Devaneios

Devaneios


*Sussurros*

- Você pode me escutar?... - ela perguntou.
- Você ainda me ama?... – ela não consegue me deixar.
- Nós podemos fazer isso juntos... Caindo de um abismo como dois condenados. – por que ela insiste nisso?
- Nós vamos ficar juntos para sempre? – juntos... Para... Sempre...
- Você sabe que eu fiz isso por amor; eu te amo, querida, tanto que te quero longe... Longe...
Enterrada abaixo da terra... Sete palmos abaixo. – ele respondeu para seus devaneios.

*Fim dos sussurros*

Ele não entendia porque ela ainda gritava em sua mente. Ele fez isso por amor, um amor tão puro. Por que ela simplesmente não podia entender que ele tinha que a proteger do mundo, esse mundo feio e frio? E que o único jeito foi mandá-la para um lugar que ele julgava ser melhor?
Será que ela não gosta das flores que ele lhe dava? Ou não estava dando-a atenção suficiente? Talvez devesse visitá-la mais vezes. Por que essas malditas vozes não paravam?
- Parem, Parem, PAREM AGORA. – Ele se dirigiu para a cozinha. Seu corpo tremia. Pegou um pote de remédio que estava em cima da bancada, engolindo a seco três pílulas de uma vez. Mas ele sabia que por mais antidepressivos que ele tomasse, não esqueceria o quão linda ela ficava com aquele vestido azul manchado de vermelho, e ela não pararia de sussurrar em seus ouvidos frases apaixonadas e insanas. Ele sabia que aquele buraco a sete palmos do chão não era fundo o bastante e agora ela estava voltando da morte e iria levá-lo com ela.

*Sussurros*
- Eu estou voltando da morte... Irei levar-te comigo... Seremos dois amantes malditos... Usando a eternidade para matar nossos inimigos... Eu gosto disso... Eu preciso... Baby, só você sabe como eu amo cada polegada de insanidade contida no nosso amor.
- Respire, respire fundo, não acabe com os planos que eu fiz... EU irei te levar comigo. Você não tem o direito de fazer isso NÃO TEM.

*Fim dos sussurros*

Ele acordou assustado e percebeu que o ar lhe faltava. Ele não havia atingido seu objetivo; sabia que ela não o deixaria sair dessa vida sozinho. Ele tinha que correr, se esconder, ou somente deixar que ela o levasse a morte assim como ele fez com ela.
Ele tinha uma casa de campo. Decidiu ir para lá, decidiu aceitar seu destino; esperaria sua amada sair daquele buraco no jardim, esperaria que ela viesse e o tomasse nos braços e, com um cálido beijo, o deixasse morrer.
Pegou seu carro e seguiu pela estrada deserta, cantando Guns N’ Roses até sua garganta sangrar. Guiava seu carro a 180 km/h; ele podia se dar esse prazer. Sabia que não iria morrer nem se quisesse.
Chegando na sua casa, foi pegar seus instrumentos de jardinagem para cuidar do local onde sua amada estava. As rosas que estavam lá eram tão lindas! Achava que ninguém no mundo havia visto tamanha beleza; eram quase tão lindas quanto sua garota.
Ele a sentia em todo lugar, e os devaneios estavam cada vez mais freqüentes.

*Sussurros*

- Amor? ... Meu amor? ... Onde você está? ... Está se escondendo de mim? ... Quer brincar de esconder, meu bem... Eu vou te achar... Mais cedo ou mais tarde eu vou te achar.


*Fim dos sussurros*

Sua respiração pesava e ele se escondia embaixo do seu edredom como uma criança com medo do escuro. Porém, seu medo não era bem esse; ela falava cada vez mais com ele, e seus sussurros ficavam cada vez mais frios e profundos, fazendo-o tremer até os ossos.
Ele a sentia cada vez mais próxima, e já pressentia que no máximo até o final da noite ela conseguiria sair daquele túmulo improvisado no jardim.
"Acho que ela ficaria feliz ao ver que eu estou cuidando com tanto carinho das rosas que ela plantou no jardim no dia que completamos um ano de namoro.
Dois meses depois, ela se juntou as rosas do jardim e a mais ou menos seis meses sinto algo grande se formar, sinto o inicio da minha destruição.
Quando a manhã chegou, eu havia decidido não sair mais daquele quarto. Olho pela janela e a sua cova estava aberta e vazia; ela finalmente havia voltado da morte."

*Sussurros*

- , eu cheguei, meu amor... Você sentiu minha falta? ... Eu senti a sua.
Ele ouvia os passos dela ecoando pela casa; com isso, conseguiu saber que agora ela já estava subindo as escadas.
Em menos de um minuto, a porta que estava trancada há pouco tempo se abriu com suavidade, revelando o corpo de uma mulher.
estava envolta em um estranho brilho prateado que acentuava seu vestido de noiva azul, manchado de sangue. Seus olhos eram vermelhos, tão hipnotizantes que não conseguia desviar de seu olhar.
percebeu que seu corpo começou a se mover em direção a . Os olhos dela transbordavam de maldade e malicia, e ela comandava os movimentos do corpo dele. Quando estavam de frente um para o outro, ela sussurrou no ouvido dele:
- Meu bem, um dia seus olhos azuis me ajudaram a voar... agora eu quero que os meus vermelhos te ajudem a cair. Que tal nós acabarmos com isso e você estourar seu cérebro contra o teto agora?
Ele não pôde resistir àquela linda voz e, olhando para seus olhos, bateu a cabeça na parede até sua vida se esvair. Ele não sentiu dor, só vontade de se juntar a ela pela eternidade, e cumprir seu destino como amantes da demolição.