era um contador recente em Cambridge, com apenas vinte e cinco anos, ele acabara de se formar e estava trabalhando na contabilidade de uma multinacional. Desde adolescente sempre fizera muito sucesso com as garotas por causa do seu cabelo e seus olhos . , como era conhecido, namorava há dois anos com , uma grega de vinte anos, , de olhos extremamente , que cursava psicologia na Universidade de Cambridge e fazia estágio como assistente em um consultório. Ele parecia ter certeza de que ela era a garota certa, que era o seu grande amor.

A vida de costumava seguir uma metódica rotina. Todos os dias, ele acordava, tomava café da manhã, se arrumava e ia trabalhar. Almoçava e voltava para o trabalho. À noite, chegava em casa, preparava o jantar, tomava um rápido banho e esperava sua namorada, , chegar. Mas ele não sabia que aquela noite seria diferente.

chegou em casa e, como de costume, preparou o jantar: macarronada. Ele sabia que iria adorar. Depois de pronto, subiu para o seu quarto e tomou seu costumeiro banho. Vestiu uma calça de moletom e uma camiseta. O namoro entre os dois era tão... Comum, que eles nem se importavam mais com o modo de se vestir.

ficou sentado no sofá, esperando chegar. A garota abriu a porta, mas sua expressão não estava nada amigável.

“Olá, amor.” O homem sorriu e se dirigiu à sua namorada, tentando, inutilmente, segurar sua mão. A garota o afastou.
“Olha, ...” Suas palavras saiam miadas. “Vamos só comer, ok? Eu não tive um dia muito bom nem no trabalho e nem na faculdade hoje.” E se sentou à mesa.

a acompanhou e comeram em silêncio. Depois de terminada a refeição e lavados os pratos, os dois foram se sentar no sofá para assistir a programas aleatórios que passavam. Era quase quatro horas da manhã e os dois não tinham praticamente trocado uma palavra. se levantou do sofá e, pegando sua bolsa, foi em direção à porta.

“Aonde você vai, ?” perguntou.
“Para casa.” Ela respondeu, rispidamente.
“E não vai me dar nem um beijo?” Ele também se levantou e foi até ela, que se virou para encará-lo.
“Quer saber de uma coisa, ? Eu não agüento mais. Eu não agüento mais esse nosso namoro, essa sua rotina impecável, tudo sempre igual. Eu quero sair por essa porta e mudar a minha vida. Ter liberdade de viver um dia diferente do outro, sair para onde eu quiser, passar as noites conversando com as minhas amigas ou mexendo no computador, ou fazendo uma coisa completamente não planejada. Eu cansei de ter que vir para cá todas as noites. Nós nunca saímos de casa, nunca vamos ao cinema, ao teatro ou ao museu. Sabe quanto tempo faz que eu não vou a uma festa, ? Faz dois anos, porque eu não vou a festas desde que nós começamos a namorar... De verdade, eu estou cheia de você e da sua rotina.”

A garota deu as costas para o homem e desceu a escada lentamente, não prestando atenção em nada a sua volta, nem mesmo na rua que teria que atravessar em instantes. E foi então que foi atropelada.

~*~


estava sentado ao lado de , acariciando de leve sua mão. Quando o carro bateu sobre o corpo da garota, a única coisa que ele foi capaz de assimilar foi a pessoa que ele mais amava no mundo rodopiando sobre o carro, voando a uma altura de quase quatro metros e caindo com toda a força no chão. Seu primeiro impulso foi correr até ela, mas, rapidamente, retomou seus sentidos e ligou para a emergência.

Quando ambos chegaram ao hospital, foi internada sem que tivesse, ao menos, chance de perguntar se poderia entrar com ela. Depois de longas horas de espera, os médicos vieram avisá-lo de que ela estava em coma e, aparentemente, não reagia a nenhum estímulo exterior, o que poderia caracterizar uma morte cerebral. Assim que a bateria de exames foi finalizada, a entrada de no quarto em que se encontrava foi permitida.

E então lá estava ele, segurando a mão daquela garota que ele tanto amava, há quase meia hora. Ela parecia tão serena. Ele quase podia ver um pequeno sorriso em seus lábios. Tudo bem, talvez um sorriso fosse demais, mas ele, com certeza, via serenidade, calma, como se ela estivesse em um lugar bem melhor.

“Ontem eu sabia que tinha perdido a minha melhor amiga, .” Murmurou para ela. “Eu percebi na hora que você entrou que alguma coisa estava errada.” Ele suspirou. “Quando você falou que queria terminar tudo, eu desejei com todas as minhas forças voltar no tempo e que então ele parasse, para que eu pudesse sentir para sempre tudo que o nosso amor foi.” As lágrimas começavam a brotar. O bip da máquina que media a pulsação de era calmo e ritmado. “Eu me perguntei se eu iria me curar da dor imensa que eu senti naquele momento, porque, de alguma forma, eu tinha perdido você por entre os meus dedos.” As gotículas salgadas rolaram pela primeira vez por cima das bochechas de . “Mas então chegou quatro horas da manhã e você disse que iria embora... E foi.” Seu choro, agora, era quase compulsivo. “E então eu te vi, sendo atropelada. Meu coração... Minha vida parou. Todo esse tempo que eu estive aqui...” Fez uma pausa para acalmar seus soluços. “Foi como se, por mais que o tempo passasse, eu estivesse preso às quatro horas da manhã... Se você morrer, ... Vai ser quatro da manhã para sempre.”

Mais uma vez, o único som que se escutava dentro do quarto era o da respiração ofegante de , misturado com o entediante bip da máquina. levou sua mão até o cabelo da garota e tirou uma mecha teimosa que insistia em ficar sobre seus olhos fechados, presos a seus grandes cílios.

“E sabe o que mais me dói? Saber que a última vez que eu te vi, eu não pude te ver sorrindo. O que vai acontecer comigo se eu nunca mais ver o seu sorriso, ? Por que você terminou comigo? Talvez você achou que eu só estivesse brincando com você, porque eu nunca fui do tipo de cara que fica repetindo ‘eu te amo’. O que foi, ? O que aconteceu entre nós?” Limpou suas lágrimas. A voz de começava a ficar mais alta. “Por que você não me escuta, meu amor? Eu não quero te dizer adeus, mas eu sei que é isso que eu vou ter que acabar fazendo. Eu não quero me despedir, minha linda. Não quero. Seja forte.” Apertou sua mão. “Resista. Eu sei que você pode. Volte a viver. Você é jovem, inteligente, bonita. Não é a sua hora, . Eu preciso de você. O mundo precisa. Seja forte. Seja forte.”

Mais uma vez o rapaz olhou no relógio. Tudo que ele queria era que o tempo passasse, que ele conseguisse fitar os ponteiros e enxergá-los marcando outra hora qualquer, que não fosse quatro horas da manhã, para que as terríveis imagens que não saíam de sua cabeça, pudessem dar uma trégua.

O dia seguinte ao acidente passou lentamente. não foi autorizado a passar o dia ao lado de . Ela precisaria ser submetida a mais exames e a presença dele, de acordo com os médicos, não seria muito recomendada, tanto para ela, quanto para ele mesmo. Ele precisava relaxar, esquecer o trauma e, dessa forma, só poderia voltar à noite para o hospital.

Quando o relógio marcou sete horas da noite, comprou um café e voltou para o quarto da garota. Ela ainda estava deitada, da mesma forma que ele a deixara na noite anterior. Nenhuma ruga na sua expressão estava alterada. Para ele, a única coisa que realmente mudara era o ritmo do batimento cardíaco de . Parecia estar mais lento.

sentou-se na cadeira ao lado da cama e ficou observando sua menina dormir. Ou, pelo menos, ele desejava pensar assim. Encostou sua cabeça na poltrona e fechou os olhos, tentando esvaziar sua mente. Quando abriu os olhos de novo, percebeu que dormira. Mirou o relógio. Três horas e quarenta e nove minutos. Se inclinou sobre a cama de e acariciou seus ombros.

“Eu sinto que eu estou te perdendo... Eu não quero sentir isso. Eu não quero te perder e parar no tempo... Eu preciso de você para continuar.” Respirou fundo. “Talvez, algum dia, eu consiga seguir em frente sozinho. Talvez sua alma possa escutar tudo que eu estou falando e você finalmente perceba o quanto eu te amo.” Mais uma vez as lágrimas o invadiram. “Espero que você saiba que você não está resistindo: você está sendo fraca.” Sua voz era quase brava. Qualquer um que o ouvisse pensaria que estava sendo extremamente egoísta. “Você não pode pensar só em você, .” Seu tom, agora, era digno de piedade. “Com certeza deve ser mais fácil para você ir para a vida eterna, mas você não pode me deixar.” As gotas começavam a cair sobre a camisola azul que a garota trajava, enquanto isso, os batimentos cardíacos iam ficando cada vez mais espaçados. “Se você se for, eu prefiro que o Sol nunca mais nasça. Não vale a pena viver sem você. O mundo não faz sentido sem você.”

E então o bip se tornou um som contínuo. Não havia mais pulsação em . Rapidamente, milhares de médicos invadiram o quarto.

“Afaste-se.” O mais velho deles pediu, empurrando para longe da cama e, em seguida, dando um choque em .

O rapaz olhou para o relógio. Quatro horas da manhã.

“Eu sinto muito.” O mesmo médico falou, dando pequenas batidinhas no ombro do depois de três tentativas frustradas de trazer a garota de volta.
“Hora do óbito?” Uma garota jovem perguntou.
“Quatro horas da manhã.” O mais velho respondeu.
“Quatro horas da manhã e você se foi.” murmurou enquanto fitava o corpo já sem vida da garota que mais amara em sua vida. “Quatro horas da manhã... E eu estou sozinho.”

E, a partir de então, como o próprio sabia, seria quatro horas da manhã para sempre.

Fim!



Nota da Autora: Oi, gente!
Tudo bom? Essa é primeira fic que eu mando pro FFOBS fora do chall. Eu espero que vocês gostem. É baseada na música homônima música do lostprophets.
Eu quero dedicar pra minha amiga linda, Vitoria, que pediu pra eu fazer pra ela. ViiH, espero que você goste.
Caso desejem, podem me adicionar no orkut, me seguir no twitter ou me mandar um e-mail no nunes.clara_@hotmail.com.
Beijos :*

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Dez Passos Para O Paraíso

Nota da Beta: Qualquer erro que você encontrou, mande um e-mail diretamente para mim. Ou ainda, se preferir, mande um tweet para @thaijustsmile. Obrigada, Thai.


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