Down Goes Another One
Escrito por Ruh.


O destino parece sempre querer pregar peças. Embora tivesse experimentado todos os prazeres que uma vida de fama traz, ainda um vazio enorme se mantém dentro do meu peito e me perturba até que a insônia se torna uma companheira de todas as noites. Para quem não via nada além da beleza, passar por tal experiência brusca que me mudou até no modo de ser e pensar, foi impactante. Ela não era uma fã medonhamente histérica de quinze ou dezesseis anos. Seu jeito clássico ao nível da sua idade me atraiu e ela sabia conciliar liberdade com maturidade ao mesmo tempo. Fiquei vidrado em cada característica sua, do modo de andar ao modo de pensar. Era um estouro. Quer um exemplo? Uma Scarlett Johansson. Jovem e completamente o oposto de uma Paris Hilton ou Lindsay Lohan. Com toda essa padronização americanizada de garotas festeiras, bêbadas, drogadas de hoje, eu já tinha me acostumado e não me imaginava me relacionando com ninguém. Contudo, a partir do momento que a conheci a pus no auge e não quis mais saber de outra. Foi tão marcante a primeira vez que a vi que não pensei em estudá-la primeiro. Cri facilmente em seu verdadeiro interesse por mim a cada dia que passava e nada denunciava o contrário. Depois de termos oficializado o namoro, minhas declarações de amor eram tão constantes e verdadeiras que o infinito seria pouco para passar ao seu lado. Estava realmente apaixonado por ela. Seu andar, seu cheiro, seus lábios, seus cabelos... Fico zonzo só de pensar.


Meia noite e nada de o sono chegar. Deitado na cama olhando diretamente para o relógio, acompanhando cada movimento do ponteiro imaginei onde poderia estar agora. Uma lágrima escorreu. A dor era muito grande e o desespero de perder alguém que marcou tanto sua vida era muito deprimente. Mais torturante ainda é achar que era a pessoa certa e no final me decepcionar de tal forma que não há como retroceder dessa armadilha. A aflição era demais e a idéia de não sentir algo igual por outra pessoa tomou minha mente, afinal, tudo indicava que jamais ia dar certo.


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O bar estava lotado e por ser um fim de semana, aquilo não me admirava. Passei os olhos em todo bar em busca de uma cadeira. , e me zoavam indicando para sentar no colo deles. Ri mostrando o dedo do meio e na mesma hora avistei uma cadeira quase do outro lado do bar. Fui até lá e vi que a mesa estava ocupada.


- Opa. A cadeira está ocupada? – Mirei por alguns segundos, extasiado. Ela retribuiu o olhar após estar escrevendo num papel. Sua voz era suave e firme.
- Agora não. – Vi que seu olhar parou em mim e voltou ao papel.
- Por quê “Agora não”?
- Porque você acabou de ocupá-la. – Sorriu e voltou a escrever no papel.
- Isso. Aproveita que meu raciocínio é lento e manda outra.
- Que isso! Não te chamei de burro, . Embora te chamem, mas honestamente adoro suas músicas. – Sorriu amistosamente, pôs o papel na bolsa e voltou a atenção para mim.
- Ah, uma fã. Com certeza não se importaria se eu me sentasse aqui e com certeza você ia me implorar autógrafos em tudo que você tem na sua bolsa. – Como jamais perdia oportunidades de chegar em alguém, sentei-me na cadeira deixando meus amigos na outra mesa. Como se distraiam facilmente, nem perceberam minha ausência. O papo estava começando a ficar interessante.
- Sutiã serve?
- Opa. Posso desabotoar sua camisa? – Continuei.
- Você é hilário como dizem por aí mesmo. – Ambos rimos. Eu não conseguia tirar os olhos de seu rosto. Tudo em sua aparência me atraia. Suas longas mechas onduladas. Pele acetinada e fina. Sorriso ofuscante.
- Você não é daqui, é?
- Ah, sou brasileira.
- Ah, percebi. Seu sotaque te denuncia. Você é diferentemente... - Passei os olhos nela meio sem fôlego. - Bonita. – Sorri sem graça. Não era apenas “bonita” que estava em mente.
- Pois é. O clima brasileiro favoreceu o bronze da minha pele. – Nós dois rimos.
- Sabia que é a primeira fã que não me agarrou até agora e não rasgou minhas roupas?
- Ah é? Isso seria demais pra você, não é?
- Está me chamando de feio?!
- Feio?! Nem se quisesse nascer de novo você sairia feio, .
- Ah, agora sim isso é conversa de fã. – Cruzei os braços e encostei-me à cadeira, rindo. – Fala mais. Qual de nós quatro você prefere? – Ela gargalhou.
- Está precisando de um fora para desacostumar.
- É, quem sabe um dia. – Ironizei. - Por enquanto está tudo dando certo e namoro está fora de cogitação.
- Ah é? O mundo gira e as coisas mudam. Seu conceito sobre relacionamentos também pode mudar, . – Ela me encarou fixamente por quase um minuto, logo depois ela se levantou. Despertei-me, mas continuei sentado.
- Foi ótimo mirar seus lindos olhos , . Mas tenho que ir. A vida não pára e uma penca de deveres me espera amanhã no trabalho. – Ela chegou perto, esquivou-se e me beijou no rosto. A cada centímetro aproximado o desejo de beijá-la era tentador. – Até a próxima. – "Até a próxima? Quando a veria novamente?" pensei. Estranhei o que ela disse, mas um pequeno papel que voou de sua mão até meu peito esclareceu minha dúvida quando o abri e li. Era seu número. Sorri orgulhosamente animado mais uma vez. Pus o papel no bolso. Peguei a cadeira e fui de encontro a mesa que os caras estavam.


Não consegui tirar aquele filme da cabeça e aquele papel com o número de em meu bolso me chamava. Não resisti, peguei o celular e disquei seu número. Mais uma vez aquela voz suave atendeu e meu coração disparou.


- Oi?
- Er... Oi! Sou eu, .
- do McFLY me ligando?! Espera, vou gritar. Meu Deus! Estou infartando! – Não me importava nem se zombasse. Comecei a rir junto.
- Se infartar não vou poder te chamar para sair.
- Sair? O tem tempo de sobra pra ligar para as fãs agora?
- Nem todas. Isso é regalia. Vai recusar?
- Se você diz que é regalia, acho que vou aceitar. – Era absurdamente irônica.
- Estou começando a achar que você é uma anti-McFLY disfarçada de fã.
- Só por causa das ironias e porque não te ataquei ainda?
- Ainda? Estou começando a gostar desse encontro. – Embora eu demonstrasse interesse físico por ela, estava realmente gostando de .
- Ok, . Fale o horário. – Deu um sorrisinho sem graça e eu me excitava só de ouvir sua voz.
- Amanhã às oito?
- Tudo bem.
- Mais uma coisa...
- Diga.
- Tem que me passar seu endereço, a não ser que você seja uma sem teto.
- Ah claro! Seu bobo... – Rimos e conversamos mais naquela noite. Peguei seu endereço e pus no mural. Assim não teria problemas de esquecer.


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Tudo contribuía para que eu ficasse cada vez mais de quatro por ela e não deixava que nada me fizesse desanimar disso. Porém, como dizem que tudo tem um fim, mal acreditei que nós estávamos caminhando para o mesmo. E seu jeito alegre, contagiante e explosivo que eu não tinha visto estava começando a sobressair.


- Ei, qual é o problema, amor? – perguntou assustada. A peguei pelo braço e levei para um canto da boate. Era festa de um dos guys. Definitivamente, não havia outro lugar melhor para se comemorar. A festa bombava e junto com ela, . Como citei no começo, a maioria de suas amizades era do sexo masculino. Mas agir tão intimamente com esses “amigos” na minha presença era inadmissível. Ela praticamente se esfregava neles e exigia que a atenção de todos fosse completamente voltada á ela.
- Dá pra aliviar na exibição? Já percebeu que estou fazendo papel de trouxa aqui? – Perguntei mirando fixamente seus olhos. Ela ria e se pendurava em mim. Estava bêbada até a sola.
- Relaxa, . Suas groupies vadiazinhas fazem pior com vocês, que eu sei! – Falou ousadamente como se jogasse isso em minha cara. No exato momento, um garçom passava com uma bandeja de whisky. Ela pegou um copo e deu à mim. – Relaxa, anti-social. – Lançou um beijinho e voltou à sua “orgia”.


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Quando se tem amigos que realmente se preocupam com você, não importa a gravidade do erro que você comete, eles sempre te alertam. Era isso que eu ouvia sempre, muito mais de . Apesar de saber claramente que eu estava na boca do leão, não sentia a mínima repulsa.


- Hm. Lençóis vermelhos? Pra que isso, amor? – Olhei dos lençóis para ela, indo em sua direção abraçá-la.
- Você vai ver! Deite na cama e feche os olhos quando eu mandar. – Se desvencilhou de mim e correu para o banheiro. Estava mais hot do que nunca.
- Vou acabar explodindo de ansiedade! – Deitei-me na cama esperando-a vir.
- Feche os olhos! – Fechei e quando pediu para abrir, quase explodi em excitação. Sua lingerie vermelha era perfeita em seu corpo. Sua pele era um bronze cintilante e seus cabelos deslizavam sobre seus ombros e colo. Suas curvas eram perfeitas. Cada traço seu era tipicamente latino. Era uma tortura ter que esperá-la dançar para depois tê-la. Ela ligou o som e uma música muito familiar tocou.


Every time I fall asleep my dreams are haunted
Toda vez que adormeço meus sonhos são assombrados
And every time I close my eyes I'm not alone
E cada vez que fecho meus olhos, não estou sozinho.
And every time I cry I'm right back where you wanted
E cada vez que choro eu volto ao estado que você queria
I try to drown you out so down goes another one
Eu tento te afogar e outra lágrima vai abaixo
(Down goes another one)
(Outra lágrima vai abaixo)
(Down goes another one)
(Outra lágrima vai abaixo)
(Down goes another one)
(Outra lágrima vai abaixo)


Estremeci na hora. A música era dançante para essa ocasião, porém sua letra mais parecia uma mensagem. Eu olhava fixamente para seu corpo, louco de vontade de fazer mil loucuras. Eu admirava cada detalhe seu e ao mesmo tempo uma raiva crescia dentro de mim enquanto ela dançava insinuando-se e deslizando suas mãos sobre suas curvas. Era atração com raiva e rancor. As palavras ecoavam na minha cabeça e desviei o olhar dela por um instante. Ela andou pela cama até parar centímetros de distância e agachou desviando novamente meu olhar para seu rosto. Sorriu maliciosamente e me beijou.
- Está gostando, amor?
Não respondi e a joguei na cama bruscamente. Enquanto a música tocava, eu a beijava com força e rolávamos na cama. Não havia centímetro quadrado que não havíamos tocado um no outro e brutalmente nos amamos naquela noite. O prazer que ela sentia era inigualável. Parecia algum tipo de masoquista. Ou eu era masoquista em estar com ela depois daquela mensagem? Estava zombando de mim ao colocar aquela música? Era convincente dizer que o ritmo da música era apropriado para ocasião.


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Seu jeito explosivo fazia qualquer mínimo desentendimento virar uma discussão. A cada briga que tínhamos, quem sempre tentava fazer as pazes era eu. No fundo me sentia um capacho, mas tentava, de alguma forma, fazer tudo ficar bem entre nós. Mais parecia um amor doentio. Hoje vejo que um amor verdadeiro tem que nascer da colaboração de ambas as partes. Porém, no passado, estava cego de amores e relevava cada falha sua.


- Comemoração? Ah sim! Semana que vem nós completamos um ano de namoro, não é, ?. – Afirmou rapidamente com a cabeça após eu ter respondido uma pergunta de .
- Estou vendo que daí sai casório... – comentou. Afinal, um relacionamento de um ano provavelmente estaria dando mesmo certo.
- Olha... Sabia que tem problema de ereção? – brincou tirando risos de .
- Opa. Me desculpem. Me atrasei ajudando uma velhinha á atravessar a rua!
- Pode dizer, a patroa te trancou de novo, não é? – disse em tom de desânimo.
- Poxa cara, está demais. Mas dá pra sobreviver. – Todos riram e percebi o silêncio de após a chegada de . Disfarcei e vi que seus olhos algumas vezes passavam por ele. Até ele percebeu e fingiu o contrário. Tentei agir como se não fosse nada, como sempre, conversando amistosamente com todos. Até pensei que essa troca de olhares não poderia ser novidade. se levantou em direção ao banheiro, exibindo-se. Era incrível como se mostrava para bem na minha frente. Olhei seriamente de para , todavia, não fazia sentido me fechar para ele. Abaixei a cabeça e tentei me acalmar. Quando ela voltou do banheiro, sorri para ela e depois de meia hora anunciei que estava me retirando.
- Já, ?
- Sim, amor. Vamos. – Ajudei a levantar-se e a segurei carinhosamente pela cintura. Deixamos o local e entramos no carro.


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Semanas depois eu estranhava cada vez mais seu comportamento.


- Aonde você vai, amor? Já perdi a conta de quantas vezes não ficamos juntos à noite. – Tentava pôr-me em sua frente e ganhar sua atenção. Ela se vestia rapidamente abotoando seu sobretudo e se dirigiu para a porta de saída.
- Amor! Eu já disse! A empresa me chama do nada e não posso recusar. Quer que eu perca meu emprego e viva às suas custas? – Seu sorriso escondia algo e sua fisionomia não era a mesma.
- Está bem, mas... – Sem rodeios me beijou e sorriu acenando um tchau. Logo depois bateu a porta rapidamente. Chutei a porta e levei as mãos à cabeça, farto daquela situação que vinha se repetindo há semanas. Tentava dispersar minha mente da idéia de que poderia estar me traindo. Ela saía demais e o que mais tinha eram amigos, principalmente homens. Corri e peguei o celular. Estava decidido a pedir uma mãozinha a .


- Fala aí, dude.
- Fala! Onde você está, ?
- Em casa. Preciso de uma ajuda sua. Onde você está agora?
- Quase chegando aí. Por quê?
- saiu daqui agora. Está vendo-a sair?
- Sim. Estou. Mas por quê, ? – Insistiu o amigo.
- Siga-a. Só siga. Se vir algo suspeito me ligue, ok?
- Er... Ok. – Completamente confuso desligou o celular.


Fui ao banheiro e pus-me debruçado a pia, olhando meu reflexo no espelho. Depois de alguns minutos o celular tocou.


- . Ela sempre dizia que tinha tarefas extras no trabalho, não é?
- Isso. Mas onde você está?
- Espera, meu rapaz. Então, ela trabalha num bar?
- Não. Claro que não!
- Pois bem, parei meu carro em frente á um bar e ela está indo de encontro a um cara neste exato momento. – Bufei decepcionado e furioso com aquela informação.
- Ihhh, dude...
- O quê? O que você está vendo?
- Abraçou o cara... Ihh...
- Merda, ! Fala logo!
- Agora passou de abraço pra outra coisa... – A cena se passava claramente em minha cabeça e imaginava o que faria com os dois naquela hora.
- Não, . Valeu mesmo.


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Isso foi a gota. Ia ser difícil olhar seu rosto e pedir para que fosse embora. Ou não ia agüentar assistir seu choro, mesmo se fosse tudo mentira. Ela era exagerada, com certeza ia ser uma atriz. Fiquei um estrago total e me juntar a banda para os ensaios e deveres diários estava sendo mais cansativo do que de costume. percebeu minha mudança e me deu palavras de apoio. Recebi-as, mas evitar que mais lágrimas caíssem, isso só o tempo poderia resolver. À noite chegou e vi o quanto seu cinismo me impressionava. Eu perguntava à mim mesmo como podia transparecer tanto “amor” após ter agido daquela forma. Quis agarrá-la, beijá-la, sentir seu cheiro mas me contive o máximo quando vi sua aproximação. Aquilo me matava por dentro, então segurei as lágrimas que ameaçavam escorrer de meus olhos. percebeu minha indiferença. Discutimos, brigamos e como eu previ, ela começou a chorar.


- Amor. Por favor, me perdoe. Eu te amo! – Tentou me abraçar mas me afastei.
- Pra que essa palhaçada agora? Você sabia que eu te amava! Teve graça fazer isso? – Não pude me conter e dei as costas deixando as lágrimas escorrerem.
- , me perdoe.
- Vai embora. É melhor você sumir da minha frente. – Percebi que seu choro abafou. Ela se dirigiu raivosa até a saída e o arrependimento bateu de frente à mim. Não podia deixá-la ir embora. Na mesma hora fui atrás de . Abri a porta e a encontrei descendo as escadas. Segurei seu braço e ela se virou com seu semblante sério e firme com seu rosto molhado de lágrimas.
- Já te pedi perdão, . Você sabe que eu te amo. Não existe outro que eu ame além de você.
- Eu não posso deixar você ir. – Ela sorriu e voou em meus braços, na mesma hora a segurei forte. Um sentimento intenso me tomou na hora e vi que jamais ia conseguir deixá-la. Por mais que tivesse incontáveis qualidades, seus defeitos eram ainda maiores. Porém não conseguia me libertar desse sentimento que me trazia prazer e destruição ao mesmo tempo.


Every time I fall asleep my dreams are haunted
Toda vez que adormeço meus sonhos são assombrados
And every time I close my eyes I'm not alone
E cada vez que fecho meus olhos, não estou sozinho.
And every time I cry I'm right back where you wanted
E cada vez que choro eu volto ao estado que você queria
I try to drown you out so down goes another one
Eu tento te afogar e outra lágrima vai abaixo
(Down goes another one)
(Outra lágrima vai abaixo)
(Down goes another one)
(Outra lágrima vai abaixo)
(Down goes another one)
(Outra lágrima vai abaixo)


Fim.


Nota da Autora: Tipo, foi só ouvir Down Goes Another One que essa fic saiu da minha cabeça.
Comecei a escrever e não parei mais. Adooooro essa música!
Sem contar que a voz do Jonésio tá um pecaaado. iehaiehaih yeah,Jones kills me. *-*

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