Revisada por: That Pereira



Acordei com a luz do sol querendo invadir o lugar que minhas pálpebras protegiam; minha cabeça pesava muito, para alguém que, pelo menos, pensava não ter bebido o bastante para isso ocorrer. Acho que demorei muito tempo para abrir os olhos. Respirei fundo, e ao me levantar notei que minhas pernas estavam entrelaçadas a uma privada, talvez tivesse passado o dia ali, ou só aquele momento. Ouvi batidas frenéticas na porta; só assim para eu acordar também. Levantei-me com dificuldade de mirar ainda a luz que entrava naquele banheiro e abri a porta, dando de cara com ele, seus olhos azuis me miravam, mostrando preocupação e também cansaço.
-Você está aí há mais tempo que imagina, – disse o rapaz a minha frente – Sua mãe ligou umas cinco vezes. Ainda não entendo, já que você não mora mais com ela.
Tentei digerir tudo o que ele falava, mas nada conseguia parar em meu cérebro, logo continuei com a mesma feição, até ele voltar a falar.
-Preciso usar o banheiro – Mesmo estando fora de órbita, meu corpo entendeu o que ele disse, e me levou para fora do local. Quando ele bateu a porta do banheiro, foi que eu acordei. ‘Oh mon Dieu!’. Meu Deus; fora o máximo que consegui soltar no momento, e ligar para minha mãe. Os gritos de toda mãe são dolorosos de ouvir em qualquer língua, mas acho que nenhum é pior quanto uma mãe que em sua infância aprendeu russo com o avô, e russo não é uma língua bonita de se ouvir ao telefone pela manhã, quando todas as palavras são xingamentos.
-Mãe, tenha calma, não precisa falar assim. Eu não vivo mais debaixo de sua asa. MAMAN! é muito melhor que papai, e eu vou aonde ele for! AU REVOIR MAMAN! – Desliguei antes que aquilo subisse em minha mente, e pudesse dizer coisas que odiaria falar para ela.
Não demorou muito para que ele saísse do banheiro e viesse me abraçar.
-Cigarro? – Assenti rapidamente, afinal eu odiava cigarro, mas ele já sabia que nos meus momentos de estresse eu aceitava.
Ele ia calmamente para a cozinha procurar um novo maço de cigarros, enquanto eu o seguia dizendo coisas que ele nunca entenderia.
-Elle sait comment me stress, incroyable, je déteste cela. Pourquoi? Dites-moi, pourquoi elle fait cela pour moi? Je suis sa fille, pas un chien, qui elle peut jouer et de donner des ordres* – sorriu de lado, ouvindo eu reclamando, e apenas deu de ombros, murmurei desculpas a ele, mas era como se estivesse acostumado; eu não sabia reclamar se não fosse em francês.
acendeu o cigarro para mim, e me entregou; fiquei andando para lá e para cá. Sem saber o que fazer, exatamente, apenas me seguia com o olhar. Até que disse em alto e bom tom:
-Calmez-vous, tout ira bien – Olhei para ele e sorri – Você sabe que pode ir morar comigo, mas tem que pensar rápido, semana que vem não estou mais aqui.
-Minha mãe o matará – disse, e isso era verdade.
-Para isso ela terá que gastar com a passagem, e achar um hotel, então saber onde moro, coisa que ela só saberá se você falar, até lá ela desiste da idéia, e viveremos em paz – fechei a cara, minha mãe podia falar o que quiser de nosso relacionamento, ser uma completa megera, e não saber cuidar direito de mim, mas acima de tudo era minha mãe. Então notei, o ar estava ficando completamente pesado naquele local. – Me Desculpe.
-Tudo bem, vou dar uma volta por aí, já volto. Tudo bem?
-Por que não posso ir? – sorri de lado com a pergunta dele.
-Vou de bicicleta, será que te agüento? – ele sorriu e deu de ombros, deixando a decisão comigo – Então vamos!
Quando ele subiu na bicicleta, fingi perder o controle com o peso do mesmo, ele bateu de leve em minha testa, falando mais uma mísera coisa que ele sabia em francês: Insensé femme.
Comecei a pedalar pela linda cidade onde moro, Cannes, deixando o vento bater em meu cabelo. Não era lá a francesa mais normal do mundo, eu não tinha cara de francesa, se é que francês tem rotulação, eu parecia mais uma americana, meu cabelo loiro, meus olhos azuis, se não fosse pela pele branca (que em todos os verões ficava um pouco bronzeada) e por eu falar fluentemente a melhor língua do mundo, eu não viveria aqui. Tanto que conheci por ele pensar que eu era uma turista, assim como ele.
Parei em frente à praia para admirar o mar, enquanto o rapaz mexia em meu cabelo constantemente.
-Se você não for comigo, eu sentirei muita falta do seu cabelo – eu sorri e me virei para ele.
-É só de meu cabelo que o senhor gosta? – Ele me olhou e ficou em silêncio, dessa vez eu ia quebrá-lo, queria uma resposta.
-Quer que eu te chame de boba de novo? – Neguei com a cabeça, mas permaneci em silêncio. – Boba! Passei um mês aqui, para notar que não vivo sem você. Como você ainda acha que é...
Não o deixei terminar a frase, o abracei fortemente afundando minha cabeça em seu peitoral. Senti sua cabeça ficar sobre a minha, e, pelo movimento, ele estava sorrindo.
-Eu te amo, .
-Também te amo, cabelo.



-Certeza que cortará o seu cabelo? – O cabeleireiro a minha frente me perguntava, apensar assenti – Ma belle, eu não faria tal arte com o pobrezinho. Não consigo pensar em cortá-lo do tamanho que deseja, peça a outro, , pois não cortarei seu cabelo hoje.
-Mas eu confio em você – eu disse desesperada pelo corte de cabelo, ele ainda continuava com a mão em meu joelho, como se me mostrasse algo que seria um grande erro para mim.
-Então escute o que digo, pequeno anjo de minha vida – sim, ele era exagerado – Se não há nenhum motivo, sendo esse só por pura rebeldia o seu acesso para cortar o cabelo, então não o faça. Mas se tiver motivos, Nadine diz mais nada.
Apenas imitei uma tesoura cortando meu cabelo, e então o rapaz/mulher a minha frente se levantou, derrotado por mim, e começou a ‘matança’.
Via maços e maços de cabelo caindo, era quase realmente uma matança, se fosse possível, Nadine choraria por isso. Mas quando ela terminou, viu que havia ficado melhor do que esperávamos. Saí satisfeita, me livrando de uma das coisas daquele que deixei para trás. Ao sair do local, vi que como combinado, ele me esperava.
-UAU! Então era isso que você ia fazer? Bem, ficou bonito – sorri para o rapaz.
-Nova cidade, novos cortes. Quero deixar a França para trás – disse incerta de minhas palavras.
-Tanto ódio assim pelo seu país?
-Não por ele... – deixei o final da resposta no ar, eu não queria tocar no assunto.
-Tudo bem, tudo bem, não tocará mais no assunto.
-Obrigada – ele me abraçou pela cintura e fomos assim até o café mais próximo.
Quando chegamos lá, ele disse por fim: ‘Você sabe que uma hora deverá me contar sobre essas mudanças, certo?’.
Assenti. Pouco me importando se ele veria ou não, ao entrarmos fui direto me sentar enquanto, fora pegar nossos cafés, e um muffin de blueberry do qual ultimamente vinha morrendo de vontade de comer.
Quando ele sentou, riu com a rapidez que peguei o muffin.
-Eu tenho quase plena certeza de que ele não vai fugir.
-Às vezes, eu fico na dúvida... Melhor ir direto ao pote – Ri com a minha própria frase, e, ao terminar meu, extremamente delicioso, muffin, se levantou.
-Já volto, vou ao banheiro, você pode ligar para o ? – ele sempre fazia isso, já estava acostumada.
-Para? – perguntei esperando uma reposta, pois imaginem a conversa: ‘E aí, ? O pediu pra te ligar’. Depois disso o único barulho que ouviríamos seriam grilos, ou alguém em linha cruzada brigando com o namorado. Engoli seco.
-Ele vir aqui, junto com e , precisamos repassar uns detalhes antes de começarmos a gravar o novo CD.
-Talvez, mas é só uma idéia, ok? – ele assentiu, me escutando. – Minha casa ou a sua até, seria melhor para esse encontro.
-Pensei que não falaria nunca, sorriu e beijou minha testa. Contei até cinco, literalmente, e ele voltou.
-Na sua casa, tá? – Sem olhar para ele fiz ‘joinha’ e ri sozinha. Digitei lentamente o número de , e fiquei ouvindo por muito tempo o pior barulho do mundo. Tenho pavor do barulho do telefone.
Quem atendeu foi , tenho que dizer que essa menina me cativou desde o dia que a conheci. Mas acho que até Bush me encantaria naquele dia.
Expliquei rapidamente para ela o que queria, e esta riu, me dizendo que pediu para ela ir atender ao telefone.
-Eles pensam que somos empregadas – riu e concordou, divertida.
-Dessa vez eu não posso ir, , sinto muito – Isso era o que mais me martirizava, quando eles iam trabalhar com as músicas, eu gostava de ficar conversando com , era a única com quem eu havia me dado bem.
-Tudo bem, ficarei adiantando meu trabalho, e talvez ligarei para minha mãe, faz tempo que não falo com ela.
-Faça isso, será ótimo para você, eu só iria te atrapalhar hoje! – Nunca que me atrapalharia, mas dessa vez apenas ri, para não começar uma discussão desnecessária de uma pessoa tão carente como eu.
Desliguei o celular, e poucos minutos depois, voltou com mais um café em mãos, e me olhou.
-Já liguei, eles vão. – já entendia quando eu era sucinta, sabia que era porque não ia. Ele riu com isso, mais uma vez.
-Vamos? – Assenti e passei minha mão pela parte interna de seu braço e saímos do local. Quando já estávamos na metade do caminho, voltou a falar: - E então o que fará hoje?
-Trabalho, não sei se ligo para minha mãe, quero fazer algo diferente – total sinceridade, estava começando a ficar enjoada da vida que estava levando ali. Estava com falta das aventuras.
-Quer sair, ? Aproveite enquanto não começo a gravar o CD – me disse. – Quer ir para onde?
-SABE DO QUE EU SINTO FALTA? – Sim, nós tínhamos esse costume, falar da mesma coisa, começando com perguntas, estranho, eu sei. Ele esperou eu voltar a falar, e então abri um sorriso enorme
-Meu pai SEMPRE me levava para pescar quando eu estava entediada – a cara do me fez gargalhar como nunca mais havia feito em minha vida.
-Isso é mais entediante ainda!
-E não é? – Aí então ele não entendeu mais nada – Meu pai fazia de propósito. Sabia que eu ia ficar mais entediada e nunca mais reclamaria, o problema foi quando vovô foi conosco uma vez e me ensinou sobre alguns peixes, e, quando eu segurei em um, , meus olhos brilharam e meu pai amaldiçoou seu sogro para sempre.
-Você fala de sua família, e nem a conheço – eu também achava essa parte estranha, mas não queria voltar à França, a menos que os trouxesse para cá.
-Me desculpe.
Fora o máximo que consegui soltar, afinal estava me alegrando com a idéia de pescar, e ele me jogou um balde de água fria. Quando chegamos a minha casa, e coloquei a chave na porta, ele disse por fim: Talvez pesca seja algo diferente, se você me ensinar.
Sorri abertamente para ele, e apenas assenti. Notei que começaria a chorar, achei ridículo, por que chorar? Só porque aceitou o convite de ir pescar? Abaixei a minha cabeça e ele notou.
-Vai chorar? – Esse era o cúmulo, nunca diga a minha se eu vou chorar, porque se a vontade estiver ali, ela escapa – Oh, Meu Deus! !
O abracei, querendo que aquilo parasse, entretanto, mais soluços vinham pela minha garganta me impedindo de falar. Tentei lutar com as lagrimas, mas elas me venceram, maldita TPM.
-TPM, ?


Parei a bicicleta perto da praia, e fui até a mesma com . Só havia um motivo para eu estar na praia, porque eu não gosto dela, mas amo .
Apoiei meus cotovelos na areia, e fique olhando para o sol lá no fundo. deitou-se ao meu lado, repetindo meus atos.
Ficamos em silêncio por um tempo, era cedo demais, não havia ninguém na praia, só ouvíamos o mar se mexer lentamente, com se murmurasse: ‘Desligue a luz, quero dormir’.
Sorri com meus pensamentos, e pelo olhar periférico notei que ele me observava. Virei de lado para olhá-lo, ignorando completamente a beleza do mar, ela não era tão bela se tinha um concorrente tão forte como ele.
-O que observas tanto em mim? – Ele não me respondeu, mas eu consegui entender, porque era o mesmo que eu observava nele, toda vez que o via. Tudo o que me fazia amá-lo cada vez mais. A luz batia em seu rosto o fazendo ficar mais perfeito do que já era, ele deu o seu melhor sorriso e soltou por fim:
-Entendeu?
Apenas assenti e me aninhei em seus braços.Ficamos deitados ali pela manhã inteira. Mais pessoas chegavam e era como se ainda estivéssemos na praia mais cedo do que todos imaginam, tendo aquela visão só para nós.
-Não sei se isso passa pela sua cabeça...Você sabe como eu, , sou boba, mas você pensa no futuro às vezes, quero dizer, no nosso? – Ele analisou meu rosto e os míseros segundos que ele demorou a responder me fizeram voltar a falar – Não que seja necessário, e nem que nossos futuros serão interligados, mas...
-Você é realmente boba, – ele disse olhando agora para o horizonte – Se eu te chamei para ir comigo para outro país, morar comigo, é porque eu vejo nosso futuro, sem ter seu futuro e meu futuro, eu só consigo analisar, ver, e criar um único, o nosso.
-O que você, vê? – perguntei totalmente curiosa.
-Primeiro, eu vejo sua mãe, arrependida – eu ia argumentar, mas ele colocou seu dedo indicador em meus lábios – Ao notar que não teria como ela pedir um genro melhor que eu. Eles iriam ter uma casa perto da nossa, não iam deixar a França, mas, sempre que quisessem passar um tempo com você, teriam onde ficar, sem ser em nossa casa.
-Por quê?
-Você quer mesmo seus pais dormindo num quarto abaixo do nosso enquanto podemos falar e fazer coisas que fariam seu pai subir e me matar? – eu sorri, desconcertada, e neguei.
-O que mais você imagina? – perguntei e ele suspirou.
-Você realmente quer me desconcertar? – Eu disse que sim, e ele riu, passando a mão, nervosamente, em seu cabelo – Está aprendendo comigo a falar menos?
-Talvez – sorri – E você a falar mais!
-Talvez!
-Ora, , não fuja do assunto, diga, o que mais vê? – Ele riu, vendo que sua tentativa de mudar de assunto não deu certo.
-Dois, eu vejo dois - fiquei confusa, e ele apontou para minha barriga – Filhos!
-Um menino e uma menina? – Ele assentiu.
-Meu maior sonho, parece estranho, até em meu ponto de vista, afinal, qualquer um que me ver não tem esse pensamento sobre mim. O cara que quer ter uma vida ao lado de uma única mulher com um casal de filhos.
-Eu tenho esse pensamento – pela primeira vez, vi o calor fluir de seus olhos, esse era um olhar raro de se receber dele. Senti que comecei a ficar ruborizada, me levantei, e ele apenas me seguiu com o olhar, me deixando mais constrangida. Ouvi-o sussurrar: ‘Aonde você vai...’. O resto fora escondido pelo vento que batia em meus cabelos enquanto eu ‘dançava’ pela praia.
Eu estava rápida para estar andando, mas lenta para estar correndo, isso fez com que, , na velocidade que estava, me alcançar rápido, e automaticamente, me fazer cair de bruços na areia. O máximo que consegui soltar antes de cair foi: ‘!’
Havia areia em todo meu rosto. Ele me levantou rapidamente e começou a tirar a areia, e, quando estava totalmente limpa, começamos a rir.
-Se tivéssemos uma filha, a primeira coisa que eu daria era uma boneca, mas não dessas novas. E, sim, aquelas antigas da infância de minha mãe, como a que minha mãe me deu. Já te mostrei, não mostrei? – ele assentiu – Pois bem, ela teria que ter uma dessas bonecas, que não fazem nada, apenas enfeitam e trazem alegria.
-Ela terá – ele riu – E o garoto?
-Fácil! Um carrinho de bombeiros! – ele sorriu e começou a me girar no ar.
Quando ele parou de girar, me pegou no colo e disse:
-Para onde, mademoiselle? – eu ia dizer: aller à la bicyclette! Mas ele não entenderia, ou entenderia? ‘Vamos à bicicleta’ não é uma frase difícil. Mas não disse pelo fato que pensei em outra coisa.
-Mercado!
-Eu pensei que você diria: aller à la bicyclette! – Eu disse, não é uma frase difícil!
-Ia, mas quero passar no mercado, são apenas 150 passos daqui! – ele me olhou curioso e eu suspirei fortemente – Sim, eu contei!
-Posso saber o que a fez contar os passos da praia até o mercado?
-Não, eu quero ir ao mercado comprar chocolate – eu disse e ele começou a andar.
-Sendo assim, vamos ao mercado! – Sorri para ele e depositei um beijo estalado em seu rosto.



-! – Gritei da cozinha, ouvi murmurar: ‘A patroa está chamando’. Imaginei mostrando o dedo do meio para ele e sorri satisfeita.
- idiota – disse, e eu sorri.
-Não deve xingá-lo dessa forma, mas se ele me chamar de novo de patroa, eu vou começar a mandar nele, como nunca mandei em ninguém.
-Ei, calma, sua TPM está forte dessa vez, hein! Se acalme e respire fundo, você só conseguiu parar de chorar agora.
Respirei fundo e o olhei, este me analisava. Não tinha como não fazer meu próximo ato, era quase automático. Levei minhas mãos até as bochechas dele e apertei.
-Seu lindo! – ele riu e massageou as bochechas quando tirei as mãos.
-O que a senhora está fazendo? –ele disse colocando o dedo na travessa. Usei meu melhor olhar de assassina, e ele tirou rapidamente, o colocando na boca – Limão!
-Jura? – fui sarcástica e ele bateu em minha cabeça – ! JE VAIS VOUS TUER! Repeti mais uma vez, dessa vez para ele entender. ‘EU VOU MATAR VOCÊ!’. Foi aí que ele correu e eu apenas bati o pé. Vi parar na porta. Dei tchauzinho e ele mostrou a língua. Duas crianças. Um menino e uma menina. Quando ele deu as costas, eu disse bem alto:
-Mousse de limão! – Ouvi uma risada baixa vindo dele, e então, depois de colocar a mousse na geladeira, fui até a sala ver o trabalho dos meninos.
sorriu a me ver e começou sua frase:
-E aí, pat... – este levou um soco no estômago, e antes que você pense que foi de mim, não faria isso. Foi mesmo. Olhei assustada para os dois, mas sabia que não fez por mal, ele só queria que não sofresse as conseqüências comigo, seria pior.
Ouvi sussurrar no ouvido de : Não deixe a Francesa brava, pode acarretar a terceira guerra mundial.
Pisei com força no pé de , que me olhou automaticamente, e então avançou para dar o troco.
-NON! NON! , POR FAVOR! – Sai correndo o mais rápido que eu pude, enquanto eu ria.
Talvez pensem que eu viva em pé de guerra com os amigos de , mas é simplesmente o contrário, eles que vivem no meu pé, no sentido figurado, lógico. O único que não brinca comigo, é o . Afinal, uma vez ele tentou e me defendeu.
Por fim, ficou em minha frente e olhou para .
-Concentre-se, temos mais 30 minutos, depois vou sair com – Todos fizeram um barulho com a boca, que nem eu entendi, pareciam hienas com fome.
-Allons-y! – eu disse. Vamos!
repetira o que eu disse e eu fiz questão de jogar um caderno na cabeça dele, ele me olhou e sibilou: Vin-gan-ça! Quando todos saíram, eu já estava arrumada, coloquei uma boina, e, pelos pequenos raios de sol que via, coloquei meu Ray-ban, roupas confortáveis - como uma baby-look e uma legging -, calcei meu tênis e fiquei na porta agilizando . Nunca vi rapaz mais lerdo para se decidir com que roupa ir. Nós só íamos pescar!
Depois de dez minutos, ele desceu e eu assoviei para alegrá-lo.
-PESCA! – Ele riu e fez um mísero: ‘Uhull’, enquanto abria a porta do carro. Não demorou muito até chegar ao sítio de um amigo do pai dele. Eu tive que levantar para abrir os portões, e depois ele foi o primeiro a descer para saber se não havia bichos ali; suspirei. Quando era pequena, não tinha essas frescuras. Notei que perto do rio, havia uma árvore, e, antes que vocês batam na minha cabeça como fez, eu quis dizer que estava perto o bastante para eu encostar. Coloquei a vara na água e fiquei encostada naquela árvore, sentindo o vento em meu rosto, fechei os olhos por um momento, enquanto ouvia dedilhar uma música em seu violão.
‘O mar não estava para peixe’, mas foi a melhor coisa que eu podia ter feito naquele dia. não teve como discordar.
-Obrigado! – ele disse e eu olhei para ele através de meus óculos, ele estava da mesma forma – Mas da próxima vez, vamos ver se tem peixes.
Eu ri, e olhei de novo para frente.
-Não vamos embora ainda, não é?
-Não, só quando estiver para anoitecer – eu fiquei aliviada e voltei a ficar relaxada na árvore. Ele então deitou em meu colo, e ficou acariciando meu braço.
Sentia a cabeça dele em minha barriga, subindo e descendo repetidamente, sorri ao vê-lo fazer o mesmo para mim.
-Eu te amo tanto, garota – meu sorriso desceu um pouco, e eu quis chorar pela segunda vez no dia. Ele viu uma lágrima escorrer após esta passar de meu óculos.
-É tão ruim assim? – Eu dei uma risada fraca pelas lágrimas, que agora caíam constantemente, e, antes que ele falasse mais alguma coisa, selei seus lábios num beijo doce e lento. Eu só queria sentir o gosto de seus lábios, e, além disso senti o gosto das lágrimas. Tive que rir naquele momento, e ele me olhou confuso.
-As lágrimas – eu disse, e ele revirou os olhos, segurando em minha nuca e me puxando para beijá-lo de novo. Ficamos um bom tempo assim, apenas nos beijando, e eu não podia pedir mais. Eu já havia me livrado de minha boina e meu óculos, também, só do óculos. Acabei de imaginá-lo de boina. E agora acabo de relevar esse pensamento.
Estava jogando pedrinhas no rio, vendo-as pular, e então soltou a maior pérola do dia:
-Eu sei que toda mulher fica brava com isso, mas... – ele me olhou, e eu virei de frente para ele esperando pela bomba – Você engordou um pouquinho, né, ?
Cerrei os olhos para aquele que estava em minha frente, era quase um cervo agora e eu uma leoa sedenta. Dei as costas, magoada com o que ele disse, mas não podia negar, eu mesma notei que eu estava com uma pequena barriga. Para alguém que sempre fora chamada de Olivia palito, eu estava bem: ‘Olivia Palito com uma azeitona na barriga’. Mas nunca é agradável ouvir isso de alguém. Logo fui até o carro, e minutos depois ele veio ao meu encontro pedindo desculpas, eu as aceitei lógico, mas o que veio depois foi menos inesperado. O sangue.
Não fora muito, mas o fato de ser no meio da minha TPM, e ainda não estar preparada para algo como isso, eu fiquei mais do que constrangida, eu estava no auge da vergonha. entrou correndo e fomos até a farmácia comprar um absorvente, ele pediu para a moça me deixar usar o banheiro do lugar e lá fui eu, sem expressão alguma para o banheiro. Ao sair, fiquei em silêncio o caminho inteiro, e, ao chegar a minha casa, me tranquei no quarto. não fora embora, mas também não entrou no quarto. Ao que me parece ele estava tão perturbado quanto eu. Ouvi-o ligar para a mãe porque peguei na extensão do quarto. Ele dizia ter medo de que algo estivesse acontecendo comigo, que não era normal a forma como eu estava ultimamente, e eu tinha que concordar novamente. Quando ele disse: ‘E se ela morrer?’, foi o ápice para me fazer desligar o telefone e começar a chorar, mais uma vez. Ele ouviu, e na mesma hora desligou o telefone, segui apenas com a audição os passos dele na escada e então as batidas fracas e compungidas em minha porta.
-... – ele abriu a porta e deu de cara com uma fraca mulher na cama – Você não deve ficar assim, acontece.
-Eu vou morrer! – ele alimentou essa idéia em mim, mas não ia falar isto para ele.
-Claro que não, eu nunca deixaria! – disse e eu o abracei – Estou me sentindo uma mãe que explica pela filha de 13 anos, o porquê do sangue.
Eu dei uma risada fraca, e ele beijou minha testa.
-Eu ia ligar para sua mãe – ele disse e eu me alarmei – MAS ENTÃO, eu pensei, não é nada demais, foi um impulso do corpo dela, e não fiz isso.
-Obrigada!
-Mas está a caminho – eu suspirei, e tive que concordar.
Não demorou muito para ela chegar, ficamos apenas conversando, e tinha razão, me fez ficar bem melhor.

-Nada como chocolate pra te deixar melhor, hein, ? – Cam disse e eu assenti, parecia uma criança em frente ao fogão – O que está fazendo?
-Eu não sei ao certo, mamãe me ensinou ainda quando criança, disse que quando adolescente teve um caso com um brasileiro, e ele a pegou pelo estômago, principalmente quando fazia isso – apontei para a panela com o chocolate.
-Espero que você me pegue pelo estômago, e não que estrague o meu estômago – dei um soquinho de leve em sua barriga e ele riu – Ei!
Ele avançou para mim, com o seu olhar normal, que já era perigoso demais para mim, e então fez com quem eu fosse para trás me queimando com a panela e fazendo a mesma balançar, por pouco esta não caiu.
-Você não sabe como demorou para eu conseguir fazer direito – eu disse e ele riu.
-Eu sei, três panelas para ser exato, se errasse de novo, teria que ser na frigideira – Nesse momento apenas por brincadeira, e também para fazer medo a ele, peguei a panela e uma colher, enchi a colher do conteúdo da panela e sai correndo atrás de Cam, ele gritava: ‘OH NÃO ME MATE!’; e eu dizia: ‘Parler en français’. O que o fazia rir mais.
Quando, cansei voltei para a minha cozinha, e repousei a panela na pia.
-Sabia que não teria coragem – ainda corajoso, disse Cam. Voltei-me contra ele e comecei a dar tapas em seus braços, até cairmos no sofá, e começarmos a rir.
-Quero fazer algo louco, diferente – disse e ele me jogou seu olhar pervertido. Esperei por suas palavras.
-Na sacada? – eu neguei abertamente ele me deu um beliscão.
-EI! – Mordi o braço do rapaz, e se não fosse por eu continuar a falar, iríamos entrar numa briga de gato e rato – Você ainda tem a tinta que usou para pintar o muro de minha mãe?
Outra história da qual nunca irei esquecer. E muito menos ele.
Ouvi risadas altas vindas do rapaz embaixo de mim.
-Claro, recordação – ele disse e eu abri um sorriso enorme.
-Pois a traga para mim.
-O que está tramando, ? – ele perguntou e eu sorri.
-Uma loucura
Ele arqueou a sobrancelha e ficou a me analisar, até que disse.
-Não sem experimentar o seu manjar ali.
Feliz, fui até a panela e experimentei o chocolate, já estava bom para comer e ‘melhor que a encomenda’. Levei a panela até o sofá e duas colheres, ficamos engordando enquanto víamos TV, deixei em um daqueles canais do qual só passa coisas para comprar, esse que toda senhora que mora sozinha, ou consumistas não tiram apenas para querer comprar tudo, ver os que valem mais apena e claro se deixarem levar por aquela, Super Ultra Jubox 4500, que se você levar por pequeninas prestações de 199,90, você leva um guia Jubox, uma lixa para os pés, e o tio da sua vó.
Ficamos em silêncio, apenas comendo, até que disse:
-Vamos comprar algo daqui – eu quase engasguei, olhei para ele sem ar, pelo susto – Você queria uma loucura, você acha isso uma loucura, e eu também.
-Não, você está exagerando, tudo aí é uma fortuna – olhei para ele e o mesmo deu de ombros – Já volto!
Fui ao banheiro e, enquanto isso, ele ligava para comprar o que via na TV.
Quando voltei, ele desligava o telefone. Eu fiquei atenta e disse:
-Você não comprou nada desse canal, certo? – Ele negou e eu fiquei receosa quanto à resposta dele, mas. antes que eu falasse qualquer coisa, olhei para a panela – JÁ ACABOU?
-Ninguém mandou deixar uma coisa deliciosa como esta sozinha comigo, você sabe eu tenho o dom de devorar coisas deliciosas. Não deviam deixar essas coisas assim sozinhas por aí – disse beijando meu pescoço, o que me fazia abrir um sorriso de lado – Principalmente, turistas.
Tive que dar uma risadinha, antes e depois dele morder meu pescoço. Peguei um pouco do chocolate que estava na parede da panela e passei em seu cabelo, ele revirou os olhos.
-Minha criança – eu tive que rir mais uma vez com o comentário dele, era assim que eu me sentia ao seu lado: uma criança.
Ele se levantou e foi pegar um vinho, apoiei meu braço no encosto do sofá e o fiquei analisando, enquanto ele agora pegava duas taças.
-Crianças não bebem – eu disse para atiçá-lo a pensar numa resposta. O pior é que ele foi rápido no gatilho.
-Crianças não fazem sexo – eu bati na testa como sinal de: ‘você venceu!’. E ele sorriu novamente. Como eu amo aquele sorriso.
-Então não sou uma criança – ele teve que afirmar.
-Só em horas extras – ficamos em silêncio até ele voltar para o sofá.
-Só em horas extras – repeti e ele sorriu de lado, me entregando uma taça de vinho.
Brindamos apenas para brincar, só não terminamos rápido, porque ele sabe que eu AMO degustar os vinhos franceses, que só perdem para os italianos, em minha opinião.
Bem depois de chocolate, e vinho. disse que só faltaria a pimenta, coisa que não precisamos, para seguir para o próximo passo. O maravilhoso ato do amor. Sim, eu quis ser piegas para fazer alguém rir. Ou somente eu rir. Não tinha como não se deixar levar por aquele homem, era quase impossível.
Ele já era de fato, a minha droga. E eu já estava totalmente, viciada.
Acordei antes dele, puxei a minha calcinha e a vesti, coloquei a blusa de , e fui para a cozinha tomar um café. Então notei ao lado do sofá a lata de tinta e o pincel; ele tinha acordado mais cedo. Suspirei e murmurei para mim mesma: Quel genre de monde serait-il sans toi? Que tipo de mundo seria sem ele? Acho que nenhum; tenho certeza que nenhum, principalmente para mim.
Fui até a lavanderia e peguei a pequena escada, quando voltei a coloquei de frente para a parede e fiz o que nunca imaginaria fazer, tirei o quadro que eu tanto amava, que eu ganhara de meu último namorado. Quando eu o tirei, acabei caindo da escada, e isso fez com que acordasse.
-, o que você está fazendo? – eu olhei com cara de sapeca e mostrei o quadro.
– Tem certeza? – eu afirmei – Porque para mim é um alívio, mas eu respeito sua decisão.
Antes que ele falasse mais alguma coisa, fui até a janela, olhei que ninguém estava passando, e simplesmente o joguei. riu e foi até a janela, ouvimos o estrondo nada bonito do quadro.
-Isso era o que você planejava?
-Falta uma coisa, sente-se – seguiu minha ordem e se sentou, o sofá ficava de frente para o quadro, que ficava acima da TV, troquei a TV de lugar para fazer o que eu desejava no momento. Peguei a tinta azul, abri o galão e enfiei o pincel com o maior prazer, e então o coloquei na parede, escrevendo cuidadosamente; murmurava algo que eu nunca entendia, e também eu não sabia quando ele estava olhando para a parede e quando estava olhando para a minha bunda. Uma hora a balancei de brincadeira e ele riu, batendo palmas. Quando eu finalmente terminei, fingiu estar emocionado e me puxou de costas para ele.
-Nunca fizeram algo assim para mim – ele disse e eu sujei seu nariz de tinta.
-Porque nunca conseguiram fazer hora extra para você – ele segurou nas laterais de meu rosto e me beijou. Continuamos as carícias e o resto ali mesmo, no sofá, enquanto atrás de nós ainda escorria o que eu havia escrito: & Forever.



Passara-se um mês desde o incidente do sangue. Agora estava eu, e graças a Deus, , junto com os meninos em um restaurante, meninos são: e . estava conversando com uma fã, e fora ao banheiro. virou para mim e sorriu.
-Você está mais fofinha, hein, ? – Você também não.
- me disse a mesma cois...
-Quantos meses? – ela foi direta ao assunto e o suco que eu tomava lentamente voltou para, felizmente, o copo.
-Como assim? – disse ainda em choque, e repetia essa frase em mente: COMO ASSIM? COMO ASSIM?
-Ora, , não tente esconder, não tente fazer como Christina Aguilera, assuma – ASSUMIR O QUÊ? Eu estava cada vez mais em choque, minha cara devia estar parecendo um daqueles desenhos tortos. E então pelo nervosismo desembestei a falar:
-Je ne peux pas être enceinte, vous êtes tout à fait tort, vous avez menti à moi, vous souhaite m'effraie. Eh bien, Félicitations, . Vous pouvez me faire peur, mais je ne peux être enceinte** – me abanou com uma revista que ela comprou antes de chegar no restaurante.
-Calma – ela riu – Pelo menos é o que parece, você é muito magra para estar assim.
Nisso eu tinha que concordar.
-Mas eu menstruei mês passado – eu disse, eu não estava delirando.
-Pode não ser uma menstruação, temos que ir ao médico...
-Não temos não!
-...
-Eu odeio médicos, que fique bem claro! Se Deus me protegeu até agora, então ele protegerá por mais quantos meses for esse bebê.
-Não seja boba – nessa hora eu ameacei fugir, mas ela leu meus pensamentos – Se você se levantar, eu faço um escândalo.
-Você é tímida, , você não tem coragem.
-Experimente – Nunca vi tão decidida, até arquear a sobrancelha, ela arqueou.
-Nunca – juro por Deus, morri de medo daquela mulher naquele momento.
Fiquei quieta. Esta então foi até me observando a todo instante e o avisou de que eu não estava bem. Quase gritei “estou totalmente bem”, mas eu não conhecia aquela nova , e nem queria.
Quando estávamos a sair, contou a que eu não estava bem, e não há pessoa no mundo que o faça mudar de idéia. Ele é tão teimoso que faria Barack Obama dizer: No, we can’t. Logo e foram junto também.
Passamos primeiro em casa, ela não falou para os garotos sobre sua suposição e eu só tinha a agradecer, o que eu menos queria naquele momento era em pânico, ou maravilhado, com algo que não tínhamos certeza.
Automaticamente pousei minhas mãos em minha barriga, e talvez por eu começar a estar louca, ou pela lavagem cerebral de , era como se eu sentisse um fiozinho de vida em minha barriga, sorri sozinha, e notou.
-, você é louca, sorri quando está mal – disse preocupado comigo, e eu virei para acariciar seu rosto – Se eu soubesse outra língua, reclamaria como você.
Não tinha como não rir agora, e então disse que prometeria a ele que ensinaria algo bem básico, como Joey que diz: Va fa Napoli!
-O que viemos fazer aqui? – disse quando entramos em casa, eu dei de ombros, pois a idéia foi de , e então ela me olhou para ajudá-la. Ela não tinha nenhum motivo para estar lá, deve ter sido a primeira coisa que passou em sua mente quando foi falar com . Mas Deus nos ama, e me deu uma luz, ou uma emergência.
-Preciso ir ao banheiro! – ainda estava confuso, afinal eu podia ir ao hospital, e então dei uma segunda desculpa que poderia ser mais provável – Quero uma roupa mais confortável.
Isso ele conhecia bem em mim, amo mudar de roupa várias vezes em um dia, para várias coisas diferentes. Uma mania da qual nem ele nem gostam. . Suspirei. Antes que eu entrasse em uma nostalgia constante, fui correndo para o banheiro.
-Por favor, se você existir aí dentro, não brinque com a minha bexiga, tá? – eu disse enquanto, trocava de roupa – Maman quer que vocês sejam bem quietinhos, um amor, como minha maman disse que eu era.
Suspirei mais uma vez, era impossível estar grávida e não pensar nos planos de . Um menino e uma menina. Pois agora, tudo que nós tínhamos de ligação estava, lentamente, sumindo. Por que eu quis? Sim, porque eu quis.
Já que era para eu ter aquele ser vivo que estava em mim, se é que ele existia, eu precisava do amuleto de minha mãe. Subi em cima da cama, e abri a porta do guarda roupa, depois fui pra caixa de sapato. Ao pegá-la, cambaleei um pouco para o lado. Aí você pensa: ela quer cair dali. E eu penso: Não. E não caí!
Desci da cama e coloquei o amuleto. Quando estava a descer a primeira escada - aquela casa não poupa andares - foi que eu caí. O pavor percorreu meus olhos e permaneceu ali; enquanto a única coisa que saiu de minha boca foi um grito, eu queria gritar por , mas não consegui, não da primeira vez.
-! – ele já estava a meio caminho, quando pedi socorro.
Ele olhou a poça de sangue ao meu lado, e eu disse: Ambulância! Ele não pensou duas vezes e ficou repetindo para ligar para a maldita ambulância.
Eles corriam para lá e para cá, pedi para não me mover, e ele não fez esse ato. Eu não parava de olhar para minha barriga, era quase um aviso de que sim, eu estava grávida, e de que eu não sentia mais aquele fio, antes mesmo de chegar ao hospital eu já sabia: ele não estava mais vivo.


Ao acordar, mais uma vez, vi fazendo o almoço. O abracei por trás sentindo seu peitoral nu, contra o meu corpo.
-Cheiro bom, o que é? – ele sorriu e me deu um pouco para experimentar – Macarrão!
-Mas, falta um detalhe – eu o olhei e ele sorriu – O molho!
-Eu não tenho tomates, não é? – ele assenti e eu sorri – Vou buscar!
-O mais rápido possível? – ele perguntou para mim quando eu estava a me trocar – Claro que não, qual é a roupa dessa vez? Para buscar tomates, melhor algo vermelho, certo, ?
-Va te faire foutre! – ele riu, conhecia bem essa frase, a ouvira sair várias vezes da boca de minha mãe. Filho da... Minha mãe era, e ainda é, muito “bocuda”.
-! – ele me repreendeu e, quando eu passei ao lado dele, mostrei o dedo do meio – Tudo bem, que eu fico te incomodando pelo fato de mudar muitas vezes de roupa, mas não é necessário ir pelo lado da rebeldia e ir de sutiã, certo?
Mostrei a língua para ele.
-Onde está minha blusa coral? – ele deu de ombros, e então se lembrou.
-Semana passada você foi atacada por um bichinho, um mosquito, então você a tirou do corpo rapidamente, o que me poupou uns 40% de trabalho, e a jogou em cima do guarda-roupa.
Ele tinha uma memória excelente, fui correndo para o quarto, peguei o banquinho ao meu lado e subi, mas então mudei de idéia e gritei: !
-Você até que demorou, sabia? – disse ele, e eu ri – Sabia que não mexeria ai em cima, vamos, desça para eu subir.
Fizemos a troca de lugar e em instantes a blusa estava em meus braços, assim como a poeira, e eu comecei a tossir.
-Há quanto tempo isso aconteceu? – O mandei fingir que eu não tinha perguntado – Quando eu voltar, vou fazer uma faxina aqui – ele concordou severamente comigo - vou com a blusa branca mesmo.
Ao vesti-la, saí de casa e peguei minha bicicleta. Eu sempre fui muito mais a minha bicicleta do que o meu C-Crosser. Andando calmamente pelas ruas tranqüilas da onde eu moro - Cannes não é tranqüila, mas onde eu moro, é-, cheguei rapidamente na quitanda mais próxima e peguei os tomates, subi de novo em minha bicicleta com um pouco de peso na cestinha que eu tive que colocar na minha bicicleta. O vento estava tão gostoso, era como se eu amasse a vida de novo, não que eu não a tenha amado, mas me fez a ver de outras formas, de formas belas. Cumprimentei pessoas que eu conhecia, olhei uma menina brincar com um menino, deviam ser irmãos pelo olhar preocupado da mãe dos dois, ou talvez madrasta, eu vi um cachorro que sempre ronda aquela parte porque dona Justine sempre o alimenta. Dei a volta na pracinha, e sem querer fui parada por uma senhora que me perguntava em inglês como chegar a um restaurante, logo o que eu amava de paixão; expliquei com carinho o melhor caminho para se fazer, e, sem tumulto, ela me agradeceu, e eu acenei para mais uma pessoa.
Olhei para o relógio em meu pulso. Fui mais rápida do que pensara, então senti meu celular tremer em meu bolso. Pensei em parar para ver quem era, mas a sensação de tranqüilidade estava muito boa para ser quebrada por alguém; se fosse , este me veria em questão de minutos, afinal faltava pouco para eu chegar.
Ao entrar na viela que fica perto de minha casa, soltei os braços, para sentir, com mais detalhes e com mais amor, aquele vento que podia me dizer muitas coisas.
Eu vi a luz, mas não ouvi a buzina, eu senti o impacto do carro, mas não do chão. E eu vi, com muita clareza, os tomates voando.



Ao chegar à ambulância, o mais desesperado ali, com exceção de mim, era : o pobre coitado não estava entendo nada, mas aquilo estava me estressando. Pedi para dar um tapa em seu rosto, e ele deu uma melhorada.
Quando entrei na ambulância, fez menção de entrar, mas só pelo meu olhar, sabia, eu a queria ali.
Não que eu não quisesse ali, mas imagine, como seria estressante duas pessoas em pânico uma ao lado da outra. Pelo menos escondia o pavor de algo que ela já tinha em mente.
Eu estava na cama do hospital, esperando que o doutor me falasse o que eu já sabia, estava de um lado, do outro, e mesmo assim eu sentia falta de uma pessoa ali. De alguém que, a todo custo, quero esquecer de vez.
murmurava para eu ficar calma, mas eu tinha total certeza que ele dizia aquilo para ele mesmo, e, como se tivesse lido meus pensamentos, riu.
Quando o médico entrou de volta em meu quarto, ele pediu para ficar a sós comigo, e eu assenti. Queria mesmo ter um momento, digamos, ‘sozinha’, sem meus amigos para me abraçarem e fazerem eu me sentir um pouco pior. saiu com dificuldade, não me queria deixar sozinha, e sussurrou para eu a chamar se eu precisasse.
Quando esta fechou a porta, o médico puxou a cadeira até o lado de minha cama e me olhou com compaixão.
-A senhora...
-Senhorita – ele me olhou com um pouco de ironia, claro, mais uma mãe solteira.
-A senhorita sabe que está grávida, certo? – eu assenti, pois agora eu sabia – Bom, sei como é para uma mulher quando se tem o primeiro vislumbre de que é mãe, e a primeira sensação é o amor e afeto que se cria, pelo ser que está vivendo dentro de si – confirmei com a cabeça, notando que foi o que eu senti quando ‘acendeu a luz para mim’, e também agora eu senti lágrimas se formarem em meus olhos, a notícia que eu já sabia era pior ao ser ouvida, eu não a queria ouvir. Como se fosse possível, conseguia ver o que eu poderia ter feito quando essa criança nascesse e eu pudesse brincar, alimentar, cuidar e principalmente amá-la como a amo neste momento, a ver crescer ao lado de quem quer que fosse, mas o mais nítido de meu pequeno ‘filme’ era eu e a pequena criança – Você já foi a algum ginecologista desde que descobriu sua gravidez? – eu neguei, e ele ficou mais apreensivo – Então a mim cabe as três notícias – eu o olhei assustada, pensando cada vez mais no pior – A primeira notícia é que a senhora está grávida de três meses – ‘Não use o presente’ era o que eu queria dizer a ele, eu não estava mais grávida – A segunda notícia... – Eu não deixei o senhor a minha frente terminar, pois comecei a chorar, ele pousou sua mão em meu ombro e então continuou – você perdeu o seu bebê -comecei a chorar mais e o médico continuou com a mão, paralisada, em meu ombro – E por fim, o outro está com as melhores condições possíveis, não parece ter sofrido nada, pelo menos nos exames, não consta nenhuma alteração ou algo que o prejudicará no seu crescimento, bebê de sorte.
Posso dizer com todas as letras que eu paralisei ao ouvir isso? Sim, eu PARALISEI.
Primeiro eu paralisei, porque não era apenas um, e sim, DOIS! O médico me analisava, devia ter notado que eu não sabia sobre os gêmeos, ou que eu estava tão feliz que não conseguia fazer nenhuma ação, ouvi o fim de uma frase dele: chamar seu namorado. Eu neguei abertamente, e ele ficou confuso. Sussurrei, pois era o máximo que eu conseguiria fazer, e felizmente ouviu: ‘Quero ficar um pouco a sós’. Ele assentiu e saiu do quarto. Abracei a minha barriga como se já o segurasse em meus braços, e comecei a cantarolar, mesmo sabendo que ainda era impossível ele ou ela ouvir, afinal eram poucos meses de gravidez.
E foi aí, criançada, que eu paralisei de novo. Por quê? Porque eu fiz as contas.


Não sei ao certo quando isto começou, mas sei que, depois dos tomates, o que tomava minha visão era absolutamente nada. Até que mesmo não querendo, fechei os olhos.
Sabe aquele famoso ditado - não ditado, está mais para um clichê - de que quando você morre um filme passa em sua mente? Pois bem, estava pensando com os meus botões e então uma lembrança surgiu em minha mente:
Verão do ano passado, minha mãe sempre reclamava: Isto não é verão, é um milagre de raios para franceses. Eu sempre suspirava com isso, afinal, minha mãe conheceu outros lugares, ela conheceu o calor, e eu não. Aumentei o volume da TV para ouvir o noticiário, e, quando ia mudando o canal, ela deu um tapa com a concha de plástico em minha mão, me fazendo segurar um palavrão. Eu sabia que se soltasse seria pior.
-Deixe ai, não sabe que é bom ouvir notícias? Daqui a pouco irá trabalhar, , noticiários podem mudar sua vida – dei de ombros e agradeci mentalmente por ela não ter visto.
Estavam falando de governo, dei um beijo estalado no rosto de minha mãe e murmurei que ia sair. Fui andando rapidamente até a porta antes que ela digerisse a idéia e me fizesse voltar.
Olhei para o meu carro e para o céu. Sol contra comodidade, uma dúvida cruel para alguém tão preguiçosa como eu, mas também tão mãe natureza. Decidi pelo Sol, hoje ele ganharia a batalha - a qual nunca mais perderia, pelo menos enquanto eu estivesse na França. Peguei minha bicicleta, esquecida atrás de mil coisas, passei um pano rápido em todo seu comprimento e montei na mesma. Ainda bem que nunca esquecemos como se anda de bicicleta, porque se o fizéssemos eu, , estaria totalmente ferrada.
Dei “oi” para minha tia/vizinha, e, antes que ela dissesse contra os ventos, como se não quisesse nada ao dizer isso, mas querendo, passei rápido. Ela sempre soltava para mim indiretamente: Il est temps d'obtenir un fiancé. Eu não queria um noivo, e nem quero ainda me acho muito nova para isso. Dei as costas para aquela senhora, preocupada com a vida dos outros, e então vi o mar. Sorri para ele como se também desse bom dia, e ele se mexeu como se resmungasse: só se for para você. Sorri com meu pensamento e continuei minha ‘bicicletada’.
Passei em frente uma loja que vendia peças de madeira feitas na hora. Meu pai sempre quis um baú feito só para ele, estava na hora de eu o retribuir com um presente. Desci da bicicleta e a encostei à parede, fui até o rapaz do balcão e detalhei animadamente como eu queria aquele baú. Ele sorriu e disse que ficaria pronto no final do dia. Eficientes, não?
Assenti, e os desejei boa sorte, afinal, iam precisar. Voltei a andar em minha bicicleta, fui à feira que tem perto de minha rua, uma espécie de bazar onde sempre têm turistas, coloquei minha bicicleta nos fundos do meu restaurante preferido para não me atrapalhar e nem atrapalhar ninguém na feira. Como sempre os donos do restaurante foram uns amores comigo, deixaram sem pestanejar que minha bicicleta ficasse lá.
Eu estava feliz apesar de tudo, e a feirinha estava me deixando animada.Talvez eu comprasse algo para maman, talvez. Me encantei com um anjinho feito de um material desconhecido para mim, estava tão bonito que era quase real. Custei a notar que não era um ser humano, e a coitada da mulher que o fez ficou morrendo de medo de mim. Cheguei mais perto para analisar a perfeição do anjo, e então ouvi a mulher dizer:
-Não está à venda – eu quase voei pra cima dela, mas respirei fundo e voltei a uma posição ereta.
-Então, por que está aberta ao público? – retruquei e a senhora se encostou mais na cadeira, como se dissesse: gosto de ver os trouxas virem até aqui e verem que sou melhor que eles.
-Já compraram – arqueei a sobrancelh. Que audácia! No máximo sua prima de terceiro grau passou por aqui, e, como seu pai deve estar devendo algo para o pai de sua prima, ela disse que o guardaria para ela.
- Faites ce que vous voulez avec votre ange parfait*** – disse baixinho, mas a senhora escutou, só que, quando ela ia retrucar, ouvimos uma briga, uma gritaria de garotas, e ele.
Ele era a causa da briga entre um pai e seu segurança, da gritaria e do meu impasse, se a mulher falou algo para mim, eu devo ter ignorado. Meu corpo se impulsionou para frente, pela curiosidade de tal ser humano que me despertara tanta atração.
Ele notou, sei que notou. E sorriu.
Eu não notei, pois estava no chão.
Ele saiu da multidão para me ajudar.
Eu continuei no chão.
E a garota que me empurrou para chegar mais perto dele, queria agora, estar em meu lugar.
-Acho que os franceses não tratam muito bem alguém, quando se tem um objetivo – meus olhos estavam queimando, pois eu amo o meu país, sou uma patriota como ninguém.
- Ne dis pas ça de nouveau* – ele ficou, digamos desconcertado, me deu a mão, mas eu bati nesta, e os seguranças ficaram alarmados comigo. - Excusez-moi – ele disse e eu o olhei, repugnada.
-Não se esforce em dizer uma língua que nem gosta – ele ficou meio espantado com toda a minha recepção, não é a toa, afinal ele é famoso.
-Quer que façamos algo, senhor? – o rapaz negou e me pegou pelo braço, eu o xingava em francês, em russo, e se minha mãe tivesse paciência comigo, eu o xingaria em português, também.
-Obrigado – ele disse, e eu não entendi.
-Pelo quê? – ele me olhou e apontou para a multidão da feira, as garotas vindo, e me puxou para um beco.
-Por me livrar daquela multidão, não agüentava mais, sei que meu trabalho faz com que seja assim, talvez dentro dessa lata de lixo ao nosso lado exista um paparazzi, mas pelo menos não ouço as gritarias, elas me estressam a noite sabia, juro que ainda as escuto quando vou dormir – fiquei espantada e então notei.
-Você é ? – ele afirmou com medo que eu começasse a gritar, e eu comecei a rir – Você não é como na TV.
-E isso é mal? Afinal, você não tem cara de ser francesa, daria como uma bela turista – mostrei-lhe o dedo do meio.
-Não é mal, você só é mais sensível – ele entortou a cara – NÃO! O que quero dizer é que, toda aquela agressividade passada, some. Eu vejo outro lado seu, talvez seja o verdadeiro.
Ele afirmou passando a mão em seus cabelos.
-A primeira... – ele disse, mas não terminou a frase, e eu então o fiz:
-E a última – ele mostrou a língua, e eu dei de ombros.
-Como se chama, revoltadinha? – bufei e disse contra a minha vontade:
-.
-Então, , amanhã às duas, antes de eu ir embora, tudo bem? –eu o olhei confusa – Estou te chamando para um almoço.
-Ah! Não! Para que você almoçaria num lugar onde as pessoas matam para conseguirem o que querem? – ele fora rápido, como sempre, na resposta.
-Talvez, eu já esteja pegando esse costume de seu povo – sorri de lado, e virei de costas para ele, indo para o restaurante – E ENTÃO?
-NE PAS ÊTRE EM RETARD! – gritei e ele gritou de volta:
-NÃO CHEGARIA ATRASADO NEM QUE ME PAGASSEM – eu sorri e por mais que ele diminuíra a voz, eu ouvi ele dizer – Você me fisgou, mulher.



Terminei a história para que me olhava de lado, com medo de falar algo que me machucasse.
-Por que me contou isso? – eu dei de ombros – Você está me escondendo algo.
-Por que acha isso? – ela deu de ombros, comecei a rir.
-Então, eu serei tia? –eu afirmei com brilho em meus olhos, mas minha boca continuava mostrando que algo a me deixava infeliz.
-Só há um mero detalhe – ela ficou em silêncio para eu prosseguir. Como eu não conseguiria falar claramente, dei apenas uma indireta – Este lindo bebê tem exatamente três meses.
Ela matou a ‘charada’ rapidamente e olhou para trás.
-Ele não vai se importar – eu neguei, pois seria exatamente o contrário, ele ia se importar, ele ia ficar magoado, e pior, isso vai cortar o meu coração – mas você sabe, , meu anjo, que terá que contar, certo? – eu afirmei – Pois, ao sair daqui ele vai perguntar, e você pode até falar que não é nada do que ele está pensando, mas daqui a pouco tempo, ele vai ‘notar’ se é que você me entende – suas últimas palavras foram direcionadas com um olhar para a minha barriga.
-Eu sei... Mas eu tenho tanto medo, – ela me afagou, e eu dei um sorriso torto.
-Tem mais algum segredo que eu precise saber agora? –ela disse me fazendo engolir seco. Um? Quer dizer, teriam vários.
-Eu te contarei, os necessários – ela me fitou e suspirou como se dissesse: Você está fazendo o errado, eu assenti.
-Bom, vou sair para que possa entrar, tudo bem? – eu assenti, era a hora e eu não podia mais fugir, senti que ia chorar, tentei segurar, eu ia ser forte, por nós dois. Acariciei automaticamente minha barriga.
Ouvi a porta fechar depois de sair. Alguns murmúrios do lado de fora antes de entrar depois de dar uma olhada pela janela da porta para ver minha expressão.
-Como está, meu pequeno anjo? – engoli seco, droga de , por que ele tinha que ser tão... Perfeito?
-Acho que não sou mais tão pequena – dei uma risada fraca e analisei o rosto do rapaz a minha frente, aprecia estar calmo, eu deveria aproveitar o momento – Você está pronto para ouvir?
Ele apenas assentiu, como se fosse para eu prosseguir, eu suspirei calmamente, dando tempo para meus pensamentos se alinharem, e eu não parecer tão insegura com o que eu ia dizer. E isso foi o mais difícil de fazer.
Comecei com o fato de não saber que o doutor disse que eu estava grávida, e depois eu disse que eu não tinha nenhuma idéia disso, até que me abriu os olhos. Ele estava sem expressão alguma, se fechando para eu não descobrir o que se passava em sua mente, e aquilo me deixava muito preocupada, mas tive que prosseguir. Contei que agora eu tinha apenas uma criança dentro de mim, que eu havia perdido a outra nesse fatídico dia de hoje; afagou meu cabelo, em sinal de que sentia muito. Senti meus olhos encherem-se de lágrimas, respirei fundo e continuei a falar tentando o máximo para não deixar minha voz falhar. Contei que quando o médico me disse de quantos meses eu estava, que sem sombra de dúvidas não tinha como ser dele, já que eu o conhecia há dois meses e meio, e que nesse meio tempo, só tinha dois meses que eu estava com ele. E então veio a pergunta que eu não queria:
-É dele? – eu assenti e senti nojo de mim mesma.
-Eu não queria, , eu não queria nenhum ligação com aquele ser – grunhi – Mas eu não tenho a coragem necessária de tirá-lo, como eu não teria se o outro também estivesse sobrevivido, eu não fiz de propósito, pois eu não sabia de nada, se eu soubesse eu não estaria com você, eu não quero esse fardo para você, e eu acho melhor a gente terminar.
Ele continuou sério.
-Terminar? – eu assenti.
-Claro, não quero esse fardo para você, sabe o quanto eu ficarei gorda e chata? terá motivos para me chamar de patroa, e você, que nem chegou aos trinta, já vai ter esse trabalho, você está no seu auge agora , o seu trabalho, suas turnês, eu só seria um fardo...
-Cala boca – fiquei assustada com as palavras ásperas dele – Você acha que eu a largaria por isso? NUNCA! Eu te amo, e vou com você nessa até o fim!
Assenti sem ter o que falar, ele beijou minha testa e então acariciou minha barriga.
-E então teremos uma menina ou um menino? – dei um tapa em seu braço.
-Ainda não dá para saber – ele sorriu, e então assentiu.
Fechei os olhos por alguns segundos.
- Até quando você vai ficar aqui? - ele indagou. Suspirei, de forma lenta e cansada, respondendo em seguida:
- Só até amanhã. O médico disse que eu preciso ficar em observação. - murmurou um "ok" e novamente pressionou seus lábios contra minha testa, deixando que eu adormecesse.


Sentia que o chão não estava mais contra as costas, sentia pontas redondas sobre elas, e o vento passando pelo meu rosto, mas eu só sentia.
Aproveitando, o meu tempo de flashbacks, decidi lembrar-me de mais uma coisa...
Minha mãe estava ficando nervosa, afinal era um famoso. Minha tia, aquela do noivo, estava murmurando interjeições de felicidade, conforme ia para lá e para cá; meu pai era o único que estava comigo, sentado no sofá, ME acalmando. A campainha tocou, o que fez minha mãe soltar um grito, rezei mil vezes para que ele não tivesse escutado. Minha tia saiu pela porta dos fundos, e eu sabia que ela ficaria na janela. Quando meu pai se levantou para atender, eu me senti vazia, e o pânico tomou conta de mim. Eu nunca fora assim, nunca mesmo, já estávamos a um bom tempo juntos, isto é, conversando por telefone, em suas viagens de trabalho, mas só assim. Minha mãe descobriu semana passada quando eu estava entretida, na sala conversando ao telefone com ele, e ela jogou um prato na parede. Eu ainda não sei qual é a da minha mãe.
-Bonsoir! – meu pai repetiu a palavra e deu a mão para , ao entrar ele procurou com seu olhar, a mim. Ao me achar sorriu; a não ser eu, todos achariam que era um sorriso pervertido, quem mandava sorrir dessa forma.
- dans ma maison, je ne peux pas croire – minha mãe o abraçou, ele me olhou, e eu peguei o indicador e fiz círculos imaginários com o mesmo, dando a entender que ela era louca, ele riu.
Isso fez com que minha mãe notasse que era para ela.
Antes que alguém matasse o meu menino, intervi, indo abraçá-lo. Jantamos, calmamente, minha mãe com seu olhar apaixonado, e meu pai em seu silêncio matador, nunca se sabe o que passa pela mente dele.
Quando terminamos de comer, um olhou para a cara do outro, e ninguém saiu da mesa, afinal, eu e maman, sabíamos, meu pai ia fazer uma pergunta, e ela então saiu:
-Quais são as suas intenções com mon bébé? – sorriu e entrelaçou seus dedos com os meus.
-Bom, o senhor e a senhora sabem que, eu não posso ficar muito tempo na França, o meu maior prazo será nas minhas férias, mas quando estas acabarem não quero estar nesta situação com , então eu pensei em tanto ela como os senhores se mudarem para os Estados Unidos – minha mãe engasgou, com a própria saliva, e meu pai continuou com a sua expressão sólida.
Minha mãe se levantou e murmurou: ‘Sortez de ma maison!’ Fiquei pasma com a audácia de maman em expulsá-lo.

se levantou confuso, murmurei para ele: ‘Eles são mais patriotas que eu!’, assentiu, mas antes de sair disse:
- Não vou desistir de levar sua filha, ela já pertence a mim, como eu a ela – sorri ao ouvir as palavras do rapaz, e minha mãe queria avançar para ele.
fez questão de sorrir, e me beijar na frente de meus pais, claro que eu ia apanhar, era quase impossível não acontecer, mas já que ia acontecer de qualquer forma, me deixei levar. De longe apenas ouvia os gritos de minha mãe o xingando: Fils de pute, bâtard, connard...
Ele me soltou, se despediu e saiu pela porta, nesse momento o chingamento, e a ‘surra’ que levei não me tiravam dos devaneios que passavam pela minha cabeça, eu amava sim meus pais, mas eu o amava a ponto de aceitar sua proposta.



Não sei quantas vezes, mas digo que foram bastantes as vezes que me acordou para saber se estava tudo bem, se eu precisava de algo, e acho que pra saber se eu estava viva também. Às vezes era tão bobinho. Ele não saiu do hospital, pelo que me disse, ficou ali o tempo todo e dormiu naquela cadeira desconfortável; mas não posso dizer que a minha noite fora boa também, não consegui dormir direito, tentava colocar meus pensamentos em ordem, e tudo o que eu tinha passado, tão rapidamente, em poucos meses. Não acho que teria mudado algo, tenho medo do que teria perdido, do que teria encontrado, e toda aquela coisa de futuro, que ninguém sabe o que acontecerá; se bem que... Às vezes eu queria saber.
Quando vi os raios de sol entrando pela janela, eu então acordei, dessa vez, completamente sozinha. tinha saído, suspirei, era a primeira vez que estar sozinha me deixava em pânico, ou talvez a segunda. O pânico me deixava incoerente, e talvez se eu não soubesse, não tivesse certeza de que esta criança é filha dele, eu estaria tranqüila; ou pelo menos, segura.
Quando voltou, me deu um bom dia alegre vindo à pousar seus lábios em minha testa, sorri para ele e murmurei um bom dia fraco, ele fez uma careta e então começou a conversar com a minha barriga. Segundo ele, a criança seria esperta o bastante para escutá-lo, revirei os olhos ao ouvir isso, mas o deixei se divertir.
-, temos um problema... – eu o olhei, fiquei aflita, estava cansada de problemas – Minha turnê.
-Mon Dieu, sua turnê! – exclamei rapidamente – Bem, pode ficar comigo, não há problemas, até porque ela seria melhor nessa área, por ser mulher, sabe? Ele continuou com a expressão de antes, e passou pela minha cabeça o fato de tê-lo magoado, mas eu estava enganada.
-Ela vai também – uma pontada no coração – Lembra? Você também ia, todos íamos, mas agora, não vou te fazer ir pra lá e pra cá comigo, o estresse, a pressão, nem todos ficam muito alegres nessa época, eu então...
Não conseguia imaginá-lo nervoso.
-Não que eu saia gritando por aí – eu o analisei. Pois, é o que ele mais faz. – Você entendeu, mas sim porque até a gente estar seguro em cima do palco, com tudo dando perfeitamente bem, o estresse é algo notável.
Eu assenti, ainda tentando juntas as peças e ver como eu ficaria um mês ou mais, sem aquele rapaz ao meu lado, sem a minha única amiga. Ele já tinha pensado nisso...
-Liguei para sua mãe, ela aceitou – bem, eu queria gritar, eu queria matá-lo, ou pelo menos me lembrar de algo que maman ensinou. Uma palavra bem feia, mas o que eu fiz foi bem diferente.
-Tudo bem, maman me ajudará – sorri, e acariciei a lateral de seu rosto.
Um pouco mais tarde, depois de mil e uma conversas sobre nomes de bebês, sobre coisas essenciais para bebês, sobre a turnê dele e o tempo que demoraria (agradeci por ser uma turnê pequena, apenas pela Inglaterra), o doutor passou pelo meu quarto dizendo que eu poderia ir embora, que eu já havia recebido alta. Agradeci, e fui ao banheiro me trocar, isso me deu um pouco de tempo. Olhei-me nua, no espelho. Qualquer um que me visse, pela primeira vez, não diria que eu estava grávida de três meses.
Terminei de me trocar, já me esperava na porta. Saímos aliviados. Não gosto de hospital, e ele não gostava da situação, acho que ele sonharia com a minha imagem naquela escada por um bom tempo.

Passara-se um mês, e estava comigo. Não, ele não fugiu da turnê; ficara doente, e então adiaram para esse mês.
aproveitou para me mimar e fazer todos meus desejos. Não que eu tivesse muitos, e a grande parte era apenas coisas básicas, tirando abobrinha com chocolate derretido (nem me recordo se era bom ou não). Tirando quando saía com os garotos, contra sua vontade na maioria das vezes, e quando vinha passar o dia comigo, todo o resto do tempo era apenas eu e ele. Eu não reclamava, estava adorando aqueles dias, sinto que quando meu bebê nascer, perderei essa regalia; o que é uma pena.
Neste momento estávamos jogando videogame, futebol, e para minha felicidade ele perdia. Dizia , que eu estava ganhando porque ele estava deixando, mas, que eu me lembre (e minha memória não é algo que falhe), ele já perdeu bem feio para mim.
-GOOOL! – Foi o que eu gritei para ele, fazendo-o me mostrar a língua. Mordi a mesma e ele reclamou – Você é péssimo!
-Já disse, você está grávida estou fazendo um favor pra você sendo bonzinho no jogo, senão você estaria perdendo de lavada – dei uma gargalhada e fiz joinha pro mesmo. Ele ia avançar pra mim, mas eu apontei para a barriga, e ele murmurou.
-Se pode fazer sexo com uma mulher grávida, por que eu não posso te atacar? – pendi a cabeça um pouco para o lado, como sinal de concordância, mas então prossegui:
-Questões de segurança – ele apenas assentiu e voltou a jogar.
Quando estávamos para acabar nossa terceira partida, soltou mais uma pérola da vida dele:
-Tirando agora, que você está grávida dele, você já pensou nele outra vez? Quero dizer, isso é óbvio, mas eu pergunto de forma amorosa, como uma ligação. Você ainda sente uma ligação, algo que a faça pensar automaticamente nele?
Eu fiquei pálida, eu disse que não para ele, mas minha palidez não sumiu, e, pela primeira vez, afinal nunca pensei que agradeceria a isso, corri para o banheiro para vomitar.
Apoiei-me a pia, e me analisei, eu estava feliz, mas antes tinha uma película falsa de sentimento, e a retirou com a força que se retira um band-aid.
E eu lembrei automaticamente, de uma coisa, eu já havia me lembrado dele, muitas vezes, em momentos não tão propícios para se lembrar, me fazendo agradecer por não ter ouvido. Era uma droga na minha vida, uma droga que eu odiava ter experimentado. Eu seria mais feliz se não o tivesse conhecido, se não tivesse tido o sentimento forte que se vem com a mesma rapidez que se vai. Involuntariamente, soquei o vidro.


Como última a coisa a se lembrar, imaginei algo como gênio, apenas três desejos, apenas três lembranças, decidi me lembrar de e a tinta:
Meu pai estava diferente, não era mais aquele que estava ao meu lado quando minha mãe não estava. Ele estava distante e voltou a ser o monstro que era no começo do casamento de meus pais, voltara a fumar, a trair, a beber, e a tratar maman como se fosse um lixo. Minha mãe nunca fora forte o bastante para isso, então eu a ouvia de noite chorar na lavanderia. Quando se é criança, aquilo machuca, mas, agora, me machuca mais ao notar que eu entendo muito mais o que acontece. Eu sabia que a culpa era minha, mas eu não podia fazer nada em relação ao amor que eu sentia pelo . Juntei os dois em uma conversa, e pelo menos fiz meu pai parar de maltratar maman, o que eu já agradecia. Se ele quisesse se matar com cigarros e bebidas, que o faça; faz o mesmo.
Estávamos tomando café da manhã. Todos juntos, um milagre.
Ouvimos uma pedra bater na janela, mas ninguém se levantou; maman pensou ser um passarinho morto por alguma criança. Então veio o pior, uma pedra maior que fez um barulho maior, e conseguiu quebrar um dos vidros da janela. Aí sim, meus pais se levantaram e eu apenas os segui.
Sim, demos de cara com com uma lata de tinta em mãos. Ele estava mais feliz do que nunca o vi. Parecia um tanto quanto louco.
-Sua filha me pegou de todas as formas, não tem como a tirarem de mim! Eu a amo, e a quero junto comigo, por favor, não tentem ir contra isso, deixem-na escolher – olhei para o lado quando terminou de dizer. Maman estava vermelha e père estava pegando um cigarro. A guerra estava feita.
-CONNARD! Saia de minha casa, já! – minha mãe estava explodindo ao meu lado. Ela ameaçou ir pra frente até o portão que estava a poucos metros dali, mas père a parou.
-Deixe-a escolher, não quero infeliz pro resto da vida – preciso dizer o que escolhi? Bem, acho que não. Beijei o rosto dos dois, entrei correndo em casa, e arrumei uma pequena malinha de roupas, apenas para passar os dias que ele ficaria aqui, junto com ele, acenei me despedindo de meus pais. E minha mãe ainda fuzilava , suas últimas palavras foram:
-ELA NÃO SAIRÁ DESSE PAÍS! – Ele sorriu e respondeu:
-Não é o que seu muro diz!
Quando estava fora o bastante pude notar que dizia: Sim, ela irá morar comigo!
Fomos até a praia, que era o lugar mais próximo de casa, sentamos e ficamos rindo. Não era certo o que ele fizera, mas era o que eu queria, ficar com ele, para sempre.
Passamos o dia inteiro na praia, segundo : ‘ficar no hotel não tinha graça alguma’. Começou a esfriar, peguei uma blusa dentro da mala, mas ainda assim o frio congelava minha face.
Ele me abraçou, tentando, em vão, me esquentar. Quando estava tarde o bastante, começamos o caminho para o hotel. Ele ficava brincando comigo e repetindo o que maman dizia. Eu ria, e ele sempre me encarava de forma gentil, por fim soltou:
-I’m falling even more in love with you (N/A: Lifehouse – Hanging by a moment) – sorri, não tinha como não sorrir.
Acordei e vi que estava totalmente em pânico ao meu lado. Eu tentei o reconfortar, mas ele pedia para eu não me mexer, não entendi muito bem, e não o obedeci. Virei a cabeça para o lado e vi os tomates, então eu tinha sobrevivido ao impacto. Sorri, e ele não entendera o porquê. Consegui me levantar rapidamente, isso fez com que eu tivesse que segurar em seu corpo.
-Eu disse para não se mexer – ele disse, eu grunhi.
-Você não manda em mim, e, afinal de contas, estou bem – sorri, mas ele continuou apreensivo – Há quanto tempo estamos aqui?
-Dez minutos – para mim parecia muitos mais.
-Só? – ele assentiu confuso – Eu consegui ter lembranças, enormes, em apenas dez minutos? – ele assentiu mais uma vez, e eu fiz joinha.
Eu não queria, mas ele insistiu em me levar ao hospital.
O Doutor disse que eu não tinha sofrido nada demais, agradeci e saí do hospital o mais rápido que pude. ficou me segurando o caminho inteiro, e eu dei um soco em seu estômago. Quando chegamos em casa, dei até uma pirueta para ele ver que eu estava bem; mas isso não foi bom, por eu ficar enjoada facilmente.
-? – ele apenas fez um barulho com a boca para eu continuar – Quero me mudar amanhã.



me deixava sozinha meio receoso, minha mãe ia chegar dentre algumas horas e o fato de ficar sozinha o assustava, desde o incidente do vidro. A cara de pavor dele na hora fora assustadora, ainda mais os gritos, mas eu conseguiria rir agora, só de lembrar. Veja, comecei a rir agora, e não entende. Afinal ele estava com um discurso sobre como não perder a calma perto de coisas que podem machucar.
-Não se preocupe, . Minha mãe não me deixará fazer nada, acredite – ele assentiu e me deu um beijo de despedida, um daqueles que suga até sua alma, fiquei surpresa com tanto fervor em um beijo.
Para a minha surpresa e a dele, ouvi alguém pigarrear, esse alguém era maman chegando um pouco mais cedo.
-MÃE! – Eu, incrivelmente, sentia muita falta dela. A abracei e não soltei, até dizer que precisava MESMO ir. O soltei para ele apenas cumprimentar minha mãe, e então o mesmo saiu.
Entramos e ficamos conversando, minha mãe disse que depois que eu fui embora, pére tinha melhorado e muito. Fiquei sentida com isso, mas ela me disse que foi só porque ele sentiu a perda. Assenti quanto a isso.
Um silêncio pairou entre nós, ela parecia diferente; talvez mais jovem e feliz. Isto é, até olhar para minha barriga.
-Vou matá-lo.
-Não acho que só ele tenha culpa nisso – não gostei da minha frase – Quer dizer, eu já amo o bebê e ajudei no processo.
-E eu imagino, quis retirá-la quando descobri que estava grávida. Você sabe o que é perder um brasileiro, porque o seu noivo francês te deixou grávida? – esta é minha mãe, traindo meu pai antes do casamento; meu pai nunca foi melhor.
-Imagino – fiz uma careta e ela sorriu.
-Mas foi ouvir seu coração bater no ultrassom para tudo mudar. Eu queria era que o brasileiro... – sorri – Bem, você sabe. Agora você sabe. É um amor maior do que se imagina; só as mães entendem.
Eu concordava com todas as palavras, não me importava de quem era. Só o que me importava era que era meu. Meu neném.
A maior parte de conversas entre nós, foram bebês, enjôos, desejos, papai, brasileiro, bebês, papai, enxoval, , brasileiro, papai. Estava acostumado com pelo menos dois assuntos entre nós, quando eu conseguia prestar atenção na TV era melhor, e agora ela não tinha coragem de me bater.
me ligava quando podia, às vezes eu ouvia gritos do outro lado; tinha medo. Ele chegou a desligar na minha cara uma vez, fiquei brava e chorei. Deu dois segundos ele me ligou e a primeira coisa que disse foi: ‘NÃO TÁ CHORANDO, ESTÁ? DESLIGOU!’, tive que rir.
No dia em que não ligou, minha mãe me puxou para uma conversa séria.
-, diga, se estivesse aqui na sua frente agora o que você faria? – eu engoli a seco e sorri.
-Lhe dava um tapa – maman começou a rir.
-Seria uma boa coisa a se fazer – ela murmurou, e então disse sobre o dia em que o seu amante se encontrou com père. Os dois entraram numa briga, e quem ganhou fora o brasileiro, mas isso fez minha mãe ficar brava, e terminar com ele na frente de meu pai, para depois... Bom, eu não sei o resto, adormeci antes disso.
Um mês de turnê. Demorou, mas ele voltou; o que me trouxe a alegria de volta a casa, não que eu queria que minha mãe fosse embora; isso era o que meu pai queria, mas sim, porque eu sentia falta do meu .
Ficamos o dia inteiro colocando o papo em dia, maman amou , e às vezes nem o deixava falar comigo, queria a atenção para ela. Agradeci quando meu pai ligou, a MANDANDO ir embora.
Passamos uma semana em casa, juntos, como eu queria: curtindo a nós e à gravidez.
combinava algo no telefone com todo mundo, e, toda vez que eu tentava chegar perto, ele me empurrava de volta pro quarto. Só me disse, vista algo confortável. Como se eu não estivesse fazendo isso nesses dois últimos meses. Parece até brincadeira, mas o destino é uma coisa que ninguém entende. Ninguém acreditaria; como eu não acreditei, muitos menos os outros, que minha barriga cresceu tanto em dois meses, e, quando eu digo que é muito, pode acreditar que é, me sinto um palito de dente carregando uma maçã. A maçã que guarda a semente mais bonita do mundo - aos meus olhos, claro. Meu filho ou filha deixará até Suri Cruise no chinelo.
Quando comecei a ouvir barulhos no andar debaixo, subiu correndo me dizendo que agora era a hora. Fui descendo com ele me segurando fortemente.
-O que é, ? Esse suspense está a me matar – ele sorriu e disse apenas quando estávamos perto da porta:
-Vamos entediar todos juntos – quando ele abriu a porta, vi todos os garotos e suas respectivas namoradas em um carro e mais alguns amigos, aqueles que me apresenta e eu esqueço quem são.
Fiquei prestando atenção em todo mundo que estava ali, até então notar que...
-A GENTE VAI PESCAR? – ele assentiu, e então eu o abracei.
Claro, eu tinha uma lembrança não muito boa sobre o último dia, e eu tinha que tirar aquela lembrança, talvez ir com amigos fosse bom.
Chegamos mais rápido que da outra vez, fiquei no mesmo lugar. ficou deitado em meu colo, parecia um flashback, cortando algumas partes. Alguns começaram a pular no rio, o que espantou os peixes, logo, ninguém pescou. A diversão começou a ser feita enquanto eu e ficávamos ali, no nosso cantinho, apenas observando; Eu ria do empurrando no rio, e foi aí que eu senti. me olhou admirado com o que também sentira. Ele continuou me olhando e eu assenti, começamos a gritar e todo mundo ficou olhando. Eu senti de novo. Ele ficou olhando, e, automaticamente, colocou a mão em minha barriga. Aí então todos entenderam.
estava mais do que feliz. Eu a via, e não tinha como eu não estar sorrindo, me segurou pelas laterais de meu rosto e disse:
-Se é que é possível, eu estou me apaixonando cada vez mais por você – eu não me importava que fora a mesma coisa que me disse, que fosse a música do Lifehouse, aquele momento era único e eu o estava absorvendo ao máximo, meu neném havia se mexido, pela primeira vez.


Ele me fitou assustado e murmurou que a pancada devia ter sido forte, eu revirei os olhos e neguei. E então ele me fez parar e segurou em meus braços para eu olhá-lo.
-Como eu disse sobre o quadro, é o que eu mais quero, mas só se você também realmente quiser – eu assenti e me soltei dele.
-Como eu disse sobre o quadro, eu quero! – ele então me deu espaço para ir livremente fazer as minhas malas.
A arrumei com pressa, queria sair rapidamente, mas, mesmo assim aproveitei os último momentos, digamos, de França. Comecei a cantar: Les amants d'un jour; ficara apenas me observando na porta. Como sempre, tinha terminando antes de mim. Quando pude finalmente fechar a mala, com a ajuda de , fomos para a sala. Ele ligou a TV e eu deitei em seu colo.
Eu não sabia como falar, mas eu teria que começa. Fiquei mexendo em meus próprios dedos por malditos dez minutos, minha mão começou a suar frio, e eu via que era melhor soltar antes que eu tivesse algum tipo de piripaque.
-Eu preciso me despedir de meus p-pais – Sabia! Je le savais! Sabia! Eu ia gaguejar, odeio.
-Pensou que eu não ia deixar? Já estava para falar isso – eu dei um sorriso fraco para o rapaz, e rumei a porta – Não demore, ou morro de saudades.
-Je serai toujours à vos cotes – Isso era meio óbvio, mas era bom deixar claro que eu ia sempre estar ao lado dele.
Quando ia fechar a porta o vi vir em minha direção com um raio, ele me deu um beijo, daqueles que tiram o fôlego de qualquer mocinha de filme, e então sussurrou em meu ouvido:
- You make easier to be me – Minha pernas amoleceram e eu ia cair se não estivesse em seus braços. Lifehouse! Ele sabia o quanto eu amava aquela banda, e o quanto as letras das músicas caíam bem em minha vida; era de seu feitio soltar essas frases para me mostrar que elas realmente estavam comigo.
Quando caí em mim, vi que ele já estava do lado de dentro da casa, rindo consigo. Fiquei sem graça admito, mas dei um tchauzinho com a mão e fui em direção a Hitler, ou se vocês preferirem, maman e père.
Não foi tão difícil com eu pensava, maman estava mais angelical do que eu imaginava, e père já sabia que isso ia acontecer, claro. Mas ainda assim, o comportamento de minha mãe me incomodava, tinha medo dela se agarrar na asa do avião e ficar gritando: Ma fille n'ira pás! (Minha filha não vai!).
Arrepiava cada vez que pensava nisso.
Por fim, na hora de realmente se despedir, minha mãe deu-me seu colar que tanto amava para levar comigo e lembrar sempre dela, e meu pai me fez uma surpresa dando o baú que eu havia mandado fazer para ele para mim.
As lágrimas não se continham mais em meus olhos, e as soltei. Eles me abraçaram como nunca e me senti no passado, quando éramos uma família feliz, quando éramos uma família de verdade.
-Sentirei a falta de vocês, mesmo com tudo que sofri e com tudo que se passou, eu sempre os amarei – dei o último abraço que podia agüentar, e então saí da casa deles. Não foi fácil, mas consegui, dei uma última olhada para a casa de minha infância e adolescência, e dei as costas.
Ao chegar em casa, me esperava de braços abertos, e com as malas no corredor; era agora.
Olhei para aquela casa, da mesma forma que para outra, e aquela gritava apenas um nome: !
E as nossas risadas, claro.
me observava enquanto eu estava em meus devaneios, e me disse:
-O dono ficará muito bravo com a loucura que você fez na parede.
Gelei! Esqueci de devolver a chave para o dono e de deixar tudo em ordem. notou meu desespero e, assim como eu começou, começou a arrumar a casa, enquanto eu deixava tudo em ordem, ele ia tentando pintar a parede.
Depois de meia hora, estava tudo pronto, afinal a tinta só tampou o ‘forever’.
Pedi para que ele me esperasse na casa, enquanto eu ia até a casa do senhor para devolver a chave e as papeladas, ou o que for.
acenou para mim e sibilou um “eu te amo”, devolvi as mesmas palavras e então fechei a porta.
Cheguei à casa do senhor (parece que estou a falar de Deus), e deixei tudo acertado. Ele me desejou boa sorte no novo país, no amor, e boa viagem. Agradeci e saí o mais rápido que podia, agora queria, mais do que antes, sair desse lugar. Eu só o queria, só a ele.
Mas, ao abrir a porta de meu antigo apartamento, eu não achara justo aquele que eu queria.



Depois do primeiro chute que minha criança havia dado, ela parecia ter gostado da coisa, e senti como se eu tivesse virado uma bola de futebol; vivia repetindo que, se fosse um garoto, jogaria futebol. Queria entender esse preconceito porque se for uma menina ela não ia jogar futebol?
Não que eu queira, mas, que é possível, é.
Outra coisa magnífica foi o crescimento da criança, quando eu não sabia, ela fez questão de crescer milimetricamente, me fazendo nem notar o que acontecia; só que, depois da descoberta, o nenê decidiu triplicar de tamanho por dia, sinto, que se tropeçar, irei rolar até a Irlanda.
Barriga grande é igual a cansaço, muito cansaço; e isso fez eu criar um novo hobby: programas idiotas da TV. E o pior de tudo é que eu acho graça, e isso me apavora cada vez mais. Como eu pude me tornar isso? Consigo me imaginar com 80 anos vendo aqueles programas que roubam o seu dinheiro fazendo você ligar para participar da gincana.
Agora mesmo, alguém muito idiota, corria por uma esteira minúscula com bicicleta de criança. E adivinhem ao cair, o que eu fiz? Ri dele. Necessito urgentemente de um psicólogo.
Quando eu ia ver o vencedor da gincana, ouvi um barulho de mil coisas caindo, queria saber o que bulhufas estava fazendo no meu quarto; se é que eu me lembro, ele disse: ‘Vou arranjar um espaço para o berço do bebê’, e não: ‘Irei explodir seu quarto e fazer uma suíte para você e o bebê’. Imaginei com roupa de pedreiro; revirei os olhos com meu próprio pensamento.
-! – Gritei, e ele apareceu em segundos na escada com uma cara espantada de: “O bebê nascerá prematuro, e agora?” – O que você está fazendo, mon amour?
-Ah! É isso! – ri baixinho para ele não perceber – Bem, empurrei sua cama, e agora tem como pôr o berço, mas falta tirar algumas coisas. Quando eu terminar eu desço e faço o almoço para você.
-Merci! – abri os braços para ele vir até mim e depositei um selinho em seus lábios – Volte rápido!
-Voltarei – saiu correndo. Quando olhei para a TV novamente, vi os letreiros anunciando o fim do programa. Pensei em soltar um palavrão, mas a culpa fora minha por chamar .
Decidi desligar a TV e ler o livro que estava lendo, faltava pouco para terminar, e, como era “rápido”, eu conseguiria terminá-lo.
Faltava uma página, e fui interrompida pelos passos de descendo a escada, hoje não era meu dia de terminar as coisas.
-... – fiquei pasma, olhei-o, séria, e engoli seco, ele nunca me chamava assim – Você chegou a ler isto? – olhei para sua mão e vi o que eu mais temia: a carta do .
-N-não – minhas mãos começaram a tremer, e tudo a minha frente não era mais correto, não tinha mais nitidez, principalmente, eu não sentia mais onde eu estava.
-, não desmaie – me levantou para sentar-se no lugar onde estava minha cabeça, e então me colocou em seu colo, abanando com a mão, meu rosto – Eu não estou te julgando, nem dizendo que fico bravo por guardá-la, mas queria saber o que diz, ou o que faz ainda aqui.
-Eu a esqueci no meio da bagunça, nunca li, e nunca quis ler – minha voz fraqueja, demonstrando que podiam ter palavras falsas em minha frase. Vi a expressão cansada do rapaz à minha frente, e aquilo me matava por dentro – Me desculpe.
-, não se desculpe, a culpa não é sua – passou a mão pelo seu cabelo, primeiro ato de nervosismo dele – Eu posso ler?
Pensei em negar, mas isso só pioraria a situação, e ele duvidaria se eu teria mesmo ficado esse tempo todo sem ler, o que era pura verdade.
-Pode, mas não em voz alta, não quero saber – ele assentiu, abriu a carta e começou a ler, sua expressão não mudou, por mais que queria, via sua sobrancelha querer mexer e ele a forçar a ficar no lugar.
-Faria bem você ler. Sentiria-me um sujo se não te dissesse isso – o olhei, me sentindo cada vez mais culpada – Você tem o direito de entender o porquê de ele ter ido embora.
Fiquei apavorada, eu não queria aquilo retornando a minha vida. Ter um filho dele? Sem problemas, algo com que qualquer mulher pode lidar, sem a pessoa; mas ter algo que por orgulho, poderia ter mudado a sua vida, sem ter tudo o que ocorreu, é algo em que qualquer um daria um tiro em sua própria cabeça.
-Não quero – disse recusando a carta que ele queria me entregar a todo custo.
Pensando que ele havia se dado por vencido, olhei para o meu livro, e poucos segundos depois ele começou a ler toda a carta em voz alta.


,
Não foi por vontade própria, nem ataque repentino de bipolaridade que eu a deixei sozinha com suas malas prontas e a felicidade em seus olhos. Sua mãe veio falar comigo que, se eu não a deixasse na França, eu a deixaria doente de preocupação contigo, e seu pai também, o que causaria a sua tristeza, algo que eu nunca quis em toda minha vida. Preferi me livrar do mais difícil, que era você, para ficar com o menos difícil: a dor.
Não pense que foi fácil, eu só rezo por todo o caminho de volta a minha casa, que você não fique brava comigo, que não faça alguma besteira, e que principalmente pense com o cérebro e não com o coração. Pense em seus pais antes de mim, pense em sua vida antes de mim, faça o que tiver que fazer. E se achar que deve vir até mim, você sabe como e onde me procurar, e eu estarei de braços abertos para você.
Minha eterna , sempre te amarei!
Com amor,



Lágrimas e mais lágrimas caíam na última folha do livro, e a culpa, a raiva, a saudade, o ódio, e a angústia, afloravam em mim; eu tinha vergonha de olhar para o , eu não conseguiria nem encarar a mim mesma, eu me sentia suja, em minha alma, pelo meu orgulho, e pelo que eu causei na vida daqueles que não necessitariam de minha presença, se não fosse pelo meu maldito orgulho. Se não fosse pelo meu maldito orgulho, estaria livre para amar alguém melhor.
-, você está bem? – Não respondi – Me responda, porque eu acho que você deveria conversar com ele, chamá-lo para vir aqui, e deixar toda a história a limpo, para vivermos em paz.
Lágrimas escorriam cada vez mais de meu rosto, e eu só queria balançar o , para ele acordar e ter raiva de mim, ódio de mim, como eu estava tendo no momento.
-, o que você está sentindo, eu preciso saber – sussurrou.
Eu levantei-me e virei para ficar de frente para ele. Com o rosto vermelho, e os olhos lacrimejados, soltei:
-VOCÊ QUER SABER O QUE EU SINTO? QUER MESMO? EU SINTO RAIVA, RAIVA! RAIVA DELE, DE MIM! DE TUDO! EU DEVERIA SAIR AGORA DAQUI, E IR EMBORA, DEIXAR VOCÊ VIVER SUA VIDA, PORQUE VOCÊ NÃO MERECE ALGUÉM TÃO PROBLEMÁTICA COMO EU, VOCÊ NÃO MERECE! VOUS NE MÉRITEZ PAS! – Senti minhas pernas fraquejarem e voltei a me sentar.
-I’m losing myself just to find a place in your mind - murmurou com um sorriso no rosto – Eu acho que se não valesse o esforço, não estaria aqui ainda. Eu te amo, , entenda. (n/a: Make me over – Lifehouse).
-Não recite Lifehouse agora, estou com raiva de mim mesma – ele assentiu e então saiu, deixando a carta em cima da mesa.
-Vou terminar de arrumar seu quarto – não disse nada, apenas deixei ele subir. Quando estava sozinha, pensei em mil maneiras de destruir a carta, decidi mastigá-la e cuspir no chão.
Ao notar meu comportamento, parei na metade. Juntei tudo e fui até a bandeja, para então tacar fogo. Sem orgulho, nem nada; dessa vez a atitude era bem pensada.


Procurei-o como se ele fosse um rato, ou uma barata que pudesse se esconder no vão do guarda-roupa eu não queria afirmar para mim mesma que ele havia ido, sem mim. Quando estava na cozinha, vi em cima do balcão, o meu passaporte e uma carta, meu orgulho me fazia não ler a carta, mas meu amor fazia não jogá-la fora. Joguei dentro da bolsa, peguei meu passaporte e corri para o aeroporto, ainda podia dar tempo.
Ao chegar lá, corri como nunca fiz antes e avistei o que eu queria, olhei para o relógio, tinha chegado a tempo, fui até o balcão, e deixei claro que eu PRECISAVA trocar minha passagem para o próximo vôo, e, se eles não trocassem, eu pagaria por outro. Pelo desespero de minha voz, a mulher a minha frente disse que trocava.
Meu destino? Segundo a moça, Inglaterra; dentre dez minutos eu não estaria mais na bendita França. Au revoir, France.
Ouvi a chamada, mas não a atendi, até que notei ser a última. Entrei no avião e a angústia, o medo batiam em mim, fazendo com que pensamentos não saíssem da minha cabeça. Por que ele teria ido? O que aconteceu para fazê-lo desistir assim? Seria eu tão burra a ponto de não notar que ele só estava me usando? Ou ele decidiu que por fim, aquele lindo futuro nunca ia acontecer?
Essas perguntas foram as que me perseguiram o trajeto inteiro, não consegui dormir, e muito menos comer, o que deixara o senhor ao meu lado feliz. Não que eu não tenha tentado cochilar pelo menos, já que meu corpo pedia por isso, mas o problema era as imagens que vinham quando eu fechava os olhos. ! ! !
Apenas ele e mais ninguém, momentos nossos, primeiro encontro, primeira briga, primeira relação amorosa, tudo passava rapidamente a cada piscar de olhos.
Agradeci mentalmente quando o avião chegou ao destino; era de madrugada e a maioria estava morrendo de sono no avião, fazendo com que eu parecesse a única feliz.
Quando cheguei naquele país desconhecido, depois de passar por todo o procedimento, sentei-me em um banco perto do portão de desembarque, e ali fiquei. Havia uma garota do meu lado, típica londrina, que toda hora me olhava; pensei em fazer como mamãe e ser grossa, mas não ia descontar minha raiva nela. Fui até um quiosque e comprei um maço de cigarros e uma bebida qualquer com álcool que eu deixei o rapaz escolher.
Voltei a me sentar no mesmo lugar e em segundos acabei com a garrafa e com pelo menos três cigarros, aquele cheiro horrível e o vício de certas pessoas, me fizeram jogar o resto no lixo, e sair correndo para o banheiro. Tentei vomitar, para tirar o gosto do cigarro, mas nada saía. Chutei a porta do banheiro, gritei, esperneei, fazendo com que a mulher ao meu lado se assustasse, e então saí do lugar. Me sentei, comecei a bater o pé, tentava cantar algo, tentava me tirar daquele estado, mas era impossível, passei as mãos pelos meus cabelos... E o choro, então, apareceu. Eu soluçava de fazer meu corpo tremer, e não havia como parar aquele choro, ele estava preso desde o momento que sai daquele bendito país.
Eu queria me abraçar, me proteger ou de alguma forma me reconfortar, mas eu não podia fazer isso. Eu não...
Senti uma mão apoiar em minhas costas e quando olhei para o lado, aquela mesma moça de ar londrino, mirava-me preocupada, tentando dar um sorriso ou algo do tipo para me ajudar.
-Você está bem? – ela murmurou.
Nessa hora a abracei e comecei a chorar. Meu estado era tão lastimável a ponto de fazer estranhos sentirem pena de mim? Eu queria entender de verdade, o quão mal eu estava exteriormente, sem pensar no que eu sentia agora. O que eu passava para as pessoas ao meu redor no momento.
-N-não! – tentei falar, mas a voz saiu fraca, junto com o choro, eu só esperava que ela entendesse o que eu havia dito.
-Não importa o que seja, você vai ficar bem, ok? – Ela disse agora com uma de suas mãos em meu rosto, e limpando as minhas lágrimas com a outra – Não é daqui, certo?
-Não, vim da França e não quero voltar para lá – eu disse agora conseguindo mostrar mais firmeza em minhas palavras.
-Tudo bem, não voltará – ela sorriu.
Ficamos conversando até eu me acalmar, de meia em meia hora ela me olhava enquanto, também, olhava para o portão de desembarque.
-Esperando alguém? – ela afirmou e disse:
-Minha prima.
-Bom, ela tem sorte, terá um lugar para ficar – eu disse com meio sorriso – Se eu conseguir, por sorte durmo no aeroporto.
-Veio sem dinheiro? – assenti e pensei o quão eu fui idiota. Nunca mais agirei sem pensar – irá me matar por querer ser boa com todo mundo, mas posso tentar te ajudar.
Eu queria nesse momento me ajoelhar, olhar pra cima e falar: “Deus, tu tá de brincadeira comigo, não é?”
Afinal, quando tudo está no fundo do poço, ele me traz um anjo pra ajudar alguém que nunca viu na vida. Abracei aquela garota como nunca abracei amiga alguma, e fiquei repetindo vários “obrigada”, ela começara a rir, e acho que queria que eu parasse de agradecer tanto.
-Eu só tenho que ligar pro meu namorado, e eu já te digo se consigo, tudo bem? – Tudo bem? TUDO ÓTIMO! Mas eu não falei isso, porque eu não conseguia, eu estava feliz por conseguir uma ajuda num lugar desconhecido, mas a tristeza ainda estava em mim.
-Sem problemas!
Esperei, e nada do namorado dela atender. Depois de cinco tentativas, eu finalmente a ouvi dizer “alô”, respirei fundo, e fiz algo que fazia na infância... Eu rezei.
Agora nada tinha barulho, muito menos a voz da garota, eu só a via fechar o celular lentamente, em meu ponto de vista e o “PÁ” que veio do impacto de uma parte do celular à outra.
-Eu acho que o sono o faz ficar bonzinho – a moça sorriu, e eu a abracei.
-Obrigada...
-! – Segurei na mão dela, e fiquei assentindo, eu não sabia mais o que eu estava fazendo.
-Obrigada, ! – ela sorriu e assentiu olhando para a minha mão na dela – Desculpa!
-Sem problemas – ela piscou para mim e voltou a falar – Se já quiser ir para nossa casa...
-Sua casa? – Como assim?
-É, você não tem dinheiro para ir para um hotel, e entrará em turnê, logo ficarei sozinha – Eu não ia negar, só se eu fosse muito burra.
-Tudo bem!
-Então, como eu ia dizendo, está lá fora, o fez vir comigo para receber minha prima, e ele só veio porque disse a ele que ela é linda – comecei a rir, o rapaz ainda acredita, coitado – Se você quiser ir, sem problemas, o vôo dela atrasou, então só mais tarde. Dá tempo de você chegar em casa; só não vai atrás do meu namorado, hein!
-NÃO! Não! – Eu olhei para ela – Vou indo então, e quando chegar vou ficar no sofá, sem problema algum, e não discuta comigo.
assentiu, e se despediu de mim.
-Ele está bem na porta do aeroporto, é fácil identificá-lo, é o único de pijama – não tinha como não rir, assenti e fui em direção ao tal garoto de pijama.
Não demorou muito; Eu tive que concordar com ela, dava pra saber realmente quem era.
-? – cutuquei o ombro do garoto, que estava quase dormindo encostado na parede.
-NÃO! NÃO! SEGURANÇA! – Ele acordou gritando, e eu fiquei quieta esperando ele parar, o que não aconteceu.
O belisquei, fazendo com que gritasse mais. Um tempo depois ele me olhou e parou.
-Ah! É a prima da ? – revirei os olhos.
-Je suis Français, je ne parle pas l'anglais, et je ne suis pas le cousin de *** – a cara dele foi a melhor, não entendeu nada, pensei se eu falar francês ele pode dar uma acordada e notar que não sou a prima da . A parte de não falar inglês fora só de brincadeira.
-Desculpa, mas eu não entendi nada – passou a mão pelos seus cabelos – E, que eu me lembre, disse que ela é americana.
-Então dá para notar que eu não sou ela? – arqueei a sobrancelha, e ele mais uma vez pensando que eu ia o seqüestrar, matar, ou sei lá o que, fez menção de gritar. Coloquei meu indicador em seus lábios e balancei a cabeça – Eu sou uma nova amiga da , pode ligar para ela e perguntar. Eu não tenho para onde ir, e ela me deixou ficar na casa dela.
, não contente, foi até para perguntar, e, como ela afirmou, ele voltou mais calmo.
-Vamos para o carro! – eu assenti e o segui.
Acabei não indo para a casa dela, ficamos no carro estacionado conversando. Ele era uma pessoa muito boba, uma daquelas raras que te fazem rir a todo momento, e eu não podia perder aquele momento.
-Mas, me diz, por que saiu de seu país? – Mas como toda pessoa rara, sempre vem um defeito.
-Uma coisa deu errado com meu antigo namorado – ele apenas ficou pensativo e voltou com outra pergunta:
-É o tal que você me disse? – eu assenti – Mas você não vai atrás dele para resolver tudo?
-Não quero vê-lo nem pintado em minha frente, nunca mais quero vê-lo – ele assentiu e parou. Devia ter notado que era um assunto que não gostava.
Não deu cinco segundos e ele já havia me feito rir de novo.



Essa semana estava mais do que estranho, seu sorriso havia sumido, e isso me preocupava. Tentei alegrá-lo de todas as formas, até fazendo sua comida preferida, fazendo uma massagem, o que não foi uma boa idéia por eu estar pesando uns 10 quilos a mais, nada funcionava com aquele garoto.
-, vou sair com a porque ela quer comprar roupinhas para o bebê e depois eu já tenho o meu exame de ultrassom, você vai querer ir junto? – ele finalmente acordou.
-NÃO BRINCA QUE É HOJE! Não dá, nosso empresário marcou uma reunião hoje com a gente – ou ele estava bravo, ou estava fingindo muito bem – Não tem problema?
Eu ia dizer que não, mas não consegui; a culpa ainda batia em mim pelo ocorrido há uma semana, e eu sabia que ele estava assim por causa daquilo. Virei dizendo rapidamente que ia me encontrar com a , e saí o mais rápido possível antes que ele percebesse as lágrimas.
Liguei desesperadamente para , dizendo que precisava dela antes do horário combinado, ao ouvir minha voz de choro, ela voou para meu encontro.
Fui até a loja que íamos juntas e fiquei sentada num sofá que ali existia, estava cada vez mais cansada. Meus olhos, já inchados pelo tanto que chorei no caminho, não conseguiram focalizar quando chegou, eu só senti seus braços envolvendo minha cintura.

-O que aconteceu, ? – Eu neguei com a cabeça para ela saber que eu não queria falar, ela continuou me abraçando.
-Não agora, não agora! – Ela assentiu.
-Sabe o que eu pensei? – Não respondi dando espaço para ela prosseguir – É besteira comprar roupas antes do ultrassom mais importante da sua vida, então é melhor já irmos pro exame, depois viremos aqui já com idéias mais nítidas de roupa.
Eu amava por ser esperta, e pensar rápido por mim, quando eu estava nesse estado. Ela sempre pensou muito em meu bem-estar e eu só agradeço a Deus por tê-la como amiga.
Ela me ajudou a levantar, fomos até seu carro e partimos para a clínica. Não demorou muito e eu já estava naquela maca super confortável, com aquele gel gelado em minha barriga.
, como uma boa amiga, não ousou perguntar porque não tinha ido, ela apenas disse: “Curta mais um momento”.
A melhor parte do meu dia foi a médica dizer: “Parabéns, mamãe, é uma menina!”.
Eu me segurei para não chorar, a médica me deixou a sós por um momento. estava festejando do meu lado, já pensando em vários nomes para o bebê, e, ao invés de eu entrar na onda dela, eu chorei.
me olhou confusa ao ver que não eram lágrimas de felicidade.
-Está triste por ser uma menina?
-Não! – disse, um pouco mais alto do que devia – Eu só entendi o que aconteceu.
-Como assim? – ela sentou na ponta da maca, e eu comecei a desabafar.
-Eu tenho que dizer, não tem como adiar – dessa vez ela ficou em silêncio –
Quando eu cheguei aqui, que você me ajudou, antes de eu ficar com o , ficar MESMO, eu liguei para o , e mandei uma mensagem, o xingando de todos os nomes possíveis, jogando tudo na cara dele, e depois que fiz isso me senti tão suja e tão canalha quanto ele foi comigo. Eu queria parar de agir como ele. Então pedi para o senhor que me ajudasse a me livrar de tudo que queria para nós, que ele gostasse em mim.
Um exemplo disso é o meu cabelo – segurei a ponta invisível do meu cabelo longo imaginário – E outra são meus gêmeos. Eu não sabia que um pedido faria algo tão cruel como o que aconteceu com meus gêmeos.
-Eu não estou te entendendo – olhei para a expressão confusa de e prossegui.
-O maior sonho dele era ter um casal de gêmeos um menino e uma menina – eu suspirei para não chorar – Eu vou ter uma menina, mas não se esqueça que eu perdi um dos bebês, e se o outro fosse um menino? Quer dizer, eu matei uma criança por um capricho meu, por um baboseira de querer esquecer aquele canalha, AQUELE CANALHA... – A partir daí não consegui mais falar, voltei a chorar, eu estava cansada disso, cansada de ser fraca a ponto de não encarar os fatos sem o choro.
-Você não tem certeza se ele era realmente menino, e se fossem duas meninas? – eu ia gritar: “NÃO ERA”. Mas preferi não discutir, assenti, fui me trocar e partimos para as compras.
Nunca vi tão animada com uma coisa como hoje, ela mostrava tudo, achava tudo muito lindo, muito fofo, muito rosa. O que eu não ia comprar, ela ia; esta deixou bem claro esse fato. No começo, duvidei, mas na hora de pagar não duvidava mais, ela tinha uma montanha de coisas, juntando com a minha montanha de coisas. A minha nenê teria uma roupa diferente para cada dia do ano, até seus dois anos.
Pagamos as roupas e fomos tomar um sorvete. Quando nos sentamos-nos à mesa, eu soltei:
-Quando descobri que estava grávida, tentei ligar para ele, mas apenas tocou e ninguém atendeu. Foi a última vez que tentei falar com ele – ficou pasma, seu queixo poderia muito bem balançar no chão.
-Quantas vezes?
-Depois que eu comecei a namorar o só essa.
-E antes?
-Só aquela que eu o xinguei – ela assentiu e começou a tomar o sorvete dela.
Terminei o sorvete mais rápido que , a esperei terminar vendo algumas vitrines de lojas, com roupas que eu só usaria daqui quatro meses. Não acredito que já se passou tanto tempo, é inacreditável. pousou sua mão em meu ombro, e voltamos para o carro para ela me levar pra casa.
Quando desci do carro, disse:
-Vou descer pra dar um alô pro – assenti e ela veio comigo.
Ela me contava uma piada que havia contado para ela semana passada, uma daquelas idiotas que sempre fazem qualquer um rir de tão idiota que é. Eu arrastava as sacolas casa a dentro, e quando cheguei perto da porta, senti a energia negativa. Algo não estava bem lá dentro.
Entrei rapidamente e quando cheguei à sala, meu estômago revirou, minhas pernas fraquejaram, eu perdi o foco e as sacolas foram parar no chão.
estava com a expressão indiferente que ficou por toda a semana, o que não me era novidade. O que era novo era a outra presença na sala...
Nada mais, nada menos que .


Já fazia uma semana que eu estava na Inglaterra, no segundo dia minha mãe já havia me ligado preocupada, e não que ela tenha ficado feliz com a minha viagem repentina, mas dava para ouvir o alívio em sua voz de saber que eu não tinha ido com... Ele.
Essa primeira semana fora estressante, além de eu ter que procurar casa e um trabalho para conseguir me sustentar, o indivíduo não saia de minha mente, me fazendo ouvir as músicas mais tristes de Lifehouse.
já havia desistido de me alegrar, os outros garotos mal me conheciam, então foi o que acatou esse desafio. Estava na minha nova casa ainda sendo mobiliada (com o dinheiro de meus pais, que eu teria que devolver depois com o meu salário), olhando para uma mini TV com um rádio ao lado, quando ouvi a campainha tocar.
Levantei-me contra vontade e ao abrir a porta, apareceu um com um sorriso enorme mostrando seu violão.
-Vai tentar tocar algo? – ele arqueou a sobrancelha. Sempre cometia essa gafe com ele – Desculpa.
-Tudo bem, você sempre esquece – ele sorriu, e entrou sem que eu deixasse – Vim te alegrar um pouco com nossas músicas, que você ainda não fez questão de ouvir.
-Mais uma vez desculpa – voltei a sentar no sofá.
-Acabou de sair do banho?
-Como sabe isso, gênio? – falei no meio termo entre sarcástica e divertida.
-A toalha ao seu lado e seu cabelo molhada, boba – revirei os olhos e continuei a secar meu cabelo.
-Chega de falar, e toque, vamos ver se eu gosto – respirei fundo, virei de frente para ele e esperei.
Quando ele estava na terceira música eu notei que eles não eram ruins, e que as letras eram boas. Ele chegou à sexta música, eu estava sorrindo para a música animada, e infelizmente, o vizinho veio reclamar. Pedi desculpas e, ao voltar ao sofá, me perguntou:
-Gostou? – eu assenti.
-Até que vocês são boas... – ele arqueou a sobrancelha novamente, e eu dei um tapa em seu ombro – Desculpa, meu coração já pertence ao Lifehouse.
-Se você diz...
-Mas eu vou desocupar um espacinho só pra vocês, ok? – ele sorriu e assentiu.
-Duvido que eles sejam melhores que a gente – Eu pasmei, abri minha boca e ele ficou pensativo, talvez estivesse em dúvida se retirava suas palavras ou não.
-Verá então – levantei-me fui até uma das minhas caixas e procurei por um dos CDs. Acabei por escolher “Who We Are”, e coloquei no rádio. Deixei as músicas rolando, enquanto ele analisava, sabia todas de cor, então ia cantando. Para alegria dele na primeira fingi um showzinho; peguei até seu violão para ficar mais criativo. Ele bateu palmas ao final de Disarray.
Ao chegar em The Joke, foi que eu então me libertei, agradeci por minha mesa de centro ainda não ter chegado, pois eu girei a sala toda, pulando e cantando, enquanto ele discretamente (discreto pelo menos pra ele) analisava minhas pernas.
No final da música ele já sabia pelo menos uma parte.
-The joke is on you! – ele cantava, e eu ria dele se juntando a minha dança estranha.
Quando o CD acabou eu me joguei no sofá, e ele repetira meu ato. Começamos a rir.
-Consegui! – Não havia entendido – Te fiz rir! vai me achar milagroso agora – Bati de leve na cara dele e seguidamente apertei sua bochecha.
-Bobo!
Passamos um tempo em silêncio, olhando para frente, apenas ofegando para recuperar o ar.
Quando víamos o céu escurecer ele disse:
-É, eles não são tão maus assim! – Sorri de lado, eu finalmente estava feliz.



Eu estava no fim do poço, ou abaixo disso, era o fim do mundo, Apocalipse, era tudo e mais um pouco. Era o meu maior pesadelo.
-Desculpa, mas eu achava melhor que tudo fosse resolvido – mirava o chão nesse momento. Eu ainda olhava para um ponto fixo, não consegui focar em nenhum dos dois, não conseguia olhar para eles. Pelo meu olhar periférico eu notei, ele não tirava o olhar de mim. Pelo meu olhar periférico eu notei sua expressão de sofrimento.
-Alguém diz alguma coisa, por favor – disse atrás de mim, angustiada com o silêncio.
-Eu não ia vir, ele insistiu – se proliferou pela primeira vez, fazendo um choque passar por minha espinha.
Um silêncio permaneceu de volta naquele local, só o tic-tac do relógio era possível de ser escutado.
-! – os três disseram ao mesmo tempo, mas nem isso me tirou do choque.
- me falou sobre o bebê – ISSO me tirou do choque, virei meu rosto vagarosamente até chegar ao rosto de .
Esse movimento só piorou a situação, afinal transpassava dor, só de se olhar para ele.
Soltei um murmúrio, fazendo todos suspirarem. Eu não ia falar tão cedo.
Antes que aquele clima ‘deserto com feno rolando’ continuasse, foi até mim, me segurou pela cintura e me levou até o sofá, onde sentei e observei aquelas três pessoas sentadas na minha mesa de centro, me observando.
Foi a minha vez de suspirar, aquele momento estava me estressando.
-O que vocês querem de mim? – Se é que era possível minha voz piorou o rosto de , suspirou de alívio, e isso era normal dele. E ? Continuou na mesma.
-Só que você converse com ele – disse apoiando sua mão em minha perna, eu o olhei alarmada para ele parar.
Tudo bem, eu estava com ele agora, mas podia ficar magoado...
Na mesma hora mudei de idéia.
-Eu não tenho o que falar com ele – fui ríspida. Levantei-me e fui para meu quarto.
veio atrás de mim, minutos depois, e, sem sucesso, tentou me tirar do meu quarto. Eu esperei ele desistir, me levantei e quando abri a porta, ele estava sentado com as costas na parede.
Sentei de frente para o rapaz, e dei um meio sorriso.
-Olhe de quem você foi gostar – eu disse, passando a mão pelo meu cabelo – Uma pessoa com problemas não resolvidos, e que só fazem você ficar assim, , chateado.
-Isso não muda nada – sua voz estava sem vida.
-COMO... Como não muda? – Estava tentando ao máximo falar baixo, queria que os indivíduos do andar de baixo não subissem e estragassem a nossa conversa.
-Simples, eu te amo – ele sorriu – Nem o fim do mundo mudaria isso. Você foi a primeira que conseguiu chegar ao meu coração em tão pouco tempo.
-Idiota – ele me olhou assustado – Tanta mulher bonita, despreocupada, sem problemas para você se apaixonar, e você escolheu logo a pior. E isso que eu estou tentando te explicar, você não fez a escolha certa, você devia ter me deixado cair em depressão naquela época. Pelo menos você estaria com alguém... Melhor.
-Cala a boca – disse agora mais áspero.
-Calar a boca? – eu mirava em seus olhos, nesse momento para ele sutilmente entender e sentir minhas próximas palavras – Como você quer que eu cale a boca quando você põe um futuro que a gente estava construindo em risco? , você não é Deus, você decidiu trazer um futuro incerto pra cá! E se de alguma forma ele consegue me persuadir e me levar embora, você ia ficar feliz? E se ele tentasse se matar, ou tentasse roubar minha filha...
-É uma menina? – ele disse sorrindo, e eu assenti – Que coisa maravil...
-Não mude de assunto! ESCUTE-ME! – Merda, eu gritei.
Ouvi passos na escada, inconscientemente, gritei:
-NÃO SUBAM! – ouvi os passos voltarem para o andar de baixo.
-... – sussurrou.
-Não, nada de , você tem que escutar – eu engoli o choro que teimava em vir, eu não ia chorar – Não é fácil, eu sei, nem pra mim nem pra você. Mas seria melhor se aquilo fosse enterrado, se aquilo não voltasse – eu puxava meus cabelos – SE você me deixasse escolher, SE você me perguntasse, SE eu aceitasse. São tantos ‘SE’ que não tem como não pensar em mudar a sua escolha. Você não precisava fazer isso...
-PRECISAVA – Agora ele havia me assustado – Essa história toda, todo esse drama estava e está me consumindo, você estava certa, eu não queria deixar transparecer, mas, , toda hora que esse cara aparece no meio de algum assunto, de alguma conseqüência, você não sabe como fere o meu coração, como me despedaça internamente. Eu a quero, só para mim. Sem interferências, lembranças. E para isso, tudo tem que estar em ‘pratos limpos’.
-Eu... – eu não sabia o que dizer.
-Eu sei – ele sorriu de lado – Me desculpe.
-PARE DE SE DESCULPAR – Entrei novamente em meu quarto e fechei a porta.
E lá se foram mais duas semanas sem sair do meu quarto. deixava a comida, e saia. Não sabia quem estava lá, quem foi embora e voltou. Eu tinha que pensar, e não entendia porque não conseguia. Só conseguia ver as minhas lembranças. Por que logo ? Por que logo ele tinha que sofrer com essa história? merecia estar nessa, e não ele. merecia, ele devia ter sido mais homem e ter enfrentado minha mãe, ter sido ele mesmo e ter me contado, cara a cara. E por que não fez isso? Por quê?
As perguntas eram muitas, mas as respostas poucas.
Toc-toc.
Ouvi alguém bater na porta, não ia responder.
-Seu exame – disse.
Para o meu bebê eu faria de tudo. Levantei-me e me troquei, passei direto por toda a extensão da casa, apenas olhando para frente. Fechei a porta, eu não havia olhado para nada. Mas eu notei, eles estavam lá...
Foi apenas um exame para saber como estavam as coisas, e, quando eu voltei para minha casa, decidi não ir para o quarto, fui até a sala. Eles me fitaram no momento que eu apareci, soltei um sorriso fraco e sentei entre eles. Quando notei o movimento deles, soltei:
-Só não falem nada – eles voltaram as suas posições relaxadas, eu fiquei com o corpo pendendo para frente, a tensão era notável naquele local.
-Chega, falem um com o outro, de uma vez por todas, eu não “chutei um balde” à toa – levantou-se e saiu da sala.
Eu olhei para o rosto dele, e ele para o meu. Engoli a seco, era agora.


Olhei-me no espelho, aquele vestido me incomodava. Fazia tempos que eu não me embelezava; isso era um favor para , para fazê-lo feliz e para recompensar todos os dias que ele gasta tentando arrancar meus sorrisos.
Ouvi a campainha tocar, era ele. Eu me sentia uma adolescente em pleno dia do baile. Chequei meu visual mais uma vez no espelho, e então desci. Abri a porta e o vi de terno, comecei a rir.
-Tão feio assim? – eu neguei.
Virei para fechar a porta e sussurrei para mim mesma: ‘Se eu tivesse bêbada, daqui iríamos para minha cama’.
-Até o fim do dia isso talvez possa ocorrer – fiquei roxa. -! – ele fingiu ter medo de mim, revirei os olhos.
Ainda estava muito encabulada com o ocorrido. Chegamos ao lugar da premiação, flashes e mais flashes saíam de vários lugares. Se minha mãe estivesse na TV, como sempre, talvez me visse e começaria a chorar. Talvez.
-Estou em boa companhia hoje, fãs poderão te matar amanhã – ele disse, eu sorri.
-Mostro meu lado Lara Croft amanhã então – dei uma piscada em direção ao rapaz, que soltou um sorriso – Minha vez de te fazer rir.
-Isso é bom...
Paramos assim a nossa conversa ao sentarmos-nos à mesa. Cumprimentei , , e , e me sentei. ficou brincando com a pulseira que eu tinha colocado.
-Você vai quebrá-la – ele negou.
Deram cinco segundos, minha pulseira quebrou.
soltou uma gargalhada que eu nunca tinha conhecido. Isso me levou a rir também. Enquanto isso, continuava a se desculpar ao meu lado, bati em seu ombro e disse que estava tudo bem. Ele não calava a boca então selei seus lábios.
Todos ficaram em choque, ele ficou em choque, e eu fiquei em choque pra não ficar de fora. Não fiz nada demais, amigos dão selinho, pais e filhos dão selinho, homens dão selinho. Qual era o problema?
- arrasando corações – hoje era meu dia.
- Oh my love, my darling! – começou a cantar, enquanto balançava os braços como em um show.
-Muito engraçadinhos vocês – eu dei uma risadinha forçada mostrando a minha ironia, mas eles não pararam. O mais engraçado foi o que aconteceu depois. levantou, foi até e quando o rapaz ainda cantava a música, deu um selinho nele. Todos paramos de novo, fingiu chorar, e, pra entrar na onda, fiz o mesmo. voltou para o seu devido lugar, a cadeira ao meu lado, e passou seu braço sobre a minha cadeira.

-Teria nojo de me beijar agora? – eu assenti.
Era estranho, eu nem estava bêbada, mas era difícil dizer não para ele, era fácil esquecer tudo às vezes.
-, você estragou tudo – disse e mandou o dedo do meio, enquanto, ainda em vão, passava papel em sua boca.
-Vai se ferrar, – Todos olharam para , que ainda limpava a boca.
-Calma, moça, não foi nada demais – eu soltei.
-Ê, MOÇA! – disse.
E a noite inteira fora chamado de moça.
levantou-se e mostrou a palma de sua mão para mim, fiquei o observando sem entender.
-Vamos dançar? – Hã?
-Ficou louco? Ninguém está dançando.
-E desde quando você se importa? – ele sorriu, estava se divertindo com a situação – Ou a francesinha tem medo de um pouco de “aventura”?
Segurei em sua mão e levantei, tocava algo como Dancing da Elisa, me levava pra lá e pra cá. Eu observei a música, e odiei a tradução, algo como a dor do amor, a separação de um casal. Eu estava cansada daquele tipo de assunto.
-? – eu ouvi de fundo, mas tudo ia sumindo – ! – Agora tinha sido um pouco mais alto, mas ainda sim, muito longe. O terceiro chamado eu não ouvi, já estava no chão.



-Eu fui um estúpido...
-Jura? – ele passou a mão no cabelo.
Enquanto ele falava, eu fiquei observando que ele ainda era o mesmo, ainda o homem fechado para todos que só eu via o verdadeiro, ainda usando as mesmas roupas, ainda com o mesmo cabelo. Só eu havia mudado, apenas eu.
-Entendeu? – eu neguei, e ele riu – Não tá prestando atenção, não mudou nada.
-Não fale desse jeito como se fôssemos bons amigos que perderam o contato com o tempo, enquanto um fazia intercâmbio na Austrália o outro se prostituia na Itália. Isso não está certo, eu ainda não concordo com a atitude do .
-Você acha que EU concordo? – ele virou totalmente para mim – Eu vi que você estava com ele, não era muito difícil fugir dessa notícia, diziam que você estava feliz, e para mim já era o bastante. Eu nunca viria atrás de você, eu deixaria você seguir a sua vida, e depois eu veria o que faria com a minha, não que eu não tenha ficado com ninguém, mas nenhuma teve o valor que você teve para mim.
-Então você não largou nenhuma na França, vou anotar isso no meu bloco de notas – pisquei.
-Você complica as coisas...
-EU? Tem certeza que sou EU? Enxerga-te, – meus punhos estavam cerrados. Agradeci por estar com as unhas curtas.
-Eu sei, foi modo de falar – dei uma gargalhada – , você complica as coisas, não pense que foi fácil para mim, porque não foi, meus amigos começaram a notar o homem que você via, com uma única diferença, eu era um homem apaixonado, mas muito ferido, machucado e triste.
-Não me abala... – falei com uma “melodia infantil”, no estilo: “Você não me pega”.
-Não seja tão fria, você não é assim.
-Talvez eu esteja finalmente ficando como minha mãe.
-Talvez você esteja ficando louca, talvez você esteja tentando fazer um papel, para esconder o que você sente.
-Eu, louca? Quem está ficando louco é você... E o ! Vocês acham o quê? Aqui não é “I Love New York”, ou “Bachelorette”, eu sou uma humana com coração, eu sofro também, e isso está ficando cada vez mais difícil pra mim – talvez estivesse certo. Eu precisava conversar com ele.
-Mas você tem que entender que eu não fiz por mal!
-MAS FEZ! , VOCÊ FEZ! – Segurei o choro, deitei no sofá de bruços e afundei meu rosto dentro da almofada.
-... – mostrei o dedo do meio para ele – Preferia seu cabelo antigo...
-Eu sei.
Opa!
-Não acredito que você cortou por causa disso, , como você pôde ser tão infantil?
-É! EU TAMBÉM NÃO SEI, ! Acabei pedindo uma coisa e perdi outra, tenho que tomar cuidado com o que eu quero, sabe? – voltei a ficar de frente para ele.
-Como assim?
-Como assim? Bom, vou te explicar... – respirei fundo – Eu cortei o cabelo porque isso me lembrava você, eu voltei a andar de carro, porque a bicicleta me lembrava os momentos na França. Além de outras coisas, eu pedi para Deus, do fundo do meu coração, que me tirasse tudo que lembrava você. Então eu fiquei grávida, e eu nem sabia, não é? Quando descobri, perdi um, um do qual eu pensava ser o único, um do qual nem teve tempo de se mostrar, de dizer como seria. Então eu descobri que a que sobreviveu é uma menina, eu encaixei as peças e vi que eu podia ter perdido um menino, por que não, certo, ? – ele engoliu seco – Era o que você queria: um menino e uma menina. Deus não é mau, mas minhas palavras foram fortes demais – eu parei para respirar, e antes que eu voltasse a fazer qualquer coisa, apareceu com a cara branca.
-Mas, o quê? – cada vez mais eu me enrolava numa bola de neve.
Soltei um grito e me levantei, fiz menção de sair do lugar, mas senti uma mão em meu pulso.
-Não fuja mais! – disse, me empurrando, com força, de volta pro sofá.
-É só um palpite não estou dizendo que realmente era um garoto, entende, ? – ele assentiu, mas continuou... Pálido – Mon Dieu, O que foi?
-Você fez tudo aquilo pra esquecê-lo? Eu quero dizer, você acabou lembrando-se dele por querer esquecer – Decepção nos olhos da minha criança – Eu tenho que concordar com ele, , foi pura infantilidade.
-Mas... – Eu não tinha o que falar, eu queria, mas não tinha – Desculpa.
-Sem problemas – respondeu os dois.
Eu não tinha uma pedra em meu caminho, tinha um precipício.
-Olha, eu, como pai – Não sabia o que sentia sobre isso – Não deixarei faltar nada a ele ou ela...
-Ela – disse.
-Jura? – perguntou e o rapaz a sua frente assentiu – Uma garota! Que...
-Legal? – assentiu – Eu sei, eu disse a , mas...
-Shhhh! – olhei assustada pra eles – O que é isso?
-O quê? – disse. Meu estresse sem motivo me estressava mais ainda.
-Um minuto!
se levantou, eu e observamos seus passos até eles sumirem. Ouvimos alguns barulhos vindos da cozinha, ficamos curiosos, mas nem eu e MUITO menos ele, queríamos ir até lá.
ligou a TV e me entregou uma revista. Mirei o rapaz, confusa.
- deu uma entrevista, e falou sobre você.
Folheei a revista até chegar à reportagem e me deparei com a seguinte pergunta e resposta.


R: O que você acha das fãs de outros países?
: Preciso dizer? Todas extremamente lindas, principalmente as brasileiras!


R: Conheceu alguma em especial?
: guarda uma de estimação em casa. Uma francesa. NERVOSA! Mas enfim, a amamos. E, pra ficar quieta, é só não falar do país dela. Ô menina patriota, já disse que ela vai começar a 3ª Guerra Mundial.



-Seu amigo é um bobão! – sorriu e assentiu.
Ouvimos os passos de , cada vez mais perto. Me deparei com uma xícara quentinha de chá de camomila.
-Lembra? – assenti, não lá muito feliz – Pois então...
-Hã? – fez. Eu ia explicar pra fugir daquilo, mas quase virou a xícara na minha boca.
-Ela não gosta, sempre a fazia tomar contra vontade, quando fazia birra ou ficava muito nervosa. Ela pode achar ruim, mas funciona perfeitamente – bufei.
Quando terminei de tomar, bati a xícara cm força na mesinha de centro.
-A mesa é sua – disse. Dei de ombros.
Os dias seguintes? Quase todos dessa forma; desistiu da fórmula do chá de camomila uma semana atrás. Já havia gastado demais com chá. Eu tinha a impressão de que tentava a todo custo me colocar na mídia, para me fazer rir com o que os garotos falavam de mim.
Tanto eu como achávamos que estava pagando muito bem para os outros. E por falar em , Ó Santa , anjo de todos os dias; se não fosse por ela, o triângulo não estaria em harmonia. não conversaria tão bem com e vice-versa, e eu não teria um período calmo em minha gravidez.
Mais uma consulta chegando, e dessa vez disse que deveria ir para poder sentir a emoção de ouvir e ver a filha dele. Ele assentiu sem pestanejar, o que não deixou meu pequeno feliz.
pegou o carro, fomos até a clínica ouvindo A-Ha. Ele ia batendo no volante e cantando. Eu de vez em quando era pega soltando algum sorriso. Ele notara.
Já na clínica, me emocionei com a felicidade de ao ver o ultrassom. A médica sorriu com a reação dele (ela sabia de toda a história). Antes de sair, ela passou por ele, e ao bater levemente em seu ombro sussurrou “parabéns, papai”.
Estávamos no elevador e soltou:
-Vamos tomar um sorvete – timidamente, assenti.
Pelo caminho, ele não havia colocado o som. Fomos em silêncio, ele parou em uma vaga perto da sorveteria, terminamos o caminho a pé. Nos sentamos, e fez o pedido... Para nós dois.
Começamos a tomar os sorvetes, em silêncio. Não havia conversa, não havia assunto, nada vinha em mente.
-Posso? – ele disse apontando para minha barriga. Assenti.
Quando ele colocou a mão, automaticamente a bebê chutou. Ele sorriu, e eu fiquei assustada primeiro.
-Parece que ela te conhece – sorri.
-Sabe, ... – olhei para ele – Eu quero reconquistar sua amizade a qualquer custo.
-Amizade? – Nunca fomos amigos primeiro.
-Sim, porque eu quero todos os passos para reconquistar o seu amor, se é que eu conseguirei – fiquei em silêncio – Dando uma de , ? – permaneci em silêncio, ele bufou – Eu vejo como você olha para ele, é como eu gostaria que você ainda me olhasse; como você me olhava antes.
-Eu...
-Eu sei – ele sorriu, e terminou o sorvete.
-Vamos? – ele assentiu.
Ao chegarmos a casa, o clima já havia melhorado, entre eles.


Senti batidas em meu rosto, abri meus olhos devagar, vi a luz da rua entrando pelo carro, e olhei a cara de , totalmente preocupada comigo. O vento estava muito rápido.
-Hey! acordou, – senti o vento vir suavemente. Só havia uma explicação: desesperado no volante.
-O que aconteceu? – eu perguntei e ninguém sabia dizer.
-Bom, me olho, calmo – Você desmaiou!
-Jura? – fui irônica.
-É, isso ela já tinha em mente – disse.
Um silêncio voltou ao carro.
-Estraguei a noite, não é? – vários “nãos” eram ouvidos nesse momento – Deve ter sido a comida, ou então a dança – vi abaixar a cabeça – Não, , a dança foi bonita, muito obrigada, você fez a minha noite valer a pena, é que...
-? Que foi? – perguntou, eu só balancei a cabeça.
Esperei alguns momentos até ter certeza de que aquela sensação não voltasse.
-Enjôo!
-Deve ser porque você está deitada em meu colo, fique sentada – obedeci e vi que havia melhorado.
O caminho fora rápido; despedi-me deles, e tive que fazer muito esforço para não ficar em casa, eu precisava de um momento... Sozinha.
-, obrigada – sorri. Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás de minha orelha – Minha criança.
-Sua o quê? – ele olhou confuso. Apenas sorri, selei os lábios do rapaz e entrei em minha casa.
Fiquei esperando o barulho de o carro sumir, e eu fui consumida por um ódio, que não existia a muito tempo em mim... Fui a passos decididos até a cozinha, peguei uma garrafa de vodka, guardada para as festas que fazia no local, e a virei de ponta cabeça, colocando a boca da garrafa na minha, eu sentia a bebida queimar, mas não parava, eu não queria parar. Eu me sentia bem, aquele ardor me fazia melhor do que a dor que voltava em meu peito.
“MALDITO AMERICANO!”
Era um pensamento que passava em minha cabeça a todo o momento. Senti o enjôo voltar, corri para o banheiro, não fora uma boa experiência. Olhei-me no espelho, eu não entendia o que estava acontecendo comigo; eu realmente me assustava com a minha aparência.
Uma vontade repentina de chorar percorreu meu corpo, a queria deixar de lado, mas e a força?
Aquilo estava me consumindo, e eu não queria... “AMERICANO...”
-AHHH! – Soltei um grito, era o mínimo que eu podia fazer.
Joguei a garrafa no chão, vi o resto do líquido espalhar pela madeira, fui até o sofá, joguei minha bolsa aberta e comecei a procurar pelo celular. Ao achá-lo, liguei automaticamente para o número que nesse momento eu queria.
Um toque, dois toques, três toques. Nada...
Cinco toques... Sete toques. Nada...
Percebi que ia cair na caixa-postal, mas não pude esperar.
-EU PENSAVA QUE VOCÊ SERIA O ÚNICO QUE ME MOSTRARIA O QUE É REAL, O AMOR, O VERDADEIRO SIGNIFICADO, EU VIA A NOSSAS VIDAS ENTRELAÇADAS, VIRANDO UMA SÓ; EU CONSEGUI COMPARTILHAR TODOS OS NOSSOS SENTIMENTOS, E VOCÊ PENSA QUE COM UM SIMPLES ABANDONO EU POSSO ESQUECER TUDO? NÃO, EU NÃO POSSO! DROGA! EU TE AMO TANTO, A PONTO DE NÃO PODER TE ESQUECER? NUNCA? EU NÃO SOU UM BRINQUEDO, VOCÊ TEM QUE SAIR DA MINHA CABEÇA, VOCÊ ME MACHUCA, ME CONSOME, ME FAZ FAZER COISAS QUE EU NÃO QUERO, ME FAZ ESTAR COMO EU ESTOU... EU ESTOU UM LIXO! A CULPA É SUA! – Aumentei ainda mais o tom de voz – A CULPA É SUA! – O choro, o desespero... – POR QUÊ? POR FAVOR, ME EXPLICA, EU PRECISO SABER, O QUE EU FIZ PRA MERECER ISSO, PORQUE UMA VIDA TÃO BOA COMO EU TINHA TEVE QUE SER DESTRUÍDA ASSIM, NUM PISCAR DE OLHOS? VOCÊ SE SENTE PRAZEROSO COM ISSO? FAZ-TE FELIZ? PORQUE SE FAZ, EU DEVIA ESTR FELIZ TAMBÉM, NÃO É ASSIM? A FELICIDADE DO AMADO FAZ O OUTRO FELIZ? PORRA, ! VOCÊ ME DESILUDIU, ACABOU COM MEUS SONHOS, E AGORA ESTOU AQUI SEM RUMO, COM AMIGOS NOVOS QUE SE PREOCUPAM TANTO COMIGO – Já estava gritando - COMIGO! VOCÊ SE PREOCUPOU COMIGO? ACHO QUE NÃO. EU DEVERIA ESTAR FELIZ COM A MINHA VIDA DE AGORA, EU TENHO AMIGOS QUE ME ALEGRAM, PESSOAS QUE ESTÃO AO MEU LADO, E UM RAPAZ, QUE, AO QUE ME PARECE, GOSTA DE MIM, EU DEVERIA SEGUIR EM FRENTE. E QUER SABER? EU VOU! SAB,E ? EU TE ODEIO, EU TE ODEIO, EU TE ODEIO... – desliguei o telefone, e o choro me consumiu, não tinha forças para lutar mais. Dormi ali, no sofá, mal sabendo que havia sim, alguém na linha.



Estávamos sentados no sofá, jogando videogame, agora era contra ; de vez em quando eu olhava para TV, se não estava a fazer isso, estava acariciando meu nenê.
-Olha! – disse, fazendo os dois virarem e verem os calombos que aquela pequena garota fazia em minha barriga quando se mexia – Ela está agitada hoje!
-Dá para notar – sorriu e fez o mesmo – Mais uma vez? – disse , agora se direcionando a .
-Lógico... – antes de qualquer coisa seu celular tocou – Um minuto.
Segui com olhar enquanto ele ia até outro cômodo. Vi que não estava tão feliz com algo que devia fazer.
-Tenho que ir até a casa do , ele quer mostrar uma nova música pro CD, mas volto o mais rápido – o final da frase tinha muitos sentidos: 1º Para saber que ele não demoraria e não fazer nada comigo, 2 º para me acalmar e 3º para ele próprio tentar se acalmar. Mas não foi o que aconteceu comigo.
-Non! Vous ne pouvez pas faire ça à moi! – Ele não podia fazer aquilo comigo, eu não gostava de ficar sozinha com . Desde o dia do ultrassom, nunca mais soltei de ninguém quando estava em um mesmo local que eu.
-Je ne vais pas vous tuer* – disse. Eu não olhei para ele.
-Parem de falar francês, eu não entendo nada! – estava impaciente – Eu não vou demorar, , prometo! Quando ele terminar, eu falo qualquer coisa sobre e venho correndo a seu encontro – ele selou meus lábios – Eu prometo!
Não sentia muita firmeza naquela promessa, mas assenti, e voltei a me deitar no sofá.
Quando saiu, entrei em pânico.
-Eu contra você agora? – disse mostrando o controle.
-Tais-toi! – ele entendeu, e parou de falar! Tentava ao máximo prestar atenção em minha barriga. Porque eu conhecia bem o bastante para saber que os barulhos que ele fazia fingindo ser o carro do videogame era só para chamar minha atenção, ou pelo menos mandá-lo calar a boca de novo!
Ouvi trovões, chuva na certa! Respirei fundo, e me encolhi mais no sofá. Morria de medo de raios e trovões.
-, vai passar! – ele tocou minha mão e eu a tirei – Tudo bem!
Ele voltou a jogar e ouvi um raio; gritei.
-DESLIGA ISSO! – riu de mim, e foi desligar a TV e todo o resto da tomada.
-Pronto – suspirei, queria abraçar minhas pernas, mas não dava, tinha uma melancia no meio.
-Ela voltou a se mexer – eu disse a ele, que agora estava sentado ao meu lado.
-Lógico! Você está toda agitada por nada, pode ser que só ameace, e não chova! – Dei um sorriso sarcástico a ele e bati palmas lentamente. Ele agradeceu!
-Para! – murmurei e bati em seu braço. Isso só o fazia se divertir cada vez mais – Imbécile!
-Por falar nisso... – fiquei assustada, como assim “Por falar nisso...”? – Há quanto tempo você não fala francês?
Essa era uma pergunta difícil, eu de vez em quando soltava alguma palavra, mas eram poucas, porque não entendia. Ele sabia porque estava perguntando... Porque com ele eu falava mais do que uma palavra.
-Não muito! – Menti, mas menti muito mal. Ele me viu corar.
-Desde quando você fala mais do que uma palavra? Tirando hoje, porque claro, fui EU que te fiz falar, e ele não gostou nem um pouco! – ele sorriu. Eu estava ficando brava com ele.
Não respondi, ele começou a rir; fiquei pensando em uma resposta, e quando veio em mente ele tocou em minha barriga, o que me fez recuá-la um pouco.
-Se calmer! – ele olhou para a barriga - S'il vous plaît, ne soyez pas comme ta mère, parler en français quand tu veux, d'accord?**
-Eu não vou falar em francês com você – ele deu de ombros.
-É a sua chance, – ele piscou pra mim.
Segurei-me, mas não falei. Ele queria me deixar nervosa para me fazer explodir palavras e palavras em francês, e se gabar que fora ele que fizera isso mais uma vez.
-Quando... – não conseguia falar.
-Quando? – ele disse.
Não falei, ele continuou esperando, mas foi em vão. Ficamos minutos em silêncio e quando ele ia falar algo, soltei tudo de uma vez:
-Quando nós estávamos juntos você não falava tanto francês também, você só sabia as palavras mais comum e as frases que eu sempre soltava, como você sabe tanto agora? – ele sorriu, e eu respirei para recuperar o fôlego.
Ele retirou a mão de minha mão e as cruzou em seu colo.
-Não faz isso – eu disse as descruzando. Ele assentiu, recordando que eu não gostava.
-Sinceramente? – ele perguntou e eu assenti – Você não vai gostar.
-Fale!
-Quando eu voltei pro Estados Unidos, eu ainda tinha fé que você leria minha carta, entenderia o meu lado, e fosse para lá; por isso deixei o passaporte pra você – engoli a seco, mas fingi um sorriso e o mandei prosseguir – Eu não queria que você se sentisse um “peixe fora d’água”, por mais que você soubesse muito bem inglês, eu sempre soube a sua paixão pelo seu país, então, quando estivéssemos em casa apenas passando o tempo, seria bom para você se falássemos em francês, para você pelo menos sentir que ainda estava lá, para lembrar os nossos momentos na França, então eu entrei em um curso intensivo de francês – não tinha como esconder a feição que meu rosto fazia naquele momento, ele tinha aberto uma ferida – Claro, depois de um mês eu entendi que isso nunca ia acontecer – ELE ME ESPEROU POR UM MÊS? – Mas continuei com o curso, é uma língua interessante, e me ajudou muito em minha carreira, mas em primeiro lugar eu ainda tinha em mente que estava fazendo aquilo por você – ele sorriu – Eu disse que você não ia gostar de saber.
Eu não sabia o que falar, e não sabia que falar nem para mim naquele momento, eu estava em completo transe. Ele, por respeito, apenas esperou. Ouvi outro raio e por impulso o abracei, ele ficou surpreso, mas sabia o porquê; mas quem entrou no local, não tinha nem idéia.
-? – disse ainda intrigado com a cena – Fui rápido, não fui?
-FOI! – soltei um sorriso sem-graça. Por que nunca contei a que morria de medo de raios? – ...
-Ela tem medo de raios, foi por impulso, ela nunca faria nada, muito menos me abraçaria. Lembre-se ela me odeia – ele foi um pouco exagerado, mas basicamente era aquilo.
-Não estou bravo com ela – disse, dando um beijo no topo de minha cabeça. Sorri e o abracei.
-Que bom – disse, mas eu não sabia se ele havia sido irônico ou não.
-Antes que me esqueça de novo, hoje de manhã um rapaz ligou aqui a procura de você – disse – Acho que era seu produtor!
-AH! Obrigado, ligarei para ele! – pegou o celular e foi para a cozinha, para poder falar melhor.
virou de frente para mim e me deu uma caixinha.
-Primeiro presente, eu espero – eu assenti e peguei a caixinha.
A abri rapidamente e encontrei um par de sapatinhos, menores que minha mão.
-São lindos, – o abracei novamente e selei seus lábios – Muito obrigada!
-São para essa criança linda, que cresce dentro de um ser humano lindo – me senti ficar emocionada, mas, antes que as lágrimas viessem, o beijei. Não queria lágrimas de novo, não agora!
Ouvi um pigarrear atrás de .
-Ele virá para cá no final do mês, vou ter um filme para fazer, espero que dê certo! – ele sorriu e sorrimos de volta para ele.
-Dará certo, você vai ver! – Eu disse e assentiu.
-Vou dormir – disse.
-Mas já? Está cedo! – eu disse, mas pelo olhar dele para nós, eu entendi. Ele não agüentava olhar. Eu me odiava por notar que aquilo ainda me incomodava.
-Vamos para sala? – eu disse e assentiu, com segundas intenções. Engoli seco e emendei – Quero terminar aquele livro, que eu ainda não terminei.
-Tudo bem – ele sorriu, mas sentia decepção pelo fato de não ser o que ele queria.
Ele ficou vendo um canal onde passavam clipes de música, enquanto eu fingia que lia aquele livro. Eu não conseguia me concentrar. Eram muitos pensamentos para uma pessoa só.


Os encontros de com os garotos estavam mais freqüente, mas o fato de ficar sozinha com não me incomodava mais, infelizmente ele tinha completado sua primeira etapa. Ele conquistou minha amizade.
Claro que quando estávamos juntos éramos amigos também, mas nunca o conheci só como amigo, e notei como ele era cativante, totalmente do jeito que era, ele me cativava a ouvir suas histórias, como uma neta que fica com olhos brilhando ao ouvir as histórias de seu avô e tentando imaginar como era.
falava sobre tudo, menos relacionamentos, era um assunto proibido. Ele falava sobre seus sonhos infantis, sobre os apertos que passava com seu pai em várias aventuras.
Ouvir histórias sobre a vida de era como ler um livro sobre Indiana Jones. Uma grande parte das histórias ele contava olhando para a barriga, contando-a para sua filha.
Eu sorria quando isso acontecia. Por trás daquele homem havia um alguém muito carinhoso, que só eu conhecia.
Me veio então a mente quando ele disse: Meus amigos começaram a notar o homem que você via, com uma única diferença, eu era um homem apaixonado, mas muito ferido, machucado e triste.
Se eu prestasse muita atenção nele, eu também conseguia ver isso. Eu havia sofrido, mas com ele não foi diferente, Fomos dois idiotas.
-O que foi, ? – eu saí do transe e notei que estava mirando há um bom tempo – Você não para de me olhar.
-Eu acho legal o jeito que você conta as histórias para ela.
-Entendo – ele sorriu – Quando ela nasce?
-No final de maio! Mal posso esperar! – eu estava mais do que feliz, e não via a hora de ver o rosto de minha filha.
-Nenhum homem encostará nela quando ela crescer – disse brincando – Eu vou ser um pai muito ciumento.
-Imagino! será um tio muito ciumento – eu falei, e me corrigiu:
-Padrasto – enrubesci.
-O que eu disse? – fingindo de desentendida.
-Tio – comecei a rir para não mostrar meu constrangimento.
-Estou ficando louca – ele assentiu e eu continuei a rir, até aquele calor sair de minhas bochechas.
-Qual a sua melhor lembrança? – eu perguntei.
-São muitas! – ele disse e ficou de perfil para mim.
-Ah! Diz pelo menos uma – eu sorri.
Ele me olhou, abriu a boca, mas a fechou, rapidamente. Repetiu esse ato umas três vezes, então disse:
-São lembranças com a mesma pessoa – ele disse, senti uma remexida em meu estômago.
-Quem é essa pessoa? – eu disse, fazendo-o rir.
-Sabe o que eu acho? – fiquei em silêncio esperando pela sua resposta, mas essa não veio.
-O quê? – perguntei.
-Eu acho que você gosta de ouvir que eu ainda penso em você, que eu faço as coisas por você, e que sim, as melhores lembranças que eu tenho, tem você no meio!
Eu fiquei com raiva, com muita raiva. Dei um tapa em seu braço, depois alguns leves socos em seus braço, ele segurou meus braços antes que eu continuasse com a “artilharia”. Eu estava ofegante, tentando recuperar o ar.
Ele me pegou de surpresa e se aproximou.
Eu abri meus olhos o máximo que pude.
Ele me beijou.
Após o ato, eu mordi sua língua, fora um ato sem pensar, mesmo assim o fiz. Ele ficou com sua testa apoiada na minha, eu sentia sua respiração quente, se juntando a minha, ele sorriu.
-Eu não estava contando histórias a nossa filha – ele fez questão de enfatizar o nossa – Eu estava fazendo o mesmo que você, te observando intensamente.
Eu olhava em seus olhos, e ainda com um ato sapeca, ele selou meus lábios.
-Para! – eu gritei, mas ele beijou de novo.
Eu estava sem forças de empurrá-lo, lágrimas começaram a descer de meus olhos. Ele foi se separar de mim nesse momento, mas eu não deixei, passei minhas duas mãos pelos seus cabelos e o pressionei a continuar daquela forma.
-Eu não vou gritar, mas me escuta – ele me olhava, e eu deixava meu olhar firme. Sem fraquejar, prossegui:
-Não é certo o que você está fazendo, saia da minha casa agora, você está virando um inferno pra mim. Dá para entender dessa forma que você não é bom? Você consegue entender assim? – eu suspirei – EU não sou um brinquedo, . Eu não sou uma marionete, você não vai escolher meus atos, eu os escolho. E eu não quero beijar você, sinto nojo de mim por sentir seus lábios mais uma vez. Então faça um favor a si mesmo e à mim. Saia daqui, se hospede num hotel e, quando quiser me visitar, me avise, e eu o deixarei vir – soltei minhas mãos, o deixando finalmente ir para trás.
Ele levantou e se virou em direção à porta. Antes de qualquer coisa, ele voltou e apontou seu dedo para mim, eu olhei para seus olhos. Eu o tinha machucado, merecia ouvir.
Ele gritou:
-NÃO BASTA TER ME ESCULACHADO NO TELEFONE, FALADO COISAS QUE SÓ ME FIZERAM FICAR PIOR, TER-ME FEITO ESCUTAR TUDO O QUE EU NÃO QUERIA ESCUTAR, SEM AO MENOS PODER ME OPOR PORQUE VOCÊ PENSAVA SER A CAIXA POSTAL? VOCÊ NÃO É MELHOR QUE EU, , AMBOS ERRAMOS. EU VIVO COM O MEU ERRO, VOCÊ CONSEGUE VIVER COM O SEU? EU TE AMO AINDA, NÃO DESISTI DESSE SENTIMENTO. E VOCÊ? VOCÊ TENTA, EU SÓ VEJO VOCÊ TENTANDO, VOCÊ REALMENTE GOSTA DAQUELE RAPAZ, MAS NÃO COMO GOSTA DE MIM.
Ele se virou para a porta, e eu comecei a chorar. Ele voltou de novo para mim, com seu braço direito me puxou pela cintura e me deu mais um beijo, e só depois disso ele realmente se foi. Deixei meu corpo desabar e o choro vir, anda demoraria a chegar.
Como eu sentia falta daqueles lábios! Beijá-lo é como uma criança que saboreia vagarosamente a única fruta deliciosa que achou na árvore.
Como eu era... Estúpida.
Liguei a TV para de pensar naquilo e no que aconteceu, fui para o banheiro, culpada pelo que ocorreu, passei sabão em minha boca, joguei água e cuspi. Fiz isso mais de cinco vezes e eu ainda me sentia suja.
Ouvi a porta sendo aberta, escovei meus dentes com a pasta de dente para tirar o cheiro e o gosto de sabonete, e fui ao encontro de .
-Cadê o ? – foi a primeira coisa que ele me disse.
-Ele foi para um hotel, nos dar mais privacidade – menti. E dessa vez deu certo.
-Até que enfim ele fez alguma coisa de bom, além de te engravidar – eu o olhei confusa – Claro, isso eu podia fazer também!
-Bobo! – sorri e ele me beijou. Hoje eu ia deixar.
Deixei-me levar por ele, o que fez muito feliz. Com dificuldades, ele conseguiu me levar para o andar de cima, e finalmente, ele conseguiu o que ele queria.
Mas eu não conseguia parar de me sentir tão suja.


Estava no oitavo mês de gestação. sempre vinha me visitar, isto é, visitar a neném, mas era totalmente diferente, desde aquele dia não sabíamos mais conversar, não sabíamos ficar sozinhos. Ele agora tinha tanta raiva de mim como eu, uma raiva supérflua.
percebeu, desde o dia em que trocamos ríspidas palavras. Isso o fez não me deixar mais sozinha com , o que foi ótimo para mim.
Eu estava mudando de humor mais rápido do que antes; era o que sofria mais com isso. Eu podia jurar que o conseguia ouvir rezar para Deus fazer aquela criança nascer logo.
Eu judiava da criança – o – e tinha mais desejos no momento, como mousse de chocolate com melancia e arroz, tudo junto.
queria porque queria um chá de bebê, eu não fazia questão, mas aí lembrei que se ganha presentes, então, não pensei nem duas vezes.
Toda a sala estava arrumada com copinhos e coisas infantis, tinha balões até na porta de entrada. Coisas de e .
Fiquei deitada o tempo todo no quarto, só esperando o momento da minha “entrada triunfal”.
Ouvi vozes de mulher, das quais eu não conhecia nenhuma; todas eram amigas de ou dos garotos. Minhas únicas amigas: maman e .
Foi então que eu ouvi aquele sotaque francês carregado, reclamando em russo de algo que uma das crianças estavam fazendo. Esqueci todas as regras de e desci correndo indo de encontro aos braços de maman.
-Minha não tão pequena – maman disse me abraçando.
-Que saudades, mãe! – sorri!
-Essas crianças, quase derrubaram o vaso precioso que te dei de presente quando você fez 18 – maman sussurrou para mim. Era típico dela, reclamar de crianças – Espero que minha netinha seja uma garota comportada.
-Isso ela não será! – disse entrando com um sorriso. Querendo irritar a maman e logo depois, a mim.
-Esqueci quem é o pai da criança – maman disse indo em direção à sala – Venha, !
-Espera – ele pegou em meu pulso. Nosso primeiro contato – com exceção dos toques em minha barriga – depois do ocorrido.
-Eu sei que chá de bebê é uma coisa mulheres, mas eu queria dar um presente mesmo assim – ele deu um sorriso desconcertado – Eu sei que já dei um monte de presentes, mas eu acho que desse você vai realmente gostar.
-Obrigada – eu disse, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da orelha e mordendo meu lábio inferior – Eu quis dizer, ela agradeceria!
-Eu sei – ele bagunçou meu cabelo, e deu uma risada gostosa. Droga! Como ele podia esquecer a raiva tão antes de mim – Depois me liga falando o que achou.
Ele acenou e foi embora, quando fui fechar a porta ouvi um grito estrondoso.
-O QUE FAZ AQUI? – Era .
-Maman está aqui, eu não vou subir – ela ficou brava comigo, mas deu de ombros, voltando para a cozinha.
Coloquei o presente no bolo de presentes que tinham ali e me sentei ao lado de maman.
-Aquele rapaz, não gosto dele – eu assenti. Isso era óbvio!
-Maman...
-Sim, minha pequena – ela disse me olhando.
-Eu sei sobre o que aconteceu lá no meu antigo apartamento, com o – a vi ficar assustada – eu sei o que você falou para ele, o porquê de ele ter ido embora. Ele escreveu uma carta...
Eu vi minha mãe ficar vermelha.
-Você não tinha idéia, né? – ela riu; pelo menos a fiz rir.
-Ele é um imbecil mesmo, metido a espertalhão – eu assenti.
Vi passar, ele me procurava com o olhar, então acenei.
-Ei! Eu que falei pra ligar pra sua mãe, não que ela tenha esquecido, mas ela não tinha o telefone, e eu vou sair de turnê, então...
-Queria alguém eu cuidasse de mim mais uma vez – ele assentiu.
-Mas não se preocupe, vai ser uma turnê rápida – ele sempre diz isso.
-Estou com maman, vai ficar tudo bem – selei os lábios do rapaz.
-Agora vai, é uma festa só de mulheres – ele riu e deu tchau para nós duas, ainda voltava à noite para se despedir direito.
A festa foi divertida, acabei conhecendo outras pessoas, paguei muitos micos, porque errei o nome da maioria – óbvio, já que não conhecia ninguém – acertei apenas o de maman e , tanto de quem era o presente como o que era.
Então vi o embrulho de . Disse para ninguém se preocupar porque aquele era do pai da criança, todas as garotas fizeram um coro de um som meloso, menos eu, maman e .
Ao abrir, fiquei impressionada: era uma boneca parecida com a minha de infância, a não ser pelo vestido vermelho e um carrinho de bombeiros. O nosso filho perdido! Senti que ia chorar, e antes mesmo de pegar a boneca eu abracei a caixa do carrinho, ouvindo, então, um barulho.
Era como se não houvesse mais ninguém além de mim no local. Peguei uma faca o mais rápido que pude na cozinha e voltei para a sala para abrir a caixa. Embaixo do carrinho, com o intuito de ser surpresa, havia um pequeno boneco de um menininho, com os dizeres na blusa: Eu te amo, mãe!
Também vi dentro do carrinho uma carta, essa eu fingi não ter visto. Não leria na frente de maman. Guardei o bonequinho dentro da caixa, fechei a mesma e então peguei a boneca e mostrei para minha mãe, que sorriu.
-Igual a sua – ela não queria sorrir, por ser um presente de , mas não tinha como; tinham sentimentos e importantes significados, ela tinha que admitir.
Guardei esses presentes em especial embaixo da cama.
Depois de uma ótima festa todas foram embora, e chegou para se despedir de mim rapidamente; vi os outros garotos, acenei para eles. me deu um último beijo, e o vi acenar enquanto partiam.
Voltei para a casa e vi minha mãe vendo TV, dei a desculpa de que ia arrumar os presentes e voltei para o quarto. Peguei novamente a caixa do carrinho de bombeiros, peguei a carta e a abri. Não havia muita coisa, mas o que havia foi o ápice para me fazer lembrar-se daquele ou daquela que vivia em mim, e, como botávamos fé, nos referíamos mais a ele.


“O grande garoto que perdemos faria de nós a família completa, seria aquele que, naquela praia, fora idealizado para ganhar primeiro um carrinho de bombeiros. Lembra de como foi fácil escolher o presente dele?
Ele não foi fraco por ter ido embora, ele foi forte por ter vindo, mostrado uma luz a você, mostrando que você podia seguir em frente, que o teria como o rapaz que mais te amaria no mundo inteiro, aquele que nunca te decepcionaria por ter o amor de filho, que completa qualquer coração de mãe. Ele talvez tenha completado a meta dele antes mesmo de nascer. Deveríamos ter orgulho dele, eu tenho.
Só de pensar nos poucos meses que ele viveu, eu posso sentir o quanto o amo, ou a amo. Por mais que pensamos que seja um menino.


O nosso pequeno garoto não foi perdido, ele preencheu nossos corações de amor, e, mesmo que nunca o tenha visto, sinto falta dele.


Com amor,
.”


Guardei a carta numa caixinha com coisas especiais. Minha raiva toda tinha sumido, deitei em minha cama e peguei o telefone, disquei o número que conhecia há um bom tempo.
-? – ele disse. Eu sorri por dentro, mas por fora eu não conseguia nem falar.
Balbuciava coisas, o choro não me deixava falar; ele bloqueava toda e qualquer palavra que tentasse sair.
-Eu sei... – ele disse, o que me fez chorar mais, mesmo sem saber o que eu dizia, ele entendia o que eu sentia.
Respirei fundo, esperei a calma chegar, e disse por fim:
-Eu também sinto falta dele.
Ficamos os dois em silêncio no telefone, apenas ouvindo um a respiração do outro, e passamos mais de meia hora assim.
Começamos a falar de como seria o garoto. dizia que seria parecido com ele, nisso eu concordava.
Voltamos a ficar em silêncio, mais meia hora.
-... – eu sussurrei.
-Sim? – ele disse.
-Eu quero dormir – comecei a rir com minha própria frase.
-Desculpa, pode ir, boa noite, fiquei com o anjos, , mon ange – ele adorava fazer essa brincadeira.
-Boa noite! – desliguei e caí no sono.


Passaram-se duas semanas, quase chegando ao último mês de gravidez, maman ainda estava comigo, ainda estava em turnê, e meu relacionamento com tinha melhorado desde aqueles presentes.
Hoje de manhã o mesmo havia me ligado, falando que tinha uma surpresa para mim.
Estava sentada com maman na sala, vendo um canal de televisão qualquer, quando ouvi a campainha. Levantei-me e abri a porta para .
-Com licença – ele disse, entrando em casa e indo até a sala. Ouvi minha mãe grunhir.
-Madame – ele disse, cumprimentando maman cordialmente. Ela deu um tapa em sua mão e subiu as escadas. Começamos a rir.
-Vai ser sempre assim – ele disse e eu assenti a isso – Bom, a sua surpresa, né?
-Pois é... – eu não fazia idéia do que era.
-Só para você entender, venha aqui – me puxou até a janela, afastou um pouco a cortina e me mostrou uma criança sentada em seu carro – Aquele é Eric! Um dos garotos do orfanato que minha tia cuida aqui em Londres. Desde a primeira vez que o vi, me cativei com o garoto, e pensei que talvez você quisesse conhecê-lo.
-Lógico! Você sabe que eu adoro crianças e... – ele me cortou.
-Mas você tem que saber que ele é surdo – eu assenti e ele prosseguiu – E que ele nasceu sem os dois antebraços.
Olhei de novo para a janela e vi aquele garoto animado que brincava com algum brinquedinho na mão. Assenti mais uma vez. Continuei na janela observando ir até a criança, ele devia ter uns 5 anos de idade. o pegou no colo e ia brincando com o garoto até chegar em minha casa.
-Eric, essa é disse vagarosamente olhando de frente para ele. O garoto ficou me olhando por um bom tempo, e então disse com o tom de voz um pouco elevado:
-Oi, ! – eu sorri.
-Olá, Eric! – eu falei olhando para , ele assentiu.
-Ele queria te ver tocar piano – eu fiquei confusa.
-Como você sabe? – eu perguntei. sorriu e depositou o garoto no chão.
-Eu sou muito observador! Foi uma das primeiras fotos que eu vi na casa de sua mãe, a de você tocando piano – ele sorriu.
-Mas eu não tenho piano – isso era um problema.
-Eu falei para Eric, ele disse que não há problema é só fingir – olhei para o garoto que agora mexia em um dos meus bichos de pelúcia que ficavam na sala.
-Eu não sei se eu vou conseguir – parou minha fala colocando seu indicador em meus lábios, olhei para ele, diretamente em seus olhos.
-Você vai conseguir – ele me entregou um papel com uma música, a coloquei no meu colo, puxei uma cadeira e me sentei.
cutucou o rapaz mostrando que eu ia começar a “tocar”. Era uma música de Billy Porter, estudei por um tempo a partitura, e então respirei fundo.
-Lá vamos nós!
Passou-se vinte segundos desde o momento que comecei a tocar e Eric começou a cantar na parte certa, eu olhei incrédula a aquilo. sorria, o encorajando. Fechei os olhos por um momento, então os abri e continuei a minha parte, ele olhava para o movimento de minhas mãos, as estudando. Sabia quando era hora de parar, a hora de voltar a cantar, toda parte.
dividia seus olhares entre o rapaz e a mim. Quando terminamos, eu ia bater palmas, mas vi eles balançarem as mãos, e fiz o mesmo.
Passamos a tarde inteira com o garoto, levamos-no ao parque, compramos sorvete para ele, fizemos brincadeiras, voltamos para minha casa e vimos dois filmes, e então ele havia adormecido em meu colo.
-Um anjo – eu disse a , me referindo ao garoto.
-Quando eu fui visitar minha tia pela primeira vez, ele brilhou para mim. Milhares de criança e fora ele quem se sobressaiu dentre todas – ele sorriu – Desde que comecei a namorar você, eu queria que o conhecesse.
-Fico feliz que tenha lembrado – eu disse, ignorando o fato dele se lembrar do “nosso passado” – Você quer adotá-lo?
-Quem sabe um dia – disse observando o garoto dormir.
Acordamos o garoto, pois era hora de ir, estava quase escurecendo. Ele deu um abraço em mim e, por fim, disse:
-Ela te ama, sabia? – ele disse e olhei para ele confusa.
-Eu sei – disse brincando, e eu dei uma risada nervosa.
-Não, isso também. O que eu quis dizer é que sua filha te ama – ele apoiou o cotovelo em minha barriga e sorriu – É tão forte!
-Eu também sinto isso – eu disse para ele.
-Queria que meus pais tivessem feito o mesmo comigo – ele abaixou a cabeça, eu ia abraçá-lo, mas me segurou.
-Eric, o que já falamos sobre isso? – vi o garoto suspirar e assentir.
-Desculpa – sorriu e o abraçou.
-Só não pense assim! Eles perderam uma jóia rara, e não foi o inverso – ele beijou o topo da cabeça do garoto e acenou para mim – Já volto!
Assenti e então, fechei a porta.
Sentei em meu sofá e só o que se passava em minha mente era: “Quem era aquele ?”
Maman havia descido, e contei do garoto para ela. Ela se sentiu culpada pelo fato de não ter descido, mas também disse que não suportava ficar no mesmo local que , então comecei a rir de maman.
Ouvi o telefone tocar; atendi e era , ele me contou como foi um show legal, sobre as pessoas que ele conheceu no camarim, como as fãs não paravam de gritar, e as brincadeiras dos rapazes. Ele perguntou como fora o meu dia, respondi, ele ficou ressabiado quanto a isso, mas eu disse para não se preocupar, então ele perguntou onde minha mãe estava o tempo todo, e eu falei a verdade: no quarto.
Ele pediu para eu passar à maman.
chegou, fui atender a porta; quando voltei, maman já havia desligado. Ela não falou nada sobre o assunto deles, mas já era de se entender. Dessa vez, ela não subiu.
Ficamos conversando, chamamos maman para jogar um jogo conosco, e, no fundo, bem lá no fundo, ela se divertiu.
Já havíamos jantado, olhado a neném se mexer, visto o jornal da noite, e então maman começou a dormir no sofá, com direito a roncos. e eu começamos a rir com a cena.
a pegou no colo e a levou para cima. Não que ela fosse leve, mas o ronco era muito alto. Tanto que não melhorou muito depois que ele a deixou no quarto.
Começamos uma brincadeira com músicas, cada um cantava uma parte de uma música, mas a brincadeira ficou séria a partir do momento que cantou:
-I’m falling even more in love with you – fiquei em silêncio, olhei para o lado, ele continuou – Sua vez.
-Once upon a time, I was falling in love, but now, I'm only falling apart – sorri, era mais fácil ser sincera com músicas.
Ele parou, ficou me observando, deu uma pigarreada e continuou me observado. Isso me deixava constrangida. Talvez eu não devesse ter falado aquilo, olhei para minha barriga então eu comecei a ouvir ele cantar “Everything I do (I do it for you)”, olhei para ele. não cantava apenas um trecho como estávamos fazendo, ele estava cantando a música inteira, errando algumas partes, pulando algumas partes, mas a estava cantando, e não se importava com os erros. Porque ele estava demonstrando o que ele sentia. Fiquei vidrada em seus olhos enquanto ele cantava, eu conseguia entrar em seu interior, e sentir tudo que ele sentia; eu o “via por dentro”, e agora eu tinha plena certeza: ele ainda me amava.
Ele pousou suas duas mãos nas laterais de meu rosto e cantou o fim olhando diretamente em meus olhos. Respirei fundo e me desvencilhei de suas mãos.
-Eu acho que eu ganhei – ele sorriu. Ainda conseguia ser animado, depois de uma declaração dessas. Dei uma risada sem graça.
-Não ganhou não – eu precisava pensar em algo.
Eu cacei dentro de minha mente algo que pudesse atingí-lo, tanto quanto ele me atingiu, ou até mais.
Então eu me lembrei, essa era perfeita. Fiz como ele e pigarreei, ele se virou de frente para mim e sorriu.
-Pode mandar! – eu sorri, um sorriso vanglorioso, e então comecei.
Comecei a música que eu lembrei no dia da premiação em que dancei com , a mesma que marcou alguns momentos nossos na França; aquela que só de estar em minha mente já me fazia mal, me fazia entrar num buraco negro de angústia, dor, perda e ao mesmo tempo amor, paz, tranqüilidade. “Dancing!” era a perfeita música pro momento.
Quando ele ouviu as primeiras palavras, ficou estático. Se eu prestasse bastante atenção, veria que os pêlos de seu braço haviam se eriçado e ele estava arrepiado. Fiquei feliz por dentro, havia acertado em cheio. Mas, até para mim, cantar aquela música era difícil. Fiz o mesmo que ele, e olhei deliberadamente dentro de seus olhos, o fazendo agora percorrer meu interior e ver o que eu sentia.
Eu o estava torturando, mas precisava fazer aquilo.
Estava no meio da música e notei que eu também estava me torturando. Segurá-lo daquela forma em meus braços e olhar em seus olhos estava me machucando, abrindo as feridas de meu coração, me mostrando algo que eu tinha esquecido algum tempo, que era difícil de resistir, difícil de admitir. Mas ele tinha conseguido antes, e ele conseguiu agora, de novo.
-And I hope that I will do no wrong – olhei para ele, e não pude resistir, voltou a saudade da minha “fruta preferida”, eu precisava daquele sabor mais uma vez. O beijei. Por poucos segundos, mas o beijei, sem culpa, sem pensar nos outros. Eu só queria estar em seus braços mais uma vez. Parei de beijá-lo e voltei a cantar, e enfatizei a última frase com toda a certeza do mundo:
-And I hope that you won't hurt me – não tinha mais forças, e eu não queria mais lutar, meu corpo estava cansado de lutar contra o impossível. Era horrível, deprimente, mas eu ainda o amava. Deixei-me levar, deixei meu corpo e meu coração pensarem. Deixei a razão de lado, eu não a queria naquele momento. Eu apenas rezei, para que minha mãe não ouvisse nada.
- Oh mon Dieu! !


Enfim estava com nove meses, com um bebê pronto para nascer a qualquer momento. Maman não iria embora e père chegaria a qualquer momento. Estava na cozinha cozinhando macarrão, a comida preferida de père, quando vi maman aparecer pela porta da cozinha.
-Bom dia! – exclamei, feliz da vida.
-Ai, – minha mãe suspirou e foi até a bancada da cozinha – O que eu faço com você?
-Como assim? – o sorriso não saía de meu rosto.
-Eu venho pensando há uma semana como dizer isso, como chegar nesse assunto, mas você sabe que eu sou “desbocada”, não é? – eu sorri.
-Você sempre foi, maman! – continuei sorrindo.
Ela começou a falar sobre aquela noite, com . Eu entrei em um choque interno, mas nem isso tirou o sorriso de meu rosto. Ela não tinha ouvido nada, mas ela desceu para beber água e nos viu dormindo no chão da sala.
Foi impossível segurar, comecei a gargalhar.
-Como eu tenho falta de quando podia bater eu você – sorri mais uma vez. Sem pensar duas vezes, maman pegou a colher de pau e bateu na minha mão. Soltei um grito.
-EU NÃO FALEI QUE PODIA! – Gritei, e foi a vez de maman sorrir.
-Mas também não falou que não podia – começamos as duas a rir.
Ela ficou me observando cozinhar, tínhamos a manhã apenas para nós duas. Cantamos algumas músicas em francês, fazendo passinhos e rindo. Passamos a maior parte do tempo rindo. Até que maman resolveu jogar uma bomba em mim:
- Você sabe que eu já sou velha, e que eu espero que tenha te dado uma boa educação, porque foi por isso que eu sempre prezei – Assenti – Espero que você pare de brincar com os dois e escolha logo, siga o seu coração e a razão de uma vez por todas. Não vai brincando de cobra cega esperando quem você vai conseguir pegar no escuro! Isso é errado, – fui até a geladeira, peguei uma colherada de sorvete, enfiei na boca e assenti – Me escuta, eu não quero mais isso, essa pouca vergonha que você anda fazendo, escolha logo.
-Está bem, mãe – engoli o sorvete e sorri para ela.
Quando ela estava saindo do local, ela disse tão baixo, que eu não sabia se era para eu escutar ou não, “Espero que seja
Terminei de fazer o macarrão, père ainda não tinha chegado porque seu vôo ia atrasar. Comecei a comer com maman: ela fez um prato raso e eu peguei um fundo, meu apetite tinha aumentando demasiadamente.
A alegria acabou quando entrou pela porta. Eu deixei meu prato na mesa de centro da sala e fui em sua direção. O problema foi que, quando ele foi me beijar, eu virei o rosto para ele acertar minha bochecha. Foi aí que eu entendi o que maman queria dizer.
Ao voltar para sala, quase deixei todo meu macarrão cair no tapete. Continuei comendo sem olhar para o rapaz à minha frente por vergonha, ele contava como as cidades que ele foi eram bonitas e eu apenas assentia, pensando em como começar a dizer.
Mas o começo da conversa não foi comigo, foi com maman.
- quer falar com você, então eu vou pro aeroporto, père pode estar chegando.
me olhou, e eu fiquei olhando pro prato.
-Eu sei o que você vai me dizer, mas não tiro seu direito de fazê-lo – ele disse.
-Fazer o que? – não havia compreendido.
-Falar, . Falar! – ele estava impaciente. Olha o que eu estava fazendo com um dos melhores homens da face da terra.
Fomos para o lado de fora de casa, e ficamos sentados na escada. Respirei fundo umas sete vezes, comecei a tremer, meus olhos encheram de lágrimas, e a dor estava entrando em meu coração, mas havia uma diferença. Não era a dor de perder um amor, era a dor de perder um amigo. Segurei na mão do rapaz e olhei em seus olhos, quando eu estive com a dor da perda da outra vez, eu recebia o sorriso dele, agora eu estava para tirar esse sorriso.
-Eu não... – suspirei e olhei para cima – Eu não...
-... – ele me olhou vi que estava quase chorando, eu não o queria fazer chorar, então soltei de uma vez:
-Eu não queria fazer isso com você, Deus! Como eu sou idiota, eu tive você na minha vida por tanto tempo, e não consegui esquecer um filho da mãe como , por quê? Eu podia estar com você, e nossa vida seria repleta de amor, alegria, felicidade, porque seria você, .
-Você não me ama – ele concluiu.
-Eu te amo, mas não da forma certa, e isso me mata. Porque você seria o certo, mas desde o começo eu fiz escolhas erradas, das quais sempre tentei fugir, mas nunca me deixaram. O nunca deixou de existir, isto é, nunca ficou fora de minha vida, ainda mais depois que descobri da gravidez. Você pode estar se sentindo culpado pelo fato de ter trazido ele pra cá, de ter começado isso tudo, mas não pense assim! Père me ensinou algo quando criança que eu não esqueço: “ O que for pra ser será!”. Se não fosse você a trazê-lo aqui, algo o traria, e nos encontraríamos ao comprar uma revista na banca, numa festa com amigos em comum. Deus faz escolha que nós, humanos, desconhecemos – o choro estava trancado dentro de meu ser – Como eu queria que Deus tivesse escolhido você para mim.
-Mas ele escolheu... – ele tentava achar um buraco na história, para mostrar que com ele também daria certo.
-Ele escolheu você para me mostrar como a vida bela, como podemos sorrir depois das tempestades, você foi meu anjo, você é meu anjo, . Mas, acima de tudo você é meu amigo – acariciei sua mão, e olhei em seus olhos mais uma vez – Meu amigo – deixei as lágrimas escorrerem e sorri para ele.
Ele ia chorar, eu via. Ele me abraçou forte, e ficou assim por um bom tempo, vi que ele começara a tremer ao meu lado, ele estava chorando. Como aquilo partia meu coração. Puxei-o para frente de mim, e encostei meu rosto no dele.
-Há uma brincadeira em que você canta um trecho de uma música para a pessoa saber o que você está sentindo – ele ficou quieto me observando – I’ll always love you.
Ele suspirou, deixou as lágrimas caírem a minha frente e então se levantou.
-Eu não sei se posso... – ele suspirou e deu um riso fraco – Eu não sei se posso ser seu amigo.
Eu assenti, e então vi aquele que mais me alegrou ir embora.
Fiquei sentada na escada, deixando as lágrimas rolarem até não existirem mais lágrimas. Senti uma dor, era a dor de perder um amigo, vi essa dor se dissolver e vir de cinco em cinco minutos, vi a água escorrendo, então entendi: eu estava em trabalho de parto. Liguei para minha mãe, mas ela não estava. estava sem o celular, pois o esquecera aqui. Sentia-me mal por fazer isso, mas era a única coisa que podia fazer...
-! – Ele olhou para trás – VAI NASCER!
Ele sempre foi o mais assustado com esse momento, sempre pensou que toda vez que eu gritava seu nome era porque o bebê ia nascer, e agora ele não havia nem pensando nisso. Demorou alguns segundo para ele entender, então ele foi me ajudar, pegou a minha malinha que já estava pronta e fomos para o hospital, não sabia que a dor era tão forte.


Acordei e vi . Sorri para ele, vi aquele barulhinho que sempre me assusta do hospital.
-Cadê ela? – perguntei, procurando pela minha filha.
-Já vão trazê-la – disse, e chegou perto de mim, beijando o topo da minha cabeça – Quase não cheguei a tempo de ver o parto.
-E o ? – suspirou e acariciou minha mão.
-Já foi, te deixou aqui, lembra? – assenti – Quando chegou, ele foi embora.
Era o preço que eu tinha que pagar, eu só não queria que ele também tivesse que pagar pelo que eu faço.
-Ele ficará bem, – assenti.
Poucos minutos depois, já tinha esquecido tudo e todos, pois minha pequena estava em meus braços.
-E o nome dela, ? – ouvi , como se fosse um eco, distante, porque meus olhos estavam naquela pequena.
-Você vai gostar...


Havia se passado um ano desde tudo que tinha acontecido, ainda não tinha ido embora de Londres porque gravaria um filme ali, e, agora que havia terminado, poderíamos ir para Nova York de uma vez por todas. Me despedi de e dei a última carta para ela entregar a . Dentre todos esses meses, mandei cartas e cartas com o intuito de fazê-lo me visitar. Eu esperava que ele tivesse me esquecido como um amor, e que se lembrasse de mim como amiga, mas era em vão. devolvia todas as cartas fechadas. Essa última eu disse que fazia questão que ele lesse, que era vida ou morte. assentiu e a levou.
Esperei chegar em casa, ficamos com a neném na sala, brincando com ela, a fazendo rir, e então me ligou, dizendo que podíamos ir, que ele iria.
Avisei e ele sorriu. Ele sabia de todas as cartas e não ficava bravo ou magoado quanto a elas.
Chegamos à praça ao lado do hospital onde minha pequena filha nasceu e vimos parado com uma mulher do outro lado da rua. Respirei fundo, passou seu braço pelas minhas costas, apoiando sua mão em meu ombro.
-Você vai conseguir! – eu concordei.
Fomos andando e então ele se virou. Estava diferente tinha cortado o cabelo, estava mais... Adulto.
- – ele disse. Eu fiquei estática, afinal ele me chamara pelo nome inteiro – Como vai?
-Bem, e você? – perguntei confusa. Ele nunca quis falar comigo, e agora falava com uma sutileza, como se fôssemos amigos há um bom tempo, sem ressentimentos.
-Ótimo! Essa é minha esposa – arqueei a sobrancelha, mas sorri – Ela está grávida de três meses.
-Parabéns! – disse .
-Viemos aqui para te mostrar nosso tesouro. – virei minha filha de frente para , e ela, ao ver o rapaz, sorriu.
-Oi... – ainda não sabia o nome.
Olhei para e ele fez o mesmo para mim, sorrimos. Por fim eu disse:
- – sorri. Ele entendeu a “brincadeira”, era um dos seus nomes do meio, ele sorriu meio sem graça, vendo a homenagem que fizemos a ele.
-Oi, – toda aquela confiança tinha sumido a partir do momento que ele ouviu o nome da garota. Ele retirou aquela máscara, e então eu vi a minha criança, a desprotegida e feliz criança.
Ele brincou por um tempo com a criança, e eu fiquei mirando sua esposa.
-Seu nome é? – perguntei, e ela respondeu que era Amy, assenti.
Deixei segurar . E ficamos conversando, uma conversa estranha, mas, ainda assim, alegre.
Quando estava no fim da tarde, tive que me despedir de , e avisei que me mudava no outro dia de manhã. Ele me deu adeus e falou para visitá-lo. Sorri, pelo menos ele aceitava o fato de vir visitar.
-Tchau! – disse , acenando para o rapaz
-Tchau, ! – disse para ela, acenando para a garota.
Ao dar as costas para o casal, eu não notei uma coisa...


ficou me observando até eu virar a esquina. Wuando isso aconteceu, ele se virou de frente a Amy, abriu sua carteira e depositou na mão da moça duas notas de 50.
-Ainda não entendo o porquê de você querer fazer isso – ela disse.
-Porque eu queria mostrar que havia seguido em frente – disse , mostrando sinceridade.
-Mas não seguiu – ela comentou e ele concordou vagarosamente.
-Eu sei. Ainda amo aquela mulher – suspirou.
Amy colocou a mão no ombro do rapaz e disse por fim:
-Espero que consiga esquecê-la – dera um sorriso fraco.
Agora cada um seguiria seu caminho, quer queira quer não; Seria aquele caminho e nada mudaria, pensaria em mim e por muito tempo.
Eu vou me lembrar de para sempre.


FIM



N/a: Mais um drama, eu adoro dramas, ainda não sei o porquê. Enfim, esse foi bem DRAMA, tanto que todo mundo me perguntava como era a história e eu fazia questão de enfatizar. As músicas que eu escolhi, como disse meu amigo: “É para pular na frente de um trem”. Mas não façam isso, ok?
Eu preciso terminar as minhas fics em andamento, estou pensando em desistir de If you believe, vou voltar a escrever GJWHF é uma beleza!
Mas espero que tenha gostado da fic, que tenham se divertido, e que não tenha muitas ameaças de morte para mim nos comentários. Críticas boas e ruins tudo bem? Mas ameaças não! X_X


Vejo vocês em uma outra fic!
xx
Evelyn


E aqui o link da “trilha sonora” e o “dicionário”:


Make Me Over Soundtrack


*Ela sabe como me estressar, inacreditável, eu odeio isso. Por quê? Diga-me, por que ela faz isso comigo? Eu sou sua filha, e não um cachorro com quem ela pode brincar e dar ordens
**Eu não posso ficar grávida, você está completamente errada, você está mentindo para mim, você quer me assustar. Bem, parabéns, Giovanna. Você conseguiu me assustar, mas eu não posso estar grávida!
***Faça o que quiser com o seu perfeito anjo
*Não diga isso de novo
**Cam Gigandet em minha casa, não posso acreditar
***Eu sou francesa, não falo inglês e não sou a prima de Giovanna
*Eu não vou te matar
**Se Acalma - Por favor, não seja igual sua mãe e fale francês quando quiser falar, tudo bem?


E minhas outras fics:

If You Believe [Em Andamento] My Sweet Angel [Finalizada] Hide&Seek [Finalizada] Girls Just Wanna Have Fun [ Em Andamento]

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