provocando um mal estar maior na garota. Nada de bom acontecia nos verões: o seu pai foi embora em um verão, o seu melhor amigo foi embora em um verão, Ned a abandonara em um verão, e ela faz aniversário no verão - ficar mais velha definitivamente não é algo tão bom. Alice sempre estava ausente em qualquer estação do ano, então isso não agravava mais a situação lamentável que o verão trazia na vida da garota.
Ela corria pelas ruas na esperança de que o vento que batia em seu rosto fosse gelado, mas não era. Um desespero cresceu no coração da garota quando ela se deu conta de que a casa de Chuck estava a apenas um quarteirão de distância.
Uma agonia se misturou ao desespero quando ela viu Chuck parada na porta de sua casa a observando.
- Se divertiu muito ontem, amiga?
sentia o sarcasmo da amiga como se fosse uma pontada revirando todo o seu estômago.
- Eu... Não sei do que está falando – olhava para baixo sem coragem para encarar o rosto da amiga. Elas ainda seriam amigas depois do ato imperdoável que ela cometera?
- Você acha divertido fazer isso com as pessoas? Eu sempre desconfiei que a santa não é tão santa assim. Eu sempre senti pena por Ned, ele realmente te ama. É bom machucá-lo?
não tinha resposta para essas perguntas, ela apenas levantou a cabeça e olhou para Chuck com os olhos cheios de lágrimas resultantes do remorso.
- Oh, então agora você chora? Não sabia que uma vadia sabia chorar.
O sarcasmo saía abafado nas palavras de Chuck.
- Desculpe.
Era tudo que podia falar no momento.
- Então me diga, querida, como foi a sensação de transar com MEU namorado?
- Chuck... – ia em direção à porta da casa da amiga quando foi impedida por ela que berrava.
- NÃO CHEGA PERTO DE MIM! Você acha que engana todos, não acha? Mas não engana! Eles sabem, todos sabem que você não passa de uma vadiazinha fantasiada em algum vestido caro.
teve vontade de rebater as palavras que saíam cuspidas pela boca da amiga, ou seria ex-amiga? O remorso aumentou; mas não foi remorso por ter ficado com , foi remorso por ter deixado . Ela havia estragado tudo, havia desistido de tudo por uma amiga que era completamente falsa com ela.
- Eu realmente não sabia que você me odiava tanto.
- Eu não odiava! Até ver você passando em frente a minha casa com o mesmo vestido estupidamente glamuroso que você usava ontem! Eu não te odiava até o me olhar ontem com cara de pena e dizer ‘eu sinto muito’. Essa é a pior parte, eu sou chifruda graças à minha EX amiga idiota e vadia.
Foi a gota d’água; saiu andando apressadamente até em casa antes de fazer alguma atitude que se arrependeria depois.


O som alto da porta de vidro e madeira se batendo chamou atenção de Catarina que surgiu ofegante no Hall da casa dos .
- Oh , és tu! Graças a Dios, estava preocupada, querida.
O sotaque irritante de sua ‘segunda mãe’ já não a incomodava mais e se jogou nos braços da empregada soluçando alto.
- Dios! O que aconteceu?
Catarina passava as mãos pelo cabelo recém renovado da garota. não falou nada.
- Tengo algo que puede te alegrar. Ahora espere um pouco, si?
balançou a cabeça afirmativamente, se afastando de Catarina. A garota se dirigiu até o sofá e se jogou nele, segundos depois algo lambia sua mão e ela sentiu a presença de Jess na sala.
- Olá, meu garoto.
Ela puxou o cachorro extremamente pesado para cima do sofá e o deitou junto com ela. Agora Jess lambia o rosto da menina que riu involuntariamente.
- Llegó hoje de manhã.
Catarina voltou da cozinha com um envelope na mão, um envelope vermelho que reconhecia muito bem, pois havia vários iguais acumulados na lixeira de seu quarto.
- Pra onde será que ela foi agora?
perguntou irônica. Não foi uma pergunta retórica.
A garota abriu o envelope e puxou de dentro um cartão com uma imagem de duas pirâmides, era bonito.

querida,
Estou tão empolgada com essa nova matéria que não tive muito tempo para te mandar cartões, me desculpe, querida. Se lembra do outono passado quando te contei sobre aquela caça ao túmulo do faraó Hadames? Oh querida, eles acharam o túmulo e eu estou aqui no Egito! Egito, querida! Queria que você estivesse aqui para apreciar a vista, é tão bonito! Se você quiser ver como a sua mãe emagreceu é só ligar no The History Chanel sábado às 21 horas, parece que a minha matéria ficou excelente e eles vão passá-la na TV! Não é maravilhoso, querida? Mas chega de falar de mim e do faraó morto! Como foi a consulta ao psicólogo? Espero que não tenha ficado muito brava com sua mãe, você sabe que eu faço para o teu bem, não sabe? Oh querida, eu não esqueci o seu aniversário, viu? Farei o possível para estar aí no fim do verão com você!
Saudades imensas.
Beijos, mamãe.’


Aquela letra que tanto admirava já estava sendo borrada por lágrimas que caíam no cartão, manchando a tinta da caneta. Ela leu e releu as mesmas palavras de sua mãe incontáveis vezes, não sabia a saudade imensa que ela tinha de Alice até aquele momento. Ela realmente fazia falta.
O uso excessivo da palavra querida fazia um sorriso surgir no rosto da menina, ela podia ouvir a voz de sua mãe a chamando assim. A sensação de se sentir querida era tão boa depois de um dia horrível. A única coisa que queria era que sua mãe estivesse ali para dizer que tudo ficaria bem, para dizer que era apenas uma fase da vida de porque ela estava crescendo; mas guardou o sentimento egoísta para si. Sua mãe parecia estar tão feliz no Egito, ela não queria estragar esse momento.
Alice provavelmente não foi avisada de que havia faltado propositalmente às consultas no psicólogo; a garota sentiu um remorso e prometeu a si mesma que não faltaria mais às sessões.
Então esse era mais um cartão que iria direto para a gaveta do quarto de .


Capítulo 10 – Going Through The Motions


A vida definitivamente não é justa para aqueles que se importam. Ser ignorante é algo chato, porém, extremamente eficiente.
E foi por isso que decidiu ignorar a escola e todas as coisas que a envolviam – e ela conseguiu fazer isso por quase uma semana, se não fosse por Catarina...
- Catarina, fecha essa cortina, por favor!
Ela berrou ao ver o quarto ser iluminado quando Catarina abriu as cortinas. O sol incomodava demasiadamente.
- Pero , és seu último dia de aula!
Um viva ao último dia de ida ao High Five School! Um viva às férias tão desejadas! Um único porém: férias de verão.
Verão, eca.
- Não interessa, eu não quero ir!
bufava com o edredom cobrindo o rosto. Um viva ao ar condicionado!
Ela simplesmente queria que o verão e seu querido sol se explodissem! Mas de que adianta sonhar alto, desejar tanto algo, se ela estava certa de que iria cair na rotina novamente?
- No, no, hoje você vai! Cansei de su mau humor!
Catarina puxou o edredom da cama antes de abrir completamente a cortina do quarto. Que empregada abusada.
- E além do mais, hoje você tem psicólogo!
Como ela sabia do psicólogo de ?
A garota a olhou interrogativa.
- O colégio ligou – Catarina explicou dando de ombros.
bufou mais e se levantou da cama, ela foi se arrastando até o banheiro e fechou a porta. Era isso, ela precisava sair daquela rotina medíocre de fundo-de-poço; ela precisava parar de se entupir de chocolate, sorvete e derivados.
Porque acumular pó pode ser pior do que parece.
- Você tem 5 minutos, ok?
Ela podia ouvir Catarina berrando do lado de fora do banheiro, a garota apenas bufou algo do tipo ‘está bem!’.


estava parada em frente ao colégio; uma vontade enorme de voltar para casa a invadia, mas percorrer o mesmo caminho de volta a deixava pior: ela teria que passar em frente à casa de e Chuck, e isso definitivamente não era bom. A garota deu um passo à frente, depois outro, e outro, e outro... Caminhar não era tão difícil, bastava apenas colocar o pé direito na frente do esquerdo e assim por diante.
O barulho alto que vinha dos corredores do colégio chegou aos ouvidos da garota, ela parou de andar e olhou para os lados, tudo parecia normal. voltou a caminhar aumentado o passo e se aproximando mais do seu armário, ela abriu a porta do armário depois de dar alguns murros no mesmo - realmente tudo parecia normal. precisou enfiar a cara dentro de seu armário para achar o maldito livro de biologia, ele estava soterrado embaixo de vários bilhetes que alguém havia jogado ali. A garota puxou o livro brutalmente e todos os bilhetes caíram no chão, ela se agachou impaciente e o maldito livro escorregou de sua mão fazendo um barulho alto que ecoou por todo o corredor quando esse bateu no chão. Ótimo! Ela precisava mesmo chamar a atenção de todo mundo daquele colégio estúpido!
- Eu ouvi falar que o garoto da banda terminou com aquela patricinha.
ouviu duas garotas conversando a alguns metros de distância e tentou prestar o máximo de atenção possível. Os bilhetes poderiam ser recolhidos outra hora.
- Eu acho que ela se chama Chuck.
sentiu seus pêlos se arrepiarem ao ouvir o nome da garota. Chuck a odiava, mas ela não odiava Chuck, simplesmente não sentia mais afinidade por ela.
- Não, não! Foi a Chuck que terminou com o garoto da banda. Como ele se chama mesmo?
- .
- Isso!! Ele mesmo. Mas eu ainda não descobri porquê eles terminaram.
- Foi tudo culpa da amiguinha da Chuck, garota esquisita. Ela andou fazendo graça para o e ele caindo na laia dela. Tadinho, ele parecia tão legal. E bonito, claro!
O punho de se fechou e ela teve vontade de enfiá-lo no meio da fuça das duas garotas. E era exatamente isso que ela iria fazer, mas uma sombra cobria seu rosto e ela percebeu que havia alguém ali.
- Precisa de ajuda? – Tom se agachou ao lado da garota já recolhendo os bilhetes sem esperar resposta.
- Ah, obrigada – ela forçou um meio sorriso e olhou para os lados procurando as garotas fofoqueiras, mas elas não estavam mais ali.
- Parece que o diretor não gostou da sua falta às aulas essa semana e a sua falta às consultas de um... Psicólogo? – Tom lia com dificuldade a caligrafia ilegível do diretor em um dos bilhetes.
- É, psicólogo – revirou os olhos, era tão humilhante aquela cena.
- Posso perguntar por que você deveria ir à um psicólogo?
- Na verdade... – iria dizer um não bem grande e escandaloso, mas quem poderia discutir com aquela covinha? – Foi minha mãe que pediu; as minhas notas não são tão boas como as do bimestre passado.
- Oh! – o garoto entregou para os bilhetes e a ajudou a se levantar – Eu lamento por isso.
- Tudo bem.
Eles andavam juntos em direção à sala de Biologia, olhava fixo para os pés se concentrando em não atacar o garoto ao seu lado com uma tentativa de enfiar o dedo no buraco fofo que ele tem na cara; Tom pensava em algum assunto para falar.
- Então... Você ficou sabendo do Baile de formatura que vai ter?
Baile. Que palavra antiquada.
- Baile? – olhou para Tom que sorria animado.
É claro que ela sabia do Baile, seu Baile de formatura, mas a palavra ‘formatura’ a assustava um pouco.
- Sim! A Ginger está distribuindo folhetos informativos para todos os alunos, é um milagre não ter nenhum no seu armário até agora.
Provavelmente a Ginger estaria animada em organizar tudo. Ginger: patricinha chata, membro mor da comissão e amiga de Chuck. nunca gostou dela.
- Ah, que legal.
- E a Ginger tava no bar que a gente tocou... – Tom olhou para perguntando se continuaria ou não a falar sobre o tal dia, a garota balançou a cabeça o encorajando a continuar – Ela gostou muito da banda e convenceu o diretor a deixar o McFLY tocar no baile! Você vai, não vai?
Tom olhou sorridente para , ela não sabia que sua presença era tão importante para o garoto. Novamente o grande não foi impedido de sair de sua boca graças à covinha. Deus como ela precisava enfiar o seu dedo naquela cova. Será se seria incomodo demais se ela apenas pedisse?
- Hm, Tom... Será que eu posso, err... Colocar o dedo na tua covinha?
- O quê? – o garoto a olhou confuso.
- Ah não seja egoísta, Tom! Se você deixar eu enfiar o dedo na sua covinha, eu prometo ir ao baile.
Thomas sorriu abertamente e enfiou o dedo na cova fofa do garoto. Quem poderia resistir àquele maldito buraco?
- Então, você vai ao baile, né? – Tom observava que sorria abobalhada ainda com o dedo na covinha.
- Aham. Mas a gente tem que repetir isso mais vezes sabe: enfie o dedo na cova do Tom e tenha uma diversão garantida.
O garoto sorriu para antes de correr em direção à sala de História. A garota amaldiçoou mentalmente a covinha que a obrigou à ir ao baile.

x :: x

O sinal tocou indicando o fim do ano letivo e a alegria geral dos alunos do High Five School, com exceção de que se encontrava obrigatoriamente na direção da sala do psicólogo do colégio, ela sabia que iria receber uma bronca gigante por ter faltado às últimas consultas. A garota estava no corredor e passava pela sala do diretor quando foi surpreendida pelo mesmo.
- Boa tarde, Srta. .
levou um momento para se recuperar do susto e olhou vagamente para o diretor.
- Olá, Sr. Jenckins.
- Parece que hoje você resolveu vir à aula e à consulta, não é mesmo?
- Sim, Senhor – assentiu com a cabeça desviando o olhar para os pés, como era possível existir um diretor tão feio e gordo? A vontade de rir era tamanha que a garota não conseguia mais olhar para a careca do diretor.
- Ótimo! Eu já me via obrigado a ligar para sua mãe e alertá-la que a sua querida filha tinha faltado às consultas.
- Isso se você a achasse, não é mesmo? – prendeu o riso.
A garota podia ouvir os bufos altos do diretor, ela podia ver com o canto do olho a careca do gordinho esquentando até atingir um vermelho rubi; ele estava nervoso e ela queria rir.
- Acho melhor a Senhorita ir logo para a consulta antes que eu perca a paciência, garota.
- Sim, senhor.
apertou o passo para a última salinha do corredor, a sala era distante e ela não ouvia mais os resmungos do diretor. A garota bateu na porta ainda hesitando se deveria correr dali ou se enfrentaria o tal psicólogo. Correr dali não era uma opção já que ela provavelmente encontraria com ou Chuck no caminho de casa, nada podia ser pior do que isso.
A porta se abriu revelando um senhor idoso de óculos redondos que se encontravam na ponta do nariz do tal psicólogo, o cheiro forte de tabaco que saía da sala começava a poluir o corredor. entrou apressada na sala fechando a porta atrás de si.
- Então a senhorita deve ser .
O velhinho disse indicando uma poltrona.
- Sim, senhor.
A garota foi em direção à poltrona e se sentou rapidamente. O cheiro de tabaco era mais forte agora. Ela se perguntava se o cheiro vinha do idoso ou da janela aberta.
Provavelmente do idoso.
- Então me diga, por que faltou às aulas e às minhas consultas?
O velhinho se encontrava sentado tranqüilamente em uma poltrona no canto da sala, não podia mais ver o rosto do tal senhor.
- As perguntas são assim tão diretas? Você não quer saber nenhum trauma de infância? Ou algo do gênero?
A ironia presente na voz da garota não tirou a tranqüilidade na voz do velhinho.
- Não. Acho que não temos mais tempo para isso já que perdemos muitas sessões. Por que a senhorita faltou às aulas?
- Eu sou obrigada a responder?
bufou: que psicólogo irritante, não é mesmo?
- Sim.
- Ótimo – a garota revirou os olhos, de repente ela se lembrou de que a mãe a achava doida, então ela agiria como uma – Na verdade eu faltei às aulas porque eu não tava com saco pra ver a cara gorda e careca do diretor, e eu também não tava com vontade de ver a cara falsa da Chuck e nem a cara de idiota do . Eu devia mesmo ter ficado com Ned!
A voz de foi aumentando a cada palavra, até a garota estar berrando. Ela estava prestes a explodir, mas o maldito velhinho continuava calmo.
- E quem é Chuck?
Ele anotava tudo no caderninho. Aquele seria um simples caderno de anotações? Ou seria mais um caderno pornográfico - e, no caso do velho: pedófilo - igual ao de Sheldon?
- Minha ex amiga que foi chifrada graças a mim.
despejava toda a sua raiva, ela estava ficando mais calma. Era a sensação da rotina se dispersando.
- E quem é ?
Ele continuava a anotar no caderninho.
- Meu amigo e ex namorado da Chuck, e graças a mim eles terminaram porque eu dormi com ele.
A garota estava completamente calma com os braços cruzados sobre o estômago. Era surpreendentemente fácil botar tudo para fora com um estranho. Fácil e rápido.
Seria incômodo demais se ela simplesmente pedisse algum cigarro para o velhinho? nunca foi uma drogada, mas o momento fascinante pedia algo alucinógeno.
- E quem é Ned?
- Meu ex namorado com quem eu perdi a virgindade na sala de arquivo.
O velhinho cuspiu o café que estava tomando no carpete, se levantou do sofá e olhou para o psicólogo. Talvez fosse melhor ela comprar ervas em algum lugar.
- Posso ir embora agora?
Ela tinha um sorriso gratificante no rosto, botar tudo pra fora melhorou muito seu mau humor.
- Sim, sim.
O velhinho ainda se engasgava quando o deixou na sala e seguia para sua casa. Finalmente ela tinha quebrado a tranqüilidade irritante do velho que fedia tabaco.
Era tão reconfortante se livrar da rotina.


Capítulo 11 – Too Close For Comfort


Era tão difícil escolher um vestido naquela loja gigantesca daquele shopping gigantesco. Mais difícil ainda era caber em um vestido minúsculo que tinha naquelas lojas: um viva ao tamanho 38! Porque tamanho 36 é total last week - conseqüência dos quilos de açúcar ingeridos pela garota na semana passada.
se olhou no espelho: olheiras fundas se encontravam por baixo de seus olhos, espinhas em cada canto geográfico, talvez o surgimento de possíveis fios brancos estavam por vir - fazer o que se ela sempre foi uma garota precoce? Não havia dúvidas de que 'cansada' era a palavra exata para definir o estado da garota.
Cansada.
Ela estava cansada de experimentar mil vestidos e nenhum ficar bom: ou era curto demais, ou longo demais, ou chamativo demais, ou simplesmente não combinava com o novo visual da garota. Mas aquele vestido vermelho, especialmente aquele vestido vermelho, tinha ficado perfeito. Depois de 3 horas vestindo e tirando vários vestidos de várias lojas diferentes, ela achou o vestido perfeito: vermelho e básico. Sabe aquela expressão ‘caiu como uma luva’? definitivamente detesta essa expressão, mas é a expressão perfeita para o momento, assim como o vestido.
Ele magicamente elimina o seu estado 'precoce'. Outro vestido glamuroso, e, absolutamente ideal para o Baile de Formatura.
A garota colocou sua calça jeans e sua blusa dos Beatles pela última vez naquele dia e se dirigiu para o caixa: um viva ao cartão de crédito sem limites para emergências!
Era gratificante segurar aquela sacola preta com o vestido perfeito dentro; irrevogavelmente triunfante!

x :: x

estava parada na porta do colégio já havia 10 minutos. De repente ela se lembrou de que aquela seria a última vez que ela entraria naquele lugar, não haveria mais o barulho dos corredores do colégio em sua rotina, não haveria mais a sala de arquivo, não haveria mais o diretor para encher o saco. Tudo iria ficar mais calmo. sabia que não teria tempo para saudades, ela tinha muito o que fazer em pouco tempo; ela teria que guardar cada canto daquele colégio em sua memória, afinal, foi ali que ela viveu quase 4 anos de sua vida. Foi ali que ela teve seu primeiro namorado e sua primeira vez (por mais nojento que isso pareça ser), foi ali que ela conheceu sua ex amiga Chuck. Chuck poderia ter as suas implicâncias com , mas definitivamente ela foi a única amiga que ela teve por um tempo; e, finalmente, foi ali que ela reencontrou .
: o idiota que sempre estava perto demais.
- Hey, você veio!
Tom veio berrando e correndo na direção de , acordando-a do transe.
- É, eu disse que viria, Tom – disse apertando as bochechas de Tom, elas são tão fofas.
- A gente vai tocar daqui 10 minutos! – o garoto sorria mais; por que ele sempre sorria na presença de ?
- Eu já vou – a garota riscou um sorriso, um sorriso meio torto diga-se de passagem.
- Hm, ? O pediu para te entregar esse bilhete - Tom entregou um papel para a garota antes de correr para dentro do colégio ainda balançando a mão no ar para sua amiga.
Desde quando era amiga de Tom? Parece que ela viveu esse capítulo e nem notou, ela estava ocupada demais atrapalhando sua vida se apaixonando por . A menina olhou hesitante para o papel em sua mão e decidiu não abri-lo. É apenas difícil demais.
Então era simples, bastava colocar um pé na frente do outro que ela chegaria até o ginásio do colégio.

- Cara, eu vi ela lá na porta!
- Tem certeza, Tom?
- Tenho, né! Eu falei com ela que a gente ia tocar em 10 minutos, e também entreguei o bilhete para ela.
- Então já era pra ela estar aqui! – passava a mão no cabelo nervoso.
- Hey, garotos, já ta na hora! – Ginger apareceu saltitante no camarim improvisado para a banda.
- Não dá pra esperar um pouco? – continuava nervoso.
- Hey, hey! Olha lá! – apontava eufórico por detrás das cortinas para uma garota.
- agora não é hora de você apontar garotas bonitas, dude! – dava um tapa na cabeça do baixinho.
- Idiota, aquela dali é a mostrou língua para o garoto.
Menos de meio segundo depois, já se encontrava por cima de para enxergar a garota.
- Cara, ela tá... linda.
demorou mais tempo para achar a palavra que descreveria perfeitamente como estava.
- E você tá apaixonado, cara, só lamento – Tom dava batidinhas no ombro de enquanto ria freneticamente.
- Vai tomar banho, Thomas! – lançou um dedo do meio para o amigo, que riu mais.
- Ok, garotos, andem logo! Vocês estão atrasados e estão cansando a minha beleza com essa demora – Ginger empurrava os garotos em direção ao pequeno palco montado.
A quantidade de pessoas amontoadas naquele ginásio era perceptível, todo o colegial parecia gostar muito de uma festa. Principalmente uma festa que envolve bebidas, bandas, e vestidos caros.
detestava.
Ela detestava ter que se arrumar impecavelmente apenas para passar despercebida pela multidão, o que era aparentemente impossível: ela teria que ser invisível para que isso acontecesse.
No entanto, naquele dia especificamente, não foi tão ruim se arrumar, não foi tão ruim gastar a sua tarde escolhendo uma roupa, não foi tão ruim ter que se dirigir até o colégio e enfrentar pessoas que ela nem ao menos conversava.
Porque, naquele dia, ela se sentia inacreditavelmente e misteriosamente bem.
- Olá, pessoal!
Berros e gritos estridentes percorreram pelo ginásio.
olhou rapidamente para o palco. Ela reconhecia aquela voz incrivelmente bela.
- Vocês estão se divertindo? – berrava no microfone.
- WHAT’S UUUUP? – berrava também em meio aos risos. Eles pareciam se divertir mais do que a platéia.
- Vocês estão prontos para tirar a bunda gorda desse colégio? – Tom berrava. Como eles adoravam berrar.
A platéia também adorava.
- Então essa daqui se chama Too Close For Confort – levantou um dos braços antes de começar a tocar a música.
olhou para o garoto interrogativa. O nome daquela música chamou a sua atenção. Ela conhecia aquela expressão muito bem. Perigosamente perto.

I never meant the things I said (nunca quis dizer as coisas que eu disse)
To make you cry can I say I'm sorry (para fazer você chorar, posso dizer que sinto muito?)
It's hard to forget and yes I regret (é difícil esquecer, e sim eu me arrependo)
All these mistakes (de todos esses erros)

I don't know why you're leaving me (eu não sei porquê você está me deixando)
But I know you must have your reasons (mas eu sei que você deve ter suas razões)
There's tears in your eyes, I watch as you cry (há lágrimas em seus olhos, eu assisto enquanto você chora)
But it's getting late (mas está ficando tarde)

olhava para o pequeno palco com olhos arregalados e cheios de lágrimas, ela sabia que aquela música era para ela. Ela sabia que cantava para ela. Ela sabia que tocava para ela. Agora ela podia entender a besteira que tinha feito ao deixar sozinho naquele quarto.

Was I invading in on your secrets? (eu estava invadindo seus segredos?)
Was I too close for comfort? (eu estava perigosamente perto?)
You're pushing me out When I wanted in (você me afastando quando eu queria entrar)
What was I just about to discover? (o que eu estava a ponto de descobrir?)
When I got too close for comfort (quando estava perigosamente perto)
And driving you home (e levando você para casa)
Guess I'll never know (acho que nunca saberei)

As lágrimas foram aumentando. A música era simplesmente perfeita demais, a música era simplesmente tudo que ela sentia. Tudo que sentia.

Remember when we scratched our names (lembra quando escrevemos nossos nomes)
Into the sand and told me you loved me (na areia e você disse que me amava)
And now that I find that you changed your mind (e agora que descubro, que você mudou de idéia)
I'm lost for words (estou perdido nas palavras)

And everything I feel for you (e tudo que eu sinto por você)
I wrote down on one piece of paper (eu escrevi em um pedaço de papel)
The one in your hand, you won't understand (esse na sua mão, você não entenderá)
How much it hurts to let you go (o quando dói eu te deixar)

A garota olhou o pedaço de papel em sua mão e finalmente sentiu coragem para ler o que estava escrito: um coração. Tinha um pequeno coração desenhado, apenas isso. Então entendeu o recado.

Was I invading in on your secrets? (eu estava invadindo seus segredos?)
Was I too close for comfort? (eu estava perigosamente perto?)
You're pushing me out When I wanted in (você me afastando quando eu queria entrar)
What was I just about to discover? (o que eu estava a ponto de descobrir?)
When I got too close for comfort (quando estava perigosamente perto)
And driving you home (e levando você para casa)
Guess I'll never know (acho que nunca saberei)

Por qual motivo ela havia abandonado ? Por culpa da idiota da Chuck? Por que ela tinha abandonado uma chance que estava bem a sua frente? Por que ela não deixou que ele ficasse perigosamente perto?

All this time you've been telling me lies (todo esse tempo você esteve me dizendo mentiras)
Hidden in bags that are under your eyes (escondidas em bolsas que estão debaixo dos seus olhos)
And when I asked you I knew I was right (e quando eu te perguntei, eu sabia que estava certo)
But if you turn it back on me now (mas se você descontar em mim agora)
When I need you most but you chose (quando eu preciso mais de você, mas você escolheu)
Let me down, down, down (me deixar para baixo, baixo)
Wont you think about what you're about (você não vai pensar no que está a ponto de fazer)
To do to me and back down? (comigo e voltar atrás?)

Ele queria ela de volta? Ele aceitaria um mísero pedido de desculpas? Ele era demais para ela? Ele entenderia as razões dela por tê-lo deixado? Ele entenderia o quanto difícil também foi para ela deixá-lo ir embora?
Tudo na mente de rodava, todas as imagens de um passado não muito distante vieram na mente da menina. Todas as vezes que ela e se permitiram ficar perto demais.
Todas as poucas vezes que ele disse para que a amava. E todas as vezes que ela se recusava a dizer o mesmo.
Do que ela tinha tanto medo? De ser rejeitada? De machucar com seu mundo extremamente complicado?

Was I invading in on your secrets? (eu estava invadindo seus segredos?)
Was I too close for comfort? (eu estava perigosamente perto?)
You're pushing me out When I wanted in (você me afastando quando eu queria entrar)
What was I just about to discover? (o que eu estava a ponto de descobrir?)
When I got too close for comfort (quando estava perigosamente perto)
And driving you home (e levando você para casa)
Guess I'll never know (acho que nunca saberei)

A música acabou e a garota já não conseguia mover um músculo. Aquela cena era forte demais.
pensou que perderia o sustento de seu corpo. Suas pernas não suportavam mais o peso de sua mente. Seus neurônios descontrolados já estavam ficando irritantes.
Sentimentos de remorso e culpa invadiram o corpo da garota. Uma vontade enorme de abraçar Mas tinha.
O garoto desceu do palco antes de abandonar sua no chão. Ele foi seguindo em direção à que ainda estava paralisada com a cena.
As pessoas não enxergavam aquela cena que era maravilhada apenas pelos dois. As pessoas estavam ocupadas demais dançando as músicas que o resto da banda tocava.
Então eram apenas os dois. Perigosamente perto.
depositou suas mãos que tremiam no rosto da menina.
Eles eram perfeitos um para o outro, e eles sabiam disso.
- Foi lindo – foi tudo que conseguiu sussurrar, mesmo juntando todas as suas forças que restavam.
Mas ela não precisava formular frases inteiras. a entedia perfeitamente. Era como se ele conseguisse ler a mente dela. Era como se ele sentisse o que ela sentisse.
Perfeitos.
apenas sorria, sorria.
Agora eles fariam o certo.

O pequeno caminho do colégio à casa de foi levado em silêncio. Foi levado apenas por sorrisos, olhares e gestos.
A noite estrelada estava em sintonia com a felicidade do casal.
Pela primeira vez na vida, gostou de um verão.
A porta da casa abriu em silêncio também. Os passos silenciosos pela longa escada foram dados lentamente.
Uma mão segurando a outra. Uma mão na fechadura da porta do quarto de . Uma mão alisando as maçãs do rosto de . Uma mão roçando nos cabelos suados de . Uma mão no zíper do glamuroso vestido vermelho. Duas mãos entrelaçando o pescoço de .
Um vestido caído no chão. Uma blusa caída no chão. Uma calça caída no chão.
As mãos de percorriam docemente pela pele arrepiada da garota. Eles não estavam agindo por impulso. Eles estavam agindo com amor.
Desta vez não estava chorando. Desta vez eles não estavam fazendo nada escondido. Desta vez eles estavam conscientes...
Então eles estavam perigosamente perto, mais uma vez.


Capítulo 12 – Falling in love


acordou silenciosamente como da última vez. Mas agora ela sabia exatamente onde estava e com quem estava.
O som alto do ronco de fez cócegas na barriga da garota e ela teve uma tremenda vontade de rir da cena: deitado abraçado com o travesseiro, roncando e babando.
Ele a lembrava Chuck.
A vontade de rir passou e ela teve vontade de vomitar com essa comparação. A briga com Chuck ainda era recente demais.
Algum dia elas voltariam a ser amigas? desejava que sim.
Mas era algo totalmente fora de nexo. Ela e Chuck eram de mundos completamente diferentes, não falando de modo financeiro.
Chuck era o tipo de garota popular, que era amiga de todas as garotas que odiava. Chuck era invejada por todas as garotas. Chuck era desejada por todos os garotos. Chuck era extremamente glamurosa.
não era nada disso.
Ela não era invejada, tão pouco desejada. Talvez ela fosse glamurosa, talvez ela tenha sido glamurosa em alguma fase de sua vida.
Chuck e simplesmente não combinavam para ser amigas.
Mas dizem que os opostos se atraem, então talvez ainda haja chance para a amizade das duas. Apenas, talvez.
virou de lado e o barulho do ronco aumentou, assustando que até então estava distraída em pensamentos.
A menina se sentou na cama e ficou observando a bagunça do quarto; outra vontade imensa de rir.
era tão atrapalhado e perfeito ao mesmo tempo.
O que diabos ele estava fazendo com uma simples garota como ela?
Talvez ela fosse uma sortuda. Certeza que ela era uma sortuda.
se levantou da cama com o cuidado para não esbarrar em . Ele dormia tão perfeitamente que ela não queria estragar esse momento angelical.
Depois de vestir o seu vestido glamuroso e sua calcinha com desenhos de ovelhas, olhou mais uma vez para o rosto de .
se aproximou da cama e ajoelhou em frente à e ficou ali, apenas o observando respirar. Ele mantinha a boca aberta fazendo um hálito absolutamente agradável percorrer pelo ar entrando nas narinas da menina. Um cheiro diferente, algo parecido com azul com mel e menta. Incrível.
Absolutamente incrível.
A garota deu um beijo estalado e curto na testa do menino sem acordá-lo, se levantou e foi embora.

andava distraída pela rua, a brisa matinal estava absolutamente agradável. Ela teve a impressão de sentir o mesmo cheiro de azul com mel e menta. Os verões não eram tão ruins afinal.
A garota parou hesitante na porta de casa ao encontrar um desconhecido New Beetle amarelo estacionado ali; logo atrás do estiloso carro cor de sol estava um Pajero prata que ela conhecia muito bem – o carro de Alice.
Mas que diabos sua mãe estava fazendo ali? E quem era o dono do carro amarelo berrante?
Um vento frio percorreu por toda a espinha vertebral de . Ela definitivamente estava em apuros.
- Alguém em casa? – batia a porta do Hall de sua casa.
Silêncio.
Tudo que ela ouvia além do batido da porta era um extremo silêncio.
Nada de Jess. Nada de Alice. Nada de Catarina.
Afinal, onde estava todo mundo?
atravessou todo o Hall e a sala de TV atenta até chegar à beira da escada.
Um latido veio do andar de cima. Então Jess ainda estava vivo.
A garota subiu as escadas correndo e seguindo o barulho do latido. Aparentemente Jess estava em seu quarto. abriu a porta rapidamente e se deparou com Alice tirando suas roupas de dentro de seu armário.
Jess continuava latindo em algum canto desconhecido do quarto.
- Mãe? O que você está fazendo com minhas roupas?
Alice olhava para as roupas que eram retiradas do guarda-roupa e colocadas dentro de uma gigantesca mala.
- Mãe? Você está me ouvindo?
deu um passo em direção à Alice e ficou a observando. Por que sua mãe estava chorando?
- Isto saiu fora dos limites, .
! Então ela estava MESMO em apuros. Toda vez que Alice chamava pelo seu nome completo era porque algo ruim estava para acontecer.
- O que exatamente saiu fora dos limites?
Foi uma simples pergunta. Mas a ‘simples pergunta’ alterou o estado calmo de Alice.
- VOCÊ ESTÁ FORA DOS LIMITES! Mas não, eu não vou deixar mais isso ficar assim. O seu vôo para a Califórnia sai em 3 horas e seu pai está lá na cozinha te esperando. E O QUE DIABOS VOCÊ FEZ COM O SEU CABELO?
- O QUE? – gritou com os olhos espantados. Um certo acúmulo de lágrima encheu as bolsas embaixo dos olhos da garota.
Alice estava doida. Era a única explicação! A mãe doida de estava obrigando a garota a morar com seu pai gay. Agora fazia sentido a existência de um carro, mais brilhante que o sol e totalmente... gay, parado em frente à sua casa. Nada mais elegante e glamuroso que um New Beetle para um pai gay elegante e glamuroso. Bem conveniente.
teve uma ligeira vontade de rir, mas se controlou. Afinal, ela tinha que se focar no seu destino – totalmente irritante – que ela teria na Califórnia. Ao menos... se ela pudesse impedir.
- É exatamente isso, , você irá morar com seu pai na Califórnia porque você passou dos limites. O que te deu na cabeça garota? Você acha que pode fazer tudo só por que eu não estou presente? Mas não é bem assim. TUDO tem limite. E o limite meu e do seu pai com você acabou.
- Agora o Georgie é pai? Eu pensei que ele fosse apenas um doador de esperma – cruzou os braços. Ela estava sendo atrevida demais? Talvez sim. Talvez não.
- É exatamente disto que eu estou falando, mocinha – Alice apontava nervosa para sua filha – paciência tem limites. Eu viajo por algum tempo e você pensa que está livre de qualquer responsabilidade. Espero que você saiba que o diretor me relatou sobre a sua ida ao psicólogo. Ele me relatou TUDO! Tudo que a senhorita disse.
Mas que velho careca irritante! teve vontade de dar um soco no diretor baixinho e carrancudo. Se ele estivesse na frente dela ele certamente sairia com um olho roxo. Ou talvez mais roxos pelo corpo todo.
- Mas, mãe...
- Sem mas! Você vai AGORA para o aeroporto. Eu realmente espero que o teu pai te salve dessa má criação. Realmente espero.
teve vontade de chorar. Mas não era choro de desespero, nem de tristeza. Era choro de raiva.


estava naquele lugar pavoroso há somente um dia, mas já era o bastante para ela detestar LA com todos os seus ossos. Maldito sol! Maldita Califórnia!
Ela simplesmente odiava aquele lugar. Tudo que ela odiava tinha naquele lugar: o seu pai estava lá; os verões eram os verões mais longos existentes; lá não tinha vento frio, só tinha brisa de mar - ela definitivamente odeia a brisa quente de mar.
Os dias eram mais longos - incrivelmente mais longos.
O cansaço era maior.
A vontade de fazer nada era, literalmente, maior.
A Califórnia conseguia ser mais irritante que um verão em sua vida.
- Querida, já é meio-dia, está na hora de acordar.
ouvia Georgie batendo na porta de seu quarto. Acordar todos os seus futuros dias naquele quarto vão definitivamente parecer uma constante segunda-feira na vida de ; uma constante e monótona segunda-feira.
Monotonia, credo.
Aquele quarto tinha uma deprimente cor-de-abacate que a irritava.
Ela precisava desesperadamente sair dali. se levantou da cama e procurou por qualquer roupa apresentável que tivesse.
Um biquíni e um vestido simples seriam suficientes para encarar o sol de meio-dia. Como ela odiava o sol.
- Pai, eu vou dar uma volta na praia e já volto, ok?
- Não demore, o jantar sai às seis, querida, e eu ficaria muito feliz se você jantasse comigo e Apolo.
Georgie era mais comunicável do que pensou que ele fosse.
Ele era menos gay do que pensou que ele fosse – apesar de ele ter o carro mais brilhante de toda a costa da Califórnia.
Ele era menos complicado do que pensou que ele fosse, e ele era menos rigoroso do que ela e Alice pensaram que ele fosse.
Apolo, no entanto, era um pouco irritante. Apolo: namorado de Georgie.
Como era estranha e nova essa situação.
gritou algum ‘ok’ para seu pai antes de sair pela porta dos fundos da casa.
Na Califórnia a vida era mais simples e menos glamurosa. As casas eram diferentes e extremamente chamativas. Ao sol de meio-dia uma simples casa amarela fazia doer as vistas, os raios ultravioleta refletindo no amarelo transformavam a casa em um amarelo berrante. Assim como o New Beetle de seu pai. Ela definitivamente odeia o amarelo – pelo menos agora ela passou a odiar.
avistou o grande azul que não estava muito distante, de repente ela se lembrou da única coisa boa que a agradava ali: o mar.
A garota correu pelo resto do asfalto quente e diminuiu a velocidade quando chegou à areia. tirou os chinelos e sentou ali mesmo.
Aquela imensidão azul era quase tão bonita como a neve em um inverno de Londres. Aquela imensidão azul a fazia, por ao menos um instante, não se arrepender de estar ali. fechou os olhos. Talvez a brisa quente do mar não fosse tão irritante.
A garota deitou ainda de olhos fechados e ficou apenas respirando. Por um instante ela podia jurar ter sentido o cheiro de . O cheiro de azul com mel e limão.
Definitivamente aquele ar da Califórnia era menos poluído que o ar de Londres.
Definitivamente aquele lugar era menos barulhento que Londres.
Definitivamente aquele lugar era calmo o bastante para .
Ela abriu os olhos ao ouvir o grito de alguma criança. Provavelmente uma mãe desnaturada havia deixado o filho entrar sozinho no mar e agora ele estava se afogando.
Em menos de um minuto o mar foi invadido por um surfista que nadava em cima de uma prancha em direção ao pequeno garoto de aproximadamente 7 anos de idade. Aquele surfista devia ser o salva-vidas da praia.
O menino já se encontrava salvo na areia e pôde enxergar melhor o rosto do moleque. Ele era tão incrivelmente parecido com o pequeno que a garota até se espantou e ficou consideráveis minutos com a boca aberta tentando achar algua explicação humanamente possível para a notável semelhança.
Não conseguiu achar, o máximo que fez foi lembrar de seu querido , o qual ela foi obrigada a abandonar sem ao menos dizer um adeus, ou coisa parecida.

Flashback (on)

- Hey, , você é muito lerdo! – a pequena de 6 anos de idade ria e corria do pequeno de 7 anos de idade.
- Eu vou te alcançar e você vai ter que me dar um sorvete! – deu língua agarrando o braço de .
- Hey! Eu não vou te dar sorvete, me larga, !
- Espera – soltou o braço da garotinha e se sentou na areia – Olha o que a mamãe me ensinou.
O garoto usou o pequeno dedo indicador para fazer traços na areia formando o seu nome.
- O que é isso? – sentou ao lado do garoto e fez uma cara curiosa.
- É o meu nome! – ele disse sorrindo – Quer escrever o seu?
- Pode escrever na areia? – o olhou confusa.
- A mamãe disse que sim, porque depois o mar apaga.
- Mas eu não sei escrever o meu nome – a garotinha o olhou triste e segurou a sua mão.
- Eu te ajudo! – ele sorriu pegando no dedinho da garota e fazendo os mesmos traços, só que agora formando o nome dela – Agora os nossos nomes estão juntos, viu?
- Mas eu não quero que o mar apague.
- Eu também não – ele sorriu e sorriu também o abraçando – Eu amo você, .
- Eu também.

Flashback (off)


piscou os olhos ao se lembrar da primeira vez que foi ao mar com . Era tudo tão fácil quando eles eram pequenos. Por que as coisas não podiam ser como antes?
poderia estar ali ao seu lado escrevendo os seus nomes na areia, não poderia?
Os neurônios da garota se agitaram e ela xingou-os mentalmente, o delicioso aroma de ficou mais forte e o coração da garota cambaleou um pouco. Sua imaginação era féritl o suficiente para simular aquele cheiro? Provavelmente.
Ah, como faz falta, e como ela queria que ele estivesse ali para eles dividirem a vista.
lamentava muito a verdade. A dura verdade que mais uma vez a distância havia vencido os dois. Eles eram fracos demais para isso, assim como a pequena e o pequeno também eram.
Finas lágrimas escorregavam pelas maçãs do rosto da garota.
Ela precisava fazer alguma coisa. Ela precisava falar com que ela o amava e que ele fazia falta. Ela precisava lamentar pela distância com .
Ela definitivamente precisava LIGAR para ele.
levantou da areia e correu em direção à primeira lanchonete que havia ali.
- Com licença, senhor?
Um loiro aparentemente velho olhou para a menina e logo reconheceu o seu sotaque.
- Esses londrinos acham que podem invadir a nossa praia.
O velho bufou.
- Eu posso usar seu telefone? – apenas ignorou o mau humor do senhor.
- São três dólares.
tirou algum dinheiro que havia pegado antes de sair de casa - por segurança - e entregou ao tal loiro.
O velho resmungou algo e foi atender um cliente que estava berrando já há muito tempo.
Depois os londrinos que são sem educação.
discou o número, que por alguma razão ela sabia de cor.
O telefone chamou, chamou, chamou... Chamou até ouvir a irritante voz da secretária eletrônica. Mais algumas tentativas e a irritante secretária atendia ao telefone mais uma vez.
Então era isso. A garota era fraca demais para lutar contra um oceano inteiro.
De repente a imensidão azul não era tão bonita. suspirou.
Ela queria ter se apaixonado.
Ela poderia ter se apaixonado.
Eles poderiam ter se apaixonado.


Capítulo 13 - Corrupted


chegou em casa arrastada.
Era nessa hora que Jess viria correndo em direção à menina. Era nessa hora que Catarina apareceria aflita querendo saber onde a garota esteve até as 7 horas da noite. Mas, naturalmente, nada disso aconteceu.
Então eram 7 da noite e ela estava em apuros. Georgie provavelmente lhe passaria um sermão dizendo que era obrigação dela chegar em casa às seis da tarde. Mas não era culpa dela se havia adormecido por cansaço na areia da praia. Aquele fuso-horário e outras coisas a mais estavam matando-a.
- , finalmente! – Georgie apareceu ainda na entrada da casa – eu espero que você não se atrase novamente amanhã.
- Eu não vou pai.
Era tão complicado chamá-lo de pai.
- Ótimo, ótimo. – Georgie dava tapinhas hesitantes nas costas de , para ele também era complicado ter uma filha – Antes de irmos para a sala de jantar eu tenho que te falar uma coisa.
Georgie segurou os ombros da filha fortemente, levantou um pouco o rosto para enxergar melhor seu pai. Assim como , Georgie também era mais alto que ela. Tão humilhante.
- O Apolo tem um filho da sua idade, então ele veio morar aqui com a gente também. Eu preciso que você se comporte, sem grosserias ou... Qualquer coisa do tipo – o pai de tinha complicações para falar diretamente com a menina.
- Tudo bem, pai.
- E a propósito, ele se chama Nestor.
Puta que pariu!
- Que nome estranho para um garoto.
- Eu sei, eu sei. Mas eu já disse para você tratá-lo normalmente.
- Tudo bem, pai - a garota afirmou aereamente, tentando imaginar como deveria ser o garoto.
Provavelmente uma aberração, com um nome desses afinal, e como Georgie dizia que ela deveria 'tratá-lo normalmente'. Estranho.
Georgie foi andando em direção à sala com atrás dele.
- Oh querido, você a encontrou! espero que não se incomode, mas já jantamos. Como você demorou demais e o Nestor estava com fome por causa da viagem...
não conseguia ouvir mais uma palavra do que o namorado gay de seu pai estava dizendo quando ela percebeu quem estava sentado no sofá.
Ned estava sentado no sofá com uma cara angelical e a olhando sugestivamente. Puta que pariu! Ned era a merda do filho de Apolo. Ned era Nestor.
Ela podia perceber agora porquê ele sempre se recusava a dizer o seu verdadeiro nome para a garota. Quem não teria vergonha de se chamar Nestor? Um nome absolutamente horrível.
- Pai, eu vou na cozinha ver se acho algo para comer – disse ainda com os olhos fixos em Ned.
- Sim, querida! Nestor, acompanhe a minha filha para vocês se conhecerem melhor!
- Sim, senhor.
Ned se levantou do sofá e foi até , empurrando-a pela cintura. Antes de deixarem o aposento, pôde escutar algum comentário de seu pai do tipo: que garoto educado.
sentia suas pernas bambas como toda vez que sentia quando Ned e seus braços fortes a envolviam pela cintura. A garota se soltou do amigo e abriu a porta da geladeira à procura de algo comestível.
Na casa de seu pai era mais fácil achar comida do que em um supermercado. Um luxo que ela nunca teve em sua casa.
pegou alguns sanduíches de Atum e um pote de nutella antes de se sentar no gigantesco balcão da cozinha e repousar os pés sobre o banco - nunca foi uma garota tão educada, ou se preferir: ela nunca gostou muito de seguir os padrões normais das coisas.
- Você pretende comer três sanduíches sozinha?
balançou a cabeça afirmamente já que estava com a boca cheia de atum.
- Sempre me surpreendendo, hein – Ned riu um pouco e se sentou ao lado da garota.
engoliu o grande pedaço rapidamente e se engasgou um pouco. Ned riu ainda mais pela gula da amiga.
- Você que me surpreende. Por que nunca me disse que tinha um pai gay que era namorado do meu pai?
Ned riu um pouco com o comentário.
- Você nunca me perguntou.
Então ele estava fazendo aquele gesto irresistível de soprar a franja e engoliu alguns suspiros.
- Que resposta idiota, garoto – deu soquinhos no ombro forte do amigo – Então foi para cá que você veio no inverno passado?
- Foi sim, broto – Ned mordeu um pedaço do sanduíche da garota arrancando uma cara feia da mesma – deixa de ser egoísta, eu estou com fome.
- Tem mais na geladeira – afastou o sanduíche e apontou significamente para a geladeira.
Ned deu língua.
- Gulosa.
- Ned, por que você nunca me disse nada disso?
O garoto revirou os olhos.
- Pelo simples fato de que eu tinha vergonha, ok? Não é todo garoto que se orgulha de ter um pai homossexual. E eu também não tive oportunidade, já que ele me obrigou a vir morar com ele aqui no ano passado.
- Então foi por isso que você sumiu no meio do semestre? – já abria o potinho de nutella.
- Foi. Então eu convenci ele a me deixar voltar no início do ano, daí eu liguei para você mas não consegui falar nada. Você estava estressada no telefone.
- Espera, quando foi isso? – tirou a atenção do chocolate e encarou Ned.
Talvez ela tenha o encarado por tempo demais, porque a boca ne Ned parecia ser algo absolutamente apetitoso - ou talvez ela apenas esteja com muita fome.
- Eu acho que logo na primeira semana das aulas.
- Oh!
Então foi Ned que ligou para a naquele sábado entediante que ela e Chuck gastaram vendo inúmeros filmes de Johnny Depp. No mesmo sábado que e se beijaram ‘acidentalmente’.
Os malditos neurônios voltaram a se agitar e apenas os ignorou. Merda de tecido nervoso.
- Mas espera, meu pai sabe que você é o Ned?
- Como assim?
- Tecnicamente eu estou aqui porque parte da culpa é sua. Minha mãe ficou sabendo daquele episódio da sala e...
- Hmm, não, ele não sabe que eu sou Ned. Na verdade, nem o meu pai sabe que eu sou conhecido na sociedade como Ned, ele acha tão ‘luxuoso’ o nome Nestor. E isso me dá náuseas.
- Oh, adorei a imitação homossexual – riu ao ver o amigo imitando o seu padrasto falando.
Ned sorriu meio tímido.
- Eu estava com saudades, , desde a festa da banda do seu amigo que eu não te vi mais.
Ned não estava ajudando em nada mencionando fatos que envolvem . Malditos neurônios descontrolados.
- Eu também estava com saudades, Ned.
deu um beijo estalado na bochecha do amigo e finalmente voltou a sua atenção para o grande pote de nutella à sua frente.


Os raios de sol já não a incomodavam mais como há oito semanas, tão pouco o medonho verde-vômito-abacate de seu quarto.
Agora tinha Ned como sua neve particular.
Agora era quase uma nuvem nebulosa que estava parcialmente apagada no canto de seu cérebro.
tinha que esquecer : fato.
não iria mais voltar para Londres tão cedo: fato.
não retribuía suas ligações: fato.
Então por que ela deveria ficar tão mal? Por que ela deveria se sentir tão mal? Por que ela se permitia ficar naquele tenebroso estado?
O fato é que ela não iria ficar daquele jeito mais.
A garota se levantou de sua enorme cama king size e enfiou os pés na pantufa de macaco que se encontrava ao lado da cama, vestiu seu vestido de verão favorito (interprete o ‘favorito’ como quiser) e desceu as escadas correndo. Milagre foi não ter rolado escada abaixo graças à pantufa que não tem antiderrapante.
- Bom dia, pai! – apareceu na cozinha com um enorme sorriso no rosto.
Provavelmente o sorriso seria maior se ela tivesse café correndo pelas suas veias. Mesmo com todo o calor da Califórnia, não conseguia ficar sem a sua adorável e viciante cafeína.
- Olá, querida! O Apolo e eu vamos sair pra fazer compras, você se importa de ficar com o Nestor sozinha? Mas eu acho que ele ainda está dormindo.
A palavra ‘querida’ lembrava muito Alice, não gostava dessa pequena lembrança.
- Tudo bem, pai.
- Oh, que ótimo! Eu fiz panquecas, tudo bem para você?
apenas balançou a cabeça assentindo.
Era nessa hora que ela sentia mais falta de Jess, se seu cachorro estivesse ali ele provavelmente ingeriria as panquecas terríveis que Georgie faz. Seu pai não é nada bom na cozinha, e ele simplesmente não consegue encarar esse fato.
Apolo apareceu na cozinha com seu cabelo loiro típico de surfista. Ele era tão enjoadamente gay.
- Bom dia, querida.
- Oi – definitivamente não ia com a cara do namorado de seu pai.
- Então, meu amor, a gente volta mais tarde, ok?
Georgie deu um beijo na testa da filha antes de sair da casa com Apolo.
Um suspiro de alívio ao ouvir a porta se fechando.
Um suspiro de alívio ao ver a cozinha sendo ocupada apenas por ela.
Vários pensamentos maldosos sobrevoaram a mente da garota, ela poderia acordar Ned jogando ovos nele, ou quem sabe o obrigando a comer a terrível panqueca com gosto de chulé, ou quem sabe algum plano mais maligno que esses.
ligou a cafeteira e sentou na bancada esperando seu café ficar pronto. Como aquela porcaria era lerda.
Dez minutos depois e a cafeteira ainda produzia barulhos estranhos, mas nada de café. Ela poderia muito bem fazer café no jeito tradicional se ela soubesse como - realmente Catarina fazia falta.
A garota saiu da bancada e ficou parada em frente ao eletrodoméstico, olhando-o com cara suspeita. Aquela coisa iria explodir?
- Hey, Broto!
Puta que pariu, Ned! deu um salto enorme indo parar do lado da geladeira, às vezes ela se esquecia do quão silencioso Ned poderia ser quando quisesse. Mas ele realmente queria ser silencioso já que só tinha os dois na casa?
- Te assustei? Desculpa – o garoto deu alguns risos mostrando sua arcada dentária extremamente perfeita.
- Tá.
Tudo que conseguiu pronunciar foi um simples e inútil "tá". Ok, talvez o "tá" fosse até grandioso demais já que Ned se encontrava confortavelmente parado na porta da cozinha usando apenas uma samba-canção incrivelmente apertada.
Ele tinha idéia do que a sua falta de roupa causava no estado emocional e físico da garota? Acho que não.
- Então, o que temos para o café da manhã? Panquecas sabor chulé de novo?
Ned se sentou no banco da cozinha.
- Hm, talvez você queira trocar de roupa antes de comer.
tentava não olhar para o seu amigo extremamente apetitoso e semi-nu.
- Hm não, eu tô bem assim. Hey, o que aconteceu com a cafeteira? – Ned apontou para a coisa que ainda fazia barulho.
- Eu acho que quebrou.
engolia sua baba enquanto Ned se levantava do banco indo em direção à "coisa que fazia barulho".
- Outch! Tá muito quente!
O garoto encostou a mão no eletrodoméstico e se afastou rapidamente. foi andando curiosa até a cafeteira.
- É, parece que não vai ter café pra mim hoje. Droga!
A "coisa que fazia barulho" soltou uma ligeira fumaça e o barulho aumentou mais.
Ned esticou a mão hesitante desligando a cafeteira da tomada. A "coisa" soltou mais um barulho e silenciou.
O silêncio aumentou mais, era quase tão irritante quanto o antigo barulho que a cafeteira fazia anteriormente.
- Então... – Ned começou alguma frase tentando quebrar o silêncio – por que você tá tão quieta, ?
O silêncio continuou, olhava fixamente para os olhos negros de Ned. Talvez não tão fixamente já que ela alternava seu olhar dos braços do garoto até os olhos do garoto. E claro que também dava uma espiada no volume entre as pernas, afinal, não tem mal algum olhar, certo?
Pelo amor de Deus! Ela também tem as suas curiosidades (necessidades).
se sentia no mínimo estranha. Uma vontade enorme de se jogar naqueles braços fortes percorreu como um choque no corpo da menina. Por que ela precisava tão desesperadamente daquele menino? Ela deveria cometer o mesmo erro que cometeu naquela sala de arquivo há um ano?
Ela estava praticamente mergulhando pela pele do garoto apenas com os olhos. Era como se ela estivesse batendo contra a parede tentando atravessá-la. Era como se ela quisesse urgentemente ser corrompida.
Mas era isso que ele queria?
- ? Você tá bem?
Ned era bom demais. Tão bom que ela sentia como se precisasse abusar do garoto. Sentimento estranho, apetitoso. Essencial.
- Ned, eu estava pensando... – deu um passo em direção a Ned, que ainda a olhava interrogativo – naquele dia na sala de arquivo.
Outro passo em direção a Ned, só que dessa vez o passo foi maior.
Ela estava sendo tão abusada. E ela gostava disso.
- Ah sim. Eu também estive pensando nisso.
Foi tão rápido que saiu completamente do controle dos dois.
Em menos de meio segundo já se encontrava enroscada nos braços tão desejados por ela.
As mãos maliciosas da garota percorreram pelo corpo de Ned até pararem no elástico de sua samba-canção que desejava desesperadamente tirar dali. Os lábios perfeitos de Ned deixavam marcas no pescoço da menina e suas mãos seguravam fortemente a pequena cintura de .
Os dois saíram se arrastando em meio a tropeços para o quarto de Ned.
Um momento de lucidez em meio a tanta urgência surgiu na cabeça de . Ela definitivamente não conseguia se lembrar como essa bagunça toda começou. Foi quando Ned entrou pela primeira vez na vida de ? Foi quando eles estavam na pequena e abandonada sala?
É, talvez fosse culpa daquela sala. Foi naquela sala que o conto-de-fadas que era a vida da garota mudou e decaiu, foi lá que a "inocência" se quebrou. Por mais ridículo que possa soar.
tentava entender como eles haviam chegado àquele ponto. Mas o seu pequeno surto de lucidez foi apagado pelo pequeno gemido que saía abafado de sua boca.
Foda-se, ela definitivamente queria ser corrompida por Ned.


Capítulo 14 – Surfer Babe


Finalmente o fim do verão estava chegando. Finalmente o outono estava chegando - não que fosse fazer muita diferença já que o verão é eterno na Califórnia.
O despertador novo de fez um barulho alto e cambaleou um pouco na sua estante. Maldito trabalho.
Sim, agora era obrigada a trabalhar se ela quisesse comprar o seu tão desejado All Star amarelo – incrível como o ponto de vista dela em relação à cor amarela mudou com a simples prescença de Ned.
Logicamente a "grande ideia" de fazer a pobre gastar os seus dias inteiros em uma pizzaria engordurada foi de sua mãe. O que é ÓTIMO, ela realmente precisava gastar horas de sua vida em um lugar que a lembrava . Valeu, mãe.
vestiu seu horrendo uniforme cinza e amarrou o cabelo em um rabo de cavalo alto. Definitivamente cinza não era sua cor. Bom, pelo menos não era cáqui.
- Tchau, pai!
ia abrindo a porta de casa quando foi parada por um berro alto de Georgie.
- FILHAA!
- Que foi, pai? – apareceu na cozinha com olhos arregalados. Seu pai havia destruído o forno novamente em uma tentativa frustrada de fazer bolo?
- Não vai tomar café, querida?
- Hm, não, obrigada – a garota olhou meio torto para Georgie. Ele nunca se preocupava se o estômago de sua filha estava cheio ou não – exceto às vezes que ele tentava "envenená-la" com uma de suas famosas panquecas-chulé.
- Tudo bem. Querida, não volte antes das 7 horas, ok?
- Ok. Tchau, pai.
A garota jogou sua mochila nas costas e saiu de casa.


Certo, All Star’s amarelos definitivamente não valiam o esforço. Quem foi que disse que os londrinos são mal educados não conhece os californianos. Pelo amor de Deus, a lixeira está ali para ser usada como LIXEIRA, e não como cesta de bola de vôlei, ok?
- Desculpa, moça – um garoto extremamente lindo e enjoadamente loiro pegou a bola no cesto de lixo. Ele provavelmente era o dono da bola.
- Ok – sorriu. Ser educada às vezes é bom para a pele.
- Oh, então você não é daqui!
Como, alguém é capaz de perceber o sotaque de uma pessoa com um simples "ok"? Talvez o garoto tenha feito algumas aulas com Henry Higgins, ou ele apenas a tenha confundido com Eliza Doolittle.
Porque Audrey Hepburn é sempre cultura, claro.
- É, culpada - franziu a testa e ergueu uma de suas sobrancelhas.
- Inglaterra?
- Aham, Londres.
- Nossa, cara! Meu primo mora lá!
Sorrindo e sendo educada, como sempre.
- Legal.
passava pano no balcão do Donnas’ Pizza. Até aquele momento e lugar ela pensava que não existia outro mais sujo que a sua própria cozinha de sua antiga casa. Errada.
- Hey, Stue!
ergueu a cabeça olhando para o garoto que berrou.
- Hey, Ned.
O que Ned estava fazendo ali?
- Então, você conheceu a minha namorada?
Namorada? procurou por seu cérebro alguma memória de Ned a pedindo em namoro. Não havia nenhuma; Ned estava louco. Absolutamente louco.
- É, eu deixei a minha bola cair aqui na lixeira. Mas eu já tô indo. A gente se vê, cara!
- OK! – o garoto acenou, vendo Stue se afastar.
- Desde quando eu sou sua namorada?
- Não sei – Ned deu de ombros sentando no banco em frente à bancada.
- Então você não deixa ninguém se aproximar de mim, e ainda por cima não é meu namorado. Desse jeito eu morro encalhada, garoto – sorria mais para Ned que a olhava com cara séria.
- Hm, não.
- Sei, sei – a garota voltou a limpar a bancada ainda sorrindo. Era impossível controlar um sorriso quando Ned estava por perto.
- Sabe, eu não tenho culpa se todos os garotos da Califórnia te acham gostosa. Eu só estou te protegendo dos piores tipos, ok?
deu um tapa no braço de Ned, que riu.
- Ok, ok. Bravinha. Então, falta quanto tempo pra você ser liberada desse trabalho escravo?
A garota virou o rosto olhando para o relógio. Faltavam quinze para as quatro da tarde.
- Hmm, três horas.
olhou com cara de preguiça para seu amigo que abriu um sorriso largo.
- Não, a gente vai agora.
- Você tá louco?
- Não, eles já tiraram 4 horas do seu precioso dia. Então vamos logo que depois eu converso com seu gerente.
- Você é definitivamente louco! Mas eu gosto – sorriu e Ned assentiu – Espera que eu vou trocar de roupa.
A ideia de ter que brigar com seu chefe por causa da sua saída antecipada era tão ruim quanto ficar ali.
A garota foi correndo em direção ao nojento banheiro da lanchonete e dez minutos depois voltou usando um biquíni por baixo de seu vestido preferido de verão.
- Adoro esse seu vestido – Ned deu uma piscada e gargalhou alto.
- Vamos logo, seu estranho! – a garota deu um tapa no ombro do amigo e os dois correram em direção à praia.
- Hey, eu sempre quis aprender a surfar – dava um gole em sua coca e olhava para o mar.
- Ah, meu Deus! Tem quase três meses que você mora aqui, e até agora não sabe surfar?
o olhou com cara feia.
- É lógico que não! Ninguém nunca me ensinou, idiota!
- Ok, levanta a bunda gorda da areia que eu vou te ensinar.
- Você? – apontou para Ned e riu com descrença – Aham, sei, sei.
- Eu SEI surfar, ok?
- Tudo bem, senhor eu-ACHO-que-sei-surfar.
Algumas tentativas totalmente frustradas de surfar foram dadas até o sol começar a se pôr. definitivamente não era boa surfista. E Ned também não.
- Caramba, o mar cansa! – se jogou na areia ainda molhada com a água do mar.
- É eu sei – Ned deitou ao lado da menina.
Silêncio.
- Sabe, , quando eu disse pro Stue que você era minha namorada... Não seria tão ruim, seria?
- O quê?
virou o rosto olhando para Ned. Depois daquele fatídico dia em que e Ned estavam sozinhos em casa, eles nunca mais ficaram juntos. A menina chegou a pensar que não fazia o tipo de Ned, já que ele era um garoto extremamente popular, lindo, simpático... e os braços! Céus, os braços de Ned!
- Hm, a gente... namorar, eu acho.
- Você quer namorar comigo? – tentava formular as frases que Ned não conseguia.
- É, isso aí.
- Hm, tudo bem então.
- Então a gente tá namorando, broto?
riu com a cara marota que seu namorado fez. Então ele era seu primeiro namorado.
Sensação estranha.
Ela definitivamente não gostava da palavra namoro, mas quando ela envolve Ned e seu sorriso, fica impossível não gostar.
- É, eu acho que sim.
Ned soprou a sua franja e deu um sorriso para .
- A propósito, feliz aniversário, broto!


Capítulo 15 – I Wanna Hold You


havia esquecido completamente que hoje era seu aniversário. Ela nem se lembrava mais de comemorar os aniversários. Alice nunca estava em casa, e Chuck sempre viajava nos verões. Então qual era a graça de comemorar uma data supostamente especial?
O seu aniversário de 17 anos ela "comemorou" com Jess, os dois ficaram comendo pizza e assistindo Gilmore Girls. Bem comum, não é mesmo.
O seu aniversário de 16 anos ela "comemorou" com Catarina e sua filha, Angelita, que resolveu passar as férias com a mãe. A Angelita era uma garotinha chata e nojenta. nunca entendeu como Catarina conseguiu ter uma filha tão chata já que ela é até legal.
O seu aniversário de 15 anos ela não comemorou já que uma espinha simplesmente enorme tirou o seu ânimo de fazer qualquer coisa.
Os outros aniversários foram comemorações monótonas. Exceto é claro os de 1 aos 11 anos, já que sua mãe ainda ficava em casa e ela tinha um pai e um amigo.
olhou a sua casa, todas as luzes estavam apagadas. Provavelmente Georgie tinha organizado alguma festa surpresa.
A garota girou a maçaneta da porta com um Ned que ria baixinho atrás dela.
- SURPRESAAA!
Georgie, Apolo e Alice berraram juntos e Jess latiu.
- JESS! - correu até o cachorro e o abraçou apertado. Como ela sentia falta daquela bola de pêlos e baba – Oh mamãe, você trouxe o Jess.
- Sim, querida, eu resolvi deixá-lo com você por alguns dias.
A falta de pessoas naquela enorme sala de estar não impressionou . Ela era uma garota totalmente anti-social, ela sempre foi assim. Já fazia um longo tempo que ela estava vivendo com seu pai e a única amizade que ela fez foi com Ned. Na verdade Ned já era seu amigo, então ela simplesmente não conseguiu se relacionar com mais ninguém. A não ser seu gerente, é claro.
adorava xingar seu gerente pelas costas. Era tão divertido.
- Vamos abrir os presentes, querida!
Georgie estava dando um surto totalmente gay enquanto pulava e batia palminhas.
- Tudo bem, pai – rolou os olhos tentando prender o riso. Alice e Ned também.
Os quatro – e o cachorro - seguiram Georgie que andava animadamente em direção à garagem.
- Eu pensei em comprar algo útil para os seus 18 anos.
congelou na porta da garagem quando ela viu um embrulho enorme com um laço gigante.
O seu pai estava dando um carro para ela?
- Espero que você goste, querida – Georgie tirou o embrulho do New Beetle rosa.
Sim, era um New Beetle ROSA. Extremamente e berrantemente rosa.
Um presente inconvenientemente conveniente em se tratando de Georgie.
cogitou a ideia de seu pai estar dando o presente mais para ele do que para ela, porque definitivamente ela NUNCA iria andar naquilo.
- Hm, pai... – Georgie olhou para a filha com os olhos cheios de expectativa. podia ver com o canto do olho um riso crescendo na face de Ned – é bonito.
- Jura, querida? Oh, eu achei a sua cara.
Georgie sorria olhando para o carro e dava tapinhas no capô do mesmo.
- Por que você não vai dar uma volta com ele, ? – Ned olhou para a menina com os olhos cheios de lágrima de risos. Ele estava mesmo se esforçando para não gargalhar na frente de Georgie.
- Hm, é uma boa ideia, Nestor - Alice olhou para a filha, ela também estava com olhar de expectativa.
olhou feio para Ned. Como ela desejava chutar a fuça de seu namorado. Com um namorado desse, quem precisa de inimigo, não é mesmo?
- Ah, só se o Nestor me fizer companhia. Afinal, eu ainda não sei dirigir.
Ned engasgou. Rapidamente a sua vontade de rir passou.
- Hmm... Eu quero comer bolo. Melhor deixar pra depois.
Ned disse ainda se engasgando.
- Tudo bem, querida, depois eu te ensino a dirigir. – Georgie passou o braço pelos ombros da filha – Vamos partir o bolo!

x :: x

Nada como um domingo fim de outono para descansar. Nada como uma chegada do inverno e um dia inteiro de folga para fazer o que quiser. E não há nada melhor do que fazer algo que você REALMENTE gosta de fazer.
Na casa de Georgie os lugares que mais gostava eram a cozinha e a sala de TV. A cozinha por causa do óbvio: lá tem cafeteira - ou pelo menos tinha antes do eletrodoméstico quebrar, mas nada que uma cafeteira nova não resolva o problema. O segundo lugar preferido era a sala de TV. Motivo: lá tem uma TV enorme de plasma.
tem uma certa queda por TV’s de plasma que têm como acompanhamento um Home Teather.
Mas naquela noite tinha um motivo especial para gostar daquela maravilhosa TV.
- Ned, eu tô com fome!
- Calma, eu já pedi comida japonesa. Daqui a pouco chega.
A campainha tocou.
Ned e sua capacidade de prever o futuro.
Minutos depois os dois já se encontravam sentados no aconchegante sofá em frente à maravilhosa TV comendo shushi’s e qualquer coisa que tenha a ver com a comida japonesa.
Não há nada como um domingo de folga sem seu pai e seu padrasto gay em casa, e para melhorar: um sushi de almoço.
- Ah, que droga, não passa nada de bom na TV.
A garota apertava o botão do controle compulsivamente.
Definitivamente a programação da Inglaterra era melhor.
- Hey! Coloca na Warner de novo, tá passando Friends – Ned apontava para TV enquanto engolia algum peixe cru.
Comida japonesa faz mal para o cérebro do garoto, ou é apenas algum comentário à parte. Porque é óbvio que não queria assistir Warner Chanel, ela se lembrava muito bem de um antigo amigo que amava Friends. poderia ser uma nuvem nebulosa que estava parcialmente apagada no canto de seu cérebro, mas ainda era uma nuvem.
Fato.
- Mas que droga, garota! Eu gosto de Friends, ok?
deu língua para Ned que reclamava porque ela não havia atendido ao desejo de seu namorado de ver Friends.
Como a TV californiana era chata. Eles podem gostar de um canal de fofocas como o E! ou daquele médico cirurgião de Beverly Hills, mas não. Bisturis a davam náuseas.
passava os canais sem prestar muita atenção na tela da TV, mas uma voz extremamente familiar chamou a atenção da garota.
A boa notícia para quem tem Home Teather: você pode ouvir tudo, mesmo que você esteja com a cara enfiada na caixa de comida japonesa.
A garota levantou a cabeça rapidamente e olhou fixo para a mulher que aparecia na tela: Fernie.

- Então, hoje nós temos uma atração inédita: uma banda que conseguiu chegar às primeiras paradas em uma semana, e esse foi apenas o primeiro single. É a banda pop/rock inglesa do momento, com vocês McFLY!

poderia reconhecer aqueles quatro garotos; ela realmente estava vendo , Tom, e na TV.
A garota olhou interrogativa para Ned.
- É, o seu pai conseguiu comprar esse canal britânico pra você. Ele não te disse?
balançou a cabeça negativamente e voltou a olhar para a televisão. Era a primeira vez na vida que ela tinha vontade de chorar assistindo CD:UK.

- Hey, Fernie! – Tom começou a falar animado, ele parecia adorar estar ali – É um prazer para a gente estarmos aqui!
- Então me contem desse novo single, parece que vai fazer mais sucesso que Five Colours In Her Hair!
- A gente espera que sim
sorriu e podia sentir o seu coração dar um giro. Maldita sensação. Malditos neurônios. Maldito cheiro de azul com mel e limão.
- Então como chama essa nova música?
- Ela se chama I Wanna Hold you
dizia tão animadamente quanto Tom.
- E parece que a letra tem alguma história especial. Tem mesmo garotos?
Os três garotos e Fernie olharam para . O garoto ficou vermelho em questão de segundos.
- Ah, mais ou menos.
- Ok, sem mais demora. Vão fazer o que vocês sabem fazer, garotos!

A banda se levantou do sofá e seguiu para o palco montado.
Um solo de guitarra começou a tocar e a plateia gritou. Já era costume de ouvir berros quando se tratava dos garotos tocando. Eles eram simplesmente perfeitos.
Ela só não esperava ouvir os berros de novo tão cedo.

Tell me that you want me baby (me diga que você me quer, baby)
Tell me that it's true (me diga que é verdade)
Tell me that you need me so much more than I need you (me diga que precisa de mim muito mais do que eu preciso de você)
Tell me that you're happy, honey (me diga que você está feliz querida)
Tell me that you're fine (me diga que você está bem)
Say when you're without me you can't get me off your mind (diga que quando você está sem mim não consegue me tirar da sua cabeça)

I wanna hold you (eu quero te abraçar)
Girl, won't you take me back? (garota, você não me aceitaria de volta?)
I wanna hold you bad (eu quero muito te abraçar)
Just tell me that you'll understand (só me diga que você vai entender)
I wanna hold you bad (eu quero muito te abraçar)

Tell me why you left me, baby (me diga por que você me deixou, baby)
Tell me what to do (me diga o que fazer)
Tell me what you hate and I will change the world for you (me diga o que você odeia e eu mudarei o mundo para você)
Won't you say you miss me, honey? (você não vai dizer que sente minha falta, querida?)
To heal my broken heart (para curar meu coração partido)
I know you'd like to kiss me and it's tearing me apart (eu sei que você gostaria de me beijar e isso está me deixando em pedaços)

I wanna hold you (eu quero te abraçar)
Girl, won't you take me back? (garota, você não me aceitaria de volta?)
I wanna hold you bad (eu quero muito te abraçar)
Just tell me that you'll understand (só me diga que você vai entender)
I wanna hold you bad (eu quero muito te abraçar)

Now I know (agora eu sei)
This feeling's getting stronger (esse sentimento está se fortalecendo)
And it's growing everyday (e crescendo a cada dia)
And I can't resist much longer (e eu não consigo resistir por mais tempo)
I am so Sorry 'cause I was wrong, girl (eu sinto muito, porque eu estava errado, garota)
And since you left my days go on and on (e desde que você me deixou meus dias continuam)
They go on (eles continuam)
They go on, and on, and on (e continuam, continuam, continuam)

I wanna hold you (eu quero te abraçar)
Girl, won't you take me back? (garota, você não me aceitaria de volta?)
I wanna hold you bad (eu quero muito te abraçar)
Just tell me that you'll understand (só me diga que você vai entender)
I wanna hold you bad, bad, bad (eu quero muito, muito, muito te abraçar)
And I hope you understand (e eu espero que você entenda)
I wanna hold you bad (eu quero muito te abraçar)

Ou a imaginação de era extremamente fértil ou aquela música era literalmente uma indireta para ela.
A cada acorde e a cada palavra que cantava uma lágrima gigante nascia nos olhos de , ela teve que fazer muito esforço para não chorar na frente de Ned.
Estava ficando cada vez mais difícil.
Então sentia falta dela, e ela sentia falta de .
Muita falta.
Mas ela não podia sentir falta dele, seria injusto com Ned.
Mas agora ela entendia porque ele NUNCA atendia suas ligações, é tão óbvio! , assim como qualquer outra pessoa famosa, não poderia continuar com o mesmo telefone. Os malditos jornalistas não deixam ninguém em paz, afinal.
Várias coisas pesavam na mente da menina e a única coisa que ela podia enxergar era um que sorria na tela de televisão.
- Vai.
sentiu um peso cair no seu colo, a menina olhou assustada para cima e viu Ned a olhando com olhos vazios.
O que ele queria dizer entregando a chave do carro de Georgie para ela?
- Eu não entendi.
o olhava sem expressão. Os olhos vazios de Ned a deixavam assim.
- Vai logo!
- Pra onde, Ned? – levantou aflita. Agora as lágrimas quentes rolavam pelo rosto da menina.
Ela realmente sentia muita falta de .
Ela realmente não queria magoar Ned.
- Eu sei que você o ama, , não precisa fingir. Você olha pra ele com olhos extremamente brilhantes e vazios ao mesmo tempo. Eu sei que é estranho, mas eu realmente entendo. Eu sei que você sente a falta dele, você fica distante às vezes, e eu sei que é nele que você pensa. Desde o dia que eu voltei para Londres eu percebi isso. Eu sei que você ama ele, mas eu tento me convencer de que eu estou apenas imaginando coisas, mas não é nada disso, e você sabe muito bem. Eu tentei te fazer sorrir, eu tentei te fazer feliz, mas eu sei que você nunca vai estar feliz sem ele. Agora faça algo realmente útil, e pega essa chave.
- Mas, Ned...
- Eu vou ficar bem, broto - o garoto abraçou fortemente.
Como ela iria sentir falta daqueles braços.
– Agora vai logo!


Capítulo 16 – She loves you


Correr.
precisava correr muito.
A última coisa que ela fez antes de sair de casa correndo foi assaltar a carteira de Georgie à procura de dinheiro para pagar a passagem de avião. Por pura sorte - ou conveniência - o seu pai era extremamente rico.
Seria mais fácil para a garota pegar o New Beetle amarelo de seu pai e dirigir até o aeroporto, mas é lógico que seria MUITO mais fácil se ela soubesse como dirigir.
Também seria fácil se um táxi parasse ali perto. Mas é lógico que o azar resolveu dar o ar de sua graça na vida da garota.
teve que correr até o ponto de táxi mais próximo (leia-se: mais próximo a 2 quilômetros); também seria mais fácil fazer isso se ela não estivesse usando um pijama com desenho de macacos – sim, porque passar uma tarde de domingo com pijamas é a melhor coisa que se tem para fazer na Califórnia.
Constrangedor.
Aguentando a todas as crítica e indiretas que os taxistas gordos da Califórnia deram à ela finalmente conseguiu chegar ao aeroporto.
A garota podia sentir mil olhares sobre ela, era de se imaginar que as pessoas iriam falar de uma garota estranha que corria pelo aeroporto com pijamas de macacos. Novamente: constrangedor.
Era mais constrangedor ainda ter que aguentar horas dentro de um avião onde o assunto principal era e sua roupa nada comum para um viajante. O mais divertido de tudo era mostrar dedo para os desocupados que apontavam para ela e riam.
Foda-se.
A prioridade no momento era chegar em Londres. Não importava como.
E ela finalmente chegou em Londres. fez uma pausa para respirar aquele ar frio e poluído que fazia tanta falta. Ela reconhecia muito bem aquele cheiro, aquele aspecto de inverno de Londres que só podia significar uma coisa: neve. Definitivamente ia nevar. A garota amava neve desde pequena, a neve sempre deu sorte para ela, e nessa noite definitivamente ia nevar.
olhou para o grande relógio na parede do aeroporto. Eram 2 da manhã. Certeza que estava acordado. Certeza que ele estaria comemorando o sucesso da banda com os garotos. Certeza.
A garota balançou a mão esperando que aparecesse algum táxi.
Três táxis pararam na frente da menina.
Londres sempre significa sorte na vida de . Sempre.
A garota escolheu um táxi e entrou nele.
- Para onde, senhorita?
- Queen’s Park, mas o senhor aceita dólar?
- Sim.
- Hm, ok.
A boa educação do taxista não permitiu que esse risse do traje da garota.
Porque Londres é mil vezes melhor que a Califórnia.
A garota colocou a mão no bolso de seu pijama e conferiu quantos dólares ela ainda tinha. Definitivamente não ia dar para pagar o táxi até à casa de .
- Hm, senhor?
O taxista olhou para a menina pelo retrovisor.
- Eu acho que eu não vou ter dinheiro suficiente, então o senhor pode me deixar na porta do High Five School.
O trânsito lento de Londres poderia irritar qualquer um, menos . Ela realmente sentia falta da lerdeza e beleza daquele lugar.
Como era bom estar de volta.
O táxi parou em frente à escola e entregou os dólares para o taxista.
A garota olhou para os lados e pegou fôlego antes de começar a correr.
Frio.
Frio era o que sentia naquele fino pijama enquanto corria. Ela poderia ter resistência para correr na Califórnia mas não em Londres, a diferença climática era enorme. começava a sentir seu rosto congelando, e a adrenalina circulando pelo seu sangue. Era uma sensação incrivelmente boa, ela definitivamente iria adicionar o hábito de correr no seu dia-a-dia.
avistou a grande casa branca há apenas um quarteirão de distância, seu coração parou e sua respiração também. Os neurônios se agitaram como de costume, as pernas da garota começaram a berrar por socorro, seus pulmões começaram a pedir oxigênio, e tudo que conseguia fazer era olhar para aquela casa. Alguém poderia passar por ali e pensar que ela estava tendo um derrame. Literalmente, um derrame.
Então começou a correr. Ela olhava e corria, olhava e corria, olhava e parava. Ela parou na porta da casa ainda sem fôlego. A garota bateu na porta (leia-se: esmurrou a porta) e ficou recuperando ar enquanto esperava que alguém abrisse a bendita porta.
O rugido da porta se abrindo fez o coração da garota parar novamente. O congelado coração de tombou, cambaleou e parou. Ela olhava fixamente para um que estava totalmente assustado e parado na porta.
Pela primeira vez na vida ela gostou que seus neurônios estivessem incrivelmente agitados. Finalmente ela tinha saído daquele estado de Derrame dependente.
- Oi... – dizia ainda ofegante de tanto correr.
continuava de olhos arregalados. As palavras simplesmente não saíam.
- Eu vi... você, quer dizer, a... banda na... TV – precisava dar pausas nas palavras enquanto o ar voltava a circular pos suas veias.
- Meu Deus! – finalmente conseguiu soltar algumas palavras.
- Eu sei, eu devia ter avisado que ia vir antes, mas... Eu não pensei em nada, eu simplesmente vim.
olhava maravilhada para .
Ele estava realmente assustado.
Ela estava realmente apaixonada.
- , você não precisava vim só por causa da música – olhava sério para a menina.
- , me deixe falar, ok? Eu corri até aqui de pijamas e acho que mereço ao menos um mínimo de atenção.
O garoto continuou sério e apenas assentiu com a cabeça.
- Eu acordo de manhã e me sinto sozinha, eu vou pro trabalho e me sinto sozinha, eu fico aturando aqueles californianos porcos enquanto eu me sinto sozinha, eu volto pra casa e me sinto sozinha, eu olho pro rosto do meu pai e me sinto sozinha, eu vou dormir e me sinto sozinha. E no outro dia começa tudo de novo! E eu cansei dessa rotina vazia, ok? Eu pensei que você não estivesse fazendo falta, eu pensei que você fosse do tipo de cara que me machucaria, mas eu ouvi aquela música e... Eu amo você, ! Me desculpa? Eu realmente não devia ter sumido, mas eu tentei falar com você, mas você não atendia a droga do telefone!
Ela já estava praticamente berrando, gesticulando as mãos de maneira incontrolável e com significado algum.
sorriu se aproximando da garota. Perigosamente e perfeitamente perto.
- Você veio da Califórnia até aqui de pijamas?
sentiu suas bochechas ficarem vermelhas e olhou para baixo. Era tão fofo o jeito que ele a fazia se sentir.
- Sim.
- Tudo isso por que você me ama?
segurou no rosto da menina e sorriu olhando para ele.
- Não seja tão convencido, Cérebro – a garota riu e deu língua para o amigo – Mas sim, é porque eu te amo.
- Então eu te perdoo.
Os corpos se encontraram depois de tanto tempo, o calor corporal se fundia em meio ao frio do inverno. As mãos geladas e inquietas de cobriam o rosto do seu amigo, encostou seus lábios nos da garota e a temperatura já não era mais um incômodo.
- Hey, pombinhos! – Tom gritava de dentro da casa – , seu mal educado, chama a sua namorada pra encher a barriga de pizza gelada com a gente.
O casal se afastou, ouviu vários risos de dentro da casa e a puxou pelo braço para dentro da sala.
- Hey, Tom! – acenou alegremente para o dono da covinha controladora. O garoto apenas sorriu de volta – Depois a gente tem que repetir a nossa diversão garantida, ok?
Thomas fez uma cara pervertida e deu um tapa na cabeça do garoto.
- Fica longe de minha garota, Sr. Covinhas.
- Hey, amiga! – Chuck berrava e acenava sorridente para .
- "Amiga"? – a menina olhou confusa para o amigo - , quanto de álcool você deu pra essa garota?
- É tudo culpa do deu de ombros.
- Hey, sua retardada, tá tudo bem entre a gente, oks? Eu descobri que o Sr. aqui é muito mais macho que o seu .
Chuck ria e corria em direção ao colo de para demonstrar a o seu grande "afeto" pelo garoto.
- Oh, arrumem um quarto, seus nojentos – ria jogando almofada no casal.
- ? – olhou hesitante para a menina que ria olhando para o "casal" que se pegavam no sofá.
- Fala, Cérebro – a garota sorriu olhando para .
- Vem cá que eu quero te contar algo.
O menino puxou pela mão e os dois correram escada acima. abriu a porta de seu quarto e foi andando com o seguindo até a beira de sua cama.
- O que foi? – sentou na cama com do seu lado.
- Você quer namorar comigo?
Antes de responder, inspirou o cheiro de azul com mel e limão que vinha do hálito do menino. Os neurônios e o coração da menina se encontravam em uma situação igual a toda vez que eles ficavam quando estava por perto. Era tão bom sentir aquilo de novo.
- Hm, talvez.
- Talvez? – olhou assustado para a menina. riu.
- É, talvez. Eu fugi da casa do meu pai por sua causa e acho que tô sem onde morar, então se você me deixar ficar aqui, eu posso cogitar a ideia de ser sua namorada.
- Oh sim, então eu acho que dá pra você morar aqui.
- Ótimo! – sorriu se aproximando mais de .
- Eu te amo, .
- E eu acho que você vai se dar bem esta noite.
Os dois riram e abriu um sorriso aproximando os lábios dos de .
- É, eu também acho – o garoto respondeu baixo e encostou a boca na boca da namorada.
Lá fora a neve começou a cair do céu como todo início de inverno em Londres; então tudo estava voltando ao normal; então a sorte de estava voltando; então o frio estava voltando.
Então eles estavam perigosamente e seguramente perto de novo, porque algumas coisas nunca mudam.
Fim







N/a:Ownn, acabou *-* Que triiiiiste! Mas obrigada DEMAIS a todo mundo que acompanhou a minha fic fofinha até o final :D Obrigada pelos comentáris que me incentivaram TANTO!
Desculpa se eu desapontei alguém com o final, mas tentei fazer o máximo que pude! Infelizmente não vejo nenhuma parte II ou algo do gênero, porque o meu objetivo pra essa fic foi esse fim mesmo! Mas vocês podem ler as minhas outras fics, ou ler essa de novo se ficar com saudade da minha inspiração absurda :DDDDDD
Agradecendo especialmente pras minhas leitoras fiéis que acompanharam a fic desde o início e sempre deixaram os comentáris me dando opniões úteis para o desenvolvimento da fiiic!! Obrigada mesmo bonitinhas *-* E CLARO vou agradecer também a minha beta fofinha que teve paciência comigoo, Jessie! Obrigada foofaa :DDDD
Então vou acabando a n/a por aqui porque não gosto de despedidas o.o Anyway, obrigada a todo mundooo e beijos noo heeeart!!! E não esqueçam de comentar e ler as outras fics!!


Minhas Outras Fics:
Guys Next Door Finalizada - McFLY
Emergency Finalizada/songfic - McFLY
Socorro, seqüestraram a Gertrudes! Finalizada/shortfic - McFLY

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