Every Time I close my eyes I'm not alone.

Coisas realmente vivem acontecendo nas nossas vidas, mas esbarrar no novo garoto da sua turma escolar – que de início eu não sabia que era da minha turma já que ele acabara de chegar ao colégio – no meio do pátio onde se concentra um maior número – aproximadamente 20 por metro quadrado – de alunos é realmente bem vergonhoso, ainda mais quando se já é zoada diariamente naquele ambiente, onde jovens na puberdade e com espinhas na cara, além de hormônios fervilhando, se comem atrás das árvores – não é, ? – ou até mesmo ao ar livre.

- Você não precisa de ajuda pra se levantar?
Aham, eu estava ali, jogada no chão, com todo o meu material espalhado pelos próximos 250 cm (essa é uma proporção válida?) sujo e gosmento daquele lugar, aquele cara realmente precisava me fazer aquela pergunta inútil? – você ta me gozando ou o quê? – Tateei pelo chão à procura dos meus óculos, os encontrei e os coloquei, olhei pra cima pra conseguir não socar a cara do indivíduo, mas bom... Eu acho que eu nem vou precisar socar ele, fala sério! Eu realmente não via alguém tão bonito e gentil – eu costumo realmente mudar minha opinião sobre os garotos quando o quesito beleza delicada e uma cicatriz na testa, estilo , um dos meus personagens preferido de livros entra em questão –, ele tinha um rosto totalmente delicado, pálido, eu diria até que havia passado maquiagem se não conhecesse bem os garotos machistas do colegial – Er, está tudo bem, deixa pra lá. – juntei minhas coisas e sem mais o olhar e ser motivos das risadas no pátio, me retirei.

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Naquele mesmo dia, eu descobri, o tal garoto era mesmo da minha turma como diziam os boatos antes de ele chegar, e era popular como diziam também, mal havia chegado e já havia se juntando a e suas seguidoras, além dos caras do basquete que estavam super enturmados com ele. Mas uns dias e ele passaria a me zoar como todos os outros.

Quando o sinal tocou depois de uma longa aula chata de biologia sobre cadeia alimentar, o veio em minha direção, minhas pernas tremeram, pode crer.
- Oi – o havia cutucado o meu braço –, desculpa mesmo pelo que aconteceu, eu estava distraído, você se machucou?
- As pessoas de verdade deveriam prestar mais atenção no que fazem, ou você acha mesmo que seria legal um – eu quase ia falando o apelido que eu o havia dado – er... Uma muralha em forma humana te "empurrar" em direção ao chão? – eu costumo mesmo ser grossa ou era o nervosismo?
O sorriu de leve de modo que dava pra ver bem os dentes dele, eu acho que me apaixonei, eu jamais havia visto algo que brilhasse tanto, os dentes dele pareciam diamantes, de certeza que ele passava o dia escovando os dentes. Quantas escovas ele comprava em um único mês? – Eu não sou uma muralha, você que é baixa demais, e bom, deixa eu me apresentar, me chamo e você?
Aquilo não estava acontecendo, é impressão minha ou ele estava tentando se comunicar? Acho que ele não é do tipo garoto tradicional desse lu... Eu estou fantasiando, ele vai perguntar meu nome hoje e amanhã me ignorar. – Ah é... Eu sou a , e, bom, não há mesmo problema com a minha altura, estou na média certa, você é que deveria se sentir um parasita, isso, um parasita.
- Nossa, obrigada pela recepção, eu de fato não imaginei que encontraria pessoas tão gentis e receptivas aqui.
Eu corei por um breve momento – Me desculpa. Só que é meio anormal pra mim, quero dizer, me comunicar com alguém nesse lugar...
O mal me deixou continuar e pôs se a falar – Talvez isso seja culpa sua mesmo, o lance da receptividade sabe? – rimos os dois juntos.
- Talvez, mas a aparência também conta muito, eu ainda não entendi o porquê você ainda está aqui, conversando comigo, quando pode se unir a e os garotos do basquete, eles vão te questionar sobre isso...
- Eu sinceramente não ligo pros questionamentos deles, você é uma boa companhia, divertida... - eu corei mais ainda nesse momento e como com toda a conversa havíamos ficado na porta da sala de aula, eu estava virada de costas pra porta em direção a saída, a alguns centímetros do , deixei a cabeça baixa de modo que ele não conseguisse enxergar o tom avermelhado na minha pele, mal eu consegui abrir a boca pra respondê-lo e ele estava me dando tchau apressado e andando em direção a porta de saída do colégio – nossa turma ficava no térreo – quando eu me virei pra acenar lá estava ele com o pescoço envolvido pelas garras da e então eu entendi a repentina saída de cena dele.
- Ah claro, não liga pros questionamentos deles... - falei baixo de modo que ninguém que estivesse por perto conseguiria ouvir.

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Passei a tarde toda pensando nessa conversa, pensando nos erros cometidos, como por exemplo, ter sido tão grossa no início, pensando em diversas outras respostas que eu poderia ter dado pras suas colocações, outras respostas que me trariam 50% de chance de ter uma conversa melhor e não fazer com que o cara me trocasse pela . Eu realmente nunca havia pensando em ser trocada pela , não que ela não fosse bonita, apesar das idiotices que ela cometia, ela tinha um tom de pele de quem tinha tido uma das melhores noites da sua vida – no caso dela, umas noites, porque isso acontecia desde os meus oito anos -, ela estava sempre sorrindo, ou dizendo melhor, ela tinha tudo o que faltava em mim, então... Ser trocada pela é algo anormal, eu nunca havia pensado que poderia atrair o mesmo guy que ela, OPS! Falha humana, atrair, ? Eu estou precisando acordar. Parti pra um banho logo em seguida, antes que eu fosse chamada, ou invocada, como quiser, pro jantar e a minha mãe começasse as perguntas sobre o meu dia, sendo que ela sabia a resposta, eu não era uma garota sociável desde sempre e por incrível que pareça eu só tive uma única amiga em toda a minha vida, eu mesma.

- Vamos, , o jantar está posto!
- Calma, estou indo! – acabei de secar meu cabelo e penteá-lo, lá estavam minha mãe e a minha avó com cara de merda pra mim, me questionei qual seria a da vez, o que eu tinha feito de errado ou se aquela era a cara delas mesmo, e eu nunca tinha reparado já que eu sempre fora muito avoada...
- Como você passou o dia, meu amor? – minha mãe falava serenamente enquanto passava o prato de arroz pra minha avó.
NOTA MENTAL: prestar mais atenção na minha mãe e na minha avó.
- Normal, colégio, casa e dever de casa...
- Quanto entusiasmo! – avó falara com um tom de sarcasmo na voz – Na minha época eu estaria me aprontando pra milésima festa do mês...
- Pois é, vó, você e não eu...
- Bom, então eu vou ligar a televisão pra assistirmos ao noticiário – Minha mãe sempre tentava apaziguar os ânimos naquela casa. Eu, assim como a minha avó, tinha as reações, digamos... Descontroladas.

Na televisão a única coisa que era noticiada eram os últimos assassinatos que vinham acontecendo na cidade, minha mãe e minha avó tinham os olhos vidrados na televisão, até hoje eu me perguntava como dois seres racionais conseguiam assistir aquilo, comendo. Aquilo me passava à fome, falando sério, eu só posso mesmo ter sido gerada numa família tão estranha pra ser assim, por isso mesmo já me resolvi, nada de filhos para serem infelizes/estranhos/comedores de carne (porque eu tenho pena dos bichinhos, mas tenho pena de mim também.)/anti-sociais, não quero ser mais uma reprodutora no mundo...
- Isso me tirou a fome – peguei o prato que ainda continha uma quantidade considerável de comida e me dirigi até a pia.
- Não, filha, se quiser eu mudo.
- Tudo bem, eu já não estava mesmo com fome. – sorri de canto e usei um tom que convencia. Pelo menos pra mim ele convencia, já pra minha mãe... Bem que diziam que as matriarcas têm um sexto sentido, no meu caso, eu só tinha quatro e nem sendo matriarca minha desatenção seria resolvida... Caso sério.
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O despertador tocava frenético na banca ao lado da minha cama, meus olhos demoraram a despertar por causa do fio de luz que os atingia, de manhã eu não conseguia ter muito controle sobre mim mesma, tentei em vão abri-los, com o tempo eles foram cedendo, o despertador rugia ao meu lado, o desliguei e tirando os cabelos que estavam tampando parte da minha visão, olhei a hora...
- I CAN NOT BELIEVE! – eu tinha um pouco de costume de berrar em inglês quando me assustava, eram 6:50, pulei da cama e me dirigi ao banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto e bom, acho que eu estava quase perfeita.
(...)
- Vocês deveriam ter me acordado!
Minha vó olhou incrédula – Mas você disse que não era pra fazermos isso, que o despertador tinha essa função, além do mais os compromissos são seus. Você acha o que agora? Que além de tudo que fazemos pra você... – Mal deixei a minha avó terminar, engoli o café que estava posto na mesa em apenas um gole e saí como um vulto de casa.
                                                            -
- Poxa, mas eu já disse! O carro da minha mãe não queria pegar... - suspirei.
- Você sempre inventa a mesma desculpa Srt. – eu não sei porque, mas o padre tinha a mania de me chamar pelo segundo nome e ele estava mentindo, a desculpa da semana passada é que eu tinha dado um jeito no pé e eu não estava conseguindo andar de forma ágil. – Volte pra casa, nada de atrasos até o fim do ano.
- Mas padre ... – quando eu percebi, ele já havia dado as costas pra mim, resolvi ir pra biblioteca pra ficar lá até o fim da aula, minha mãe não descobriria e eu não teria aborrecimentos na hora do jantar que me fizessem ficar sem fome como da última vez... Se eu continuasse assim, viraria pó.

Recolhi meus materiais assim que o sinal tocou, eu realmente não havia percebido que o tempo no colégio era tão grande, me levantei e segui para a saída do colégio, só um milagre me faria não ver o , e falando nele... Lá estava, saindo da sala de aula com a , vulgo: seguidora da . Tentei baixar o meu olhar e seguir em frente, mas como mais cedo, o meu corpo não estava respondendo aos meus comandos, ele então levou o olhar até mim, ele estava confuso, meio envergonhado, talvez eu o estivesse intimidando. Eu esperava que ele se aproximasse, que continuasse a falar comigo, queria que ele não fosse como os outros, eu ainda não entendia o porquê, mas eu esperava coisas demais dele. Quando percebi, ele já tinha partido, nem um oi, nem um sorriso de leve, nem um sinal que indicasse que apesar dos outros ele me queria por perto como ontem.

Voltei a andar e me dirigi até um banco que ficava no pátio, não estava a fim de voltar pra casa agora, pensei em comer algo no colégio como eu fazia algumas vezes, mas eu o já tinha feito ontem e minha mãe iria reclamar, aquele tipo de preocupação de mãe, que eu iria ficar anêmica e depois cair em uma gravíssima doença, se eu fosse ser mãe não iria ser tão dramática como elas são normalmente.
Depois de algum tempo sentada ali escutando música e lendo O Caçador de Pipas, me dei conta que aqueles que não podiam ser nomeados – eu tinha feito um juramento pra mim, não falaria nas pessoas que me lembravam o , de certa forma ele despertava um sentimento dentro de mim – não estavam ali, me perguntei o porquê disso sendo que eles iam ali pro pátio todas as manhãs depois da aula, tentei parar de pensar neles e voltar a ler o meu livro.
(...)
- Ei, você nem apareceu hoje na aula.
Aquela voz me era familiar, era como música pros meus ouvidos, esfreguei o rosto achando que aquilo era uma alucinação, mas quando olhei pra cima, lá estava ele, visto assim de baixo, chegava a dar medo – Oi, p-p-pois é. Eu cheguei atrasada. – gaguejei e o riu de leve e se sentou ao meu lado no banco. – Cadê os seus amigos?
- Ah eles foram mais cedo hoje, tinha jogo – na mão esquerda dele havia um violão e aquilo despertou a minha atenção.
- Então, você toca?
- Pois é, eu tenho algumas composições e alguns amigos que tocam comigo, nada sério, banda de garagem mesmo.
- Você poderia tocar pra mim, se não tiver nenhum incomodo. – Sorri pra ele com a intenção de influenciá-lo, ele sorriu de volta positivamente, tirou o violão daquela coisa que eu não sei o nome, preta, e dedilhou as cordas do violão, a música estava começando a perfurar os meus tímpanos, era lenta mas se percebia que era de rock, eu poderia passar o dia inteiro ali, só escutando aquela música e sentindo o cheiro hipnotizador dele.

Please just don't play with me
My paper heart will bleed
This wait for destiny won't do
Be with me please I beseech you
Simple things that make you run away
Catch you if I can

ears fall down your face
The taste is something new
Something that I know
Moving on is easiest when I am around you

So bottle up old love
And throw it out to sea
Watch it away as you cry
A year has past
The seasons go (…)

Tradução: Por favor, não brinque comigo
Meu coração de papel vai sangrar
Essa espera pelo destino não dá
Fique comigo, por favor, eu imploro
Coisas simples que fazem você fugir
Vou te alcançar se eu puder

Lágrimas caem no seu rosto
O gosto é algo novo (algo novo)
Eu sei seguir em frente é mais fácil
Quando estou perto de você

Então engarrafe o velho amor
E jogue-o no oceano
Deixe-o ir enquanto você chora
Um ano se passou
As estações se foram (...)

A voz dele era a coisa mais doce que eu já havia escutado, os olhos dele estavam grudados em mim como ímãs, eu estava desconfortável, mas ao mesmo tempo completa. Aquilo era tudo o que eu queria, quer dizer, quase tudo, eu ainda precisava sentir o calor da pele dele na minha, precisava sentir os seus carinhos e os seus beijos. (...)
                                                            -
Eu não mais podia ser a mesma, agora ele estava naquela maca de hospital, gélido e sem cor, seus olhos fechados pra nunca mais abrir, e eu queria gritar, sacudi-lo e beijá-lo pra trazê-lo de volta a vida como no conto de fadas da Branca de Neve, o toquei mais uma vez, mas agora a sua pele não tinha mais a mesma temperatura de antes.
- Queira se retirar, por favor, srt. - As palavras do médico já não faziam sentido na minha mente, eu não queria sair dali, eu o queria de volta pra mim, com o seu sorriso brilhante, eu queria de volta os seus beijos e toques como havia acontecido na tarde anterior a isso. Eu imaginava o quanto ele devia ter sofrido quando aquele caminhão o atropelou, imaginava a dor que ele devia ter sentido estirado no asfalto. O médico me retirou da sala, a mãe dele e seus familiares já tinham ido, minha mãe me abraçou e perguntou se eu queria ir pra casa, mas eu respondi negativamente, saí do hospital com as lágrimas rasgando a minha face e escorregando pra minha boca que já não conseguia sentir o gosto de nada, caminhei até a praia onde eu e o passávamos as tardes (todas depois do colégio) depois daquele dia onde ele havia tocado pra mim, me lembro bem da sua voz serena, dos seus olhos grudados em mim e logo depois nossas bocas desejando uma a outra e inevitavelmente o beijo, naquela tarde eu havia tido explicações pra tudo, ele era frágil como um vaso de porcelana, quase intocável, andava com os "populares" no colégio por medo de não ter ninguém no final, no fundo ele era como eu, nós éramos iguais, e nos completávamos, assim como o coração e as suas batidas, um necessitava do outro irremediavelmente.
As lágrimas se acumulavam nos meus olhos que agora eu já não conseguia ver nada nitidamente, me sentei na areia, recolhi minhas pernas e as envolvi com os meus braços, eu havia feito a mesma coisa na tarde anterior, tudo estava como antes, a areia, o mar, o céu, mas faltava ele. Fechei os meus olhos com força e depois os abri no intuito de que tudo aquilo fosse mentira e que quando eu os abrisse ele estaria sussurrando as mesmas doces palavras que ele havia dito numa tarde... "feche os olhos e pense em mim, você nunca estará sozinha, eu estarei te vigiando até além da vida, o nosso amor é como as nuvens, tudo pode mudar, mas ele vai continuar ali, pra sempre, nos unindo...".
Eu não conseguia mais pensar em nada, eu precisava dos seus braços pra me envolver, do seu calor pra me aquecer...
Todas as outras tardes eu ia naquela praia, me sentava daquele jeito com as pernas envolvidas pelos meus braços e olhava as nuvens, porque tudo poderia mudar, mas o nosso amor continuaria ali, vivo, nos unindo.

PS: eles haviam namorado durante três meses até o dia do acidente...