Harry
Por:
Sia


Eu estou no meu quarto agora. Não sabia o que fazer, então resolvi escrever. Eu nunca fui de escrever, nunca gostei muito disso. A tá com a amiga. Elas estão fazendo alguma dessas coisas que mulheres gostam de fazer quando estão sozinhas, sem homens por perto.

Bom, chega de enrolação. Vamos à minha história.

Lá estava eu, sentado num banco de uma pequena praça. Tá, não era pequena. Era uma enorme praça. A praça central, que existe em toda cidade. Eu havia acabado de terminar meu namoro com a Julie. Eu gostava muito dela sabe? Eu não tenho certeza se gostava mesmo, acho que só me acostumei com ela. Mas ela era tão ciumenta e sempre queria explicações detalhadas sobre o que eu fazia durante o dia, com quem eu estava.

Uma vez ela ficou com tanto ciúmes de mim que pegou uma das minhas baquetas, em cima da mesa da sala da minha casa, e, num golpe meio ninja, quebrou ela em uma das pernas. É! Dá pra acreditar? Eu não sei como ela conseguiu fazer isso, mas ela fez. Foi aí que eu comecei a pensar: se ela fez isso com as baquetas, imagina o que mais ela não faria em um novo ataque de raiva? E ai eu decidi que não dava mais pra continuar com ela. Até por causa da minha carreira.

Mas a história não é sobre a Julie. Eu estava falando, que, naquele dia, naquela praça, eu estava pensando na vida, enquanto tomava refrigerante e ouvia música. Nisso, quando eu virei pro meu lado esquerdo, uma garota, muito linda, falou comigo.
- Oi! Você é ?
- Aham. Quer um autógrafo? - Eu a olhei com tédio e, ao mesmo tempo, meio 'encantado'.
- Autógrafo? Por que eu iria querer um autógrafo seu? - Ela riu.
- Porque eu sou ? - Eu respondi. Era óbvio, não?
- Ah, saquei. Você tem aquela banda não é? - Ela deu um doce sorriso.
- Ué, de onde você me conhece, a não ser na banda? - Eu perguntei, bem assustado. Eu sei lá o que aquela pessoa era. E se ela estivesse atrás de informações confidenciais minhas? Nunca se sabe...
- , você não se lembra mesmo hein?
- Desculpe, mas não. - Eu ri.
- . Sua colega de turma de ensino médio. - Ela estendeu a mão para mim.
- Ah, meu Deus! Eu to me lembrando de você! - Eu arregalei os olhos. - Você é a que foi comigo no baile de formatura!
- Isso mesmo! Eu nunca me esqueci daquela noite! - Ela olhou para cima, dando um suspiro.
- É, eu sei que não. - Eu sorri meio safadamente.
- Seu bobo! - Ela se sentou ao meu lado. - Então, como você tá?
- Eu tô bem. Terminei um namoro agora, mas estou bem sim. - Respondi.
- Você terminou com a Julie? - Ela me olhou espantada.
- Aham. Por que o espanto?
- Nada não. - Ela virou pro lado, como se não fosse nada mesmo. Eu acho que ela sempre foi assim meio maluca.
- E você? - Perguntei.
- Eu o que? - olhava o nada. Estava venitando e o cabelo dela voava um pouco.
- O que você tem feito?
- Eu me formei em psicologia! - Ela me contou, com os olhos brilhando.
- Psicologia? Que legal!
- É sim. Não dá tanto dinheiro quanto ter uma banda... Mas é legal.
- Ah. Fala sério! Nem é tanto dinheiro assim. - Eu disse e ela me olhou (¬¬). - Tá bom, dá sim.
- E o que alguém famoso e desejado como você faz em uma praça como essa, sozinho?
- Só tô pensando na vida.
- Ah, , não me leve a mal, mas com o seu dinheiro, você pode contratar alguém que faça esse serviço por você. Relaxa! - Ela falou, fazendo um movimento meio estranho com os braços.
- Você é psicóloga, tem obrigação de me entender. - Falei sério, me controlando pra não começar a rir da cara que ela fez.
- Hum... Okay então. Fale, ! - Ela me disse. Eu não sei por que, mas levei a sério. E aí, desatei a falar. Acho que nunca falei tanto cara. Não sei como ela me agüentou. Acho que psicólogos têm preparo pra isso. Mas eu fugiria! Quer dizer, se alguma pessoa começasse a tagarelar perto de mim. Não tenho a mínima paciência.
Acabou que eu falei, falei e falei. E aí ela me disse que eu estava muito preocupado com uma coisa que nem importava tanto assim. E eu concordei. Ela me disse mais algumas coisas e eu a chamei pra sair. Pra nós conversarmos mais, é claro. Eu gostei de conversar com ela. A gente marcou pro sábado à noite, no restaurante preferido dela.

O tava me enchendo. Ele realmente não sabe a hora de parar. Queria porque queria ir comigo ao restaurante, por causa de uma tal de Sarah que estava enchendo o saco dele. Acho que ele estava meio traumatizado, porque a garota invadiu o quarto dele no meio da noite e queria agarrá-lo à força. Eu sempre digo a ele pra não ficar dando confiança a essas fãs. Nunca se sabe o nível de loucura delas. Só, que, como estamos falando do , sabemos que ele não me ouve.
Então eu o deixei ir comigo. Ele estava realmente assustado por causa da Sarah. Eu não poderia abandonar um amigo. Acho que lá, quem sabe, ele poderia arranjar algo para fazer e me deixar conversando com a .

Eu estava errado. Quando chegamos lá, esperamos um tempinho e a chegou. Ela estava demais. Simples, mas demais. Usava um vestido preto, que ia até os joelhos, salto alto, o cabelo preso com algumas mechas que não conseguiam ficar presas. Perfeita.
Eu a chamei e ela veio em nossa direção, com aquele sorriso dela. Eu sorri também e o logo percebeu que era ela e sorriu junto.
Apresentei os dois e disse a que ele estava lá porque está cheio de problemas ai com uma mulher e eu fiquei com pena de deixá-lo sozinho em casa. Não deu outra. Ela começou a conversar com ele, que se empolgou, assim como eu naquela vez, e desatou a falar. Nós jantamos e ele e pareciam dois amigos. O que essa garota tinha que conquistava as pessoas tão facilmente?

Na hora de ir embora, eu me coloquei entre os dois e nós fomos tomar um café. Andamos um pouco, à procura de um lugar interessante. disse que estava cansado e que iria para casa. Já estava na hora, não? Nos despedimos dele e entramos no tal lugar.
- Então, . Me fala um pouco mais do que você tem feito. - Ela me olhou.
- Eu só tenho tocado, terminado um namoro. Acho que só tudo aquilo que te contei na praça outro dia. Você que não me falou muito, . Será que isso é coisa de psicólogos? - Ela riu.
- O que, exatamente, você quer saber?
- Qualquer coisa. O que você tem feito? Está solteira? Noiva? - Dessa vez eu ri.
- Na verdade, eu sou casada, . - Ela me olhou séria. Eu quase caí da cadeira e arregalei os olhos. Ela sorriu. - É brincadeira.
- Que susto, ! - Coloquei uma mão no peito, me recuperando. Nós rimos.
- Então. Minha vida é bem conturbada, sabe. Eu tenho tantas coisas pra fazer. Você teve sorte por conseguir sair comigo.
- Digamos que você também teve a mesma sorte de conseguir sair com . - Eu rebati.
- Eu sei. Isso significa que nós temos que aproveitar! - terminou seu café, colocou o dinheiro que pagava pelos dois na mesa e me puxou para fora. Eu a deixei pagar dessa vez. Já havia feito isso no restaurante e ela nem me deixou argumentar.
Nós fomos andando por aí, sem rumo e falando das coisas mais sem sentido, como nossas aventuras do colegial.
- Eu me lembro das coisas que você fazia, . Teve aquela vez que você terminou com a Lizzy na frente do colégio inteiro. Não foi legal. - fez uma cara de reprovação e me olhou.
- Eu lembro! - Gargalhei. - Ela era muito chata, . Você não sabe, mas ela me fazia andar com ela pelo shopping inteiro e ficar dizendo se as roupas que ela gostava ficavam boas nela. Além disso, ela fazia umas greves de beijo do nada, só porque eu não concordava com algumas coisas.
- Nossa, eu não sabia que ela era tão má com você. - Ela disse, irônica e riu da minha cara.
- Ela era. E eu gostava de outra pessoa. - Olhei para o céu.
- Sério? De quem? - Ela me olhou, curiosa. - Da , não é? Eu tinha certeza que você tinha uma queda por ela.
- Não. Eu nem me lembro quem é . - E realmente não lembrava. Eu hein. Cada uma que a soltava.
- Era minha amiga. Ou melhor, ainda é.
- Eu não gostava da . Gostava da amiga dela. - Eu falei e quase morri de vergonha. Olhei para o lado oposto a .
- Bem, vejamos. - Ela ia dizendo, como quem quer fazer uma dedução. - A tinha... Uma amiga. - Ela concluiu. - Será que estamos falando da mesma pessoa? - Ela olhou para mim meio confusa e sorrindo ao mesmo tempo.
- Com certeza! - Eu não a encarava.
- ! Você era afim de mim! - Ela falou meio alto, fazendo um carinha que estava ali perto olhar para nós.
- É, mas fala baixo, . A cidade inteira não precisa ficar sabendo disso. - Eu tentava abaixar o tom de voz dela, enquanto ela ria. - Você não está rindo da minha cara, está? - Perguntei.
- Não. - Ela tentava segurar o riso. - Só rio das circunstâncias. Por que você nunca me disse nada?
- Eu não tinha coragem. Mas eu te chamei pro baile. - Eu dei um sorrisão.
- É. Ainda bem, porque eu não teria tido uma noite melhor se fosse com outra pessoa.
- Como assim? - A olhei, confuso.
- Eu também era afim de você. - Dessa vez ela olhou pro lado oposto, onde havia uma mulher e duas crianças. Então, foi a minha vez de rir. - Para de rir de mim, ! - Ela fez uma voz infantil.
- Desculpa. Tipo, a gente se gostava, mas nunca tivemos coragem de falar. Que perda de tempo. - Coloquei uma mão na cabeça.
- Você tem razão. Por isso que eu sempre digo que é melhor expressar o que sentimos, ao invés de ficarmos reprimindo nossos desejos. Isso pode nos fazer mal futuramente. - Ela disse séria.
- Falou a psicóloga! - Brinquei com ela e nós, mais uma vez, rimos.
- Eu acho que já está tarde. - pegou meu braço e viu as horas no meu relógio. Que estranha.
- Tá cedo ainda. - Eu entrei na frente dela.
- Não, . Eu ainda tenho algumas coisas pra fazer.
- Algumas coisas? À essa hora?
- É. Lembra que eu disse que sou muito ocupada? Então.
- Onde você mora? - Perguntei.
- Não é muito longe daqui. Minha casa fica perto daquela praça onde nos encontramos.
- Então, eu vou com você até lá. - Me coloquei ao lado dela e andei um pouco.
- Acho melhor não. Eu pego um táxi e chego lá rápido.
- Se você prefere assim.
- É, acho que é melhor. - Ela me olhou.
- Então, a gente se vê. Posso te ligar?
- Claro. A gente pode fazer alguma coisa qualquer dia.
- Sim.
- Então, é isso. Até mais, . - Ela me deu um beijo no rosto e saiu.
- Até mais, . - A olhei se afastar.
Será que eu fiz alguma coisa errada? Ou será que ela não confia em mim? Tipo, por que eu não podia levá-la em casa? Que mulher estranha.
Fui para casa, pensando nas conversas que nós tivemos. Para meu espanto (ou não), adivinhem quem estava lá me esperando! Isso mesmo. O .
Ele estava com medo de alguma coisa e pediu para ficar lá. Parece que alguma fã o perseguiu. Ele não aprende mesmo. Eu deixei né. Fazer o que?

Alguns dias se passaram, ainda estava acampando em minha casa. Eu fiquei com vontade de ver a novamente. Ela tinha alguma coisa que me encantava. Sabe essas pessoas de quem você tem muita vontade de ficar perto? Pessoas com quem você pode conversar sobre tudo? Então. Ela era assim. Mesmo depois de anos sem nos vermos, eu tinha uma certa intimidade com ela. Liguei umas cinco vezes para o número dela. Ninguém atendia. Ela devia estar trabalhando. É isso que pessoas normais fazem às três horas da tarde dos dias comuns, afinal. Resolvi esperar e ligar mais tarde. Peguei umas revistas sobre carros e fiquei lá, lendo, até dar umas seis horas. Então, o que eu fiz? Liguei para .

- Alô? - Finalmente ela atendeu. Eu sorri do outro lado.
- ?
- Sim, sou eu. Quem é? - Quem é? Até parece que ela não reconhece a minha voz. Que tipo de pessoa sai comigo e não reconhece a MINHA voz?
- . Lembra de mim? - Perguntei irônico. Ela riu.
- ! Nossa. Desculpa, não reconheci mesmo. - Ela ficou lá rindo, enquanto eu fazia uma cara séria do outro lado.
- Bom, eu tô ligando pra ver se a gente pode sair de novo. Topas?
- Hum... Sabe como é. Eu tô meio ocupada com umas coisas.
- Ah, qual é? Você tem tantos problemáticos assim pra cuidar?
- ! Não fala assim. Meus pacientes não são problemáticos. Eles só precisam de alguém pra conversar. - Ela ficou séria.
- Tá, me desculpa. Mas, então?
- Olha não é nem só isso. Eu tenho outras coisas pra resolver.
- Que tipo de coisas?
- Hum... - Ela pensou um pouco. - Coisas familiares.
- Quer ajuda? - O que deu em mim pra fazer uma pergunta dessas?
- Não precisa não. Não é nada complicado.
- Então, se não é nada complicado, você pode tirar um dia nessa semana para irmos ao cinema?
- Então tá, você me convenceu. - Pude sentir que ela sorriu. Não que eu seja desses que sentem as coisas assim, pelo telefone. Mas essa deu pra sentir.
- Eu passo aí na sexta? - Perguntei.
- Não! A gente pode se encontrar no cinema mesmo. - Pude ''ver'' que ela disse um 'não' bem enfático. O que ela esconde, afinal? Será que ela mora num barracão desses de piso de cimento puro e sem pintura na parede? Psicólogos não ganham tão mal assim...
- Então, tudo bem. A gente se vê no cinema na sexta... Às oito?
- Sim. Até lá, .
- Até, !


Eu a esperava, meio ansioso, na entrada do cinema. Olhei para o lado e a vi, vindo na minha direção. Ela falava ao celular, meio preocupada. Algum paciente, né. Desligou, assim que chegou perto de mim.
- Hey! - A cumprimentei com um beijo no rosto.
- Oi, . - Ela retribuiu. - E aí?
- Tudo ótimo comigo. Aquela parada da Julie, lembra? Então. Eu superei. - Disse, orgulhoso.
- Que ótimo isso! - Ela sorriu e foi ver quais os filmes que estavam em cartaz. - O que vamos ver?
- Eu não sei. Eu estava a fim de ver 'Alvin e os Esquilos'. - Eu falei, olhando para ela.
- Alvin e os esquilos? - Ela disse, meio surpresa. - O meu filho tá louco pra ver esse filme! - Eu a olhei meio sem entender. Ela ficou atordoada e confusa. - Se eu tivesse um filho de cinco anos, quero dizer. - Ah agora eu entendia.
- Ah, . Deve ser legal! Vamos lá! - A puxei para a bilheteria.
- Tá bem. Vamos ver Alvin então. - deu um sorriso amarelo. Concordou rápido pra uma pessoa do tipo dela, que gosta de um conflito.
Comprei nossos ingressos e depois algumas coisas para comer. não quis nada. Ela disse que se sentisse vontade de comer, catava de mim durante o filme. Pois bem, ela sentiu. E muita. Por que, enquanto ela ria dos esquilos cantores, ela pegava minha pipoca. Eu não reclamo, é claro. Como eu já previa isso, comprei logo o maior pote de pipoca e um refrigerante a mais.
Foi divertido assistir ao filme com ela. parecia uma criança comendo pipoca e rindo. E eu parecia um adolescente, tentando me aproveitar de qualquer brecha pra me aproximar mais.

Depois que o filme terminou, a convidei para um sorvete. Estava quente aquele dia.
- Você quer de? - Perguntei, indo ao balcão pedir os sorvetes, enquanto ela se sentava.
- Chocolate.
- Um de chocolate e um de Menta, por favor. - Pedi ao bigodudo que servia. Peguei as casquinhas e entreguei a dela.
Estava difícil resistir àquela garota. Ainda mais a vendo tomar sorvete.
- , por que, mesmo, a gente parou de se falar? - Eu perguntei, enquanto terminava meu sorvete.
- Eu não sei. Depois do baile a gente ficou de se falar, mas acho que você se ocupou demais com a banda e eu comecei a estudar.
- Entendi. Mas eu não queria que fosse assim. Eu gostava de você. - Eu me aproximei dela. - E, se você, hoje, me desse uma chance, eu poderia fazer tudo o que não fiz naquela época. - Eu chegava, cada vez, mais perto. Até que nossos lábios se encontraram. Segurei o rosto de com uma das mãos e ela colocou uma na minha cintura também. Ela correspondeu muito bem ao beijo, até que o interrompeu e me olhou, meio confusa.
- ... Eu... Acho melhor ir embora. - Ela levantou e foi à porta.
- Espera ! - Fui atrás. - O que houve? - Perguntei confuso.
- , a gente precisa conversar. - Fomos à esquina daquela rua, onde era mais calmo. Ela começou:
- , olha, eu gosto muito de estar com você e...
- Eu também gosto de estar com você, . - A interrompi.
- Eu sei, . Mas... A questão é que a gente não pode mais se ver. É melhor que tudo fique como está.
- Mas.. Por que, ? - Eu me confundi. Não esperava aquilo.
- Olha. Não é nada com você, . Sou eu. Eu não sei se estou preparada pra me relacionar com alguém agora. Seja lá como for esse relacionamento.
- Uma psicóloga mal resolvida no quesito se relacionar. - Eu fui irônico.
- , para com isso, tá. Eu vou indo. Até algum dia. - E ai, foi embora. E eu? Eu fiquei lá com uma cara que nem sei descrever.

Um mês se passou, depois do acontecido na sorveteria. Se eu me esqueci da ? Não, né. Mas ela não queria nada comigo. O que eu ia fazer?
Então, como eu ia dizendo, estava numa loja de CD's, escolhendo um para dar de presente pro , em comemoração à nova fase dele. É, ele conseguiu sair daquela crise. Finalmente.
- ? - Ouvi uma voz feminina me chamar, lá do fundo da loja. Virei e vi uma moça mais ou menos alta, com os cabelos castanhos, meio encaracolados, e os olhos cor de mel. Aquele rosto me era familiar. Mas eu não a reconheci. Uma fã? Devia ser.
- Oi, quer um autógrafo? - Perguntei automaticamente a ela, que sorria para mim.
- Autógrafo? Por que eu iria querer um autógrafo seu? - Ela me olhou, confusa. Não podia ser. Outra vez?
- Ah, saquei. ! Da McFLY! - Ela deduziu, enquanto eu dizia que sim com a cabeça. - Não, eu não quero seu autógrafo.
- Então, você é de onde?
- Eu sou a , amiga da , lembra? - [o.O] Nossa. Um anjo da coincidência resolveu passar por mim nesses últimos meses. Destino?
- Ah! Me lembro sim. Nós falamos de você esses dias. - Respondi, ainda pensando nesse negócio de anjo.
- Sério? Ela também me falou de você. - sorria. Ela era uma garota do estilo fofa, sabe? Aquela cara de... De... Anjo! Era essa a cara da !
- O que ela falou de mim? - Fiquei curioso, é claro.
- Ela não disse nada demais. Só que havia saído com você e que você continuava gostoso como era no colégio. - Uh! Então eu e pensávamos parecido, porque ela também estava muito gostosa. Mais até do que era antes. Não que ela não fosse, mas acho que a maturidade deu um ar diferente a ela.
- Ah. Sei. Ela tá bem? Por que já faz um mês que eu não a vejo.
- Sim, sim. Ela me falou o que disse a você outro dia. Eu não concordo com ela.
- Não?
- Não, claro que não. Ela só está meio perdida.
- Mas, por que perdida?
- Isso você tem que perguntar a ela.
- Como, se ela não quer mais me ver?
- Olha, eu duvido muito que ela não queira mais te ver, . - Fiz uma cara meio convencida nessa hora.
- Como eu faço então? Eu não posso ligar, se não ela não me atende. Você tem o endereço dela? - Que pergunta mais jegue. Até parece que havia a possibilidade de ela não ter o telefone da melhor amiga. Eu não sei como posso falar coisas tão dementes de vez em quando.
- Sim, tenho. Peraí! - pegava alguma coisa na bolsa. Ela ia me dar o endereço da ! E o que eu ia fazer com o endereço dela? Com que cara eu ia aparecer na porta da casa dela? - Anota aí!
- Ok. - Ela me passou o endereço. Não sabia pra que. Sabia, mas não sabia. Merda!
- Ela chega em casa lá pras cinco e meia. Você pode aparecer por lá.
- Eu vou sim. Preciso falar com ela. Obrigado . Acho que você me ajudou muito. - Eu ia?
- Eu ajudei mais à , pode ter certeza. - Tá, eu não entendi o que ela quis dizer com isso.
- Então a gente se vê. - Me despedi logo.
- Sim. Em breve nos vemos. - Ela sorriu e saiu da loja. Comprei o CD do , mandei embrulhar para presente e fui pra casa.
Como eu ia fazer? Seria muito estranho se eu, do nada, chegasse na casa da . Por outro lado, se a me deu o endereço dela, é sinal de que eu posso ir. Mas a não vai gostar nada de eu aparecer por lá. Ela sempre evitou que eu fosse à casa dela. Hum... Agora mesmo que eu ia!
Eu me deitei um pouco e dormi. Mais tarde eu tinha que passar na casa do pra entregar o 'presente' dele. Como esse cara me dá trabalho. E no dia seguinte eu ia à casa da , fazer a surpresa a ela. Só espero que ela não reaja muito mal.

No dia seguinte, eu levantei umas onze oras. Tomei meu café e resolvi sair com o Luke. Acho que ainda não falei dele. É o meu labrador. Ele é branco, meio amarelado. Torci para que ele não fizesse como da última vez e saísse me carregando pelo parque. Eu sofria com aquele cachorro. Ele era enorme. Fui buscá-lo e fomos andando pelas ruas. Comprei um sorvete pra mim e fomos aquele parque. É, o parque da . Ela morava ali perto mesmo. Acho até que via a casa dela ao longe.

Almocei por ali mesmo. Eram duas horas quando me ligou querendo saber onde estava. Eu disse que na rua. Mas já sem o Luke, que eu levei pra casa. Ele queria sair comigo. Eles não me deixam mesmo em paz, cara. Primeiro o com suas frescuras, agora o querendo conversar sobre a banda. Duvido que seja isso mesmo. Eu disse onde estava e ele veio.
Ficamos lá conversando. Ele veio falando dele e da Jenny, a namorada. Disse que ela estava estranha e que achava que estava sendo traído. O que eu ia dizer?
- , se você acha que tá sendo traído, conversa com ela.
- Eu não sei se ela vai me ouvir, . - E lá foi o , contando mais uma longa história do dia em que ele chegou em casa e a Jenny estava toda estranha. Eu devo ter cara de conselheiro ou algo do tipo. Se a banda acabasse um dia, eu faria psicologia e ia trabalhar com a .
- , eu preciso ir. - Falei, o interrompendo do seu discurso de duas horas.
- Por que? Você tem o que pra fazer? - Eles sempre queriam saber o que eu tinha pra fazer.
- Eu vou encontrar com uma pessoa. - Disse sério, ficando em pé, colocando as mãos no bolso e olhando o horizonte.
- A, entendo. - Ele sorriu para mim com aquele sorriso safado dele.
- Não é nada disso, . Ela é minha amiga e nem sabe que eu vou.
- Te entendo. Uma surpresinha para a 'amiga'. - Ele continuou.
- É isso mesmo, . Uma surpresinha. - Falei, com o objetivo de fazê-lo parar de falar.
- Vai lá, cara. Quer carona? - Pelo menos me ofereceu carona.
- Quero! - Nós levantamos da mesa, pagamos o café e fomos em direção à casa de . Finalmente.

Fiquei esperando num canteirozinho próximo ao suposto portão da casa dela. Cinco e quarenta. Nada de até essa hora. Esperei mais vinte minutos e a vi se aproximando. Ela estava com uma criança e conversava com ele animadamente. Tá bem, quando eles chegaram mais perto de onde eu estava ele a chamou de mãe. Eu ouvi direito sim. A tinha um filho! Mas como? Ele já devia ter uns... Sei lá quantos anos! E... Quando eu vi a pela última vez, há alguns anos, eu tinha acabado de fazer dezoito. E ela... Ela era um ano mais nova do que eu! Eu devo ter ouvido errado.
Eles dois chegaram mais perto. Ela me viu. O que será que ela vai fazer? Ai meu Deus, eu não devia ter vindo! Pelo menos sei que ela não vai ter coragem de me socar na frente da criança.
- ? - ficou branca (mais que o normal) e me olhou com a cara mais assustada que eu já havia visto. Eu sorri.
- O... Oi. - Respondi, meio perdido com aquilo tudo.
- O... O que você tá fazendo aqui? - Ela ainda estava nervosa e já tinha soltado a mão do menino.
- Eu vim saber como você estava. A gente não se vê faz um mês e...
- , aquela conversa que nós tivemos foi séria. - Ela me interrompeu e falou séria.
- Eu sei. Eu só não queria desistir de você tão fácil. - Falei e pude ver que ela ficou meio balançada com isso.
- , entra e vai trocar de roupa que a mamãe já vai. - Ela abriu a porta de casa para o . É, eu não ouvi errado. Ela era mãe do . Sim, eu fiquei meio chocado. Não 'chocado' no mau sentido, mas espantado. Eu não imaginava, sabe?
- Então, . Pode falar. - Ela olhou para mim. Acho que não era eu quem deveria falar naquela hora.
- , por que você não me disse nada? - Cheguei mais perto de onde ela estava.
- Como assim, nada?
- Nada sobre a sua vida. Você não me disse que tinha um filho. - Falei ainda meio 'chocado' e com medo dela começar a brigar comigo, agora que o não estava mais lá.
- Hum... É... Agora você já sabe. - Dava pra ver que ela ainda estava meio que 'em choque'. Não entendi o porque. Tipo, entendi, mas sei lá. Não era pra tanto.
- Mãe, cadê o meu boneco do Homem Aranha? - nos interrompeu e apareceu na porta.
- , você não vai brincar agora. Primeiro vai trocar essa roupa. - foi levando o para dentro de casa e fez um gesto para eu entrar. Cara, que casa arrumada. Nem parecia que morava uma criança ali. - Pode sentar aqui, . Eu vou ajudar o a se trocar. - Ela me mostrou um sofá e foi lá pra dentro com o .
Depois de uns cinco minutos ela voltou.
- Ele tá vendo um filme lá dentro. Você quer conversar...
- Sim. - Respondi, rapidamente.
- Vamos na cozinha então. - Ela me guiou até a cozinha. Nem preciso dizer que era a cozinha mais organizada que já vi na vida. Tudo branco, com alguns detalhes verdes.
- , porque você não me falou antes?
- Eu não sei, . Por medo, sei lá.
- Quantos anos o tem?
- Cinco.- Ela não olhava pra mim enquanto conversávamos. Bom, ela disse cinco. Então ela teve um filho com 18 anos.
- Anh, tipo. E o pai do ? - Ela fez uma cara... Mas uma cara... Que eu nem sei como explicar.
- , melhor a gente encerrar esse assunto por aqui. - Ela andou até a porta da cozinha.
- Mas, por que eu não posso saber? Eu só quero ajudar, se tiver alguma coisa em que eu possa, é claro.
- Acho que não precisa não. - olhou para mim.
- Ok. Acho melhor ir embora. - Fui andando até a porta da frente. abriu para mim e quem estava lá, quase tocando a campainha? Não, não era o . Era a .
- ! Você veio! - Ela me cumprimentou. Essa anja era mesmo uma anja fofa. Sorri após ela me dar dois beijinhos.
- Na verdade, eu já estava de saída.
- Ah, fica mais um pouco. Agora que eu cheguei. - olhou com cara feia pra a amiga. Eu não sabia que era tão indesejado ali.
- Eu acho melhor não. A tá meio ocupada e...
- Tá nada! Ela não tem nada pra fazer essa hora. - me puxou para dentro de casa. - A gente pode conversar mais um pouco, relembrar aqueles tempos de colégio...
- Tudo bem, mas eu não posso demorar muito e...
- Tia ! - saiu de lá de dentro e abraçou .
- Oi, meu amor. - Ela abaixou e retribuiu. Ele falou alguma coisa com ela. - Ah, porque você não pede pro tio brincar com você? - Ela me apontou. Olha, essa é doida! Eu nem conhecia aquela criança e ela me pede pra eu brincar com ele? Eu nem sei sabia se me dava bem com crianças. Nunca tinha tido algum contato com uma. me olhou, como quem pede alguma coisa. Eu disse que tudo bem, fiquei meio sem graça, mas aceitei. Ele foi lá dentro e pegou alguns carrinhos e bonecos. Nos sentamos no tapete da sala e começamos a brincar.
- , vem aqui um segundo. - a puxou para a cozinha. Ai, cara, só quero ver no que isso vai dar.

[Trecho narrado pela autora]

- O que deu em você? - sussurrava.
- Nada, eu só convidei o pra ficar mais um pouco aqui.
- Cara, você é maluca ou algo do tipo? Você não pode sair convidando os outros pra minha casa assim! - estava meio transtornada.
- Por que? - pegava um biscoito num pote dentro do armário.
- Você sabe muito bem o porque.
- , presta atenção. Você não pode esconder isso pra sempre. Admite logo e acaba com isso de uma vez.
- Eu não posso, . - ajeitava o cabelo, enquanto conversava, nervosa.
- Você pode, só que tem medo.
- Eu não tenho medo.
- Tem sim. E quer saber? Eu sou sua amiga e quero o seu bem. E eu sei que o seu bem é você contar a verdade. Não foi à toa que você encontrou com o depois de tanto tempo.
- , eu não posso contar voc...
- Você vai contar, , porque se não contar eu conto. - se colocou à frente da amiga.
- O que? Como assim? Você não pode, essa decisão é minha!
- Acontece que você não está raciocinando direito. E eu tenho que intervir nisso.
- Você não tem que intervir em nada. É a minha vida! - quase chorava por causa da situação.
- , presta atenção, não é só a sua vida. É a vida do também. Isso vai ser o melhor pra ele.
- Eu sei. Eu sei que seria o melhor pra ele. Mas eu tenho medo.
- Eu sei que você tem medo, mas você tem que enfrentar isso de uma vez. - sentou-se em uma cadeira. - Olha, você tem quatro dias pra contar ao . Por que se não...
- Eu sei... Se não você conta... - suspirou.

[Trecho narrado pelo ]

voltou da cozinha com uma cara meio estranha, que, rapidamente, mudou.
- Bom, eu já vou indo, . - Olhei para o garoto, que estava sentado à minha frente.
- Ah, por que? - Ele me olhou com aquela cara de criança dele.
- Eu tenho umas coisas pra resolver ainda. Outro dia a gente brinca mais. - nos olhava com um sorriso bobo. Sujeita estranha!
- Então tá. - Ele continuou com os carrinhos e eu levantei, fui em direção à .
- Eu já tô indo. Fala com a depois.
- Tudo bem, . - Eu me aproximei da porta. - Ah! - Ela me chamou de novo. - Deixa seu telefone. - Pra que a queria o meu telefone?
- Sim, claro. - Eu a entreguei um papel com o meu número e ela abriu a porta pra mim. Se aquela anja fosse uma psicopata eu tava ferrado. Como eu pude dar meu telefone pra uma aspirante à psicopata? Tá bom, eu to exagerando. Mas nunca se sabe né?

Olha eu fiquei meio surpreso com tudo o que vi hoje. Não que fosse alguma coisa anormal, mas é que eu não esperava. A é tão... normal. Ela não parece ser mãe.
Cheguei em casa e o me esperava na porta.
- O que você tá fazendo aqui, ?
- Sei lá. Eu trouxe umas cervejas pra nós! - Ele me mostrou umas sacolas que segurava.
- Eu preciso disso mesmo.
- Eu sei que sim! - Ele respondeu e nós entramos. Colocamos num canal de filmes e deixamos o que estava passando mesmo. Sentamos no sofá e começamos a beber.
- , você lembra da ?
- ? Acho que não. Quem é?
- Aquela garota que foi comigo no baile de formatura...
- Ah, , você tá exigindo demais de mim...
- Então esquece.
- Calma ai, ... Eu me lembro sim! Aquela que você era afim! - gritou. Eu hein...
- Essa mesmo. Eu encontrei com ela esses dias. Nós saímos e tipo... Foi muito bom. Eu gostei de ficar perto dela, sabe?
- Sei. Você tá afim dela de novo?
- Eu sei lá! Mas não é esse o ponto.
- Então o que é?
- Ela tem um filho.
- Um filho? Aí complica as coisas. Ela já foi casada?
- Não. O filho dela tem cinco anos.
- Cinco anos? - começou a contar algumas coisas nos dedos. - ! Você pode ser papai e nem sabe! - Ele gargalhou.
- , vai à merda! Isso é sério! - Olhei sério pra ele.
- Eu sei. Ela te disse quem é o pai?
- Não, mudou de assunto. Mas não tem possibilidades de seu eu não. - Eu fiquei meio cismado depois que o falou isso. Comecei a lembrar do e de como ele era, pra comparar comigo. Ai sei lá, cara.
- Então esquece isso, . Acho melhor você não se envolver com uma mulher que tem um filho. Dá muito trabalho.
- Mas eu gosto dela, .
- Então você pode tentar, pra ver no que vai dar.

Tinham passado três dias desde que eu fui à casa da . Eu tomava meu banho, tranqüilamente, e ouvi o telefone tocar. Peguei a toalha, saí do banheiro, estabanadamente, e atendi.
'-?
- ? - Eu sorri.
- Oi, tudo bem com você?
- Sim, tudo ótimo. E você? - Eu sorri ainda mais. Estava feliz com a ligação dela, ok?
- Tudo certo também. Olha só... será que a gente podia conversar? - ii, o que ela queria?
- Acho que sim. Pode falar.
- Não por telefone. Pessoalmente.
- Ah. Certo. Onde você quer ir?
- No parque onde nós nos encontramos. Pode ser?
- Sim, sim. - Ela queria mesmo conversar. E agora?
- Então tá. Hoje, às cinco e meia no parque.
- Ok. Até lá, .'


O que a teria para 'conversar' comigo? Estranho isso. Muito estranho. Deve ser coisa da .

Terminei meu banho, me arrumei e fiquei ouvindo música até as cinco, que foi quando resolvi sair para encontrar com ela. Estava meio ansioso.
Fiquei esperando uns cinco minutos lá, quando a vi. Ela estava com o cabelo voando, já que ventava um pouco ali. Linda.
- Oi, .
- Hum... Oi. - Sorri.
- Então... Eu te chamei aqui pra falar uma coisa. - Ela estava nervosa. Bem nervosa. O que de tão grave assim ela tem pra me dizer?
- Pode falar, . - Ventava e a gente não conseguia olhar um pro outro direito.
- ... É o seguinte... Eu não sei por onde começar... - Ela estava muito nervosa. Dava pra ver que as mãos dela tremiam.
- Hum?
- Bem, o ... Ele... - Ela realmente estava com dificuldades para olhar nos meus olhos.
- O que tem o seu filho? - Perguntei, delicadamente. Ela já estava nervosa, eu não podia aumentar esse nervosismo.
- Ele... , o é seu filho. - Ela disse e olhou pro outro lado. Eu fiquei parado, olhando para ela, por alguns instantes. Tipo, o que?
- O que? - Perguntei, incrédulo.
- É o que você ouviu, . - Ela deixou uma lágrima cair. - Olhei mais alguns segundos para ela.
- Como assim, ? Tipo, como assim? - Eu comecei a ficar muito confuso.
- , eu não preciso te explicar como essas coisas acontecem né? - Ela ainda estava com a cabeça baixa.
- Mas, ... A gente... Foi só uma vez.
- Eu sei. E eu descobri que uma vez é o suficiente.
- Ai, meu Deus... , você tá falando sério?
- Claro! Você está dificultando as coisas pra mim, . Não faz isso.
- Você tem noção da gravidade do que você tá me dizendo?
- Eu me recuso a responder isso.
- Ok, por que você não falou comigo antes? Tipo... Sei lá. Você tinha que ter me contado. - Eu aumentei um pouco o tom de voz.
- Eu tinha medo. E a gente perdeu o contato. - Ela foi me explicando.
- Não justifica. Isso é sério. Você tinha que ter me contado.
- , você acha mesmo isso? Tipo, você tem uma banda. E naquela época vocês estavam começando. Você não acha que um filho mudaria isso tudo? - Ela tinha razão.
- Eu não sei, . Nós teríamos dado um jeito.
- Não teríamos não, . Foi melhor assim.
- Não, não foi. O que você diz pro ? Que o pai dele o abandonou? Que não quis saber dele?
- Claro que não. Ele sabe que o pai dele nunca soube sobre ele e que eu perdi o contato com ele.
- Ai, . Você não podia ter feito isso! - Eu me sentei num banco próximo e coloquei as mãos no rosto.
- , me desculpa. Mas eu acho que isso foi o melhor que eu pude fazer.
- O melhor? Você não tinha o direito de esconder isso de mim! - Gritei. Algumas pessoas nos olharam. começou a chorar mais.
- Cara, você não entende! Eu estava assustada, perdida. Não tinha ninguém. Não tinha você comigo. Eu não sabia o que fazer.
- Tá bem, eu entendo você. Mas mesmo assim... é difícil aceitar isso.
- Eu sei. ... Eu preciso ir.
- Ok. - Olhei para ela e a vi se afastar.
O que eu ia fazer? Eu tenho um filho.

Andei até minha casa. Eu precisava desse tempo pra mim. Cheguei em casa e liguei por . O leva tudo na brincadeira. Eu preciso é do numa hora dessas.
- , é o . Você pode vir pra cá?
- , tem que ser agora, porque eu tô com a...
- , é importante. - O interrompi.
- Tudo bem eu tô indo praí. - Acho que ele percebeu a seriedade na minha voz.'


Esperei meia hora e o apareceu. Ele entrou e sentou no sofá em frente ao que eu estava.
- Então, , o que aconteceu de tão sério assim?
- Eu tenho um filho. - Fui bem direto com ele.
- Que? Como assim você tem um filho? - Ele olhou para mim, espantado.
- Lembra da ? Aquela garota que você conheceu naquele dia?
- Você engravidou a ? - arregalou os olhos.
- Não. Quer dizer, sim, mas foi antes...
- Como assim?
- Eu e ela estudávamos juntos. Fomos juntos ao baile de formatura e ai nós passamos a noite juntos. Depois disso eu nunca mais falei com ela. Só fui reencontrá-la há um mês. E hoje, ela me disse que teve um filho meu.
- , presta atenção. Isso não deve ser verdade. Você precisa fazer um teste de DNA, por que qualquer mulher gostaria de ter um filho de . Você é famoso e tem dinheiro.
- , eu não sei. Eu tenho quase certeza de que isso é verdade. Ela não mentiria pra mim.
- Qualquer mulher pode mentir quando o assunto é dinheiro.
- Mas eu não posso chegar pra ela e dizer que quero um teste. Isso a deixaria magoada.
- Você não tem outra saída.
- No fim de semana eu vou falar com ela.

Esperei ansiosamente pelo final de semana. Eu gostava da . Gostava de ficar perto dela, mas toda essa história me deixou totalmente confuso. Eu não sabia o que fazer. Como eu ia chegar na casa dela e dizer: ' eu não acredito no que você tá dizendo e quero um teste de DNA.' Ela ficaria com muita raiva de mim. Eu tenho que arranjar um outro jeito. A ! É isso. Mas... Como eu vou conseguir o telefone dela? Se eu ligar pra casa da ela pode me atender. Já sei!

- Alô? - Ouvi a voz da do outro lado.
- Oi, eu queria falar com a . - Disfarcei a voz. Acho que ela não percebeu.
- Aqui não tem nenhuma , Senhor.
- Ah, ela tinha me dito que esse não era o telefone dela e sim de uma amiga. Será que você podia me passar o dela? É meio urgente. Um assunto familiar. - Eu tinha que fazer um drama básico pra convencer a , porque essa minha idéia de 'ela me deu o telefone da amiga' era ridícula, convenhamos.
- Acho que posso sim. Como é seu nome? - Pensei um pouco.
- ! Sou amigo dela. - Foi a única coisa que me veio à cabeça.
- Ok, , anota aí. - E ela me passou o telefone de .
- Obrigado, ! - Falei sem pensar. Merda!
- Como voc... - Desliguei antes que ela me perguntasse. Pronto. Agora eu ligo pra e marco um encontro!'


Eu telefonei para ela e marquei de nos encontrarmos num café perto daqui de casa. Ela foi bem simpática comigo. Acho que é coisa dela mesmo.
Chegamos lá. Nos sentamos e eu comecei:
- Então, ...
- A te contou, não foi? - Ela me olhou nos olhos.
- Sim, ela contou. Só que eu não estou muito seguro dessa história...
- Como assim?
- Um amigo meu me disse umas coisas e eu estava pensando...
- Num teste de DNA?
- Isso.
- , a não vai aceitar. Foi um custo pra ela aceitar contar pra você. Eu tive que ameaçá-la.
- Como assim? Ela não ia me contar?
- Não. Eu a convenci aquele dia que você foi lá. Ela queria distância de você e tem medo.
- Medo do que?
- Eu não sei. De que você resolva tirar o dela, ou algo do tipo.
- Eu não faria isso.
- Eu sei... Nossa, . Eu acho que você deveria apoiá-la sabe? Você tem direito de desconfiar, afinal é famoso e essas coisas. Mas você não sabe de tudo o que a passou sozinha. Tenta entender isso e aja da forma mais correta. Pelo bem dela e do seu filho. - Meu filho. Nunca tinha parado pra pensar no 'meu filho'.
- Tá certo.Eu vou agir assim. Vou na casa dela agora.
- Eu vou com você. - se levantou.
- Por que? - Levantei também e a olhei.
- Por que vocês podem precisar de mim lá.
- Vamos então. - Nós saímos de lá e fomos de táxi para a casa do , meu filho.

Chegamos e estava ocupada com alguma coisa. abriu a porta.
- Hey, amor! - o beijou a testa e ele sorriu.
- Oi, . - Eu me aproximei dele.
- Tio ! Você voltou pra brincar comigo né? - Ele perguntou, empolgado, enquanto me puxava para seu quarto. Olhei para como quem pede uma ajuda. Ela fez gestos para que eu fosse. Fomos lá pra dentro, no quarto dele. Totalmente arrumado. Só alguns brinquedos no chão. chegou na porta. Ela segurava uma caneta e uns papéis.
- ... Como você...
- O abriu pra mim. A veio comigo.
- Hum, ok. Cadê ela?
- Não sei... Ela ficou n a sala. - foi procurar a amiga.

[Parte narrada pela autora]

- Ah, eu sabia que você estava na cozinha! - mexia nos armários, quando chegou.
- Onde você esconde os biscoitos mesmo?
- No último armário. Você falou com o ?
- Aham.
- E ele?
- Ele está meio assustado, mas está lá com o e isso que importa, você não acha?
- Sim. O precisa do pai dele.
- O que você acha do almoçar com a gente hoje?
- Eu não sei, . Eu tenho medo do ficar muito próximo a ele e ele sumir de repente.
- Ele é pai do . Não pode sumir de repente.
- Eu sei. Mas mesmo assim. Ele não tá acostumado com o e, de repente, ele começa a fazer parte das nossas vidas assim.
- . Relaxa! Eu acho que eles dois vão se entender e você vai ficar feliz por que o seu filho, finalmente, conheceu o pai.
- Eu já fiquei feliz com isso. Mas o não sabe ainda o que é ser pai. Ele não tem noção de responsabilidade.
- Deixa rolar! Ele é o pai. Tem que saber o que fazer. Vamos almoçar?
- Vamos. Eu vou arrumar o .

[Parte narrada pelo ]

Ouvi a vindo em direção ao quarto onde estávamos.
- , vamos trocar de roupa pra almoçar, meu amor? - Ela entrou no quarto.
- Ah... Já?
- Sim, senhor! - Ela o colocou em pé em cima da cama, pegou uma blusa no armário dele e trocou pela que ele usava. O mesmo com a bermuda. Ele pulou da cama e ela veio com um pente e arrumou o cabelo, liso e castanho claro, dele. - Pronto filho.
- E o tio ? - Ele me deu a mão.
- O que tem? - o perguntou e eu somente olhava.
- Vai com a gente?
- Se ele quiser... - respondeu e me olhou.
- Por mim tudo bem.
- Então, , coloca o tênis azul e vamos.

Nós saímos, eu, , e . Fomos almoçar num desses restaurantes que tem brinquedos para atrapalhar a digestão das crianças e depois andamos na praça e tomamos um sorvete. Eu descobri que o preferido do é morango, assim como o meu. O da é chocolate. Isso significa que ele herdou de mim o gosto para sorvete. A já tinha ido embora. Então estávamos só nós. Foi estranho, mas bom. corria pra espantar os pombos e o mandava parar. Eu os olhava. De vez em quando, ajudava com os pombos. É a minha função de pai, né.
Nós fizemos mais algumas coisas lá praça e depois eu os levei em casa. Foi um dia bom. Na verdade, ótimo. Só que eu comecei a me sentir mal, sabendo que tenho um filho e não fazendo nada por ele. Agora que eu sei da verdade, não posso deixar a com tudo nas costas.

Cheguei em casa e logo liguei para ela.
- ...
- Oi, ?
- Eu tava pensando... Amanhã é domingo.
- Sim, eu sei. - Ela riu.
- Então, eu queria saber se posso sair com o .
- , você acha que está preparado pra sair com o , sozinho?
- Eu não sei. Mas garanto que vou cuidar bem dele. Ele é comportado. Você acha que ele sairia comigo, sem você?
- Eu acho que sim. Você passa aqui amanhã.
- Às onze tá bom?
- Sim, às onze. E aí a gente conversa e você sai com ele.
- Ok então. Beijo, .
- Chau, .
Conversa? Hum... Vamos ver o que vai ser dessa vez.


Fui, novamente, à casa deles. Eu e conversamos. Ela me disse que eu deveria estar mesmo disposto a assumir o , se quisesse sair com ele e tal, porque eu não podia me aproximar do garoto e depois sumir. Eu concordei, é claro. Ele era meu filho. Então, ela chamou o que já estava pronto para irmos.
- Qualquer coisa vocês me ligam, ok? , você está bem? , não dá muito doce pra ele, por favor.
- Ok, .
- Tá bem. Quaquer coisa vocês me ligam então. Não esqueçam. , você tem meu número né?
- , eu tenho seu número. Vai ficar tudo bem, pode deixar.
- Ok. - Ela se despediu do com um abraço. - Eu te amo, filho. - estava, visivelmente, preocupada.
- Também amo você. - Ele deu um beijo no rosto dela. Nós saímos e ela ficou lá nos observando da porta.

Fizemos algumas coisas legais. Comemos hamburguer no almoço e mais sorvete de sobremesa. Ele não conseguiu chegar ao fim do hamburguer. Acho que crianças não comem muito. Eu tenho que lembrar disso.
Depois eu o levei no shopping e comprei uma bicicleta pra ele, já que ele disse que ainda não tinha. Eu ia ensinar a ele como andar. Será que a vai ficar chateada?
Saímos de lá e fomos pra casa do , onde e estavam. Eu queria que eles conhecessem o .
- Bom, gente, esse é o . Ele é filho da . - Eu o apresentei a todos, que comiam salgadinhos gordurosos e viam algum programa de comédia na TV.
Eles o cumprimentaram e e tiveram que ir embora. Ficamos eu, e jogando vídeo game. era o único que sabia da história toda. Meu celular tocou.
- ?
- ! Tudo bem com vocês?
- Tudo ótimo! Quer falar com o ?
- Não, não precisa. Eu acredito em você. Até mais tarde então.
- Até, .

- Era a mamãe? - olhou para mim.
- Era sim. Ela só queria saber se tava tudo bem.
- Ela tá bem? - Que tipo de criança de cinco anos quer saber se a mãe está bem? Uma que não tenha pai, talvez... Acho que um pai passa mais segurança.
Estava trovejando. Eu ainda tinha que levar o em casa. Me apressei nisso, por que ia começar a chover forte.
Assim que o táxi parou na frente da casa da a chuva começou. Eu e fomos correndo até a porta e tocamos a campainha. Ela atendeu e pulou no colo dela. Eu estava com a bicicleta dele.
- Oi, meu amor! Foi tudo bem no passeio de vocês? - Ela entrou com ele e fez gesto para que eu entrasse também.
- Aham! Foi demais! O comprou uma bicicleta pra mim, mãe!
- Sério? Que legal! - sorriu para ele.
- Eu venho aqui amanhã pra montar com o . - Eu disse, ainda em pé.
- Tudo bem. Você quer alguma coisa? Água, suco?
- Água tá bom. - Me sentei, enquanto ia para seu quarto, pegar alguma coisa pra eu ver. Nesse instante, deu uma trovoada forte e a luz acabou.
- MÃAAE! - gritou do quarto. Acho que ele ficou com medo. Crianças têm medo dessas coisas, não têm?
- Calma, filho. Eu já to indo. Você tá no quarto? - o perguntava, gritando.
- Aham. Anda logo!
- Pronto . A mamãe tá aqui, calma. - Ela o pegou no colo e veio pra sala.
- , você não pode ir embora com essa chuva. Acho que começou a chover mais forte. - Conta outra, , você tá é com medo de ficar sozinha.
- Relaxa! Eu vou ficar até a luz voltar. - Eu ri.
- Ué, eu só to falando pela chuva, .
- Eu sei, entendo.
Nós ficamos um tempo, mais ou menos meia hora ali na sala conversando. Só que nada da luz chegar.
- Mãe, to com fome.
- Eu vou lá ver se tem algum biscoito. Fica aqui com o .
- Não! Eu quero ir com você. - segurava na mão dela. Acho que ele ainda não confiava em mim a ponto de ficar sozinho nessas circunstâncias.
- Ok. , vem também. - Ela me pediu. Ou mandou né, sei lá.
- Tá bom. - Fui junto com eles. ia tateando os armários, até encontrar o de biscoito. grudou nela e não saia de seu colo.
- Pronto. Acho que encontrei alguma coisa. - Ela tirou um pacote do armário.
- Tomara que seja recheado! - Eu e falamos juntos. Eu ri.

Acordei todo dolorido, no sofá da casa de . Ela fazia café e ainda dormia. Fui até a cozinha.
- Bom dia.
- Bom dia, . Dormiu bem?
- Erh... Não muito e você. Eu dormi, com o espaçoso junto.
- Por que...
- Eu não tive coragem de te acordar. Você dormia que nem uma criança, . - Ela riu e eu fiz uma cara meio antipática. Criança... Ham!
- A luz demorou a voltar?
- Aham. Só voltou lá pra uma da madrugada.
- Hum. Você ficou esperando?
- Não. Eu só consegui dormir às duas.
- Ah. Entendo. - Me sentei à mesa e ela me serviu café. Nisso, entrou todo descabelado e coçando o olho.
- Bom dia! - disse alto a ele e o beijou a testa.
- Bom dia. O tio ainda tá aqui. - Ele disse sonolento ainda, com aquela cara amassada dele.
- Sim. Lembra que ele pegou no sono no sofá?
- Lembro. Você disse que ele parecia uma criança. - riu.
- Isso mesmo. - riu. Eu fiquei sério.
- A gente vai montar a bicicleta hoje? - perguntou, animado, enquanto comia seu cereal.
- Pode ser, se a deixar.
- Como? Você tem escola hoje, . E já está atrasado.
- É verdade, . Melhor deixarmos pra outro dia. - Eu disse, enquanto tomava café e o cereal. Os observei por um instante. já estava arrumada para o trabalho.
Eles terminaram de comer e ela foi ajudar o a se trocar para a escola.
- Eu posso ir com vocês? - Perguntei.
- Pode. - me respondeu. olhou pra ele confusa.
- Agora o decide as coisas aqui. - Ela bagunçou o cabelo dele e riu.

Nós saímos da casa e pegamos um táxi até o colégio do , e depois até o trabalho da . Eu me despedi dos dois e fui para casa. É, aquele final de semana foi legal.
Cheguei em casa, tomei um banho demorado, descansei um pouco e saí. Fui esperar na saída do consultório onde ela trabalhava. Eu queria almoçar com ela. Se ela quisesse, é claro.

- !
- Oi, . Eu vim te chamar pra almoçar comigo. Aceita?
- Hum... Acho que sim. Eu só não posso demorar muito.
- Ok. A gente pode ir aqui perto mesmo.
Nós entramos no restaurante e fizemos o pedido.
- ...
- Oi?
- Ontem de noite o me disse que queria que você fosse o pai dele.
- Sério?
- É. A gente precisa contar a verdade a ele. Eu acho que ele vai gostar de saber disso.
- Eu concordo. Mas como?
- A gente tem que se reunir e explicar tudo. Ele ainda é pequeno, eu acho que não vai entender muita coisa, mas o principal ele entende.
- Tudo bem. Eu acho que você tá certa. - Disse meio nervoso. - Eu tenho um pouco de medo. Mas é melhor que ele saiba logo.
Almoçamos e combinamos que, no fim de semana, contaríamos tudo.

Eu estava nervoso. Nós estávamos na minha casa. A achou melhor que fosse lá. Vimos um filme e jantamos. Depois do jantar, chamamos o e nos sentamos com ele na sala.
- , nós precisamos conversar com você. - começou.
- O que é? - Ele nos olhou. - Vocês tão namorando? - E abriu o maior sorriso.
- Não... Não é isso, filho. - corou. Ele fechou a cara.
- Então? - Perguntou impaciente.
- , você lembra que me disse que queria que o fosse seu pai?
- Aham.
- Então. Eu tenho que te contar que eu e o fomos namorados há um tempo atrás. - nos olhava.
- E aí a sua mãe ficou grávida de você.
- Isso quer dizer, que o é o seu pai, . Eu não te contei antes porq...
- Sério? Ele é o meu pai? - O pequeno arregalou os olhos.
- É sério. - o respondeu e ele a abraçou.
- Valeu, mãe! - Ele a agradeceu e depois me abraçou também.
Nós conversamos um pouco mais, eu me entendi com ele. Ele me perguntou porque eu e a mãe dele não nos casávamos e essas coisas de criança.

- , a gente precisa ir. Dá chau pro . - levantou do sofá e foi em direção à porta.
- Por que vocês não ficam aqui essa noite? - Perguntei, olhando para .
- , eu não trouxe nada pro ...
- Não importa. Tem um quarto de hóspedes aqui. É melhor do que vocês irem pra casa a essa hora. - Acho que a só aceitou pela cara que eu fiz. Eu sempre convenço as pessoas com essa cara.
- Ah, vamos, mãe. - também me ajudou. Ele também sabe fazer um drama.
- Tudo bem, mas já tá tarde e você tem que dormir. - Ela o segurou no colo.
- Eu não posso ficar nem mais um pouquinho acordado?
- É, . A gente pode ver um filme. Vamos? - Eu e usávamos a cara que era nossa especialidade.
- Ai, vocês dois hein. Tudo bem. - Ela se rendeu. Fomos pra sala de TV e eu coloquei Shrek. Era um dos únicos DVD pra criança que eu tinha. Ok, não era um dos únicos, eu tinha uma estante cheia deles. Mas era o que eu mais gostava.
sentou e se acomodou no sofá. sentou ao lado dela e eu do outro lado. Não sobrou espaço pra mim do lado do . Nós ficamos lá assistindo. Eu ria que nem uma criança e o também (só que ele é uma criança). Raramente a ria.

Na metade do filme ele dormiu. Ai a me cutucou e perguntou onde ele ia ficar. Eu levantei, o peguei no colo e subi as escadas com a atrás. Pedi que ela abrisse a porta do quarto onde eles iam dormir. Coloquei o na cama e a o cobriu e deu um beijo. Eu os olhei e depois voltamos pra sala pra terminar o filme.
Acho que a estava começando a ficar com sono. A cada dois segundos ela bocejava. Ela acabou deitando a cabeça no braço do sofá. Eu sabia que ela ia dormir. E não deu outra, né. Quando o filme acabou eu a chamei. Claro que eu fui com toda calma.
- ... - Mexia no cabelo dela.
- Hum? - Ela ainda estava de olhos fechados.
- Vamos lá em cima, pra sua cama.
- Eu... dormi aqui? - Ela sentou no sofá, rapidamente, e arregalou os olhos.
- Calma. - Eu ri da cara que ela fez.
- Onde é o quarto mesmo? - levantou e cambaleou um pouco, já que tinha feito isso muito rápido. Eu a levei até lá. Ela sentou na cama e nós ficamos conversando baixo por uns instantes. Até que ela deitou e ainda falávamos algumas coisas. Só que não por muito tempo, já que ela pegou no sono. Eu observei os dois dormirem por uns minutos e depois fui pro meu quarto. Rapidamente peguei no sono também.

Acordei e desci, pra ver se tinha alguma coisa pra comer por lá. Quase esqueci que eles haviam dormido lá em casa. Falta de costume.
Quando cheguei na sala a estava lá, assistindo alguma coisa na TV.
- Eu ia fazer alguma coisa, mas não sabia se podia mexer nas suas coisas de cozinha. Tem gente realmente ciumenta com essas coisas. - Ela me ouviu chegando.
- Eu não ligo não.
- Então eu posso ir lá?
- Claro. - Nós fomos à cozinha e eu fui a mostrei onde ficavam as coisas que ela queria. Ela fez café, panquecas e mais um monte. Acho que nunca tomei um café assim na minha casa. apareceu enquanto tomávamos café. Ele sentou e nos acompanhou.

As coisas foram acontecendo mais ou menos assim. Eu sempre pegava o pra fazer alguma coisa. Às vezes a ia junto. Eu gostava de tê-la por perto e sempre que dava a convidava. A e o também saíam com a gente de vez em quando. Eu fui conhecendo o meu filho. As coisas que ele gostava e não, como ele ia no colégio. Essas coisas.
Eu estava feliz, mas conforme o tempo ia passando eu acho que fui me apaixonando. Ou re-apaixonando, já que eu já fui apaixonado pela . Ela era demais. O tipo de pessoa que você quer sempre ter ao lado. Ela nunca arrumava confusão por coisas idiotas, tentava ser sempre compreensiva. Essas coisas. Poucas mulheres são como ela.

Eu queria falar com ela sobre o que eu sinto. Mas acho que faltava coragem. E fora o medo de ela pensar que eu só queria ficar com ela porque nós temos um filho.
Então, eu tive que esperar o momento certo. Era inverno e o estava na minha casa. Eu pedi que a o fosse buscar à noite. Fiquei a tarde toda com a minha mãe e o . Ela estava me ajudando a fazer um jantar tipo que especial.
A chegou em casa às oito. Já estava tudo pronto.

- Oi, . - Ela me deu um beijo no rosto.
- Oi, . - Retribuí.
- Cadê o ? - Ela o procurava com os olhos pelo apartamento.
- Ele não está. - Que coisa idiota pra se dizer.
- Como assim não está? Aconteceu alguma coisa? - Ela começou a se desesperar.
- Não aconteceu nada não, . Ele foi pra casa da minha mãe.
- Mas, porque? - Ela me olhava.
- Por que eu preparei uma coisa pra nós. - Saí da frente dela e mostrei a mesa com as velas e o jantar todo pronto. Ela arregalou os olhos.
- Nossa. Mas...
- Não precisa falar nada. - Eu fui até o som e coloquei uma musica calma para nós. - Eu preparei esse jantar porque tenho que falar com você. - Não pude deixar de reparar no olhar dela. Ficou preocupada, de novo. Eu sempre a preocupo.
- Ok. - Ela colocou a bolsa no sofá. Nós conversamos um pouco e eu a chamei para a mesa. Puxei a cadeira dela e ela sentou. Eu sentei do outro lado.
Nós comemos e tomamos vinho. No final do jantar eu a levei pra varanda do meu quarto. Lá era bem romântico. Dava pra ver a lua cheia e as estrelas. Eu me sentia estranho, nervoso e tudo o mais. Ela olhou para o céu.
- Aqui é legal, ! - Os olhos dela brilhavam.
- Eu sei. - Me aproximei de onde ela estava. - Eu te chamei aqui porque preciso falar uma coisa com você.
- Ah. É verdade. Eu já estava quase esquecendo disso. - Ela me olhou, séria. - Pode falar.
- ... Eu só queria dizer que...
- Fala, ! - Ela me apressou.
- Ok. É que eu... Eu... Amo você. E eu quero ficar com você. - Eu me aproximei mais dela.
- Eu... Acho que sinto o mesmo por você. - Ela virou o rosto, envergonhada. Coloquei a mão no queixo dela e virei o rosto dela para mim. Aproximei nossos rostos e selei nossos lábios. Ela correspondeu ao beijo e nós ficamos ali por um tempo, nos beijando e tocando. Sentindo um ao outro.
Até que eu a levei ao meu quarto, enquanto ainda nos beijávamos. A deitei na cama e fiquei por cima dela. Nos beijávamos intensamente. A partir daí acho que você entende o que aconteceu, né?

Acordei com ao meu lado. Ela ainda dormia. Que estranho. Ela sempre acorda antes de mim. A observei por uns instantes, até que comecei a acariciar seus cabelos. Ela abriu os olhos e sorriu. Eu a beijei e sorri também.
- Bom dia. - Eu disse, sorrindo.
- Bom dia. - Ela também sorria.
- Eu queria ficar aqui o dia inteiro. - Me virei pra cima.
- Eu também. - Ela me olhava. - E o ? - se sentou, meio bruscamente, ao lembrar.
- Ele tá com a minha mãe. Não precisa se preocupar. - Ri da cara que ela fez.
- Ok, mas é melhor eu ir né... - Ela se aproximou da beira da cama e eu a segurei.
- Fica mais um pouco.
- , não me pede desse jeito. - se aproximou de mim e beijou minha boca. Nós ficamos ali a manhã inteira, até que ela se levantou, colocou a roupa e desceu. Eu ainda fiquei na cama, até que comecei a sentir o cheiro do café e fui até a cozinha.
- , eu acho que já aprendi a usar sua cozinha. - sorria, enquanto fazia alguma coisa no fogão. Eu cheguei por trás dela e a beijei o pescoço.
- ...
- Oi?
- Eu quero ser seu namorado. - Ainda estava parado atrás dela. Ela virou para mim, colocou as mãos na minha nuca e me beijou. - Isso é um sim?
- Acho que sim. Você está disposto?
- A tudo! - Respondi e voltei a beijá-la. Ela rompeu o beijo.
- Vai queimar, ! - E virou-se, novamente, pro fogão. Eu sorri.

Naquela tarde, nós fomos à casa da minha mãe, pegar o . Ela percebeu que o jantar tinha dado certo. Mas nós não podíamos falar nada sem antes conversar com .
Então, naquela noite, nós saímos com ele. Levamos ao parque e depois fomos lanchar. Foi aí que demos a notícia. Ele ficou feliz. Radiante, pra ser mais exato.
Um ano depois de termos começado a namorar, nós decidimos que iríamos morar juntos. A discussão foi para decidirmos na casa de quem nós moraríamos.

- , o já está acostumado com a nossa casa. Fora que tudo já está nela, as coisas dele...
- Mas, , lá em casa tem mais espaço. E você como psicóloga devia proporcionar ao seu filho essa mudança. Faz parte do amadurecimento.
- Ele só tem seis anos, !
- E tem que começar desde pequeno!
- . Você tem um cachorro. Como a gente vai fazer com ele?
- O Luke é um bom cão. Ele sabe se comportar.
- Mas não deixa de ser um cachorro. E dos grandes.
- Ah, meu amor... - Me sentei na frente dela. - Você podia ir lá pra casa... Vocês se acostumam e...
- Tá bem, . Nós vamos pra lá então. - Ela aceitou, finalmente. A enchi de beijos.
Decidimos que ela se mudaria pra minha casa depois de duas semanas. Enquanto isso ela foi encaixotando tudo. Haja caixas, por que a tem muita coisa! Depois que as duas semanas se passaram, minha casa estava uma bagunça e a desesperada. Ela tem mania de organização.
- Calma, amor. Com o tempo a gente arruma isso. - Eu a consolava, enquanto o brincava com o Luke.
- Ainda bem que aqui é grande! - Ela suspirava.
Depois de um mês já estava tudo organizado. Bem organizado. Ela não deixava nada fora do lugar. Não posso negar que a minha vida mudou depois que eu descobri que tinha um filho. Mas ela ganhou mais estabilidade e eu gostei do rumo que tomou.

Depois de um tempo, nós resolvemos fazer uma viagem em família. Estávamos bem empolgados com isso.
A passou mal a viagem inteira e quando nós voltamos eu fui com ela ao médico.
Descobrimos que ela estava grávida. No começo eu fiquei assustado e um pouco preocupado. Mas aceitei aquilo. A mulher que eu amo estava esperando outro filho meu. Dessa vez eu queria uma menina.
A dizia que o que fosse ela ficaria feliz, mas eu sei que ela também queria menina.

- Que nome você quer dar pra ela, ? - me perguntou, enquanto sentava ao meu lado na cama.
- Eu não sei. Acho melhor você se encarregar disso, amor. - Disse desviando meu olhar da TV.
- Ah, não! Não tem graça. Temos que decidir juntos!
Me deitei ao lado dela.
- Eu gosto de Phoebe. - Disse sorrindo.
- Que? - me olhou como se achasse que eu estava brincando. - Ai meu Deus, você tá falando sério! - Ela fez uma cara preocupada.
- Eu sabia que você não ia gostar! - Falei com uma cara séria. Porque ela não gostou da sugestão?
- Ah... Não é isso. - tentou explicar em vão.
- É isso sim. Você não gostou do meu nome! - Fiz uma cara triste e simulei um choro.
- Ah, . Não fica assim. Você pode tentar de novo, querido! - Ela sorriu.
- Monica! - Gritei.
- É impressão minha ou você tá querendo se basear em friends pra escolher o nome da minha filha?
- Impressão sua, amor. Monica era o nome de uma amiga minha. - Disse calmo.
- Ah. Ainda bem, porque se fosse isso e o nosso filho fosse menino, seria o que? Chandler? - riu. - E Phoebe?
- O que tem? - Perguntei ainda rindo do que ela tinha falado.
- Quem foi Phoebe? - Ela me olhava séria.
- Ah... Foi amiga também. - Eu disse meio atrapalhado.
- Você gaguejou, ! - Maldita psicologia! - Quem foi Phoebe? - perguntou, desconfiada.
- Já falei, . Uma outra amiga. - Insisti.
- , eu não acredito nisso! - Ela começou a fazer drama. Sabe aquela história de mulher compreensiva, que não arranjava confusão por nada que eu te contei lá em cima? É, a gravidez levou ela embora.
- No que? - Perguntei assustado, a olhando quase chorar.
- Você queria colocar na nossa filha o nome de uma ex-namorada! - Ela levantou e saiu do quarto.
- Não era ex-namorada, ! - Fui atras dela. - Eu só fiquei com ela algumas vezes. Só isso. - Comecei a tentar me justificar. Ela me olhou de olhos cerrados.
- E você queria colocar na nossa filha o nome de um casinho seu??? Eu preferia que você fosse viciado em friends! - Ela gritava.
- Fica quieta, você vai acordar o . - Falei baixo e cheguei mais perto dela.
- Não! Sai daqui, . - Ela começou a chorar. Meu Deus, que drama!
- , me desculpa. - Tentei consertar aquilo.
- Tá, mas sai daqui, . - Ela disse calma. Sentou no sofá da sala, abraçou uma almofada e ficou lá. Não entendi nada. Aliás, eu não tava entendendo muita coisa na desde que ela ficou grávida. Isso pode mexer com o emocional de uma mulher. Ainda bem que não vai acontecer mais de duas vezes.

Algum tempo depois a nasceu. É, a escolheu o nome. Eu não me meti mais a tentar escolher nada:
- . - Ela sussurrou em meu ouvido de madrugada.
- Que foi, ? - Eu perguntei completamente dormindo acordado.
- Eu acho que a bolsa estorou. - Ela falou baixo e calmamente.
- Que bolsa? - Não estava mesmo ligado.
- , levanta e vai lavar o rosto, depois você volta aqui.
Fiz o que ela mandou. Mandou não, pediu! Voltei ao quarto já mais esperto e acordado.
- E então? Que que você tava falando de bolsa mesmo? Me acordou pra que? Foi sonho?
- Ai, , pelo amor de Deus! Você raciocina muito devagar! - Ela andava pelo quarto pegando algumas coisas e colocando uma roupa. - Nossa filha vai nascer. Agora! A bolsa estorou!
- O QUE? - Arregalei os olhos e acordei de vez. - Ai meu Deus! O que eu faço, ?
- Nada, só liga pra e pede pra ela vir pra cá ficar com o . E me leva pro hospital, é claro. - Ela dizia calmamente.

Quase tive um treco de tão nervoso que fiquei na hora do parto. Não sabia se sentava, se olhava o relógio, se andava. Completamente hiperativo. Quando o médico saiu de lá e disse que a tinha nascido eu decidi sentar pra não desmaiar.
- Ela é linda, . - Eu dizia sorrindo e olhando o bebê no meu colo. - Parece com você. Totalmente.
- Ela tem os seus olhos. - disse sorrindo.
- É, que bom que de mim ela herdou uma coisa boa. - Brinquei. A riu.
- Você é bobo demais . - Ela disse com aquele sorriso lindo dela.
- , nosso próximo filho vai ser outra menina, tá bem?
- Que? - Ela desfez o sorriso. - Você quer mais filhos?
- Aham. Você não quer? - A olhei, desviando o olhar da .
- Não sei. - Ela olhou para a janela do quarto. - Acho que se você ficar do meu lado eu posso tentar.
Eu sorri.
- Claro, sempre. Eu te amo, . - Falei e a beijei. Uma enfermeira entrou para estragar nosso momento de casal feliz.

O ficou feliz com a nova irmã, apesar dos ciúmes normais.
Eu e a nos casamos um tempo depois. É, quando a fez um ano nós decidimos trocar alianças. Eu me sinto meio que realizado. Nunca me imaginei vivendo assim, mas agora não me imagino sem isso.

A deu uma saída com a e eu to aqui em casa com o o , a e, adivinha? O .
Ele tá lá em baixo com o brincando de guerra de alguma coisa e eu tô aqui escrevendo com a dormindo do meu lado. Ela é a cara da , já disse isso? Minha filha vai me dar trabalho.

Ah, outra coisa, o e a estão namorando. Quase noivos, pra dizer a verdade. Eles foram feitos um para o outro mesmo. Aqueles dois se parecem em um monte de coisa.

Acho que é a no telefone. Tô indo atender. ;D


Nota: Bom, gente, espero que vocês tenham gostado! Eu já estava há um tempão pra mandar essa fic, mas a preguiça falava mais alto. hehe
Então, eu comecei a escrevê-la pra promoção do aniversário do Harry do ano passado O.O
Mas ai fiquei sem inspiração e, um mês depois, ela veio. Ai, uns seis meses depois, a preguiça de mandar pro site passou e eis a fic! xD
Bem, acho que é só isso. E comentem pra eu saber o que acharam dela, e se eu devo mandar alguma outra fic.
Beijão!

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