Everything is Perfect With You

Autora: Mari Judd | Beta: Amanda Ramos.



Acordei hoje com uma dor de cabeça, então resolvi continuar de olhos fechados. Senti frio, como se minhas roupas e tudo o que eu tinha não fossem o suficiente para me aquecer. Então me encolhi e de repente senti uma mão quente e macia sobre o meu rosto, acariciando meus cabelos e descendo para o meu pescoço, parando por lá para acariciar as minhas costas. Estranhei, pois além da mão estar nas minhas costas, ela estava tocando diretamente a minha pele. Abri os olhos e me deparei com um rosto que eu nunca havia visto não vida.

Levei um susto, gritei e caí da cama tudo ao mesmo tempo. O menino ficou olhando para mim e eu percebi porque minhas as roupas não estavam me esquentando. Era porque EU ESTAVA SEM ROUPA!!! O pior é que eu estava sem roupa na frente de um menino que eu não sei quem é! Puxei o lençol e me cobri, mas ele me puxou para a cama.
- Eu quero repetir a noite de ontem, querida! – Ele disse.
- Hein? Quê? Não! Socorro! – Enquanto isso ele ia me beijando, dando atenção especial ao meu pescoço. E eu estava em estado de choque, só conseguia chorar e tentar lembrar o que tinha acontecido. Apesar de não ser difícil imaginar o que havia acontecido! Resumindo eu tinha bebido até dizer chega e... Enfim, eu acordei sem roupa com uma cara no mesmo estado que eu do meu lado.
Enquanto alguns minutos pareciam tempo demais e eu já nem conseguia mais perceber nada, senti um peso sair de cima de mim e um grito:
- Saia daqui agora!
Só vi um vulto irado saindo do meu quarto. Eu me senti aliviada e ao mesmo tempo desesperada. O que ele ia pensar?
Olhei para o lado da cama com os olhos inchados e vi uma camisinha no chão. "Pelo menos isso". Ainda em transe me sentei no chão e abracei minhas pernas, chorando as lágrimas que já não tinha mais. Pus minha cabeça em meus joelhos. Quando ele me abraçou, sabia que era ele. Ele sempre estava do meu lado para me proteger. Pulei para o seu abraço, nem lembrava mais de nada, eu só precisava senti-lo naquele momento. Afinal, era o meu melhor amigo. Depois de longos minutos abraçados eu me separei dele.
- Vo... Você está... Er, pelada . – Ele falou assustado, ainda olhando para o meu corpo.
- AH! – Saí correndo para o banheiro. – Espera um pouco, , eu preciso tomar banho! Vou tentar não demorar.
- OK, mas pode demorar o quanto for preciso que eu espero. Você precisa desse tempo.
Por isso que eu amo meu melhor amigo, sempre compreensivo comigo, sempre sabia o que era melhor pra mim, sempre sabia o que fazer.
Fui para o meu banho. Deixei a água cair em meu rosto. Era impressionante como isso me fazia bem. Esqueci tudo, era só a água e eu. Nada de problemas.
- ! – Exclamei. – Dude, ele deve ter ido embora!
Saí correndo do Box e me vesti o mais rápido possível, mal arrumei meu cabelo. Corri para o quarto e sorri quando o vi deitado em minha cama, já com uma nova colcha. Sim, ele tinha arrumado todo o meu quarto. Corri e me joguei ao seu lado.
- O que seria de mim sem você? – Perguntei dando-lhe um beijo no rosto e ficando abraçada com ele.
- Isso tudo porque eu arrumei o seu quarto? – Ele perguntou rindo.
- Não! – Lhe dei um tapa no braço. – É porque você está sempre me ajudando. – Ele riu um pouco sem graça. – Tá sempre comigo.
- Você faria o mesmo por mim, pequena. – Disse dando um beijo no topo da minha cabeça.
Ficamos um bom tempo assim, abraçados, sem dizer nada, apenas esperando o tempo passar. Mas eu estava com fome e queria comer. Quando eu ia perguntar se queria comida, meu estômago roncou.
- Fome, hein? – Ele riu me deixando extremamente envergonhada. – Vem, ‘bora comer! – Ele me puxou e foi me empurrando por trás até a cozinha.
Eu morava só, mas como sempre estava em casa, e às vezes dormia aqui, ele tinha a chave de casa e até um quarto com algumas coisas dele. Ele me sentou na cadeira da bancada e foi fazer o nosso brunch (n/a: café/almoço).
- Na na ni na não! A casa é minha, quem tem que cozinhar sou eu, já fizeste muito por mim hoje e...
- Até parece que eu já não sou de casa! – Ele me interrompeu. – Além do mais, eu cozinho melhor que você. – Eu ia falar, mas mais uma vez ele me interrompeu. – Você sabe que sim!
Me calei, era verdade! Ele é bom em tudo, na cozinha, no esporte, na escola... Em tudo. Uma vez eu tentei fazer um macarrão à cabonara, mas quase que sai uma papa com molho queimado em cima. Eu só consegui fazer o que tinha instruções e eram raras as vezes que minhas invenções ficavam boas!
Enquanto ele fazia o nosso almoço, a gente conversava. Conversava sobre tudo, escola, filmes que a gente tinha visto, planos para o futuro... Quando dei por mim já estava almoçando.
Estávamos falando sobre música, quando, do nada, ele perguntou:
- Por que tinha um homem nu na sua cama?
- Cof, cof, cof. – Tinha me engasgado. – Desculpa! Cof! – Fiquei em silêncio olhando para o meu prato.
- Não vai responder? – Perguntou levantando a sobrancelha. Fiquei um minuto calada. Era impressionante como ele me deixava livre.
- Eu bem que gostaria, mas é que eu... – Hesitei.
- Você...
- É que eu não lembro! – Falei mordendo os lábios.
- Hahahahahaha – Ele riu. – Como assim? – Perguntou ainda rindo.
- Não sei! – Falei sentindo que tava começando a ficar vermelha. – Eu queria me lembrar para me torturar por ter sido uma idiota, mas eu não consigo! – Agora ele estava gargalhando. – Pára de rir assim de mim! – Dei um tapa no braço dele. – Não tem graça! – Fiz bico.
- Desculpa, mas é bem feito pra ti! Você sabe que é fraca pra bebidas, por que bebeu tanto assim? - Eu sei, eu sei, mas é que foram me dando e eu fui tomando...
- É, eu vi!
- Por que você não me parou? – Perguntei indignada.
- Porque você ameaçou a me bater se eu te enchesse o saco de novo. – Ele falou olhando para o prato.
- Onwww meu bebê, você sabe que eu nunca bateria em você. – Beijei seu rosto.
- Eu sei, por isso que eu voltei, mas você já tinha ido. Então pensei que você já tinha ido pra casa, o que não era mentira. – “Cínico” pensei. – Aí resolvi que falaria contigo amanhã, no caso, hoje. E aqui estamos nós.
- Nunca mais eu bebo tanto! – Prometi, deixando meu prato na pia.
- Acho bom mesmo. – Ele disse botando seu o prato em cima do meu na pia.
- Ai, ai, ai, o que seria de mim sem você? – Repeti a pergunta.
- Provavelmente uma mãe adolescente que bebe para esquecer a vida porque nem sabe quem é o pai do filho dela. – Ele falou rindo, mas eu dei um tapa bastante forte no braço dele. – Outch! Que foi?
- Só porque você me ajudou não significa que você pode ficar jogando isso na minha cara! Eu agradeço muito, mas PÁRA! – Gritei com algumas lágrimas lutando pra sair.
- ... Olha... Desculpa! – Ele falou bastante arrependido – Desculpa! Eu não queria te magoar! Desculpa, desculpa, desculpa mesmo! ? – Ele implorou.
- Olha , eu estou muito cansada agora, amanhã a gente se fala, ok?
Ele concordou com a cabeça e saiu pela porta da cozinha. Deixei meu olhar ficar o quanto fosse preciso sobre aquela porta pra eu pode perceber o que havia acontecido. Quando a ficha caiu senti a primeira lágrima teimosa cair dos meus olhos. Subi para o meu quarto, não podendo conter mais as lágrimas, e me joguei na cama gritando:
- Idiota! Idiota! Idiota!
Eu estava me sentindo a pior pessoa do mundo! estava certo, mas ele não precisava jogar isso desse jeito não minha cara! Chorei por horas e quando dei por mim estava dormindo de novo. Provavelmente exausta de tanto chorar. Quando acordei, vi o deitado do meu lado me observando.

- Há quanto tempo você esta aqui? – Perguntei ainda sonolenta.
- Desde as sete. – Ele falou indiferente.
- O QUÊ? QUE HORAS SÃO? – Perguntei me sentando na cama tão rápido que fiquei tonta.
- Calma, calma. – Ele falou me puxando para deitar na cama de novo. – São 7h45 agora.
Eu deitei na cama, fechando os olhos, um pouco aliviada. Cara, eu tinha dormindo muito hoje.
- Desculpa. – Ele disse olhando para suas mãos. – Desculpa por ter sido tão insensível contigo, eu não deveria ter feito aquela piada sem graça. Sou seu melhor amigo e eu tenho que ficar do seu lado sempre que você precisar e não te botando pra baixo e te avacalhando ou zoando da tua cara...
- ... – Eu o interrompi.
- Não, não me corta! Eu treinei a tarde toda pra te falar e eu vou terminar. – Ele falou nervoso e eu ri da situação. – Como eu estava falando, eu fui um péssimo amigo e eu entendo se você não quiser mais falar comigo. – Ele terminou ofegante.
Esse era mais um motivo pra eu amar ter o meu melhor amigo. Ele sempre tava do meu lado, mesmo quando a gente brigava, ou melhor, mesmo quando a gente brigava e eu estava errada como agora. Eu continuei olhando para o rosto dele, observando cada detalhe. Eu ainda não consigo entender porque eu tenho tanta sorte de ter um amigo como o !
- Fala alguma coisa! – Ele pediu. – Estou ficando nervoso! – Eu ri do nervosismo dele.
- Primeiro: preciso tirar a tua chave! – Ele começou a mexer no bolso, provavelmente para tirar a chave. – Sempre me assusto quando te vejo aqui de repente. – Ri. – Não, a chave é sua! – Devolvi a chave que ele tinha posto em minha mão. – Eu tô brincando. – Ele riu e eu ri dele. – Segundo – continuei, mas mudando totalmente minha expressão risonha para uma séria; essa expressão ficou por pouco tempo, já que nos dois começamos a rir. – É serio, me deixa explicar!
- Ok! – Ele parou de rir.
- Em segundo lugar: você é o melhor amigo do mundo, eu te quero do meu lado em qualquer ocasião, e mesmo que na hora não pareça, EU TE AMO MUITO! Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida! Você é um anjo que veio para me proteger e me alegrar. Sem você provavelmente eu seria uma mãe adolescente que bebe para esquecer a vida porque eu nem iria saber quem era o pai do meu filho. – Ele sorriu. – Mas falando sério! – A essa altura nossos olhos já estavam transbordando. – Eu preciso muito de você.
Ele olhou no fundo dos meus olhos e eu fiz o mesmo. Os olhos dele eram tão azuis.
- Obrigado! – Ele disse tocando na minha bochecha, fazendo com que eu fechasse os olhos automaticamente. – Eu também te amo.
Quando abri os olhos estava com o rosto a um centímetro do meu. Eu não sabia o que fazer, mas o telefone dele tocou.
Ficamos sem graça e ele atendeu. Acho que nem ele sabia direito o que, ou melhor, porque ele ia fazer o que ele ia fazer.
- Ok, então! – Silêncio. – ‘Tá! Eu passo aí daqui a pouco, Débora. - DÉBORA? Que Débora? Aquela Débora? A que eu odeio? Não pode ser! Ou pode? – Beijo – BEIJO?! – Tchau.
Não acredito, ele falou com ela! Pior, ele falou com ela na minha frente! Que isso, ? Ele é só seu melhor amigo. Tá certo que você não gosta da Débora, mas ela não fez nada pro ! Só se joga pra cima dele e quase senta no colo dele quando vê, mas não tem problema, pois o é solteiro e além do mais não posso culpá-la, pois o é lindo! CHEGA! Sai daqui, pensamento pervertido! Não...
- ? – Ele tinha me tirado da minha guerra de pensamentos. – Tá tudo bem?
- Ah, não, está tudo ótimo. – Tentei fazer uma cara normal.
- Er, ... Eu vou ter que sair. - Ele falou encabulado.
- Você vai dormir aqui? – Perguntei.
- Não sei, sabe...
- Você vai ficar na casa da Débora? – Tentei fazer uma voz entediada, apesar do meu esforço não ter tido muito sucesso.
- ...
- Por que você não me contou? – Interrompi, sentindo as malditas lágrimas em meus olhos.
- Não tem nada de mais entre nós...
- NÃO PODIA SER UMA MENINA MELHORZINHA, NÃO? – Gritei.
- ...
- MAS NÃÃÃO! ELE TINHA QUE ESCOLHER JUSTAMENTE A QUE EU MAIS ODEIO!!!
- , escuta...
- NÃO , ESCUTA VOCÊ! VOCÊ SABE QUE ESSA MENINA ME PERSEGUE DESDE QUE A GENTE SE VIU, E LOGO VOCÊ! Logo você vai se envolver com ela... – Fui perdendo a voz.
- ... Eu nunca quis te magoar. – Disse ele tentando me fazer olhar pra ele. – Foi por isso que eu não te contei, porque eu tinha medo da tua reação.
- Gostou dela agora? – Tentei controlar a minha voz. – Quando eu soube assim... Do nada? Por acaso?
- Não queria que fosse assim.
O silêncio constrangedor tomou conta do quarto o me olhava assustado e com medo de falar alguma coisa e piorar a situação. Eu olhava pro chão tentando segurar as lágrimas que estavam lutando pra sair.
- A Débora está te esperando. – Falei sem mudar de posição.
Ele assentiu com a cabeça e saiu me dando um beijo na cabeça, o que foi o golpe final pra eu perder a luta para as minhas lágrimas. Deitei exausta de tudo, de tanto ter chorado hoje, de tanto ter me decepcionado hoje. Dormi pesadamente e sem sonhos.
Era domingo, meu rosto estava inchado, minha cabeça doía, meu estômago roncava, pois a última vez que eu comi tinha sido no almoço de ontem. Desci pra tomar café-da-manhã, mas nada o que tinha na geladeira eu queria. Subi de novo tomei meu banho e me arrumei pra ir à Starbucks. Chegando lá tomei um chocolate quente com dois muffins. Enquanto eu tava comendo vi que eram 8h17. "Acordei cedo hoje!" pensei.
Ainda estava muito magoada com o , como ele pode fazer isso comigo? Eu não estava disposta a ficar muito tempo com raiva dele – até porque eu não conseguiria –, mas não poderia ser hipócrita e fingir que estava tudo bem quando não estava. Estava tudo péssimo. Eu comi tudo sem nem prestar atenção ao que eu fazia e quando dei por mim tinha acabado de comer.
Voltei para casa ainda triste, não sabia como fazer para esquecer isso. No caminho de casa, parei em uma pracinha. Afinal, tinha a manhã toda pra gastar pelas ruas de Londres. Para falar a verdade, eu tinha quase dois meses para não fazer nada, eu estava de férias! Este fato me animou um pouco.
Fiquei lá sentada observando as criancinhas brincarem na minha frente. Sempre me anima ficar observando as crianças, pois elas são tão inocentes e felizes, não precisam se preocupar com muita coisa, podem fazer quase tudo que ninguém liga e... Elas são muito fofas e engraçadas! Me peguei várias vezes rindo delas e decidi: eu quero ter três filhos! O Théo, o Ben e a Claire. Eu vou trazê-los nesse parque sempre que puder.
Enquanto me distraia com meus pensamentos, uma menininha estava me cutucando junto com um menininho. Os dois tinham olhos azuis e cabelos claros, pareciam ser irmãos. Ele tinha um papel na mão e ela tinha uma flor tipo tulipa roxa.
- Pra você. – A menina falou. Ela era tão meiga e fofinha.
- Isso também. – Disse o menino tão fofo e meigo quanto a menina.
Eu peguei a carta e a flor. Deixei, com cuidado, a flor em meu colo e peguei pra ler o bilhete:

“Desculpa, nunca quis te magoar. Me dá uma chance pra eu me desculpar?
Com Amor, .”

Fiquei olhando para o bilhete e tentando imaginar como ele sabia que eu estaria aqui. Ah, lembrei. Eu sempre venho a esta praça, eu estava fazendo tudo automático que eu nem percebi onde estava. Por que ele conseguia fazer com que eu esquecesse tudo o que tinha acontecido? Virei o cartão e dizia:

“Me encontre na nossa árvore.”

Sorri automaticamente e lembrei daquela árvore que a gente chama de nossa.

Flashback on
Era uma tarde de domingo e eu estava embaixo dela, da árvore, porque a minha coelhinha tinha morrido e eu a amava. Ela tinha vindo do Brasil junto comigo, um presente do meu padrinho que eu amo tanto. Enquanto eu me acabava de tanto chorar, com os meus dez anos, um menininho de olhos bem azuis se aproximou de mim.
- O que houve? – Ele me perguntou, parecia realmente preocupado.
- A minha coelhinha Mel morreu hoje. – Falei soluçando.
- Oh, que pena! – Ele sentou ao meu lado.
- Era a minha melhor e única amiga aqui. – Comecei a chorar de novo. – Eu acabei de me mudar.
- Calma, agora eu estou aqui e eu posso ser seu amigo se você quiser. – Ele me olhou carinhosamente e eu o abracei. Desde desse dia nós nos tornamos melhores amigos.


Flashback off

Estava andando e relembrando aqueles sete anos de amizade quando cheguei à nossa árvore e o encontrei sentado no chão, encostado no tronco de olhos fechados. Aproveitando isso, fui cuidadosamente para o seu lado, tentando fazer nenhum barulho e sussurrei em seu ouvido:
- Estou pronta para ouvir as suas desculpas.
Ele abriu os olhos com o sorriso que eu tanto amava e me abraçou apertado, um abraço de saudade e arrependimento, mas que eu tanto precisava. Retribui o mesmo, tentando lhe passar confiança para ele me dizer o que ele tinha para falar.
- me desculpa, desculpa mesmo! Eu nunca tive um relacionamento sério com a Débora, eu estava apenas curtindo, por isso que eu não te contei, porque não era nada demais. Na verdade não era nada, eu nunca, nunca pensei que você fosse ficar tão chateada, tão brava quanto naquele dia. Quando eu saí da sua casa eu liguei pra Débora e acabei tudo antes mesmo de começar ou continuar. Eu te adoro tanto que eu não posso fazer nada que te aborreça ou te magoe sem me machucar profundamente. – Ele respirou e olhou no fundo dos meus olhos. – Me desculpa?

Era covardia dele, ele sabia que eu ia perdoá-lo. Não que eu quisesse fazer ao contrário, não, eu ia perdoá-lo mesmo, mas ele já me tinha em suas mãos, não conseguia ficar mais de um dia brigada com ele... Sempre fora assim desde quando nos conhecemos, mas eu queria fazer um pouco de suspense pra ele.
- Você está quase perdoado. – Sorri por ver a cara dele.
- É? E o que eu preciso fazer mais pra ser perdoado? – Ele sorriu meio tarado e nós rimos.
- Você sabe! – Sorri mordendo meu lábio inferior.
- ‘Bora logo lá comprar teu chocolate!
Eu ri que nem uma criança feliz. Eu amo chocolate! Não consigo viver sem isso. O chocolate é meu melhor amigo, depois vem o , e ele sabe disso, porque o chocolate nunca me deixa mal. Que coisa gay que eu falei, mas é verdade, vai?

A gente andava de mãos dadas. Na verdade ele estava andando e eu pulando, parecia que ele era meu irmão mais velho e eu a irmãzinha de dez anos, a diferença de altura entre nós também ajudava muito pra esse tipo de pensamento. Mas eu estava tão feliz que eu não podia ficar andando como uma pessoa normal, tinha que ficar saltitando, afinal meu melhor amigo estava comigo depois da gente ter discutido, então é totalmente compreensivo que eu estivesse assim e relembrando o que ele me tinha me dito.
- Há quanto tempo você tava saindo com a legalmente loira do Paraguai? – Não que eu tenha alguma coisa contra esse filme, eu até gosto dele, mas é que a Débora é igualzinha a personagem do filme só que mais má. Não que a Ellen seja má, mas vocês entenderam, mais fresca, mais burra... Enfim, uma cópia barata e falsificada do Paraguai.
- Bem, a gente tava saindo por mais ou menos duas semanas. – Ele falou sem olhar pra mim. – Foram as duas semanas mais mal gastas de toda a minha vida. – Agora ele tinha falado olhando dentro de meus olhos para eu ter certeza de que ele não mentia. Naquele momento me lembrei do que ele havia escrito pra mim um dia: “If you don’t believe me, just look into my eyes ‘cause the heart never lies”

Depois dessa frase continuamos nosso caminho em silêncio, mas eu estava mais feliz por ele ter dito aquilo. Chegamos à minha loja de chocolates preferida e pedimos um cesta cheia de chocolate com recheio de brigadeiro, aquele tipo que o gosto de chocolate fica na boca por muito, muito tempo. Eu sempre como esse bombom, se eu pudesse eu me casava com ele! Tá bom, parei. Mas eu sempre suspirava de olhos fechados de tão gostoso que era o bombom.
- pára! – me chamou me fazendo abrir os olhos. – , tá todo mundo olhando pra gente. – Ele sussurrou. – Parece que você tá... – Ele abaixou mais o tom de voz. – Sabe como é, né? Você tá aqui, comigo do seu lado, de olhos fechados, gemendo e fazendo cara de quem está gostando de algo bem prazeroso... Tá chamando a atenção de todo mundo.
Olhei para os lados e realmente tinha um monte de gente olhando pra gente, quer dizer pra mim, porque a única lesa que não consegue ficar quieta ali, naquela mesa, era eu! Senti meu rosto começar a ficar quente, eu só queria um buraco pra me jogar lá e só sair quando aquela pessoas saíssem e nunca mais as visse.
- É que eu amo esse chocolate, eu realmente amo! – Dei um sorriso amarelo enquanto as pessoas voltavam a fazer o que faziam antes de parar pra ficar me olhando, mas também quem mandou elas ficarem me olhando? Será que ninguém pode mais comer sossegada mais seu chocolate nesse país? – Nunca mais me deixa fazer isso em público de novo! – Falei para o .
- Pode deixar! Da próxima vez eu deixo você fazer isso em um lugar mais reservado onde só esteja nós dois. – Ele sorriu tarado.
- Pode ser. – Concordei entrando na brincadeira e começamos a rir.
Terminamos os nossos chocolates e fomos embora da loja, não sei como eu fiquei tanto tempo depois do mico que eu passei naquele lugar. Fomos para a minha casa cantando várias músicas que apareciam em nossas cabeças pelo caminho e ríamos das reações das pessoas quando olhavam pra gente. Isso era divertido demais pra nós. Chegando em casa, ele foi logo pra sala e foi ligando a Tv.
- Vou tomar banho, ok? – Perguntei pra ele.
- Tudo bem, eu já sou de casa mesmo!
- Isso eu não duvido! – Rimos. – Vou tentar não demorar.
- Acho bom mesmo! – Ele riu.
- Eu disse tentar. – Gritei das escadas.
Fui tomar meu banho no banheiro do meu quarto. Enquanto a água caia sobre mim fiquei me lembrando do dia e do que já me aconteceu. “Tudo muda em questão de segundos! Num segundo eu estava com raiva do , e no outro a gente já estava brincando” pensei. Mas era sempre assim, a gente raramente brigava, mas quando isso acontecia – a maioria das vezes por minha causa –, um dos dois, quase sempre o , ia e pedia desculpa para o outro. Sempre assim. Não conseguíamos ficar brigados por muito tempo. E ultimamente estava cada vez mais carinhoso e atencioso comigo, mais do que antes. Depois de tomar meu banho vesti um short qualquer, o primeiro que eu vi, e uma blusa que eu adorava, que havia me dado há algum tempo, então desci.
- Quer almoçar? – Perguntei a ele.
- Já está com fome? – Ele perguntou perplexo.
- Não, mas é que está na hora. – Ri.
- Ah não! Não, não, agora não. – Ele falou preguiçosamente. – Senta aqui comigo.
Ri da forma que ele havia falado e fui sentar ao seu lado e quando o fiz, recebi um abraço. Assim ficamos vendo TV, abraçados por um tempão. Normal, como sempre. A única coisa diferente, que não fazia parte de nosso dia-a-dia, era que ele ficava sussurrando em meu ouvido “Eu te amo”. A gente sempre fazia isso, mas não tantas vezes como ele estava fazendo agora. Foi quando eu tive um repentino surto de compreensão. Tudo estava se encaixando.
- Erm, , eu vou ter que subir, fica aí, depois eu volto.
- Eu vou com você, sem problemas! – Ele se ofereceu.
- Não, não! Não é preciso. Eu subo lá e volto em um instante. – Falei e subi correndo para meu quarto trancando a porta do mesmo.

Eu precisava ficar sozinha. Não era possível, eu não estava preparada pra isso, não assim, tão de repente. Sei que é uma bobagem minha, afinal a gente se conhece há tanto tempo, mas mesmo assim era novo pra mim. Meus sentimentos estavam confusos, não sabia o que pensar naquele momento, ao mesmo tempo em que eu não queria ouvir eu estava feliz e ansiosa pra ter certeza. Minhas amigas sempre brincavam comigo dizendo que o e eu éramos apaixonados e coisa e tal. Eu sempre rebatia que era amor de irmão, mas agora... Voltei pra sala, não podia me esconder assim e eu sabia que ele queria me falar alguma coisa, ele abria a boca mas logo depois fechava de novo sem dizer nada.
- Algum problema? – Ele perguntou assim que me viu.
- Não, não, nada não. Tá passando algo de interessante na TV? – Desconversei sentando ao lado dele de novo.
- Não sei, vê aí! – Ele me deu o controle.
Ficamos mais algum tempo assim. Na verdade, estávamos perdidos em nossos pensamentos e eu tenho certeza que ele sabia o que eu estava pensando. Ele sempre sabia, às vezes isso era irritante.
- ... – Ele rompeu o silêncio que havia se apoderado da minha sala. – Eu preciso te dizer uma coisa que eu percebi há algum tempo, uma coisa que sempre esteve escondida dentro de mim e que há algum tempo gritou tão alto dentro de mim que eu não pude não percebê-la. – Ele falou nervoso.
- O que foi ? – Perguntei ficando mais nervosa que ele. “Não pode ser, na pode ser” pensei.
- Você sabe que eu te amo muito, né? – Ele perguntou se aproximando de mim, eu só balancei a cabeça concordando e me afastando um pouco ficando presa entre o braço do sofá e ele. – Bem, eu não sei bem o que dizer então eu vou logo ao ponto, vou direto ao assunto. – Ele falou mais nervoso.
- zinho, meu querido, você está me assustando. – Falei tentando ir mais para trás, mas sem sucesso, pois não tinha mais espaço.
- Por favor, não se assuste! – Ele falou cada vez mais nervoso e preocupado. – Por favor, fica calma! Eu estou tentando dizer há muito tempo, muito tempo mesmo, é que eu... eu...

TRIM TRIM

“Salva pelo gongo” pensei.
Fui correndo ao telefone e atendi. Fiquei conversando um bom tempo com uma amiga minha que havia ligado na esperança de que se enjoasse de me esperar e fosse embora, mas não deu certo. Eu não estava preparada pra ouvir o que eu sabia que ele queria me dizer, e pelo visto ele tava decidido a me dizer. Acho que ele passou a tarde inteira unindo forças pra tentar me contar. Eu tinha que mudar de assunto!
- A Jane acabou de ligar, perguntando se eu queria ir a uma festa amanhã. – Falei assim que desliguei o telefone.
- Na segunda? – Parecia que ele tinha se esquecido.
- É, qual é o problema? Estamos de férias. – Falei indo para trás do sofá. – Eu vou!
- Então eu vou também! – Ele falou decidido.
- Tudo bem, acho que você pode ir sim. – Concordei.
- Passo às oito pra te pegar. – Ele afirmou e eu balancei a cabeça confirmando. Ficamos em silêncio mais uma vez deixando o silêncio incômodo dominar o ambiente. – Você não quer ouvir o que eu tenho pra dizer, não é? – Ele interrompeu o silêncio.
- Ainda não estou preparada. – Respondi de cabeça baixa. – Ainda não. – Fiz questão de enfatizar a palavra ‘ainda’.
- Tudo bem, eu espero. – Ele falou cabisbaixo. – Mas me avise quando estiver preparada e, por favor, não demore.
Ele se abaixou e começou a pegar as coisas dele. A medida que ele se movimentava a tristeza, a insegurança, culpa e a vontade de chorar aumentavam dentro de mim. Eu estava fazendo-o sofrer e isso doía muito em mm, eu queria ouvir, mas eu não estava preparada. Passei sete anos da minha vida acreditando que ele era meu amigo e mudar isso assim, de uma hora para outra, acabou me assustando.
- ! – Chamei quando ele já estava na porta, ele virou e eu corri em sua direção abraçando-o. – Me desculpa. – Beijei o seu rosto. – Me dá um tempo, um dia. Deixa eu pensar sobre isso um pouco?
- Tudo bem. – Ele beijou sem querer o canto da minha boca e eu involuntariamente sorri.
- Até amanhã. – Falei abrindo a porta, ele só acenou com a cabeça indo embora.
Ele saiu e eu o segui com os olhos até ele sumir do meu campo de visão. Fechei a porta, mas continuei lá por mais um tempo tentando absorver tudo o que havia acontecido hoje, que não foi pouca coisa. Voltei a sentar no sofá e ficar na frente da televisão, porque eu não estava prestando a mínima atenção ao que estava passando. Continuei mais algum tempo lá, depois subi para o meu quarto e apaguei. Era só isso que eu queria: dormir e fugir um pouco da realidade. Nem lembrei que sentia fome.

Acordei no outro dia bem tarde, dormi mais de treze horas, já tinha tomado a minha decisão. Não deixaria que nada atrapalhasse aquela amizade longa, forte e benéfica que eu tinha com . Eu adorava ficar com e não seria um pequeno obstáculo, um pequeno impasse, que iria atrapalhar nossa amizade. Isso tudo seria resolvido. Demorei mais um pouco no quarto, fiquei o máximo de tempo que pude lá, mas às duas horas da tarde eu vi que não podia mais continuar lá e desci pra comer. Eu estava morta de fome, fraca e quase vomitando suco gástrico. Depois que almocei lembrei que não tinha vestido para ir à festa, então me arrumei o mais rápido possível e saí correndo para o shopping. Eu precisava estar linda.
Passei horas no shopping tentando achar o vestido ideal. E encontrei. Quase seis horas da tarde e eu tinha acabado de chegar em casa. Tinha umas duas horas para me arrumar e eu nem tinha pensado no cabelo ainda. Fiz tudo que eu tinha para fazer pela casa o mais rápido possível e fui correndo tomar meu banho. Quando finalmente consegui respirar direito já estava quase na hora do chegar. Estava quase pronta, meu vestido era um tomara-que-caia meio esporte vinho, com um tule preto na barra dele; calçava um All Star dourado. Tinha feito um rabo-de-cavalo em meu cabelo com um grande cacho na ponta e um pequeno topete na frente. Minha maquiagem era concentrada em meus olhos com bastante lápis preto, um pouco de blush dourado e apenas um gloss brilhante nos lábios. Me sentia confiante, me sentia como aquela menina que não tá nem aí com que os outros acham e faz tudo o que quer que todo mundo queria ser.

Às oito em ponto, chegou. Um perfeito inglês. Desci as escadas me sentindo confortável, porém nervosa. Logo, logo seria decidida a continuação ou não da minha amizade com . Cheguei até a porta e respirei fundo. “O que tiver que ser será!” mentalizei.

Ao abrir a porta vi um encantador, com um sorriso perfeito estampado em seu rosto, encostado na soleira da minha porta. Ele vestia uma camisa social azul marinho bem escura, que por um momento achei que fosse preta, e os três primeiros botões estavam abertos mostrando um pouco o seu peitoral bem definido – me fazendo esquecer como se respirava por alguns segundos –, além de uma gravata cinza, meio grafite, um pouco brilhosa e sua jeans preta que contrastava muito bem com seu tênis maravilhosamente branco. Para completar todo o charme da sua produção, seu cabelo tinha um penteado engraçado, quase um moicano. Não conseguia identificar muito bem, só sabia que estava maravilhosamente bagunçado.
- Oi! – Ele falou.
- Oi! – Respondi. – Pode entrar! – Me afastei o deixando entrar em minha casa.
Ele passou e eu continuei alguns segundos na porta depois de tê-la fechado. “Por que ele faz isso comigo?”. Eu estava desnorteada. Saí dos meus pensamentos e fui encontrá-lo.
- A gente só vai para uma simples festa, não precisa humilhar as outras meninas assim. – Ele me disse rindo.
- Vou considerar isso como um elogio. – Falei indo em direção à cozinha.
- Mas é! – Ele sorriu e eu o imitei. – Eu estava pensando em passar na Starbucks antes de ir à festa, quer?
- Ok. – Concordei. – Mas só se eu tiver meu muffin de chocolate!
riu e concordou com a cabeça. Saímos de casa e fomos andando até uma Starbucks que tinha perto da minha casa, pagamos nossos pedidos e fomos nos sentar em uma mesa mais afastada.
- , agora sou eu quem tem que dizer alguma coisa! – Ele me olhou desconfiado me deixando mais nervosa, mas agora que eu tinha começado eu tinha que continuar. – ... – Ele me olhou e eu pude ver em a confusão seus olhos. Ele queria me ouvir, mas ao mesmo tempo tinha medo do que eu poderia dizer. Continuei mesmo assim. – , esse pouco tempo em que a gente não se viu foi tempo suficiente para eu pensar bem e decidir o que eu quero. – Fiquei um pouco em silêncio, todo o discurso que eu havia pensado algumas horas atrás em casa havia se embaralhado na minha cabeça e eu estava tentando refazê-lo.
- E o que você quer? – Ele me perguntou apreensivo.
- Eu quero... – Fechei os olhos e respirei fundo. Era agora. Que se dane o discurso, vou falar de uma vez só. – Eu quero saber o que você tem pra me dizer!
Ele abriu o sorriso mais aliviado e verdadeiro que eu nunca tinha visto em seu rosto. Ele estava radiante e isso me fez sorrir também. Sabia que havia tomado a decisão certa. Ele ia começar a falar, mas eu o interrompi, tinha tido uma idéia.
- Não, aqui não! Surpreenda-me... – Sorri enigmática.
- Como assim? Você não quer ouvir? – Ele perguntou nervoso. - Eu quero ouvir sim, mas quero ouvir em outro lugar que não em uma lanchonete sem privacidade. Desculpa. – Abaixei minha cabeça pensando que foi muito arrogante o que eu tinha dito.
- Ei! – Ele me chamou com um sorriso sincero. – Eu concordo com você.
Terminamos nosso lanche e fomos andando para festa, era bem perto da minha casa mesmo.
Fomos rindo, conversando, falando besteiras e rindo mais um pouco, estávamos como sempre foi. Maravilhoso. Chegamos de mãos dadas na festa, não que isso fosse especial, nós sempre estávamos assim, eu ainda estava nervosa, mesmo tentando disfarçar. O estava normal; na verdade ele estava mais que normal, ele estava radiante, com um sorriso encantador que hoje eu realmente vi quão encantador era. Todos os olhares estavam virados para nós, eu começava a ficar um pouco envergonhada, mas parecia nem perceber. Encontramos nossos amigos e fomos dançar todos juntos, estava tudo ótimo, mas no meio da festa me chamou para um canto.
- Vou ter que sair da festa rapidinho, mas fique aqui com todo mundo. Eu volto pra te pegar. – Ele me informou e me deu um beijo na cabeça antes de ir embora, não deixando tempo nem de entender o que ele havia dito.

Fiquei parada por mais algum tempo no lugar em que ele havia me deixado, me perguntando por que diabos ele tinha ido embora. Decidi ir ao bar para tomar alguma coisa, fiquei lá, tomando um drink atrás do outro, quando percebi que estava ficando um tanto quanto alegre resolvi parar, afinal ele ainda viria me pegar e eu queria está lúcida para enchê-lo de perguntas. Voltei para a pista de dança para ficar com conhecidos, meus amigos, sei lá... Eu precisava ver rostos amigos. A festa foi rolando e as horas também, já eram quatro e meia da manhã e havia uma hora que tinha saído. A festa já estava no seu fim, muitas pessoas já tinham ido e os que ainda estavam por lá eram, em sua maioria, casais. Eu mesma estava sentada do lado de um casal de amigos que esquecera que eu estava presente e estavam se beijando – vulgo se engolindo – enquanto eu segurava vela. Como ninguém ligava para minha presença mesmo, voltei ao bar, que era um milhão de vezes melhor que ficar sentada do lado de um casal que não estava nem aí pra minha presença e ficava se pegando ao meu lado. Já estava indo para o meu terceiro drink desde que eu havia sentado lá de novo e nono da noite quando alguém puxou meu braço e eu sem pensar muito dei um tapa forte no ombro da pessoa.
- Outch! Que é isso ? – Ouvi a pessoa reclamar.
Olhei para o rosto da pessoa que eu havia agredido e percebi que era o , ele me olhava assustado, não consegui me controlar e comecei a rir descontroladamente.
- Desculpa ! – Eu tentava falar de tanto que ria. Realmente eu era muito fraca com álcool e acho que já estava meio porre. – Desculpa, eu não sabia que era você! Pensei que fosse algum tarado ou algo do tipo, sei lá.
- Maluca! – Ele reclamou balançando a cabeça.
- , por favor, me tira daqui! Me salva do tédio! – Falei chorosa. Definitivamente eu estava porre.
- Foi o que eu vim fazer. – Ele falou rindo de mim. – Vem comigo!
Eu ri como uma criança e dei a mão para ele, que me levava sem esforço. Eu nem lembrava mais de nada antes daquela festa, digo, da nossa conversa. Chegamos ao carro dele e ele me abriu a porta do carona pra mim, indo sentar-se no banco do motorista em seguida.
- Pra onde a gente tá indo? – Perguntei brincando com maus dedos.
- Espera, você vai ver. Só posso te dizer que você vai ter uma surpresa. – Ele sorriu pra mim e me fez sorrir junto.
ligou o rádio e uma música conhecida começou a tocar, eu não consegui reconhecer até chegar no refrão.

“…What a beautiful smile
Can I stay for a while?
On this beautiful night
We'll make everything right
My beautiful love…”


Beautiful Love, do The Afters. cantou esse pedaço pra mim deixando a música mais especial que ela realmente é.
- Essa música combina com o momento. – Ele falou ainda de olho no trânsito, mas pude ver um sorriso se desenhar no canto de sua boca e automaticamente desenhar-se na minha também, junto com um pouco de cor vermelha em minhas bochechas.

Quando o carro parou estávamos em uma praia longe de tudo. Uma praia deserta. foi mais rápido que eu e desceu do carro primeiro, enquanto eu olhava a praia. Chegando à minha porta, ele a abriu pra mim todo cavalheiro e foi pegar uma toalha no banco de trás. Fomos andando em direção à areia e estendeu a toalha para sentarmos; a essa altura nossos sapatos já estavam pendurados em nossos dedos. Já eram mais de cinco e meia da manhã e o céu já estava começando a clarear.
- Eu trouxe você aqui porque eu queria que você visse o amanhecer comigo e também te dizer o que há algum tempo vem sendo adiado. – Ele disse segurando a minha mão e olhando nos meus olhos. – Esses próximos minutos, próximas horas, dias, meses ou até mesmo anos, muitos anos, podem ser os melhores da minha vida. – Ele deu um sorriso doce e sincero. – Só depende de você!
Eu sorri e beijei a sua bochecha, quase no canto de sua boca e nós dois sorrimos bobos. Ele me fez sentar entres suas pernas, abraçando a minha cintura e colocando seu queixo em meu ombro. Eu joguei minha cabeça pra trás encontrando o ombro dele e abracei seus braços por cima da minha cintura. Ficamos assim um bom tempo, assistimos os primeiros raios tímidos de sol aparecerem e só saímos quando ele todo já tinha aparecido.
- Já está na hora de ir. – Ele sussurrou em meu ouvido me arrepiando dos pés à cabeça, e quando menos esperei ele me carregou.
- EI! – Reclamei rindo.
- Não estraga esse momento love & cute. – Ele falou com uma voz afetada fazendo nós dois rirmos.

Ele me levou até o carro e, não sei como, abriu a porta do carro comigo no colo e me sentou no banco, rindo da cara que eu fiz de assustada. Fomos a viagem toda rindo e conversando, comentando do espetáculo que vimos. Ele dirigiu até a minha casa e desceu comigo quando chegamos. Entramos em casa abraçados e assim que eu abri a porta de entrada levei um susto, um bom susto. Na sala havia uma mesa redonda preparada para dois com um vaso com dois girassóis no centro da mesinha. Tudo muito simples, mas muito lindo. A mesa mais linda que eu já tinha visto.
- Foi por isso que você saiu da festa? – Perguntei surpresa e ele apenas concordou com a cabeça timidamente. – Obrigada! – Me virei para beijar seu rosto, mas acabei encostando nossas bocas, ele me beijou e eu retribuí. Durante nosso primeiro beijo senti várias emoções, cada toque dele me arrepiava e me fazia aumentar o frio na barriga que eu estava sentindo, parecia que meu estômago estava soltando fogos de artifícios. Nosso beijo era desejoso, ansioso e o principal, apaixonado. Com custo nos separamos. Nos olhamos e demos sorrisos bobos pela 1452º vez no dia.
- Senta aqui. – Ele falou puxando uma das cadeiras para eu sentar. Foi à cozinha e voltou de lá com duas bandejas fechadas botando cada uma em cima de cada prato da mesa – Tcharã! – Ele falou após levantar a tampa da bandeja.
Era um pranto bonito e engraçado, tinha um grande croassaint tipicamente francês com duas cerejas acima dele formando uma cara feliz. Ri do desenho, ele era muito gay, mas não deixava de ser lindo. Eu nem percebi quando ele voltou da cozinha com uma jarra de suco de laranja.
- Vamos comer? – Ele me perguntou e eu acenei com a cabeça confirmando. Comemos em silêncio, mas não um constrangedor, um bom, de quem estava apreciando cada segundo. Estava tudo perfeito! Nunca tinha me sentido tão feliz em toda minha humilde vida. Ele também tinha um sorriso estampado no rosto. A nossa alegria era tão grande que parecia que toda a casa estava feliz com a gente. – E aí, gostou? – Ele perguntou quando acabamos de comer.
- Muito! – Respondi sorrindo. – Amei! Estava tudo perfeito, cada detalhe!
- Que bom! – Ele disse. – Eu sei que não é muito necessário agora, mas eu quero te dizer o que eu ainda não te disse.
- Pode dizer! – Falei rápido. – Eu quero ouvir! – Ele abriu um sorriso mais que antes, se é que isso é possível, depois que eu disse aquelas três palavras.
- , há muito tempo eu venho tentando te dizer uma coisa, através de gestos, ações, palavras, enfim... De todos os jeitos estava tentando te mostrar que meus sentimentos por ti mudaram, não totalmente, pois esse novo sentimento sempre esteve aqui. – Ele apontou para o coração. – Mas é que ele cresceu, demais, e eu não pude ignorá-lo. – se levantou e pegou minha mão me puxando para levantar também, juntando as minhas mãos no espaço dentro das dele. – ... – Ele respirou fundo. – Eu queria te dizer que eu te amo! Mas não um amor de amigo como antes, um amor bem maior. , quero que você seja minha companheira, minha namorada, minha mulher. Quero que você seja a mulher da minha vida, a mãe dos meus filhos, a primeira pessoa que eu quero ver ao acordar todos os dias pelo resto da minha vida. Sei que a maioria das coisas que eu falei ainda não será realizada logo, porque ainda é muito cedo, mas só chegamos ao topo da montanha se dermos o primeiro passo, então meu primeiro passo é te pedir uma coisa.
- O quê? – Perguntei com a voz embargada de tanto que eu chorava com as palavras que ele tinha dito.
- ... – Ele se ajoelhou e pegou a minha mão. – Você quer namorar comigo? Quando ele terminou de perguntar eu não pude me controlar e chorei mais ainda. Me joguei em cima dele dando beijos em todo seu rosto sem deixar limpo um centímetro murmurando vários ‘sim’. Eu nunca esperei que ele fosse me emocionar tanto assim, todo amor que eu sentia por ele durante todos aqueles sete anos vieram como uma avalanche de emoções pra cima de mim. Eu estava mais do que feliz, estava sentindo algo maior que uma simples alegria ou euforia, algo que ninguém além de nós dois experimentou.
Do beijo no rosto passou para beijos na boca, cada vez mais apaixonados e mais urgentes. foi se levantando aos poucos me levando junto, atracada com minhas pernas em sua cintura. Seu beijo estava ganhando uma certa violência e o meu não estava muito atrás, todo o desejo que sentíamos em todos esses sete anos foi transferido para aquele beijo. Estávamos ansiosos, queríamos aquilo. foi subindo as escadas e fomos derrubando tudo até o caminho do meu quarto. Chegando lá ele me botou na cama. Suas mãos subiam pela minha cintura, levando meu vestido junto enquanto seus beijos iam descendo para meu pescoço que com certeza deixariam marcas lá, mas eu nem ligava. Ele interrompeu o beijo para tirar a sua gravata e eu aproveitei para desabotoar sua camisa enquanto o beijava. Quando terminei, ele a jogou para longe junto com seu cinto e me deitou de novo, ficando por cima de mim.
Fui descendo as minhas mãos de seu pescoço até sua barriga, arranhando-a. soltava gemidos de prazer no beijo. Cheguei à barra de sua calça e comecei a desabotoá-la e ele mesmo tirou e jogou para longe, aproveitando a situação para tirar de uma vez meu vestido, já que não estávamos nos beijando. Só restavam duas peças de roupas para nós dois, mas que não demoraram muito para se encontrarem em outro lugar que não nossos corpos. Aquela noite seria a melhor da minha vida.

’s P.O.V on
Acordei o homem mais feliz do mundo, a mulher da minha vida agora era realmente minha, totalmente minha. Olhei para ela que estava dormindo em cima do meu braço e me lembrei de uma música brasileira que ela tinha me mostrado. Era de uma banda brasileira que ela gosta, acho que é Capital Inicial.

“Ela dormiu no calor dos meus braços
E eu acordei sem saber se era um sonho...”

Esse trecho combinava demais com o momento, ela dormia em meus braços enquanto eu tentava me convencer de que não era um sonho, que tudo o que acontecera era real. A minha estava lá, agora ela era a minha namorada. Passei minha mão por seus cabelos, ainda sem acreditar em tudo aquilo, era tão bom pra ser verdade. Aos poucos ela foi abrindo os olhos e quando ela realmente me viu, abriu um sorriso.
- Bom dia! – Falei dando-lhe um selinho.
botou as mãos na boca e correu para o banheiro falando algo com higiene matinal, ri da reação dela, quando olhei no relógio do lado da cama vi que já eram cinco horas da tarde. Levei um susto, mas depois lembrei que fomos dormir mais de oito horas da manhã. Fui para o quarto que eu sempre usava quando eu vinha à casa da para tomar meu banho e me vestir. Assim que fiz tudo o que tinha pra fazer sai do quarto em direção à .
- Vamos jantar fora hoje. – Falei para quando cheguei a seu quarto.
- Por quê? – Ela perguntou botando seus braços em volta do meu pescoço.
- Ora, por quê? Pra comemorar o primeiro dos milhares de dias do nosso namoro. – Falei dando um selinho de novo nela.
- Ei! Não vai tentando me enrolar com essa história de milhares dias de namoro, porque eu quero casar! – Ela falou tentando ficar séria, mas sem muito sucesso.
- Calma! A gente vai se casar! – Ri. – Não vai demorar muito pra isso.
- Que bom! – Ela disse antes de começar um beijo que quase teve o mesmo destino do de mais cedo. – Agora me espera lá embaixo que eu vou me arruma, por favor.
- Nada que eu não tenha visto. – Retruquei.
Ela me deu um tapa no braço e começou a rir. Depois de ser expulso do quarto dela, fui para a sala ver TV. Passando mais ou menos meia hora desceu, ela estava maravilhosa. Fomos em meu carro até o restaurante que ele amava. Tivemos um jantar incrível, cheio de risadas, declarações, conversas e dança. É, ela me convenceu a dançar uma música romântica que toca na hora, claro que eu gostei de dançar com ela. Agora estou aqui deitado na cama com ela de novo, esperando ela dormir. Ela acabou de me intimar a praticamente me mudar pra casa dela. - Não quero mais dormir sem você o meu lado. – Ela falou sonolenta.
- Não se preocupe, você não vai dormir sem mim nunca mais. – Sussurrei em seu ouvido e ela sorriu fechando os olhos.
- Eu te amo. – Ela falou.
- Eu também te amo.

’s P.O.V off


10 anos depois
- Cadê a mamãe? – Um menininho perguntou.
- Tá lá dentro, porque a maninha vai nascer. – O outro garoto respondeu ao seu irmão mais novo. – Pai senta aqui, por favor. – Ele falou para o homem que andava de um lado para o outro desde que sua mulher entrara na sala de cirurgia.
Apesar de ter passado por isso duas vezes ele não conseguia ficar parado. Era a sua filha que ia nascer, sua primeira filha. Sua mulher estava lá dentro também, mas ele não podia ficar nervoso, ele tinha que tomar conta de seus dois filhos, Théo e Ben, enquanto sua mulher, , dava luz à sua filhinha, Claire. Afinal ele era e sabia como era isso. Ele sentou no meio dos filhos e sorriu quando viu que os dois tinham seus olhos. Ele e a mulher esperavam que a pequenina também tivesse. Théo era o mais velho, tinha cinco anos, era a cópia de , tanto fisicamente quanto psicologicamente. Já Ben, de dois anos, era a mistura dos pais. Os dois garotos tinham o sorriso da mãe. Depois de algum tempo o médico chegou à sala de espera, fazendo levantar em um pulo.
- Então, doutor? Como é que elas estão? – perguntou aflito.
- As duas estão maravilhosamente bem, a operação foi um sucesso, a laqueadura e o nascimento. – O médico falou dando um sorriso.
- Quando é que a gente vai poder vê-las? – perguntou um pouco mais aliviado.
- Vocês podem vê-las agora mesmo, é só me acompanharem.
, Théo e Ben sorriram e seguiram o médico até o quarto 34. Quando entraram viram amamentando a pequena Claire.
- MAMÃE!!! – As crianças gritaram e correram pra subir na cama da mãe.
- Cuidado com a Claire, meninos. – Ela falou rindo se sentindo muito orgulhosa por ter posto no mundo as três criaturinhas mais lindas e fofas que ala já tinha visto em todo mundo. , por sua vez, via a cena e se sentia o homem mais sortudo por uma família tão perfeita e linda que qualquer um mataria para ter. Aos poucos ele foi se aproximando para ver a mais nova integrante da família , além de ficar perto de sua mulher, que a cada dia que passava ficava mais linda que nunca para ele.
- Ela é a sua miniatura. – Ele disse beijando o topo da cabeça de .
- Mas tem os seus olhos. – Ela disse com um sorriso. – Pra variar... – Os dois riram.
- Foi uma tortura pra mim não estar do teu lado na hora do parto. – Ele falou olhando para Claire.
- É, eu sei, mas alguém tinha que cuidar do Théo e do Ben! – Ela fez cara de quem dizia o óbvio. – Além do mais você sempre está comigo. Aqui – Ela apontou para o próprio coração.
- E você sempre vai estar no meu. É por isso que vamos ficar juntos pro resto de nossas vidas. – Ele falou dando um beijo calmo em sua mulher para mostrá-la quão verdadeira era a frase que ela havia lhe dito. Ao terminar o beijo eles se olharam tão apaixonados como no primeiro dia de namoro. Então disse:
- Tudo é perfeito com você.

FIM


N/A: Oi leitoras!! Essa foi a primeira fic que eu escrevi, e aqui demorou pra entrar... eu comecei escrevendo só pra ter registrado todas as coisas que eu imagino todos os dias. Bem eu não vou ficar empatando vocês mais nisso, eu só queria agradecer às minhas amigas que me apoiaram e esperavam ansiosamente por cada coisa que eu escrevia no caderninho da Pucca entre as aulas, obrigada Mayoí, Mayara, Bárbara, Carla e Ana Luiza. Obrigada à Amanda, a beta que se dispôs à postar essa fic e a troca de beta foi o que mais demorou pra poder aparecer aqui essa fic. Espero que vocês realmente gostem ou pelo menos gostem um pouquinho dela hehe. Enfim obrigada mesmo a todos que leram! Comentem pra pelo menos me dizer que eu sou horrível ^^ Beijos.