Daquilo Que Chamo de Amor
Escrita por: Marcella
Beta: Van



Eu vejo a noite passar.
Eu brinco de aprender,
Vejo o destino chegar
Sempre trazendo você.
Eu ouço você chamar
Mas eu não sei responder.
Por que não chega mais perto?
Sempre estarei com você...


Ela estava linda. Não, correção, ela era linda. Mas hoje era diferente. Ela tinha um quê de euforia no olhar que me encantava. Eu sou muito masoquista mesmo.

Ela ia se casar e pediu para mim entrar com ela na igreja. E eu aceitei. Agora diz se eu não sou realmente burro?
A minha pequena havia crescido tanto... E estava escorregando pelas minhas mãos.
Eu brincava comigo mesmo, mais por tristeza que qualquer coisa, que eu estava legal por ela estar feliz. Bom, eu não estava. Eu brincava comigo mesmo, dizendo que aprendi a viver só olhando-a, perto o bastante para protegê-la de qualquer coisa e longe o suficiente para não acabar fazendo besteira. Mentira. Isso era uma grande mentira. Porque eu nunca estaria curado daquela droga que ela era pra mim. Nunca.
E eu só assumi aquilo ali, naquele momento, em que o destino me trouxe ela vestida de noiva. Vestida de noiva para outro cara.
- ! - eu a ouvi chamar, mas eu estava em transe, não sabia como movimentar a minha boca e responder. Ela estava tão linda, tão feliz e tão fora do meu alcance que isso chegou a doer.
- Ei, . - me chamou outra vez, agora já mais perto. E eu só queria que ela estivesse mais perto ainda... - Vamos, você tem que se arrumar, está quase na hora, a marcha nupcial já vai começar e você tem que estar lá comigo e...
- Ei, ei. - eu a interrompi. Nunca vira tagarelar tanto. - Calma.
Ela me olhou e suspirou, meio que sorrindo.
- Estou apavorada, . - ela sussurrou, se sentando na cama do meu quarto de hotel.
- Se te consola, eu também estou nervoso. - eu disse. - Mas você me pediu para entrar com você na igreja. Como negar?
- Desculpe, . Mas você é o único que poderia substituir o lugar do papai. - ela se desculpou. Eu me sentei ao sei lado e passei o meu braço pelos seus ombros.
- Ei, pequena, não se desculpe. - eu murmurei. - Serei o cara mais invejado daquela igreja. Depois do Nick, é claro. - ela deu aquele sorriso doce que só ela sabia dar a mim. - E à propósito, eu sempre estarei com você.
O sorriso dela cresceu e então ela me beijou na testa, me fazendo perder o rítmo da respiração.
Eu odeio estar apaixonado, sabia?

Eu omiti, eu nunca te falei
Todos os anos que eu te amei,
Tentando disfarçar
Daquilo que eu chamo de amor.


Eu afrouxava a gravata pela sexta vez e sabia que a iria fazer um escândalo pela sexta vez. Mas eu estava suando feito um porco e a gravata não ajudava em nada.
Por que diabos eu tive que ter tido aquele lampejo de razão ali?
Talvez fosse por ela estar tão linda, talvez fosse por saber que o Nick estava esperando lá fora por ela ou, mais provavelmente, por perceber que eu iria perdê-la pra sempre, que eu percebi que tinha a obrigação de me declarar para ela.
Mas droga, por que agora? Gravatas são perigosas, sabia?
- , quer, peloamordeDeus, deixar essa gravata quieta? Já é a quinta vez que você...
- Sexta vez. - eu corrigi. Ela bufou e revirou os olhos, enquanto acabava de colocar os sapatos. Tivemos que acabar de nos arrumar no mesmo quarto, o Nick tinha que se arrumar também e tem toda aquela tradição de não deixar o noivo ver a noiva antes da hora. Por mim, ele podia ver. Dizem que dá azar mesmo.
- Escuta , quando a gente descer, você pode ajeitar, certo? Mas deixa a gravata agora assim ou eu vou morrer sufocado!
me olhou de lado, meio cautelosa, até que se explodiu em gargalhadas. Aquele som de riso que mais parece notas de um piano, que só ela sabia fazer. Isso sempre me causaria arrepios.
- Eu que caso e é você que fica verde de nervoso. - ela disse, sorrindo, finalmente acabando de se calçar. Eu meio que sorri, completamente nervoso, quando alguém abriu a porta estrondosamente. Era a sra. .
- Vamos, crianças, vamos, está na hora. - a mãe da disse. Então parou para olhá-la e sorriu. - Você está simplesmente perfeita. Você e o . Como sempre...
A sra. sorriu e saiu do quarto. me deu um olhar de puro pânico, que mais parecia se refletir no meu. Respirei fundo, tentando me acalmar.
- Você inventou isso, agora aguente. - eu disse, de uma maneira não muito educada, mas eu estava simplesmente desesperado. Eu a estava perdendo, ela estava escapando...
chegou na minha frente e ajeitou a minha gravata. É, finalmente eu morreria.
- Eu tô com medo. - ela murmurou, olhando para a minha gravata. Eu beijei a sua testa e sorri.
- Não precisa ter medo, eu vou estar lá com você. - eu disse. Ela me abraçou forte e eu respirei o perfume dela. Ela estava escapando...
- , me responda uma pergunta. Você ama o Nick? - eu arrisquei. Ela me soltou devagar e me olhou, pensando.
- Sabe aquela pessoa que você tem certeza que vai estar com você pra sempre? Que vai ser um maravilhoso pai, um ótimo marido? Então, é o Nick. Eu não o amo completamente, mas eu sei que é com ele que eu vou querer ficar. Acho que esse é o nível máximo de afeição que eu consigo sentir por alguém.
Eu olhei fundo nos olhos dela, procurando uma brecha, uma saída. Mas eles estavam convictos do que dizia.
E então ela sorriu e pegou o meu braço, se posicionando em frente a porta do quarto.
- Bem, é agora. - ela disse. E então nós saimos dali.
Agora era tarde. Eu sabia o que ia acontecer.
Eu estava ferrado.

Não vejo o sol,
Não quero acordar,
Nos meus sonhos eu sei que posso te encontrar...
Não vão me derrubar,
Eu sei que vou vencer,
Não duvide do amor que existe dentro de você...


O carro parou e a sra. saiu dele para colocar todos os convidados para dentro e verificar se nós dois podíamos sair. Eu estava sentindo o meu estômago doer de nervorsismo, podia sentir que o fim próximo de mim. Definitivamente eu estava acabado.
- Tudo certo, filha, vocês já podem entrar. - a sra. disse, do vidro do carro. me olhou, meio apavorada e eu apertei a sua mão.
- Calma. - eu disse. Ela sorriu fracamente pra mim e então nós saímos.
A igreja não tinha muitas escadas, mas eu preferi não subí-las com pressa. Se eu não tinha todo o tempo do mundo, eu pelo menos tinha o tempo de subir as escadas.
E eu sabia que tinha que falar. E eu sabia que estava perdido.
- Você está tão linda que eu nem enxergaria o sol, se estivesse de dia. - eu murmurei. Ela riu, de maneira nervosa.
- Pára, ! Eu já estou nervosa o suficiente... - ela disse. Eu a olhei, sentindo o meu peito doer. Meu tempo estava acabando...
- Eu sonhei com você, essa noite. - eu murmurei. - Exatamente com isso. Você entrando na igreja.
- E no final do sonho deu tudo certo? - ela quis saber. Eu sorri torto, me lembrando de quem a esperava no altar, no meu sonho.
- Felizmente sim. - eu murmurei. As escadas estavam acabando. Tinha que ser agora. - O que eu tô dizendo é que eu não sonhei com você só essa noite. Eu sonhei ontem, anteontem, antes de anteontem e todas as noites desde que nós dois nos conhecemos, naquele parquinho atualmente destruído perto da minha casa, à 18 anos atrás. Eu só queria que você soubesse que eu te amo, sempre te amei, sempre te amarei e eu tô aqui, deixando o dia mais feliz da sua vida menos perfeito do que deveria ser, então me desculpe. Mas eu só não podia deixar você ir assim, sem saber das suas opções. E olha só, - eu ri nervoso, chegando finalmente na entrada da igreja. - eu tô aqui cheio de inseguranças como aquele garotinho bobo de 6 anos que você conheceu. E eu te amo como aquele garotinho amou uma menininha um dia também.
Ela me olhava, as lágrimas já quase saltando dos seus olhos. Seu rosto era pura dor e surpresa.
- Desculpe, . - ela conseguiu pronunciar. - Eu... eu vou me casar. Eu estou feliz.
Eu a olhei fundo. Ela estava indo embora...
- Não tenha medo de amar, . Por favor, não se case se você não o ama... Me deixa tentar fazê-la feliz...
- Entramos com esse pé. - Ela me cortou. Eu a olhei, meio ressentido. Finalmente uma lágrima caiu de seus olhos. E eu não consegui resistir, eu passei meu dedo pela maçã de seu rosto, secando sua lágrima. Um flash explodiu nos meus olhos e eu percebi que era o fotógrafo. No mínimo achava que eu estava lhe desejando felicidades no casamento.
- Eu ensaiei, sabe? Ensaiei um milhão de vezes. Como entrar na igreja com você e como deixar que você siga com o Nick. Mas eu não consigo. E você não quer. - eu disse. Ela não me olhou, simplesmente segurou o meu braço e começou a andar, no ritmo da marcha nupcial.
Eu já não podia ser o seu melhor amigo de infância. Então não teria que ficar lá dentro, para me destruir mais ainda.
E quando finalmente chegamos perto do Nick, que sorria de um jeito vitorioso como todo sortudo deveria sorrir, eu puxei as mãos dela para o meu peito.
- Eu não estou preparado para te deixar ir. Eu não posso te perder. - eu murmurei. Então beijei as suas mãos e virei as costas para aquele casamento. Eu queria morrer. Porque agora ela havia escorregado. Agora ela havia ido embora pra sempre. E eu não precisava mais viver.

Eu omiti, eu nunca te falei
Todos os anos que eu te amei,
Tentando escapar
Daquilo que eu chamo de amor.
O que eu mais quero é poder dizer
Que a minha vida pertence a você.
Eu só estou tentando te explicar
Aquilo que eu chamo de amor.


Tudo me parecia agourento agora. O meu carro, com aquele vidros escuros. Aquela noite, que estava nublada de uma forma debochada. A porcaria da gravata, que estava jogada em algum lugar do banco traseiro. E o meu coração, que doía como se alguém tivesse arrancado um pedaço dele. Alguém realmente arrancou.
Eu estacionei em frente da minha garagem, sem paciência nenhuma para guardá-lo. Então saí do carro e olhei, aquele pequeno parquinho que agora era mais um parque temático, devido a tantas pixações. Todos os brinquedos quebrados. Exceto aquele. Que tanto me marcou.
Eu sentei no minúsculo balanço e deixei as minhas memórias me invadirem. Eu estava presente em todas elas.
Seu primeiro dente de leite que caiu. Sua primeira subida em uma árvore. Seu primeiro dia na escola. Sua primeira aula de balé. Seu primeiro diário. Seu primeiro grupo de amigas. Seu primeiro computador. Seu primeiro amor. Sua primeira desilusão. Seu primeiro contato com a morte, quando seu pai faleceu. Seu primeiro porre. Sua primeira...
- Por que você mentiu todos esses anos? - eu ouvi alguém perguntar. Praticamente quebrei o meu pescoço com o susto de reconhecer aquela vez. Me levantei num pulo.
- O que você está fazendo aqui? - eu perguntei, meio drogado de surpresa ainda.
- Você ainda não me respondeu. Por que você mentiu todo esse tempo? - ela perguntou outra vez, a voz trêmula. Eu me aproximei dela, devagar.
- Eu não menti. Eu só nunca te falei, eu omiti sempre. - eu expliquei, meu coração bombardeando a mil. - Eu tentei escapar disso, eu tentei fugir, eu tentei me enganar. Mas eu não consegui. Me desculpe.
Eu abaixei a minha cabeça, pensando em como tudo teria sido mais fácil se eu tivesse falado com ela antes. Como eu fui covarde...
- , escute. - eu comecei. Não tinha nada mais pra perder. - Eu sinto muito. Ter estragado o seu grande dia, ter tido esse tipo de sentimento e nunca ter te dito nada. Me desculpe. Mas eu só queria que você soubesse que a minha vida é sua. Ela pertende a você. E enquanto você estiver nela, eu dou um jeito, eu sobrevivo. Só não vai embora... Só não me deixa. Por que senão...
- Por que você fala tanto? - ela perguntou, me sobressaltando. Eu a olhei e vi que os seus olhos estavam molhados novamente. Mas eu vi além disso. Eu vi uma coisa que eu sempre desejei, eu vi todo os meus anos refletidos ali. Eu vi a sua alma. E ela me mostrava exatamente uma coisa. Que enquanto eu sonhar, as coisas podem acontecer.
- Eu só estou tentando te explicar aquilo que eu chamo de amor. - eu sussurrei.
- Não explique. Me mostre. - ela pediu.
E não foi preciso pedir duas vezes, eu a beijei com a urgência de quem espera por anos. E eu a tive pra mim. Pra sempre.




FIM







N/A: Caraca, nunca escrevi uma história tão rápida! Aula, e as Carol's faltam, eu fico sozinha e uma música martelando na minha cabeça. Pronto, aí tem uma fic HSDIUAHSIUAHUSHIASHAUISIU'
Essa fic é especialmente pra Isabela Nunes, minha escritora que me deixa apaixonada pelos seus personagens. Amiga, eu te amo muito, tô aqui pro que der e vier. De verdade. Contra sempre comigo! (LLL
Obrigada também a quem leu e quem vai fazer a escritora de vocês feliz e comentar. Até a próxima, gente (: